Você está na página 1de 10

2011

ANOTAÇÕES DE EXEGESE,
TEOLOGIA E HERMENÊUTICA
BÍBLICA

ENFOC – ESCOLA NÚCLEO DE


FORMAÇÃO CATEQUÉTICA
ANOTAÇÕES DE EXEGESE, TEOLOGIA E HERMENÊUTICA BÍBLICA

Para estudar a Bíblia devemos levar em conta algumas ferramentasindispensáveis: a


leitura, a exegese, a teologia e a hermenêutica. Tais elementos são imprescindíveis para o
estudo, de modo a sugerir, bons pressupostos de interpretação e atualização para a vida das
comunidades.

1. A LEITURA

É primordial e indispensável conhecer o texto. Ler o texto despossuído de qualquer


ideia preconcebida, informação e interpretação. Esse conhecimento se justifica pelo fato de
poder num outro momento, usar de questionamentos próprios sem ainda colocar as questões
pertinentes a doutrina, cultura, costumes, história ou mesmo até interpretação tendenciosa,
antecipando os passos próprios da teologia, exegese ou mesmo a hermenêutica, que será o
segundo momento.
Mas em que consiste esse “questionamento próprio” de que falamos? Dentro do
primeiro momento, ao ler o texto, tomamos conhecimento do mesmo nos “apropriando” dele,
e nesse ritmo, somos levados quase que naturalmente a nos questionar sobre o que o texto nos
está dizendo literalmente, levando-nos a analisar termos, tempos verbal, pronomes,
substantivos, adjetivos, ação dos personagens, condicionamentos, analise morfológica, etc.
Só a partir dai é que damos o segundo passo, para termos certezas quanto ao que
realmente o texto quer nos dizer corretamente.
Nesse primeiro, como nos outros passos, é importante fazermos por escrito nossas
observações.

2. ANALISE EXEGETICA

Feito o primeiro passo de apropriação da leitura, vamos agora ao segundo passo.


Esse momento é feito de muita investigação. É preciso ter em mãos as ferramentas
próprias de cada área: um bom dicionário de exegese; pelo menos três ou quatro traduções da
Bíblia (de preferencia a Bíblia de Jerusalém, Bíblia João Ferreira de Almeida, Bíblia na
Linguagem de Hoje – NTLH) podendo se possível ter acesso aos originais grego e hebraico;
acesso a internet, para os sites especializados de teologia bíblica; e basicamente priorizar uma
Bíblia para nortear todo estudo. Nesse caso, sugiro uma das duas: Bíblia Vozes (por ser mais
próxima da metodologia de BJ e de linguagem mais simples) e a Bíblia de Jerusalém – por ser
a mais indicada nesse tipo de trabalho. Também é importante outras ferramentas que nos
possibilite acesso a informações de diversas ordens (histórico, cultural, antropológico,
sociológico) no sentido de complementação a analise exegética do texto.
Ferramentas nas mãos, vamos aos passos metodológicos.
Podemos começarbuscando, anotando e organizando informações básicas que nos
sirvam posteriormente, informações tais como: contexto histórico, conjuntura (inter) nacional,
biografia dos autores, situação da época do redator, informações de palavras e texto no
hebraico/grego, verificar o texto estudado nas diferentes traduções bíblicas, consultar
dicionários, rodapés, ver o real significado das palavras em nossa língua, etc.
De posse dessas informações, provavelmente já teremos um acervo que nos dá uma
ideia do texto e nos apontam pistas de interpretação e atualização.Contudo, ainda não é hora
de interpretar e atualizar. Precisamos analisar o texto exegeticamente, e para isso,vamos aos
passos seguintes:

Anotações de Exegese, Teologia e Hermenêutica Bíblica – 2011 Página 1


 Delimitar o texto (perícope): ver onde começa e onde termina; identificar ação dos
personagens; repetição de palavras, imagens, identificar mudança de cenário; identificar
gêneros literários (poesia, prosa, saga, fábula, mito, estória, história), quiasmos, observar
repetições, ênfases, mudanças de vocabulários;

 Reconstruir o texto (recurso de construção) usando traduções diversas e comparar, para


aproximar o texto tanto do original, como das traduções modernas. Com isso identificar
critérios de tradução das bíblias populares;

 Observar os textos paralelos: se há textos que nos remeta ao texto estudado e vice-versa;
ver em que contexto dentro do texto se encontra esses paralelos;

Feito todos esses passos, organizar de modo coeso (com ordem, lógica) todas as
informações e a partir dai, disponibilizá-los para pensar teologicamente e hermeneuticamente
o texto, conforme as diversas confissões religiosas.

