Societário e a Reforma
da Lei das S/A – Vol. III
Interpretação da Lei nº 11.638/07
Direito Tributário,
Societário e a Reforma
da Lei das S/A – Vol. III
Interpretação da Lei nº 11.638/07
Revisão gramatical:
Capa:
ISBN 85-7674-
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busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).
Combinação de
negócios: o ganho por
compra vantajosa
1 Lei nº 6.404/1976, art. 177, §5º – As normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários a que
se refere o §3º deste artigo deverão ser elaboradas em consonância com os padrões internacionais
de contabilidade adotados nos principais mercados de valores mobiliários.
2 Lei nº 6.404/1976, art. 177, §3º – As demonstrações financeiras das companhias abertas observarão,
ainda, as normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários e serão obrigatoriamente
submetidas a auditoria por auditores independentes nela registrados.
3 O caput do art. 10-A da Lei nº 6.385/1976, acrescido pela Lei nº 11.638/2007, permite à CVM
celebrar convênio com o CPC: Art. 10-A. A Comissão de Valores Mobiliários, o Banco Central
do Brasil e demais órgãos e agências reguladoras poderão celebrar convênio com entidade que
tenha por objeto o estudo e a divulgação de princípios, normas e padrões de contabilidade e
de auditoria, podendo, no exercício de suas atribuições regulamentares, adotar, no todo ou em
parte, os pronunciamentos e demais orientações técnicas emitidas.
4 Lei nº 6.404/1976, art. 177, §6º – As companhias fechadas poderão optar por observar as
normas sobre demonstrações financeiras expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários para
as companhias abertas.
Negócios conceituada pelo CPC 15, sempre que houver aquisição de controle6
de um negócio7 .
a. Identificação da Adquirente
A intenção do CPC 15 é a de que as transações que resultem em
Combinação de Negócios sejam contabilizadas considerando-se a sua essência
econômica, independentemente da forma jurídica da operação (incorporação,
fusão, aquisição, etc.). Além disso, deverá ser sempre identificada a entidade
adquirente e o negócio adquirido.
Será utilizada a orientação da IAS 27 – Demonstrações Financeiras
Consolidadas e Separadas (IAS 27) para se identificar o adquirente que obteve
o controle da adquirida. A IAS 27 define controle como o poder de gerir as
políticas financeiras e operacionais de uma entidade de forma a obter benefícios
das suas atividades.
Se a identificação do adquirente não for possível pela IAS 27, dever-se-á
verificar o exercício do controle de outras formas: (i) se a combinação de
negócios foi efetuada pela transferência de caixa ou outros ativos ou assunção
de passivos, a adquirente será a entidade que transferiu caixa, outros ativos ou
assumiu passivos, e (ii) se a combinação de negócios foi efetuada pela troca
de participações patrimoniais, o adquirente será a entidade que emitiu suas
participações patrimoniais, entretanto, (a) a adquirente poderá ser a entidade
combinante cujos proprietários, como um grupo, detêm a maioria do direito de
voto na entidade combinada, ou (b) a adquirente, no caso de controle difuso,
será a entidade combinante cujo único proprietário ou grupo organizado detiver
a maior participação minoritária com direito a voto na entidade combinada, ou
(c) a adquirente será a entidade combinante cujos proprietários têm a capacidade
de eleger, nomear ou destituir a maioria dos membros da administração da
combinada, ou (d) se a adquirente por meio de sua administração exercer o
domínio da administração da combinada, ou (e) a adquirente será a entidade
6 Controle é definido no CPC 15 como sendo “o poder para governar a política financeira e
operacional da entidade de forma a obter benefício de suas atividades”. Não há modificação
dessa definição na minuta de revisão em Audiência Pública.
7 Negócio é definido no CPC 15 como sendo “um conjunto integrado de atividades e ativos capaz
de ser conduzido e gerenciado para gerar retorno, na forma de dividendos, redução de custos ou
outros benefícios econômicos, diretamente a seus investidores ou outros proprietários, membros ou
participantes”. Não há modificação dessa definição na minuta de revisão em Audiência Pública.
que paga prêmio sobre o valor justo antes da combinação das participações
patrimoniais da outra entidade ou entidades combinantes. Outra forma de se
definir a adquirente é pelo porte relativo (de ativos, receitas ou lucros) que será
significativamente superior ao da outra entidade ou das entidades combinantes; ou
em caso que envolva mais de uma entidade combinante, a adquirente poderá ser
aquela que começou a combinação, levando-se em consideração o porte relativo
das combinantes. Por outro lado, a entidade criada com o propósito de realizar
a combinação de negócios não é necessariamente a adquirente do controle, que,
nesse caso, será aquela que se enquadre em um dos pontos acima mencionados.
b. Aquisições reversas
Exemplo claro de aquisição reversa ocorre quando uma companhia fechada
que quer abrir o capital tem suas ações incorporadas (ou adquiridas na linguagem
genérica adotada na combinação de negócios) por uma companhia aberta. Nesse
caso, a companhia aberta legalmente adquire a companhia fechada. Entretanto,
para fins contábeis, a adquirente será aquela que se enquadra nas formas de
controle mencionadas no parágrafo acima. A adquirente contábil, do exemplo
acima, será a companhia fechada, e a adquirida contábil a companhia aberta.
Deve-se acrescentar ainda que a adquirida contábil deverá atender à definição
de negócio para que a transação seja contabilizada como uma aquisição reversa.
Na aquisição reversa, a adquirente contábil não emite contrapartida pela
adquirida. A adquirida contábil emite ações aos proprietários da adquirente
contábil. A determinação do valor justo na data de aquisição da contrapartida
transferida pela adquirente contábil, por sua participação na adquirida contábil,
será baseada no número de participações patrimoniais que a controlada legal
teria que ter emitido para dar aos proprietários da controladora legal o mesmo
percentual de participação patrimonial na entidade combinante que resulta da
aquisição reversa. Assim, o valor justo do número de participações patrimoniais
calculado dessa forma pode ser usado como o valor justo da contrapartida
transferida em troca da adquirida.
Em diversos casos, alguns dos proprietários da adquirida legal (adquirente
contábil) podem não trocar participações patrimoniais por participações
patrimoniais da controladora legal (adquirente contábil). Nesse caso, esses
proprietários são tratados como participação não-controladora.
As demonstrações financeiras elaboradas após uma aquisição reversa são
emitidas em nome da controladora legal (adquirida contábil), constando nas
c. Operações societárias
A obtenção do controle de um negócio pode ser alcançada de diversas
formas, quais sejam: (i) pela aquisição de participação (originária ou derivada)
societária que garante o controle do capital social de outra entidade; (ii) pela
compra de todos ou parte dos seus ativos com assunção ou não de parte ou do
todo de seus passivos; (iii) pela incorporação das ações de uma entidade; (iv)
pela incorporação de uma entidade; (v) pela fusão; (vi) pela cisão para atingir
as hipóteses anteriores ou, ainda, (vii) pela aquisição, por qualquer outra forma,
de alguns dos ativos líquidos que, em conjunto, formem um ou mais negócios.
A Combinação de Negócios pode tornar-se também efetiva por meio
(i) de emissão de títulos representativos do capital próprio (emissão de ações
como forma de pagamento) para entrega aos acionistas ou cotistas da entidade
adquirida; (ii) de transferência de ativos (caixa, equivalentes de caixa ou outros
ativos líquidos); (iii) de operações de cisão, fusão, incorporação ou incorporação
de ações; (iv) de simples aquisição de participação societária mediante o
pagamento em caixa ou assunção de obrigações e, ainda, (v) de uma combinação
dessas ou outras alternativas.
Assim, dito de outra forma, a Combinação de Negócios pode ser
estruturada de diversas formas por razões legais, podendo envolver (i) a compra
por parte de uma entidade do capital próprio de outra entidade; (ii) a compra
de todos os ativos líquidos de outra entidade; (iii) a assunção de passivos de
outra entidade, ou (iv) a compra de alguns dos ativos líquidos de outra entidade
que em conjunto formem um ou mais negócios. Pode tornar-se efetiva (i)
pela emissão de ações; (ii) pela transferência de caixa; (iii) pela transferência
de equivalentes de caixa ou outros ativos, ou (iv) por uma combinação destes.
A transação pode ser (i) entre os acionistas das entidades sob controle
comum ou (ii) entre uma entidade e os acionistas de outra entidade. Pode
envolver o estabelecimento de uma nova entidade para (i) controlar as entidades
sob controle comum; (ii) deter os ativos líquidos transferidos, ou (iii) realizar
13 Os ativos e passivos afetados são aqueles enquadrados na IAS 12 – Imposto sobre Renda, na IAS
19 – Benefícios aos Empregados, na IFRS 2 – Pagamento baseado em ações e na IFRS 5 – Ativos
não correntes mantidos para venda e operações descontinuadas.
b. Período de mensuração
O período de mensuração ocorrerá após a aquisição. É um período razoável
para a adquirente levantar informações necessárias para identificar e mensurar
os ativos identificáveis adquiridos, a contrapartida transferida e o ágio resultante
ou o ganho em uma compra vantajosa. Se essas informações não estiverem
disponíveis na data da aquisição, a adquirente deverá determinar e reconhecer
valores provisórios até que as informações necessárias se tornem disponíveis.
Esse período se encerra a partir do momento em que a adquirente recebe
as informações necessárias sobre fatos e circunstâncias existentes na data de
aquisição ou toma conhecimento de que as informações não podem ser obtidas.
Entretanto, esse período não deve exceder um ano da data de aquisição.
Os ajustes ajudam a resolver as preocupações referentes à qualidade e à
disponibilidade de informações na data da aquisição quanto aos valores justos.
A preocupação é ainda maior quanto a passivos contingentes e à contrapartida
contingente, que podem afetar o valor do ágio ou do ganho reconhecido em
uma compra vantajosa.
O objetivo do período de mensuração é proporcionar um período para
obtenção de informações necessárias para mensurar o valor justo do ativo na
data de aquisição. A determinação de liquidação final de contingência ou de
outro item não são essenciais, pois incertezas sobre a época e o valor de fluxos
de caixa fazem parte da mensuração do valor justo de ativos e passivos.
5. Divulgações
A adquirente deverá divulgar as informações referentes à combinação de
negócios, de forma que o mercado em geral possa avaliar sua natureza e o efeito
financeiro ocorrido durante o período de relatório financeiro ou após a data do
relatório. Mas, tudo isso, antes da emissão das demonstrações financeiras. Os
ajustes decorrentes de combinação de negócio ocorridas no período corrente
ou em períodos anteriores deverão ser divulgados ao mercado.
Quando a data da aquisição de combinação de negócios for posterior ao
final do período de reporte, mas antes de as demonstrações contábeis estarem
autorizadas para publicação, o adquirente deve divulgar as informações requeridas
conforme exporemos em seguida, a menos que a contabilização inicial da
combinação estiver incompleta no momento em que as demonstrações contábeis
forem autorizadas para publicação. Nessa situação, o adquirente deve descrever
quais divulgações não puderam ser feitas e as respectivas razões para tal.
por ser uma transação em condições de venda forçada ou outra razão, mesmo
que a transação se dê entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e
independentes entre si, com ausência de fatores que pressionem a liquidação
da transação ou que caracterizem uma transação compulsória.
Determinou o art. 20 do Decreto-Lei 1.598, de 26 de dezembro de 1977,
que o custo de aquisição de participação em uma sociedade por outra deve ser
desdobrado, apontando-se o valor de Patrimônio Líquido Contábil (PLC) do
investimento, e a diferença entre esse número e o custo de aquisição14. Referida
diferença constituía o ágio (quando custo de aquisição for maior que o PLC)
ou deságio (quando o custo de aquisição for menor que o PLC).
Quando o custo de aquisição era maior que o PLC, gerando, portanto,
ágio, este se justificava pela expectativa de rentabilidade futura.15 O ágio (valor
pago – PLC) transformava-se, então, “em um ativo diferido da incorporadora,
o qual continuava a ser amortizado mensalmente no mesmo ritmo previsto
para a amortização do ágio que lhe deu origem.”16
Quando o custo de aquisição era menor que o PLC, gerava-se um deságio,
presumindo-se que a companhia adquirente fez um bom negócio, denominado,
portanto, compra vantajosa.
O deságio, por sua vez, ocorre quando o valor líquido dos ativos
identificáveis e passivos assumidos exceder (i) a contraprestação transferida em
troca do controle da adquirida, para a qual se exige o “valor justo na aquisição”,
somada ao (ii) montante de qualquer participações de não controladores na
adquirida, se houver, e ao (iii) valor justo, na data da aquisição, da participação
do adquirente na adquirida imediatamente antes da combinação, em caso de
combinação de negócios realizada em estágios.
Por outro lado, com a convergência com o IFRS, o ágio passou a ser a
diferença entre o valor efetivamente pago e o “valor justo” do bem adquirido.
14 A norma foi reproduzida no art. 385 do Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999 (Regulamento
do Imposto de Renda – RIR/99).
15 Nos termos exatos do CPC 04: “O ágio derivado da expectativa de rentabilidade futura (goodwill)
reconhecido em uma combinação de negócios é um ativo que representa benefícios econômicos
futuros gerados por outros ativos adquiridos em uma combinação de negócios, que não são
identificados individualmente e reconhecidos separadamente”.
16 BRIGAGÃO, Gustavo, e SCHARFSTEIN, Carlos. Aproveitamento fiscal de ágio fundamentado em
perspectiva de rentabilidade futura, in ROCHA, Sérgio André. Direito Tributário, Societário e a
Reforma da Lei das S/A. São Paulo: Quartier Latin, 2010, p. 257.
a. Compra vantajosa
As compras vantajosas são consideradas operações anômalas. Normalmente,
não há transações em que proprietários vendem consciente e voluntariamente
ativos ou negócios a preços abaixo de seus valores justos. Por seu turno, podem
existir hipóteses em que isso ocorra, tais como liquidação forçada ou venda por
necessidade na qual os proprietários precisam vender um negócio com mais
rapidez, o que pode resultar em um preço inferior ao valor justo.
O ganho econômico é inerente em uma compra vantajosa. Isso ocorrerá
quando, na data da aquisição, a adquirente tem um ganho no valor pelo
qual o valor justo do que é adquirido excede o valor justo da contrapartida
transferida. Entretanto, a aparência de uma compra vantajosa sem evidência
das razões subjacentes é preocupante, pois poderia ser decorrente da
existência de erros de mensuração do ativo ou negócio. Em razão disso,
sugere-se que seja verificado se houve erros na mensuração dos valores
justos da contrapartida paga pelo negócio e dos ativos adquiridos ou dos
passivos assumidos.
Nesse sentido, deve-se distinguir entre o que seja compra vantajosa ou
erros de mensuração. Os erros de mensuração, intencionais ou não, podem ser
minimizados por controle interno e uso de peritos ou empresas avaliadoras
e auditores externos. O IFRS optou por normatizar, pois normas para evitar
abusos inevitavelmente cancelariam a neutralidade. Exige-se que a adquirente
reavalie se tinha identificado corretamente todos os ativos adquiridos e
passivos assumidos antes de reconhecer o ganho de uma compra vantajosa. Tal
reavaliação compreenderia os ativos adquiridos e passivos assumidos, bem como
a participação não-controladora na adquirida (se houver), além da contrapartida
transferida; e na combinação realizada em etapas, a reavaliação da participação
patrimonial detida anteriormente pela adquirente na adquirida.
O objetivo é garantir que as informações disponíveis tenham sido
adequadamente consideradas na identificação dos itens a serem mensurados e
reconhecidos e na determinação dos valores justos.
O ganho da compra vantajosa e o ágio não podem ser reconhecidos
em uma mesma combinação de negócios. Assim, uma compra vantajosa é
mensurada com o excedente do valor líquido dos valores na data de aquisição
dos ativos identificáveis adquiridos e dos passivos assumidos sobre o valor justo
na aquisição da contrapartida transferida, somados ao valor reconhecido de
7. Conclusão
O ganho referente à compra vantajosa foi introduzido nas práticas
contábeis brasileiras em razão do processo de convergência dessas práticas
contábeis com normas internacionais de contabilidade do IFRS. Foi um
passo importante, pois, no passado, mesmo em se tratando de processos de
combinação de negócios envolvendo partes conhecedoras, independentes
entre si e interessadas em uma transação em condições de mercado (merge of
equals), havia um entendimento da CVM e das práticas contábeis de que essa
diferença resultante da combinação de negócios por compra vantajosa deveria
ser registrada como deságio na adquirente. Com o processo de convergência com
as normas internacionais de contabilidade, o adquirente passou, diferentemente
do tratamento anterior, a ter a obrigação de reconhecer o ganho resultante no
resultado na data da aquisição, devendo esse ganho ser atribuído ao adquirente.
A entidade adquirente, ao contabilizar combinação de negócios anteriores à
vigência do CPC 15, poderá ter reconhecido um deságio por expectativa de
prejuízos futuros (diferença negativa entre o custo da participação adquirida
e a parte da adquirente no valor justo dos ativos líquidos da adquirida) ou por
compra vantajosa. Se isso ocorrer, a entidade adquirente deverá baixar o valor
contábil desse deságio no início do primeiro período de reporte anual em que
o CPC 15 foi aplicado e fazer o ajuste correspondente em lucros acumulados
no balanço patrimonial de abertura naquela data.
O Aproveitamento
Fiscal do Ágio e
as Alterações da
Introdução
Como é cediço, a Lei nº 11.638/07, resultante do Projeto de Lei
nº 3.741/001, introduziu importantes alterações no texto da Lei nº 6.404/76,
tendo por objetivo principal adequar as práticas contábeis brasileiras àquelas
ditadas pelo International Accounting Standards Board (IASB) e observadas
internacionalmente.
A conclusão de tal processo de harmonização das práticas contábeis, dentre
os seus principais efeitos, será o aumento da transparência das informações
divulgadas pelas companhias em geral, o que possibilitará a comparabilidade
das demonstrações financeiras das empresas nacionais com aquelas divulgadas
por empresas estrangeiras. Isso, sem dúvida, será um importante facilitador da
análise das informações por seus usuários.
Por outro lado, por conta do lapso de tempo necessário à tramitação do
projeto no Congresso Nacional, as alterações promovidas ao texto da Lei nº
6.404/76, a par dos inegáveis avanços, não eliminaram todas as barreiras que
se impunham ao processo de convergência.
