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DESPORTO
À esquerda, departamento de desenho onde são criados todos os componentes dos Fl da marca francesa. À direita, impressão 3D de muitos componentes
No Ibunker da Renault Fl
A Renault regressou ao Mundial de F1 em 2016, herdando infraestrutura construída
em Enstone, em Inglaterra, no princípio da década de 1990, que visitámos...
JOSÉ CAETANO
história da Renault na
1
competição automó-
vel é quase tão antiga
como a da empresa. A
sociedade foi funda-
da em 1898 pelos ir-
mãos Louis, Marcel e Fernand,
com o primeiro a encarregar-se de
todo o processo de conceção dos
modelos e da produção e os outros
a concentrarem-se no negócio, be-
neficiando dos conhecimentos que
herdaram do pai, industrial têxtil.
0 1 CV foi revelado e vendido ain-
da no ano da criação e o fabrico de
motores começou em 1903. Antes,
em 1902, vitória na corrida Paris-
-Viena. Depois, sucessos atrás de
sucessos, com triunfo no 1.° G.P.
de Le Mans, com Ferenc Szisz aos
comandos de Type AK, recordes de
velocidade em 1934, com o Ner-
vasport... A estreia na Fórmula 1
aconteceu muitíssimo mais tarde,
em 1977, no G.P. da Grã-Bretanha,
com Jean-Pierre Jabouille no RS01
com motor V6 1.5 Turbo, mecâni-
ca que marcou o início de era na
categoria! Em 2016, regresso à
ação, com programa para seis anos.
Encontramo-nos no terceiro...
A ligação da Renault a Enstone,
em Inglaterra, iniciou-se em 2000,
11-10-2018
Em Enstone, Inglaterra, no quartel-general da escuderia francesa
quando os franceses compraram
a Benetton (1986-2001), escude-
ria que sucedera à Toleman (1981-
-1985)... Então, a marca prepara-
va-se para a segunda aventura no
Mundial, depois da passagem ori-
ginal, entre 1977 a 1985. A aldeia
com cerca de 1000 habitantes si-
tua-se 6,4 km a este de Chipping
Norton ou 24 km a noroeste de
Oxford. Entre os muitos vizinhos
notáveis, Haas (Banbury), Merce-
des (Brackley), Williams (Grove)
e Force India (Silverstone). Em
Inglaterra, existem mais duas equi-
pas: Red Bull (Milton Keynes) e
Mclaren (Woking). O quartel-ge-
neral da escuderia liderada por
Jérôme Stoll foi construído no
princípio da década de 1990,
quando a adoção das monocoques
em fibra de carbono provocou re-
volução na F1, principalmente no
capítulo da segurança. O recurso
aos materiais compósitos impu-
nha a construção de fábricas maio-
res e mais modernas.
As razões do regresso da Re-
nault à F1, como construtor da ca-
beça aos pés, de chassis e moto-
Period.: Semanal
Âmbito: Desporto e Veículos
res, aparecem inscritas no progra-
ma estratégico do consórcio lide-
rado por Carlos Ghosn, que tem co-
mo objetivo tanto a promoção da
imagem de marca, o que pressu-
põe pódios e vitórias, como a trans-
ferência de tecnologias para os au-
tomóveis que conduzimos quoti-
dianamente, vide combinação de
downsizing (redução da capacida-
de das mecânicas) com a sobrea-
limentação turbo para o aumento
da eficiência dos motores ou a oti-
mização da aerodinâmica. Ensto-
ne é o centro de chassis, enquan-
to o desenvolvimento e a produção
de unidades de potência estão con-
centrados em Viry-Châtillon, nos
subúrbios de Paris. Marcin
Budkowski (diretor-executivo) e
Nick Chester (diretor-técnico) lide-
ram equipa com 676 elementos —
crescimento de 50% em três anos
(ou de 31%, comparativamente a
2005 e 2006, os anos da conquis-
ta dos títulos de construtores e pi-
lotos, com Alonso).
Área: 18,80 x 26,00 cm²
Corte: 1 de 4
Mundial-2019 em preparação
Na infraestrutura parcialmente
subterrânea, além das áreas espe-
cíficas para conceção e produção
de chassis, desenvolvimento e a in-
tegração de caixas de velocidades,
túnel de vento, simulador e centro
de operações supermovimentado
nos fins de semana de G.P.! Na F1,
as corridas ganham-se, inicialmen-
te, longe dos 21 circuitos no mapa
do campeonato, dentro de fábricas,
onde equipas talentosas trabalham
para tornar os carros cada vez mais
velozes, melhorando chassis e mo-
tores. E, atualmente, em Enstone,
prepara-se 2019, temporada (mui-
to) mais exigente, com a contrata-
ção de Daniel Ricciardo como ex-
pressão máxima da ambição.
No centro de desenho, integra-
do em edifício construído de raiz,
mais de 70 membros da Renault
Sport Formula One Team estão fo-
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Nesta plataforma,
testam-se todas
as possibilidades
de regulação
e resistência
à fadiga
da suspensão

