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David Oitavem
Q
uem ainda se lembra de uma tal de Fá-
brica Nacional de Ar Condicionado,
de certo que estranhou quando, em
1998, abriu uma loja no Centro Co-
mercial Colombo com o nome de Fnac. Mas
esta Fnac tinha outro significado – Fédération
Nationale d’Achats pour Cadres – e o seu ar não
era nem quente nem fresco. Era de mudança
no panorama cultural.
Empresa fundada em 1954 em França, a Fnac
é detida desde 1996 pelo Grupo Pinault Prin-
temps – PPR, líder de distribuição especializa-
da na Europa. A Conforama é outra das em-
presas deste grupo, e foi aí que Cláudia Almei-
da e Silva, actual directora-geral da Fnac Por-
tugal, iniciou a sua actividade no grupo, de-
pois de 6 anos como key account em agência de
publicidade. Ergueu o Departamento de Mar-
keting da Conforama, tendo depois passado
para o Departamento Comercial. Em 2005
entrou na Fnac, para aquilo que classifica co-
mo «uma experiência muito enriquecedora»:
assumiu a direcção de uma loja da marca, nes-
te caso a do Chiado. Cláudia Almeida e Silva
afirma que «é uma escola em termos de gestão
de pessoas e gestão de equipa». Aí permaneceu
durante cerca de um ano e meio, indo depois
para a sede da Fnac, em 2007, como Directora
Comercial de Produtos Editoriais. Com a re-
estruturação que decorreu a nível internacio-
nal, e com a saída de Enrique Martinez para a
direcção-geral de Espanha, assumiu em Feve-
reiro deste ano a direcção-geral da Fnac Portu-
gal. Estivemos à conversa com a responsável
numa das mais recentes lojas da marca, no
Centro Comercial Vasco da Gama.
David Oitavem
Qual o balanço que faz da actividade da Fnac
nestes 10 anos?
Há 10 anos não era evidente que a Fnac se tor- «A mais-valia do conceito Fnac
nasse num sucesso em Portugal. Mesmo em também é a largura e a variedade
da nossa oferta».
termos de investimento, na altura foi questio-
nado se seria um bom mercado para entrar.
Na altura estavam projectadas 5 lojas no máxi-
mo. Hoje temos 15 e logo a primeira foi um
sucesso – a loja do Centro Comercial Colom-
bo. Isso aconteceu devido a uma razão muito
simples que foi olhar para o consumidor por-
tuguês, combinar o estar com a cultura e com
a tecnologia. O português gosta muito da par-
te social e de estar num café a ler um livro ou a
conversar. E a Fnac apareceu com um modelo
em que apresenta um livre acesso a tudo o que
é livros, de poder pegar num, poder lê-lo sem
ninguém questionar ou poder levá-lo para o
fórum ou para o café e, ao mesmo tempo, estar
com os amigos e a ouvir um CD... acho que
marcou mesmo a diferença. Na altura foi uma gura e a variedade da nossa oferta. Nós costu- timing. A presença no Centro Comercial Vas-
inovação em termos de conceito de loja. Com mamos dizer que não temos um concorrente, co da Gama, como dissemos quando abrimos,
a questão da parte social do fórum acho que foi temos vários. Não existe um concorrente com era um desejo já antigo. E os resultados das
o casamento perfeito com a cultura portugue- a nossa amplitude e diversidade de gama e primeiras semanas revelam que estávamos cer-
sa, onde as pessoas vão tomar café mais do que oferta, e isso é uma grande força do conceito: tos. Há uma grande afinidade entre a Fnac e o
noutro país. Foi a primeira loja a ter o café no esta complementaridade entre a parte cultural cliente que, não só mora, mas que trabalha
centro, e tudo o resto a gravitar à volta do pal- e a parte tecnológica que, no futuro, quere- aqui. Costumo dizer que é um misto entre a
co da Fnac. A partir daí foi um modelo replica- mos que exista uma maior convergência entre loja do Chiado e a do Colombo. A do Chiado
do para todas as lojas, sempre que nos é permi- estas duas grandes áreas. é frequentada por quem trabalha ali perto,
tido em termos de configuração. que vai lá à hora do almoço, enquanto que a
Continua a ser a tecnologia o que representa do Colombo tem maior fluxo ao final do dia.