De fato, as normas internacionais avançaram, enquanto o projeto manteve-
se fiel às regras vigentes alhures à época de sua proposição, como bem advertem
Sérgio de Iudícibus, Eliseu Martins e Ernesto Rubens Gelbcke2: “um problema
surgiu do largo tempo que no então Projeto de Lei nº 3.741/00 levou no congresso
para se transformar na Lei nº 11.638/07: as normas internacionais evoluíram, e
sofreram grandes modificações em função inclusive da adesão da União Europeia,
mas o projeto de Lei não capturou essas inovações. Assim, a Lei nº 11.638/07 trouxe
grande evolução nas práticas contábeis no sentido da convergência internacional,
mas com algumas defasagens e alguns conceitos ultrapassados.”
1 Sobre os objetivos buscados pelo referido projeto de lei, Hugo Rocha Braga e Marcelo Cavalcanti
Almeida, atestam o seguinte:
“A finalidade maior do Projeto de Lei nº 3.741/2000 era possibilitar a eliminação de algumas
barreiras regulatórias que impediam a inserção total das companhias abertas no processo de
convergência contábil internacional, além de aumentar o grau de transparência das demonstrações
financeiras em geral, inclusive em relação às chamadas sociedades de grande porte não constituídas
sob a forma de sociedades por ações.” (BRAGA, Hugo Rocha e ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti In:
Mudanças Contábeis na Lei Societária – Lei nº 11.638, de 28-12-2007. São Paulo: Editora Atlas,
2008, p. 2.)
2 IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARTINS, Eliseu e GELBCKE, Ernesto Rubens In: Manual de Contabilidade
das Sociedades por Ações (Aplicável às Demais Sociedades) – Suplemento Rumo às Normas
Internacionais. 2ª Ed. São Paulo: Editora Atlas, 2009, p. 5.
6 “30. As mudanças na participação relativa da controladora sobre a controlada que não resultem em
perda de controle devem ser contabilizadas como transações de capital (ou seja, transações com
sócios, na qualidade de proprietários), e não no resultado ou no resultado abrangente.
31. Em tais circunstâncias, o valor contábil da participação da controladora e o valor contábil da
participação dos não controladores devem ser ajustados para refletir as mudanças nas suas participações
relativas na controlada. Qualquer diferença entre o montante pelo qual a participação dos não
controladores tenha sido ajustada e o valor justo da quantia recebida ou paga deve ser reconhecida
diretamente no patrimônio líquido atribuível aos proprietários da controladora.”
7 “65. (...) as negociações subsequentes em que a controladora adquire, dos sócios não controladores
desse mesmo patrimônio, novos instrumentos patrimoniais (ações ou cotas, por exemplo) de uma
controlada, passam a se caracterizar como sendo transações entre a entidade e seus sócios, a
não ser que seja uma alienação de uma investidora que caracterize a perda de controle de sua
controlada. Ou seja, trata-se de operações que se assemelham àquela em que a entidade adquire
ações ou cotas de seus próprios sócios.
66. Por isso o Pronunciamento Técnico CPC 36 – Demonstrações Consolidadas requer, em seus
itens 30 e 31, que as mudanças na participação relativa da controladora sobre uma controlada
que não resultem em perda de controle devem ser contabilizadas como transações de capital
(ou seja, transações com sócios, na qualidade de proprietários) nas demonstrações consolidadas.
Em tais circunstâncias, o valor contábil da participação da controladora e o valor contábil da
participação dos não-controladores devem ser ajustados para refletir as mudanças nas participações
relativas das partes na controlada. Qualquer diferença entre o montante pelo qual a participação
dos não-controladores tenha sido ajustada e o valor justo da quantia recebida ou paga deve ser
reconhecida diretamente no patrimônio líquido atribuível aos proprietários da controladora, e
não como resultado.”
8 “Art. 13 - Para efeito de contabilização, o custo de aquisição de investimento em coligada e
controlada deverá ser desdobrado e os valores resultantes desse desdobramento contabilizados
em sub-contas separadas:
(i) Equivalência patrimonial baseada em demonstrações contábeis elaboradas nos termos do art.
10; e
(ii) Ágio ou deságio na aquisição ou na subscrição, representado pela diferença para mais ou para
menos, respectivamente, entre o custo de aquisição do investimento e a equivalência patrimonial.”
10
Em que pese o método da aquisição importar na mensuração dos ativos e passivos que compõe
o negócio adquirido pelo seu valor justo, para fins de apuração do montante a ser registrado em
linha de investimento no ativo da adquirente e eventual goodwill (ou, conforme o caso, ganho
por compra vantajosa), a combinação de negócios não afeta o valor do patrimônio líquido da
sociedade adquirida. Ao contrário, as regras contábeis internacionais (editadas pelo IASB) não
contemplam o chamado “push down accounting”, isto é, a transferência, para a contabilidade da
sociedade investida, dos resultados obtidos na mensuração do valor justo de seus ativos e passivos
em conexão a uma combinação de negócios. Esta constatação pode ser extraída do item 45, da
Interpretação Técnica ICPC 09:
“45. (...) internacionalmente, os princípios contábeis geralmente aceitos em alguns países
admitem o tratamento do push down accounting, sempre em situações muito restritas, mas as
regras internacionais de contabilidade do IASB não prevêem essa forma de contabilização. (...)
Do ponto de vista contábil, e no nível de apresentação das demonstrações contábeis individuais
da entidade adquirida, a troca de acionistas controladores não deve implicar no estabelecimento
de uma nova base contábil dos ativos e passivos da adquirida ou na contabilização de ativos
intangíveis antes inexistentes, ficando essa nova base de mensuração aplicável apenas no nível
das demonstrações contábeis (individuais e consolidadas) da adquirente.”
13 Esta é a orientação que se extrai da conjugação dos itens 10, 18 e 19, do CPC 15:
“10. A partir da data de aquisição, o adquirente deve reconhecer, separadamente do ágio por
expectativa de rentabilidade futura (goodwill), os ativos identificáveis adquiridos, os passivos
assumidos e quaisquer participações de não-controladores na adquirida. O reconhecimento de
ativos identificáveis adquiridos e de passivos assumidos está sujeito às condições especificadas
nos itens 11 e 12.
18. O adquirente deve mensurar os ativos identificáveis adquiridos e os passivos assumidos pelos
respectivos valores justos da data da aquisição.
19. Em cada combinação de negócios, o adquirente deve mensurar qualquer participação de
não-controladores na adquirida pelo valor justo dessa participação ou pela parte que lhes cabe
no valor justo dos ativos identificáveis líquidos da adquirida.”
17 MACHADO, Paulo José; MORAES, Wilson José Osório e RELVAS, Tânia Regina Sordi. In: Manual
de Normas Internacionais de Contabilidade, Capítulo 15: “IFRS 3 – Combinações de Negócios”,
Editora Atlas, São Paulo: 2009, p.193.
18 Essa conclusão pode ser extraída do item 45 do Apêndice B, do CPC 15:
“B45. O valor justo por ação da participação do controlador pode ser diferente do valor justo
por ação da participação de não-controladores. A principal diferença, provavelmente, decorre
do prêmio pelo controle incluído no valor justo por ação da participação do adquirente na
adquirida ou, de forma contrária, do desconto por ausência de controle no valor justo por ação
da participação de não-controladores.”
que participe com 20% (vinte por cento) ou mais do capital social, e em sociedades controladas,
serão avaliados pelo valor de patrimônio líquido, de acordo com as seguintes normas:
I - o valor do patrimônio líquido da coligada ou da controlada será determinado com base em
balanço patrimonial ou balancete de verificação levantado, com observância das normas desta
Lei, na mesma data, ou até 60 (sessenta) dias, no máximo, antes da data do balanço da companhia;
no valor de patrimônio líquido não serão computados os resultados não realizados decorrentes
de negócios com a companhia, ou com outras sociedades coligadas à companhia, ou por ela
controladas;
II - o valor do investimento será determinado mediante a aplicação, sobre o valor de patrimônio
líquido referido no número anterior, da porcentagem de participação no capital da coligada ou
controlada;
III - a diferença entre o valor do investimento, de acordo com o número II, e o custo de aquisição
corrigido monetariamente; somente será registrada como resultado do exercício:
a) se decorrer de lucro ou prejuízo apurado na coligada ou controlada;
b) se corresponder, comprovadamente, a ganhos ou perdas efetivos;
c) no caso de companhia aberta, com observância das normas expedidas pela Comissão de Valores
Mobiliários.
§ 1º Para efeito de determinar a relevância do investimento, nos casos deste artigo, serão
computados como parte do custo de aquisição os saldos de créditos da companhia contra as
coligadas e controladas.
§ 2º A sociedade coligada, sempre que solicitada pela companhia, deverá elaborar e fornecer o
balanço ou balancete de verificação previsto no número I.” (grifos nossos)
21 “Art 20 - O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor
de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de
aquisição em:
I - valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no
artigo 21; e
II - ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento
e o valor de que trata o número I.
§ 1º - O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas
do custo de aquisição do investimento.
§ 2º - O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento
econômico:
a) valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo
registrado na sua contabilidade;
b) valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos
exercícios futuros;
c) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas.
§ 3º - O lançamento com os fundamentos de que tratam as letras a e b do § 2º deverá ser baseado
em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração.”
25 DONIAK JR., Jimir. In: Análise da Amortização de Ágio frente às Leis nºs 11.638/07 e 11.941/09,
Direito Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A – Vol. II, Editora Quartier Latin, São Paulo:
2010, p. 312.
26 “Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e ordem lógica,
observadas, para esse propósito, as seguintes normas: (...)” [Grifos nossos]
adquirida, haverá ágio, cuja amortização será passível de dedução fiscal, uma
vez observados os requisitos impostos pela legislação tributária.
Qualquer construção que se pretenda fazer acerca da existência de
sobreprincipios que orientam ou graduam a aplicação de quaisquer regras legais,
prescinde da verificação de espaço normativo para tanto. Ali, onde houver regra
de densidade normativa absoluta, não há que se falar em espaço para integração,
ao menos na dimensão que parte minoritária da doutrina pretenda27.
O que se pode e deve avaliar, em cada caso, é a correção e a legitimidade
dos instrumentos utilizados para a avaliação do negócio e, consequentemente,
do ágio, bem como os critérios para a sua aferição. Aliás, não há como se
negar que, se a lei contábil traz conceito novo, de valor justo, como forma de
avaliação de ativos e passivos, nada impede, ao contrario, impõe-se que estes
sejam utilizadas nos estudos e laudos que suportem o sobrevalor pago por
determinada participação societária28.
34 A redação do inciso III, do artigo 7º, da Lei nº 9.532/97 foi alterada pela Lei nº 9.718/98:
“Art. 7º (...)
III - poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea “b” do § 2,
do art. 20 do Decreto-lei nº 1.598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro
real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no
máximo, para cada mês do período de apuração; (...)”
35 OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. In: Fundamentos do Imposto de Renda. São Paulo: Editora Quartier
Latin, 2008, p. 770.
37 De se notar que, ainda sob a égide da Instrução CVM nº 247/96, o ágio qualificável, para fins fiscais,
na alínea “c”, do § 2º, do Decreto-Lei nº 1.598/77 (fundo de comércio, intangíveis ou outras razões
econômicas), não mais subsistia para fins societários (art. 14, § 5º, da ICVM nº 247/96). Apenas
o ágio fundado em mais-valia de ativos ou rentabilidade futura, inclusive atrelada a contratos
de concessão, permissão ou direitos de exploração, poderia ser registrado e, consequentemente,
amortizado.
38 “Art. 6º (...)
§ 3º - Na determinação do lucro real poderão ser excluídos do lucro líquido do exercício:
a) os valores cuja dedução seja autorizada pela legislação tributária e que não tenham sido
computados na apuração do lucro líquido do exercício;
b) os resultados, rendimentos, receitas e quaisquer outros valores incluídos na apuração do lucro
líquido que, de acordo com a legislação tributária, não sejam computados no lucro real;
c) os prejuízos de exercícios anteriores, observado o disposto no artigo 64.”
39 “Art 8º - O contribuinte deverá escriturar, além dos demais registros requeridos pelas leis comerciais
e pela legislação tributária, os seguintes livros:
I - de apuração de lucro real, no qual:
a) serão lançados os ajustes do lucro líquido do exercício, de que tratam os §§ 2º e 3º do artigo 6º;
b) será transcrita a demonstração do lucro real (§ 1º);
c) serão mantidos os registros de controle de prejuízos a compensar em exercícios subseqüentes
(art. 64), de depreciação acelerada, de exaustão mineral com base na receita bruta, de exclusão
por investimento das pessoas jurídicas que explorem atividades agrícolas ou pastoris e de outros
valores que devam influenciar a determinação do lucro real de exercício futuro e não constem
de escrituração comercial (§ 2º).”
40 Não há regra análoga que regule a dedutibilidade de despesas tidas por desnecessárias para fins
de apuração da base cálculo da CSLL.
41 “Art. 299. São operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à atividade da
empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47).
§ 1º São necessárias as despesas pagas ou incorridas para a realização das transações ou operações
exigidas pela atividade da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 1º).
§ 2º As despesas operacionais admitidas são as usuais ou normais no tipo de transações, operações
ou atividades da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 2º).
§ 3º O disposto neste artigo aplica-se também às gratificações pagas aos empregados, seja qual
for a designação que tiverem.”
“(...) a citada instrução CVM foi editada tão somente para a normatização
dos procedimentos contábeis das sociedades de capital aberto, sem
qualquer efeito para as empresas de capital fechado e muito menos, sem
competência para alterar as bases de cálculo do IRPJ e da CSLL, o que
somente é factível com a edição de lei.
É importante destacar que as instruções emanadas pela CVM são atos
administrativos, portanto, infralegais, que não geram quaisquer efeitos
fiscais, visto que têm por objeto a regulação das normas contábeis e são
endereçadas as companhias de capital aberto. (...)
Não vejo nenhum empecilho para as empresas sujeitas as
determinações da CVM em atenderem aos dois dispositivos (a
instrução CVM e a norma legal), visto que no caso da instrução,
para fins de apuração do lucro contábil, não existe um prazo pré-
estabelecido para a amortização do ágio, visto que o mesmo fica
vinculado ao prazo da concessão, enquanto que a lei fiscal prevê
a amortização em 60 meses, independentemente do prazo de
concessão.
Com isso, fica bem claro que as determinações emanadas pela CVM não
possuem qualquer cunho tributário, visto que objetivam regular o mercado
de ações e, em especial a relação dos investidores com as empresas.” [sic]
E, também, em diversas outras oportunidades, o extinto Conselho de
Contribuintes do Ministério da Fazenda julgou no sentido de afastar alegados
efeitos fiscais de normas contábeis. Tal é o caso das normas editadas pelo Banco
Central para regular a contabilidade de instituições financeiras:
“IRPJ – CUSTOS/DESPESAS OPERACIONAIS E ENCARGOS
– PROVISÃO PARA CRÉDITOS DE LIQUIDAÇÃO
DUVIDOSA – INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. Nos anos-
calendário de 1995 e 1996 vigorava o artigo 43 e seus §§ da Medida
Provisória n° 812/94, convertida em Lei n° 8.981/95. A Resolução n°
1.748/90 do Banco Central do Brasil dizia respeito apenas aos aspectos
contábeis e estatísticos das instituições financeiras, sem qualquer efeito
na determinação do lucro real.” (Acórdão nº 101-93.519, 1ª Câmara
do 1º Conselho de Contribuintes, Conselheira Relatora Sandra Maria
Faroni, julgado em 11.10.2001)
Em que pese, como visto, não estarmos diante de uma discussão nova, a
mesma aparente antinomia normativa tem sido discutida por conta da edição
42 Nos termos do § único, do artigo 3º, da Lei nº 11.638/07. “considera-se de grande porte, (...) a
sociedade ou conjunto de sociedades sob controle comum que tiver, no exercício social anterior,
ativo total superior a R$ 240.000.000,00 (duzentos e quarenta milhões de reais) ou receita bruta
anual superior a R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais).”
43 “Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; (...)”
47
O conceito de patrimônio líquido não sofreu alterações relevantes, conforme se constata da
comparação entre as definições veiculadas pela Estrutura Conceitual Básica (“CPC 00” - regra
nova) e pela NBC T 3.2 (regra antiga):
Estrutura Conceitual Básica (“CPC 00”)
“Posição Patrimonial e Financeira
49. Os elementos diretamente relacionados com a mensuração da posição patrimonial financeira
são ativos, passivos e patrimônio líquido. Estes são definidos como segue:
(a) Ativo é um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual
se espera que resultem futuros benefícios econômicos para a entidade;
(b) Passivo é uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos já ocorridos, cuja liquidação
se espera que resulte em saída de recursos capazes de gerar benefícios econômicos;
(c) Patrimônio Líquido é o valor residual dos ativos da entidade depois de deduzidos todos os
seus passivos.” [Grifos nossos]
O NBC T 3.2
“3.2.2 – Conteúdo e Estrutura
3.2.2.1 – O balanço patrimonial é constituído pelo ativo, pelo passivo e pelo Patrimônio Líquido.
a) O ativo compreende as aplicações de recursos representadas por bens e direitos;
b) O passivo compreende as origens de recursos representadas por obrigações;
c) O Patrimônio Líquido compreende os recursos próprios da Entidade, ou seja, a diferença a
maior do ativo sobre o passivo. Na hipótese do passivo superar o ativo, a diferença denomina--se
“Passivo a Descoberto” [Grifos nossos]
49 “Art. 17. Na ocorrência de disposições da lei tributária que conduzam ou incentivem a utilização
de métodos ou critérios contábeis diferentes daqueles determinados pela Lei nº 6.404, de 15 de
dezembro de 1976, com as alterações da Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007, e dos arts.
37 e 38 desta Lei, e pelas normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários com base na
competência conferida pelo § 3º do art. 177 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e demais
órgãos reguladores, a pessoa jurídica sujeita ao RTT deverá realizar o seguinte procedimento:
I – utilizar os métodos e critérios definidos pela Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, para
apurar o resultado do exercício antes do Imposto sobre a Renda, referido no inciso V do caput
do art. 187 dessa Lei, deduzido das participações de que trata o inciso VI do caput do mesmo
artigo, com a adoção:
a) dos métodos e critérios introduzidos pela Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007, e pelos
arts. 37 e 38 desta Lei; e
b) das determinações constantes das normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários,
com base na competência conferida pelo § 3º do art. 177 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro
de 1976, no caso de companhias abertas e outras que optem pela sua observância;
II – realizar ajustes específicos ao lucro líquido do período, apurado nos termos do inciso I do
caput deste artigo, no Livro de Apuração do Lucro Real, inclusive com observância do disposto
no § 2º deste artigo, que revertam o efeito da utilização de métodos e critérios contábeis diferentes
daqueles da legislação tributária, baseada nos critérios contábeis vigentes em 31 de dezembro
de 2007, nos termos do art. 16 desta Lei; e
III – realizar os demais ajustes, no Livro de Apuração do Lucro Real, de adição, exclusão e
compensação, prescritos ou autorizados pela legislação tributária, para apuração da base de
cálculo do imposto.