3. TEOLOGIA

Para fazer teologia a partir do texto bíblico é importante saber o que é teologia e que
contribuição tem a dar a partir de um contexto especifico.
Quando falamos “Teologia” entendemos com isso, a reflexão de fé, tanto empírica
como acadêmica, sobre fatos e ideias que norteiam a vida comunitária de grupos e pessoas em
sua trajetória histórica na sociedade a partir do paradigma do sagrado.
Na teologia empírica há algumas linhas mestras produzidas e seguidas a partir de um
contexto vital; enquanto na teologia acadêmica há todo um rigor cientifico, todo um conjunto
de saberes, de recursos técnicos, histórico, humano, de modo mais complexo e sujeito às leis
da retorica, das ciências nos diversos campos do saber. Neste sentido, ela se se subdivide em
várias áreas e cobre um campo muito mais amplo da vida humana.
Mas, no geral, a teologia e o fazer teologia está ligado ao sagrado inserido em contexto
humano. Dito de outro modo: teologia é o discurso (pensar, fazer, produzir)sobre Deus e sua
forma de manifestação na vida das pessoas, das comunidades e na história humana. É uma
reflexão da razão iluminada pela fé, daí se diferenciar de outras ciências e da filosofia, mesmo
prescindindo dessas outras para justificar e fundamentar suas afirmações de fé.
Quando fazemos „teologia bíblica‟, estamos realizamos uma reflexão (empírica ou
acadêmica) a partir do texto bíblico especifico, num contexto especifico. Essa teologia
(reflexão) deve suscitar renovado ânimo e esperança, que alimenta a vida dos ouvintes
(crentes) a luz da Revelação.
Dessa forma, a teologia bíblica é uma ferramenta pastoral a serviço da vida, do povo,
e de Deus.
Então, de modo prático, como fazer teologia? Há alguns elementos a serem
considerados. Vamos ensaiar alguns.

 Para produzirmos teologia a partir do texto bíblico é preciso levar em consideração as


informações fornecidas pela exegese;
 Dentro da contextualização do texto perguntar: onde está Deus? Identificar os
possíveis sinais (pessoa, acontecimento, profecia, milagre, mensagem, local) de sua
presença ou que a ele nos remeta;

Anotações de Exegese, Teologia e Hermenêutica Bíblica – 2011 Página 2


 Pensar, produzir uma reflexão que descreva a presença e ação de Deus na vida das
pessoas, nas comunidades, etc;
 Buscar, ver-ouvir-refletir-compreender como acontece a relação das pessoas com o
sagrado a partir de fatos (tradição, costume, ideias, pessoas, etc) que norteia a vida das
mesmas (compreensão da fé, de Deus, da manifestação divina...);
 Enxergar possíveis pressupostos (pontos, elementos) que norteia e produz novas
ações-reflexão argumentativas;

Uma vez estimulada a nossa capacidade de fazer (pensar, produzir, pôr por escrito)
teologia, é importante e grave que a submetamos aos víeis da Igreja naquilo que a caracteriza
como confissão de fé, do ponto de vista da Tradição, do Magistério e da própria Bíblia, nas
linhas gerais de sua interpretação. Caso contrário, ficará apenas no „achismo‟, na „opinião
particular‟, desvinculada da comunidade de fé. Inclusive esse é um perigo comum para os que
fazem teologia. Esse perigo é preciso evitar.

4. HERMENÊUTICA

A hermenêutica parte do pressuposto bíblico já analisado. Ela constitui uma


interpretação atualizada para o hoje dos seus ouvintes. Isso é importante entender porque, sua
ação está entre o que diz o texto para aquela época especifica do autor/redator, e o
leitor/ouvinte de hoje.
Sua tarefa consiste em traduzir (termos-palavras, mensagem, cultura, costumes) de
modo simples, sem perder a originalidade do texto, sem falsificar a mensagem ou outro dado
qualquer. É uma tarefa que exige atenção, escuta, analise, conhecimento e, sobretudo, uma
integração com a realidade contemporânea de ontem e de hoje.
Às vezes, a hermenêutica se depara com termos e fatos “intraduzíveis”, e tem a tarefa
de achar termos que se aproxime daquele contexto-situação, de modo que a mensagem não
seja sacrificada, e fique perdida ou dê margens a interpretação tendenciosa. Sua tarefa
primordial é ser fiel ao texto e ser fiel ao seu destinatário, sem perda ou falsificação.
Então, podemos averiguar algumas das ferramentas de trabalho da hermenêutica? Sim,
vajamos.

