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Prefácio
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Gilberto Freyre viu no livro passagens dignas de referências para Casa Grande
& Senzala, quem sabe homenageando na obra do alagoano a presença do
conceito de formação social que marca o trabalho de gigante do escritor
pernambucano.
Aldo Rebelo
Brasília, fevereiro de 2005.
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Tal é a obra que ora apresento, sem outra pretensão a não ser a de prestar
um insignificante serviço à minha terra natal.
Recife – 1914
Alfredo Brandão
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Uma estrada tortuosa, que ora marginava o rio, seguindo bem perto das suas
barrancas, ora se distanciava, internando-se pelo coração da floresta, dirigia-
se para o sertão, ligando entre si os dois pontos povoados.
A tradição, que conservou estes detalhes, refere que, todos os annos, pelo
natal, um padre saía de Atalaia para dizer a missa do gallo na passagem.
Cabral, impellido pelo acaso, conduz as suas galéras até as terras brazileiras e
no meio da natureza virgem, sobre um altar de pedra, ao pé da santa cruz,
um velho monge celebra o santa sacrifício da missa.
O meu querido torrão natal, pequenino pedaço deste formoso e vasto Brazil,
também teve a cruz a paranymphar-lhe o primeiro despertar de creança e a
nymbar-lhe a aureola da fé e da esperança nessa noite radiosa em que elle
nasceu para o mundo e para a civilização.
Deveria ser bello o quadro: as mattas farfalhando nos pennachos das suas
palmeiras; as águas marulhosas do Parahyba rolando a sua espuma de prata;
o escorço das montanhas esfumando-se ao longe no horizonte e nessa solidão
importante e magestosa, o sacerdote, sob o pallio immenso do céo azul e
constellado, elevando a hóstia branca e immaculada no sacrifício da missa
commemorativa ao nascimento do Homem Deus...
Como uma primeira prova, lembro existir uma outra tradição que revela a
origem da Viçosa do seguinte modo: na margem do riacho Gurungumba, no
Sabalangá, existia há muitos annos um preto velho caçador, e na margem do
riacho Limoeiro existia um outro. Ambos companheiros de caçadas,
marcavam como ponto de encontro o riacho que passa no centro, á egual
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
Como quer que seja, o facto que fica indiscutível, é a existência de moradores
na zona occupada hoje pelo município da Viçosa e nas immediações da séde
da cidade, moradores que, conforme procurarei demonstrar, já deveriam ahi
existir desde o tempo dos Palmares.
Antes de tudo, porém, vou lançar um rápido olhar sobre os aborigenes que
nos tempos da descoberta tinham as suas tabas disseminadas nessa parte do
território de Alagoas.
Da segunda raça notavam-se a tribu dos Mariquitos, a dos Chucurús, que foi
depois aldeiada em Palmeira dos Índios, e as dos Chocós, Carapotós, Romaris
e Pipians que, em cabildas soltas e vagabundas, se encontravam dispersas
pelos sertões, achando-se algumas, no tempo da descoberta, já cruzadas com
os Caribas.
Desta ultima raça as tribus que mais se distinguiam eram a dos Caetés e a
dos Cariris.
Cumpre-me dizer que quase todos os autores, que se têm occupado dessas
duas tribus, classificam os Caetés entre os Tupis, e os Cariris, ora entre os
Tapuias, ora, conforme Martius, entre os Gucks.
Mesmo, porém, que não existissem provas, como existem, (1) o simples
raciocínio levar-me-ia a dar ao domínio dos Caetés uma expansão mais vasta
do que a simples orla marítima. Com effeito, o sentimento de amor e de
apego que elles mostravam á sua terra, conforme se deduz do ódio
inveterado que consagravam aos invasores, não teria sido tão forte, se elles
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
A lucta pela posse da terra foi tremenda: - os Caetés, por todos os lados,
tiveram de enfrentar inimigos terríveis: ao sul, pelo S. Francisco, havia os
Tupinambás, pelo littoral eram os europeus que chegavam nas suas
caravéllas, ao norte encontravam-se os Tabajaras com os Potyguaras e a
oeste surgiam em avalanches, não somente a tribu dos Cariris, mas, ainda,
todos os representantes tapuios que acossados pela sêcca, desciam dos altos
sertões em demanda da matta.
Já não falando do vocábulo Parahyba, que póde muito bem ter sido
transportado posteriormente do norte ou do sul, onde existem rios com a
mesma denominação, encontram-se os nomes Parangaba, Pindoba, Pirauás,
Tangy, Gereba, Camaratuba, Toré e muitos outros que não podem negar a
sua origem indígena.
O estudo do município revela que nos seus limites occidentaes, passa a linha
divisória entre a zona da matta e a zona do sertão. A primeira caracteriza-se,
como o seu nome o diz, pela quantidade de mattas que se extendem em suas
várzeas e cabeços de montanhas, pela extrema uberdade dos seus terrenos
cortados de rios e regatos, pela amenidade do seu clima e pela regularidade
das estações. A zona do sertão é, ao contrario, caracterizada pela seccura dos
terrenos, pela raridade das chuvas e pelo menor desenvolvimento da
vegetação. No verão as arvores ficam despidas de folhagem e o verde
desapparece dos campos. Nessa zona dominam as sêccas, as quaes são tanto
mais pronunciadas, quanto mais os terrenos são internados para o centro.
Sabe-se pelo relatório (4) que sobre o districto das Alagoas, o assessor
Johannes van Walbeeck e o director Henrique de Moucheron, apresentaram,
em Outubro de 1643, ao “Supremo Conselho”, que o governo hollandez
mantinha uma guarnição na povoação de Nossa Senhora da Conceição, (5) na
margem meridional da lagoa do sul, guarnição que conservava em respeito os
negros palmarinos.
Essa expedição, que partiu do logar Salgados, (7) ao sul de Alagoas, no dia
26 de Fevereiro de 1645, e que foi uma das mais antigas que se aventuraram
pelos Palmares, (8) penetrou, conforme se deprehende da leitura do Diário da
viagem, até as terras da Viçosa.
“Esta cachoeira não é tão elevada quanto a do Parahiba que tem bem quatro
vezes a sua altura; estivemos acima desta cachoeira do Parahiba, mas não
junto a ella, neste lugar descansamos um pouco e enviamos um negro que
trazíamos comnosco com alguns índios, a bater o matto, os quaes trouxeram-
nos seis grandes porcos do matto e um pequeno, mortos a flexa, depois
proseguimos na marcha e acampamos junto a margem sul do rio S. Miguel.
A 14 depois de havermos subido por algum tempo esse rio, passamos para a
margem norte e uma milha adiante galgamos um elevado monte, de bem
meia milha de altura, de cima do qual subimos ainda um outro monte, porem
não tão alto; caminhando quasi sempre com rumo norte ou nordeste cerca de
uma milha alem chegamos a um rio arenoso e secco, cheio de penhascos;
marchando mais duas milhas passamos perto do lado occidental de uma
cachoeira, não muito íngreme, mas presentemente sem água, no rio que
afflue para o Parahiba; no dito rio acampamos chuvendo durante a noite”.
Desse ponto até o momento em que a expedição, marchando pelo leito secco
de um rio, desembocca no Parahyba, o Diario da viagem torna-se um pouco
confuso, mais como quer que seja, as cachoeiras citadas servem de ponto de
reparo, e quem possua algum conhecimento da topographia da Viçosa e dos
municípios circumvizinhos, orienta-se perfeitamente: a cachoeira do
Parahyba, a que elle allude, só póde ser a da serra Dois Irmãos, nos limites
da Viçosa com a Capella, pois essa cachoeira é o único salto d’agua
importante do Parahyba; o rio affluente, que então se achava secco, deve ser
o Riachão, o qual, ao passar pelas altas montanhas da Pindobinha, forma uma
quéda no logar onde actualmente existe o engenho Cachoeira, e vae depois
desaguar na margem direita do Parahyba, um pouco acima da Viçosa.
Tendo ahi passado uma noite, continuaram no dia seguinte a sua viagem, rio
acima, andando sobre os penhascos. Depois de algumas milhas chegaram a
um outro rio que vindo do norte despeja no Parahyba. Tomaram então esse
novo affluente, que supponnho ser o Cassamba, (9) e subindo o seu curso
avistaram do norte um alto monte, que me parece ser a serra dos Olhos
d’agua do Monteiro.
O logar onde existiu esse velho Palmares eu não posso precisar exactamente,
mas não deve ficar muito distante dos pontos onde hoje se acham os
engenhos Bananal, Floresta e Matta Limpa. Esses sítios, se já não são
insalubres, sendo raros os casos de impaludismo, apresentam todas as
probabilidades de ter sido outr’ora doentios, pois então, cobertos de densas
mattas, os seus riachos deveriam formar vastos brejos de águas estagnadas e
pútridas.
Das margens desse ribeiro, que corre em grande parte no município da União,
elles deram uma volta para o sul e, attingindo novamente as terras da Viçosa,
devastaram uns mocambos que ficavam á margem do rio Japondá, o qual
julgo ser o Riacho Jundiá, affluente do Parahybinha.
