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A DOUTRINA DA SALVAÇÃO
“A SUA UNÇÃO VOS ENSINA A RESPEITO DE TODAS AS COISAS” (1 Jo 2.27)
1
Copyright © 2008 Antônio Carlos Gonçalves Bentes
Capa:
Carlos Bentes
Revisão e diagramação:
Carlos Bentes
1ª edição: 2008
2ª edição: 2018
ISBN
CDD
CDU
2
ÍNDICE
O Antecedente da Salvação 6
TULIP 18
I. O FUNDAMENTO DA SALVAÇÃO: 22
A QUESTÃO HERMENÊUTICA 25
A DOUTRINA DA ELEIÇÃO 33
CONVERSÃO 43
REGENERAÇÃO 45
JUSTIFICAÇÃO 48
SANTIFICAÇÃO 50
GLORIFICAÇÃO 52
BIBLIOGRAFIA 59
Biografia do autor 60
3
Introdução
Que Deus nos guie com entendimento espiritual pelas maravilhas da Sua Palavra no
decorrer deste estudo e que Deus nos traz à convicção verdadeira, e, pela Palavra de Deus,
nos dá um conhecimento individual de Jesus Cristo (Ef 1.17-23).
4
5
Abaixo, uma tabela comparativa entre os dois sistemas
teológicos:
ARMINIANISMO X CALVINISMO
Categoria Arminianismo Calvinismo
1. Incapacidade Total
1. Livre-Arbítrio ou Capacidade Humana
ou Depravação Total
Embora a queda de Adão tenha afetado O homem natural não pode sequer apreciar as coisas de
seriamente a natureza humana, as pessoas Deus. Menos ainda salvar-se. Ele é cego, surdo, mudo,
não ficaram num estado de total impotente, leproso espiritual, morto em seu pecado,
incapacidade espiritual. Todo pecador pode insensível à graça comum. Se Deus não tomar a
arrepender-se e crer, por livre-arbítrio, cujo iniciativa, infundindo-lhe a fé salvadora, e fazendo-o
uso determinará seu destino eterno. O ressuscitar espiritualmente, o homem natural continuará
Depravação Total pecador precisa da ajuda do Espírito, e só é morto eternamente. (Sl 51:5; Jr 13:23; Rm 3:10-12;
regenerado depois de crer, porque o 7:18; 1Co 2:14; Ef 1:3-12; Cl 2:11-13)
exercício da fé é a participação humana no
novo nascimento.
(Is 55:7; Mt 25:41-46; Mc 9:47-48; Rm
14:10-12; 2Co 5:10)
2. Eleição Condicional 2. Eleição Incondicional
Deus escolheu as pessoas para a salvação, Deus elegeu alguns para a salvação em Cristo,
antes da fundação do mundo, baseado em reprovando os demais. Aos eleitos Deus manifesta a
Sua presciência. Ele previu quem aceitaria Sua misericórdia e aos reprovados a Sua justiça. Deus
livremente a salvação e predestinou os não tem a obrigação de salvar ninguém, nem homens
salvos. A salvação ocorre quando o pecador nem anjos decaídos. Resolveu soberanamente salvar
escolhe a Cristo; não é Deus quem escolhe o alguns homens (reprovando todos os demais) e torná-
Eleição pecador. O pecador deve exercer sua própria los filhos adotivos quando eram filhos das trevas. Teve
Incondicional fé, para crer em Cristo e ser salvo. Os que se misericórdia de algumas criaturas, e deixou as demais
perdem, perdem-se por livre escolha: não (inclusive os demônios) entregues às suas próprias
quiseram crer em Cristo, rejeitaram a graça paixões pecaminosas. A salvação é efetuada totalmente
auxiliadora de Deus. por Deus. A fé, como a salvação, é dom de Deus ao
(Dt 30:19; Jo 5:40; 8:24; Ef 1:5-6, 12; homem, não do homem a Deus. (Ml 1:2-3; Jo 6:65;
2:10; Tg 1:14; 1Pe 1:2; Ap 3:20; 22:17) 13:18; 15:6; 17:9; At 13:48; Rm 8:29, 30-33; 9:16;
11:5-7; Ef 1:4-5; 2:8-10; 2Ts 2:13; 1Pe 2:8-9; Jd 1:4)
3. Redenção Universal ou Expiação Geral 3. Redenção Particular ou Expiação Limitada
O sacrifício de Cristo torna possível a toda e Segundo Agostinho, a graça de Deus é “suficiente para
qualquer pessoa salvar-se pela fé, mas não todos, eficiente para os eleitos”. Cristo foi sacrificado
assegura a salvação de ninguém. Só os que para redimir Seu povo, não para tentar redimi-lo. Ele
Expiação crêem nEle, e todos os que crêem, serão abriu a porta da salvação para todos, porém, só os
Limitada salvos. eleitos querem entrar, e efetivamente entram.
(Jo 3:16; 12:32; 17:21; 1Jo 2:2; 1Co (Jo 17:6,9,10; At 20:28; Ef 5:15; Tt 3:5)
15:22; 1Tm 2:3-4; Hb 2:9; 2Pe 3:9; 1Jo
2:2)
6
ARMINIANISMO X CALVINISMO
Categoria Arminianismo Calvinismo
4. A Vocação Eficaz do Espírito
4. Pode-se Efetivamente Resistir ao Espírito Santo
ou Graça Irresistível
Deus faz tudo o que pode para salvar os pecadores. Embora os homens possam resistir à graça de
Estes, porém, sendo livres, podem resistir aos apelos da Deus, ela é, todavia, infalível: acaba
graça. Se o pecador não reagir positivamente, o Espírito convencendo o pecador de seu estado depravado,
não pode conceder vida. Portanto, a graça de Deus não convertendo-o, dando-lhe nova vida, e
é infalível nem irresistível. O homem pode frustrar a santificando-o. O Espírito Santo realiza isto sem
vontade de Deus para sua salvação. coação. É como um rapaz apaixonado que ganha
(Lc 18:23; 19:41-42; Ef 4:30; 1Ts 5:19). o amor de sua eleita e ela acaba casando-se com
ele, livremente. Deus age e o crente reage,
Graça
livremente. Quem se perde tem consciência de
Irresistível que está livremente rejeitando a salvação. Alguns
escarnecem de Deus, outros se enfurecem, outros
adiam a decisão, outros demonstram total
indiferença para as coisas sagradas. Todos,
porém, agem livremente.
(Jr 3:3; 5:24; 24:7; Ez 11:19; 20; 36:26-27;
1Co 4:7; 2Co 5:17; Ef 1:19-20; Cl 2:13; Hb
12:2).
5. Decair da Graça 5. Perseverança dos Santos
Embora o pecador tenha exercido fé, crido em Cristo e Alguns preferem dizer “perseverança do
nascido de novo para crescer na santificação, ele poderá Salvador”. Nada há no homem que o habilite a
cair da graça. Só quem perseverar até o fim é que será perseverar na obediência e fidelidade ao Senhor.
salvo. O Espírito é quem persevera pacientemente,
(Lc 21:36; Gl 5:4; Hb 6:6; 10:26-27; 2Pe 2:20-22) exercendo misericórdia e disciplina, na condução
do crente. Quando ímpio, estava morto em
pecado, e ressuscitou: Cristo lhe aplicou Seu
sangue remidor, e a graça salvífica de Deus
Perseverança
infundiu-lhe fé em para crer em Cristo e obedecer
dos Santos a Deus. Se todo o processo de salvação é obra de
Deus, o homem não pode perdê-la! Segundo a
Bíblia, é impossível que o crente regenerado
venha a perder sua salvação. Poderá até pecar e
morrer fisicamente (1Co 5:1-5). Os apóstatas
nunca nasceram de novo, jamais se converteram.
(Is 54:10; Jo 6:51; Rm 5:8-10; 8:28-32, 34-39;
11:29; Fp 1:6; 2Ts 3:3; Hb 7:25)
Rejeitado pelo Sínodo de Dort. Este foi o sistema de
pensamento contido na “Remonstrância” (embora
originalmente os cinco pontos não estivessem dispostos
nessa ordem). Esse sistema foi apresentado pelo
arminianos à Igreja na Holanda em 1610, mas foi
rejeitado pelo Sínodo de Dort em 1619 sob a
justificativa de que era antibíblico.
7
SOTERIOLOGIA1
A DOUTRINA DA SALVAÇÃO
I. O FUNDAMENTO DA SALVAÇÃO:
A salvação tem seu fundamento em Deus.
1 A GRAÇA DE DEUS:
1.1. A GRAÇA COMO FONTE DA SALVAÇÃO: Rm 5.20,21.
A Lei foi introduzida para que a transgressão fosse ressaltada. Mas onde aumentou o
pecado, transbordou a graça, a fim de que, assim como o pecado reinou na morte, também
a graça reine pela justiça para conceder vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor.
Rm 3.24,25: sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção
que há em Cristo Jesus. Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé,
pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia deixado impunes os
pecados anteriormente cometidos.
Tt 2.11: Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens.
Ef 2.8: Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é
dom de Deus.