 Usar dos recursos encontrados pela exegese para poder fazer uma leitura de
reconhecimento adequado, vendo nessa leitura elementos que estejam em condições
de ser traduzidos e compreendidos adequadamente;
 Levantar temas, investigar importância, descrever impacto sobre seus atores
(personagens, povo, cidade, região) em contextos específicos;
 Buscar de outras áreas (sociologia, antropologia, filosofia...) da ciência, elementos que
ajude a conhecer melhor, e como poder explicar de forma atualizada tais elementos
investigados e refletidos;
 Tentar entender como o objeto investigado passou a ser importante e decisivo naquele
momento do texto (do redator), e de que modo podemos perceber sua influencia hoje,
no caso, por exemplo, de um ritual ou festa tribal;
 Coletar todos os dados possíveis e com ele produzir um novo discurso (teologia
hermenêutica) que possibilite novos paradigmas de tradução, dando ferramentas
necessárias para produzir uma teologia con-texto-alizada no momento presente.

Anotações de Exegese, Teologia e Hermenêutica Bíblica – 2011 Página 3


Feito essa tarefa, a hermenêutica presta um serviço imensurável a teologia bíblica e às
comunidades/ouvintes. Pois desse modo elas/eles compreenderão a mensagem de modo claro
contextualizada em sua realidade própria.

EXERCÍCIOS EXEGETICO, TEOLOGICO, HERMENEUTICO.

1. LEITURA

Marcos 9, 33-37. (NBJ)

“33.E chegaram a Cafarnaum. Em casa, ele lhes perguntou: “Sobre que discutíeis no
caminho?” 34. Ficaram em silencio, porque pelo caminho vinham discutindo sobre qual era
o maior. 35. Então ele, sentou, chamou os Doze e disse: “Se alguém quiser ser o primeiro,
seja o último de todos e o servo de todos”. 36. Depois tomou uma criança, colocou-a no meio
deles e, pegando-a nos braços, disse-lhes: 37. “Aquele que recebe uma destas crianças por
causa do meu nome, a mim recebe; e aquele que me recebe, não é a mim que recebe, mas sim
àquele que me enviou”.

a) Síntese do texto (apropriação do texto)


O texto mostra o diálogo de Jesus com os discípulos a partir de uma situação do próprio
grupo. O que provoca e norteia o diálogo é a posição e o status que cabe a cada um. Jesus lhe
dá uma orientação e faz referencia de acolhimento/rejeição a sua pessoa a partir da criança.

b) O que me diz o texto (questionamentos)


Porque os discípulos falam de status, o que provocou essa situação? Porque Jesus usa a
criança para falar da acolhida ou rejeição de sua pessoa? O que tem isso haver com o tema do
status de que falava os discípulos?

2. EXEGESE

a) Informações sobre o livro, autor, organização interna, etc.


 Evangelho de Marcos foi escrito em meados dos anos 60-70;
 É o primeiro escrito dos evangelhos;
 Ele é um discípulo provavelmente de Pedro e a comunidade se reunia em casa de sua
mãe;
 Provavelmente foi colaborador temporariamente de Paulo eBarnabé;
 Seu escrito é vivo, simples, objetivo e direto; tem 16 capítulos;
 Marcos escreve com a finalidade de mostrar quem é Jesus. O autor mostra a atividade
de Jesus na Galileia, depois de seu batismo na Judeia. Mostra suas andanças nas
regiões vizinhas, sua fama, conflitos com as autoridades, depois sua ida à Judéia que
culmina com sua morte, ressureição e o silencio das mulheres;
 Seu ultimo capitulo (16,8) termina com a ressurreição e o silencio das mulheres,
porém, foi acrescentado algumas perícopes pelo redator final como complemento ao
texto (16,9s).