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
“Habita (o rei) na sua Cidade Real, que chamão Macaco, nome sortido da
morte que naquelle lugar se deu a hum animal destes; esta é a metrópole
entre as mais Cidades e Povoações; está fortificada toda em cerca de pau a
pique, com treneiras abertas para offenderem a seu salvo os combatentes,
pela porta de fora toda se semea de estrepes de ferro, e de foios tão cavilosos
que perigara nelles a maior vigilância; occupa esta Cidade dilatado espaço;
forma-se de mais de mil e quinhentas casas; há entre elles Ministros de
Justiça para as execuções necessárias, e todos os arremedos de qualquer
Republica se achão entre elles. Esta é a principal cidade dos Palmares.
Sabendo que o Sabalangá era habitado por negros livres desde os tempos
mais remotos da Viçosa e que numa egrejita desse povoado existe uma
pequena imagem de S. José, ultima relíquia da egreja primitiva que ahi
existira desde um tempo que os próprios moradores mais antigos não
poderam precisar, conclui que tal logar tinha sido um mocambo dos Palmares.
mocambo de Subupira.
Parece-me também que o pequeno Palmares que Barleus colloca nas selvas
do rio Gungohuy, rio que, segundo o mesmo autor, despeja no Parahyba a 20
milhas da lagoa, deve ser o mesmo mocambo.
O dr. Nina Rodrigues, no seu importante trabalho, A Troya Negra, acha que o
pequeno Palmares era a cidade de Subupira de que fala o manuscripto do
conselheiro Drummond, pois a ella quadra a descripção de Barleus.
Reunindo os negros livres que haviam nascido nos Palmares, o Zumbi, altivo e
rancoroso, como se deprehende dos documentos publicados no numero 7 da
Revista do Instituto Archeologico e Geographico Alagoano, pelo dr. Dias
Cabral, incutiu no animo dos seus sequazes que deveriam matar á peçonha o
rei Ganga Zumba, que se havia submettido; e desprezando as insinuações do
seu tio Gona Zona, continuou por sua conta a resistência aos brancos.
Como argumentos de valor, é preciso notar que ahi têm sido encontrados
diversos vestígios de antigas situações e antigas luctas.
Pela leitura de um documento de 1708 (17) vê-se, logo á primeira vista, que
as terras que constituíram o municipio de Viçosa, fizeram parte das sesmarias
dos capitães do terço dos paulistas. (18)
Agora o lavrador ao cavar a terra, nem sequer suspeita que ella foi ensopada
em sangue e lagrimas.
Já nada mais relembra a agonia da raça desgraçada que, muito cedo ainda,
havia sonhado com os albores da redempção.
(3) O vocábulo cambembe serve hoje na Viçosa, para designar o povo baixo
do campo. Tal designação é recebida quasi como uma affronta, vendo-se
portanto que ella pertenceu a uma raça que se degradou. Segundo penso, a
palavra cambembe é uma corruptela de caamemby, vocábulo indígena que se
decompõe em caa-matto e memby—flauta, gaita ou buzina. Literalmente a
tradução será: matto de gaitas, de buzinas ou de flautas. Desta etymologia
deprehendo que os Cambembes deveriam ser um povo amigo da musica. É
bem possível que haja alguma identidade desses índios com os bardos dos
Caetés, os quaes conforme relata Ferdinand Diniz, acompanhavam os
guerreiros nas pelejas, incitando-os com seus cantos. Ainda hoje entre os
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
(6) Diário da viagem do capitão João Blaer aos Palmares em 1645 - Publicado
no numero 56 da Revista do Instituto Archeologico e Geographico
Pernambucano.
(7) Salgados era o nome do sitio onde se achava o engenho novo de Gabriel
Soares. Ficava por conseguinte no ponto onde hoje é a cidade do Pilar.
(8) Conforme assevera Gaspar Barleus, um anno antes havia seguido para os
Palmares uma expedição sob as ordens de Ródolpho Baro.
(10) A Cerca Real do Macaco ficava no ponto onde se acha hoje a cidade da
União, nas faldas da serra da Barriga, á margem do rio Mundahú. O local
conservou o nome de Macaco até o anno de 1831, quando a povoação ahi
existente foi elevada a categoria de villa, com a denominação de Villa Nova da
Imperatriz.
(13) As alterações dos nomes africanos são muito communs nas narrativas
dos successos dos Palmares. Esse mesmo nome Dambrabanga, na memória
do sr. Pedro Paulino, é denominado Zambabionga e Dambrubanga.
(14) Acho que o exacto local onde foi Subupira, poderá ser determinado
mediante a exploração das zonas comprehendidas entre os ribeiros
Parahybinha e Satuba.
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
Não sendo o meu propósito historiar a guerra dos Palmares, e sim demonstrar
quaes foram os logares do actual município da Viçosa que serviram de
scenario a essas luctas, não faz parte do meu programma a elucidação de tal
ponto.
No emtanto, como acho que esse facto faz honra á historia de Alagoas, á
historia de Pernambuco, á historia do Brazil, enfim á historia do universo, não
me posso furtar a manifestar a minha opinião: o documento acima, bem como
outros que fazem parte das mesmas consultas do Conselho Ultramarino e das
Ordens Reaes dando a entender que o Zumbi morreu em combate, não
negam o facto do seu suicídio. “Porque é, pergunta o sr. Rocha Pombo, que
Zumbi não poderia ter se lançado do rochedo, cahido moribundo e até morto
á vista e a alcance do capitão Mendonça a provocar a gana sagrada deste
heróe que então cortou-lhe a cabeça?”
O dr. Nina Rodrigues que, no meu modo de pensar, foi quem teve o maior
alcance de vista sobre a historia dos Palmares, não conseguiu, no emtanto,
desfazer a confusão que paira sobre os relatos dos ultimos combates e isto,
talvez, porque não tivesse á mão os documentos que acabo de citar.
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Esse Manoel Francisco, que talvez fosse um dos romeiros da cruz, derribou as
florestas das cercanias, fez um roçado no valle, mais ou menos no mesmo
local onde hoje se acha a praça do Commercio, e logo depois erigiu uma
capella de madeira no ponto em que actualmente existe a egrejinha de Nossa
Senhora do Rosario. (19)
Esta aldeia como as de Urucú e Santo Amaro (21) presume-se fundada nos
fins do seculo 17 por occasião de exterminar-se a celebre republica dos
Palmares quando se destribuiam terras aos indios e soldados que ajudaram a
destruição dos quilombos; sendo essas concessões confirmadas pelo Alvará
de 4 de Agosto de 1687 e cartas regias de 28 de Janeiro de 1688 e 28 de
Setembro de 1699."
Os Cambembes, que após a guerra aos Caetés haviam fugido para o sertão,
foram pouco a pouco voltando, depois da extincção do quilombo, e, unindo-se
com os outros indios mansos, mais tarde vieram a constituir a classe
proletaria que trabalhava assalariada nos roçados de algodão e nas
engenhocas dos proprietarios das terras. (22)
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
É claro que a povoação do Riacho do Meio era ainda, nesse tempo, tão pouco
desenvolvida que não merecia as honras de ser mencionada, porque do
contrario, o autor da referida carta, nos seus detalhes geographicos, cital-a-ia
como o nucleo mais proximo do ponto em que o Parahyba atravessa a serra.
É preciso notar, porém, que esse documento não deve inspirar muita
confiança, por que parece não ter o seu auctor relatado o que viu, e sim o que
ouviu dizer por alto, não se tornando preciso nos detalhes, pois, já não
falando em Tapicurá, nome que elle dá à serra donde nasce o Parahyba, e que
bem pode ser o primitivo da serra do Gigante, vae collocar a serra Dois
Irmãos entre os rios Mundahú e Satuba.
Dos juizes de paz, os unicos nomes que pude encontrar, foram os de Manoel
Rolemberg de Albuquerque, o qual tinha por escrivão Francisco Fernandes
Tosta, e o de Manoel Gomes - um licenciado portuguez que residia na Matta
Escura.(28)
De fóra, dos sitios, os que vinham fazer compras ou vender cereaes, tambem
tomavam parte na assembléa. D'ahi a mudança do nome de Riacho do Meio
para o de Nova Assembléa. (30)
Esta denominação, que foi anterior à creação da villa, não matou o nome
antigo, pela dificuldade que o povo da raça encontrava em pronunciar a
ultima palavra.
(19) Este detalhe foi fornecido ao padre Eloy Brandão pelo coronel Apollinario
Rabello.
(21) No que diz respeito a Santo Amaro, creio haver um ligeiro engano por
parte do dr. José Bento, pois tal aldeiamento em logar de ser creado em fins
do seculo 17, já existia em 1643. No já citado relatorio dos hollandezes
Johannes van Walbelck e Henrique de Moucheron, ha a seguinte menção
sobre o aldeiamento de Santo Amaro: "A vista do engenho de Cloeten fica a
aldeia Mondai que se compõe de dez ou doze familias de indios e foi
transferida para ahi de S. Antonio junto ao Parahyba (aliás Santo Amaro).
Convindo muito que para tranquillidade e segurança dos moradores das
Alagoas contra os negros dos Palmares, Santo Amaro fosse de novo habitado
por indios (pois Santo Amaro fica justamente na passagem) tiveram elles
ordem de retirar-se de Mondai e estabelecer alli a sua aldeia.
