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we VENTADQ ONE Telit-te-fofeolnir-liee tel alee ete a0 pensamento comum, apresentamos teoria antropolégica sobre a questo de @nero, nas quais 0 feminino eo masculino eI strucGes sociais entre os quarenta € seis cromossomos do mapa ge- nético humano, apenas un diferencia biologicamente as mulheres dos homens. Entretanto, esse detalhe microscSpico foi o suficiente para dividirquase toda huma- nidade em dois grupos que se interpene- tram sem nunca perderem sua distingzo bisica, Multos indo concoriar que he- mens ¢ mulheres so diferentes do ponto Ge vista de seus corpos, de sua constitui- «io psicoldgica edo papel que ocupam na scciedade. Porém, na contraméo da dife- renga, a Antropologa teceu ao longo do século passado uma tradicho que des- ronta muites de nossas pereepgies mais fundamentais sobre os sexes. ‘Um cromossomo é formado de diver- s0s genes, de forma que o que separa ho- mens de mulheres € a combinagéa de al- guns bocados dessas partes minisculas. Ainda assim, para a Biologia, esses de talhes so responséveis pela constitu 40 de corpos diferenciados, compostos de uma maioria de Grgios em comum ¢ de outros que seriam exclusives a cada uum dos sexos. Além da caracterizagdo ge- niética ¢ anatomica, hé também uma di- ferenciagdo hormonal - as mesmas subs. q 28 | sociovocia tancias, mas em quantidades diferentes nos homens e nas mulheres. Se a Biologia propde uma diferenca f- sica, a interpretagéo do senso comum se apoia em ume diferenca de comporta- mento e de papéis. Acima de tudo, mu- Theres séo possiveis mies ~ apés serem fecundadas, mutrem, carregam ¢ dio tuz a um novo individuo, que devera re- ceber atengéo por boa parte dé sua vida. ‘A poesia ¢ a literatura descrevem com adorapdo e reserva esses seres fantésti- cos que transitam entre @ sensualidade e ‘amatemidade, Jd os homens também t- veram historicamente seu papel: fecun- dar e prover o sustento para a mulher € para seus descendentes. B verdade que as fungées para os ois sexos mudaram ao longo da hist ria, Atualmente, principalmente na so- ciedade ocicental, 66a arteydas nu- Iheres integra o mercado de trabalho, ¢ ‘muitos dos homens realizam fungées do- rméstices ¢ participam da criagdo dos & Thos. Ainde assim, algumas expectati- ‘as parecem manter-se fxas, Mulheres que abrem méo da meternidade ainda sto vistas com certo estranhamento, Da mesma forma, um homem sustentado por sua companheira dificimente néo causard algum constrangimento. NEGANDO 0S PAPEIS SOCIAIS Em um primeiro momentoqHegaha. ideia de que homens e mulheres so es- sencialmente diferentes parece algo ab- surdo, justamente por essa ideia ter ex trema aceitagdo pela ciéncia e pelo senso comum. Entretanto, a abordagem antro- Pierre Clastres » antroseiog frances Piere Castres nasceu® tm de um acdente, em 1877, Castes ntagroua Laboratri de Artropclogia Social doColége de Frencee dei coma principal legado oro A socedede contra Esta, cleo deensalos publcedos em 1974 econsiderado uma cas: polégica —sugere sama nova interpre tacdo a partir de tre- balhos que estudaram fundo outras sociedades (es- pecialmente as cites sociedades primitivas) e as variadas maneiras como esses culturas enxergaram a realidade Pierre Clastres*, no capitulo *O ‘Atco e 0 Cesta” de seu eélebre lira A So- ciediade contra o Estado apresenta a in- teressante cultura dos Guaiaguis, Nessa Sociedade, assim como na nossa, as taze- fas eram divdides entre homens e mulhe- res, Os primeiros se responsabilizavam pela caga, e as segundas, pela coleta ¢ pélos constantes deslocamentos dos obj tos pelo territrio, uma ver que se tratava de uma sociedade némade, Sem aden- trar profundamente em toda a rica and- lise que Clasires fez sobre as interdigoes ligadas aos sexos es familias, 08 Guaia- dis sto importante para nosso tema por- que trazem um exemalo de sociedade em aque impera a polis, ou seja, a unifo da mulher com mais de um matido. Con- forme sugere o autor, as mulheres Guaia- quis possuiam uma vantagem estratural em relapao aos homens: mesmo cesadas, podiam ter relacionamentos com moros tolteiros etransformé-los em maridos se- cundirios se assim desejassem. Isso néo signiticaya que os marios principais fi cavam felizes, porém, esses no tinham muita escolha: se abandonassem suas exposes seriam condenacios ao celibato, pois a tribo carecia de mulheres disponi- ‘eis, J& as eaposas logo encontrariam ou- tro marido, pois have o dobro de homens em relagao as mulheres, 1934 e fa 3s-primas da antropologia, Muito interessante na enalise do autor € a ideia de que a desproporga0 numérica entre os sexos poder ter sido solucionada