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EXCELENTISSÍMO S ENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CÍVEL DA

COMARCA PRESIDENTE PRUDENTE/SP

Processo nº 0012674-98.1995.8.26.0482 (482.01.1995.012674)


Execução de Título Extrajudicial

ANTONIO CARLOS DA SILVA e MEIRE LUCI ZANINELO SILVA, já qualificado nos


autos em epígrafe, por intermédio de seus advogados, que esta subscrevem, procuração anexa, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 5º, inciso LV, da
Constituição Federal de 1988, arguir

EXCEÇÃO DE PRÉ -EXECUTIVIDADE

em face de BANCO ITAU S/A nos autos da Execução de Título Extrajudicial em epígrafe, pelas razões
de fato e de direito a seguir expostas:

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1. DOS FATOS
O excipiente é Réu em Ação de Execução de Título Extrajudicial, movida pela
Exequente, cujo valor total constante na ação de execução perfaz a quantia de R$ 83.773,41 (oitenta e
três mil setecentos e setenta e três reais e quarenta e um centavos).

No entanto, a pretensão da Exequente não merece prosperar em razão da


PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE, devendo ser repelida a cobrança dirigida ao executado, como se
demonstrará a seguir.

2. DO DIREITO
2.1. Do cabimento da Exceção de Pré -Executividade

O direito ao contraditório e a ampla defesa constitui direito fundamental assegurado a


todos pela Lex Maior.

Em sede de execução fiscal, para o oferecimento de defesa, o legislador ordinário


constituiu a necessidade de garantia da execução, como condição de procedimento dos embargos à
execução fiscal, que consiste a defesa por excelência neste procedimento.

Ocorre que, norma infraconstitucional não pode estar em desarmonia com norma
constitucional, ainda mais aquelas que dispõem sobre direitos fundamentais, tendo em vista sua
eficácia imediata (artigo 5º, §1º da CF).

Neste contexto, o condicionamento do exercício da ampla defesa à garantia da


execução sem possibilitar meios tangentes de discussão dos títulos e/ou da execução é
manifestamente inconstitucional.

Por esta razão, apesar de inexistir previsão legal, a exceção de pré-executividade


possui ampla aceitação na doutrina e jurisprudência.

Consiste na faculdade, da parte executada, de submeter determinadas matérias ao juiz


da execução, independentemente de penhora ou de embargos. Sua abrangência temática é limitada,
apenas dizendo respeito à matéria suscetível de conhecimento de ofício ou à nulidade evidente e
flagrante do título, isto é, nulidade cujo reconhecimento independa de dilação probatória, como é o
caso.

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Neste sentido é a súmula 393 do Superior Tribunal de Justiça, que prevê “A exceção
de pré-executividade é admissível na execução fiscal relativamente às matérias conhecíveis de ofício
que não demandem dilação probatória”.

Assim, matérias de ordem pública podem e devem ser apreciadas em sede de exceção
de pré-executividade, sem que se exija do executado um dispêndio financeiro para apontá-las.

Ainda mais, que esta garantia é inviável para o agravante, em razão de não possuir
bens passíveis de penhora, nem o valor integral da execução para depósito da dívida exequenda.

É entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante que o condicionamento da


defesa à garantia de juízo em certos casos, em detrimento do executado, afigura-se injustiça sob duplo
aspecto: primeiro porque lhe nega o acesso à justiça, contrariando o disposto nos inc. XXXV e LV, do
art. 5º da CF; segundo, porque pode acarretar dano expressivo ao seu patrimônio, podendo até
paralisar suas atividades no caso de execução movida em face de pessoa jurídica, e tão ou mais
relevantes danos causados em se tratando de pessoa física.

Desta forma, requer de Vossa Excelência a apreciação das matérias relativas à


carência da ação, em razão do reconhecimento da prescrição intercorrente como será explanado
abaixo.

2.2. Da Prescrição Intercorrente

A prescrição é um instituto processual que se fundamenta no princípio da razoável


duração do processo inserido dentro das garantidas fundamentais do artigo 5º, inciso LXXVIII da
Constituição Federal de 1988, acrescentada pela Emenda Constitucional nº 45/2004.

