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INTRODUÇÃO

A Filosofia do Direito nas academias e nas demais carreiras


jurídicas impõe algumas perguntas de certo modo desconfortáveis,
mas necessárias: Em que consiste o papel da Filosofia do Direito na
formação integral do profissional do Direito? O acadêmico deve
cumprir uma carga horária obrigatória de Filosofia do Direito, Como o
conhecimento construído no estudo dessa disciplina deve contribuir
para a melhoria do desempenho da seara jurídica? Para que serve a
Filosofia do Direto? Qual é a finalidade de tal disciplina? Dessa forma,
o problema norteador desse artigo pode ser resumido na seguinte
questão: Qual o papel da Filosofia do Direito na formação integral do
profissional do Direito?

A coerência dessa disciplina nos leva a dois defeitos ou duas


carências muito peculiares dos cursos jurídicos, num primeiro
momento por conta da apresentação atomística do fenômeno jurídico
e, depois pela prevalência da técnica sobre a ética.

Traz a Filosofia do Direito uma visão panorâmica e


contextualizada do fenômeno jurídico. Enxerga-se não só o direito
interno ou o direito internacional, nem só o direito positivo ou direito
natural. Analisa-se o direito como um todo, como um conjunto cujo
composto goza de artificiais e didáticas divisões

Na análise metodológica, esse trabalho consiste em uma


revisão bibliográfica de literaturas que tratam da Filosofia do Direito
buscando retirar dessa vasta literatura, inclusive oriunda de
tendências teóricas diferentes e até divergentes, as informações que
demonstram ser válida a hipótese levantada.

Os principais temas abordados pela Filosofia no Direito são: os


métodos de produção, a Justiça, a propriedade, a liberdade, a
interpretação e a aplicação jurídica das normas e princípios, a
igualdade, a função do Direito, e o Direito propriamente dito;
observando padrões, escrutinando razões, desvendando interesses,
estabelecendo comparações, e, eventualmente, criando prognósticos
futuros. Contudo, o objetivo primaz da aplicação filosófica no Direito, é
conduzir o estudante e o operador do Direito a uma reflexão, acerca
destas questões, levando em conta sua moral, a ética social, as leis, a
justiça, e a equidade deste e dos atos por estes protegidos,
reprovados, ou executados; no efetivo exercício do ideal de Justiça.

Constatando-se a importância da crítica, pode-se ler na obra de


Bittar e Almeida (2001, p. 43): “A Filosofia do Direito é um saber crítico
a respeito das construções jurídicas erigidas pela Ciência do Direito e
pela própria práxis do Direito. Mais que isso, é sua o dever de buscar
os fundamentos do Direito, seja para cientificar-se de sua natureza,
seja para criticar o assento sobre o qual se baseiam as estruturas do
raciocínio jurídico, produzindo, por diversas vezes, fissuras no edifício
jurídico que por sobre as mesmas se ergue”.

O objetivo desse despretensioso artigo é apresentar os


aspectos filosóficos relevantes para a ciência jurídica, assim como as
metas ou tarefas da Filosofia do Direito levando em conta as suas
finalidades, demonstrando que a Filosofia do Direito é capaz de
oferecer contribuição teórica e prática. Eis o que se apresenta a
seguir.

FILOSOFIA GERAL
A Filosofia surge com o desejo de encontrar respostas capazes
de satisfazer uma indagação humana alimentada por uma Razão
inquieta. Ao buscar superar essa metodologia, a Filosofia enfrenta os
desafios de desbravar novos caminhos; de combater as tradições e
chocar com as verdades já prontas e acabadas.

A Filosofia nasce na Grécia antiga, aproximadamente no século


VI a. C. e o primeiro filósofo de que se tem notícia é Tales de Mileto.
“Todas as coisas são feitas de água, teria dito Tales de Mileto. E
assim começam a Filosofia e a Ciência”. Tales e alguns de seus
contemporâneos praticaram uma Filosofia voltada para o
entendimento dos fenômenos naturais.

Evidentemente a procura por um elemento primordial se faz


dentro de um contexto que leva em conta outros pressupostos, tais
como a existência de uma lógica de causalidade inerente à ordem
natural; o compromisso com o logos (razão informadora do discurso
racional); a ideologia de que a ordem presente no cosmos era
acessível à racionalidade humana. Levando-se em conta esse e os
demais outros fatores, a humanidade, representada pelos gregos,
abre um novo método de entender e interpretar a vida, a sociedade e
o mundo. Surge, assim, o que posteriormente será chamado de
Filosofia.