1.2. GRAÇA COMO FAVOR NÃO MERECIDO:
Rm 3.20,28: Portanto, ninguém será declarado justo diante dele baseando-se na
obediência à Lei, pois é mediante a Lei que nos tornamos plenamente conscientes do
pecado. Pois sustentamos que o homem é justificado pela fé, independente da obediência à
Lei.
Gl 2.16: Sabemos que ninguém é justificado pela prática da Lei, mas mediante a fé
em Jesus Cristo. Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela
fé em Cristo, e não pela prática da Lei, porque pela prática da Lei ninguém será
justificado.
Rm 6.23: Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida
eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Rm 5.1,2: Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos a paz com Deus, por nosso
Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora
estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.
Hb 4.16: Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de
recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade.
1.3. GRAÇA REVELADA EM CRISTO:
Jo 1.17: Pois a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram
por intermédio de Jesus Cristo.
2Co 8.9: Pois vocês conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico,
se fez pobre por amor de vocês, para que por meio de sua pobreza vocês se tornassem
ricos.
1
SEVERA, de A. Zacarias. Manual de Teologia Sistemática, 1ª ed. Curitiba: A. D. SANTO EDITORA, 1999.
8
Rm 3.25,26: Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo
seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia deixado impunes os
pecados anteriormente cometidos; mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser
justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.
1.4. GRAÇA RECEBIDA E VIVIDA PELA FÉ:
Rm 3.24: sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que
há em Cristo Jesus.
Rm 6.23: Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida
eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.
2Co 5.14,15: Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de
que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles
que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e
ressuscitou.
O firme propósito de Deus é oferecer a salvação à humanidade toda, sem, contudo,
tolher a liberdade do homem no tocante a aceitá-la ou rejeitá-la.
2 ELEIÇÃO:
2.1. A DOUTRINA DA ELEIÇÃO NA HISTÓRIA:
2.1.1 AGOSTINHO E PELÁGIO:
PELÁGIO. Sustentava que cada pessoa tem o livre arbítrio para escolher o bem e o
mal, para aceitar ou rejeitar a salvação.
AGOSTINHO. Estava convencido de que, como resultado da queda, o ser humano,
no estado natural, não tem a capacidade de vir a Deus sem a intervenção divina. A vontade
humana é escrava do pecado, não é livre com respeito à salvação. Portanto, sem uma obra
especial de Deus para libertar a vontade humana, ninguém pode ser salvo. Para Agostinho,
esta obra especial é a eleição.
2.1.2. CALVINO E ARMÍNIO:
CALVINO (1509-1564) foi o grande elaborador e defensor da doutrina da eleição,
embora outros reformadores, como Lutero e Zwínglio, também ensinassem a mesma
doutrina. Calvino deu um tom mais forte à eleição. Ele ensinou que Deus predestinou, isto
é, preordenou, alguns para a salvação e outros para a perdição.
Segundo Calvino, os decretos ou preordenações de Deus têm a seguinte ordem:
1. Salvar alguns e condenar outros;
2. Criar ambos;
3. Permitir a queda de todos;
4. Promover a salvação para os eleitos.
Por esta ordem, o decreto de salvar alguns e condenar outros veio antes da queda.
Daí chamar-se esta posição de SUPRALAPSORIANISMO (de lapsu – queda). Calvino
deu ênfase absoluta à soberania de Deus.
JACÓ ARMÍNIO (1560-1609), na Holanda, foi eleito para defender as doutrinas de
Calvino, mas acabou por discordar dele na dupla predestinação, por achar absurdo que
9
Deus predestinasse alguém para a perdição e ainda responsabilizasse o homem por isto.
Armínio entendia que a eleição era condicionada e baseada na presciência de Deus.
Dessa controvérsia resultou o Sínodo de Dort (1618-1619), na Holanda, que
condenou as idéias de Armínio, e afirmou os seguintes pontos, nessa ordem:
TULIP:
1. Depravação Total do homem na queda;
2. Eleição incondicional de alguns para a salvação;
3. Expiação limitada para os eleitos;
4. Graça irresistível aos eleitos e;
5. A preservação dos santos.
O Sínodo de Dort
Nesse Concílio ficou firmado que o decreto da eleição veio depois da queda e que a
eleição diz respeito à salvação somente e não à perdição. A posição original de Calvino
(dupla predestinação – calvinismo duro) foi modificada pelo Sínodo de Dort (calvinismo
moderado).
10
calvinismo), ou para outro (liberdade humana – arminianismo), como se fossem dois
aspectos que se excluem mutuamente.
Na explicação da eleição, é preciso levar em conta as duas verdades bíblicas, a da
soberania de Deus e da responsabilidade do homem na salvação.
A QUESTÃO HERMENÊUTICA
11
Jo 15.16: Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a
vós outros.
At 13.48: “Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do
Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”.
At 22.14: Então, ele disse: O Deus de nossos pais, de antemão, te escolheu para
conheceres a sua vontade, veres o Justo e ouvires uma voz da sua própria boca.
Rm 8.28-30: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. 29 Porquanto aos que
de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. 30 E aos que predestinou, a
esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou,
a esses também glorificou”.
Ef 1.4,5: “assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos
santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de
filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”.
2Ts 2.13: “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados
pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação
do Espírito e fé na verdade”.
1Pe 1.2: “Eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito,
para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam
multiplicadas.”.
1Pe 2.9: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou
das trevas para a sua maravilhosa luz”.
12
Deus tomou a iniciativa também quanto ao meio de salvação. Cristo foi o meio
determinado por Deus (Ef 1.4,5).
Todos os detalhes quanto ao meio foram planejados: encarnação, morte,
ressurreição, ascensão, parousia (Ap 13.8; At 2.23,24).
A iniciativa de Deus foi além do propósito e do meio, alcançou também os
indivíduos. Deus elegeu todos os que hão de ser salvos (Ef 1.4,5; At 13.48; 2Ts 2.13,14).
É Deus quem opera a salvação na experiência do indivíduo. É Ele quem leva o
pecador a Cristo, em arrependimento e fé (At 3.26; 5.31; 2Co 7.10). Ele regenera, justifica,
santifica e glorifica (Rm 8.28-30; Tt 3.5; 1Pe 1.2-5). Dele vem tanto o querer como o
efetuar a salvação (Fp 2.13).
A Presciência de Deus 2
por Arthur W. Pink
Que controvérsias têm sido engendradas por este assunto no passado! Mas que
verdade das Escrituras Sagradas existe que não se tenha tornado em ocasião para batalhas
teológicas e eclesiásticas? A deidade de Cristo, Seu nascimento virginal, Sua morte
expiatória, Seu segundo advento; a justificação do crente, sua santificação, sua segurança;
a Igreja, sua organização, oficiais e disciplina; o batismo, a ceia do Senhor, e uma porção
doutras preciosas verdades que poderiam ser mencionadas. Contudo, as controvérsias
sustentadas não fecharam a boca dos fiéis servos de Deus; então, por que deveríamos
evitar a disputada questão da presciência de Deus porque, com efeito, há alguns que nos
2
http://www.monergismo.com/textos/presciencia/presciencia_pink_atributos.htm.
13
acusarão de fomentar contendas? Que outros se envolvam em contendas, se quiserem;
nosso dever é dar testemunho segundo a luz a nós concedida.
14
Tomemos a palavra “carne”. Seu significado parece tão óbvio, que muitos achariam
perda de tempo examinar as suas várias significações nas Escrituras. Depressa se presume
que a palavra é sinônima de corpo físico e, assim, não se faz pesquisa nenhuma. Mas, de
fato, nas Escrituras “carne” muitas vezes inclui muito mais que a idéia de corpo. Tudo que
o termo abrange, só pode ser verificado por uma diligente comparação de cada passagem
em que ocorre e pelo estudo de cada contexto, separadamente.
Tomemos a palavra “mundo”. O leitor comum da Bíblia imagina que esta palavra
equivale a “raça humana” e, conseqüentemente, muitas passagens que contêm o termo são
interpretadas erroneamente. Tomemos a palavra “imortalidade”. Certamente esta não
requer estudo! É óbvio que se refere à indestrutibilidade da alma. Ah, meu leitor, é uma
tolice e um erro fazer qualquer suposição, quando se trata da Palavra de Deus. Se o leitor
se der ao trabalho de examinar cuidadosamente cada passagem em que se acham “mortal”
e “imortal”, verá que estas palavras nunca são aplicadas à alma, porém sempre ao corpo.
3
yada'. Saber, conhecer; prestar atenção, preocupar; entender, perceber; ter relações sexuais, coabitar.
4
YÅDÅËTY. yuda'. Ser conhecido; ser especificado; ser assinalado, ser definido.
5
yuda'. Ser conhecido; ser especificado; ser assinalado, ser definido.
15
empregada nas Escrituras em relação a eventos ou ações; em lugar disso, sempre se refere
a pessoas . Pessoas é que Deus declara que “de antemão conheceu” (pré-conheceu), não as
ações dessas pessoas. Para provar isto, citaremos agora cada uma das passagens em que se
acha esta expressão ou sua equivalente.
A primeira é Atos 2.23. Lemos ali: “A este que vos foi entregue pelo determinado
conselho (βουλῇ) e presciência (προγνώσει) de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e
matastes pelas mãos de injustos”. Se dermos cuidadosa atenção à terminologia deste
versículo, ver-se-á que o apóstolo não estava falando do conhecimento antecipado que
Deus tinha do ato da crucificação, mas sim da Pessoa crucificada: “A este (Cristo) que vos
foi entregue”, etc.
“Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu (προέγνω)...” (Romanos 11.2).
Uma vez mais a clara referência é a pessoas, e somente a pessoas.
Ora, em vista destas passagens (e não há outras mais), que base bíblica há para
alguém dizer que Deus “pré-conheceu” os atos de certas pessoas, a saber, o seu
“arrependimento e fé”, e que devido a esses atos Ele as elegeu para a salvação? A resposta
é: absolutamente nenhuma. As Escrituras nunca falam de arrependimento e fé como tendo
sido previsto ou pré-conhecido por Deus. Na verdade, Ele sabia desde toda a eternidade
que certas pessoas se arrependeriam e creriam; entretanto, não é a isto que as Escrituras se
referem como objeto da “presciência” de Deus. Esta palavra se refere uniformemente ao
pré-conhecimento de pessoas; portanto, conservemos “... o modelo das sãs palavras. . .” (2
Timóteo 1.13).
Outra coisa para a qual desejamos chamar particularmente a atenção é que as duas
primeiras passagens acima citadas mostram com clareza e ensinam implicitamente que a
“presciência” de Deus não é causativa , pelo contrário, alguma outra realidade está por
6
προέγνων 2 aor. ind. at. de προγινώσκω. προγινώσκω. Escolher de antemão Rm 8.29; 11.2.
7
πρόγνωσις. preconhecimento, presciência At 2.23; 1Pe 1.2.
16
trás dela e a precede, e essa realidade é o Seu decreto soberano . Cristo “... foi entregue
pelo (1) determinado conselho e (2) presciência de Deus” (Atos 2.23). Seu “conselho” ou
decreto foi a base da Sua presciência. Assim também em Romanos 8.29. Esse versículo
começa com a palavra “porque”, conjunção que nos leva a examinar o que o precede
imediatamente. E o que diz o versículo anterior? “... todas as coisas contribuem
juntamente para o bem daqueles... que são chamados por seu decreto”. Assim é que a
“presciência” de Deus baseia-se em Seu decreto (ver Salmo 2.7).
Deus conhece de antemão o que será porque Ele decretou o que há de ser . Portanto,
afirmar que Deus elege pessoas porque as pré-conhece é inverter a ordem das Escrituras, é
pôr o carro na frente dos bois. A verdade é esta: Ele as “pré-conhece” porque as elegeu .
Isto retira da criatura a base ou causa da eleição, e a coloca na soberana vontade de Deus.
Deus Se propôs eleger certas pessoas, não por haver nelas ou por proceder delas alguma
coisa boa, quer concretizada quer prevista, mas unicamente por Seu beneplácito. Quanto
ao por que Ele escolheu os que escolheu, não sabemos, e só podemos dizer: “Sim, ó Pai,
porque assim te aprouve” (Mateus 11.26). A verdade patente em Romanos 8.29 é que
Deus, antes da fundação do mundo, elegeu certos pecadores e os destinou para a salvação
(2 Tessalonicenses 2.13). Isto se vê com clareza nas palavras finais do versículo: “... os
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho”, etc. Deus não predestinou
aqueles que “dantes conheceu” sabendo que eram “conformes”, mas, ao contrário, aqueles
que Ele “dantes conheceu” (isto é, que Ele amou e elegeu), “predestinou para serem
conformes”. Sua conformidade a Cristo não é a causa, mas o efeito da presciência e
predestinação divina.
Deus não elegeu nenhum pecador porque previu que creria, pela razão simples, mas
suficiente, de que nenhum pecador jamais crê enquanto Deus não lhe dá fé; exatamente
como nenhum homem pode ver antes que Deus lhe dê a vista. A vista é dom de Deus, e ver
é a consequência do uso do Seu dom. Assim também a fé é dom de Deus (Efésios 2.8-9), e
crer é a consequência do uso deste Seu dom. Se fosse verdade que Deus elegeu alguns
para serem salvos porque no devido tempo eles creriam, isso tornaria o ato de crer num ato
meritório e, nesse caso, o pecador salvo teria motivo para gloriar-se, o que as Escrituras
negam enfaticamente (veja Efésios 2.9).
Certamente a Palavra de Deus é bastante clara ao ensinar que crer não é um ato
meritório. Afirma ela que os cristãos vieram a crer “pela graça” (Atos 18.27). Se, pois, eles
vieram a crer “pela graça”, absolutamente não há nada de meritório em “crer”, e, se não há
nada de meritório nisso, não poderia ser o motivo ou causa que levou Deus a escolhê-los.
Não; a escolha feita por Deus não procede de coisa nenhuma existente em nós , ou que de
nós provenha, mas unicamente da Sua soberana boa vontade.
Mais uma vez, em Romanos 11.5 lemos sobre “... um resto, segundo a eleição da
graça”. Eis aí, suficientemente claro; a eleição mesma é “da graça”, e a graça é favor
imerecido , coisa a que não tínhamos direito nenhum diante de Deus.
17
Vê-se, pois, como é importante para nós, termos ideias claras e bíblicas sobre a
“presciência” de Deus. Os conceitos errôneos sobre ela, inevitavelmente levam a ideias
que desonram em extremo a Deus. A noção popular da presciência divina é inteiramente
inadequada. Deus não somente conheceu o fim desde o princípio, mas planejou, fixou,
predestinou tudo desde o princípio. E, como a causa está ligada ao efeito, assim o
propósito de Deus é o fundamento da Sua presciência. Se, pois, o leitor é um cristão
verdadeiro, é porque Deus o escolheu em Cristo antes da fundação do mundo (Efésios 1.4;
2Ts 2.13; 2Tm 1.9; Tt 1.1,2; Ap 17.8), e o fez não porque previu que você creria , mas
simplesmente porque Lhe agradou fazê-lo; você foi escolhido apesar da tua incredulidade
natural. Sendo assim, toda a glória e louvor pertence a Deus somente. Você não tem base
nenhuma para arrogar-se crédito algum. Você creu “pela graça” (Atos 15.27), e isso porque
a tua própria eleição foi “da graça” (Romanos 11.5). Fonte: Arthur W. Pink. Os Atributos
de Deus. Editora PES.
18
A DOUTRINA DA ELEIÇÃO
A VOCAÇÃO
19
OS MEIOS DO CHAMAMENTO
1. A Palavra de Deus:
Rm 10.10.16,17: 16 Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz:
Senhor, quem acreditou na nossa pregação? 17 E, assim, a fé vem pela pregação, e a
pregação, pela palavra de Cristo.
2Ts 2.14: para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para
alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.
Hb 3.7,8: 7 Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz, 8
não endureçais o vosso coração como foi na provocação, no dia da tentação no deserto.
2. Atos da Sua providência:
2.1. Atos de Bondade:
Rm 2.4: Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade,
ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?
Jr 31.3: De longe se me deixou ver o SENHOR, dizendo: Com amor eterno eu te
amei; por isso, com benignidade te atraí.
2.2. Atos de Justiça:
Sl 107.6,13: Então, na sua angústia, clamaram ao SENHOR, e ele os livrou das suas
tribulações. Então, na sua angústia, clamaram ao SENHOR, e ele os livrou das suas
tribulações.
20
2.1.2. DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
A salvação conduz o homem à conformar-se com a imagem de Cristo:
Rm 8.29: Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos.
Ef 4.13: até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de
Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo.
1Jo 3.2: Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que
haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele,
porque haveremos de vê-lo como ele é.
2Co 3.18 E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória
do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo
Senhor, o Espírito.
1Pe 1.4: Pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para
que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção
das paixões que há no mundo.
Mas só depois desta existência, na ressurreição, é que o crente atingirá o seu alvo de
perfeição em Cristo, quando o último inimigo, a morte, for “tragada na vitória” (1Co
15.53,54).
Salvação inclui a idéia de “novos céus e uma nova terra” para habitação dos
remidos:
Is 65.17: Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas
passadas, jamais haverá memória delas.
2Pe 3.13: Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos
quais habita justiça.
Ap 21.1: Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas
passadas, jamais haverá memória delas.
21
também um corpo espiritual”. O corpo atual (soma psiquikon) é adaptado à alma, o
corpo futuro (soma pneumatikon) será adaptado ao espírito, será igual ao corpo glorioso de
Cristo (Fp 3.21). A diferença entre o corpo atual (corruptível, desonroso, fraco e próprio
para alma) e o corpo da ressurreição (incorruptível, glorioso poderoso e próprio para o
espírito) apresenta aquilo que é da perspectiva e da qualidade da alma, em contraste com
aquilo que é da perspectiva e da qualidade do espírito.
O salvo é levado para um novo paraíso, onde Deus com eles habitará, e eles serão o
seu povo, e Deus mesmo estará com eles.
Ap 21.3: Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com
os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com
eles.
8
SIMMON, Thomas Paul. Um Estudo Sistemático de Doutrina Bíblica. São Paulo: The Baptist Examiner, 1954, pp. 380-383.
22
nos livrou (passado) de tão horrível morte, e livra ainda (presente); em quem esperamos
que também ainda nos livrará (futuro)”.
“Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que
somos salvos [estamos sendo salvos – tempo presente, voz passiva, modo particípio], é o
poder de Deus” (1 Co 1.18).
O particípio grego na passagem está no tempo presente e denota “aqueles sendo
salvos, o ato... estando em progresso, não completado” (E. P. Gould).
É com referência ao tempo presente da salvação que Filipenses 2.12 fala, quando
diz: “Operai a vossa salvação com temor e tremor”. O sentido desta passagem é que os
crentes filipenses tiveram de efetivar em suas vidas a nova vida (zōē) que Deus implantara
nos seus corações.
Outras passagens há nas quais a salvação não está mencionada, as quais, não
obstante, referem o processo presente de salvação, tais como Rm 6.14; Gl 2.19,20; 2 Co
3.18.
No tempo presente da salvação os crentes estão sendo salvos, através da obra do
Espírito Santo que habita neles, do hábito e domínio do pecado. A salvação é assim
23
equivalente à santificação progressiva: não tem a ver com a alma nem com o corpo, mas
com a vida [zōē].
O crente foi salvo no passado [regeneração do espírito], está sendo salvo no presente
[santificação da alma] e será salvo no futuro [redenção do corpo].
Nas passagens seguintes a salvação é falada como algo ainda futuro: Rm 5.9,10;
8.24; 13.11; 1 Co 5.5; Ef 1.13,14; 1 Ts 5.8; Hb 10.36; 1 Pe 1.5; 1 Jo 3.2,3.
Em Rm 8.23 Paulo nos fala do que é, em geral, esta salvação. É “a redenção de
nossos corpos”. Isto terá lugar na ressurreição dos que dormem em Cristo (1 Co 15.52-56;
1 Ts 4.16) e no rapto dos que estiverem vivos na vinda de Cristo no ar (1 Ts 4.17). É só
então que o espírito regenerado entrará em completa fruição da salvação. Assim lemos que
o espírito é para ser salvo “no dia do Senhor Jesus” (1 Co 5.5). Este tempo de salvação tem
a ver principalmente com o corpo e a presença do pecado no corpo.
É sob esta bela harmonia que existe entre todas as passagens que tocam o assunto da
salvação. Não há conflito entre estas passagens, porque elas se referem a diferentes fases
da salvação. Absurdo é e herético qualquer homem tirar um grupo das três, não importa
que grupo ele tire, e procurar negar ou nulificar um ou outro, ou ambos, dos dois grupos
restantes. O modo da verdade é tomar todos eles corretamente divididos.
É bom observar que a salvação em todos os seus tempos e fases é do Senhor. Paulo
dá-nos o método de Deus no trabalho da salvação, do princípio ao fim em Fp 1.6 e 2.13.
Deus inicia a obra da salvação e a leva até sua consumação. E por toda a caminhada Ele
opera em nós “tanto o querer como o fazer Seu bom prazer”. E mais, é tudo de graça pela
fé. “Porque no evangelho é revelada, de fé em fé, a justiça de Deus, como está escrito:
Mas o justo viverá da fé” (Rm 1.17).
24
A ordem da salvação: Ordo Salutus 9
Ef 2.1: Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados.
Lc 19.9: Então, Jesus lhe disse: Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também
este é filho de Abraão.
Tt 3.5: não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia,
ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo. Neste texto
Paulo declara que os crentes já foram salvos. Portanto, é certo dizer que o crente já está
salvo.
9
Alan Myatt, Ph.D, Franklin Ferreira, Th.M. TEOLOGIA SISTEMÁTICA. Rio de Janeiro: Faculdade Teológica Batista de
São Paulo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, 2002.
25
SALVAÇÃO COMO UM PROCESSO
O cristão se move em direção a uma gloriosa consumação na qual sua salvação será
completa.
Jesus ensina que o reino é uma experiência presente (Mc 1.15; Mt 10.7,9; é uma
realidade crescente (Mc 4.26-29,30-32; Mt 13.33); é algo que marcha para uma
consumação (Mt 13.30,49,50; 25.31).
Paulo dá bastante ênfase na salvação futura (Rm 8.24; 13.11). Ele refere-se à
ressurreição do corpo como um aspecto essencial da salvação (Rm 8.23; 1Co 15.14-19). A
morte é o último inimigo a ser conquistado (1Co 15.26).
O conteúdo maior da salvação está no futuro, e será revelado na volta de Cristo.
Assim, a salvação se realiza por um ato, um processo de desenvolvimento e uma
consumação.
26
em primeiro, a fé ou a regeneração? Acho que tal questão não deve tomar o nosso tempo,
porquanto não podemos resolvê-la. Se no homem a regeneração vem primeiro, temos,
neste caso, um descrente regenerado; mas na hipótese contrária, se a fé vem primeiro, isto
é, se o homem crê antes de ser regenerado pelo Espírito, temos um crente não regenerado,
o que seria contra todos os ensinos do Novo Testamento e contra a experiência que temos
tido da vida cristã. Não cogitemos, portanto, duma ordem cronológica. Completa-se a fé
na regeneração e a regeneração realiza-se quando o homem crê. São estes os dois lados de
uma mesma coisa, parte feita por Deus, parte pelo homem. Há na salvação a mais íntima
cooperação entre Deus e o homem. Julgamos que talvez seja melhor adotar certa ordem
lógica para melhor êxito do nosso estudo. Comecemos, portanto, com a parte que toca ao
homem na sua salvação, o que provavelmente facilitará a nossa compreensão, visto como
tocaremos, assim, na própria experiência de cada um de nós. Arrependimento é o primeiro
ponto de que trataremos em nossa discussão do assunto.
1. ARREPENDIMENTO
1.1. EXIGÊNCIA DO ARREPENDIMENTO:
O arrependimento é o primeiro passo que se requer na salvação. Os profetas do A.T.
pregaram o arrependimento (Dt 30.10; Jr 8.6; Ez 18.30). João Batista pregou o
arrependimento (Mt 3.2; Mc 1.15). Jesus Cristo seguiu a mesma linha de pregação do
Precursor (Mt 4.17; Lc 13.3-5). Os apóstolos também pregaram o arrependimento (Mc
6.12; At 2.38; 3.19; 20.21; 26.20). O arrependimento é uma ordem de Deus para todos
homens (At 17.30).
27
1.3.3. Por atos da Sua bondade (Rm 2.4; 2 Pe 3.9);
1.3.4. Pela correção do Senhor (Ap 3.19; Hb 12.10,11).
Não obstante ser o arrependimento uma obra de Deus, é o homem que é instado a
arrepender-se e é responsabilizado diante de Deus. Isto quer dizer que o indivíduo tem de
exercer sua vontade própria para buscar conhecer a vontade de Deus e cumprí-la. Mas
Deus vai ao encontro do homem nesta sua necessidade, possibilitando que ele faça o que
deve fazer.
O arrependimento é o resultado da graça de Deus operando no mundo e no coração
do pecador. É Deus quem conduz o pecador ao arrependimento (At 5.31; 11.18; Rm 2.4; 2
Co 7.9,10; 2 Tm 2.25).
At 5.31: Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder
a Israel o arrependimento e a remissão de pecados.
At 11.18: E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo:
Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida.
2. FÉ EM JESUS CRISTO
2.1. A EXIGÊNCIA DA FÉ PARA SALVAÇÃO
Junto com a exigência do arrependimento para a salvação vem a fé em Cristo. A fé é o
elemento essencial na salvação cristã. É por meio dela que a graça divina opera em nós. É
pela fé em Cristo que somos salvos (At 16.31; Ef 2.8; Rm 5.1); também é mediante a fé
que recebemos o Espírito Santo (Gl 3.5,14); e ainda por ela somos santificados (At 26.18)
e preservados na salvação (1 Pe 1.5; Rm 11.20; 2 Co 1.24; 1 Jo 5.4; Rm 1.17; Mc 9.23; Gl
5.6).
28
2. A aceitação da verdade destes fatos;
3. A confiança na Pessoa de Jesus.
Berkhof define a fé salvadora como uma certa convicção, produzida pelo Espírito
Santo no coração, quanto à veracidade do Evangelho, e uma segurança (confiança) nas
promessas de Deus em Cristo.
2.2.3. IMPLICAÇÕES DA FÉ SALVADORA
A fé cristã traz certeza das realidades testemunhadas pela Palavra de Deus, sejam elas
invisíveis, presentes ou futuras (Hb 11.1). A certeza repousa na confiança que se tem no
testemunho da Palavra divina. Mas ela é também fortalecida pela experiência com Deus já
vivida pelo próprio indivíduo (Jo 9.25).
A fé cristã implica também em aquiescência. Aquiescência significa o consentimento
da pessoa em relação a tudo aquilo que a verdade implica, e expresse na entrega de si
mesmo, totalmente. É a entrega da vida à verdade crida.
A fé leva também à apropriação dos bens espirituais. Aquele que tem fé evangélica
apropria-se das realidades do objeto da sua fé, e incorpora à sua vida presente os bens
espirituais prometidos por Deus, mas que ainda permanecem invisíveis ou no futuro (1Tm
6.12; Hb 11.1). Pela fé, o crente já antecipa aqui parte do gozo da herança celestial (1Pe
1.3-9).