Julga que a concorrência se aproximou desse o maior volume de vendas? Vir para aqui era um desejo nosso já de há al-
modelo de experimentação de produtos? Es- Sim, com cerca de 60%. gum tempo, sendo que agora é que surgiram
tão a tentar imitar a Fnac? as condições, até porque temos alguns crité-
Não sei se é cópia do conceito. Acho que passa O Centro Comercial Vasco da Gama abriu rios mínimos em termos de espaço.
por estar atento às necessidades do consumi- em Abril de 1999. Porquê só agora uma loja
dor. Se há um modelo que funciona e o clien- Fnac? Existia o espaço da Fnac Service, mas é Que novo conceito Fnac é este de “O Prazer
te responde bem a esse modelo, então vamos algo completamente diferente. de Descobrir”, que moldou as recentes lojas
responder também a essas necessidades. A A Fnac Service apareceu para reforçar a nossa do Mar Shopping de Matosinhos e do Cen-
mais-valia do conceito Fnac também é a lar- parte de laboratório de fotografia, e teve o seu tro Comercial Vasco da Gama?
É voltar um bocadinho às raízes quando a
David Oitavem
«Quando perguntamos aos clientes Acha que perderam isso nos últimos tem-
o porquê de virem às nossas lojas, pos?
a resposta é porque é diferente, Não, mas a concorrência não é o que era há 10
porque me sinto bem». anos, e com a agressividade que há, com foco
em termos de produto e preço, a grande mais-
-valia da Fnac é a essência do seu conceito.
Quando perguntamos aos clientes o porquê de
virem às nossas lojas, a resposta é «porque é di-
ferente, porque me sinto bem». E este senti-
mento subjectivo é difícil de quantificar. Quise-
mos reforçar com esta comunicação: propor-
cionar essa descoberta no meio de tanto ruído
de produto, de preço, de agressividade. Venha à
Fnac pela descoberta, e no meio de um ano di-
fícil, de crise que todos os portugueses sentem,
Dezembro 2008 / Janeiro 2009 Dh 3
>>> Insígnias
«A Grande Lisboa e o Grande Porto
David Oitavem
podemos proporcionar um momento bom, de ainda têm potencial para
descontracção e de descoberta de sensações. mais clientes da Fnac».
David Oitavem
rio de desenvolvimento para o próximo ano. o portfólio de serviços e a maneira
Nós temos mais de 300 mil referências em ca- como eles são vendidos em loja. Por «O último trimestre do ano
tálogo, e é preciso tratar e actualizar todas. último, e acho que faz parte do nos- representa quase 60%
É uma das grandes apostas para 2009, melhorar so ADN, queremos inovar constan- da facturação da Fnac».
David Oitavem
A nova loja da Fnac 100 colaboradores da loja Vasco da Gama, por
do Vasco da Gama exemplo, estiveram durante uma semana num
teve a sua inauguração
seminário de integração antes da loja abrir, pa-
em Outubro.
ra “beber” o conceito da Fnac. Ao longo do
ano investimos cerca de 60 mil horas de for-
mação, em fóruns de produto, partilharmos
muito o knowhow entre as equipas. E somos
também muito exigentes no recrutamento.
Depois há outro factor que é fantástico, que é
a atractividade do nosso conceito. Temos pes-
soas que gostam tanto de determinado produ-
to que querem transmitir isso a outras pessoas.
Não somos só nós que vamos à procura, mas
conhecedores, sobretudo jovens, de várias
áreas, que vêm ter connosco e que estão dis-
postos a passar oito horas no meio desse am-
biente. Um dos melhores prazeres que um dos
nossos vendedores tem é “discutir” e partilhar
algum conhecimento com um cliente. Costu-
taxada ao IVA máximo – 20% – enquanto os Completamente. É dinâmico. Como no caso mamos dizer que não temos repositores, te-
livros têm uma taxa de 5%. das lojas de Alfragide e de Braga, que abriram mos prescritores.