§ 1º Na hipótese de ajustes temporários do imposto, realizados na vigência do RTT e decorrentes
de fatos ocorridos nesse período, que impliquem ajustes em períodos subsequentes, permanece:
I – a obrigação de adições relativas a exclusões temporárias; e
II – a possibilidade de exclusões relativas a adições temporárias.
§ 2º A pessoa jurídica sujeita ao RTT, desde que observe as normas constantes deste Capítulo,
fica dispensada de realizar, em sua escrituração comercial, qualquer procedimento contábil
determinado pela legislação tributária que altere os saldos das contas patrimoniais ou de resultado
quando em desacordo com:
I – os métodos e critérios estabelecidos pela Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, alterada
pela Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007, e pelos arts. 37 e 38 desta Lei; ou
II – as normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, no uso da competência conferida
pelo § 3º do art. 177 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e pelos demais órgãos
reguladores.”
50 MARTINS, Natanael e RODRIGUES, Daniele Souto. In: O Direito à Amortização Fiscal do Ágio,
Direito Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A – Vol. II, São Paulo: Editora Quartier
Latin, 2010, pp. 478/479.
Em outras palaras. Não há, no que se refere ao ágio para fins fiscais,
subsunção direta à legislação societária ou contábil. As regras tributarias têm
sentido completo e não foram revogadas. Como já se mencionou, o objetivo
das alterações na norma societária tem justificativa na harmonização e
transparência para a melhor avaliação de negócios. A regra tributaria, noutro
giro, tem fundamento na necessidade de incentivar operações societárias que
fortalecessem o mercado de capitais e a economia nacional51.
Seja como for, sem a necessária revogação das normas insertas nos artigos
7º e 8º da Lei nº 9.532/97 e artigo 20 do Decreto-Lei nº 1.598/77, não se pode
alegar alteração nessa sistemática por ofensa reflexa de uma legislação contábil
produzida e implementada com objetivos totalmente diversos daqueles que
justificaram a regra fiscal.
Conclusões:
Em conclusão, pode-se afirmar que as alterações promovidas na legislação
societária e nas regras para demonstrações financeiras foram fundadas na necessidade
de harmonização dessas normas, com aquilo que vige internacionalmente.
Essa harmonização, também influenciada pela recente crise financeira
de 2009, teve como principal característica a melhor divulgação e reflexo
da realidade de negócios na contabilidade das empresas, de maneira a que o
mercado possa melhor avaliar o valor de uma sociedade ou os efeitos que a
combinação de empresas pode gerar para o negócio e o mercado, como um todo.
No Brasil, até o advento da Lei 11.638/07, a contabilidade societária e
tributária ligavam-se umbilicalmente, a ponto de diversas regras contábeis e
societárias terem sido editadas com nítidas motivações fiscais. Como se disse, o
cenário foi alterado. A contabilidade tem o seu objetivo e as regras tributárias idem.
Nesse diapasão, a nova lei societária e a sua regulamentação, tanto em
nível contábil quanto em nível societário, precisam ser corretamente estudadas
e conhecidas, pois, como se disse, é a partir do seu correto conhecimento que
51 Argumento que pode ser levantado, ainda, funda-se no fato de que o valor pago na aquisição do
negócio, que sobejar o PL ajustado da adquirida (ágio), necessariamente, gera ganho de capital para
os acionistas vendedores. Ganho de capital, esse, sujeito a regular tributação. Em outras palavras,
poder-se-ia, ainda, afirmar, que a regra introduzida pela Lei nº 9.532/97, em verdade, apenas
reconheceu que, aquele que paga antecipadamente por resultados que espera auferir, deve e
precisa, se reembolsar do imposto que vier a apurar, a partir da realização desta sua expectativa.
Não se pode, mais uma vez, nesse assunto, penalizar aqueles que agem
ao encontro dos interesses da norma, valendo-se de estruturas legítimas, em
função de negócios praticados de forma simulada ou viciada por parte de alguns
contribuintes, esses sim passíveis de dura repressão por parte das Autoridades
Fiscais. O ordenamento jurídico, de há muito, municia a Fazenda com as
ferramentas necessária para coibir esse tipo de prática condenável. Essas práticas,
porém, não podem levar a Fazenda a pretender restringir ou amesquinhar os
conceitos e os objetivos da norma tributária que expressamente estimula a
relação de negócios, através da permissão de dedução da amortização do ágio.
Melhor seria, em se querendo atacar esse direito vigente, seguir o processo
legislativo próprio e alterar as regras do jogo. A revogação dos artigos 20, do
Decreto-Lei nº 1.598/77, 7º e 8º, da Lei nº 9.532/97, ou ao menos a alteração
dessas regras, de forma a que as mesmas albergassem diretamente os novos
conceitos da legislação comercial, teriam o condão de impedir a utilização da
amortização do ágio como despesa dedutível, desde que respeitado o direito
adquirido pelos Contribuintes diante do preenchimento dos requisitos impostos
pela legislação tributária, preservando-se, com o isso, a segurança jurídica que
deve nortear as relações entre estes e o Estado. Isso bastaria aos propósitos do
Fisco e preservaria, ao menos, o sistema jurídico vigente.
Aspectos Tributários e
Societários/Contábeis
da Depreciação de Bens
do Ativo Imobilizado
à Luz do Regime
Tributário de Transição
1. Introdução
O avanço do processo de globalização e o aumento dos investimentos no
país levaram à necessidade de se conferir maior segurança para os investidores
estrangeiros, bem como maior transparência na contabilidade das empresas
brasileiras. Diante desse cenário, o Brasil iniciou o processo de convergência
de suas normas contábeis para o padrão internacional, conhecido como
International Financial Reporting Standards – IFRS.
As modificações nas regras contábeis brasileiras foram basicamente
introduzidas pela Lei nº 11.638, de 28.12.2007 (Lei nº 11.638/07), que alterou
e revogou dispositivos da Lei nº 6.404, de 15.12.1976 (Lei das S/A) e da Lei
nº 6.385, de 7.12.1976 (Lei nº 6.385/76). Todavia, em 3.12.2008, o Governo
Federal editou a Medida Provisória nº 449 (MP nº 449/08), com o objetivo
de neutralizar os impactos fiscais decorrentes dos novos métodos e critérios
contábeis, na apuração das bases de cálculo de tributos federais, de modo a
reduzir a insegurança jurídica gerada nos contribuintes.
Cumpre ainda mencionar que a MP nº 449/08, posteriormente convertida
na Lei nº 11.941, de 27.5.2009 (Lei nº 11.941/09), criou o Regime Tributário
de Transição (RTT), cuja aplicação era opcional para os anos de 2008 e 2009.
No entanto, a partir de 2010, a adoção do RTT passou a ser obrigatória, até a
entrada em vigor de lei que discipline os efeitos tributários dos novos métodos
e critérios contábeis.
O RTT foi criado com a finalidade de se preservar o princípio da neutralidade
fiscal das mudanças inseridas no padrão contábil brasileiro, devendo ser aplicável às
pessoas jurídicas sujeitas ao Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) de acordo
com a sistemática de apuração pelo lucro real ou lucro presumido.
Não obstante, ao adotar o RTT para o IRPJ, a pessoa jurídica também
ficará obrigada a aplicar o regime para: (i) a Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido (CSLL); (ii) a Contribuição para o Programa de Integração
Social (PIS); e (iii) a Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Social (COFINS).
O presente estudo foca-se na análise da nova sistemática de depreciação
dos bens do ativo imobilizado, bem como nos efeitos fiscais e contábeis da
aplicação dos novos critérios definidos pela Lei nº 11.638/07, que provocaram
alterações na vida útil dos ativos e, por consequência, modificações nas taxas
de depreciação.
1 PEDREIRA, J. L. Bulhões. Imposto sobre a Renda. Rio de Janeiro: APEC, 1969, pp. 6-56.
2 PN nº 192/72: O desgaste provocado pelo uso intensivo ou anormal dos bens pertencentes
ao ativo imobilizado das pessoas jurídicas de direito privado poderá determinar a adoção de
taxas especiais de depreciação, devendo as interessadas comprovar a adequação das taxas que
utilizarem, ou, em caso de dúvida, justificá-las com base em laudo técnico expedido por órgão
oficial competente. As empresas que empreguem os coeficientes de depreciação acelerada em
decorrência de expressa previsão legal poderão também utilizar taxas especiais de depreciação,
quando estas se fizerem necessárias, observadas as regras pertinentes, desde que o seu montante
não ultrapasse em qualquer tempo o custo de aquisição dos bens, atualizado monetariamente. As
taxas anuais de depreciação a serem calculadas pelas empresas com base no custo de aquisição dos
bens atualizado monetariamente são as resultantes da jurisprudência administrativa nos termos do
item 63 da Instrução Normativa nº 2 de 12.9.69. 2. Sendo estas taxas determinadas em função dos
prazos considerados ideais para a utilização econômica dos bens, em condições normais, aplicam-
se indistintamente a todas as empresas. 3. Entretanto, quando os bens são submetidos a condições
anormais de utilização, o desgaste decorrente poderá justificar a majoração das taxas. Para tanto,
o emprego de taxas especiais de depreciação deve proceder da necessidade comprovada de
submeter os bens a condições anormais de uso, sendo de fundamental interesse a existência de
prova cabal da ocorrência do desgaste ou inutilização prematura destes mesmos bens. Tal é o
sentido dos §§ 3º e 4º do artigo 186 do RIR (Decreto 58.400, de 10.05.66). 4. Considerando-se
que a majoração das taxas de depreciação decorre de situação especialíssima, o próprio legislador
admitiu que, nas casos de dúvida, as empresas e a própria autoridade lançadora poderão solicitar
perícias ao Instituto Nacional de Tecnologia ou a outras entidades oficiais de pesquisa científica
ou tecnológica, acatando-se as opiniões destes órgãos, as quais prevalecerão enquanto não forem
modificadas por decisões das autoridades competentes, conforme o disposto no § 5º do artigo
186 do RIR. 5. De se notar que esta providência também se aconselha às empresas que exerçam
atividades técnicas e que em virtude desta condição estejam aptas a realizar estudos com a
finalidade de adotar, nos termos do § 5º do artigo 186 do RIR., taxas especiais de depreciação já
que as suas conclusões em causa própria não preenchem os objetivos do citado dispositivo. 6.
Outro tipo de depreciação prevista em lei é a acelerada - (art. 57., § 5º da Lei 4.506, de 30.11.64),
destinada a aplicação somente quanto a atividades ou indústrias expressamente previstas em atos
do Poder Executivo (vide Decretos 54.298, de 29.09.64; 60.943, de 5.7.67; 61.083, de 27.7.67 e
61.979, de 28.12.67). 7. A depreciação acelerada é restrita aos casos especialmente previstos e
tem por finalidade exclusiva estimular a renovação e modernização dos equipamentos utilizados
por determinados tipos de indústrias ou atividades, independendo, para a sua aplicação, do
desgaste anormal dos bens, por força do que dispõe o artigo 186 § 6º do RIR. 8. Desta afirmativa
se infere que as empresas alcançadas pela faculdade da depreciação acelerada, e enquanto
esta durar, podem utilizá-la tomando por base as taxas especiais de depreciação. 9. Por todo o
exposto conclui-se que as empresas podem adotar taxas adequadas de depreciação dos bens
independentemente de prévia audiência da Repartição, cabendo se valer, quando não tiverem
absoluta certeza do acerto do seu procedimento, de perícia do Instituto Nacional de Tecnologia
ou de outras entidades oficiais de pesquisa científica ou tecnológica. 10. Em qualquer situação,
entretanto, as empresas não poderão contabilizar como custo ou despesa operacional, em face
das taxas adotadas, cotas de depreciação superiores ao custo de aquisição dos bens atualizados
monetariamente e as que se utilizarem dos coeficientes de depreciação acelerada, nas condições
estabelecidas pela legislação específica, poderão, quando for o caso, aplicá-los, tomando por
base as taxas especiais de depreciação.
Art. 313. Com o fim de incentivar a implantação, renovação ou modernização de instalações e
equipamentos, poderão ser adotados coeficientes de depreciação acelerada, a vigorar durante
prazo certo para determinadas indústrias ou atividades (Lei nº 4.506, de 1964, art. 57, § 5º). § 1º
A quota de depreciação acelerada, correspondente ao benefício, constituirá exclusão do lucro
líquido, devendo ser escriturada no LALUR (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 8º, inciso I, alínea
“c”, e § 2º). § 2º O total da depreciação acumulada, incluindo a normal e a acelerada, não poderá
ultrapassar o custo de aquisição do bem (Lei nº 4.506, de 1964, art. 57, § 6º). § 3º A partir do período
de apuração em que for atingido o limite de que trata o parágrafo anterior, o valor da depreciação
normal, registrado na escrituração comercial, deverá ser adicionado ao lucro líquido para efeito de
determinar o lucro real. § 4º As empresas que exerçam, simultaneamente, atividades comerciais e
industriais poderão utilizar o benefício em relação aos bens destinados exclusivamente à atividade
industrial. § 5º Salvo autorização expressa em lei, o benefício fiscal de que trata este artigo não
poderá ser usufruído cumulativamente com outros idênticos, exceto a depreciação acelerada em
função dos turnos de trabalho.
Com a edição da Lei nº 11.638/07, que alterou a Lei das S/A e, com ela,
o padrão contábil brasileiro, as sociedades por ações e as sociedades de grande
porte passaram a aplicar critérios mais específicos e rigorosos no tratamento
dos efeitos contábeis da depreciação dos bens do ativo imobilizado.
Ressalte-se que as sociedades limitadas também estão sujeitas às novas
regras contábeis brasileiras, mesmo quando não estiverem enquadradas como
sociedades de grande porte. Nesse sentido, cumpre expor os ensinamentos de
LYGIA CAROLINE SIMÕES CARVALHO:
“Mesmo que as sociedades limitadas não tenham seu estatuto jurídico
regrado pela Lei 6.404/76, os dispositivos do Código Civil não dispõem
sobre padrões contábeis mais detalhados. Devido à tal ausência, devem ser
observados os dispositivos da Lei das Sociedades por Ações (lei 6.404/76).
Ademais, os sócios quotistas poderão prever no contrato social a regência
supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima,
obrigando a aplicação das regras contábeis previstas na lei 6.404/76 (...)
Portanto, as sociedades limitadas, mesmo que não enquadradas como
sociedades de grande porte, não estão excluídas das regras dos novos
padrões contábeis brasileiros. As normas contábeis instituídas pela lei
12 BIFANO, Elidie Palma. O Direito Contábil da Lei Nº 11.638/07 à Lei Nº 11.941/09. In: ROCHA,
Sérgio André (org.). Direito Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A – Vol.II. São Paulo:
Quartier Latin, 2010, Capítulo VII, p. 172.
registrada contabilmente seja maior que a taxa recomendada pelo Fisco, gerando
um aumento nas despesas e diminuição do lucro líquido, a base tributável do
imposto deve ser aumentada a fim de corrigir as distorções tributárias decorrentes
de uma alteração na contabilidade. Por outro lado, há a possibilidade de a taxa de
depreciação contábil ser menor do que a taxa admitida para fins tributários e, nesse
caso, deve-se diminuir a base tributável do imposto.
Esse procedimento foi ainda detalhado e regulamentado pela Instrução
Normativa RFB nº 949, de 16.6.2009 (IN nº 949/09), que criou também o
chamado Controle Fiscal Contábil de Transição (FCONT). O FCONT faz o
papel da escrituração fiscal em um sistema de partidas dobradas, feita de modo
auxiliar e separado da escrituração contábil das empresas na aplicação do RTT.
No que tange à finalidade do FCONT, convém mencionar as lições de
IAN MUNIZ:
“O objetivo do FCONT é registrar as diferenças existentes entre
o resultado apurado, em conformidade com os métodos e critérios
contábeis aplicáveis à legislação tributária, ou seja, aqueles vigentes em
31 de dezembro de 2007. Assim, deverão ser registradas, em partidas
dobradas, os valores que afetem as contas patrimoniais e de resultado,
de forma a reconciliar o resultado apurado entre os métodos e critérios
contábeis e aqueles aplicáveis à legislação tributária.”13
Com efeito, nos termos do artigo 16, parágrafo único da Lei nº
11.941/09, todos os comentários acima referentes à neutralização promovida
pelo RTT aplicam-se igualmente às normas expedidas pela CVM, bem
como aos demais órgãos reguladores que visem a alinhar a legislação
específica com os padrões internacionais de contabilidade, tais como o CPC,
o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), dentre outros.
Em resumo, para as empresas sujeitas ao RTT, a determinação das bases
de cálculo do IRPJ, da CSLL, do PIS e da COFINS será efetuada com base
na legislação tributária atual, conforme aplicada sobre os critérios contábeis
vigentes em 31.12.2007, ou seja, sem se levar em conta os efeitos das alterações
societárias/contábeis introduzidas pela Lei nº 11.638/07, pelos artigos 37 e 38
13 MUNIZ, Ian e MONTEIRO, Marco Antonio. O RTT e a Neutralidade Fiscal. In: ROCHA, Sérgio
André (org.). Direito Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A – Vol.II. São Paulo: Quartier
Latin, 2010, Capítulo XIII, p. 273.
14 ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. IRPJ Lucro Real: O efeito contábil do ajuste da taxa de
depreciação, amortização e exaustão não está sujeita às regras do RTT. Fiscosoft. 2010/1933,
p. 2. Disponível em: <http://www.fiscosoft.com.br//main_online_frame.php?home=
federal&secao=1&page=bfbf.php?s=1¶ms=F::expressao=ajuste%20da%20taxa%20 de%20
deprecia%E7%E3º>. Acessado em 20.5.2011.
5. Conclusão
Com base no acima exposto, conclui-se que, apesar de o tratamento da
depreciação de bens integrantes do ativo imobilizado ter passado a se sujeitar
a critérios societários/contábeis mais específicos e distintos dos que vinham
sendo praticados, anteriormente à edição da Lei nº 11.638/07, a nosso ver, tal
fato não acarretará conseqüências tributárias para os contribuintes.
Com efeito, à luz do RTT instituído pela Lei nº 11.941/09, a determinação
das bases de cálculo do IRPJ, da CSLL, do PIS e da COFINS permanece sendo
feita com observância da legislação tributária atual. Assim, o contribuinte pode
utilizar os prazos de depreciação previstos na IN nº 162/98, para fins tributários,
independentemente da nova sistemática de depreciação utilizada para fins
societários/contábeis.