O motivo para o legislador esculpir esta garantia na Constituição foi para garantir que a
tutela jurisdicional seja efetiva, tempestiva, adequada e não apenas ser exercida pelo Estado como
decorrência do direito de ação.

Este princípio visa limitar o tempo processual, para não deixar que haja perpetuação
de um direito ou de um dever, uma vez que se é estipulado um determinado tempo para propositura da
ação ou para a obtenção de uma tutela jurisdicional, o legislador não mitigou nenhuma garantia
fundamental, apenas estabeleceu um prazo visando que se a parte demorou tanto tempo para buscar a
tutela jurisdicional e permaneceu inerte é de deduzir que não haja um real motivo para a obtenção da
tutela jurisdicional.

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Outro princípio a ser apreciado como embasador da prescrição é a economia dos atos
processuais, não poderia o legislador impor ao poder judiciário que ficasse perpetuamente a mercê de
um processo sem que haja manifestações inerentes à busca de uma obtenção.

Feito os expostos principiológicos, será demonstrada a prescrição para o presente


caso, onde há a ocorrência de dilação temporal da persecução fiscal.

Deste modo, incialmente, cumpre descrever os artigos 921, III, §4º e 924, V ambos do
novo código de Processo Civil:

Art. 921. Suspende-se a execução:

III - quando o executado não possuir bens penhoráveis;

§ 4o Decorrido o prazo de que trata o § 1o sem


manifestação do exequente, começa a correr o prazo de
prescrição intercorrente.

Art. 924. Extingue-se a execução quando:

V - ocorrer a prescrição intercorrente.

Ou seja, conforme movimentação processual houve publicação do arquivamento e


paralização dos autos da execução no dia 30 de abril de 2010. Isso significa dizer que, após o prazo
máximo de 01 (um) ano, mais precisamente no dia 30 de abril de 2011, iniciou-se o prazo
prescricional de 05 (cinco) anos.

No mesmo sentindo, cumpre ainda destacar o parágrafo do artigo 921 supracitado:

§ 5o O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15


(quinze) dias, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição
de que trata o § 4o e extinguir o processo.

No mesmo sentido julgou o Supremo Tribunal Federal:

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO E
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. PRESCRIÇÃO
INTERCORRENTE RECONHECIDA. PARALISAÇÃO DO FEITO POR MAIS
DE 5 ANOS. SÚMULA 314/STJ. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC
INEXISTENTE. AGRAVO DA FAZENDA PÚBLICA DESPROVIDO.

1. Verificar o cumprimento do procedimento do art. 40, § 4º, da Lei 6.880/80


ou a incidência da Súmula 106/STJ, na forma em que colocada a questão
nas razões recursais, encontra óbice na Súmula 7/STJ.

2. Esta Corte possui entendimento pacífico quanto à desnecessidade de


intimação do credor do arquivamento do feito executivo, após o período
da suspensão por ele mesmo requerida, uma vez que referido
arquivamento é automático. Súmula 314/STJ.

3. Pronunciamento fundamentado do Tribunal a quo não abre espaço para a


anulação do acórdão por ofensa ao art. 535 do CPC.

4. Agravo Regimental desprovido. (STJ, AgRg no Ag 1423226/PB, Primeira


Turma, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, DJE 10/10/2014).

Sendo assim, ao fazermos um breve levantamento dos dados descritos no processo de


execução, é de simples cálculo e mera observância matemática que, entre o arquivamento e
suspensão dos autos até a presente data, PASSARAM-SE 06 ANOS E 08 MESES.

Nota-se, portanto, que não houve nos autos qualquer outra causa de interrupção ou
suspensão do prazo prescricional, ainda, tendo a Exequente deixado de realizar ato indispensável à
continuação do processo, ocasionando no escoamento do lapso prescricional.

A prescrição intercorrente como instituto processual que se destina à extinção do


processo com julgamento de mérito, seja por inércia do titular do direito em promover atos
indispensáveis à continuação do processo, seja por impossibilidade da prestação jurisdicional em
satisfazer a pretensão do autor por qualquer motivo, em atenção ao princípio basilar ao qual se destina
toda prescrição, visando assegurar a não perpetuação das relações jurídicas e a segurança
jurídica os processos.

