Você está na página 1de 4

TESTE DO ESPELHO E CONSCIÊNCIA

Tradução de Natasha Romanzoti do IO9 para o HyperScience


Original: http://tinyurl.com/juejdum
Tradução: http://hypescience.com/?p=96525

Uma ideia de Darwin se tornou, ao longo dos anos, um teste psicológico


bastante controverso. Uma lista aparentemente aleatória de animais “passa” neste
teste, mas algumas descobertas recentes colocam em causa o que isso realmente
significa. O teste é simples: consiste no que você vê quando você olha em um espelho.
Se você passa por um espelho e vê uma mancha estranha em seu rosto, você
tenta limpá-la, certo? Parabéns, você acabou de passar em um teste simples de
autoconsciência. Talvez.
O teste do espelho começou como um pensamento casual de Darwin, quando
ele registrou as travessuras de um orangotango em um zoológico brincando com um
espelho que ele tinha dado ao animal. Logo, o cientista se perguntou o que
exatamente o orangotango achava da imagem de si mesmo: será que ele se
reconhecia no espelho? E se assim fosse, o que isso significaria?
Gordon Gallup se perguntou a mesma coisa em 1970, e resolveu criou um teste
para ver se os animais eram capazes de autorreconhecimento. Usando chimpanzés
acostumados a espelhos, ele anestesiou os animais e colocou uma mancha de tinta
sem cheiro em uma de suas sobrancelhas.
Os chimpanzés foram revividos e receberam espelhos no qual podiam observar
sua imagem. Gallup então observou o comportamento dos animais a fim de ver se
eles notavam a mancha em seus próprios corpos – o que a maioria fez.
Para Gallup, qualquer animal que pudesse entender que a imagem no espelho
era um reflexo de si mesmo mostraria autoconsciência. Os chimpanzés, então, eram
conscientes de si mesmos como indivíduos separados de seus arredores.

Com o tempo, a lista de animais


autoconscientes cresceu. Golfinhos, pegas
(espécie de pombo), orcas, todos os grandes
símios, e, eventualmente, elefantes
passaram no teste. Macacos não. Os seres
humanos, em geral, passam no teste, mas
leva um tempo. Os bebês começam a notar
sua imagem em torno de 18 meses, e quase
nenhum ser humano falha no teste após a idade de 24 meses.
…ou assim nós pensávamos. Apesar de um estudo feito em 1986 mostrar que
até mesmo crianças criadas em culturas sem espelhos notavam uma mancha em sua
sobrancelha, a maioria desses estudos foi realizada na América e na Europa.
Pesquisas recentes feitas em Fiji e no Quênia mostraram que crianças de cerca
de 6 anos de idade não passam no que Gallup considerou o teste do espelho.
As crianças dessas pesquisas pareciam despreocupadas com a mancha, e se
mostraram desconfortáveis com o teste como um todo. Embora indicassem
claramente, através de movimentos, que sabiam que o espelho refletia a sua própria
imagem, a maioria delas congelou quando olhou para sua reflexão (ao invés de
apontar para ou limpar a mancha). Em um dos estudos, apenas duas das 82 crianças
“passaram” no teste.

Autoconsciência ou prioridade?

Ninguém pode argumentar que uma criança de 6 anos de idade não tem
autoconsciência. Então, a questão que fica é: o que o teste realmente testa?
Se não é autoconsciência que estamos medindo, então o que bebês
americanos e europeus poderiam ter em comum com elefantes que não têm em
comum com outros bebês da mesma idade? E o que bebês de partes do Quênia têm
a ver com bebês de Fiji que eles não compartilham com os americanos?
É possível que as crianças que não respondem ao teste da mancha veem seu
reflexo no espelho como uma “terceira coisa” – tecnicamente, não é ela mesma e nem
uma outra pessoa.
Enquanto os bebês que passam no teste são como os chimpanzés e orcas, os
bebês que não passam também podem ter seus próprios grupos na natureza. Alguns
estudos mostram que, embora os macacos-prego falhem no teste da mancha, eles
estão cientes de seus reflexos no espelho como sendo diferentes de si mesmos e
diferentes de outros macacos. Eles podem estar pensando na imagem como algo
abstrato.
Ao mesmo tempo, essas crianças podem diferir de outras em algo tão
tecnicamente simples quanto uma preocupação com uma mancha em seu rosto. O
teste do espelho pressupõe que a coisa mais importante que você pensa quando vê
o seu reflexo é uma mancha desconhecida, e que a coisa mais sensata a se fazer é
corrigi-la imediatamente, ou pelo menos investigá-la.
Por algum tempo, os cientistas não pensavam que os gorilas tinham
autoconsciência com base nessa suposição. Foi só quando eles observaram o
comportamento dos gorilas após o teste que perceberam que eles estavam se
escondendo antes de tentar limpar a mancha em particular – o que significa não só
que eles têm consciência de si mesmos, mas como um sentimento de vergonha social.
Em 2004, época dos estudos no Quênia e em Fiji, os elefantes não tinham
passado no teste também. Em 2006, os pesquisadores descobriam que um a cada
três elefantes asiáticos passava no teste. Eles atribuem a variação nos resultados ao
fato de oferecerem aos elefantes um grande espelho que eles foram capazes de tocar,
em vez de um pequeno espelho que não podiam investigar.
Quanto aos elefantes que falharam, os pesquisadores acreditam que um
animal que se cobre de lama não vai necessariamente se preocupar com uma
pequena marca no seu rosto.
Estudos recentes também concluíram que embora macacos não toquem na
mancha em seus rostos, eles usam reflexos para estudar áreas de seus próprios
corpos difíceis de ver, como seus órgãos genitais.
O teste, ao que parece, tem mais variáveis do que pensávamos. Claramente,
há uma ampla gama de resultados possíveis, além dos indicados anteriormente. De
certa forma, o considerado teste de autoconsciência pode ser mais um teste de
prioridades – prioridades definidas tão cedo que aparecem mesmo em bebês.

Você também pode gostar