Isso significa que, na prática, o contribuinte deverá manter, para fins
tributários, a sistemática de depreciação prevista nos artigos 305 a 323 do
RIR/99, e para fins societários/contábeis, será obrigada a tratar a depreciação
do seu ativo imobilizado segundo as disposições do CPC 01 e do CPC 27.
No entanto, a empresa deverá se utilizar do FCONT para reverter, no
LALUR, o efeito da utilização de critérios societários/contábeis diferentes,
daqueles vigentes antes da edição da Lei nº 11.638/07.
Todo esse processo de conversão das normas contábeis brasileiras aos
padrões internacionais tem como finalidade o aumento da transparência nas
demonstrações contábeis, principal fonte de informação da saúde financeira
e econômica das empresas. O objetivo maior de todas essas transformações é
contribuir para a real expansão dos negócios das empresas brasileiras, facilitando
o ingresso de capitais estrangeiros e o desenvolvimento do país como um todo,
o que é de se louvar.
6. Bibliografia
ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. IRPJ Lucro Real: O efeito contábil do ajuste da taxa de
depreciação, amortização e exaustão não está sujeita às regras do RTT. Fiscosoft. 2010/1933.
Disponível em: <http://www.fiscosoft.com.br//main_online_frame.php?home=federal
&secao=1&page=/bf/bf.php?s=1¶ms=F::expressao=ajuste%20da%20taxa%20 de%20
deprecia%E7%E3o>. Acessado em 20.5.2011.
BIFANO, Elidie Palma. O Direito Contábil da Lei Nº 11.638/07 à Lei Nº 11.941/09. In:
ROCHA, Sérgio André (org.). Direito Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A – Vol.
II. São Paulo: Quartier Latin, 2010, Capítulo VII.
CARVALHO, Lygia Caroline Simões. Os novos critérios contábeis do ativo imobilizado e os reflexos
tributários. Fiscosoft. 2011/2012. Disponível em:<http://www.fiscosoft.com.br//main_
online_frame.php?home=federal&secao=1&page=/bf/f.php?s=1¶ms=F::expressao
=os%20novos%20crit%E9rios%20cont%E1beis%20do%20ativo%20imobilizado%20lygia>.
Acessado em 20.5.2011.
MUNIZ, Ian e MONTEIRO, Marco Antonio. O RTT e a Neutralidade Fiscal. In: ROCHA,
Sérgio André (org.). Direito Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A – Vol.II. São
Paulo: Quartier Latin, 2010, Capítulo XIII.
PEDREIRA, J. L. Bulhões. Imposto sobre a renda. Rio de Janeiro: APEC, 1969.
Os possíveis efeitos
tributários relacionados
aos critérios contábeis
para o reconhecimento
do ativo imobilizado e
suas peças de reposição
Daniel Dix Carneiro
Mestrando em Direito Internacional na UERJ. Pós-Graduado em Direito
Tributário pela FGV e em Direito pela Escola da Magistratura do Estado
do Rio de Janeiro – EMERJ. Bacharel em Direito pela UFF. Advogado e
consultor tributário no Rio de Janeiro.
Marcio Oliveira
Economista formado pela UFRJ. Professor nos cursos de Pós-Graduação em
Direito Tributário da UFF e da Universidade Cândido Mendes. Professor
na Universidade Petrobras, através de convênio firmado com a PUC-RJ.
Consultor tributário no Rio de Janeiro.
1. Introdução
O presente ensaio pretende identificar as principais consequências
tributárias, no que tange aos novos critérios contábeis para o reconhecimento
do ativo imobilizado e suas eventuais peças sobressalentes, que devem ser
observados a partir do advento da Lei n.º 11.638/2007, diploma que inseriu
alterações pontuais, porém, extremamente significativas no regramento
contábil nacional.
No intuito de atingirmos os anseios perquiridos por este estudo,
analisaremos mesmo que de forma breve, as razões que deram origem
à aprovação da Lei n.º 11.638/2007, além de identificarmos qual será o
novo padrão contábil que deverá ser observado pelas sociedades nacionais
(companhias abertas e sociedades denominadas como de grande porte)1.
Passada essa abordagem inicial, analisaremos as principais alterações,
no que se refere aos critérios contábeis para reconhecimento do ativo
imobilizado e suas peças de reposição, fato que nos possibilitará apontar
as eventuais consequências tributárias resultantes dessas mudanças.
Devemos frisar, entretanto, que não temos, com este trabalho,
a pretensão de esgotar toda a matéria relativa aos efeitos contábeis
e tributários relacionados aos critérios de reconhecimento do ativo
imobilizado e suas peças sobressalentes, isso porque o referido tema, ainda
se encontra bastante incipiente, especialmente, no mundo jurídico, tendo
sido objeto, até o momento, apenas de abordagens doutrinárias jurídicas
e contábeis esparsas.
1 A Lei nº°11.638/2007 estabeleceu, em seu art. 3.°, que as disposições da Lei nº°6.404/1976 (que
dispõe sobre as sociedades por ações), já com as alterações promovidas por aquele diploma, no
que se refere à escrituração e elaboração de demonstrações financeiras e à obrigatoriedade de
auditoria independente por auditor registrado na Comissão de Valores Mobiliários – CVM, deverão
também ser aplicadas às sociedades de grande porte, ainda que não constituídas sob a forma de
sociedades por ações. Dessa forma, mesmo as sociedades consideradas de grande porte que não
sejam abertas e constituídas sob a forma de ações deverão se nortear pelos preceitos contábeis
previstos pela Lei das S/A, fato que não era obrigatório anteriormente. É importante esclarecer que
o parágrafo único do art. 3.° da Lei nº 11.638/2007 considera como de grande porte a sociedade
ou conjunto de sociedades sob controle comum que tiver, no exercício social anterior, ativo
total superior a R$ 240.000.000,00 (duzentos e quarenta milhões de reais) ou receita bruta anual
superior a R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais).
2 Nesse item, pedimos vênia para mantermos e reproduzirmos as considerações feitas por
CARNEIRO, Daniel Dix em seu artigo intitulado: Os novos critérios de avaliação do ativo e
do passivo de longo prazo e suas possíveis conseqüências tributárias. In: FERNANDES, Edison
Carlos e PEIXOTO, Marcelo Magalhães (orgs.). Aspectos tributários da nova lei contábil – lei
11.638/07. São Paulo: MP Editora, 2010, p. 71-110.
3 Conforme se depreende do comunicado público feito pela Comissão de Valores Mobiliários ao
Mercado, constante do sítio <http://www.cvm.gov.br/port/infos/Esclarecimento.pdf> (acesso em
12 de junho de 2011).
4 BIFANO, Elidie Palma. Aspectos contábeis da lei 11.638/07. In: ROCHA, Sergio André (org.).
Direito tributário, societário e a reforma da lei das S/A. São Paulo: Editora Quartier Latin, 2008,
p. 49.
5 BIFANO, Elidie Palma. Op. Cit. p. 49.
6 No que se refere à tendência cada vez maior de internacionalização das sociedades, denominadas
como transnacionais, e aos obstáculos por elas encontrados nesse processo, recomendamos a
leitura de RIBEIRO, Marilda Rosado de Sá. As empresas transnacionais e os novos paradigmas
do comércio internacional, In: DIREITO, Carlos Alberto Menezes; TRINDADE, Antônio Augusto
Cançado e PEREIRA, Antônio Celso Alves (org.). Novas Perspectivas do Direito Internacional
Contemporâneo, Estudos em homenagem ao Prof. Celso de Albuquerque Mello. Rio de Janeiro,
São Paulo e Recife: Editora Renovar, 2008, p. 455-492.
7 ENGSTRÖM, Jan. Prefácio. In: MACMANUS, Kieran John. IFRS – Implementação das normas
internacionais de contabilidade e da Lei n.° 11.638 no Brasil. São Paulo: Editora Quartier Latin,
2009, p. 9-10.
8 São membros do CPC: a Associação Brasileira das Companhias Abertas – ABRASCA, a Associação
dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais – APIMEC NACIONAL,
a Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA, o Conselho Federal de Contabilidade – CFC, o
Instituto dos Auditores Independentes do Brasil – IBRACON e a Fundação Instituto de Pesquisas
Contábeis, Atuarias e Financeiras – FIPECAFI.
9 A visualização de cada um dos Pronunciamentos Técnicos editados pelo CPC pode ser verificada
no sítio <http://www.cpc.org.br/pronunciamentosIndex.php> (acesso em 12 de junho de 2011).
10 O art. 9.° da Lei nº°11.638/07 estabelece sua entrada em vigor no primeiro dia do ano de 2008,
sendo, portanto, seus preceitos aplicáveis aos fatos ocorridos a partir daquela data. Por sua vez,
o art. 1.° da Instrução CVM n.° 469/08 preceitua que as disposições da referida lei deverão ser
observadas somente para as demonstrações financeiras de encerramento do ano 2008, sendo
opcionais a sua aplicação para as informações trimestrais (ITR) referentes ao mesmo ano.
(...)
43. Cada componente de um item do ativo imobilizado com
custo significativo em relação ao custo total deve ser depreciado
separadamente.
44. A entidade aloca o valor inicialmente reconhecido de um item
do ativo imobilizado aos componentes significativos desse item
e os deprecia separadamente. Por exemplo, pode ser adequado
depreciar separadamente a estrutura e os motores de aeronave, seja
ela de propriedade da entidade ou obtida por meio de operação de
arrendamento mercantil financeiro. De forma similar, se o arrendador
adquire um ativo imobilizado que esteja sujeito a arrendamento
mercantil operacional, pode ser adequado depreciar separadamente
os montantes relativos ao custo daquele item que sejam atribuíveis
a condições do contrato de arrendamento mercantil favoráveis ou
desfavoráveis em relação a condições de mercado. [grifo nosso]
Diante dessas previsões, parece-nos que o momento em que as peças
sobressalentes são adquiridas, se simultaneamente ou não ao ativo imobilizado,
é um dado de extrema relevância a partir do qual o operador da informação
contábil, mediante a sua conjugação com outras circunstâncias de igual relevo
(tais como materialidade, funcionalidade e vida útil), deverá definir a correta
classificação desse item na contabilidade como ativo imobilizado ou não.
Dessa forma, para tornarmos nosso estudo mais didático, abordaremos
em separado as situações em que as peças sobressalentes foram adquiridas ou
não de forma simultânea ao ativo imobilizado ao qual serão vinculadas.
· Peças sobressalentes adquiridas simultaneamente ao ativo fixo:
Nos termos das normas e procedimentos contábeis brasileiros acima
abordados, quando ao mesmo momento da compra de um determinado
equipamento é adquirida uma série de peças ou conjuntos importantes e
essenciais ao funcionamento de tal maquinário, principalmente no caso de
eventual necessidade de substituição, tais peças sobressalentes poderão ser
contabilizadas como ativo imobilizado e serem depreciadas em base similar à
do equipamento correspondente, mesmo se não estiverem em uso.
Porém, o procedimento mais recomendado – quando os ativos
componentes de um determinado equipamento tiverem vidas úteis distintas
da do equipamento principal – deve ser o seu registro feito em separado no
contribuintes optava, mesmo para fins contábeis pela simples utilização das
taxas de depreciação previstas na IN SRF n.º 162/1998, as quais são publicadas
periodicamente pela Receita Federal do Brasil nos termos do § 1.º, do art. 310
do RIR/1999, as quais deveriam ser aplicadas com base no método linear.
Independentemente do método utilizado (vida útil ou taxas definidas
pela RFB), a depreciação somente será dedutível a partir do momento em
que o bem é instalado, posto em serviço ou em condições de produzir e terá
sempre como referência para aplicação da taxa o custo de aquisição do bem
passível de depreciação.
Vale destacar que ao garantir o direito do contribuinte de utilizar como
referência a vida útil do bem para fins de determinação da taxa de depreciação,
a legislação tributária reforça que a depreciação dedutível para fins de apuração
do IRPJ e da CSLL é aquela que melhor representa a perda do valor dos bens
em função do seu uso ou desgaste, observando-se a legislação comercial e os
princípios contábeis. Para tanto, deve-se levar em conta todas as especificações
técnicas do bem e suas condições de utilização econômica no tipo de atividade
em que o mesmo será empregado.
Assim, como já mencionamos, a Sociedade deverá estar apta a comprovar,
mediante laudos técnicos, que tal método ou taxa aplicada é o mais adequado por
refletir com mais exatidão os custos gerados pela depreciação e amortização dos
ativos, confrontando com os rendimentos gerados pela utilização desses bens.
Ressalte-se que a adoção de critérios ou taxas de depreciação diferentes
daqueles que foram estabelecidos pelas Instruções Normativas da Receita
Federal implica a assunção pelo contribuinte do ônus da prova da adequação do
método. Todavia, nos termos do parágrafo 2.º do artigo 310 do RIR/1999, em
caso de dúvida, o contribuinte ou as autoridades fiscais poderão solicitar perícia
ao Instituto Nacional de Tecnologia ou de outra entidade oficial de pesquisa
científica ou tecnológica, prevalecendo os prazos de vida útil recomendados
por essas instituições, enquanto os mesmo não forem alterados por decisão
administrativa superior ou decisão judicial fundadas em laudos idôneos.
Ademais, para os bens que trabalham em dois ou três turnos, poderá
ainda ser adotada a depreciação acelerada contábil, reconhecendo e registrando
contabilmente a diminuição acelerada do valor do bem, em função do desgaste
pelo uso em regime de operação superior ao normal.
12 Art 67. Este Decreto-Lei entrará em vigor na data da sua publicação e a legislação do imposto
sobre a renda das pessoas jurídicas será aplicada, a partir de 1.º de janeiro de 1978, de acordo
com as seguintes normas:
(...)
XI - o lucro líquido do exercício deverá ser apurado, a partir do primeiro exercício social iniciado
após 31 de dezembro de 1977, com observância das disposições da Lei n.º 6.404, de 15 de
dezembro de 1976.
13 Art. 15. Fica instituído o Regime Tributário de Transição – RTT de apuração do lucro real, que
trata dos ajustes tributários decorrentes dos novos métodos e critérios contábeis introduzidos pela
Lei n.° 11.638, de 28 de dezembro de 2007, e pelos arts. 37 e 38 desta Lei.
§ 1.° O RTT vigerá até a entrada em vigor de lei que discipline os efeitos tributários dos novos
métodos e critérios contábeis, buscando a neutralidade tributária.
§ 2.° Nos anos-calendário de 2008 e 2009, o RTT será optativo, observado o seguinte:
I – a opção aplicar-se-á ao biênio 2008-2009, vedada a aplicação do regime em um único ano-
calendário;
II – a opção a que se refere o inciso I deste parágrafo deverá ser manifestada, de forma irretratável,
na Declaração de Informações Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica 2009;
III – no caso de apuração pelo lucro real trimestral dos trimestres já transcorridos do ano-calendário
de 2008, a eventual diferença entre o valor do imposto devido com base na opção pelo RTT e o
valor antes apurado deverá ser compensada ou recolhida até o último dia útil do primeiro mês
subsequente ao de publicação desta Lei, conforme o caso;
IV – na hipótese de início de atividades no ano-calendário de 2009, a opção deverá ser
manifestada, de forma irretratável, na Declaração de Informações Econômico-Fiscais da
Pessoa Jurídica 2010.
§ 3.° Observado o prazo estabelecido no § 1o deste artigo, o RTT será obrigatório a partir do ano-
calendário de 2010, inclusive para a apuração do imposto sobre a renda com base no lucro
presumido ou arbitrado, da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, da Contribuição
para o PIS/PASEP e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS.
14 O Art. 21 da Lei 11.941/2009 também estende o RTT aos elementos que afetam a apuração das
Contribuições para Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e para o Programa de Integração
Social (PIS).
15 Em que pese a criação do Controle Fiscal de Transição (FCont), na prática, todas as empresas
após 2009 – quando o RTT deixou de ser uma opção e tornou-se uma obrigação – tiveram que
manter uma contabilidade paralela, sobretudo aquelas em que o sistema de custeio foi afetado
pelas alterações na Legislação Societária.
16 Redação conferida pela Lei nº 11.941/2009, mas que apenas introduziu os intangíveis ao
texto original.
19 Um bom exemplo está na depreciação de fornos destinados à produção de vidro. De acordo com
as disposições previstas na IN SRF n.º 162/1998, esse item de ativo pode ser depreciado em apenas
3 (três) anos, ao passo que a sua vida útil é usualmente superior a 20 (vinte) anos.
20 Ver art. 3.º, § 1.º, inciso III das Leis nº s. 10.637/2002 e 10.833/2003.
21 Acerca da taxa de depreciação a ser utilizada para fins de apropriação de créditos e de eventual
ajuste ao RTT vide os comentários feitos por ocasião do item 6 do presente.
22 Ressaltamos que, recentemente, no intuito de estimular os investimentos por parte dos
empreendedores, o Governo Federal fez editar a Medida Provisória nº°540/2011, no âmbito do
Programa Brasil Maior, cujo art. 4.º alterou a redação do art. 1.º da Lei nº°11.774/2008, para
24 GRECO, Marco Aurélio. Não-cumulatividade no PIS e na COFINS, In: PAULSEN, Leandro (Coord.).
Não-cumulatividade do PIS/PASEP e da COFINS. Porto Alegre: edição do Instituto de Estudos
Tributários e da IOB Thompson, 2004, p. 101-122.
26 Deve, contudo, ser salientado que, apesar desse entendimento por parte do STJ, essa questão
no âmbito das Administrações Tributárias Estaduais ainda permanece controversa, isso porque
alguns Estados entendem que aqueles produtos consumidos no processo industrial, mas que
não são incorporados ao produto final devem ser entendidos como sendo material de uso em
consumo, cujo crédito do ICMS encontra-se atualmente vedado (art. 33, inicio I da LC n.° 87/1996.
Nesse aspecto podemos citar como exemplo desse posicionamento contrário à pretensão dos
contribuintes os termos do acórdãos n.° 5.172/2007 e n.° 5.237, proferidos pelo órgão pleno do
Conselho de Contribuintes do Estado do Rio de Janeiro.
27 STJ, RESP n.º 183610-SP, Relator Ministro Hélio Mosimann, D.J.U. de 07.08.1995.
28 STF, AI nº 127762, Relator Ministro Aldir Passarinho, D.J.U. de 29.06.1990.
29 REIS, Maria Lúcia Américo do; e BORGES, José Cassiano. O IPI ao Alcance de Todos. Rio de
Janeiro: Forense, 1999, p. 9.
30 Art. 20 (...)
(...)