cados na conceção do monolugar de simulações (todas as semanas, plo, são em titânio, possuem itens
novo. Aqui, 18 meses antes do ar- produzem-se mais de 60 TB de da- muito finos (espessuras entre 1,1 e
ranque da temporada seguinte, co- dos, número incrível), para otimi- 0,3 mm) e suportam temperaturas
1 meço do trabalho, com os mais de zação da aerodinâmica... que excedem os 1000° C. A produ-
14.500 componentes do monolu- Radiadores e sistemas de escape, ção deste componente demora dois
gar a exigirem mais de 150.000 ho- entre outros componentes, são pro- dias e meio e não admite erros — ou
ras de estudos, que incluem, por duzidos de forma manual, fórmu- risco elevado de falhas de potência
exemplo, 19.000 desenhos produ- la que garante ainda mais precisão e abandonos nas corridas!
zidos informaticamente. E, socor- do que qualquer máquina. A im- Na área dos compósitos, mais de
rendo-se de supercomputadores, pressão 3D, todavia, é cada vez mais 50 funcionários produzem quatro
os especialistas realizam milhares importante. Os escapes, por exem- chassis por ano, concentrando-se
na redução do peso, embora as re-
gras da FIA imponham limite mí-
nimo de 734 kg. A fibra de carbo-
no, duas vez mais rígida que o aço
e cinco vezes mais leve, é o mate-
rial de eleição, mas Enstone tam-
bém fabrica componentes de me-
tal, gastando, anualmente, 50.000,
a maioria em alumínio, inconel —
superliga à base de níquel com
propriedades de alta resistência,
incluindo temperaturas elevadas!
— ou titânio. Finalmente, os mono-
lugares têm centenas de sensores
O complexo e componentes que controlam to-
de Enstone, dos os sistemas de bordo, que são
4
parcialmente produzidos em casa. No departa-
subterrâneo, mento, entre os 21 membros, oito
foi construido Os volantes de Hülkenberg e Sainz custam 35.000 € a 45.000 € engenheiros e sete técnicos de pro-
no principio e integram mais de duas dezenas de botões, comandos e seletores, dução. A equipa é responsável por
da década além de monitor LCD com as informações selecionadas pelos pilotos volante, comunicações rádio, tele-
, de 1990. (apenas as instruções da FIA nos G.P. são obrigatórias)! Existem mais metria e sistemas de controlo uti-
Estreou-o de 100 hipóteses de ação, do diferencial à atuação de ERS e travões. lizados durante as paragens nas bo-
a Benetton xes para as trocas de pneus. •
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Autoroco DESPORTO D Pódios em 2019, após três anos de investimentos e recuperação

Fundamental para o desenvolvimento dos F1 e a preparação de pilotos
e corridas! O de Enstone é de 2011, tem cinco projetores de altíssima
definição e o volante, depois de personalizado, transmite informação
realista da ação, incluindo as forças geradas pelos pneus. A telemetria,
precisa, é ferramenta de trabalho importante para os engenheiros.
A comunicação entre os circuitos e Enstone é fundamental... A sala
de operações encontra-se operacional desde maio de 2017. No centro
de comando, 24 postos individuais de trabalho, seis monitores de 75"
e dois de 24", duplos. Nos G.P., interação com os técnicos da equipa,
intervindo-se na ação, com recomendações de estratégia de corrida!

'Ricciardo aumenta exigência'