CONVERSÃO
29
CONVERSÃO NA VIDA CRISTÃ
3. UNIÃO OBJETIVA
A redenção resulta de um conselho divino, estabelecido antes da fundação do
mundo, e posteriormente, concretizado na história e nas experiências individuais (Ef 1.3-
5,9-1). Objetivamente, todos os que hão de ser salvos foram incluídos em Cristo quando
ele morria e ressuscitava no mundo. Jesus declarou:
Jo 12.32: E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo.
Rm 6.6: foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado
seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos.
4. UNIÃO SUBJETIVA
A salvação conquistada objetivamente por Cristo, no plano da história, precisa
tornar-se efetiva na vida pessoal do indivíduo, pela operação do Espírito Santo. A
expressão mais legítima e notória desta união subjetiva é a conversão, que resulta do
arrependimento e da fé.
5. UNIÃO ESPIRITUAL
Esta união com Cristo é realizada por meio do Espírito Santo, que está intimamente
identificado com Jesus:
30
Rm 8.9-11: 9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de
Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. 10 Se,
porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o
espírito é vida, por causa da justiça. 11 Se habita em vós o Espírito daquele que
ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os
mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós
habita.
REGENERAÇÃO
O homem deve arrepender-se, crer e converter-se; assim Deus ordena. Mas não há
mandamento para que o homem se regenere, pois esta é uma obra de Deus. Ela é o
princípio essencial da salvação.
1. TERMINOLOGIA BÍBLICA
A Bíblia utiliza vários termos para referir-se ao que chamamos de regeneração:
1) Novo Nascimento (Jo 3.3);
2) Nascido de novo (Jo 1.13; 1 Jo 5.1,4);
3) Vivificação (Ef 2.1,5);
4) Renovação pelo Espírito (Tt 3.5);
10
CHEUNG, Vicent. O Autor do Pecado. Publicado originalmente por Reformation Ministries Internacional www.rmiweb.org.
PO Box 15662, Boston, MA 02215, USA.
31
5) Nova Criação (Ef 2.10; 1 Co 5.17);
6) Ressurreição (Tt 3.5; 1Pe 1.3).
3. SIGNIFICADO DE REGENERAÇÃO
Regeneração é o ato de Deus pelo qual Ele muda a disposição moral da alma do
indivíduo, na união com Cristo, tornando-o moral e espiritualmente semelhante a Cristo.
11
FALCÃO, Samuel. Predestinação. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981, p. 95.
32
“A Regeneração é o ato exclusivo de Deus. Ele é o único que pode criar, e regenerar
é criar espiritualmente. Ele é o único que pode fazer os mortos ressurgir, e a regeneração é
uma é uma ressurreição espiritual. Ele é o único que pode fazer nascer qualquer ser, e a
regeneração, como a própria palavra indica, é um gerar de novo, fazer nascer novamente.
É possível o homem cooperar com Deus em Sua criação? Depende esta da criatura, ou
somente do Criador? A resposta é uma só. O mesmo acontece com a nossa salvação, na
qual somos feitos novas criaturas por Deus. Podem os mortos ressurgirem por si mesmos?
Não, é a única resposta. Do mesmo modo, os mortos espirituais não podem dar vida a si
próprios. Deus, somente Deus, pode levantá-los para a nova vida mediante o poder do seu
Espírito. Pode alguém gerar-se a si mesmo? Pode cooperar com Deus no ato de sua
conceição, ou resistir a Ele em seu nascimento? Certamente não. Por conseguinte, se a
salvação começa com um nascimento espiritual, se começa com a regeneração, somente
Deus pode iniciá-lo pelo infinito poder de seu Espírito”.12
“Se todos os homens não são regenerados, é claro que Deus não resolveu regenerar a
todo mundo, senão somente aqueles que elegeu. Concluímos, pois, que a doutrina da
regeneração prova a doutrina da predestinação”.13
Rm 8.5-9: Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne;
mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne
é morte; mas a inclinação do Espírito é vida [ζωὴ] e paz. Porquanto a inclinação da carne é
inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser.
Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na
carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem
o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.
Esta união é obra do Espírito naquele que crê. Ao ser regenerado o homem é unido a
Cristo. Ef 1.13: Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito
Santo da promessa. 1Co 6.17: Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele.
4. EFEITOS DA REGENERAÇÃO
12
FALCÃO, Samuel. Op. Cit., p. 98.
13
Ib. p. 98.
33
A Regeneração produz efeitos:
1. Efeitos Posicionais. São a condição de Filho de Deus por adoção (Jo 1.12,13; Rm
8.16; Gl 4.6); como filho, o crente é também herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo
(Rm 8.17), cuja herança fica assegurada no céu (1Pe 1.4).
2. Efeitos Espirituais. São as virtudes que o crente recebe do Senhor na sua alma
(Gl 2.20). Ele é fortalecido “no Senhor e na força do seu poder” (Ef 6.10; 3.16-19).
3. Efeitos Práticos. Aparecem na vida do crente no dia-a-dia. Ele busca viver a vida
de justiça, santidade, amor e verdade (Ef 4.22ss). Ele pratica o amor fraternal, serve a
Cristo e aos irmãos.
A salvação, em sua plenitude, consiste de três partes - justificação (a salvação, no
momento da conversão, da penalidade do pecado por meio do sacrifício substitutivo de
Cristo); santificação (salvação do pecador, contínua, do poder do pecado, nesta vida); e
glorificação (a salvação final e completa do pecador, da presença do pecado na vida por
vir). Como ministro do Evangelho, Paulo dava ênfase a cada um desses aspectos em seu
ministério.
Visto que Paulo entendia a justificação, ele pregava o Evangelho “para levar os
eleitos de Deus à fé”, compreendendo que, pela pregação da verdade, Deus justificaria
aqueles que tinha escolhido salvar (cf. Rm 10.14,15). Visto que entendia a santificação
progressiva, Paulo procurava fortalecer aqueles que já tinham abraçado a verdade,
edificando-os pelo “conhecimento da verdade que conduz à piedade”.
E visto que ele entendia a glorificação, lembrava apaixonadamente aos que estavam
sob seus cuidados a verdade relacionada com “a esperança da vida eterna” - a apoteótica
consumação da sua salvação em Cristo.
Paulo pregava o Evangelho de Cristo com grande clareza para que os eleitos
pudessem ouvir e crer. Quando eles criam, ele lhes ensinava a verdade para que pudessem
tornar-se piedosos; e também apresentava a eles a esperança da vida eterna, o que lhes
dava o incentivo e a motivação que necessitavam para viver como crentes fiéis.
JUSTIFICAÇÃO
34
a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os
pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo
presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.
Rm 4.25: qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por
causa da nossa justificação.
Rm 5.16,18: O dom, entretanto, não é como no caso em que somente um pecou;
porque o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação; mas a graça transcorre
de muitas ofensas, para a justificação. Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo
sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a
graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida.
Rm 4.25: qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por
causa da nossa justificação.
Rm 5.16,18: O dom, entretanto, não é como no caso em que somente um pecou;
porque o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação; mas a graça transcorre
de muitas ofensas, para a justificação. Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo
sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a
graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida.
Gl 2.16: sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim
mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos
justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será
justificado.
At 13.39: e, por meio dele, todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais
vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés.
3. O SIGNIFICADO DE JUSTIFICAÇÃO
É o Ato de Deus declarar o pecador perdoado, livre da condenação, e restaurado ao
favor divino.
O SENTIDO JUDICIAL DE JUSTIFICAÇÃO. Justificação é um ato judicial de
Deus. Ela ocorre diante do tribunal divino e não na alma do homem, como acontece com a
regeneração. A justificação significa que o pecador foi julgado em Cristo, está perdoado, é
aceito como justo diante de Deus, e fica absolvido da condenação eterna (Jo 5.24; Rm
8.33).
4. O PERDÃO NA JUSTIFICAÇÃO
Justificação implica no perdão dos pecados, por isto não há mais condenação (Lc
18.14; Jo 5.24).
Todos os pecados são tratados na justiça de Cristo, aqueles já cometidos e os que
ainda vierem a ser praticados, pois o perdão remove toda a culpa do indivíduo diante do
trono de Deus, e garante o seu pleno livramento da condenação eterna. A provisão para o
perdão dos pecados futuros já foi feita (1Jo 2.1,2).
5. RESTAURAÇÃO NA PRESENÇA DIVINA
35
A justificação vai além do perdão e da absolvição; há também um aspecto positivo:
uma nova relação com Deus e nova condição de vida. Os justificados são recebidos diante
de Deus como filhos amados e alvos de todos os favores da graça divina. A “adoção de
filhos”, que é um ato legal e não natural, resulta da justificação (Rm 8.15,16). Junto com a
adoção vem o direito de herança no Reino de Deus (Rm 8.17; 1Pe 1.4) e o recebimento do
E. Santo (Gl 4.6; Rm 8.9).
7. A BASE DA JUSTIFICAÇÃO
O sofrimento de Cristo significa o pagamento da culpa de todos os nossos pecados,
o cumprimento da lei que condena de modo que, unidos a Ele pela fé, morremos com ele e
ficamos livres da condenação da lei, e somos declarados justos e absolvidos da nossa
condenação. A base da justificação é a JUSTIÇA alcançada pelo Filho de Deus (2 Co
5.14,15,19,21).