(22) Até bem poucos annos existia ainda na Viçosa um caboclo macrobio que
dizia ter morado nas grotas do "Cento e Vinte", perto da cidade, e que
conhecera o local onde esta se acha, coberto de mattas. Accrescentava que
muitas vezes, com um seu visinho chamado Thomaz Bezerra, alli caçara
pacas e porcos.
(26) Em tal escriptura consta que as terras dos Paus Brancos tinham sido
compradas a Antonio da Rocha, a sua mulher e a sua cunhada Franscisca
Maria, que as haviam herdado de João da Silva Cardozo. É bem possivel que
este tambem possuisse terras para os lados Barro Branco, porque o nome do
mesmo herdeiro, Antonio da Rocha, figura em escripturas de vendas de
terras, nessa propriedade, a Pedro José da Cruz Brandão.
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
(27) Entre esses portuguezes havia o alferes Manoel da Silva Loureiro que,
vindo de Anadia, estabeleceu residencia no sitio Pedras de Fogo, e Jose
Martins Ferreira que sendo acolhido no sitio Gurungumba, de um seu
compatriota, Raymundo Jose da Silva, casou-se com uma filha deste e mais
tarde fundou o engenho Boa Sorte. Manoel da Silva Loureiro foi o tronco da
familia Loureiro, e Jose Martins Ferreira foi o das familias Villela, Victal dos
Santos e Vasconcellos Teixeira.
(28) Esse Manoel Gomes, foi o tronco da familia Rabello. Era avô do coronel
Apollinario Rabello, do coronel Epaminondas Gracindo e do tenente coronel
Firmino Maia.
(29) Ainda hoje existe esse costume o qual é peculiar a todos os logares
pequenos do centro. As calçadas de madeira já desappareceram. Em 1882,
numa velha casa que existia em frente à cadeia, via-se ainda um passeio
formado por dois enormes pranchões, restos sem duvida das arvores
seculares que constituiam as florestas primitivas da Viçosa.
(32) Manoel Messias de Leão foi o ultimo ouvidor da provincia. Mais tarde elle
occupou o logar de juiz de direito da comarca de Alagoas.
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A villa da Assembléa
A freguezia, sob a invocação do Senhor Bom Jesus do Bomfim, foi creada pela
resolução provincial n. 8 de 10 Abril de 1835. (33)
Da mesma “falla” deprehende-se que nessa época ainda não havia cadeia na
Viçosa. Parece que os criminosos eram enviados para Maceió e Penedo.
A tradição oral não relata esse facto e a tal respeito nada encontrei
assignalado, nem na Compilação das Leis da Província das Alagoas, nem em
outro documento de qualquer natureza.
No entanto acho possibilidade no que diz Milliet, não somente por ter tal
suppressão se realisado quasi contemporaneamente à época em que elle
escrevia o seu diccionario, como também porque no antigo livro de notas do
2º tabellião da villa da Assembléa, (39) há um facto que bem interpretado
parece dar razão ao escriptor francez: pelo exame do referido livro verifica-se
que nas folhas 68 e 69 existe um traslado de uma carta de liberdade de
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
De tudo isto se conclue, não somente que Milliet tem razão (40) como
também que a villa foi restaurada numa data que se acha comprehendida
entre 28 de Junho de 1845 e 22 de Julho do mesmo anno.
“Não há quem não sabia, senhores, qual era o estado da Província quando em
Novembro próximo passado tomei conta da sua administração.
Mais tarde, em 1840, o portuguez José Martins Ferreira construiu o Boa Sorte,
e pelo anno de 1846 foi fundado o Barro Branco por Pedro José da Cruz
Brandão. (44)
A villa, que já contava em todo município uma população de perto de dez mil
habitantes, sendo oitocentos escravos, ia aos poucos progredindo. As
plantações de mandioca, de milho e de feijão eram sufficientes para o
abastecimento da população e o algodão, então já cultivado em larga escala,
começava a constituir uma outra fonte de riqueza.
Esse estado de depressão nervosa, essa certeza que todos tinham de ser
feridos pelo flagello, muito concorreu, augmentando a receptividade mórbida
de cada um, para que o cholera, na Viçosa assumisse um caracter
verdadeiramente pavoroso. Junte-se a tudo isto a ausência de médicos e a
ignorância dos princípios os mais comezinhos de hygiene e prophylaxia.
A Imperatriz ficou sendo cabeça de comarca até que a lei provincial n. 518, de
30 de Abril de 1872, veiu fazer a desannexão, reunindo novamente a villa da
Assembléa, á comarca de Atalaia.
Dessa modorra a Viçosa veiu sair em fins de 1873, com a agitação e motins
do populacho conhecidos pela revolução dos qubra-kilos a qual partindo das
províncias do Rio Grande do Norte e Pernambuco, extendeu-se por muitos
municípios de Alagoas, trazendo alarmantes as pessoas ordeiras.
O ponto do município que então se tornou mais temivel, foi o povoado Bom
Socego (antithese do nome) onde os desalmados e os indivíduos mal
procedidos, explorando a miséria incitavam contra o direito dos cidadãos
pacifico e trabalhadores.
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
Tal noticia foi recebida na Assembléa, pelos adeptos do partido que acabava
de galgar o poder, com festas, foguetes e passeatas.
Por volta das dez horas, os collegios eleitoraes, que funccionavam na matriz,
na capella de S. Francisco e na casa da Câmara, já se achavam cercados
pelos liberaes. Mais tarde chegaram os conservadores e o conflicto tornou-se
imminente necessário alguns dos chefes de um e outro partido, aconselharem
a prudência e a calma aos mais exaltados.
(38) Em 1845 era collector o major Luiz Lucas Correia de Araújo e escrivão da
collectoria Francisco Carneiro da Cunha Tiririca. O mesmo major Araújo ainda
exercia o cargo em 1851.
(39) Esse livro, que ainda existe no cartório do 2.º tabellião da Viçosa, foi
aberto, conforme se pode ver no documento n. 2, no dia 16 de Fevereiro de
1833, isto é, no mesmo dia da installação da villa.
(40) É pena que Milliet de Saint-Adolphe tenha dedicado tão poucas linhas á
villa da Assembléa. É bem verdade que a sua obra se acha eivada de erros
geographicos e históricos, mas, como quer que seja, não deixa de ter o seu
mérito e trazer um forte contingente para a historia e para a geographia do
Brazil, sendo as suas falhas facilmente reparáveis.
(41) Um velho preto, que falleceu há bem pouco tempo na Viçosa e que foi
testemunha ocular do saque de Atalaia, referiu-me esse facto mais ou menos
do seguinte modo: a fazenda do meu senhor ficava bem perto de Atalaia. Na
véspera, ao anoitecer, chegou a noticia de que Vicente de Paula se
approximava. O meu senhor fugiu precipitadamente com toda família e
internou-se no matto. Nós, os negros, que nada tínhamos a perder, ficamos,
curiosos por vêr em que paravam as cousas. A noite passou-se sem novidade,
mas quando o sol nasceu nós vimos a ladeira da frente ficar coalhada de
gente e immediatamente a casa grande foi cercada.
Lembro-me que bem perto de mim passaram duas pobres moças tremulas de
medo. Quando procuravam entrar numa casa, cuja porta se abrira, caíram
atravessadas de balas. Os bandidos adiantaram-se e vendo que um dos
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
Até aqui a narrativa do preto sobre esse celebre salteador que em Alagoas
tomou parte nas revoluções da cabanada e dos lisos e cabelludos. Parece que
mais tarde, esse caudilho se envolveu na revolução praieira, em Pernambuco.
Há annos conheci uma senhora sexagenária, que me disse ser parenta dos
Moraes e que assim me relatou a historia desses caudilhos: o vigário tinha
terminado a missa e ia se retirar, quando a egreja foi cercada e invadida por
indivíduos armados de bacamartes. Um dos chefes intimou o padre, sob pena
de morte, a fazer com que os filhos, que nesse momento marchavam em
demanda de Taquary Velho, dispersassem a sua tropa. Um portador,
despachado as pressas, deu sciencia aos Moraes da situação em que se
achava o vigário, e quaes as condições exigidas para a salvação delle.
Quando os inimigos deste souberam que o bando dos Moraes havia sido
dissolvido, evacuaram a egreja e simulando uma retirada foram se occultar no
matto próximo. No momento em que o vigário, já tranqüilizado, se dirigia
para uma pequena casa onde se achava hospedado, recebeu uma descarga a
queima-roupa, caindo instantaneamente morto.
Depois, atirando uma bolsa de ouro aos pés da moça, abriu a porta a sumiu-
se na escuridão da noite, deixando toda a familir espavorida e paralysada pelo
terror.
(44) Pedro José da Cruz Brandão foi na Viçosa o tronco da família Brandão.
(45) O tenente João Tenório foi um dos troncos da família Tenório, da Viçosa,
e era avô do desembargador Espiridião Tenório.
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
(50) Esse Commando Superior foi supprimido mais tarde, vindo somente a ser
restabelecido com a creação da comarca, em 1893.
(52) Sobre o Cabo Preto, a simplicidade popular creou uma serie de lendas.
Affirmavam que esse chefe de quadrilha possuía no corpo uma hóstia
consagradora e que por tal motivo se tornava invulnerável ás balas e ficava
invisível quando perseguido de perto. Taes propriedades, porém,
desappareciam quando elle se achava dentro d’agua, pois então ficava com o
corpo aberto, isto é, deixava de ser intangível. Uma escolta que andava em
sua procura, lembrou-se de fazer uma tocaia na margem de um ribeiro, e no
momento em que elle, muito desprecatado, atravessava a corrente, deu-lhe
uma descarga de bacamarte, conseguindo assim acabar-lhe com a existência.
