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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR PALOTINA
CURSO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE ENERGIAS RENOVÁVEIS
DISCIPLINA: GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS

CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS


CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS
SÓLIDOS ORGÂNICOS

Docente: Dra. Eliane Hermes


2018
RESÍDUO SÓLIDO: todo material de descarte de atividades agrícolas,
agroindustriais, industriais e urbanas nos quais a concentração de ST seja
superior a 15-18 dag L-1, resíduos com característica pastosa nos quais a
concentração de ST esteja entre 5 e 15-18 dag L-1, além de lodo de ETE, os
quais contém de 0,25 a 12 dag L-1 de ST (MATOS, 2014).

Classificação dos Resíduos Sólidos:

ABNT NBR 10.004 (2004)

Considerando-se os riscos potenciais ao meio ambiente e a


saúde pública:

A) Classe I: Perigosos
B) Classe II: Não Perigosos
Classe II - A: Não inerte
Classe II - B: Inerte
Caracterização e classificação de resíduos sólidos segundo a NBR 10.004
Fonte: ABNT (2004)
Classe I – Perigosos

PERICULOSIDADE risco a saúde e ao meio ambiente

Critérios para um resíduo ser classificado como perigoso:

✓ TOXICIDADE
DL50
CL50

✓ INFLAMABILIDADE

✓ CORROSIVIDADE

✓ REATIVIDADE

✓ PATOGENICIDADE
Não estão incluídos neste item os resíduos sólidos domésticos e aqueles
gerados em ETE doméstico

Lista complete Anexo A e B NBR 10.004 (ABNT, 2004)


Classe II – Não Perigosos

Classe II A – Não inerte


Propriedades de combustibilidade, biodegradabilidade e solubilidade em água

Os resíduos de interesse agrícola são desta classe

Classe II B – Inerte
Não são biodegradáveis ou solubilizados em água

Características dos resíduos sólidos

Divididos em dois grandes grupos (MATOS, 2014):

▪ Orgânico
▪ Inorgânico
Caracterização dos resíduos sólidos orgânicos

Resíduos de cultivo agrícola

Resíduos de criatórios animais

Resíduos agroindustriais
Resíduos do Cultivo Agrícola

➢ Restos de plantas não aproveitados comercialmente


➢ Impactos

Características Quantitativas:

❑ CULTURA DA SOJA
- 2700 t de biomassa para cada 1000 t de grãos colhidos (KOOPMANS e
KOPPEJAN, 1997)
- Palha: 3 a 4 t biomassa/ha com 11,5% de umidade

De acordo com dados técnicos, no caso da soja,


recomenda-se que cerca de 70% da palha
permaneça no campo
❑ CULTURA DO MILHO
- 50% de toda biomassa produzida permanece no campo, 30% são resíduos do
processamento e menos de 20% são os grãos
- Sabugo, colmo, folha e palha (2,2 t biomassa/t milho com 11 % de umidade)
(KOPPEJAN, 1997)
- Nogueira e Lora (2002): 5 a 8 t biomassa/ha com 9,5% de umidade

❑ CULTURA DO ARROZ
- Palha: 1,76 t biomassa/t arroz e 12% de umidade (KOOPMANS e KOPPEJAN, 1997)

No caso da palha de arroz, recomenda-se que cerca de


60% da palha permaneça no campo

- Casca do arroz: 0,267 t biomassa/t arroz


(KOOPMANS e KOPPEJAN, 1997)
❑ CULTURA DO TRIGO
- Palha: 1,76 t biomassa/t trigo com 15 % de umidade
(KOOPMANS e KOPPEJAN, 1997)

❑ CULTURA DA MANDIOCA
- Alta produtividade de massa verde
- Parte aérea: 6 a 10 t biomassa/ha com 6% de umidade (NOGUEIRA e LORA, 2002)

❑ CULTURA DO FEIJÃO
- Palha: 1 a 1,2 t biomassa/ha com 11% de umidade (NOGUEIRA e LORA, 2002)