§ 5.° Para efeito do disposto no caput deste artigo, relativamente aos créditos decorrentes
de entrada de mercadorias no estabelecimento destinadas ao ativo permanente, deverá ser
observado:
(...)
III – para aplicação do disposto nos incisos I e II deste parágrafo, o montante do crédito a ser
apropriado será obtido multiplicando-se o valor total do respectivo crédito pelo fator igual a 1/48
(um quarenta e oito avos) da relação entre o valor das operações de saídas e prestações tributadas
e o total das operações de saídas e prestações do período, equiparando-se às tributadas, para
fins deste inciso, as saídas e prestações com destino ao exterior ou as saídas de papel destinado
à impressão de livros, jornais e periódicos;
IV – o quociente de um quarenta e oito avos será proporcionalmente aumentado ou diminuído,
pro rata die, caso o período de apuração seja superior ou inferior a um mês;
31 Questão que pode se afigurar controversa refere-se ao momento para apropriação do ICMS
incidente sobre a aquisição de bens destinados ao ativo imobilizado de contribuinte que se
32 Devemos salientar, entretanto, que esta questão não se encontra totalmente pacificada perante as
Administrações Tributárias Estaduais, de forma que outros entes federados poderão ter entendimento
diverso daquele exarado pelo Estado de São Paulo, com o qual, aliás, exaramos nossa concordância.
Regime Tributário de
Transição – RTT:
Que Neutralidade?
Introdução
1 Nesse sentido, além do registro contábil do investimento em participação societária, a lei tributária
determinava o registro da provisão para devedores duvidosos, da depreciação e a ausência de
reconhecimento de provisões para contingências, dentre outros.
contábil tal como disciplinada pela legislação societária (Lei n° 6.404, de 1976)
em 31 de dezembro de 2007. Acontece que, mesmo segregadas, a influência
recíproca das normas societária e tributária continua existindo (até porque é
inevitável), restando, então, ser definido qual o alcance da neutralidade inserta
no Regime Tributário de Transição – RTT.
Novos aspectos do
Direito Contábil: Lei
nº 11.638/2007, suas
alterações e variações
sobre a interpretação da
norma contábil.
1. Apresentação do tema
4 Aspectos Contábeis da Lei 11.638/2007: Reflexos Legais, in Direito Tributário, Societário e a reforma
da lei das S/A – Inovações da Lei 11.638, coord. Sergio André Rocha.São Paulo: Quartier Latin,
2008, pp.43-74; O Direito Contábil: Da Lei 11.638/2007 à Lei 11.941/2009, in Direito Tributário,
Societário e a reforma da lei das S/A – Alterações das Leis nº 11.638/07 e n°11.941/09, coord.
Sergio André Rocha. São Paulo: Quartier Latin, 2010, pp.17-204; Contabilidade e Direito:a Nova
Relação, in Controvérsias Jurídico-Contábeis (Aproximações e Distanciamentos), coord. Roberto
Quiroga Mosquera e Alexsandro Broedel Lopes. São Paulo: Dialética, pp 116-137, 2010; As
Novas Normas de Convergência Contábil e seus Reflexos para os Contribuintes, in Controvérsias
Jurídico-Contábeis (Aproximações e Distanciamentos), coord. Roberto Quiroga Mosquera e
Alexsandro Broedel Lopes, 2°vol. São Paulo: Dialética, p.p. 51-68, 2011.
5 Cf. Elidie Palma Bifano, Aspectos contábeis da Lei 11.638/07: Reflexos Legais, in Direito Tributário,
Societário e a reforma da lei das S/A – Inovações da Lei 11.638, coord. Sergio André Rocha. São
Paulo: Quartier Latin, 2008, pp. 46.
7 Neste estudo será utilizada a palavra “entidade” para designar o sujeito da obrigação de fazer
a escrituração contábil e elaborar demonstrações financeiras, sendo irrelevante sua natureza
societária e seu objeto social. Para fins contábeis, entidade “que reporta é aquela para a qual
existem usuários que se apoiam em suas demonstrações contábeis como fonte principal de
informações patrimoniais e financeiras sobre a entidade.” (Pronunciamento Conceitual Básico
CPC, item 8).
10 Sobre o tema veja-se Elidie Palma Bifano, As Novas Normas de Convergência Contábil e
seus Reflexos para os Contribuintes, in Controvérsias Jurídico-Contábeis (Aproximações e
Distanciamentos), coord. Roberto Quiroga Mosquera e Alexsandro Broedel Lopes, 2°vol. São
Paulo: Dialética, pp. 51-68, 2011.
com a jurisprudência antes que a lei, valoriza a essência econômica, antes que a
jurídica, suporta-se no costume e na equidade e aplica-se a comunidades com
regras diversas que precisam, por razões políticas, convergir, como é o caso da
Europa, berço de tais normas.
Os reflexos da aplicação dos novos padrões contábeis foram muito bem
examinados por Ricardo Mariz de Oliveira11 que afirma, por força do disposto
no art. 176 da lei societária, deverem as demonstrações financeiras exprimir,
com clareza, a situação do patrimônio da sociedade e as mutações nele ocorridas
durante o exercício social. Prossegue, afirmando que, sendo o patrimônio, por
definição legal, uma universalidade jurídica, e não uma universalidade de fato,
integrada por um conjunto de relações jurídicas, como disposto no Código
Civil, não é possível dissociar o patrimônio da entidade (balanço) das normas
jurídicas aplicáveis às relações nele contidas; por consequência, olvidado esse
aspecto, a contabilidade não mais se prestará a servir como meio de prova, como
determina a lei. Conclui, com muito acerto, que os novos padrões contábeis
nasceram e prosperaram à sombra de sistemas jurídicos diversos dos nossos,
razão pela qual tantas dificuldades se apresentam sobre a matéria.
As Ls. 11.638/2007 e 11.941/2009 lograram realizar a segregação das
práticas contábeis de quaisquer outras, especialmente aquelas voltadas a
finalidades tributárias, preceito de longa data contido na lei societária, mas até
então não concretizado em sua plenitude.12 Assim, o art. 177, § 2º determina
que a entidade observe em registros auxiliares, sem modificação da escrituração
mercantil, as disposições de lei tributária ou de outra legislação especial, que
prescrevam, conduzam ou incentivem a utilização de métodos ou critérios
contábeis diferentes ou determinem registros, lançamentos ou ajustes ou a
elaboração de outras demonstrações financeiras. A absoluta segregação das
práticas contábeis e tributárias se deu com a introdução do chamado Regime
Tributário de Transição/RTT, o qual determinou que os padrões contábeis
aplicáveis, para fins tributários, seriam aqueles vigentes em 31 de dezembro
de 2007 (arts. 16 e segs. da L. 11.941/2009).
13 Sobre as dificuldades que resultam da positivação dos padrões contábeis, veja-se Elidie Palma
Bifano, Aspectos contábeis da Lei 11.638/07: Reflexos Legais, in Direito Tributário, Societário e a
reforma da lei das S/A – Inovações da Lei 11.638, coord. Sergio André Rocha. São Paulo: Quartier
Latin, 2008, pp. 45-47.
dimensões, inserido que está em nosso sistema jurídico: essas várias dimensões
determinarão quem são os usuários e destinatários dessas regras, formadoras
do Direito Contábil, a quem caberá sua interpretação, sem que, entretanto,
estejam eles assumindo a função que aos contadores cabe.
nele contidas; uma vez incorporado ao sistema jurídico, por agente regulador
ou por norma específica, caberá seu exame a partir da natureza jurídica que
lhe foi atribuída pela lei, aplicando-se seu conteúdo econômico, nos estritos
termos e situações em lei definidos.
5.7 Conclusão
A matéria aqui tratada demonstra que estamos apenas no início de
um novo período envolvendo o Direito e a Contabilidade não cabendo, em
nenhuma hipótese, a afirmativa de que a interpretação da matéria contábil é de
exclusiva competência do contador ou de que o estudioso do Direito deva dela
afastar-se. O que é certo é que as diversas dimensões do IFRS permitem concluir
que um Pronunciamento contábil envolve a participação de muitos especialistas,
uma vez que a Contabilidade volta-se a fatos econômicos que nascem no
seio da atividade empresarial, cuja riqueza imensa exige o conhecimento e a
participação de muitas áreas do saber.
O Regime Tributário do
Consórcio de Empresas
1. Introdução
3 Cf. trecho da análise relativa à relevância e urgência da Medida Provisória nº 510, promovida
pelo Senador Gim Argello, quando da elaboração do parecer aprovando o PLV nº 6, de 2011.
Disponível no sítio eletrônico do Senado Federal: http://www.senado.gov.br/atividade/Materia/
detalhes.asp?p_cod_mate=99546. Acesso em: 24.05.2011.
2. Arcabouço legislativo
2.1. LSA
A Lei nº 6.404/76 dispõe sobre as Sociedades por Ações (Lei das
Sociedades por Ações – LSA). Em capítulo específico, a lei disciplina os aspectos
societários do consórcio nos arts. 278 e 279.
O caput do art. 278 preceitua que as companhias e quaisquer outras
sociedades, sob o mesmo controle ou não, podem constituir consórcio para
executar determinado empreendimento, observado o disposto neste capítulo da lei.
A execução de determinado empreendimento capaz de motivar a
constituição do consórcio geralmente dá-se por prazo determinado. Todavia,
é possível que o sucesso da constituição do consórcio leve a uma (ou mais)
prorrogação(ões) e, no limite, permaneça até por tempo indeterminado.
A despeito de não ter personalidade jurídica, o consórcio é administrado
pela empresa consorciada líder. A relação entre as pessoas jurídicas envolvidas
na constituição do consórcio é contratual, e é nessa medida (proporção) que
cada uma responde por suas obrigações, além das demais condições ali previstas.
Não há presunção de solidariedade.4
Esse é o teor do § 1º do art. 278, que dispõe: “O consórcio não tem
personalidade jurídica e as consorciadas somente se obrigam nas condições
previstas no respectivo contrato, respondendo cada uma por suas obrigações,
sem presunção de solidariedade”.
O art. 279 dispõe sobre os requisitos necessários à elaboração do contrato
referente à constituição do consórcio:
“Art. 279. O consórcio será constituído mediante contrato aprovado
pelo órgão da sociedade competente para autorizar a alienação de
bens do ativo não-circulante, do qual constarão:
4 A respeito da solidariedade dos sujeitos passivos, o Código Tributário Nacional preceitua que: “Art.
124. São solidariamente obrigadas: I – as pessoas que tenham interesse comum na situação que
constitua fato gerador da obrigação principal; II – as pessoas expressamente designadas por lei.
Parágrafo único. A solidariedade referida neste artigo não comporta benefício de ordem. Art.
125. Salvo disposição de lei em contrário, são os seguintes os efeitos da solidariedade: I – o
pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita aos demais; II – a isenção ou remissão de
crédito exonera todos os obrigados, salvo se outorgada pessoalmente a um deles, subsistindo,
nesse caso, a solidariedade quanto aos demais pelo saldo; III – a interrupção da prescrição, em
favor ou contra um dos obrigados, favorece ou prejudica os demais”.
5 Confira a redação original dos dispositivos em foco: “§ 2º. O consórcio deverá manter registro
contábil das operações em Livro Diário próprio, devidamente registrado; § 3º. O registro
contábil das operações no consórcio deverá corresponder ao somatório dos valores das parcelas
das pessoas jurídicas consorciadas, individualizado proporcionalmente à participação de cada
consorciado no empreendimento; § 4º. Sem prejuízo do disposto nos §§ 2º e 3º, a escrituração
das operações objeto do consórcio, relativas à participação das pessoas jurídicas consorciadas,
deverá ser efetuada em suas respectivas contabilidades, em livros contábeis, fiscais e auxiliares
próprios; § 5º. Os livros utilizados para registro das operações do consórcio e os documentos que
permitam sua perfeita verificação deverão ser mantidos pelo consórcio e pelas pessoas jurídicas
consorciadas pelo prazo de decadência e prescrição estabelecidos pela legislação tributária”.
6 Essa redação do § 1º do art. 4º da IN RFB nº 834/2008 foi dada pela IN RFB nº 917/2009. Eis
a redação original: “Nas hipóteses autorizadas pela legislação do Imposto sobre Operações
relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual
e Intermunicipal (ICMS), a Nota Fiscal ou Fatura de que trata o caput poderá ser emitida pelo
consórcio, observada a apropriação de que trata o caput do art. 3º”.
7 Esta dicção do dispositivo contempla a redação dada pela IN RFB nº 1.057/2010. Eis a redação anterior:
“Às operações de consórcio autorizado por órgão competente de defesa da ordem econômica
aplica-se o disposto nesta Instrução Normativa. § 1º. O disposto no caput aplica-se inclusive na
hipótese de venda de bens ou de serviços de forma continuada, ainda que por intermédio das
pessoas jurídicas consorciadas. § 2º. Na hipótese do § 1º, se das operações do consórcio decorrer
industrialização de produtos: I – os créditos referentes às aquisições de matérias-primas, de produtos
intermediários e de material de embalagem e os débitos referentes ao IPI serão computados e
escriturados, por estabelecimento da pessoa jurídica consorciada, proporcionalmente à sua
participação no empreendimento industrial, conforme documento arquivado no órgão de registro;
II – o consórcio deverá figurar no documento fiscal de aquisição. § 3º. O disposto neste artigo
aplica-se inclusive no caso de as pessoas jurídicas operarem sob a forma de condomínio em um
mesmo estabelecimento industrial”. O art. 10 da IN RFB nº 834/2008 foi revogado pela IN RFB nº
1.057/2010 e tinha a seguinte redação: “Art. 10. O regime fiscal de que trata o art. 8º depende de
autorização da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) que disporá sobre o regime especial
de escrituração fiscal e de apuração do IPI e das contribuições, bem assim os termos, limites e
condições para sua implementação. Parágrafo único. O descumprimento das normas estabelecidas
no regime especial de que trata o caput acarretará o cancelamento da autorização”.
8 Essa redação foi dada pela IN RFB nº 917/2009. Confira a redação anterior: “Art. 9º. Para efeito
do disposto nesta Instrução Normativa, não será admitida a comunicação de créditos e débitos
da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins ou do IPI entre pessoas jurídicas consorciadas ou
entre os estabelecimentos destas”.
9 Seguiu-se então uma sucessão de atos regulamentares que revogaram e substituíram os anteriores:
em 20.01.2000, foi publicada a IN SRF nº 01; em 08.01.2001, foi publicada a IN SRF nº 2; em
01.10.2002, foi publicada a IN SRF nº 200; em 12.09.2005, foi publicada a IN RFB nº 568; em
02.07.2007, foi publicada a IN RFB nº 748; e, por último, em 09.02.2010, foi publicada a IN
RFB nº 1.005, que revogou a anterior.
10 Nesta hipótese, a empresa administradora deverá apresentar à unidade pagadora os documentos de
cobrança, acompanhados das respectivas notas fiscais, correspondentes aos valores dos fornecimentos
de bens ou serviços de cada empresa participante do consórcio, consoante dispõe o § 1º.
11 Em seguida, a IN SRF nº 480, de 15.12.2004, publicada em 29.12.2004 e republicada em
31.12.2004, reproduziu as mesmas regras acima, agora previstas no art. 16 e corrigiu o erro
material contido na referência ao art. 19 que, na realidade, se cuidava do art. 29.
12 Além disso, o decreto estadual prevê que a empresa líder agirá como mandatária das demais
consorciadas e deve registrar todas as operações da atividade consórtil em livros fiscais do
próprio consórcio, ficando responsável pela apuração e recolhimento do ICMS, aplicando-se-
lhes a legislação pertinente às empresas em geral no que se refere às obrigações principal e
acessórias. Se ocorrer saldo credor, ele pode ser transferido para as consorciadas na proporção
de sua participação no consórcio. As empresas consorciadas respondem solidariamente pelas
obrigações tributárias relacionadas com a atividade consórtil, nos termos do art. 124 do CTN e
do art. 38, inciso II, da Lei nº 9.478/97.
3. Jurisprudência e orientações
Nesse tópico, cabe verificar como a jurisprudência nacional cuida dos
assuntos tributários relacionados ao consórcio e às empresas consorciadas. Além
de trazer alguns julgados oriundos de diferentes tribunais do Poder Judiciário,
enriqueceremos o estudo com ementas e trechos de acórdãos oriundos de órgãos
administrativos, como o antigo Conselho de Contribuintes (atual Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais) e algumas orientações emanadas pelas
autoridades administrativas fiscais através de soluções de consultas.
Com isso, completaremos o quadro evolutivo normativo e jurisprudencial
existente no momento de edição da Lei nº 12.402/2011. Dentre os julgados
provenientes do antigo Conselho de Contribuintes (CC), destacaremos alguns
que podem ilustrar os diferentes tipos de litígios em matéria tributária e com
o envolvimento direto da figura do consórcio.
3.1. Administrativa
Em julgamento ocorrido em 06.12.2005, o então Conselho de Contribuinte
decidiu negar provimento ao recurso voluntário, por unanimidade de votos,
quanto ao faturamento proveniente da venda de produtos obtidos na atividade
do consórcio. De fato, constou na ementa que: “O consórcio de empresa não
possui personalidade jurídica própria, sendo contribuinte da COFINS cada
empresa consorciada, que recolhe a Contribuição na proporção do rateio de
receitas estabelecido em contrato”.13
13 No trecho do voto do Conselheiro Relator pertinente ao presente estudo, ele cotejou o exame da
LSA com o contrato específico de consórcio celebrado pelas empresas consorciadas, destacando
que: “as duas consorciadas ‘sempre serão consideradas individualmente (e não solidariamente)
responsáveis perante terceiros por suas respectivas obrigações’ (cláusula 3.01); “a Petrobrás obriga-
se a dar destinação comercial ao petróleo produzido a partir do Campo de Marlim (cláusula 8.01,
h)”; a Receita Real do Consórcio, dada pelo número de barris de petróleo extraídos multiplicado
pelo valor em Reais do preço do produto, é repartida entre a Petrobrás e a Marlim, cabendo a
esta um percentual que varia de 2% a 30%, exceto nos anos
de 1999 e 2002, quando o percentual máximo da Marlim poderá alcançar 70%” (cláusulas 9 e
10); “os custos e despesas do consórcio serão rateados na mesma proporção da Receita Real do
Consórcio (cláusula 15)”. Registrou, ademais, que: “Embora somente a Petrobrás seja responsável
pela comercialização do petróleo extraído, a receita é repartida conforme a fórmula estabelecida
no contrato (cláusulas 9 e 10), de modo que a cada transferência da Petrobrás para a Marlim há
incidência da COFINS e do PIS, sobre o montante da receita transferida”. Em seguida, consignou
que: “No caso da Petrobrás ter faturado pelo total do óleo vendido (é o que informa a recorrente),
deve haver a repartição do valor global, na forma do estabelecido pelo contrato do consórcio”.