Após essa fase introdutória da Filosofia, surge no mundo grego


a histórica figura de Sócrates que inaugura um período novo chamado
de Período Clássico. Nesse período aparecem as figuras de Sócrates
em permanente oposição aos Sofistas; Platão, idealista, fundador de
uma visão metafísica de realidade; e Aristóteles, valorizador do
materialismo e da experiência. Para Russell, Sócrates, Platão e
Aristóteles são as “três maiores figuras da Filosofia Grega”.

A Filosofia Clássica debate amplamente sobre a questão


ontológica, metafísica e gnosiológica; discute também sobre as
questões que devem ser considerados para a construção de uma
sociedade honesta e solidária. Nesse ponto, os filósofos se
posicionam claramente sobre o conceito de justiça, o papel dos
agentes detentores do poder político e até dão orientações sobre os
princípios fundamentais da vida social.

Encerrado o período áureo da Filosofia Grega, o grande


movimento filosófico é a chamada Filosofia Medieval de caráter
cristão. A característica mais marcante da Filosofia Medieval foi, em
função da força da instituição religiosa cristã, o teocentrismo. No lugar
do teocentrismo, adjetivo marcante do pensamento medieval, surge
uma forte valorização do homem, que passa a ocupar o centro das
atenções. E esse homem é dotado de uma Razão confiável o bastante
para poder descartar toda e qualquer realidade que não se
harmonizava com as ideias e com os valores encampados por essa
Razão. Para Lamanna, pode-se dizer o seguinte da Modernidade que
nascia com o final do pensamento medieval: “O mundo moderno
caracteriza-se justamente pelo oposto: não mais teocentrismo, nem
autoritarismo eclesiástico, mas autonomia do mundo da cultura em
relação a todo fim transcendente; livre explicação da atividade que o
constitui ; supremacia da evidência racional na procura da verdade;
consciência do valor absoluto da pessoa humana e afirmação do seu
poder soberano sobre o mundo”.

Todos os esforços Modernos encontram seu ápice no


Iluminismo que influenciou os ideais da Revolução Francesa. Essa
Revolução icnográfica serve como referência para a compreensão de
vários dos elementos presentes nas organizações sociopolíticas atuais
e marca, segundo critérios historiográficos clássicos, o fim da
modernidade e o início da Contemporaneidade.

Na Filosofia Contemporânea, diferente do que se verifica nos


momentos anteriores, não se pode estabelecer uma linha temática
que a perpassa, aliás, filosoficamente falando, o Período
Contemporâneo se caracteriza por uma pluralidade de interesses e
indagações que fazem com que Filosofia só possa ser compreendida
à luz das correntes ou escolas dentro das quais se manifestam os
pensamentos e os pensadores. Cada Escola ou Corrente filosófica
tem seu objeto, suas metodologias, suas convicções, seus pontos de
partida, suas conclusões.

“Uma das principais características de toda a Filosofia do século


XX é a desconfiança nos grandes sistemas de pensamento que
pretendem dar conta de toda a realidade,como eram o idealismo
alemão e o materialismo histórico de Marx. A Filosofia se tornou mais
recatada em suas intenções [...]. Por isso ela se tornou multifacetada,
com tendências particulares e difíceis de serem mapeadas
(INCONTRI e BIGHETO, 2008, p. 406)”

O PENSAMENTO RENASCENTISTA
A filosofia do direito na época do renascimento é bastante
influenciada pelos pensamentos antigos, acrescida de um
fortalecimento do espírito crítico. O período do renascimento pode ser
comparado a “uma esplêndida flor brotada de improviso no meio do
deserto”.

Nesse período do pensamento renascentista, destaca-se o


pensamento de Maquiavel como o primeiro “a refletir sobre os
problemas da ciência política com o espírito da modernidade”.
Maquiavel revoluciona o pensamento político, o qual tratava
anteriormente das questões relativas à polis sob uma perspectiva
normativa. O pensamento de Maquiavel rompe com o ideal moral, com
fortes influências do cristianismo, presente na Idade Média

Jean Bodin aparece na França durante a época da


consolidação da monarquia absolutista. Bodin escreveu a teoria do
Estado Moderno, definindo a nova república. A principal atenção de
Bodin está relacionada à soberania, classificada como característica
essencial do poder da república.