SANTIFICAÇÃO
1. CONCEITO DE SANTIFICAÇÃO
A palavra santificação traduz duas idéias básicas ou fundamentais:
1ª) Separação para Deus;
2ª) Purificação.
Santificação implica em estar separado para Deus. Quando Deus, o Santo, separa
para Si de modo especial alguma pessoa ou coisa, diz-se que aquilo que foi separado é
santo. O que faz a pessoa ou coisa santa é sua relação especial com Deus. Esta separação
para Deus implica em purificação (Lv 11.44; 1Ts 4.3; 5.23).
"No soberano e eterno decreto de Deus, Ele não pré-ordenou somente a conversão
de Seus eleitos, mas também sua justificação, adoção e santificação. Assim como os
eleitos foram pré-ordenados para conversão e, assim, recebem fé em Cristo, assim também
36
eles foram pré-ordenados para a santificação e, assim, são feitos santos pelo Espírito
Santo. De fato, Deus pré-determinou as próprias boas obras para que os eleitos pudessem
andar nelas, e Ele é a causa e o poder atrás da vontade bem como da realização destas boas
obras feitas pelos eleitos. Portanto, os eleitos foram pré-ordenados para a santificação tão
certamente como foram escolhidos para conversão. Isto significa que a apostasia
verdadeira e final é impossível".14
A ideia de santificação aplicada aos cristãos deve ser vista sob três perspectivas:
1) Santificação Posicional (ou objetiva). No ato da regeneração, todos os crentes
são santificados e, portanto, são santos, porque já estão separados para Deus e purificados.
1Co 1.2: À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus,
chamados santos. (Rm 1.7; 2Co 1.1; Ef 1.1; Cl 1.2).
2) Santificação Progressiva. Mas o Espírito Santo continua trabalhando na vida do
regenerado, a fim de que ele desenvolva o seu caráter e a sua personalidade, à luz do
padrão perfeito, que é Cristo. Ef 4.17: E digo isto, e testifico no Senhor, para que não
andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade da sua mente.
3) Santificação Futura. 1Jo 3.2,3: 2 Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda
não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar,
seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos. 3 E qualquer que nele tem
esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro.
14
CHEUNG, Vicent. O Autor do Pecado. Publicado originalmente por Reformation Ministries Internacional www.rmiweb.org.
PO Box 15662, Boston, MA 02215, USA.
37
2Tm 3.16,17: 16 Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para
ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; 17 Para que o homem de
Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.
1Pe 1.23: Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível,
pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre.
1Pe 2.2: Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite
racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo.
Cl 3.5: Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição,
a impureza, a afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria;
Fp 2.12,13: 12 De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só
na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a
vossa salvação com temor e tremor; 13 Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer
como o efetuar, segundo a sua boa vontade. (Leia 1Pe 1.13-2.2).
GLORIFICAÇÃO
38
O conteúdo maior da experiência da salvação está no futuro:
Rm 8.24: Porque em esperança fomos salvos. Ora a esperança que se vê não é
esperança; porque o que alguém vê como o esperará?
Rm 13.11: isto digo, conhecendo o tempo, que já é hora de despertarmos do sono;
porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé.
1Pe 1.3-5: 3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a
sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de
Jesus Cristo dentre os mortos, 4 Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que
não se pode murchar, guardada nos céus para vós, 5 Que mediante a fé estais guardados na
virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo.
1Pe 2.1,2: DEIXANDO, pois, toda a malícia, e todo o engano, e fingimentos, e
invejas, e todas as murmurações, Desejai afetuosamente, como meninos novamente
nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo;
1Jo 3.2: Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que
havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele;
porque assim como é o veremos.
O SIGNIFICADO DA GLORIFICAÇÃO
O termo glorificação aqui é empregado para designar tudo aquilo que está
incluído na salvação futura, a partir da morte física, mas especificamente seguindo-se
a volta de Cristo.
Rm 8.18: Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não
são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.
2Co 4.17: Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso
eterno de glória mui excelente.
Cl 1.27: Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste
mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória.
1Pe 1.4-9: Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode
murchar, guardada nos céus para vós, 5 Que mediante a fé estais guardados na virtude de
Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo, 6 Em que vós
grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um
pouco contristados com várias tentações, 7 Para que a prova da vossa fé, muito mais
preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e
glória, na revelação de Jesus Cristo; 8 Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o
vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; 9 Alcançando o fim
da vossa fé, a salvação das vossas almas.
39
1. NOVO CORPO
Rm 8.23: E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito,
também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso
corpo.
1Co 15.51-53: 51 Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos
dormiremos, mas todos seremos transformados; 52 Num momento, num abrir e fechar de
olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão
incorruptíveis, e nós seremos transformados. 53 Porque convém que isto que é corruptível
se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade.
2. NOVA HABITAÇÃO
“Novo céu e nova terra”, “Nova Jerusalém”, são expressões que indicam uma
nova habitação para os remidos do Senhor:
Fp 3.20: Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador,
o Senhor Jesus Cristo.
Hb 11.16: Mas agora desejam uma melhor, isto é, a celestial. Por isso também Deus
não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade.
2Pe 3.13: Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra,
em que habita a justiça.
Ap 21.1-4: E VI um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a
primeira terra passaram, e o mar já não existe. 2 E eu, João, vi a santa cidade, a nova
Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu
marido. 3 E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os
homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles,
e será o seu Deus. 4 E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais
morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.
ASPECTOS DA GLORIFICAÇÃO
40
Hb 12.23: À universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos
céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados.
Ap 21.27: E não entrará nela coisa alguma que contamine, e cometa abominação e
mentira; mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro.
41
Jo 6.56: Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu
nele.
Jo 10.28,29: E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as
arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode
arrebatá-las da mão de meu Pai.
Rm 5.10: Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte
de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.
Rm 8.29,30: Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também
justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.
Rm 8.35-37: 35 Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia,
ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? 36 Como está escrito:
Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o
matadouro. 37 Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que
nos amou.
Rm 8.38-39: 38 Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos,
nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, 39 Nem a altura,
nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que
está em Cristo Jesus nosso Senhor.
Rm 11.29: Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento.
Fp 1.6: Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a
aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo
2Tm 1.12: Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho; porque eu
sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até
àquele dia.
1Pe 1.5: Que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já
prestes para se revelar no último tempo.
Estes textos ensinam que Deus dá garantia de vida com ele, não obstante as
vicissitudes da experiência humana. Além disso, a salvação é referida como sendo vida
eterna que recebemos quando cremos (Jo 3.16; 5.24).
AS IMPLICAÇÕES DA REGENERAÇÃO
42
vai querer, de coração, fazer isto, porque é contrário à sua natureza e à sua nova condição
em Cristo.
Na justificação Deus já declarou o crente livre da condenação dos seus pecados e
restaurado ao favor de Divino. Ele foi perdoado e recebeu a garantia de que “não entra em
condenação, porque já passou da morte para a vida” (Jo 5.24). A justificação tem a ver
com o futuro juízo de Deus, do qual, por antecipação, o crente já recebeu absolvição. “Isto
não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8). Se nada fez co que ele merecesse a justificação,
nada poderá fazer com que ele a perca.
Seria estranho que Deus justificasse o pecador, pela Sua graça, com base na justiça
que há em Cristo, e depois, por fraqueza moral e espiritual do crente, Deus retirasse a
justificação. Qual a segurança de um ato judicial assim?
O Espírito Santo passa a habitar no crente e a atuar na vida dele desde o dia em que
ele recebe a Cristo. O Espírito guia (Rm 8.14), intercede por ele (Rm 8.26), fortalece a
alma e todas as suas faculdades: mente, sentimento, vontade (Ef 3.16); Ele opera “tanto o
querer como o efetuar” a salvação na experiência (Fp 2.13). Por isto, não se pode pensar
mais no crente como estando ele só, como antes, mas ele e o Espírito de Deus, ou ele e
Cristo (Ef 2.22; Gl 2.20). O Espírito é a garantia da redenção futura do crente (Ef 1.13;
4.30). Por isto, o crente não vai desejar perder a vida eterna da qual já desfruta na
comunhão do Espírito Santo.
As exortações bíblicas para a vigilância têm uma finalidade prática, como de fato é
o caráter das mensagens da Bíblia. O crente precisa manter e cultivar sua vida de
comunhão e obediência a Deus, ter consciência limpa, tem confirmação da sua
participação com Cristo (Hb 3.14) e pode sentir-se seguro e feliz (Hb 6.11; 1Jo 3.21). Se
desistir de seguir a Cristo, isto vem provar que ele não era ainda regenerado (1Jo 2.19).
O crente salvo está sujeito à queda no pecado, mas o seu coração regenerado não
fica satisfeito com esta situação e sofre. Por isto, deseja libertar-se e busca perdão e poder
para vida de santidade. Esta é a diferença entre o regenerado e o suposto crente membro de
igreja, que, quando cai no pecado, não sente tristeza para o arrependimento. “Mas de vós,
ó amados, esperamos coisas melhores, e que acompanham a salvação, ainda que assim
falamos” (Hb 6.9).