Para estas culturas, recomenda-se que cerca de 60% da


palha permaneça no campo

❑ CANA-DE-AÇÚCAR: folhas verdes e secas, palhas e


pedaços de cana que permanecem no campo ou são
recolhidos na agroindústria
Características Qualitativas:

▪ Resíduos de gramíneas C/N > 30


▪ Resíduos de leguminosas C/N < 30

Características de resíduos de cultivos agrícolas


Resíduo M.O. Nitrogênio total Fósforo total Potássio Relação C/N

(dag kg-1)

Palha de trigo - 0,5 0,08 0,75 -

Palha de milho - 0,68 0,14 0,9 -

Palha de soja - - 0,08 0,71 -

Palha de aveia - 0,54 0,08 0,98 -

Capim jaraguá 90,5 0,79 0,12 - 64/1

Ramas de mandioca 95,3 1,31 0,15 40/1

Fonte: MATOS (2014)


Resíduos de Criatórios Animais

✓ Animais criados em confinamento: Produção de dejetos

✓ Fatores que influenciam na quantidade e características dos dejetos animais:


- Tipo e quantidade de ração fornecida
- Estágio de desenvolvimento do animal
- Condições climáticas
- Manejo dos dejetos

Taxa de produção de resíduos na atividade agropecuária


CRIAÇÃO PRODUÇÃO DE DEJETOS (t ano-1)
Aves (postura e corte) 28.025.854
Bovinos (leite) 316.909.675
Suínos 20.379.732
Fonte: BRASIL (2011)
SUINOCULTURA

BRASIL é o quarto maior produtor mundial de carne suína 37.929.357 (2014)


PARANÁ 6.394.330 (16,8%)
OESTE PARANAENSE

Um suíno na faixa de 25-100 kg


produz, diariamente, de 5-9% de 2,30 kg de esterco/dia
sua massa como fezes + urina

Fonte: OLIVEIRA (1993)

Os dejetos suínos são constituídos basicamente por fezes as


quais apresentam-se normalmente na forma sólida ou pastosa,
além da urina e restos de alimentos.
Caracterização de dejetos suínos
PARÂMETRO VALOR
Relação C/N 6 a 10/1
Nitrogênio total (dag kg-1) 2,1
Fósforo total (dag kg-1) 2,11
Potássio (dag kg-1) 0,5
Cobre (mg kg-1) 960
Zinco (mg kg-1) 300
Carbono orgânico total (dag kg-1) 21,3
Fonte: MATOS (2014)

❑ Metais pesados: Cobre e Zinco


BOVINOCULTURA DE CORTE – quando criados em confinamento
proporcionam a produção de grande quantidade de resíduos, na faixa de
25-30 kg cab-1

Alterações nos sistemas de produção grande geração de dejetos

Caracterização do dejeto
PARÂMETRO VALOR
pH 5,8-8,8
Sólidos totais (dag kg-1) 29,9-32,1
Nitrogênio total (dag kg-1) 1,0-5,8
Fósforo total (dag kg-1) 1,0-1,2
Potássio (dag kg-1) 0,2-2,4
Sódio (dag kg-1) 154,3
Relação C/N 15 a 27/1
Carbono orgânico total (dag kg-1) 27,9
Fonte: MATOS (2014)
BOVINOCULTURA DE LEITE – uma vaca leiteira (400 kg) produz
diariamente cerca de 37-55 kg (fezes + urina)

(20,62 milhões de vacas ordenhadas no Brasil).