Mesmo internacionalmente já houve algum faz agora um ano, e nós vamos afinar esse mo-
forcing nesse sentido. Pessoalmente custa-me, delo, e vamos adaptando. Isso também numa “Novos Talentos”, galerias fotográficas, apre-
porque não consigo encontrar grande diferen- loja que já abriu há 10 anos. Um exemplo sentações de obras, concertos, projecção de
ciação entre o prazer de descobrir um livro e e concreto de adaptação ao local onde se vai filmes, o facto de se poder ler os livros nas
uma música, um autor, um intérprete. A Fnac abrir a loja é a do Mar Shopping. Aí houve um vossas instalações… Consideram-se dinami-
tentou sempre lutar contra isso. Na esfera pró- investimento na área infantil, que tem o do- zadores da cultura nacional nestes 10 anos?
pria temos marcado muito a nossa posição, e bro da área das lojas médias da Fnac. Isto por- Completamente. Isso faz parte desse triângulo
digo claramente que acho que tem de ser um que nós achamos que aquele shopping vai ser que falava, em que na base está toda a nossa
dos eixos fortes de trabalho, para tornar o CD, um espaço de família. Daqui a um ano, ou acção cultural. Foi uma das inovações quando
como formato actual, mais competitivo face à uns meses, iremos avaliar se estávamos certos. a Fnac apareceu há 10 anos, este democratizar
música que se vende hoje, que é quase de livre da cultura. Em França chamam agitateur cul
acesso via web. Um dos pontos positivos apontados por clien- turel – agitador cultural. Nós cá não temos
tes Fnac é o conhecimento especializado que tanto esta vertente de provocação e agitação,
Irão acontecer mais dias em que o IVA dos os colaboradores têm daquilo que vendem. O mas mais de democratizar e facilitar o acesso a
CDs é, teoricamente, de 5%, com essa baixa recrutamento é assim tão exigente, ou tem a um autor, e que se calhar há 10 anos era preci-
de preço suportada pela Fnac? ver com formação que lhes é ministrada? so pertencer a um grupo muito restrito. Hoje
Eventualmente, como já o fizemos. Quando nos perguntam «qual é a magia da em dia, qualquer português pode colocar uma
Fnac?» eu costumo dizer que é um triângulo questão a um autor, quando este for a uma
Há uma certa adaptação do portfólio dos mágico que assenta em 3 grandes pilares, que Fnac apresentar o seu livro, por exemplo.
produtos das lojas ao local onde se inserem. têm de estar sólidos ao mesmo tempo. Se há
Essa adaptação é estudada antes ou verifica-se um que está mais fraco, o próprio conceito riCarDo martinS
depois de aberto o espaço? pode estar em causa. Um tem a ver com a ex-
Nós temos as bases do nosso conceito em ter- periência de compra em loja, ou seja, propor-
mos de produtos e do portfólio que queremos cionar a melhor experiência, as melhores sen- Fnac em números
apresentar, e a sua distribuição em termos de sações nas lojas, e daí termos um cuidado ex- Visitantes em 10 anos: mais de 143 milhões
circuito de cliente na loja. Fazemos, sim, uma cepcional com o ambiente de compra, da Total de Colaboradores: 1530
adaptação da gama ao local onde a loja se vai maneira como colocamos o produto, a ilumi- Total de Superfície Comercial: cerca de 25
inserir. A loja do Chiado, por exemplo, é to- nação, a alcatifa, etc. O segundo pilar tem a mil m2
talmente diferente desta. Nesta loja há peque- ver com a largura e diversidade da nossa ofer- Volume de Vendas s/ IVA em 2007: 267,4
nos pormenores que estão feitos para este tipo ta, e aí somos muito exigentes com as nossas milhões de euros
de cliente. Ou seja, existe um modelo base e áreas comerciais, em termos de selecção da Crescimento de Vendas em 2007: 9,6%
tentamos moldá-lo como uma peça de barro nossa gama. Na área editorial temos que ter Distribuição das Vendas: 59% produtos
com o tipo de cliente. E aí tentamos adaptar as tudo, e se não tivermos o cliente pode pergun- técnicos; 41% produtos editoriais
salas a esse tipo de cliente. A loja do Chiado, tar que nós vamos à procura. E na área da tec- Visitantes www.fnac.pt em 2007: 11 milhões
por exemplo, é a loja que vende mais música nologia não podemos ter tudo, por restrições Cesto médio www.fnac.pt em 2007: 59,90€
clássica. de espaço, mas o que dizemos é que temos a Crescimento de Vendas www.fnac.pt em
melhor selecção. O terceiro pilar tem a ver 2007: 49%
As lojas estão também “dispostas” a adapta- com a prescrição independente e as pessoas, Aderentes Fnac: cerca de 260 mil
rem-se aos seus clientes? que fazem a diferença neste modelo. Todos os
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