O Relator concluiu que: “(...) a Petrobrás não é responsável pelo recolhimento total, incluindo
a parte transferida à Marlim. Se agiu assim e recolheu PIS e COFINS sobre receita alheia, faz jus
à repetição do indébito respectivo” (2º CC – 3ª Câmara – Ac. 203-10.571, Rel. Cons. Emanuel
Carlos Dantas de Assis, j. 06.12.2005, DOU 12.03.2007).
14 Nesse caso, o Conselheiro Relator entendeu que: “(...) no tocante aos eventuais valores recolhidos
a maior, como são recolhimentos efetuados em nome do consórcio, caracterizam-se como
recolhimentos indevidos, não podendo ser compensados na apuração do valor do auto de infração.
Cabe ao consórcio providenciar eventual pedido de restituição” (2º CC – 1ª Câmara – Ac. 201-
80.596, Rel. Cons. José Antonio Francisco, j. 20.09.2007, DOU 13.11.2007).
15 Cf. 1º CC – 7ª Câmara – Ac. 107-08.961, Rel. Cons. Natanael Martins, j. 29.03.2007, DOU
07.05.2007.
27 O Conselheiro Relator entende que: “A Lei de fato não é expressa no sentido de que deva
necessariamente dar ao contrato uma duração determinada. O empreendimento objetivado pela
união das sociedades por ter uma amplitude muito grande, inclusive no seu aspecto temporal” (1º
CC – 7ª Câmara – Ac. 107-08.961, Rel. Cons. Natanael Martins, j. 29.03.2007, DOU 07.05.2007).
28 Cf. 1º CC – 7ª Câmara – Ac. 107-08.961, Rel. Cons. Natanael Martins, j. 29.03.2007, DOU
07.05.2007.
29 Em seguida, o Relator Conselheiro destacou que: “E, de fato, seria injustificável atribuir interpretação que
transformaria o instituto do consórcio numa espécie de sociedade para um negócio singular e ocasional,
tornando-o incompatível com o seu escopo principal, que é a colaboração entre empresas para
realizar um objetivo comum, a qual, longe de ser eventual ou temporária, reveste-se, cada vez mais,
do caráter permanente”. Concluindo, afirmou que: “Parece-nos plenamente admissível, portanto,
constituir-se consórcio tanto para realizações temporárias quanto para atividades permanentes,
existindo a imposição legal apenas a que se faça precisa descrição da operação que pretendem
realizar as partes consorciadas, por meio da colaboração interempresarial. Nesta linha de raciocínio,
injustificado, ainda, cogitar-se que desfiguraria a natureza de consórcio com base na permanência
do objeto, quando presentes todos os elementos essenciais no contrato de constituição, nos termos
da lei, sobretudo a especificação da duração e a possibilidade de sua prorrogação” (1º CC – 7ª
Câmara – Ac. 107-08.961, Rel. Cons. Natanael Martins, j. 29.03.2007, DOU 07.05.2007).
30 A esse respeito, confira: “Consórcio de empresas. Nacional e estrangeira. Autonomia das consorciadas.
Emissão de notas fiscais, Escrituração. Determinação da divisão das receitas. Regime aplicável. O
consórcio, constituído nos termos dos arts. 278 e 279 da Lei das SA, não possui personalidade jurídica
própria, mantendo-se a autonomia jurídico-tributária de cada uma das consorciadas. A emissão das
notas fiscais da comercialização daquilo que há de ser produzido em consórcio pode ser tanto feita
pela administradora do consórcio, fazendo-se referência à existência deste e à parcela que cabe à
outra consorciada, como também pode ser feita por ambas as consorciadas, proporcionalmente à
parcela de receita que cabe a cada uma, devendo a forma escolhida constar no contrato de consórcio
e ser utilizada uniformemente durante o empreendimento. Os registros das operações relativas ao
consórcio podem ser feitos pela consorciada-administradora em livros específicos para efeitos de
controle, mas a respectiva receita bruta que lhe couber deverá ser levada ao seu próprio resultado.
Devido à autonomia que cada empresa mantém, apenas a parcela correspondente à participação
da consorciada irá compor a base de cálculo do IRPJ por ela devido, bem como, por óbvio, as
despesas ou custos incorridos pela outra consorciada não podem ser aproveitados. A determinação
das proporções de receita atribuídas às duas consorciadas, nacional e estrangeira, que integram um
mesmo grupo econômico, não está submetida às regras dos preços de transferência, eis que entre
elas não haverá operação de importação, exportação ou aquisição, aplicando-se, apenas, as regras
gerais relativas à distribuição disfarçada de lucros” (Solução de Consulta nº 207, de 26.07.2001).
31 Solução de Consulta nº 217, de 28.11.2007.
32 Nesse sentido: “REGIME ESPECIAL DE TRIBUTAÇÃO – RET. Não há previsão legal para que o
consórcio, constituído nos termos dos arts. 278 e 279 da Lei nº 6.404, de 1976, possa optar pelo
Regime Especial de Tributação – RET. Entretanto, consórcio pode ser contratado para construir
unidades habitacionais de valor comercial de até R$ 75.000,00 (setenta e cinco mil reais) no âmbito
do Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV, de que trata a Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009,
ficando autorizadas as pessoas jurídicas participantes do consórcio, em caráter opcional,
a efetuar o pagamento unificado de tributos equivalentes a um por cento da receita mensal auferida
pelo contrato de construção, proporcionalmente à participação de cada uma no empreendimento”
(Solução de Consulta nº 385, de 28.10.2010).
33 Nesse sentido: “CONSÓRCIO. EMPRESA ESTRANGEIRA. RETENÇÃO DE IRRF. Na remuneração de
serviços técnicos prestados por empresa domiciliada na França integrante de consórcio constituído
nos termos dos artigos 278 e 279 da Lei nº 6.404/76, a retenção e o recolhimento do IRRF devem
ser efetuados em nome da pessoa jurídica consorciada, na proporção da sua participação na
execução do contrato” (Solução de Consulta nº 74, de 29.05.2008).
34 Nesse sentido: “CONSÓRCIO DE EMPRESAS. RENDIMENTO DO TRABALHO. Consórcio de
empresas, constituído por tempo determinado para execução de obras contratadas por órgão
público, não possui personalidade jurídica, cabendo a cada uma das empresas consorciadas
assumir obrigações e responsabilidades a elas atribuídas bem como prestações específicas. Sendo
assim, a empresa consorciada que contratar pessoa física como assalariada ou autônoma, mesmo
que para exercer atividades de interesse comum a todas as consorciadas, dever reter o imposto
de renda na fonte incidente sobre a remuneração do trabalho” (Solução de Consulta nº 102, de
18.08.2009).
35 A respeito, confira:eu não posso olhar pra cara de ninguém que ele esteja conversando “O consórcio
constituído em conformidade com os artigos 278 e 279 da Lei nº 6.404/76 não é dotado de
personalidade jurídica, motivo pelo qual a contratação de pessoal, a contratação de subempreiteiras,
a prestação de declarações ao fisco bem como a celebração de negócios jurídicos em geral devem
ser levadas a cabo pelas pessoas jurídicas participantes, nos termos e condições fixadas no contrato
de constituição, desde que este não desnature o instituto nem contrarie seus elementos essenciais.
Cabe às contratantes, e não ao consórcio, a retenção de contribuições previdenciárias referentes
aos serviços prestados pelas subempreiteiras e o respectivo recolhimento no CNPJ destas, mediante
o código de pagamento 2631. Entende-se por competência, para fins de retenção de contribuições
previdenciárias, o mês em que a nota fiscal de serviços/fatura foi emitida. Para que o consórcio possa
gozar do benefício de que trata o art. 170 da IN MPS/SRP nº 3/05 é estritamente necessário que a
descrição dos serviços bem como os respectivos valores estejam detalhadamente discriminados na
nota fiscal de serviços/fatura. Caso contrário, aplicar-se-á a retenção sobre o valor bruto constante
da NFS” (Solução de Consulta nº 57, de 06.07.2009).
3.2. Judicial
Na seara judicial, encontramos poucos julgados versando sobre temas
relacionados ao regime tributário do consórcio de empresas. Quando encontramos
no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, se limitaram a decidir a questão de
fundo sem maiores considerações acerca da condição peculiar do consórcio ou,
ainda, a cuidar de aspectos formais e processuais envolvendo a representação
processual, pouco importando o direito material subjacente que certamente
seria mais interessante ao desenvolvimento desse trabalho de pesquisa. Na esfera
dos tribunais federais, contudo, logramos pinçar algumas ementas e trechos de
acórdãos que tratam efetivamente de aspectos referentes às obrigações tributárias,
principais e acessórias, dos consórcios e das empresas consorciadas.
No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, restou decidido que, quando
há eleição da empresa líder com exclusividade para a representação processual do
consórcio, não pode as demais pessoas jurídicas consorciadas exercer a ação, ainda
que em defesa dos interesses do consórcio. Nesse sentido, o STJ decidiu que:
“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO
ESPECIAL. CONSÓRCIO DE EMPRESAS. ELEIÇÃO
DE EMPRESA LÍDER. IRREGULARIDADE NA
REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL. EXTINÇÃO DO
PROCESSO POR ILEGITIMIDADE. DESPROVIMENTO DO
RECURSO ESPECIAL.
1. ‘O consórcio não é uma pessoa jurídica, mas uma associação de
empresas que conjugam recursos humanos, técnicos e materiais para a
36 Nesse sentido: “As obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes das operações
praticadas pelo consórcio, são de responsabilidade das próprias consorciadas, que devem
responder proporcionalmente à sua participação no empreendimento. Opcionalmente, a partir
de 29.10.2010, o consórcio que realize a contratação, em nome próprio, de pessoas jurídicas e
físicas, pode efetuar a retenção de tributos administrados pela RFB e o cumprimento das respectivas
obrigações acessórias, utilizando seu próprio CNPJ, ficando nessa situação as consorciadas como
solidariamente responsáveis” (Solução de Consulta nº 47, de 14.06.2011).
39 A respeito, confira o seguinte trecho do voto: “Por conseguinte, é fato que, conforme discorre a
impetrante, existem nítidas diferenças entre os consórcios e as empresas, tais como a existência
de personalidade jurídica e de patrimônio próprio e a habitualidade do desenvolvimento de suas
atividade, que só estão presentes nas empresas. Não obstante, isso não faz com que, pelo simples
fato de consistir em um consórcio, a impetrante seja excluída do rol de sujeitos passivos das
contribuições previdenciárias; para os fins da Lei nº 8.212/91, é necessário apenas o vínculo de
prestação de serviços, com pagamento de remuneração, entre a entidade e segurados obrigatórios,
o que ocorre no caso” (TRF/2ª Região – 4ª Turma – AMS 2004.51.10.007081-7, Rel. Des. Fed.
Luiz Antonio Soares, j. 02.09.2008, DJE 06.11.2008).
40 TRF/2ª Região – 7ª Turma – AC 1997.51.01.071705-2, Rel. Des. Fed. Reis Friede, j. 07.12.2005,
DJU 22.02.2006.
41 TRF/2ª Região – 4ª Turma – AMS 2002.51.01.002602-8, Rel. Des. Fed. Alberto Nogueira, j.
09.03.2010, DJE 13.04.2010.
possui personalidade jurídica, nem patrimônio próprio, certo é que não se poderá negar a
legitimatio ad causam das autoras, ora apelantes, em cujos patrimônios incidirão diretamente todos
os encargos ou vantagens decorrentes do procedimento licitatório” (TRF/3ª Região – 4ª Turma –
AC 0751451-28.1986.4.03.6100, Rel. Des. Fed. Marli Ferreira, j. 27.09.2010, DJE 15.10.2010).
44 Eis a dicção dos dispositivos: “Art. 132. A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão,
transformação ou incorporação de outra ou em outra é responsável pelos tributos devidos até a
data do ato pelas pessoas jurídicas de direito público fusionadas, transformadas ou incorporadas.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se aos casos de extinção de pessoas jurídicas
de direito privado, quando a exploração da respectiva atividade seja continuada por qualquer
sócio remanescente, ou seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma individual.
Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer
título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar
a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual,
responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até a data do
ato: I – integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade; II
– subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de 6 (seis)
meses, a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio,
indústria ou profissão. (...)”.
45 TRF/3ª Região – 5ª Turma – AG 168.997, Rel. Des. Fed. André Nabarrete, j. 27.06.2005, DJU
31.08.2005.
46 TRF/4ª Região – 2ª Turma – AC 2007.71.00.030008-0, Rel. Des. Fed. Luciane Amaral Corrêa
Münch, j. 28.04.2009, DJE 18.06.2009. No mesmo sentido: TRF/4ª Região – 1ª Turma – Reex.
2007.71.08.009564-0, Rel. Des. Fed. Joel Ilan Paciornik, j. 18.02.2009, DJE 25.03.2009. O
dispositivo referido preceitua que: “§ 4º. Não poderá se beneficiar do tratamento jurídico
4.1. A MP 510
Em 29.10.2010, foi publicada a Medida Provisória nº 510, que regulou
o cumprimento de obrigações tributárias por consórcios que realizem negócio
jurídico em nome próprio e deu outras providências.
O art. 1º dispôs que: “Os consórcios cumprirão as respectivas obrigações
tributárias sempre que realizarem negócios jurídicos em nome próprio, inclusive
na contratação de pessoas jurídicas ou físicas, com ou sem vínculo empregatício”.
O § 1º do art. 1º previu que: “As empresas consorciadas serão solidariamente
responsáveis pelas obrigações tributárias decorrentes dos negócios jurídicos de
que trata o caput, não se aplicando, para efeitos tributários, o disposto no § 1º do
art. 278 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976” (grifamos).
O § 2º do art. 1º estabeleceu que: “O disposto neste artigo aplica-se
somente aos tributos federais”.
A Exposição de Motivos com que a Subchefia para Assuntos Jurídicos
recebeu do Ministério da Fazenda o então projeto de Medida Provisória e
submeteu ao Presidente da República, trouxe a seguinte justificativa, no que
interessa ao presente estudo:
diferenciado previsto nesta Lei Complementar, incluído o regime de que trata o art. 12 desta
Lei Complementar, para nenhum efeito legal, a pessoa jurídica: I – de cujo capital participe
outra pessoa jurídica; II – que seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, de pessoa
jurídica com sede no exterior; III – de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como
empresário ou seja sócia de outra empresa que receba tratamento jurídico diferenciado nos
termos desta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que
trata o inciso II do caput deste artigo; IV – cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez
por cento) do capital de outra empresa não beneficiada por esta Lei Complementar, desde que
a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; V – cujo
sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica com fins lucrativos,
desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo;
VI – constituída sob a forma de cooperativas, salvo as de consumo; VII – que participe do capital
de outra pessoa jurídica; VIII – que exerça atividade de banco comercial, de investimentos e de
desenvolvimento, de caixa econômica, de sociedade de crédito, financiamento e investimento
ou de crédito imobiliário, de corretora ou de distribuidora de títulos, valores mobiliários e
câmbio, de empresa de arrendamento mercantil, de seguros privados e de capitalização ou de
previdência complementar; IX – resultante ou remanescente de cisão ou qualquer outra forma
de desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em um dos 5 (cinco) anos-calendário
anteriores; X – constituída sob a forma de sociedade por ações”.
49 Cf. tramitação do PLV nº 6, de 2011, disponível no sítio eletrônico do Senado Federal: http://www.
senado.gov.br/atividade/Materia/detalhes.asp?p_cod_mate=99546. Acesso em: 24.05.2011
50 O resultado final da votação foi o seguinte: Sim 43, Não 14, Total 57.
2011
52 Nesse sentido, cf. o áudio ref. a Mesa de Debates promovida pela Associação Brasileira de Direito
Financeiro – ABDF, ocorrida no dia 26.05.2011, em sua sede, que tratou da Lei nº 12.402/2011
e o tratamento das obrigações tributárias.
53 Nesse sentido, cf. o áudio ref. a Mesa de Debates promovida pela Associação Brasileira de Direito
Financeiro – ABDF, ocorrida no dia 26.05.2011, em sua sede, que tratou da Lei nº 12.402/2011
e o tratamento das obrigações tributárias.
54 Em sítio eletrônico especializado em informações fiscais e legais, foi divulgado informativo no
qual constou: “Por esse motivo, os consórcios que tenham realizado algum recolhimento em
nome próprio a título de IRPJ, CSLL, PIS/PASEP ou COFINS no período compreendido entre 29
de outubro de 2010 e 2 de maio de 2011 deverão adequá-lo à regra contida na Lei nº 12.402
de 2011 [art. 1º]”. O referido informativo concluiu que: “As obrigações tributárias instituídas por
meio da Medida Provisória nº 510 de 2010 tornaram-se sem efeitos desde 29 de outubro de 2010,
considerando-se a retroatividade dos efeitos da nova redação dada ao artigo 1º, quando de sua
conversão na Lei nº 12.402 de 2011”. Além disso, cabe registrar que: “Os tributos devidos no
período compreendido entre 29 de outubro de 2010 e 2 de maio de 2011, salvo normatização
em contrário, deverão ser recolhidos em nome das empresas consorciadas,
5. Considerações finais
Nos últimos anos o Brasil ensaia dar os seus mais importantes passos em
direção ao tão esperado ciclo virtuoso rumo ao pleno desenvolvimento, com o
fortalecimento da economia, a geração de mais empregos, com mão-de-obra
qualificada e uma distribuição mais justa da riqueza que circula no País.
Os mega projetos e empreendimentos que atualmente estão em foco no
campo da infra-estrutura são múltiplos e variados, o que indica auspicioso
futuro nos próximos anos, como o PAC, a construção de refinarias de petróleo,
a construção do “trem-bala”, a exploração do Pré-Sal, o recrudescimento da
indústria naval, o crescimento da indústria aeronáutica, a realização da Copa
das Confederações da FIFA em 2013, da Copa do Mundo da FIFA em 2014
e das Olimpíadas em 2016, dentre tantos outros.
Dada a complexidade e o vulto de tais mega projetos e empreendimentos,
surge a crescente necessidade de conjugar esforços em prol do objetivo comum
de duas ou mais grandes empresas que, sozinhas, possivelmente não teriam
condições para alcançar a sinergia ou o resultado pretendido.
Se a operacionalização da exploração do negócio que se busca não contar
com uma reestruturação societária ou participação acionária entre duas ou
mais pessoas jurídicas interessadas na sua consecução, com vistas a otimizar
as possíveis sinergias que envolvem as suas atividades, então a constituição do
consórcio passa a ser uma alternativa interessante a ser considerada. Nela, a
autonomia jurídico-tributária de cada uma das empresas envolvidas é mantida
intacta e o consórcio não é dotado de personalidade jurídica.