Anotações de Exegese, Teologia e Hermenêutica Bíblica – 2011 Página 4


b) Delimitação do texto (perícope)

1.1) moldura do texto – limites

 Segundo a NBJ (Nova Bíblia de Jerusalém) o evangelho de Marcos está organizado


em cinco (5) blocos. O texto estudado faz parte do terceiro bloco (7,24-10,52) que é
caracterizado pela viagem de Jesus fora da Galileia.
 Segundo essa secção Jesus vai a Tiro, volta ao mar da Galileia, anda pela região
vizinha da Dalmanuta (região desconhecida), Betsaida, Cesareia de Filipe (onde
acontece o diálogo queprovoca o primeiro e o segundo anuncio da paixão e as
condições para o seguir), e por fim chega Cafarnaum (onde acontece a cena do nosso
texto). Após Cafarnaum ele vai a caminho de Jerusalém na Judéia.
 O texto (perícope) estudado começa em Mc 9,33 e termina em 9, 37.

1.2) analise literária (Ex.: personagens, verbos, adjetivos, substantivos, gênero literário)

 Personagens: Os Doze, Jesus e a criança. Local: casa em Cafarnaum;


 Gênero literário: história, narrativo, coloquial;
 Vocabulário do texto:
 Verbos: chegar, perguntar, discutir (2x), ficar, sentar, chamar, falar, tomar, pegar,
receber.
 Substantivos:Cafarnaum, cassa, caminho, silencio, Doze, servo, criança;
 Adjetivos: silencio, discutindo, primeiro, último, nome, recebe, enviou;
 Tempos verbal: (presente, passado, futuro...): Ex.:
 Chegaram a Cafarnaum... (pretérito perfeito composto)[ Expressa um fato que teve
início no passado e que pode se prolongar até o momento atual.]
 Ficaram em silencio... (presente simples)[ Expressa um fato atual.]
 Então ele sentou e chamou...(presente) [Expressa um fato atual]
 Pronomes pessoais: (primeira pessoa, segunda pessoa, terceira pessoa...)
Identificá-los no texto para saber distinguir a fala de cada personagem, a que tempo a
mensagem está dita, etc.; Veja a tabela que ajuda a identificar no texto os pronomes gerais.
Não precisar usar de regras rígidas do português, apenas averiguar o texto para uma
compreensão clara dele e ver como está em cada bíblia que volta e meia, tem suas variações.
Eis uma tabela simples.

Anotações de Exegese, Teologia e Hermenêutica Bíblica – 2011 Página 5


Pronomes Indefinidos Substantivos
Tudo, todo (toda, todos, todas), algo, alguém, algum (alguma, alguns, algumas)
um (uma, uns, umas), nada, ninguém, nenhum (nenhuma, nenhuns, nenhumas),
o mesmo (a mesma, os mesmos, as mesmas), outrem, outro (outra, outros, outras),
vários (várias).

Pronomes Indefinidos Adjetivos


Todo (toda, todos, todas), algum (alguma, alguns, algumas),
um (uma, uns, umas), nenhum (nenhuma, nenhuns, nenhumas),
certo (certa, certos, certas), qualquer (quaisquer),
o mesmo (a mesma, os mesmos, as mesmas), outro (outra, outros, outras),
cada, vários (várias).

Pronomes Relativos
Qual, o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas,
Que, Quanto, Quantas, Quantos, Onde

1.3) Técnica do quiasmo. Nesse texto não existe nenhuma possibilidade de aplicar a técnica.
Contudo, todavia, há textos que exige aplicar esse recurso. Mas como ela funciona? Veja o
exemplo com outro texto (Jo 6,37-39):

a)Todos aqueles que o Pai me dá virão a mim.


b)e de modo nenhum jogarei fora aqueles que vierem a mim.
c)Pois desci do céu para fazer a vontade daquele que me enviou e não a minha
própria vontade
b)Quem me enviou quer que eu faça isto: que nenhum daqueles que o Pai me
deu se perca,
a)Mas que eu ressuscite todos no último dia.

Anotações de Exegese, Teologia e Hermenêutica Bíblica – 2011 Página 6


c) Reconstrução do texto (recurso de construção)

Nesse passo, iremos comparar as diferentes traduções e montar a nossa própria tradução. O
objetivo é notar semelhanças e diferenças e como ela incide sobre a mensagem do texto.