Conclusão
Espero e oro que as verdades deste maravilhoso assunto, com as bênçãos de Deus,
tragam os pecadores ao Salvador, confirmem os ânimos dos salvos e glorifiquem o Senhor
Deus Pai das luzes de Quem vem toda e boa dádiva e dom perfeito (Tiago 1.17).
Se você se considera um “cão morto” e está ouvindo a voz do Salvador, venha hoje
mesmo a Ele para a salvação da sua alma. Venha se arrependendo do pecado crendo pela
fé nas revelações divinas do Filho de Deus, Jesus Cristo.
43
Se você já foi posto na mesa do rei, viva humildemente ao serviço dele
crescentemente para a Sua glória.
O Antecedente da Salvação 15
A terminologia da predestinação
Preordenação
Predestinação
Eleição Reprovação
Figura 1
O Calvinismo
45
perseverança). Embora haja interpretações levemente variadas dessas expressões
e nem todos esses conceitos sejam essenciais para nossas considerações
presentes, vamos adotá-las como base para nossa análise da concepção calvinista
da predestinação.
Os calvinistas entendem que toda raça humana está perdida no pecado. Eles
destacam o conceito de depravação total: todo indivíduo é tão pecador que é
incapaz de responder a qualquer oferta de graça. Essa condição, que merecemos
plenamente, implica corrupção moral (e, portanto, incapacidade moral) e também
passibilidade ao julgamento (culpa). Todas as pessoas começam a vida nessa
condição. Por esse motivo, é chamado “pecado original”. Às vezes, a expressão
“incapacidade total” é usada para descrever a condição humana. Essa
terminologia salienta que os pecadores perderam a capacidade de fazer o bem e
são incapazes de se converter. Numerosas passagens indicam tanto a
universalidade quanto a seriedade dessa condição (e.g., Jo 6.44; Rm 3.1-23; 2Co
4.3,4 e, especialmente, Ef 2.1-3).
O segundo conceito importante do calvinismo é a soberania de Deus. Ele é
o Criador e o Senhor de todas as coisas e, por conseguinte, é livre para fazer tudo
o que deseja. Ele não está sujeito nem deve explicações a ninguém. Os homens
não estão em posição de julgar a Deus por aquilo que ele faz. Uma das passagens
citadas com freqüência nessa discussão é a parábola dos trabalhadores na vinha.
Os que foram contratados na undécima hora receberam o mesmo pagamento
prometido aos contratados no início do dia. Quando os que foram contratados
mais cedo reclamaram da aparente injustiça, o senhor respondeu a um deles:
“Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário? Toma o que
é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti. Porventura, não me é
lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou
bom?” (Mt 20.13-15). Outra passagem significativa é a metáfora de Paulo sobre
o oleiro e o barro. Para o indivíduo que reclama da injustiça de Deus, Paulo
responde: “Quem és tu, Ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode
o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro
direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro,
para desonra?” (Rm 9.20,21), Esse conceito de soberania divina, juntamente com
a incapacidade humana, é básica para a doutrina calvinista da eleição.
A eleição, de acordo com o calvinismo, é a escolha que Deus faz de certas pessoas
para seu favor especial. Isso pode dizer respeito à escolha de Israel como povo da aliança
especial de Deus ou à escolha de indivíduos para algum ofício especial. O aspecto de
nosso interesse principal aqui, no entanto, é a escolha de certas pessoas para serem filhos
46
espirituais de Deus e, portanto, para receberem a vida eterna. Uma prova bíblica de que
Deus selecionou certos indivíduos para a salvação encontra-se em Efésios 1.4,5: “[O Pai]
nos escolheu, nele Jesus Cristo], antes da fundação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos,
por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”. Jesus indicou que a
iniciativa fora sua na seleção dos discípulos para a vida eterna: “Não fostes vós que me
escolhestes a mim: pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que
vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça” (Jo 15.16). Além disso, todos os que são
dados a Jesus pelo Pai irão a ele: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim: e o que
vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37).
A interpretação de que a escolha ou a seleção que Deus faz de certas pessoas para a
salvação é absoluta ou incondicional está em harmonia com os atos de Deus em outros
contextos, tais como sua escolha da nação de Israel, que ocorreu pela seleção de Jacó e
rejeição de Esaú. Em Romanos 9, Paulo argumenta com vigor que todas essas escolhas
pertencem totalmente a Deus e não dependem, de modo algum, das pessoas escolhidas.
Tendo citado a declaração de Deus a Moisés em Êxodo 33.19, “Terei misericórdia de
quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter
compaixão”, Paulo comenta: “Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre,
mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.15,16).
Já vimos várias características da eleição conforme entendem os calvinistas. Uma, é
que a eleição é uma expressão da vontade soberana ou do beneplácito de Deus. Ela não se
baseia em algum mérito do eleito. Também não se baseia na previsão de que a pessoa virá
a crer. É a causa, não o resultado, da fé. A segunda é que a eleição é eficaz. Os que foram
escolhidos por Deus com certeza virão a crer nele e, também, perseverarão nessa fé até o
fim. Todos os eleitos serão com certeza salvos. A terceira é que a eleição foi feita desde a
eternidade. Não é uma decisão tomada em algum ponto do tempo em que o indivíduo já
existe. Trata-se do que Deus sempre se propôs fazer. A quarta é que a eleição é
incondicional. Ela não exige que os seres humanos realizem atos específicos ou
preencham certas condições ou ordens de Deus. Não é que Deus deseja salvar as pessoas,
caso façam algumas coisas. Ele simplesmente deseja salvá-las e o faz. Por fim, a eleição é
imutável. Deus não muda de idéia. A eleição vem desde a eternidade e brota da
misericórdia infinita de Deus; ele não tem motivos nem ocasião para mudar de idéia.
Em sua maioria, os calvinistas alegam que a eleição não é incoerente com o livre
arbítrio, ou seja, segundo entendem o termo. Negam, entretanto, que os homens tenham
livre arbítrio no sentido arminiano. O que os calvinistas destacam é que o pecado retirou,
se não a liberdade, pelo menos a capacidade de exercer devidamente a liberdade. Loraine
Boettner, por exemplo, compara a humanidade decaída a uma ave de asa quebrada. A ave é
“livre” para voar, mas não é capaz de fazê-lo. Da mesma forma, “o homem natural é livre
para chegar a Deus, mas não é capaz de fazê-lo. Como pode se arrepender do pecado se
ama o pecado? Como pode chegar a Deus se odeia a Deus? Essa é a incapacidade da
vontade sob a qual luta o homem”. É apenas quando Deus chega em sua graça especial aos
que escolheu, que eles são capazes de atender.
47
Uma área em que há variações entre os calvinistas é o conceito de reprovação.
Alguns sustentam a dupla predestinação, a crença de que Deus escolhe alguns para a
salvação e outros para a perdição. Outros dizem que Deus na realidade escolhe os que
receberão a vida eterna e passa ao largo dos outros, deixando-os nos pecados que eles
mesmos escolhem. O efeito é o mesmo em ambos os casos, mas a segunda concepção
atribui a perdição dos não eleitos à sua própria escolha do pecado, não a uma decisão ativa
de Deus ou a uma escolha divina por omissão, em vez de comissão.
O arminianismo
48
sobre todos. É também a base de toda a bondade encontrada nas pessoas em todos os
lugares. Além disso, ela é dada universalmente para contra-atacar o efeito do pecado. Já
que Deus deu essa graça a todos, todos são capazes de aceitar a oferta da salvação: por
conseguinte, não há necessidade de nenhuma aplicação especial da graça de Deus a
indivíduos em particular.
O terceiro conceito básico é o lugar da presciência na eleição das pessoas para a
salvação. Em sua maioria, os arminianos desejam conservar o termo eleição e a idéia de
que os indivíduos são preordenados para a salvação. Isso significa que Deus deve preferir
algumas pessoas a outras. Na concepção arminiana, ele escolhe algumas para que recebam
a salvação, enquanto apenas passa ao largo das outras. Os que são predestinados por Deus
são os que, por seu infinito conhecimento, consegue prever que aceitarão a oferta da
salvação feita por Jesus Cristo. Essa concepção é baseada na estreita relação apresentada
pelas Escrituras entre a presciência e a preordenação ou predestinação. A passagem básica
a que se recorre é Romanos 8.29: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos”. Um texto de apoio é l Pedro 1.1,2, em que Pedro dirige-
se aos “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai”. Ambas as referências dão a entender
que a preordenação é baseada na presciência e dela resulta.
Por fim, os arminianos levantam objeções contra a concepção calvinista de que a
predestinação seja incondicional ou absoluta. Algumas delas são práticas e não teóricas
quanto à natureza. Muitas delas reduzem-se à idéia de que o calvinismo é fatalista. Se
Deus determinou tudo que irá ocorrer, aquilo que os homens fazem realmente provocam
alguma diferença? O comportamento ético torna-se irrelevante. Se somos eleitos, tem
alguma importância a maneira pela qual vivemos? Seremos salvos independentemente de
nossas ações.