Caracterização do dejeto
PARÂMETRO VALOR
Sólidos totais (dag kg-1) 13,5-18
Sólidos voláteis (dag kg-1) 9,6-17
Nitrogênio total (dag kg-1) 0,4-0,5
Fósforo total (dag kg-1) 0,08-0,4
Potássio (dag kg-1) 0,3-0,4
Cálcio (dag kg-1) 0,3
Magnésio (dag kg-1) 0,11
Fonte: MATOS (2014)
NOVILHO SUPERPRECOCE – para a engorda, os bezerros são
alimentados com dietas concentradas, recebendo leite e subprodutos do
processamento do leite
Dejeto mais líquido que o
de outros animais

- Produção díária de 7,5 L. cab-1

Diferenças na caracterização:

➢ alimentação
➢ consistência
➢ granulometria
AVICULTURA

Por ave: 0,20-0,23 L/d-1


Criação sob camas de serragem, casca de arroz, casca de amendoim

AUMENTO DO VOLUME DE RESÍDUOS

Caracterização de esterco de aves


PARÂMETRO VALOR
Sólidos totais (dag kg-1) 20-25
Sólidos fixos (dag kg-1) 5-7
Sólidos voláteis (dag kg-1) 15-18
Nitrogênio total (dag kg-1) 1,3-7,2
Fósforo total (dag kg-1) 0,5-3,4
Potássio (dag kg-1) 0,9-3,2
Cobre (mg kg-1) 300
Zinco (mg kg-1) 350
Carbono orgânico total (dag kg-1) 29
Fonte: MATOS (2014)
CAVALOS
- Uso da cama: maravalha, casca de arroz, casca de frutos do cafeeiro, capim
seco, feno, etc.
- Esterco fresco: 8 a 20 kg animal/dia

OVINOCULTURA
- Dejeto originalmente seco

- AMORIM (2002): quantidades excretadas podem variar de 130,9 a 379,0 g de


MS de fezes/dia, em animais da raça Saanen com idade de 2 a 12 meses.
- JARDIM (1977) estimou que uma cabra adulta
produz 600 kg de dejetos ao ano, em média. PARÂMETRO VALOR
Nitrogênio total (dag kg-1) 1,3
- Ingestão da cama Fósforo total (dag kg-1) 0,2
Potássio (dag kg-1) 0,9
Cálcio (dag kg-1) 0,6
Fonte: MATOS (2014) Magnésio (dag kg-1) 0,19
USO DA CAMA NA CRIAÇÃO ANIMAL

✓ Funções da cama

Resíduos gerados:

Substrato (cama) + urina + fezes + escamações da pele


+ penas + insetos + restos de ração

A cama não pode ter umidade pois abre-portas


para doenças bacterianas e virais

✓ Substituição da cama

Os animais criados sobre camas mantém a


mesma performance zootécnica
Vantagens do uso da cama:

➢ Melhor conforto e bem-estar animal

➢ Menor risco ambiental

➢ Aproveitamento da cama como fertilizante orgânico

➢ Redução na emissão de gases do efeito estufa

➢ Eliminação quase que total dos odores

➢ Aproveitamento de resíduos como casca de arroz, palha, bagaço, etc

➢ Menor tempo de mão-de-obra e consumo de água na limpeza

➢ Maior número de animais por baia


Resíduos Agroindustriais

❑ ABATEDOUROS DE BOVINOS E SUÍNOS


Peças condenadas:
- quando atingem o chão são desclassificadas para consumo humano
- peças ou cortes condenados por razões sanitárias
- peças que não são utilizadas como produtos comestíveis
❑ Ossos duros
Subproduto de valor quando desengordurados e secos
COZIMENTO
Lavados e secos para serem vendidos
❑ Cascos e chifres
Recuperados por via úmida para facilitar a separação das partes.
Submetidos a aquecimento em água fervente:
Vendidos in natura ou convertidos em farinha.
❑ Pêlos
Recuperados manualmente 23 kg de barrigada
- Produtos graxos e farinhas 18 kg de dejetos/animal

❑ ABATEDOUROS DE PEIXES
✓ Resíduos
✓ 12 a 14% durante a despesca (LIMA, 2008)
✓ Alto teor de proteínas, minerais e lipídios como
ácidos graxos e ômega 3
❑ ABATEDOUROS DE AVES