Ainda, há um entendimento sedimentado no Superior Tribunal de Justiça e usado na


fundamentação de inúmeros recursos, vejamos:

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Os requerimentos para realização de diligências que se mostraram
infrutíferas em localizar o devedor ou seus bens não têm o condão de
suspender ou interromper o prazo de prescrição intercorrente.
Precedentes: REsp 1305755/MG, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma,
DJe 10/05/2012; AgRg no REsp 1251038/PR, Rel. Min. Cesar Asfor
Rocha, Segunda Turma, DJe 17/04/2012 e REsp 1245730/MG, Rel. Min.
Castro Meira, Segunda Turma, DJe 23/04/2012.

Como bem nota-se, olhando pelo lado da inércia da Excepta em promover a execução,
resta clarividente a prescrição da Ação Executória, haja vista presente os pressupostos para sua
decretação.
A Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LXXVIII, estabelece que é um direito
fundamental do indivíduo e da coletividade a razoável duração do processo, senão vejamos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de
sua tramitação.

Em reunião para disposição de aprovação de ementas sobre pontos controvertidos da


Execução Fiscal, a Escola Nacional da Magistratura, Escola Paulista da Magistratura e Associação dos
Magistrados brasileiros, em 18 de junho de 2010 aprovaram a ementa de nº. 5 que disciplina o
seguinte:

Ementa 05 - Com base no art. 5º, inc. LXXVIII, da CF (princípio da


duração razoável do processo) combinado com o art. 174, par. único,
inc. I, do CTN (o despacho do juiz que determina a citação interrompe a
prescrição), a citação do executado deve ocorrer em até 5 (cinco) anos
do despacho que a determina;

Na presente demanda passaram-se 06 (seis) anos, sendo que o entendimento dos


próprios magistrados presentes na reunião da Escola Nacional da Magistratura é direto e claro, de que
o prazo razoável seria de até 05 (cinco) anos.
Logo, de acordo com o entendimento sedimentado na referida ementa dos órgãos
acima citados, esta Execução Extrajudicial já encontra-se prescrita.

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A súmula 150 do STF explica que “prescreve a execução no mesmo prazo de
prescrição da ação”. Entendimento firmado com base nos recursos extraordinários N° 52.902, N°
49.434 e N° 34.944, donde se extrai do voto do relator, Senhor Ministro Victor Nunes, acórdão
n.49.434:

O SENHOR MINISTRO VICTOR NUNES (RELATOR): Conheço do recurso pela


letra d, reportando-me ao citado precedente do Supremo tribunal. Também
recordo, a respeito, a lição de Amilcar de castro, Com. Ao Cód. Proc. Civil,
V.10, p.426: “A sentença não opera novação, nem cria direitos: é ato judicial
meramente interruptor da prescrição. E, assim sendo, desde sua data
recomeça a correr a prescrição do direito e, demorando a execução, ou
suspensa em qualquer ponto a instância da execução, por tanto tempo quanto
tenha a lei fixado para a prescrição do direito declarado na sentença, prescrito
ficará esse direito.”Assim, conhecendo o recurso, dou-lhe provimento para
declarar prescrita a execução. (GRIFO NOSSO)

Desta forma, requer a decretação da PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE face à inércia


da Excepta em dar andamento útil ao feito, com fulcro no artigo 487, inciso II do Novo Código do
Processo Civil.

3. DO PEDIDO
Ante o exposto, requer-se à Vossa Excelência:

a) que seja julgada PROCEDENTE a presente EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE,


declarando a PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE, julgando o processo extinto com resolução de mérito
nos termos do artigo 487, II, do Novo Código de Processo Civil, afastando-se a cobrança do débito
descrito na inicial, cobrado pela Prefeitura de Bataguassu;

b) que seja condenada a Exequente, nas custas e honorários de sucumbência sobre o


valor atribuído à causa;

c) Por fim, que as intimações sejam publicadas em nome do advogado Dr. BRUNO
VOLTARELLI EVANGELISTA, inscrito na OAB-SP sob o nº 348.385, sob pena de nulidade, conforme
artigo 272, parágrafo 5º do Novo Código de Processo Civil.

Termos em que, P. Deferimento.

Presidente Prudente – SP, na data do protocolo .

BRUNO VOLTARELLI EVANGELISTA


OAB-SP nº 348.385

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