>>> Jérôme Stoll, de 64 anos, coman-
da a equipa francesa, apoiado pelo com-
patriota Cyril Abiteboul e o polaco Mar-
cin Budkowski. O segundo, depois das
passagens por Ferrari (2007) e McLaren
(2007-2014), encontrava-se no departa-
mento técnico da FIA, antes de ingres-
sar na Renault, em abril, movimento que
também ilustra a ambição da equipa pa-
ra o futuro. Falámos com Stoll.
P. —A Renault está pela 3.' vez como
construtor a 100% na Fórmula 1. Qual
a razão para este regresso?
R. — A competição faz parte do ADN
da Renault. Em 2015, durante série de
discussões com o diretor do consórcio,
Carlos Ghosn, considerámos todas as
possibilidades, incluindo a de colocar-
mos ponto final na participação na ca-
tegoria como fornecedores de motores.
A decisão, todavia, foi a de voltarmos
com equipa própria. No papel anterior,
ganhando-se, os louros da vitória eram
sempre dos clientes e nunca da marca.
Perdendo-se, habitualmente, culpa do
fornecedor de motores. Para proteção da
imagem da marca, impunha-se mudan-
ça de estratégia. O projeto de F1 repor-
ta ao departamento de marketing. Pen-
so que decidimos bem, mesmo conside-
rando a dimensão do investimento!
P. — Têm vitórias e títulos no ~-
dial, mas foram somente 9.° em 2016,
6.° em 2017 e, este ano, encontram-se
em 4.°, progredindo, ainda que muito
distantes dos três primeiros no cam-
peonato, Mercedes, Ferrari e Red Bull...
R. — Temos 40 anos de experiência na
F1, impõe-se estarmos no pódio. Quan-
do assumimos o controlo da Lotus, que
estava em liquidação, sabíamos que tí-
nhamos de reinvestir. E fortemente! O
programa é de seis anos, encontramo-
-nos a meio e a chegada do Daniel Ric-
ciardo coincide com o princípio da eta-
pa mais ambiciosa do plano, com os pó-
dios e as vitórias como objetivos... A ex-
pectativa de todos, do diretor do con-
sórcio aos clientes, é encontrar a Renault
no topo da F1. Conseguimo-lo no pas-
sado, consegui-lo-emos no futuro pró-
ximo. Falhando no próximo ano, a de-
ceção será enorme.
P. — A contratação de Ricciardo é a
expressão dessa ambição?
R. — Não tínhamos a certeza da con-
tratação do Daniel Ricciardo. Apresen-
tamos-lhe a proposta no início na tem-
porada e a resposta nunca mais apare-
cia. Equacionamos o Ocon, mas estava
sob contrato com a Mercedes. Quando
pensávamos nas alternativas, recebemos
a resposta positiva. Será o número um
na equipa. O anúncio originou excita-
ção. O piloto é incrível, supercompeti-
tivo, o que significa que aumenta o ní-
vel de exigência. É o que necessitamos
para regressarmos ao topo! O Nico é for-
te mentalmente e a concorrência inter-
na torná-lo-á ainda melhor. •
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Os mecânicos
desmontam e montam
o
o F1 em 8 horas
e a unidade de potência
em 60 minutos

Em 2018, dois clientes: McLaren e Red Buil

Motores
»> A Renault também tem títulos na
F1 como fornecedora de motores, ven-
cendo quatro Mundiais consecutivos
História no Mundial com a Red Bull e Sebastian Vettel, en-
M111111111W~IIIII tre 2010 e 2013. Antes, a marca do lo-
Estreia 1911. Grã-Bretanha sango produzira mecânicas para as es-
Corridas 361 (358 partidas)
Títulos de Construtores 2 (2005. 2006)
cuderias Lotus (1983-1986), Ligier (1984-
Títulos de Pilotos 2 (2005, 2006) -1986, 1992-1994), Tyrrell (1989-1997,
Vitórias 35 2012-2013), Benetton (1995-1997, 2001)
Pule positions 51 e Williams (1989-1997, 2012-2013). A
Voltas mais rápidas 31
Pontos 1415
1.a vitória registou-se no G.P. Portugal,
no Circuito do Estoril, com Ayrton Sen-
na (tratou-se, também, do 1.° triunfo do
brasileiro). Depois, acordos com as equi-
pas Lotus (2011, 2012-2014), Caterham
(2012-2014), Toro Rosso (2014-2015) e
McLaren (2018-2020). A relação da Re-
nault com Red Bull termina somente no
final da época, mas os austríacos reba-
tizaram as unidades de potência o ano
passado, atribuindo-lhes o nome TAG-
-Heuer. No total, desde 1983, 133 vitó-
rias e 158 poles. Títulos de pilotos, além
dos quatro ganhos por Sebastian Vettel:
Nigel Mansell (1992), Alain Prost (1993),
Michael Schumacher (1995), Damon
Hill (1996) e Jacques Villeneuve (1997).
Construtores (10): Williams (1992 a
O R.S. 01 de Jean-Pierre Jabouille, de 1977, à esquerda; à direita, o R.S. 18 de Nico Hülkenberg, de 2018 1994, 1996 e 1997), Benetton (1995) e
Red Bull (2010 a 2013). •

TÚNEL DE VENTO
A aerodinâmica é determinante, mas a FIA limita o trabalho no túnel
de vento a 520 simulaçâes em oito semanas - ou 65 por semana.
As equipas trabalham com modelos à escala (60%) e até a velocidade
do ar está condicionada - 50 metros por segundo! Câmaras filmam 24
horas por dia, sete dias por semana. E, assim, a FIA monitoriza tudo...
Na história da Renault, três passagens pela F1. A primeira de 1977
a 1985, sucedendo-lhe Toleman e Benetton, a segunda de 2002
a 2010 (campeão em 2005 e 2006, com Alonso, na foto), com a Lotus
Renault GP como substituta em 2011 (Lotus F1 Team, 2012-2015).
Na terceira, programa de seis anos com final marcado para 2020...