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A villa em 1880
A Viçosa em 1880, não seria talvez a terça parte do que é hoje realmente.
Sumia-se o sol no acccaso e uma paz doce e santa caía sobre a villa.
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
O alto que fica para os lados do poente e em cujo cume se acha hoje o
cemiterio, era coberto por um capoeirão quasi matta.
Bem no meio havia uma cajazeira secular, que elevava sua fronde
desgrenhada acima das outras arvores. Coeva dos tempos primitivos, ella vira
talvez, indifferentemente, chegar o primeiro habitante e edificar a sua cabana
perto do espumoso Parahyba.
O noctívago era guiado atravez das ruas pelas luzes das casas commerciaes,
mas depois das oito horas as trevas se tornavam completas.
Era o primeiro que chamava os fieis para a missa, num tanger compassado e
solenne que rolando sobre a casaria da villa, ia se perder ao longe pelos
morros azues.
Era o segundo que annunciava trêfego, numa catadupa de notas alegres, que
as águas baptismaes caíam sobre a tenra cabeça de um recém-nascido.
Eram os dois que num duetto cantante, num repicar risonho, annunciavam
que os laços do hymeneu prendiam docemente a um joven par.
Eram os dois juntos, como que abraçados num triste dobrar, num mesmo
soluço, num fúnebre lamento, que levavam por toda a villa a notícia tristonha
da morte de um parochiano.
Ao lado direito da egreja do Rosário viam-se uma ruínas, ou para ser mais
claro, um montão de pedras negras onde as urtigas e outras héras bravias
cresciam viçosamente.
Esses escombros eram os restos de uma egreja que se não chegara a concluir
por falta de espórtulas.
Della o que mais perdurou foi o cruzeiro da frente, erecto quasi no meio da
praça. Pintado de verde e enlaçado de fitas, sobre uma tôsca peanha, por
muitos annos se divisou o seu perfil sereno e augusto, como o anjo protector
da villa, como uma relíquia do passado que trazia ás gerações presentes um
attestado da fé e piedade das gerações d’outr’ora.
Um dia esse velho cruzeiro, minado em sua base, carcomido pelo cupim e
pelos aguaceiros das invernias, não poude por mais tempo se suster e uma
rajada de vento lançou-o por terra.
Então, contava a lenda, uma grande sêcca se extendeu por todo o município.
Lúgubre essa cerimônia que presenciei na minha infância e que me causou tal
impressão que ainda hoje não consegui esquecel-a!
Lúgubre essa nave de egreja illuminada apenas por quatro círios trêmulos!
Repouso eterno
Lhes dae Senhor
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
E a luz perpetua
Do resplandor.
Lá fóra, na escuridão da noite erma, um sino rouco lançava aos ares uns
dobres lentos tristes e funerários.
- Mas tu não sabes, homem, que os vigários também precisam viver e que...
- Pois deixa estar, deixa estar, leva os noivos para a matriz que já os irei
casar.
Como na villa não houvesse medico, elle, tanto quanto lhe permittiam as
leituras do vademecum homeopathico, ia remediando as necessidades.
A credulidade popular ainda assignala mais outro milagre: os gansos, que elle
criava, acompanharam o préstito funerário, entraram na egreja e cercaram o
cadáver, como se também lhe quizessem render uma ultima homenagem.
Felizmente, porém, o Mané do Rosário era muito raro, e a não ser nos annos
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
O torneio popular conhecido pelo nome de quilombo, é uma festa que tende a
se acabar, não somente na Viçosa, mas ainda nos outros logares do centro.
Entretanto é uma festa puramente alagoana que relembra um dos factos mais
importantes da nossa historia - a guerra dos Palmares - e que deveria ser
conservada, não só pelo amor á tradição como também porque tal gênero de
diversão não deixa de ter o seu attractivo, sendo mesmo superior ás
antiquadas e estafantes cavalhadas.
Folga negro
Branco não vem cá
Se vier
O diabo há de levá
Logo depois surgiam todos os caboclos, tendo a frente o seu rei, o qual usava
espada e manto vermelho. Marchavam cantando e dançando o toré, dança
selvagem acompanhada pela musica de rudes e monótonos instrumentos,
formados de gommos de taquáras e taquarys rachados, e de folhas enroladas
de palmeira. A lucta se travava na praça, em frente ao quilombo, e depois de
muitas refregas, de retiradas simuladas e assaltos, o rei dos caboclos acabava
subjugando o rei dos negros e apossando-se da rainha.
Por traz da cidade, no coração de uma rocha que fica cercada pela corrente do
Parahyba, existe um poço cavado pela acção lenta das águas, as quaes ahi se
precipitam num pequeno salto de um metro de altura.
(53) Conforme lembra o dr. João Severiano, a palavra Gurganema pode ser
uma corruptela do vocábulo tupi curupanema e originar-se de carurú - sapo e
nema - podre.
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A tradição affirma que no logar onde foi celebrada a primeira missa de natal e
onde o celebrante erigiu uma cruz tosca de ramos verdes, se construiu depois
uma ermida de palha.
O ponto onde ficava essa ermida, não se acha bem determinado: alguns
pensam ser no próprio local onde hoje se ergue a matriz; um antigo morador
da Viçosa affirmava, porém, ser um pouco mais acima - nas proximidades do
antigo matadouro, por traz da rua da Palha. Ainda uma terceira versão diz ter
sido no logar onde está situada a capellinha de N. S. do Rosário, isto é, no
mesmo ponto onde Manoel Francisco edificou a sua egreja.
Em 1818, quando João da Silva Cardozo e sua mulher Thereza Maria Fiúza,
doaram o patrimônio do Bom Jesus do Bom Fim, já existia tal capella, como
se prova com o seguinte trecho do auto de doação referente aos limites do
terreno:
A velha capella do Senhor Bom Jesus do Bom Fim continuou, pois, como
matriz, até no anno de 1851, quando o vigário Francisco Manoel da Silva a
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
Pouco sólida, pois tinha sido feita de pedra e barro, conseguiu no emtanto,
com muitos concertos, manter-se de pé durante muitos annos. Em 1900,
estando prestes a desabar, foi reconstruída pelo vigário Francisco de Borja
Barros Loureiro que, apliando-a, fez dois corredores lateraes, novo altar-mór
e novo côro. Ao mesmo tempo deu-lhe um certo gosto esthetico
transformando a fachada e construindo na parte mediana uma torre que,
como uma bella pyramide branca, eleva-se a muitos metros de altura e
avista-se de muito longe.
Nessa reforma foi gasta, até Fevereiro de 1901, a importância de treze contos
setecentos e três mil e setecentos reis, (55) sendo uma parte desta quantia
representada pelas espórtulas e a outra despendida pelo próprio vigário
Loureiro, que fazia questão de dotar a Viçosa com um templo que estivesse
de accordo com o seu desenvolvimento.
Essa egreja possue um patrimônio de terras doado em 1833, pelo padre João
de Carvalho Alvarenga. (57)
Nesse mesmo tempo, sob a iniciativa de José Martins Ferreira, que concorreu
com um conto de reis, erigiu-se na parte anterior do cemitério a pequena
capella de S. Francisco de Assis a qual o mesmo José Martins, mais tarde,
doou uma imagem do orago e um sino. (59)
Com a noticia das missões começou o povo a affluir não só dos diversos
pontos do município, mas de todos os logares circumvizinhos.
O local que se achou próprio para edificar se a mansão dos mortos, foi o cume
do monte que fica por traz da cidade, para os lados do poente.
Recordo-me que uma tarde eu e meu pae nos dirigíamos para a Viçosa.
Esse novo cemitério, pela sua collocação no alto do morro, foi accusado de ser
o causador das febres que de quando em vez reinam na Viçosa. Algumas
pessoas eram da opinão que as águas da enxurrada acarretavam para a
cidade materias em decomposição.
Esta supposição é infundada e não tem razão de ser. Tal facto só se poderia
dar se os cadáveres fossem depositados muito na flor da terra. Ora, os
enterramentos fazendo-se na Viçosa, como em toda a parte, com os sete
palmos de profundidade nas covas, e sendo o terreno filtrável, não pode
absolutamente haver tal perigo.
Não quero concluir o presente capitulo sem fazer um pequenino appelllo aos
meus patrícios: o ponto onde existiu o antigo cemitério de S. Francisco de
Assis, acha-se hoje quasi ao abandono. Os muros da parte posterior
desabaram em alguns lanços; hervias bravias crescem sobre as sepulturas e
não raras vezes, talvez, os animaes irão profanar com as suas patas aquelle
logar sagrado onde repousam os últimos despojos de duas gerações, entre as
quaes muitos dos actuaes habitantes contarão talvez, um avô, um pae ou
uma mãe querida. Por que esta indifferença pelos que se foram?
Porque que não se reúnem todos, sem discrepância de classe, ricos e pobres,
cada um na medida das suas forças, e não procuram reerguer os muros
arruinados, reedifficar a capella de S. Francisco ou construir qualquer outro
monumento que perpetue a memória dos seus maiores?