- Penas - Vísceras cruas - Cabeças - Pés - Peles


- Unhas - Gorduras - Ossos - Cama - Restos de carcaça

Cerca de 3% da massa vida da ave é constituída pelo


sangue, 6% pelas penas e 8% pelas vísceras

Quantidade de resíduos sólidos gerados na produção diária de um abatedouro de aves


TIPO QUANTIDADE (kg)
Penas 18.500
Vísceras cruas 26.000
Cabeças 7.000
Pés 1.500
Penas 1.500
Gorduras 300
Ossos 6.000
Resíduos cama 1.000
Restos de carcaça 18.200
Fonte: Padilha et al. (2005)
Capacidade de abate médio de 165 mil aves/dias
❑ CURTUME

- 15 kg de resíduos sólidos por pele

MACRO ETAPA ETAPA RESÍDUO KG/T


Ribeira Pré-descarne e/ou Carnaça 70-350
descarne
Recortes e divisão Aparas não caleadas e 120
caleadas
Acabamento Rebaixamento Farelo ou pó 225
Aparas curtidas
Fonte: IPPC (2003)

- Carnaça: graxaria e fabricação de farinhas

- Aparas e raspas não caleadas e caleadas:


gelatinas e colas, fins médicos e cirúrgicos

- Resíduos curtidos: recouro (solas e palmilhas)


❑ USINA SUCRO-ALCOOLEIRA

100 a 400 kg torta de filtro


1 ton de cana moída 260 kg bagaço de cana
Leveduras

10 a 15 ton. de torta de filtro por hectare


Fuligem: fonte de partículas minerais

TORTA DE FILTRO – melhoria na estrutura do solo m.o e fósforo

BAGAÇO = ENERGIA

Outras aplicações:
- Ração animal, compostagem, fabricação de papel,
chapas de fibras, etc
❑ CERVEJARIA

Gerados nas etapas de filtragem, envase e tratamento de água e


efluentes líquidos:
❑ grãos usados - Bagaço de malte – filtração do mosto, após a caldeira e
antes da fervura
- Trub grosso - 1° filtração após a cozimento: gordura
vegetal e proteínas
- Trub fino - 2° filtração: gordura vegetal (terra diatomácea)

❑ Excesso de leveduras – próxima batelada ou


vendida ind. alimentos
Bagaço de malte

❑ Terra diatomácea – usada na clarificação


❑ PAPEL E CELULOSE

Resíduos sólidos gerados nas etapas de preparação da polpa e branqueamento


da celulose.
150 kg/t de produto
Variam de acordo com as particularidades do processo:
• Dregs (borra) - clarificação • Serragem (picadores)
• Lama de cal (filtros de lama de cal) • Rejeito (dig. madeira)
• Casca suja (pátio de madeira) • Cinza (caleiras de biomassa)

USO RESÍDUO DESCRIÇÃO

Adubo Serragem em geral Usada in natura ou após


e madeira picada compostagem
Cama aviário Serragem em geral Serragem + dejeto = ADUBO

Extração de óleos e Serragem em geral Extração industrial de óleos e


resinas resinas para uso como
biocombustível, resinas
plásticas, colas e essências

Fonte: Teixeira (2005)


❑ FECULARIA
- Cascas
Bagaço – etapa de extração. Composto por material fibroso e
fécula que não foi extraída no processamento
- Farelo gerado na etapa de separação da fécula de mandioca
Composição:
10% de umidade 15% de fibras 75% de amido
Resíduo fibroso final – fonte de fibras dietéticas

❑ LATICÍNIO
Principais resíduos produzidos são:
- cinzas de caldeira - aparas de queijo - pedaços de frutas - gorduras

❑ PROCESSAMENTO DE CAFÉ
- Casca e polpa:
Aplicações da polpa:
- Ração animal, produção de fungos comestíveis, vermicomposto,
uso como cama na criação animal, biocombustível, etc.
Composição química da matéria seca de alguns resíduos
sólidos agroindustriais

Fonte: MATOS (2005)

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