Como decorrência disso, as obrigações tributárias (principais e acessórias)
referentes à realização do negócio próprio do consórcio devem ser suportadas
pelas pessoas jurídicas que o compõem. Assim, a regra de ouro na relação
contratual referente ao consórcio é a proporção da participação de cada empresa
consorciada no empreendimento (constante no contrato de constituição do
Depreciação de Bens e
a Neutralidade Fiscal
do Regime Tributário de
Transição – RTT
1. Introdução
Com o advento da Lei nº 11.638/2007, promulgada em 28 de dezembro de
2007, ocorreram significativas alterações na legislação societária, em particular
na parte da Lei nº 6.404/76 (que disciplina a sociedade por ações) que trata,
dentre outros assuntos, das demonstrações financeiras das empresas, do lucro
e sua apuração, dos dividendos e sua distribuição, contabilização de operações
societárias como fusão e incorporação, dos investimentos em outras sociedades
e sua contabilização, e critérios de valorização dos ativos das pessoas jurídicas.
O principal objetivo das alterações trazidas pela Lei nº 11.638/2007 foi
o alinhamento das regras contábeis adotadas no Brasil as normas contábeis
internacionais, editadas pelo International Accounting Standard Board (“IASB”),
entidade técnica responsável pela emissão do conjunto de normas contábeis
de aplicação global denominado International Financial Reporting Stantards
(“IFRS”).
O IRFS, por sua vez, tem como objetivo a convergência de normas e
princípios contábeis, de sorte que sua adoção por empresas ao redor do globo
facilite a divulgação de informações econômicas e financeiras para os usuários
de demonstrações contábeis.
A partir do advento da referida lei, embora no âmbito contábil tenha
ocorrido uma positivação de novos padrões e princípios contábeis, ocasionando
uma alteração da forma por meio da qual determinadas operações deveriam
ser contabilizadas, no âmbito tributário, a Lei nº 11.638/2007 determinou que
os lançamentos efetuados em decorrência da adoção dos novos parâmetros
contábeis não poderiam ter impactos nas apurações dos tributos incidentes
sobre a renda e a receita das empresas.
Com a entrada em vigor da Lei nº 11.941/2009, resultante da conversão
da Medida Provisória nº 449/20081, houve a instituição do denominado Regime
Tributário de Transição (“RTT”), cujo objetivo era neutralizar os efeitos das
novas regras contábeis para fins fiscais. Assim, para a apuração do lucro real da
pessoa jurídica, não deveriam ser considerados os novos parâmetros contábeis
introduzidos por meio da Lei nº 11.638/2007, devendo ser utilizados os critérios
anteriores à entrada em vigor desta Lei.
2 Efeitos tributários da lei nº 11.637/07. São Paulo: Ed. do Autor, 2008, p. 38.
3 Op. cit., pp. 103-104.
11.638, de 2007 – deve prolongar-se pelos próximos anos, razão pela qual,
há necessidade de que o RTT não seja aplicável apenas no ano de 2008,
mas também no ano de 2009, e, se necessário, nos anos subseqüentes,
quando, então, ao se descortinar o novo padrão da contabilidade
empresarial a ser adotado no País, possa-se regular definitivamente o
modo e a intensidade de integração da legislação tributária com os novos
métodos e critérios internacionais de contabilidade. Nesse contexto, o §
1º do art. 15 da proposição em tela prevê a aplicação do RTT até que seja
editada lei regulando definitivamente os efeitos tributários das mudanças
nos critérios contábeis, a qual pretende-se que seja neutra, ou seja, que
não afete a carga tributária.
10. O RTT será facultativo para os anos-calendário de 2008 e 2009,
para que não ofenda o princípio da irretroatividade tributária, previsto
na alínea “a” do inciso III do art. 150, e a regra do § 2º do art. 62, da
Constituição Federal de 1988, pois, a adoção do referido regime importa não
apenas em desonerações, mas em sujeição completa aos critérios e métodos
contábeis da legislação fiscal em 31 de dezembro de 2007. A partir de 2010,
caso ainda não esteja em vigor o ajuste da legislação tributária aos novos
critérios contábeis, o RTT será obrigatório.” (não destacado no original)
Verifica-se que o RTT nasceu por meio da Medida Provisória nº 449/2008
que, em seus artigos 15 a 22, disciplinou os meios pelos quais os contribuintes
sujeitos à adoção do regime em questão deveriam ajustar o seu resultado.
Com a conversão da Medida Provisória nº 449/2008 na Lei
nº 11.941/2009, a instituição do RTT se deu de forma definitiva, devendo ser
observado por pessoas jurídicas sujeitas à apuração do IRPJ e da CSLL pelo
lucro real, facultativamente nos anos-calendários de 2008 e 2009, e obrigatória
a partir do ano de 2010.
2.2. Instituição
Por meio das alterações trazidas pela Lei nº 11.638/2007, houve uma
positivação de determinados parâmetros contábeis, o que, por conseqüência,
terminou por gerar uma reafirmação da separação entre as normas contábeis
e tributárias e a alteração da forma pela qual a empresa apurava o seu
resultado em um determinado período.
Visando não impactar o lucro real, a referida lei trouxe um dispositivo
estabelecendo que os lançamentos efetuados em observância às novas regras contábeis
não deveriam surtir reflexos tributários. Todavia, deve-se atentar para o fato de que
a Lei nº 11.638/2007, embora tenha expressado em seu conteúdo a preocupação do
legislador no que tange à neutralidade fiscal, não previu um mecanismo para que, na
prática, esta neutralidade pudesse ser alcançada pelos contribuintes.
Esta situação se alterou com o advento da Lei nº 11.941/2009, resultante
da conversão da Medida Provisória nº 449/20084, que revogou o parágrafo 7º,
do artigo 177, da Lei nº 6.404/76, instituindo, em seu lugar, por meio de seu
artigo 15, o RTT, cujo objetivo foi o de conceber um meio de neutralizar os
efeitos das novas regras contábeis para fins fiscais. Assim, para a apuração do
lucro real da pessoa jurídica, não devem ser considerados os novos parâmetros
contábeis introduzidos por meio da Lei nº 11.638/07, devendo ser utilizados
os critérios anteriores à entrada em vigor desta lei.
A instituição do RTT veio através dos artigos 15 a 17 da Lei
nº 11.941/2009, ao determinarem que tal regime teria por objetivo possibilitar a
neutralidade fiscal dos lançamentos realizados sob a égide dos novos parâmetros
contábeis, devendo ser considerados, para fins tributários, os métodos e critérios
contábeis vigentes em 31 de dezembro de 20075§. Esse mesmo tratamento deve
ser dado às normas expedidas pela CVM e pelos demais órgãos reguladores que
visem alinhar a legislação específica com os padrões internacionais de contabilidade.
O RTT, segundo o artigo 15 da Lei nº 11.941/2009, in verbis, terá vigência
até a entrada em vigor de lei que discipline os efeitos tributários dos novos
métodos e critérios contábeis, sendo que os ajustes necessários à neutralidade
fiscal serão controlados no Livro de Apuração do Lucro Real (“LALUR”).
“Art. 15. Fica instituído o Regime Tributário de Transição – RTT de
apuração do lucro real, que trata dos ajustes tributários decorrentes
dos novos métodos e critérios contábeis introduzidos pela Lei nº
11.638, de 28 de dezembro de 2007, e pelos arts. 37 e 38 desta Lei.
§ 1º O RTT vigerá até a entrada em vigor de lei que discipline os
efeitos tributários dos novos métodos e critérios contábeis, buscando
a neutralidade tributária.
6 Frise-se que o artigo 2º da Instrução Normativa RFB nº 949/09, que regulamentou o RTT, ratificou
expressamente a questão da neutralidade fiscal para os contribuintes que aderirem ao Regime,
verbis:
“Art. 2º As alterações introduzidas pela Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007, e pelos arts. 37
e 38 da Lei nº 11.941, de 2009, que modifiquem o critério de reconhecimento de receitas, custos
e despesas computadas na escrituração contábil, para apuração do lucro líquido do exercício
definido no art. 191 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, não terão efeitos para fins de
apuração do lucro real e da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL)
da pessoa jurídica sujeita ao RTT, devendo ser considerados, para fins tributários, os métodos e
critérios contábeis vigentes em 31 de dezembro de 2007.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput às normas expedidas pela Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), com base na competência regulamentar conferida pelo § 3º do art. 177 da Lei
nº 6.404, de 1976, e pelos demais órgãos reguladores que visem alinhar a legislação específica
com os padrões internacionais de contabilidade.” (não destacado no original)
7 Imposto de Renda das Empresas. São Paulo: Ed. Atlas, 2010, p. 641.
Questão a ser verificada, portanto, para que se conclua pela aplicação ou não
do RTT é se houve, nos termos das alterações previstas nas Leis nº 11.638/2007
e 11.941/2009, mudança de critério contábil em determinados lançamentos
realizados sob a égide dos dispositivos legais em tela, em especial no que tange
aos critérios e regras para as taxas de depreciação e reconhecimento das despesas
geradas pela diminuição do valor do ativo imobilizado.
3. Depreciação
3.1 Considerações Iniciais
No cotidiano das empresas, em decorrência do uso, ou mesmo por ação
da natureza ou obsolescência, os bens de seu ativo imobilizado têm um prazo
limitado de vida útil econômica, na medida em que estes se desgastam no
decorrer da atividade operacional, acarretando a diminuição do seu valor, que
deverá ser reconhecido nas demonstrações financeiras das pessoas jurídicas em
contas denominadas pela contabilidade como “depreciação”.
A regulação da forma por meio da qual a depreciação deve ser contabilizada
se dá por meio da alínea a, dos parágrafos 2º e 3º, do artigo 183, da Lei nº
6.404/76, com redação dada pela Lei nº 11.941/2009, in verbis:
Art. 183: (...)
§ 2o A diminuição do valor dos elementos dos ativos imobilizado e
intangível será registrada periodicamente nas contas de: (Redação
dada pela Lei nº 11.941, de 2009)
a) depreciação, quando corresponder à perda do valor dos direitos
que têm por objeto bens físicos sujeitos a desgaste ou perda de
utilidade por uso, ação da natureza ou obsolescência;
§ 3o A companhia deverá efetuar, periodicamente, análise sobre a
recuperação dos valores registrados no imobilizado e no intangível,
a fim de que sejam: (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009)
I – registradas as perdas de valor do capital aplicado quando houver
decisão de interromper os empreendimentos ou atividades a que
10 Novo Padrão Contábil Brasileiro e os Impactos Fiscais no Registro das Despesas de Depreciação,
in Revista Dialética de Direito Tributário nº 166, p. 12.
11 Sergio de Iudícibus (Et. Alli). Manual de Contabilidade Societária. São Paulo: Editora Atlas, 2010,
p. 249.
12 Op. cit, pp. 249-250.
13 Art. 305. Poderá ser computada, como custo ou encargo, em cada período de apuração, a
importância correspondente à diminuição do valor dos bens do ativo resultante do desgaste pelo
uso, ação da natureza e obsolescência normal (Lei nº 4.506, de 1964, art. 57).
14 Art. 305. (...)
§ 1º A depreciação será deduzida pelo contribuinte que suportar o encargo econômico do
desgaste ou obsolescência, de acordo com as condições de propriedade, posse ou uso do bem
(Lei nº 4.506, de 1964, art. 57, § 7º).
§ 2º A quota de depreciação é dedutível a partir da época em que o bem é instalado, posto em
serviço ou em condições de produzir (Lei nº 4.506, de 1964, art. 57, § 8º).
§ 3º Em qualquer hipótese, o montante acumulado das quotas de depreciação não poderá
ultrapassar o custo de aquisição do bem (Lei nº 4.506, de 1964, art. 57, § 6º).
§ 4º O valor não depreciado dos bens sujeitos à depreciação, que se tornarem imprestáveis ou
caírem em desuso, importará redução do ativo imobilizado (Lei nº 4.506, de 1964, art. 57, § 11).
§ 5º Somente será permitida depreciação de bens móveis e imóveis intrinsecamente
relacionados com a produção ou comercialização dos bens e serviços (Lei nº 9.249, de 1995,
art. 13, inciso III).
que somente será permitida a depreciação de bens móveis ou imóveis cujo uso
esteja intrinsecamente relacionado com a produção ou comercialização dos
bens e serviços.
Merece destaque também o disposto nos artigos 309 e 310 do RIR/99.
No que tange ao disposto no artigo 309 do Regulamento15 em tela, o seu caput
determina que a quota de depreciação registrável na escrituração como custo
ou despesa operacional será determinada mediante a aplicação da taxa anual
de depreciação sobre o custo de aquisição dos bens depreciáveis:
Ademais, a análise dos parágrafos 1º e 2º do referido dispositivo
legal permite verificar que a quota anual de depreciação será ajustada
proporcionalmente, no curso do ano exercício, no caso de período de apuração
com prazo de duração inferior a 12 meses, e/ou nas hipóteses de acréscimo ou
baixa de bem no ativo da empresa.
Há ainda, nos termos dos dispositivos legais tratados em questão, a
possibilidade de a depreciação ser apropriada em quotas mensais, sendo
dispensado o ajuste da taxa para os bens postos em funcionamento ou baixados
no curso do mês.
O parágrafo 3º do artigo 309 do RIR/99 determina que a taxa anual de
depreciação será fixada em função do prazo durante o qual se possa esperar utilização
econômica do bem pelo contribuinte, na produção de seus rendimentos.
O artigo 310 do RIR/9916, por sua vez, determina em seu parágrafo 1º
que caberá a RFB, periodicamente, publicar o prazo de vida útil admissível
para fins fiscais, em condições normais ou médias, para cada espécie de bem,
ficando assegurado ao contribuinte o direito de computar a quota efetivamente
adequada às condições de depreciação de seus bens, desde que, em se tratando
de taxa diferente, fazendo a prova dos motivos pelos quais adotou uma taxa
diferente da publicada pelo Fisco.
Vê-se, portanto, que existe a possibilidade do contribuinte adotar os
valores fixados pela RFB ou, alternativamente, utilizar a quota efetivamente
depreciada, devendo, neste caso, fazer prova dessa adequação, através de um
laudo emitido pelo Instituto Nacional de Tecnologia, ou de outra entidade
oficial de pesquisa científica ou tecnológica, prevalecendo os prazos de vida
útil recomendados por essas instituições.
O Parecer Normativo CST nº 79/76 estabeleceu que se a pessoa jurídica
adotar taxa de depreciação inferior à permitida como dedutíveis, na apuração do
lucro real, não poderá utilizar taxas mais elevadas a fim de ajustar a depreciação
acumulada à taxa normal.
Pelo Parecer Normativo CST nº 192/72 (“PN CST 192/92”), o desgaste
provocado pelo uso intensivo ou anormal dos bens pertencentes ao ativo
imobilizado das pessoas jurídicas de direito privado poderá determinar a adoção
de taxas especiais de depreciação, devendo haver a comprovação da adequação
das taxas que utilizarem, ou, em caso de dúvida, justificá-las com base em laudo
técnico expedido por órgão oficial competente.
Ainda nos termos do PN CST 192/72, as empresas que empreguem os
coeficientes de depreciação acelerada em decorrência de expressa previsão
legal poderão também utilizar taxas especiais de depreciação, quando estas se
§ 1 A Secretaria da Receita Federal publicará periodicamente o prazo de vida útil admissível, em
condições normais ou médias, para cada espécie de bem, ficando assegurado ao contribuinte o
direito de computar a quota efetivamente adequada às condições de depreciação de seus bens,
desde que faça a prova dessa adequação, quando adotar taxa diferente (Lei nº 4.506, de 1964,
art. 57, § 3º).
§ 2 No caso de dúvida, o contribuinte ou a autoridade lançadora do imposto poderá pedir
perícia do Instituto Nacional de Tecnologia, ou de outra entidade oficial de pesquisa científica ou
tecnológica, prevalecendo os prazos de vida útil recomendados por essas instituições, enquanto
os mesmos não forem alterados por decisão administrativa superior ou por sentença judicial,
baseadas, igualmente, em laudo técnico idôneo (Lei nº 4.506, de 1964, art. 57, § 4º).
§ 3 Quando o registro do imobilizado for feito por conjunto de instalação ou equipamentos, sem
especificação suficiente para permitir aplicar as diferentes taxas de depreciação de acordo com a
natureza do bem, e o contribuinte não tiver elementos para justificar as taxas médias adotadas para
o conjunto, será obrigado a utilizar as taxas aplicáveis aos bens de maior vida útil que integrem
o conjunto (Lei nº 4.506, de 1964, art. 57, § 12).
17 Art. 311. A taxa anual de depreciação de bens adquiridos usados será fixada tendo em vista o
maior dos seguintes prazos:
I – metade da vida útil admissível para o bem adquirido novo;
II – restante da vida útil, considerada esta em relação à primeira instalação para utilização do bem.
Depreciação Acelerada Contábil
Art. 312. Em relação aos bens móveis, poderão ser adotados, em função do número de horas
diárias de operação, os seguintes coeficientes de depreciação acelerada (Lei nº 3.470, de 1958,
art. 69):
I – um turno de oito horas............................1,0;
II – dois turnos de oito horas.......................1,5;
III – três turnos de oito horas.......................2,0.
Parágrafo único. O encargo de que trata este artigo será registrado na escrituração comercial.
Art. 313. Com o fim de incentivar a implantação, renovação ou modernização de instalações e
equipamentos, poderão ser adotados coeficientes de depreciação acelerada, a vigorar durante
prazo certo para determinadas indústrias ou atividades (Lei nº 4.506, de 1964, art. 57, § 5º).
§ 1º A quota de depreciação acelerada, correspondente ao benefício, constituirá exclusão do
lucro líquido, devendo ser escriturada no LALUR (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 8º, inciso
I, alínea “c”, e § 2º).
§ 2º O total da depreciação acumulada, incluindo a normal e a acelerada, não poderá ultrapassar
o custo de aquisição do bem (Lei nº 4.506, de 1964, art. 57, § 6º).
§ 3º A partir do período de apuração em que for atingido o limite de que trata o parágrafo anterior,
o valor da depreciação normal, registrado na escrituração comercial, deverá ser adicionado ao
lucro líquido para efeito de determinar o lucro real.
§ 4º As empresas que exerçam, simultaneamente, atividades comerciais e industriais poderão
utilizar o benefício em relação aos bens destinados exclusivamente à atividade industrial.