A realisação dessa obra de piedade filial, de caridade pelas cinzas dos que alli
jazem, no mesmo nada em que o sopro devastador da morte transforma os
seres, a realisação dessa obra, repito, é uma necessidade, é uma divida que
todo o bom viçosense deve procurar pagar quanto antes.
(56) Essa egreja foi por muitos annos zelada pelo tabellião Chistovam de
Aragão Cabral e sua mulher D. Senhorinha de Aragão Cabral, os quaes se
acham ahi sepultados.
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No Rio, o gabinete João Alfredo, atacado por todos os lados, caía aos golpes
cerrados dos seus adversários.
Todas essas nuvens procellosas que pairavam sob o céo da Pátria Brazileira,
ameaçando uma próxima borrasca, os ventos não as impelliam até á villa da
Assembléa.
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
Perdida no meio das suas mattas, perseguida pela rotina e pela distancia, mal
lhe chegavam os écos amortecidos do que ia pelo mundo.
Tão risonha, tão futurosa, tão fértil, tão productiva se mostrava a villa da
Assembléa, que o então governador do Estado, coronel Pedro Paulino da
Fonseca, pelo decreto n. 46 de 25 de Novembro de 1890, lhe mudou a
denominação para Villa Viçosa.
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Descripção physica
Muito pedregoso em diversos pontos de seu leito, elle corre, até a serra Dois
Irmãos, num ligeiro declive que prova perfeitamente a elevação dos terrenos
para o centro. Durante as grandes sêccas, as suas águas diminuem
extraordinariamente de volume, deixando a descoberto o seu enorme
esqueleto de rochas. Nos verões muito fortes, a sua corrente ficando cortada,
apenas se encontra água nos poços profundos.
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
Não é plausível, porém, que a arvore tenha dado o nome ao rio, mas antes
que este o tenha concedido a arvore. Milliet diz significar “água clara,” porém
o dr.Theodoro Sampaio affirma que Parahyba é o mesmo que Para-ahyba,
devendo ser a traducção: rio ruim ou impraticável. Esta versão parece mais
correcta, porque os índios não faziam as suas denominações arbitrariamente,
mas sim baseados em alguma propriedade, em algum facto. No Parahyba o
que lhes feriu immediatamente a attenção, foi ter o rio o seu leito muito cheio
de pedras e ser de difficil navegação. (62)
as quaes vieram se fundir, vieram ter o seu maximo traço de união na serra
Dois Irmãos e no seu prolongamento – a serra do Bananal.
Serra Dois Irmãos - É a mais importante da Viçosa e também uma das mais
importantes do Estado. Correndo a principio a L., toma depois o rumo S. E. e
com o nome de serra do Bananal, entra no município da Parahyba e vai
ramificar-se por meio de montanhas com a serra da Tamearana, no município
de Anadia.
Além desses dois cabeços, notam-se ainda o serro dos Meunços, o do Retiro e
muitos outros que, como um bando de sentinellas perfiladas, erguem na
serenidade do espaço as suas frontes aniladas e vão, como que
fugitivamente, perder-se ao longe nuns recortes esfumados.
O alto da Fazenda Velha segue o rumo N., dá uma ramificação que vae formar
o alto da Boa Vista, para os lados da Matta Verde e dos Paredões, e depois,
com os nomes de Chã da Ingazeira, Santa Thereza e Sapucaia, passa
successivamente pelos engenhos Ingazeira, Barro Branco e Bom Jesus, indo
perder-se e confundir-se a N. O. com as montanhas da Chã Preta e do Bom
Socego.
Na Serra Dois Irmãos devem, com toda certeza, ficar os pontos culminantes,
pois ella se avista de uma distancia inacreditável.
Estes limites são os actuaes, porém não sei se serão os reaes, visto haver
litígio entre as fronteiras alagoanas e pernambucanas, não somente ahi nesse
ponto como também em outros.
(61) Essa serra parece ser de natureza vulcânica, pois, segundo affirmam
moradores das suas fraldas, de quando em vez se ouvem partir das suas
profundidades rumôres surdos como de trovões ao longe.
Agora uma nota sobre a gruta do Gulandy: em 1902, tendo terminado o meu
curso medico, eu me achava clinicando em Bom Conselho (Papacaça), quando
ouvi falar nessa curiosidade que existia no município.
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Inhamunhá
_ Perguntaes se é o rio que ruge; não: este rumor convulso que passa
como um soluço immenso, pela vastidão da noite erma, é o pranto que se
desata, é a dor que se extravasa, rola e cae em catadupas de lagrimas. São
os Dois Irmãos que choram - aquelles que como nós já foram humannos, já
amaram, já soffreram e talvez ainda soffram, pois foi a dor que os
transformou em pedras, que os tornou immoveis, na mesma desolação, no
mesmo horror!...
Seria uma emanação do divino Tupan? Seria um raio de luz de Jacy - a mãe
formosa das noites serenas?
Não se sabe.
Mas quando o seu olhar protector caiu sobre a pequenina yara, viu Pirauá que
já se havia adiantado e que silenciosamente, com o tacape em punho,
defendia a extrangeira.
Boa, doce e carinhosa, era como uma irradiação do sol que a todos alegrava.
Nas noites alvas, quem a visse atravez dos campos passear vagarosa sob a
doçura da lua, imaginal-a-ia um sonho do céo, uma doce visão, um
encantamento do luar.
A sua voz tinha a dolencia do gorgeio das aves - lembrava o gemer da jurity
quando o sol se vae pôr.
Correram os tempos.
Pirauê e Pirauá andavam tristes. Já não tinham o mesmo ardor nas caçadas
das onças bravias e na dança guerreira do toré ficavam frios e scismarentos
com o olhar perdido no céu da tarde ensangüentado e roxo.
Pressagios começaram então a pairar sobre a tribu - uma vez, em pleno dia,
na hora do sol em pino, o sagrado maracá, sem ser tangido, começou a soar.
O pagé que velava á noite pela segurança da taba, tivera uma triste visão:
Jacy, a lua, já tinha descambado por traz da montanha; tudo era escuridão,
apenas se avistava ao longe, nas chãs, os clarões fugitivos das coivaras de
outras tabas. Havia silencio nos campos e o rio rolava soturnamente as suas
águas. De repente, no fundo do Valle, da outra banda do Parahyba,
appareceu uma tocha vermelha que se elevando nos ares começou numa
dança doida a rodopiar sobre a ocára. Era o fogo corredor, o mensageiro da
morte e da desgraça. No mesmo estante o noitibó passou gemendo e o pagé
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
Uma vez...a noite vinha caindo e no alto das imbiribas as cigarras cantavam
saudosamente. Era pelo verão e no céu muito azul as estrellas principiavam a
luzir.
Pirauê que andava vagando á toa se encontrou com Pirauá. Fitaram-se os dois
com tristeza e depois de um curto silencio o primeiro interrogou:
_ Também. A flecha que te feriu já havia despedaçado meu coração: não viste
o furacão que retorce as florestas nas noites de vendaval? Não ouviste o rugir
da procella nas horas em que Tupan irritado faz ribombar o trovão? Não viste
a torrente que transborda e que devasta as arvores da matta? O meu amor é
assim; como o furacão, como a procella, como a torrente transbordada...
Olha, irmão, um de nós deverá desapparecer do mundo antes que Jacy venha
de novo illuminar estes campos.
_ Ouve, yara, começou o mais velho, tu vaes agora decidir de nossa sorte:
escolhe entre Pirauê e Pirauá aquelle que deverá ser o teu senhor.
Eis ahi pois a sua historia... Agora, se alongardes o olhar, alguma coisa vos
chamará a attenção, bem no meio do rio: - é ella, é a visão meiga e doce das
noites de invernada, é a pállida Inhamunhá...
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Fora da cidade, nos engenhos bem localisados, nas chãs das montanhas, o
clima é admirável.
Mesmo nos grandes verões os dias ahi são frescos e amenisados por uma
constante viração. A humanidade atmospherica é quasi nulla no verão, e
durante o inverno é muito suavisada pelas deslocações do ar, deslocações do
ar, deslocações sempre brandas, pois os tufões e as grandes ventanias são
desconhecidos no município, com também são desconhecidas as mutações
bruscas da temperatura. As noites são agradabilissimas.
Os raios são muito raros. Que eu saiba, nunca em Viçosa houve pessoa
alguma fulminada pela faísca elétrica.
Como a maioria das cidades e villas do interior, também pagou o seu tributo
ás epidemias (a febre amarella exceptuada) que dizimaram a capital.
A morphéa é raríssima.
É de muita utilidade que este ultimo facto seja divulgado, porque é commum
baterem desapiedadamente nas crenças que comem terra, sem
comprehenderem que ellas, como simples doentes, em logar de castigo
precisam de tratamento.
É preciso fazer uma observação: todos esses alimentos não entram numa
ração quotidiana: muitas vezes falta a carne ou o bacalhau e o feijão é
comido somente com farinha ou com milho cozido. Noutras occasiões, porém,
é o feijão que não pode ser adquirido pela sua extrema carestia, e nesse caso
a ceará é usada com o simples pirão d’agua ou com a farinha sêcca.
Agora sobre a habitação: como já disse, esta é construída quasi dentro dos
brejos. Tal facto se explica pela lei do menor esforço, pela incúria, pela
preguiça de transportar a água para um ponto mais distante.