Marcos 9,33-37:

Vers Bíblia Pastoral NTLH ARA Texto Grego


Quando chegaram à Jesus e os Tendo eles partido θαη ειζνλεηο
cidade de Cafarnaum discípulos para Cafarnaum, θαθαξλανπκ θαη
e estavam em casa, chegaram à cidade estando ele em
εληενηθηα γελνκελνο
Jesus perguntou aos de Cafarnaum. casa, interrogou os
discípulos: «Sobre o Quando já estavam discípulos: De que επεξωηα
33 que vocês estavam em casa, Jesus é que discorríeis απηνποηηεληενδωδηει
discutindo no perguntou aos doze pelo caminho? νγηδεζζε
caminho?» discípulos: - O que
é que vocês
estavam discutindo
no caminho?
Os discípulos ficaram Mas eles ficaram Mas eles guardaram νηδεεζηωπωλ πξνο
calados, pois no calados porque no silêncio; porque, αιιεινπο γαξ
caminho tinham caminho tinham pelo caminho,
34 δηειερζεζαλ
discutido sobre qual discutido sobre qual haviam discutido
deles era o maior. deles era o mais entre si sobre quem εληενδωηηοκεηδωλ
importante. era o maior.
Então Jesus se Jesus sentou-se, E ele, assentando- θαη θαζηζαο
sentou, chamou os chamou os doze e se, chamou os doze εθωλεζεληνποδωδεθα
Doze e disse: «Se lhes disse: - Se e lhes disse: Se
θαη ιεγεη
alguém quer ser o alguém quer ser o alguém quer ser o
35 primeiro, deverá ser o primeiro, deve ficar primeiro, será o απηνηοεηηηοζειεη
último, e ser aquele em último lugar e último e servo de πξωηνοεηλαη εζηαη
que serve a todos.» servir a todos. todos. παληωλεζραηνο θαη
παληωλδηαθνλνο
Depois Jesus pegou Aí segurou uma Trazendo uma θαη ιαβωλ
uma criança e criança e a pôs no criança, colocou-a παηδηνλεζηεζελ
colocou-a no meio meio deles. E, no meio deles e,
36 απηνελκεζω απηωλ
deles. Abraçou a abraçando-a, disse tomando-a nos
criança e disse: aos discípulos: braços, disse-lhes: θαη ελαγθαιηζακελνο
απηνεηπελ απηνηο
«Quem receber em Aquele que, por ser Qualquer que νο αλ εληωληνηνπηωλ
meu nome uma meu seguidor, receber uma παηδηωλδεμεηαη επη
destas crianças, estará receber uma criança criança, tal como
ηωνλνκαηη
recebendo a mim. E como esta estará esta, em meu nome,
quem me receber, não também me a mim me recebe; e κνπεκεδερεηαη θαη νο
37 estará recebendo a recebendo. E quem qualquer que a mim αλ εκεδερεηαη
mim, mas àquele que me receber não me receber, não νπθεκεδερεηαη αιια
me enviou.» recebe somente a recebe a mim, mas ηνλ απνζηεηιαληα κε
mim, mas também ao que me enviou.
aquele que me
enviou.

Anotações de Exegese, Teologia e Hermenêutica Bíblica – 2011 Página 7


Após essa comparação é inevitável à construção própria do texto, isso porque, somos levados
quase que espontaneamente a escolher essa ou aquela expressão/frase/palavra que melhor
traduz ou nos faz compreender o texto e a mensagem. Porém é pertinente lembrar que a
construção particular do texto corre o perigo de fugir/falsificar/caricaturar, ser infiel ao texto
original e dar margem a “ideias particulares”.

d) Textos paralelos:

Esse passo se faz de uma breve pesquisa bíblica. O objetivo é ver se há textos em
outros livros (ou no mesmo livro) que de algum modo possa ampliar a
compreensão/mensagem do texto estudado, ou que possibilite dentro da margem de
compreensão geral, um espiral de temas conexos ao tema central.
Uma boa Bíblia (NBJ, Vozes, Peregrino) já vem com esse recurso, porém, é
importante que façamos esse exercício, pois, além de nos familiarizarmos com os textos,
teremos uma gama de experiência/informações que nos deixará práticos no exercício da
leitura.
Vamos a alguns paralelos.