O pensamento de Hobbes está relacionado com alguns


problemas vivenciados pelo homem:

Na teoria do conhecimento, Hobbes afirmava que a experiência


era a mãe das ciências, estudando o problema do conhecimento
humano a partir de sensações, movimento pelo qual os entes
sensíveis afetam o corpo humano. Para Hobbes, o Estado deve ser
forte, no mais alto grau, e assumir a forma de um poder absoluto, cuja
missão é a de manter a ordem e a paz interna.
O pensamento de Locke, no campo da filosofia e psicologia, é
de grande importância. Locke, em sua principal obra, intitulada
“Ensaio sobre o entendimento humano”, propõe-se a descobrir a
origem, certeza e extensão do conhecimento humano, sustentando a
ideia de que a experiência é a fonte única das nossas ideias. Para
Locke, “ninguém ao nascer, sadio, criança, louco, selvagem, idiota,
traz ideias já formuladas, porque, se assim fosse, não seria necessário
adquiri-las”.

Montesquieu, autor de Espírito das Leis, propõe uma definição


para as leis. “Leis são relações necessárias que derivam da natureza
das coisas”. A natureza das coisas para Montesquieu é tomada em
acepção totalmente empírica, resultante do passado histórico,
integrado por fatos físicos, por tendências e costumes. Montesquieu
contribuiu bastante para o mundo jurídico ao apresentar a teoria da
divisão tríplice dos poderes, em executivo, legislativo e judiciário, que
o autor hauriu do direito inglês, desenvolveu, exemplificou e exaltou.
Afastando-se de Aristóteles, Montesquieu distingue três formas de
governo: a República, a Monarquia e o Despotismo.

Rousseau possui a natureza, reino da liberdade, da


espontaneidade e da felicidade do homem, como ideal moral.
“Rousseau sustentou que as ciências, as letras e as artes são os
piores inimigos da moral, criando necessidades, que são fontes de
escravidão”. O principal problema fomentado pelo Contrato
Social é “encontrar uma forma de associação com toda a força
comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo
a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes”. Rousseau
acredita poder resolver a questão de como legitimar a situação do
homem que, tendo perdido sua liberdade natural, acha-se submetido
ao poder político.

Imanuel Kant é conhecido como o filósofo das três


críticas: Crítica da razão pura, Crítica da razão prática e Crítica do
juízo. Vale salientar que, para poder entender o pensamento de Kant,
é necessária uma maior atenção com a utilização semântica dos
vocábulos. Algumas palavras, em Kant, não apresentam o significado
usual. Por exemplo: crítica, em vez de significar censura ou
reprovação, significa estudo, investigação e pesquisa; puro não tem o
sentido de livre de impurezas, mas sim de independente da
experiência; portanto, Crítica da razão pura não possui o significado
usual das palavras, mas indica uma investigação da razão
funcionando independente da experiência.

FILOSOFIA DO DIREITO
O que é Filosofia do Direito?

Praticamente todos os autores que se debruçam sobre o objeto


jurídico com a finalidade de extrair dele uma leitura filosófica acabam
buscando uma resposta para essa pergunta. De alguma forma, esse
caminho acaba se tornando inevitável, pois, ao se perguntar sobre o
conceito de Filosofia do Direito, o pensador estabelece critérios e
bases que organizam e delimitam seu trabalho filosófico.

Galves (2002, p. 1) responde a essa pergunta de forma direta,


mas muito abrangente, para ele, “Filosofia do Direito é o estudo das
questões fundamentais do Direito como um todo. Fundamentais, por
que se trata, ao pé da letra, do alicerce, das questões básicas, sobre
cujas soluções se ergue todo o edifício do Direito. Como um todo,
porque se trata de questões cujas soluções empenham todo o corpo
do Direito, e, por isso, interessam todos os ramos em que se divide a
ciência jurídica”.