§ 5º Salvo autorização expressa em lei, o benefício fiscal de que trata este artigo não poderá ser
usufruído cumulativamente com outros idênticos, exceto a depreciação acelerada em função dos
turnos de trabalho.
2005 2009
2005 2009
que ultrapassarem a taxa fixada pela RFB, que não estiverem de acordo com os
preceitos estabelecidos no artigo 310,§ 2º do RIR/99, serão indedutíveis para
efeito de apuração do IPRJ e da CSLL, devendo, nestes casos, haver a adição
do valor dos encargos de depreciação para efeito de determinação da base de
cálculo do IRPJ e da CSLL.
Assim, sob a argumentação de que a RFB conduzia e incentivava a adoção
das taxas por ela publicadas, a maioria das empresas adotava estas taxas também
para fins societários antes do advento das novas regras contábeis, sendo, de tal
sorte, legítimo enquadrar suas diferenças em relação às novas taxas, no comando
do art. 17 da nº Lei 11.941/2009.
Ademais, as disposições da legislação societária, especialmente, e de forma
mais enfática, a partir da edição da Lei nº 11.638/2007, determinam que a
depreciação deve levar em consideração a efetiva vida útil do bem para cada entidade,
em função de sua realidade técnica e econômica, transformaram a então exceção a
regra anteriormente vigente em regra a ser seguida na seara societária.
Na sistemática vigente antes das alterações das Leis nº 11.638/2007 e
11.941/2009, regulamentada pela NBCT 19.5, aprovadas pela Resolução CFC
nº 1.027/2005, as empresas adotavam, mesmo para fins contábeis, os valores
fixados pela RFB, não obstante as regras societárias de depreciação contábil
existente na Lei nº 6.404/76.
Todavia, com as alterações promovidas pelas referidas leis, houve a
necessidade da análise e do ajuste periódico do valor de recuperação dos valores
registrados no ativo imobilizado, bem como a revisão e alteração dos critérios
utilizados, tanto para a determinação da vida útil econômica do bem, quanto
para cálculo da depreciação. Dessa forma, não poderá mais ser adotada a prática
anterior das empresas em simplesmente utilizar, também para fins contábeis,
os valores das taxas de depreciação fixados pela RFB.
É importante destacar que as alterações dos métodos de registro das taxas
de depreciação é um exemplo da consolidação da dicotomia depreciação fiscal
versus depreciação contábil, oriunda da harmonização das regras contábeis
adotadas no Brasil com o padrão IFRS terminou por consolidar.
Assim, no que tange a depreciação contábil, o CPC 27 determinou que os
critérios utilizados para a verificação da vida útil econômica estimada do bem e
para o cálculo da depreciação deverão ser periodicamente ajustados e revisados,
pelo menos ao final do exercício, quando da elaboração das demonstrações
financeiras anuais.
A revisão e os ajustes dos critérios utilizados para a verificação da vida
útil econômica estimada do bem e para o cálculo de sua depreciação, conforme
estabelecido pelo CPC 27, se deve à necessidade de evitar que os ativos não
estejam registrados contabilmente por um valor superior àquele passível de ser
recuperado no tempo.
Nos termos do CPC 27, para se determinar o valor recuperável do ativo e
sua expectativa de vida útil econômica, deve se utilizar o denominado método do
impaiment, aplicando-se, para tal, o disposto em outro pronunciamento técnico
contábil, o CPC 01, que determina, independentemente de existir ou não
indício de desvalorização, que a entidade deverá testar, no mínimo anualmente,
a redução ao valor recuperável de um determinado ativo, comparando-se o seu
valor contábil com seu valor recuperável.
Para se realizar ao teste em questão, deve-se comparar o valor contábil com
o valor a ser recuperado, sendo este último o valor mais alto entre: (i) o valor
justo menos o custo de venda do bem, que corresponde ao valor de mercado
do referido bem, o qual pode vir a ser auferido por meio do levantamento do
valor de venda deste, ajustando-se por meio da adição de eventuais custos
incrementais decorrentes da alienação do ativo; ou, (ii) o valor em uso do
respectivo bem que corresponde ao valor presente nos fluxos de caixas futuros
que a entidade espera obter na utilização do referido bem.
Na hipótese do valor recuperável do ativo ser inferior ao seu valor
contábil, este valor deve ser reduzido para o seu valor recuperável, configurando
esta redução como uma perda por impairment, a qual deve ser tratada como
decréscimo de reavaliação e reconhecida no resultado da empresa.
O novo valor contábil resultante do teste por impairment será a base de
cálculo para a depreciação futura, voltando-se, a partir deste ponto, a aplicar a
sistemática de depreciação regulada pelo CPC 27.
No que concerne ao valor depreciável de determinado bem, importante
destacar que, segundo Fábio Piovesan Bozza, “o valor depreciável na contabilidade
corresponde ao custo de aquisição deduzido do valor residual, que é o montante líquido
que a empresa espera obter, com razoável segurança, por um ativo no fim da sua vida
útil econômica, deduzidos dos gastos esperados para a sua alienação (...). Significa
que o cálculo da depreciação contábil nunca terá por base todo o custo de aquisição do
bem. (...) a depreciação fiscal exibe características substancialmente diferentes daquelas
depreciação até então vigente, incluindo-se, assim, no rol das mudanças de método
ou critério contábil e, como tal, poderiam ser enquadradas no RTT, conforme será
a seguir demonstrado.
pelo Fisco, desde que obtenha laudo de entidade oficial de pesquisa científica
ou tecnológica recomendando tais taxas22.
Através do Parecer Normativo CST 96/78, as autoridades fiscais já
se pronunciaram no sentido de que “o LALUR não pode ser utilizado para
nele serem consignadas as exclusões que possam resultar da falta de registro,
na escrituração comercial, de custos ou despesas operacionais, ou, ainda, as que
tenham por objetivo complementar valor da mesma natureza insuficientemente
registrado (como é o caso da depreciação), uma vez que os valores que podem ser
excluídos do lucro líquido, na determinação do lucro real, são aqueles que, em
virtude da natureza exclusivamente fiscal, não reúnem requisitos para poderem
ser registrados na escrituração comercial, tais como os decorrentes de depreciação
acelerada e de exaustão mineral com base na receita bruta.”.
Com o advento do RTT, no entanto, a utilização do LALUR foi
ampliada23, tendo em vista que se permite neutralizar os efeitos, como já
mencionamos, das diferenças de métodos e critérios previstos na legislação
societária em relação àqueles adotados para fins fiscais.
Desta forma, a adoção do RTT permitiria às empresas continuar
considerando, para fins fiscais, as taxas de depreciação que adotavam até 31 de
22 “Art. 310. A taxa anual de depreciação será fixada em função do prazo durante o qual se possa
esperar utilização econômica do bem pelo contribuinte, na produção de seus rendimentos.
§1º A RFB publicará periodicamente o prazo de vida útil admissível, em condições normais ou
médias, para cada espécie de bem, ficando assegurado ao contribuinte o direito de computar a
quota efetivamente adequada às condições de depreciação de seus bens, desde que faça a prova
dessa adequação, quando adotar taxa diferente.
§2º No caso de dúvida, o contribuinte ou a autoridade lançadora do imposto poderá pedir
perícia do Instituto Nacional de Tecnologia, ou de outra entidade oficial de pesquisa científica ou
tecnológica, prevalecendo os prazos de vida útil recomendados por essas instituições, enquanto
os mesmos não forem alterados por decisão administrativa ou por sentença judicial, baseadas,
igualmente, em laudo técnico idôneo.”
23 Lei 11.941/2009:
“Art. 39. Os arts. 8o e 19 do Decreto-Lei no 1.598, de 26 de dezembro de 1977, passam a vigorar
com a seguinte redação:
“Art. 8o (...) § 2o Para fins da escrituração contábil, inclusive da aplicação do disposto no § 2o do
art. 177 da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, os registros contábeis que forem necessários
para a observância das disposições tributárias relativos à determinação da base de cálculo do
imposto de renda e, também, dos demais tributos, quando não devam, por sua natureza fiscal,
constar da escrituração contábil, ou forem diferentes dos lançamentos dessa escrituração, serão
efetuados exclusivamente em:
I – livros ou registros contábeis auxiliares; ou
II – livros fiscais, inclusive no livro de que trata o inciso I do caput deste artigo.
§ 3o O disposto no § 2o deste artigo será disciplinado pela Secretaria da Receita Federal do Brasil.”
dezembro de 2007, sem prejuízo de vir a adotar outras para fins societários,
face aos ajustes na estimativa de vida útil a que ficam submetidas a partir de
2008, na vigência da Lei nº 11.638/2007. Para tanto, devem controlar tais
diferenças através de escriturações distintas, cujo elo de conciliação deve ser
informado através do FCONT.
Destaca-se o fato de que o parágrafo 3º, do artigo 183, da Lei das
Sociedades Anônimas, com redação dada pelas Leis nº 11.638/2007 e
11.941/2009, determina que a empresa deve efetuar análise sobre a recuperação
dos valores registrados no imobilizado e no intangível, de forma periódica,
de maneira que possa haver a revisão e ajuste dos critérios utilizados para
determinação da vida útil econômica estimada e, conseqüentemente, para
cálculo da depreciação.
Portanto, verifica-se que ocorreu uma mudança nos métodos e critérios
contábeis da depreciação, alteração de parâmetro esta que se não vier a ser
ajustada por meio do RTT surtirá efeitos significativos na apuração tanto do
IRPJ quanto da CSLL.
Neste sentido, podem ser destacados os processos de Solução de Consulta
nº 15/2011, proferido pela RFB da 10ª Região Fiscal, e 11/2011, proferido
pela RFB da 5ª Região Fiscal, a seguir transcritos:
SOLUÇÃO DE CONSULTA Nº 15 de 18 de Fevereiro de 2011
ASSUNTO: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica – IRPJ
EMENTA: LUCRO REAL. ENCARGOS DE DEPRECIAÇÃO.
AJUSTES DECORRENTES DA LEGISLAÇÃO SOCIETÁRIA.
EFEITOS TRIBUTÁRIOS. Os ajustes no cálculo da depreciação
de bens do ativo imobilizado determinados pelo art. 183, § 3º, inciso
II, da Lei nº 6.404, de 1976, com as alterações introduzidas pelo art.
1º da Lei nº 11.638, de 2007, e pelo art. 37 da Lei nº 11.941, de
2009, não terão efeitos para fins de apuração do lucro real da pessoa
jurídica sujeita ao Regime Tributário de Transição (RTT), devendo
ser considerados, para fins tributários, os métodos e critérios contábeis
vigentes em 31 de dezembro de 2007.
Dispositivos legais: Lei nº 6.404, de 1976, art. 183, § 3º, II; Lei nº
11.638, de 2007, art. 1º; Lei nº 11.941, de 2009, arts. 15, 17 e 37;
Decreto nº 3.000, de 1999 (RIR/1999), arts. 305, 307, 309, 310 e
312; IN RFB nº 949, de 2009.
Bibliografia
BOZZA, Fábio Piovesan. Novo Padrão Contábil Brasileiro e os Impactos Fiscais no Registro das
Despesas de Depreciação, in Revista Dialética de Direito Tributário nº 166, São Paulo: 2009.
HIGUCHI, Hiromi (et. Alli.). Imposto de Renda das Empresas. São Paulo: IR Publicações
Ltda., 2010.
IUDICIBUS, Sergio de (et. Alli.). Manual de Contabilidade Societária. São Paulo: Ed. Atlas,
2010.
MCMANUS, Kieran John. IFRS – Implementação das Normas Internacionais de Contabilidade
e da Lei nº 11.638/07 no Brasil. São Paulo. São Paulo: Ed. Quartier Latin, 2009.
OLIVEIRA, Edmar Andrade de. Efeitos tributários da lei nº 11.637/07. São Paulo: Ed. do
Autor, 2008.
OLIVEIRA, Edmar Andrade de. Imposto de Renda das Empresas. São Paulo: Ed. do Atlas,
2010.
Discussão sobre a
Aplicabilidade, para
Fins Tributários, da
Primazia da Essência
Gustavo Brigagão
Sócio Conselheiro do Ulhôa Canto, Rezende e Guerra – Advogados; Professor
de Direito Tributário no “Curso de Educação Continuada – Direito
Tributário” e no “Curso Aplicado de Indiretos” promovidos pela Fundação
Getúlio Vargas – FGV; Conferencista na Escola da Magistratura do Estado
do Rio de Janeiro – EMERJ; General Council Member da International
Fiscal Association – IFA; Diretor Secretário-Geral da Associação Brasileira
de Direito Financeiro – ABDF; Diretor Executivo do Centro de Estudos das
Sociedades de Advogados – CESA; Presidente da Câmara Britânica – RJ –
BRITCHAM-RJ; e Presidente do Comitê Legal da BRITCHAM-RJ.
1. Introdução
que tal orientação não pode ser aplicada para fins tributários (seja em interesse
do fisco, para que os tributos fossem quantificados a maior, seja em interesse dos
contribuintes, para que, eventualmente, os tributos fossem quantificados a menor).
E por que será que se concluiu que a aplicação, para fins tributários, da
segunda acepção da Primazia da Essência Sobre a Forma é inviável? Arriscamo-
nos a responder: porque logo se percebeu que fazê-lo equivaleria a defender
a Interpretação Econômica da Legislação Tributária, o que nos pareceria,
cumulativamente: (i) inviável; (ii) desnecessário e (iii) indesejável.
Passamos, a seguir, a nos aprofundarmos sobre cada uma dessas afirmações,
acrescentando ainda que, em nossa opinião (e observadas certas peculiaridades),
as mesmas também se aplicam à primeira acepção da Primazia da Essência
Sobre a Forma (aquela dirigida ao órgão regulador).
10 “A Interpretação das Leis Tributárias e a Teoria do Abuso das Formas Jurídicas e da Prevalência
do Conteúdo Econômico. Publicado pelo próprio autor. Porto Alegre: 1965, p. 7.
11 A Elisão Tributária e a Interpretação Econômica. Direito Tributário Atual, nº 24. São Paulo: Ed.
Dialética, 2010. p. 212.
12 A Interpretação Econômica no Direito Tributário. São Paulo: Editora Resenha Tributária, 1982. p.
19.
13 Curso de Direito Tributário. 29ª ed. São Paulo: Ed. Malheiros, 2008. p. 113.
14 Op. cit., p. 11.
15 Direito Tributário e Direito Privado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. pp. 205-210.
16 Tradução de Alfredo Augusto Becker.
17 Op. cit., p. 210.
18 Fato Gerador da Obrigação Tributária. 4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1977. pp. 75-76.
19 Isso não significa que inexistam decisões rejeitando a prática de operações artificiais, realizadas
sem substância econômica. A grande questão é que, ao fazê-lo, tais decisões não se valeram da
teoria da Interpretação Econômica da Legislação Tributária. Esse assunto será aprofundado adiante.
20 Op. cit., p. 7.
21 Elisão e evasão. Caderno de Pesquisas Tributárias. Vol. 13. São Paulo: Ed. Resenha Tributária,
p. 26.
22 Tipicidade da Tributação, Simulação e Norma Elisiva. São Paulo: Dialética, 2001. p. 40.
23 Curso de Direito Tributário Brasileiro. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 233.
24 Op. cit., p. 213.
25 O Absurdo da Interpretação Econômica do Fato Gerador – Direito e sua autonomia – O Paradoxo
da Interdisciplinaridade. Revista de Direito Tributário, nº 97. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 7.
26 Planejamento Tributário. 2ªed. São Paulo: Dialética, 2008. p. 414.
Todavia, salvo melhor juízo, não nos parece que essa conclusão seja a mais
acertada. Ainda que se considere que o CPC nº 39 é regra legal, também o
são os artigos da LSA que dizem que a remuneração fixa paga a um acionista
preferencial resgatável é dividendo (arts. 17, 111, 203 etc.), e também o é o
art. 10 da Lei nº 9.249/95, que dispõe que os dividendos são isentos de imposto
de renda. Nesse caso, portanto, surgiria, quando muito, um conflito entre
normas legais, devendo prevalecer aquela que é de hierarquia superior e/ou que é
compatível com o nosso sistema constitucional e com o CTN. Neste particular,
não podemos esquecer que a contabilização pela forma jurídica é, também,
decorrente de normas legais.
Em suma, partindo da premissa de que as normas do Comitê de
Pronunciamentos Contábeis sejam regras legais, ter-se-ia a seguinte situação:
toda vez que a aplicação da essência econômica conduzisse a uma contabilização
distinta da resultante da forma jurídica, surgiria um conflito normativo; contudo,
como a contabilização pela forma jurídica resulta de norma superior, e, além
disso, é a única aceita pela Constituição Federal e pelo CTN como apta a gerar
efeitos tributários, parece-nos que a mesma deveria prevalecer.
Para encerrar, citamos João Francisco Bianco28, cujo texto bem sintetiza
o que foi dito nesta Seção:
“Mas, se para a contabilidade os eventos devem ser registrados em
função da sua essência econômica, como fica o Direito Tributário, onde
prepondera a natureza jurídica dos atos praticados? A incompatibilidade
entre os dois critérios é evidente, sendo absolutamente impossível
pretender conferir efeitos fiscais aos lançamentos contábeis feitos em
consonância com o princípio da prevalência da essência econômica
sobre a natureza jurídica. Isso por dois motivos.
Primeiro, porque não é possível que os membros do Comitê de
Pronunciamentos Contábeis possam editar resoluções que tenham
como consequência alterar a base de cálculo do imposto que
incide sobre a renda, nem, tampouco, alterar o disposto no próprio
CTN sobre o assunto. Semelhante pretensão seria evidentemente
inconstitucional, por desrespeito ao princípio da legalidade.
29 A conceituação de cada um destes institutos e teorias, bem como a relação existente entre cada
um deles, é assunto de alta complexidade que não integra o objeto deste artigo. Assim, não nos
aprofundaremos sobre isso, deixando para fazê-lo em outra oportunidade. Da mesma forma, nos
furtaremos de tecer qualquer juízo de valor sobre a aplicação dos mesmos pelos precedentes
administrativos que serão citados.
30 No momento em que este artigo foi escrito, em maio de 2011, foi noticiada a prolação de um
terceiro acórdão da CSRF neste caso, no qual se teria reformado o segundo e cancelado a autuação
fiscal. Esse terceiro acórdão ainda não foi formalizado, e, pelo que se divulgou na mídia, ele
se apoiou em uma questão processual (a incompetência da Delegacia de Julgamento de Porto
Alegre para interpor os embargos de declaração que foram recebidos com efeitos infringentes).
Seja como for, tais considerações não são relevantes para as conclusões apresentadas neste artigo.
31 Op. cit., p. 213.