Sem a menor noção dos cuidados hygienicos, sem a idea do conforto, as suas
palhoças mal lhe abrigam dos aguaceiros do inverno e dos rigores do sol.
Agora vou dizer duas palavras sobre a água: esta é má, ou antes é péssima,
porém tal qualidade em vez de ser nativa, originaria da fonte, é muito ao
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
Creio que esses dois melhoramentos não acarretarão grandes despesas para
os cofres públicos, e ainda mesmo que seja preciso algum sacrifício, tudo
pode ser justificado, visto tratar-se da saúde e do bem-estar de população.
(65) O professor Jeanselme, no seu trabalho sobre o beribéri, diz que essa
affecção é muito commum na América “nas zonas onde se cultiva a canna de
assucar”. A affirmativa do illustre professor da Faculdade de Medicina de
Paris, neste ponto, ressente-se de exactidão, pois felizmente o beribéri não
existe na Viçosa e tão pouco nas outras zonas assucareiras do interior de
Alagoas e Pernambuco.
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FLORA
Os terrenos da primeira zona são mais sêccos. Parece que a terra ahi é mais
pobre em humos e substancias orgânicas, havendo um predomínio das
matérias silicosas. As chuvas são mais raras e este facto é um corollario
obrigado da deficiência da vegetação.
Aqui nós temos de tratar das mattas propriamente ditas e das capoeiras.
Antes de tudo é preciso dizer que as altitudes, com certeza pelo facto de não
serem muito pronunciadas, não têm nenhuma influencia sobre a vegetação.
Esta é a mesma tanto nas chãs como nos valles, havendo alguma differença
apenas nas várzeas embrejadas.
Desse facto resulta que cada senhor de engenho se esforça o mais que é
possível para manter as suas propriedades cobertas, e da somma desses
esforços parciaes todo o município tende a lucrar, pois, estando assegurada a
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
De todos estes o que tem mais terrenos cobertos é o Boa Sorte, cujas
florestas se desdobrando pelo alto da Boa Vista e Duas Barras, marginam o
Riachão, extendem-se pela Baixa dos Côcos e vão prolongar-se até os
pendores da Serra Dois Irmãos.
As duas, ultimas merecem uma especial menção pela abundancia com que se
desenvolvem e pelos resultados que a industria pode auferir da sua cultura.
Nas minhas viagens pelo sul da Republica, só me recordo de ter visto uma
arvore assim tão social, dominando grandes extensões de terrenos – é o
pinheiro do Paraná (araucária brasiliensis).
A palmeira é encontrada não somente nas mattas, mas ainda nos capoeirões,
nas capoeiras, nas várzeas e nos cercados dos engenhos. Os proprietários de
terrenos protegem-na contra as derrubadas, e o próprio povo, vendo nella
uma amiga, evita o quanto é possível offender-lhe. Por occasião das brocas
(70) para a construcção dos roçados, os camponezes suspendem os
machados e as foices ante as palmeiras. Como a sua folhagem pode no futuro
causar prejuizos á lavoura, elles fazem escadas de madeira, sobem até a copa
e decotam as palmas, tendo o cuidado de não lesar os olhos ou renovos. Ás
vezes, porém, o terreno onde vae se fazer o cannavial acha-se tão abastecido
de palmeiras que é preciso derrubal-as. (71)
As palhas são utilisadas pelos homens da roça, não somente na cobertura das
cabanas, mas ainda na sua industria rudimentar de esteiras, chapéos, cestas
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
e vassouras. A resina, que ainda não foi explorada, pode se prestar aos
mesmos fins que a gomma arábica.
A titara é uma pequena planta espinhosa, quasi trepadeira, que produz uns
fructos sem importância. A sua haste é empregada na confecção de urupemas
e cestos.
bairrista que não o sou) acho que tal logar, se não era nas mattas de Alagoas
não deveria dellas ficar muito distante. A quem achar que há enthusiasmo nas
minhas palavras, eu convido para visitar as nossas florestas, num desses dias
luminosos de primavera. Tenho viajado em muitas mattas brazileiras e em
algumas da Argentina e do Paraguay—passei mezes inteiros nas florestas
virgens de Matto Grosso, atravessei os Campos Geraes do Paraná, percorri o
terreno das Missões, na parte contestada pelo Estado de Santa Catharina,
visitei as mattas que, numa extensão de muitas léguas, cercam os
magestosos saltos de Santa Maria do Iguassú, embrenhei-me nas florestas
que corôam as montanhas do Rio de Janeiro, mas força é confessal-o, se em
todas ellas encontrei bellezas admiráveis, pujança de vida e de seiva, em
nenhuma encontrei a graça, a magia, a fascinação que envolvem e
caracterisam as mattas da minha terra.
(71) Não há nada mais triste, mais melancólico do que a derrubada de uma
palmeira: dois machadeiros, de um e outro lado, começam a fazer-lhe
entalhas de maneira que ella seja rolada completamente.
Das feridas escorre uma ligeira seiva, rubra. É o sangue da arvore, e aquelles
cavacos, também rubros, que caem esphacelados sob o gume dos
instrumentos, são como a carne que se destaca.
Depois alguma cousa lhe rola de cima, gotta a gotta... São lagrimas!... a
palmeira chora - deixa cair o orvalho que a noite depositara em seu seio pelo
silencio da madrugada.
que a enloiravam de luz, ás tardes que a banhavam nos frouxos raios do sol
poente...
(78) A herva de Santa Maria, de que trato aqui, não deve ser confundida com
o mastruço.
(79) O cardo santo contem nas suas folhas os principios activos do opio, e
com especialidade a morphina, pelo que deve haver muita prudencia no seu
emprego.
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FAUNA
Dos sáurios encontra-se algumas vezes o jacaré, nos brejos e nas partes
embrenhadas do Parahyba.
Temos ainda as aracoans, aves grandes que cantam em côro pelas manhãs e
ao entardecer, a acauan e as cardigueiras ou aves de arribação, que nos
grandes verões descem das catingas em bandos tão grandes e tão compactos
que projectam a sua sombra em longa extensão.
Um pequeno insecto que supponho ainda não ter sido estudado é o potó, o
qual só tenho visto em Alagoas: affecta as dimensões de uma formiga, sendo
porém mais esguio, tem uma côr vermelha escura e a cauda ou extremidade
posterior voltada para cima. Essa cauda tem uma côr azul clara, que a
destaca do resto do corpo. A particularidade desse insecto é secretar um
liquido irritante que depositado sobre a pelle produz uma acção vesicante em
breves momentos.
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
Como já disse noutro capitulo, ao pé de uma cajazeira que ficava bem perto
da cidade, um negro, há muitos annos, tinha sido devorado por uma onça. As
lendas sobre aventuras de caçadores em ataques a esses animaes, eram tão
exageradas que perderam o credito, de modo que, actualmente, ainda é de
uso chamar-se historias de onças aos relatos de façanhas mentirosas.
(83) Não temos feras que pertubem com os seus rugidos a calma das nossas
mattas, porém temos cousa peor, temos as cobras que constituem uma
ameaça perenne tanto para a vida do homem como para a dos animaes. É
uma tristeza. Muitas vezes, no meio de um balsedo verdejante, pontilhado de
malmequeres e tecido de caracoleiras de flores avelludadas, na margem de
um regato que foge sussurrante atravez de nenuphares, enrosca-se a
serpente traidora, sempre preparada para atirar o seu bote fatal. O que nos
vale, porém, é que para grandes males há grandes remédios. Não raramente
o esconderijo da cobra é a touceira de uma planta que encerra na seiva o
antitóxico da peçonha. Existem em larga escala pelos campos, e todos os
montanhezes conhecem, o meladinho ou S. Pedro Caá, a folha dura, a fava de
cobra, a vassoura de botão e muitas outras plantas empregadas com êxito
nas mordeduras de serpentes.
(85) Sob o titulo, As cobras e o seu veneno, escrevi dois artigos em Maio, de
1911, na secção Notas Medicas, do Gutenberg. O estudo das cobras em
Alagoas merece a attenção dos naturalistas, pois supponho que nesse Estado
existem algumas espécies ophidicas ainda não classificadas. Entre essas é
preciso mencionar a que o povo denomina salamanta. Tal serpente, que
nenhuma analogia offerece com o lagarto europeo chamado salamandra, não
é conhecida no mundo scientifico, pelos menos com aquelle nome. Será uma
variedade do gênero lachesis? Ignoro. O que posso asseverar é que ella, nos
seus caracteres exteriores, muito se assemelha á giboia, chegando mesmo as
duas cobras a ser confundidas pelos camponezes, sendo, porém, de notar,
que emquanto a giboia é destituída de veneno, a primeira pode rivalisar com
a crotalus na toxidez da peçonha. Affirma uma lenda popular que a salamanta
quando morde alguma pessôa, ergue a cabeça para vêl-a cair morta.
Um outro facto relatado pelos matutos é que nos logares onde existe cobra
sente-se o seu cheiro, o qual é semelhante ao do peixe cru ou ao das folhas
do cabaceiro.
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Há bem poucos annos o sr. Manoel Galvão, industrial que residia na Viçosa,
tendo comprado um terreno para explorar a cal, no sitio Lunga, nos limites do
município com Quebrangulo, descobriu uma importante mina de mármore.