Nesse conceito, aparentemente modesto, veem-se dois


critérios exigidos da atividade filosófica: a necessidade de amplitude e
a necessidade de profundidade. Uma reflexão filosófica precisa ser
ampla, global, ou seja, deve ser um “tipo de reflexão totalizante, de
conjunto, porque examina os problemas relacionando os diversos
aspectos entre si” (ARANHA e MARTINS, 2009, p. 21). Evidentemente
o conceito em análise indica que essa totalidade buscada pela
reflexão filosófica deve estar direcionada ao Direito, de maneira que o
Filósofo do Direito esteja comprometido com a busca de uma visão
unitária e ampla do universo jurídico.

Voltada para o Direito é certo que a Filosofia deve


comprometer-se com a busca das fundamentações daqueles
elementos que dão sustentabilidade ao edifício jurídico. Levando-se
em conta essa metáfora da construção civil, sem boas bases, sem
fundações confiantes e bem feitas, nenhuma construção estaria a
salvo.
Outro conceito é apresentado por Reale (2002, p. 9), para
quem a Filosofia do Direito “é a própria Filosofia enquanto voltada
para uma ordem de realidade, que é a ‘Realidade Jurídica’”. Para esse
autor, a Filosofia do Direito não é uma disciplina específica, mas o que
se chama de Filosofia do Direito é o exercício completo da Filosofia
voltado para o objeto Direito.

Decorre desse conceito que a atividade Filosófica, quando


voltada para o Direito, leva consigo toda a tradição e força que vem da
Filosofia Geral. Reale (2002, p. 9) conclui sobre a filosofia do Direito
que “nem mesmo se pode afirmar que seja Filosofia especial, porque
é a Filosofia, na sua totalidade [...]”. De alguma forma, para esse autor
não há como falar de independência absoluta da Filosofia do Direito, o
que se pode falar é de Filosofia voltada para o Direito, ou seja, a
Filosofia do Direito, mesmo vista com certa autonomia tem vínculos
com a Filosofia Geral.

A atividade do Filósofo do Direito é um desdobramento da


atividade Filosófica propriamente dita, de maneira que se reconhece a
necessidade de um conhecimento prévio da História e das temáticas
da Filosofia Geral para se aprofundar na Filosofia do Direito. O jurista
autêntico mantem-se preocupado com os problemas da ordem. E, o
pensamento da ordem se inclui no pensamento da cultura. A cultura
que se nutre da ordem mental, da ordem das ideias, nas operações da
inteligência. A Filosofia do Direito que nos força refletir sobre a relação
constante entre a moral e o direito tão simplesmente resolvida
pelo positivismo jurídico.

Na medida em que o Direito é uma realidade produzida pela


razão humana, na medida em que ele é um ser cultural ele também é
objeto especialmente pensado pela Filosofia, o que leva à percepção
de que pode e deve existir uma Filosofia do Direito.

Pode-se dizer que uma das relações da Filosofia com o Direito


passará pela tentativa de avaliar, de sopesar a atuação do Direito
frente à sociedade a fim de contribuir para que ele, o Direito, busque
os aprimoramentos possíveis e necessários ao alcance de sua
primordial meta: organizar, de forma razoável, a sociedade
administrando de modo equânime as divergências de interesses dos
indivíduos que compõem a sociedade.

IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA DO DIREITO


A filosofia “funciona” como um processo, por meio do qual
sem negar ou questionar a validade da postura anterior, ressalta outro
ângulo. Surge como um aprender a pensar, ou seja, como um
desenvolvimento da capacidade de questionar, de rejeitar como dado
inequívoco a evidência imediata, pois o mais relevante não é conhecer
as respostas outrora apresentadas, mas tentar alcançar, através da
reflexão e questionamento já proposto, uma nova resposta. Submetê-
las a novas indagações e, conseqüentemente inserir-se no caminho
de novas questões. Inserir-se no exercício analítico-crítico do filosofar.
O papel da filosofia não é fazer pensar, mas fazer pensar melhor;
pois fortalece as habilidades de pensamento que ele já possui;
desafia-o a pensar sobre conceitos significantes da tradição filosófica,
incitando a fazer uso de habilidades do pensamento que precisam ser
aprendidas para pensar criticamente outras áreas do conhecimento,
inclusive o Direito.