 Mc 10, 13-16;
 Mt 18, 1- 6;
 Lc 9, 46 – 48;
 Jo 13, 20 [1-20];

3. TEOLOGIA

Teologia é fundamentalmente refletir tudo o que foi estudado nos passos


anteriores.Aqui é importante averiguar os temas que foram aparecendo como luzes no
percurso feito.E agora é hora de produzir um discurso de fé que além de esclarecer, passar a
mensagem e produzir novos paradigmas (modelos),deve alimentar a prática cristã.

O status e o símbolo do Reino

O reinado de Deus entre nós, segundo Jesus, é concebido do serviço à vida humana,
não qualquer serviço, mas aquele que restaura as relações dos seres humanos com os
próprios humanos, e com Deus. Nesse serviço não há status de maior ou menor, mas de
servidores. Os Doze parece não compreender isso, razão pela qual Jesus os adverte e
esclarece. Contudo, como é do seu feitio, ele que ensina por meio de gestos, palavras e ações,
usa da criança nesse episodio para inculcar a lição de que, os servidores devem ser
despossuídos de poder, uma vez que, as crianças, segundo outros textos e contextos, estão na
mesma situação de desprotegido da lei como os pobres e pecadores, e que por isso mesmo,
não constitui fundamentalmente uma ameaça (preocupação/poder) para o Estado e nem para
a Lei (conforme concebido pelos religiosos da época) da aliança.
Dessa forma, Jesus está exemplificando que os seus seguidores devem ser
despossuídos de toda lógica do poder pelo poder e inculcar o poder serviço. Assim, a criança

Anotações de Exegese, Teologia e Hermenêutica Bíblica – 2011 Página 8


símbolo deve ser acolhida e ao acolhê-la está acolhendo a Jesus, e por antonomásia, acolhe
quem o enviou: o Pai.

4. HERMENÊUTICA

A hermenêutica de posse de todas as informações, direciona (e sua preocupação


primeira é o destinatário em sua realidade atual) a mensagem da melhor forma possível aos
ouvintes do presente. Assim podemos elaborar o seguinte discurso com base no texto
estudado.

A criança na sociedade judaica do século primeiro e na sociedade de hoje

A criança na cultura judaica tinha sua importância primordial apesar de não ser
valorizada como “protagonista social” perante a Lei da aliança. Sua condição de não
cumpridora da lei e nesse caso, despossuída dos direitos concedido a um adulto normal, a
deixava em situação de vulnerabilidade, sendo apenas protegida pelo direito legal da família.
Jesus critica essa situação e a toma como símbolo de sua luta pelo reino, ao lado de
outras categorias (pecadores, pobres, mulheres) de pessoas.
Hoje, milhares de crianças estão à margem do sistema social, por outro lado também,
é verdade, há toda uma programação voltada para a infância, que muda conforme o objetivo
das politicas publica. O fato é que, da sociedade em que Jesus está inserido à sociedade
moderna, houve muitos avanços e a criança foi bastante valorizada.
Apesar desses avanços e valorização, ela é silenciada como agente protagonista.
Porém, ela com sua singularidade e fragilidade é símbolo do reino. Porque é despossuída de
pretensões. Ela representa constantemente o apelo à conversão. E isso foi deixada para trás.
É importante entender que, para a cultura moderna, o reino soa algo do passado e
dereligiosíssimo, não tem sentido de ser. Daí a constante luta por parte dos convertidos para
traduzir pra hoje sua eficácia, seus valores e sua dinâmica.
Quanto à criança ainda é símbolo do reino, no sentido de ser despossuída de
pretensões e status, e isso é, para a sociedade moderna,um “calo”, porque ela representa um
“freio” perante sua ambição desmedida dianteda vida e da história no seu mais profundo
âmago escatológico.
Então, podemos a partir desse texto dizer: hoje, se quisermos ser do reino devemos
ser servidores despossuídos, como crianças. Elas são um símbolo permanente do chamado a
entrar na dinâmica do reino.

Conclusão

Temos aqui nessas linhas, um pouco do que podemos fazer, como exercício de leitura
e estudo bíblico, no sentido de melhorar cada vez mais nossa relação com a Bíblia, nossa
escuta da Palavra/Mensagem e nosso serviço às Comunidades e às Pessoas.

Anotações de Exegese, Teologia e Hermenêutica Bíblica – 2011 Página 9

Você também pode gostar