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Descripção política
Os terrenos, como já tive occasião de dizer por mais de uma vez no decorrer
desta obra, são na totalidade de uma fertilidade admirável. Existem grotas,
valles e chãs trabalhadas incessantemente há mais de um século, sem se
exhaurirem. O agricultor da Viçosa não conhece o arado nem os adubos para
os terrenos. O preparo destes para os roçados, consiste apenas na derrubada
das mattas ou capoeiras, na queima e no encoivaramento.
usina. Como quer que seja, admittindo-se a media de 300 saccos para cada
engenho e um preço de três mil réis por arroba, vê-se que uma safra de
assucar em todo o município, nos annos regulares, pode render uma somma
que se approxima mais ou menos de 600 contos de réis.
Entre os engenhos que safrejam mais de mil saccos por anno, notam-se o Boa
Sorte, o Bananal, o Dourada, o Riacho Secco, o Matta Verde, o Limoeirinho e
o Floresta. Os que possuem maiores machinismos são o Boa Sorte e o
Bananal do coronel Manoel Fernandes. Entre os mais bem construídos
destaca-se o Barro Branco, reformado em 1898 pelo seu proprietário, o
coronel Theotonio Torquato Brandão, que nelle edificou uma bella e vasta
casa de pilares.
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A vida no engenho
(QUADROS E COSTUMES)
Casitas rústicas apparecem - ora pelas margens das estradas arenosas, ora
atufadas entre a folhagem basta das capoeiras altas.
portas lhe serão abertas e que terá uma ceia e um leito para compensar as
agruras da jornada.
Como arma usa a faca de ponta e o cacete. A primeira sendo prohibida pela
policia, não é trazida ostensivamente. Quando o matuto se approxima de
algum logar povoado, ápea-se do cavallo, retira a faca da cinta e esconde-a
na esteira da cangalha. O cacete é uma supervivencia das armas do antigo
aborigene: é uma modificação do tacape. Feito de pau duríssimo, possue a
extremidade inferior mais grossa do que a superior. Ás vezes é quinado e ás
vezes é roliço, tendo sempre um tamanho menor do que as bengalas
commumente usadas. É uma arma offensiva e defensiva, que seja dito de
passagem, é muito mal manejada.
O 13 de Maio foi uma surpreza para o senhor de engenho, que julgou tal acto
um attentado a sua propriedade, um roubo feito á nação pelo governo. As
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
idéas abolicionistas ainda não tinham entrado na Viçosa, mas, faça-se justiça,
os seus engenhos jamais haviam presenciado as scenas vandálicas da
escravidão, tão communs em outros logares. As novenas de açoutes, os
bancos e as gargalheiras não medraram em minha terra. Si o negro tinha
castigo era apenas como uma reprimenda ás suas malfeitorias, mas nunca
esse castigo ultrapassava os sentimentos de humanidade.
A dor do escravo era mais devida a privação da liberdade do que aos maus
tratos corporaes.
De manhã cedo o engenho accorda ruidoso e cheio de vida para a faina diária.
As tardes são como uns longos crespusculos pesarosos, e quando a noite cae
a soturnidade redobra, tétrica e pesada. Não se ouve nem um balido, nem um
mugido. Somente a chuva estala em bátegas, e além, pelas várzeas longas,
os vagalumes se accendem, em myriades, como cirios pallidos de alguma
procissão phantastica e enorme
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
Agora, pelas estradas alvacentas, passa o bando alegre dos cambiteiros, (90)
cantarolando trovas campezinas, quadras sentidas ou “emboladas alegres.”
Ao meio dia, num céo muito azul, o sol rutila, candente, fulvo. Nem uma
ligeira viração faz oscillar as arvores paralysadas e mudas sob o mormaço
tropical. Os flabellos immoveis das palmeiras parecem faiscar ás
reverberações da luz coruscante que jorra do alto.
Dos montes e das rechãs, extendendo-se o olhar por sobre a vastidão dos
campos, nessas horas caliginosas, tem-se a impressão de que a natureza
dorme a sésta, embalada pelo canto monótono das cigarras.
Ao cair da tarde, nos longes das montanhas, para o lado das queimadas, os
horizontes se enfumaçam.
A luz moribunda vasqueja pelo espaço, côa-se pelas arvores, flammeja sobre
o açude, derrama-se como um restello d’ouro sobre os escampados vastos e
afinal desfallece, em laivos tristes, lentamente.
Rompe agora o silencio o galope de um cavallo. Cães ladram pelas portas das
choupanas, bate a cancella do cercado e alguem na estrada deserta passa
veloz. Talvez algum feirante retardatario a quem a noite surprehendeu em
meio da matta, talvez algum vagabundo que de engenho em engenho anda a
cata de algum côco.
Cada vez mais bella, a claridade do luar cae sobre a fazenda como um sudario
transparente, povôa de sonhos e mysterios a espessura das mattas, envolve
as montanhas, derrama-se pelas baixadas, e beijando os nenuphares
sombrios vae espalhar rodilhas de luz sobre a face fria dos açudes, onde
dormem as grandes nymphéas brancas e pensativas.
Tão triste, tão desolada, parece communicar a toda paizagem o seu aspecto
de pesar e nostalgia.
Uma certa manhã, parando para beber cachaça na “venda” que ficava á beira
do caminho, notou que a mulher do dono da casa era moça e bonita. Seduzil-
a, conquistal-a e raptal-a foi obra de poucos dias. O marido ludibriado, que
parecia ser fraco e pusillanime, jurou vingar-se. Os tempos correram e do
sertão vieram noticias que a esposa infiel, abandonada pelo amante saciado,
morrera de miseria. Pouco depois o Pajehú voltou, e compenetrado que seu
rival o temia, passou insultuosamente diante da “venda” e demorou-se a
conversar com os conhecidos. Mal porém tinha entrado na matta, quando um
tiro partido de traz de uma arvore o prostou no chão, e immediatamente o
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
Vão chegando mais convivas - moços e moças; a roda dos pares augmenta,
augmentam as vozes e o côco cada vez se torna mais animado.
1º cantador:
2º cantador:
1º cantador:
“Estrella da madrugada
Brilha, brilha sem parar,
A tua luz minha estrella
É doce e me faz penar.”
2º cantador:
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O monte, cuja chapada tem tal designação, fica á margem direita do Riachão,
regato um pouco volumoso nas estações invernosas, o qual, banhando o
municipio pelos lados do nordeste, vae lançar-se no Parahybinha.
Esse monte tem mais ou menos a fórma de um cone truncado, sendo de facil
acesso pelo lado do poente. Ao contornal-o, em um estreito valle entre a sua
base e o Riachão, fui impressionado não só pela sua conformação especial,
como tambem pelo facto de encontrar-se elle ligado por uma ponta de
terreno, que me pareceu um aterro, a um outro monte que não pude
explorar, visto achar-se coberto de capoeirões.
Á primeira vista julguei ser o povo que ahi tinha vivido pertencente a raças
nomadas que habitavam em tendas, ou então representante de aborigenes
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
É preciso notar que não era a primeira vez que eu contemplava na Viçosa
identicos caracteres em rochedos, se bem que em outros tempos não os
encarasse como objecto de estudo.
No leito do Parahyba, nas proximidades do Poço das Almas, por traz da rua da
Gurganema, existem num rochedo duas pequenas depressões polidas e muito
semelhantes ás que descrevi acima. Recordo-me de tel-as visto em creança, e
apessoa que m’as mostrou, explicou serem agulhas (?) feitas pelos flamengos
para indicar thesouros nas proximidades.
Todos esses objectos são pelos roceiros denominados coriscos, e para elles
representam esqueleto do raio, pois segundo a crença popular, a faisca
electrica é uma lasca de pedra inflammada, que nas occasiões de trovoadas
cae do seio das nuvens, e que enterrando-se no sólo, numa profundidade de
duas braças, vem lentamente aflorar na superficie, cinco annos depois.
Os negros dos Palmares, como procuro demonstrar num trabalho que tenho
em elaboração, (93) extendiam, é verdade, o seu dominio pelo municipio da
Viçosa, e o mocambo de Osenga, situado cinco a seis leguas a oeste da serra
da Barriga, deveria ficar nas immediações do Riachão, mas esses quilombolas,
occupados na pilhagem das fazendas da capitania e na defesa das suas
malócas, não deveriam dispôr de muito tempo para fazer inscripções em
rochedos. Demais o seu desenvolvimento intelectual deveria ficar pouco além
do dos aborigenes.
Isto posto, o problema agora se apresenta sob um novo aspecto: qual foi dos
povos antigos o que aqui se estabeleceu?
A querer fazer dos angulos e triangulos o fio de Ariadne que me sirva de guia
neste labyrintho, eu seria levado até as inscripções cuneiformes dos antigos
babylonios, nas quaes as fórmas angulosas, em linhas cruzadas substituindo
as curvas, já representavam uma evolução da escripta.
Mas não irei tão longe. Se bem que o dr. Homel sustente a theoria,
improvavel, no meu modo de pensar, de que o systema cuneiforme
representa a escripta mater entre todos os systemas, e que, sendo figurativo
nos tempos remotissimos em que os summeres povoavam as margens do
Euphrates, precedeu o proprio systema hieroglyphico e hieratico dos
sacerdotes de Isis, acho mais racional admittir que todos os systemas de
escripta foram precedidos de esboços simplificados, de tentativas e longo
tactear na arte graphica de exprimir o pensamento.