Uma das metas da filosofia é compreender o significado da


existência do homem em suas diferentes interfaces, ou seja, uma
reflexão sobre a natureza humana e o processo de sua existência.
Nesse Contexto, uma questão que hoje se põe em evidência e desafia
nossa compreensão é: O que são os valores? Para que servem? E
como a ciência jurídica lida com valores; fundamentalmente, torna-se
uma das ciências mais propícias para se fazer uma abordagem
filosófica, posto que lida permanentemente com os valores da
sociedade. A filosofia toma como ponto de partida para suas
indagações jurídicas as últimas novidades estabelecidas pela ciência
do direito, sobre o sentido e os fins do direito; questionando-as e
criticando-as, contribuindo dessa forma para dar sentido e dinamismo;
por conseguinte, os valores fazem parte do mundo social e, por isso,
não podem ser ignorados nem pelo Direito nem pela Filosofia, que
aborda dentro dos enfoques e preocupações peculiares. Assim, é
sobre a base das verdades aceitas e postuladas pela ciência que a
Filosofia se constitui, questionando os princípios mesmos da ciência
jurídica e contribuindo de modo efetivo para que se renove,
escapando, através de uma crítica permanente de estagnar-se num
dogmatismo estéril e alienado. O homem é um ser que possui um
senso ético e uma consciência moral. Isso quer dizer que
constantemente ele avalia suas ações para saber se são boas ou
más, certas ou erradas, justas ou injustas. Além disso, faz juízos de
valor sobre o modo de ser e de agir dos demais seres humanos.
Nesse sentido, é possível afirmar que a ética ilumina a consciência
humana, sustenta e dirige as ações do homem, norteando sua
conduta individual e social. Dessa forma, a filosofia é um incentivo ao
estudante de direito a combater o que já está determinado, deixando
de ser um mero espectador da realidade jurídica atual, para participar
ativamente dos processos de mudança do ordenamento jurídico,
enquanto operador do direito, de maneira consciente.

FINALIDADES DA FILOSOFIA DO DIREITO


Há diversidade de posicionamentos quanto a finalidade
dessa disciplina, mas a possibilidade da divergência é força motriz
para a Filosofia do Direito, afinal, é da natureza do filósofo do
Direito converter “em problema o que para o jurista vale como
resposta ou ponto assente e imperativo” (REALE, 2002, p. 10).

Essa afirmação de Reale já oferece indicação acerca de


uma finalidade da Filosofia do Direito: problematizar. Mas o que
vem a ser problematizar?

Problematizar é o ato de transformar em questionamento


algo tido como seguro e resolvido. É a capacidade de intuir uma
situação problemática que se ofusca por traz das aparências
calmas do cotidiano. É a habilidade de transformar em uma
pergunta bem elaborada as indagações que perturbam as pessoas.
É perguntar sobre as razões que fundamentam uma determinada
prática e transcendê-la. É, enfim, colocar um ponto de interrogação
inesperado onde já descansa tranqüilo e satisfeito um ponto final.

A tarefa de problematizar imposta à Filosofia do Direito não


pode ser entendida de forma pejorativa, como se a Filosofia
estivesse preocupada em se tornar obstáculo para o
desenvolvimento do Direito. É exatamente o contrário que se
pretende. Problematizar, aqui, tem o intuito de instigar o direito a
evoluir.

Quando a Filosofia, diante de uma sentença penal


condenatória, pergunta, por exemplo, sobre da legitimidade do
Estado, quando exerce o poder de punir, ela coloca para o Direito,
para os juristas e para os cidadãos a necessidade não só de
cumprirem de forma prática a tarefa de punir, mas provoca os
envolvidos a apresentarem as razões de ser do direito de punir.
Ora, esses pressupostos já são dados como certos. Porém, ao
repensar sobre eles, o Filósofo do Direito viabiliza um
amadurecimento das convicções já existentes ou abre
possibilidades para novas perspectivas. Eis um exemplo de
problematização.
A necessidade de problematizar é ratificada por Cretella
Junior (1993, p. 4) de forma absolutamente direta: “Problematizar o
Direito – eis o objetivo da filosofia do Direito”. Partindo do princípio
que o objetivo é uma seta que indica a qualquer ciência o rumo
para onde deve caminhar, nessa afirmação tem-se que a Filosofia
do Direito deve almejar ser problematizadora. Deve buscar colocar
em xeque o fenômeno jurídico, sempre levando em consideração
que os objetivos das ciências não são para serem alcançados, mas
para serem buscados

Além de problematizar, cabe à Filosofia do Direito também a


tarefa de estabelecer uma investigação conceitual do direito: Pode-
se dizer, “resumidamente, que a Filosofia Jurídica consiste na
pesquisa conceitual do direito” (NADER, 2005, p. 10). O conceito “é
a representação dum objeto pelo pensamento, por meio de suas
características gerais”.