por outros meios endo a po- liandi, Seria possivel que certs parentes considerados proibidos para o casamento passassem a ser permitidos. Também se Fa magindvel que houvesse um incentvo social ao cellbto masculino ou que se ad- mitisse o assassinato de recém-nascidos Fpomens. De qualquer maneire, 0 modelo matrimonial verficado nessa tribo eviden- cia que dentre as infntas possibildades das culturas que j4 passaram pelo globo terrestre, os Guaiaquis sio uma mostra de aque 0 arranjo tecido pela nossa prépria s0- cledatle ao que diz respito as relapies en- tre homens e mulheres esta longe de ser 0 ‘inio possrel. De forma ainda mais sugestiva para essa ideia, Margaret Mead!, em seu It vo elassico Sexo ¢ Temperamerta, ques- tiona as nogées mais comuns dos papeis sexuais @0 apresentar trés socedades na Tova Guiné, A autora toma como base 0 «qe considerou serem os padpbes ort emericanos: 0 comportamento feminino seria caracerizado por ser “dédl, mater nal, coopeativ, ndo agressivo € suscet- vel és necessdades ¢ exgéncia alias’, € 0 comportamento masculino seria rela- tivamente oposto a essa caracterizagéo. ‘Tomando esses padrées como referéncia, percebemos que cada uma das ts ti hos apresenta comportamentos difeen- tes para homens ¢ mulheres. Dentre os Arapesh, por exemplo, tanto os homens como as mulheres exbiam uma persons lidade que seria considerada feminina na sociedade norte-americana. J os inte- grantes da trbo Mundugamor eramn ho- mens ¢ mulheres ‘implaciveis, agressi- os € positvamente senuados, com um minimo de aspectos carinhosos e mater- ais em sua personalidad”, apresentando tum tipo de comportamento que, segundo Mead, s6 seria encontrado em um homem norte-americano “indisciplinado ¢ extre- rmamentevilento’, Tehambull a terceira ‘sibo apresentada pela autora ese caracte- risa por uma diferegciagdo entre os sexos ¢-uma clara inverséo das expectatvas de temperamento de nossa sociedade: a mu- Ther é “o parceiro drigente, dominador € {mpessoal, eo homem a pessoa menos res- ponsével ¢ emocionalmente dependents” Assim, aantropéloga chama nossa ateng0 para duas coisas. Primeir para ofato de que 6 possivel enoontrar invertides 08 comporta- rentos que nés estamos habituados para os seacs na nossa sociedad. Além disso, m0s- ‘ra. posibilidade de que as culturas nfo re feonegemn uma diferenga de terperamen- tos ene homens e mulheres. A partir dessa andl, ela conch que ‘no nos esta mas @ ‘menor base para considera eis aspects de comportemento como ligados ao sexo’, uma vez que“ natureza humana €quaseinctvel- mente maleével,respondendo acurada © i ferentemente a condigées cultura contras- tates. Isso seria posivel porque as crianeas das iferentes trios seriam passives ao erst ‘namento do comportement corenteem sua sociedad, sejaele“eminino” ou “masculina* (do panto de vista da socindade ocidental) € este el sueto ou néo a uma distinglo en- tre homens e mulheres (Outro pila fundamental para a visto que nega a essencalizagio das diferengas entre (0s sexos 60 trabalho de Marcel Mauss. No texto As téoioas do corpo, 0 autor enfatiza ‘que a cultura treina 0 corpo em seus mi- nimos detalhes, desde movimento, postr ras trejeltos comporais. Essa ideiaeviden- cia que muito dagulo que aparece como inerent & natureza biolbgjca seria, na tea- lidade, um treino corporal a partir de uma crientepio da cultura vigente, Dentre as téenicas do corpo estariam atos simples como sentar, dorm, falar, far de pé,age- charse, nadar,resprar, et. [esse sentido, o argumento & interes- sante no que diz respeito &diferenca en- tre homens e mulheres: muita das => Margaret Mead » Doutora pela Universi¢ace de Columbia euma das grandes representantes do cutualsmo, antropéioga note americana Margaret Mead (1901-1978) publcoulivrs como Adolescencia sexo cultura en Somao(1928)@ Sexo e temperamento.om trésseciedades primitivas 1535), racterstiasenfforkis que distinguem os Sexos seriam consttuides a partir de um treino socal do corpo, A ceicadec fer rings a postua imponente dos homens; 0 jetodiserto de sentar das mulheres r- caindas; olacgar-se conertarelmente no sof, tpicemente mascling; 08 entéo @ tmaneira sensual feminina de andar mo- vimentando os quadrs si todos exer los das chamadas técnicas do corpo propostas pelo ator, OCONCEITO DEGENERO Mead, Mauss e Clastres, dentre outros azutores, incutiram na tradigdo antropol- sca aideia de que'os papeis destinados a Jhomens e mulheres nfo 680 explicados por uma diferenes essencalinsrita na natu- reza de seus carpos. Ainda que sejam bis- Togicamente diferentes, as peculiaridades SocioLocia 29

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