Quem poderá provar que os arias, após a dispersão, não tenham vindo,
tambem, até as nossas plagas, atravez de caminhos que hoje nos são
desconhecidos, mas cuja existencia era então, nesses tempos immemoriaes,
justificada pela disposição geographica e geologica do nosso planeta?
Seja como for a maneira pela qual se encare o problema, de qualquer modo
que se procure a sua solução, o que fica fóra de duvida, o que não pode ser
contestado, é a existencia no Brazil, em tempos immemoriaes, de uma raça
primitiva que accordava para a civilização, raça cujos vestigios ainda são
encontrados em inscripções nos rochedos, em restos de ceramica, em
utensilios de pedra, em sambaquis ou ostreiras, em dolmens, em menhirs, em
cromlechs, em mounds e em ossadas carcomidas e gastas pela acção
destruidora e fatal dos annos.
Nota Final – Uma das questões que mais têm apaixonado os sabios da
Europa, é a que se relaciona com a origem e com as migrações dos arias. A
obra de Salomão Reinach – A origem dos arias – recentemente traduzida para
a nossa lingua, passando em revista uma longa serie de theorias, das quaes
muitas se contradizem, em vez de trazer a luz augmenta as hypotheses. O
que porém se conclue de muitos autores citados nessa obra, é que não foram
os arias os constructores dos dolmens, dos menhirs e de todos esses
monumentos megalithicos, tambem chamados druidicos.
Como quer que seja, tal concepção em nada affecta as idéas que expendi na
memoria acima.
Note-se bem que não me occupo da origem dos povos americanos. Falo
apenas de raças que para aqui emigraram em épocas primévas.
É bem possivel que aquella lagea fosse um logar sagrado destinado aos ritos,
e assim as gravuras não passariam de symbolos representando idéas ou
registrando factos, e por conseguinte ligados a uma escripta rudimentar.
De todos esses monumentos, bem como de outras “chãs de cacos”, que visitei
posteriormente, e mui principalmente da chã da Fazenda Velha, darei uma
VIÇOSA DE ALAGOAS – ALFREDO BRANDÃO
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Diz Domingos Joam Carvalho, capitão de infantaria dos Palmares, que sua
magestade, que Deus guarde, foi servido fazer mercê a cada um dos capitães
do terço dos paulistas, conquistadores da campanha dos Palmares de 3
leguas, aos alferes duas léguas em quadro, livres de fóro e de pensão
alguma, mais que os dízimos a Deus, como consta das copias das ordens
reaes juntas, começando as ditas pelas cabeceiras das datas do mestre de
campo Domingos Jorge Velho e do capitão Domingos Joam de Carvalho, três
léguas de terras em quadro, do riacho chamado Tamoatá pelo rumo de
nordeste buscando o rio Mundahú pela testada do capitão Alexandre Jorge; da
parte do norte buscando a serra do Caxefe para o sertão: da parte do sul
servindo de testada as cabeceiras do capitão André Furtado, pelo rio Parahyba
acima até encher as ditas três léguas de terra em quadro do dito capitão e o
dito alferes as duas léguas pelo dito rio Parahyba mirim, assim de uma banda
e outra, buscando a serra do Cavalleiro ate encher as duas ditas; por tanto
pede a vossa senhoria seja servido conceder e dar as ditas datas na forma
dedusida; e receberá mercé.
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Termo de abertura
Há de servir este livro para notas do 2. Tabelião d’esta villa. Vai numerado e
rubricado com o meu apelido de Cabral e no fim leva termo de encerramento.
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Seguem-se as assinaturas.
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1º que a invocação hé do Senhor Bom Jesus do Bom Fim, foi creada por lei nº
8 de 10 de Abril de 1835, foi desmembrada da Freguezia d’Atalaia, tem a
extensão de 6 leguas do nascente ao poente, a saber dista esta Matris duas
léguas ao pendor da Serra de 2 irmãos e ahi limita com a Freguesia d’Atalaia
ao nascente, dista da Sede do Povoado da Pindoba três léguas ao poente, e
limita ahi pelo Rio Parangaba com a Freguesia de Anadia, sendo a maior
distancia da sede 5 leguas á estrada do Jundiá que limita com a Freguesia de
Garanhuns (Província de Pernambuco) pela estrada do Corrente ao Norte, e
ahi mesmo com a Freguezia de Santa Maria (Villa d’Imperatriz) tão bem ao
norte. Ao Nordeste dista a matriz 4 leguas do Povoado do Lourenço, e ahi
divide com Quebrangulo por uma estrada denominada da Matta limpa, não
sendo bem intelligível esta estrada por haver ahi duas estradas do mesmo
nome.
2º Podia render hum conto de reis senão dividesse a mera estola com 4
sacerdotes que me ajudão pode render 600 a 700$000.
Por lei n. 301 de 13 de Junho de 1856 foi esta Freguesia dividida ao meio
tirando-se d’ella a freguesia de Quebrangulo pelo povoado do Lourenço. O
material da Matriz não he bom por ser logar pobre e não achando Matriz
apenas pude com os meus rendimentos e esmollas que pedi á meus
parochianos edificar de pedra e barro, não se acha ainda acabada faltando os
dous corredores e torres, porem o que está feito está limpo, existindo nella 3
altares, existindo no trono huma bella imagem do Senhor Bom Jesus do Bom
Fim, de 5 palmos, doada no anno de 1885 pelo meu parochianno Manoel
Bezerra dos Santos, num dos lateraes huma outra imagem da Divina Pastora,
de 5 palmos, doada pelo meu parochiano Com-Superior Manoel de Farias
Cabral, tem no centro da capella Mor Sacrário, e nella uma ambula de prata e
para ella concorreo ajudar-me a pagar com 50$000 o tenente Coronel
Theotonio da Santa Cruz Oliveira.
Tem na Capella Mor uma bella alampada que no anno de 1852 a meo pedido
deo o meu parochiano Capitão José Martins Ferreira, toda de prata, he uma
das bôas da Província custando 400$000 no Porto, moeda forte.
Quanto alfaias são poucas pela pobresa e não ser costume dar offertas a
Igreja como praticão outros lugares e achando quando desta matriz tomei
conta em Outubro de 1850 uma única casula de damasco branco com sebaste
encarnado, e esta velha, pude com os tênues rendimentos da Fabrica e
patrimônio comprar uma nova roxa com sebastes verdes, duas capas de
Asperges de sêda branca e roxa, um turíbulo e caldeirinha galvanisados.
Tendo acima fallado em José Martins Ferreira, este meu bom parochiano
muito me tem ajudado no que mais necessito e mais não faz he por que tem
muitos filhos, este mesmo José Martins a pouco acaba de dar-me huma
imagem de S. Francisco de Assis para a capella do Cemitério vinda da Bahia
por 350$000, e mais hum sino, que infelizmente sahio defeituoso na solda;
logo depois do cholera deo-me hum conto de reis para erigir uma capella no
cemiterio que ainda não funcciona, por tantas e grandes offertas sou
obrigadíssimo a este meu parochiano, si em minha freguesia eu tivesse 2 José
Martins a minha Matriz estaria em estado a nada desejar, não tratando em
esmollas para festa do Padroeiro que elle igualmente tem concorrido. Não
existe irmandade alguma. Há tão somente nesta villa uma capella de S.
Francisco de Assis, que a pouco fallei erecta no cemitério de cholericos em
1856 e que ainda não funcciona e está sem patrimônio, a capella de Nossa
Senhora da Conceição do Lourenço distante quatro léguas da matriz ao
poente e ahi limita com Quebrangulo no povoado do mesmo nome, he de
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madeira, porem está limpa e tem duas casulas uma de damasco branco com
sebaste encarnado e outra verde e roxo em bom estado, o não é bom, não
tem patrimônio.
Deus Guarde a V. Excª Revdª Senhor Dr. Deão Joaquim Francisco de Farias.
M. D. Vigário Capitular.
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Fazemos saber, que por sua petição nos enviou a dizer Pedro José da Cruz
Brandão, proprietário do Engenho Barro Branco, na freguesia da Assembléa
que de Nossa licença se havia erigido a capella da Invocação de Nossa
Senhora da Conceição no dito engenho Barro Branco da mesma freguezia, em
lugar decente e livre de toda a communicação, como nos constou por certidão
do Reverendo Parocho, e também de ser capaz para nella se celebrar o santo
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sacrifício da Missa e mais officios divinos, pedindo Nos por fim de sua supplica
lh’a mandássemos benzer. E attendendo á sua justa supplica, mandamos
passar a presente pela qual commettemos nossas vezes ao Reverendo
Parocho da referida freguesia, para que por si e na forma do Ritual Romano
possa benzer a dita cappela, visto Nos acharmos impedidos, para por nossa
pessoa o fazermos, estando a dita capella paramentada na forma das nossas
constituições e sem prejuiso dos direitos parochiaes. Dada em Maceió sob o
nosso sello aos 11 de Novembro de 1863 e signal do nosso Reverendíssimo
Vizitador da província. Eu José de Barros Accioli no impedimento do Secretario
da Vizita o subscrevi.
Delegado de S. Rv.
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