Quando se propõe a buscar os conceitos dos quais o


fenômeno jurídico está revestido, o filósofo do Direito cumpre a
tarefa de desvendar o sentido geral de cada elemento do Direito.
Ao conceituar, consegue fazer emergir algo da essência de cada
realidade jurídica. Elucida a identidade de cada instituto.
Conceituar, em maior ou menor profundidade, é imprescindível
para estabelecer sentido e aplicabilidade ao Direito. O filósofo do
Direito almeja purificar cada vez mais os conceitos a fim de que
haja maior lucidez em sua utilização.

É importante fazer uma observação a fim de que não se crie


ilusões em relação a essa finalidade conceitual que não deve ser
entendida pelo filósofo do Direito como uma tarefa que se restrinja
à busca dos conceitos de determinado instituto jurídico nos
dicionários especializados. Ao pensador do Direito compete
entender a finalidade conceitual como sendo o desejo de ‘escavar’
o significado, de exteriorizar elementos que estão internalizados
nas profundezas de determinada manifestação jurídica.

Trata-se de uma tarefa que exige do filósofo do Direito uma


visão bastante apurada da realidade humana. Conceituar um
instituto jurídico, por exemplo, implica levar em conta suas origens
históricas, filosóficas, culturais; impõe conseguir relacioná-lo a
outras realidades a ele afins; obriga ter noção dos valores que o
acompanham e lhe dão contornos.

Conceituar é, portanto, uma tarefa de alta complexidade e


muito fatigante ao filósofo que se propõe a realizá-la de forma mais
completa. Talvez seja em função de desafios como esses que
Nader (2005, p. 3) fez a seguinte advertência logo nas primeiras
linhas de sua obra que trata de Filosofia do Direito: “A
cultura iusfilosófica somente prospera no espírito afeito à reflexão e
aberto aos grandes temas de que envolvam a natureza e o
homem”. Conceituar é instrumentalizar e canalizar uma diversidade
de conhecimentos em prol da elucidação de certa realidade jurídica
e, para isso, é mister que o filósofo do Direito esteja aberto aos
temas que envolvem a totalidade da realidade

Outra finalidade almejada pela Filosofia do Direito é a de ser


uma permanente julgadora do Direito, especialmente do Direito
positivo. Para os positivistas jurídicos, o Direito positivado pelo
Estado goza de credibilidade suficiente para que seja aplicado sem
que sobre ele sejam feitos quaisquer questionamentos, mas
surgem, filosoficamente falando, perguntas capazes de revelar
fragilidades nessa convicção.

CONCLUSÃO
Com base no exposto podemos concluir que a Filosofia do
Direito é uma parte da Filosofia Geral que se dedica a desvelar os
fenômenos da Ciência do Direito, preocupando-se sobre tudo com a
questão ética do Direito, buscando os fundamentos deste para o
benefício do homem. Com isto a Filosofia do Direito se constitui como
uma constante investigação crítica do fenômeno jurídico. Ao se aplicar
a Filosofia à prática jurídica e ao Direito, percebe-se que este se torna
mais condizente com o pensar e proceder humano, sendo, por
conseguinte, mais justo e aceitável; posto que a Filosofia seja
intimamente ligada à sabedoria, à ética, à moral, e ao comportamento.

Resta ainda a indiscutível a importância da disciplina de


Filosofia do Direito, sendo esta compreendida como uma reflexão
crítica das verdades jurídicas que a todo momento nos são
apresentadas e impostas. Desta forma, tal disciplina torna-se
essencial e indispensável no curso de Direito sendo necessário que
seja apresentada o quanto antes aos ingressantes na seara jurídica,
pois as mesmas proporcionam uma visão crítica do estudo das
normas, objetivando alcançar o verdadeiro significado, ou como
deveria significar, para que reflitam os fatos sociais. Dessa forma, a
filosofia é um incentivo ao estudante de direito a combater o que já
está determinado, deixando de ser um mero espectador da realidade
jurídica atual, para participar ativamente dos processos de mudança
do ordenamento jurídico, enquanto operador do direito, de maneira
consciente.

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