Outra objeção é que o calvinismo nega todo e qualquer impulso missionário ou
evangelístico. Se Deus já escolheu quem será salvo e o número deles não pode ser
aumentado, por que pregar o evangelho? Os eleitos serão salvos de todo jeito, e aquele
número exato de escolhidos, nem um a mais nem a menos, virá a Cristo. Portanto, por
que se preocupar em levantar fundos, enviar missionários, pregar o evangelho ou orar
pelos perdidos? Tais atividades são, com certeza, exercícios vãos.
49
Uma proposta de solução
Agora precisamos tentar chegar a algumas conclusões sobre essa questão intricada
dos decretos de Deus com respeito à salvação. Note que não estamos lidando aqui com
toda a questão dos decretos de Deus em geral. Em outras palavras, não estamos
considerando se Deus torna certos todos os eventos que ocorrem em todos os tempos e em
todo o universo. Estamos interessados apenas em discutir se alguns são destacados por
Deus para serem receptores especiais de sua graça.
Começamos com uma análise dos dados bíblicos. As Escrituras falam da eleição em
vários sentidos diferentes. Eleição às vezes refere-se à escolha que Deus faz de Israel
como seu povo especial, sob seu favor. Ocasionalmente, indica a seleção de indivíduos
para posições especiais de privilégio e serviço e, claro, a seleção para a salvação. Em razão
dos vários significados de eleição, qualquer tentativa de limitar nossa discussão a apenas
um deles resultará, inevitavelmente, no truncamento do tópico.
Antes de investigar o ensino bíblico de que Deus escolheu especialmente a alguns
para que tenham vida eterna, é importante considerar o retrato pungente que a Bíblia faz
do homem: perdido, cego e incapaz, em seu estado natural, de responder com fé à
oportunidade de salvação. Em Romanos, em especial no capítulo 3, Paulo retrata a raça
humana desesperadamente separada de Deus por causa de seu pecado. Os homens são
incapazes de fazer alguma coisa para se desvencilhar dessa condição e, aliás, sendo bem
cegos quanto à sua situação, não têm sequer o desejo de fazê-lo. Os calvinistas e os
arminianos conservadores concordam nesse ponto. Não é apenas que os homens em seu
estado natural não conseguem fazer boas obras do tipo que possam justificá-los diante de
Deus. Além disso, somos afligidos pela cegueira espiritual (Rm 1.18-23; 2Co 4.3,4) e pela
insensibilidade.
Não é que os chamados sejam obrigados a atender, mas Deus torna tão atraente
a oferta, que eles desejam atender.
Por essa razão, segue-se que ninguém atenderia ao apelo do evangelho sem uma
ação especial de Deus. É neste ponto que muitos arminianos, reconhecendo a incapacidade
humana conforme ensinada na Escritura, introduzem o conceito de graça preveniente, que
teria efeito universal, anulando os resultados noéticos do pecado, tornando, então, possível
a fé. O problema é que não há nenhuma base clara adequada na Escritura para esse
conceito de capacitação universal. A teoria, embora atraente em muitos aspectos,
simplesmente não é ensinada de forma explícita na Bíblia.
Voltando à questão de por que alguns crêem, encontramos uma coleção
impressionante de textos que dão a entender que Deus selecionou alguns para a salvação e
que nossa resposta à oferta da salvação depende dessa decisão e iniciativa anteriores de
Deus. Por exemplo, ligado à explicação de Jesus de que falava por meio de parábolas de
modo que alguns ouvissem, mas não entendessem, observamos que ele continua, dizendo
aos discípulos: “Bem-aventurados, porém, os vossos olhos, porque vêem; e os vossos
50
ouvidos, porque ouvem” (Mt 13.16). Pode-se entender, com isso, que eles não eram tão
incapazes, no aspecto espiritual, quanto os outros ouvintes. Mas podemos captar melhor o
que se implica aqui observando Mateus 16. Jesus havia perguntado aos discípulos sobre o
que as pessoas diziam a respeito dele, e eles haviam citado várias opiniões - João Batista,
Elias, Jeremias ou um dos profetas (v. 14). Pedro, porém, confessou: “Tu és o Cristo, o
Filho do Deus vivo” (v. 16). O comentário de Jesus é instrutivo: “Bem-aventurado és,
Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está
nos céus” (v. 17). Foi uma ação especial de Deus que fez a diferença entre os discípulos e
os espiritualmente cegos e surdos. Isso está de acordo com as afirmações de Jesus:
“Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer” (Jo 6.44) e “Não fostes
vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (Jo 15.16).
Jesus também nos diz que essa condução e escolha são eficazes: “Todo aquele que o Pai
me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37).
“Todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim” (v. 45). O
conceito de que nossa fé depende da iniciativa de Deus também aparece no livro de Atos,
em que Lucas nos diz que quando os gentios de Antioquia da Psídia ouviram da salvação,
“regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido
destinados para a vida eterna” (At 13.48).
Além disso, o argumento arminiano de que a preordenação de Deus é baseada em
sua presciência não é persuasivo, pois a palavra hebraica yãda' ((adfy), que parece estar
por trás das referências à “presciência” em Romanos 8.29 e l Pedro 1.1,2, significa mais
que um conhecimento prévio. Ela carrega a conotação de um relacionamento muito
positivo e íntimo. Insinua uma demonstração de favor ou de amor a alguém, sendo usada
até mesmo para relações sexuais. O que se tem em vista, portanto, não é um conhecimento
prévio neutro daquilo que alguém fará, mas uma escolha ativa daquela pessoa. Contra esse
fundo hebraico, parece provável que as referências à presciência em Romanos e l Pedro
estão apresentando a presciência não como a base da predestinação, mas como sua
confirmação.
Mas que dizer das ofertas universais de salvação e dos convites gerais aos ouvintes
para que creiam? Os arminianos às vezes alegam que, pelos argumentos calvinistas,
alguém pode resolver aceitar a salvação, mas ser impedido de se salvar. Mas de acordo
com o entendimento calvinista, essa cena nunca ocorre, pois ninguém é capaz de desejar
ser salvo, chegar a Deus, crer, sem uma capacitação especial. Deus oferece sinceramente a
salvação a todos, mas todos nós estamos tão estabelecidos em nossos pecados, que não
atendemos, a menos que sejamos assistidos.
Existe liberdade real em uma situação dessas? Aqui remetemos o leitor à nossa
discussão geral sobre a liberdade humana em relação ao plano de Deus. Também
precisamos notar, entretanto, que agora estamos lidando especificamente com a
capacidade espiritual ou a liberdade de escolha com respeito à questão crucial da salvação.
E aqui a consideração principal é a depravação. Se, como alegamos, os homens no estado
irregenerado são totalmente incapazes de corresponder à graça de Deus, não se discute se
eles são livres para aceitar a oferta da salvação - ninguém é! Antes, a pergunta é: alguém
51
que receba um chamado especial tem liberdade para rejeitar a graça oferecida? A posição
tomada aqui não é de que os chamados sejam obrigados a atender, mas que Deus torna tão
atraente a oferta, que eles desejam responder afirmativamente.
Implicações da predestinação
Para concluir, podemos sugerir que não é prudente insistir falando indevidamente
dos perigos da vida cristã. Maior ênfase deve ser dada aos meios de segurança - o poder
de Cristo como Salvador; a fidelidade do Espírito Santo que habita em nós, a certeza das
divinas promessas, e a eficácia infalível da oração. O Novo Testamento ensina uma
verdadeira “segurança eterna”, assegurando-nos que, a despeito da debilidade, das
imperfeições, obstáculos ou dificuldades exteriores, o cristão pode estar seguro e ser
vencedor em Cristo. Ele pode dizer com o apóstolo Paulo: “Quem nos separará do amor
de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição ou a fome, ou a nudez, ou o
perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o
dia; fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas
coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo
de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades,
nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra
criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor”
(Rm 8.35-39).16
16
PEARLMAN, Myer. CONHECENDO AS DOUTRINAS DA BÍBLIA. 6ª ed. Miami, Flórida: Editora Vida, 1977, p. 225-
226.
52
Os Cinco Pontos do Arminianismo Versus Os Cinco Pontos do Calvinismo
Arminianismo Calvinismo
1. Vontade Livre – O arminianismo diz que a vontade do 1. Depravação Total – O calvinismo diz que o homem
homem é “livre” para escolher, ou a Palavra de Deus, ou a não regenerado é absolutamente escravo de Satanás, e, por
palavra de Satanás. A salvação, portanto, depende da obra isso, é totalmente incapaz de exercer sua própria vontade
de sua fé. livremente (para salvar-se), dependendo, portanto, da obra
de Deus, que deve vivificar o homem, antes que este
possa crer em Cristo.
2. Eleição Condicional – O arminianismo diz que a 2. Eleição Incondicional – O calvinismo sustenta que o
“eleição é condicional, ou seja, acredita-se que Deus pré-conhecimento de Deus está baseado no propósito ou
elegeu àqueles a quem “pré-conheceu”, sabendo que no plano de Deus, de modo que a eleição não está baseada
aceitariam a salvação, de modo que o pré-conhecimento em alguma condição imaginária inventada pelo homem,
[de Deus] estava baseado na condição estabelecida pelo mas resulta da livre vontade do Criador à parte de
homem. qualquer obra de fé do homem espiritualmente morto.
3. Expiação Universal – O arminianismo diz que Cristo 3. Expiação Limitada – O calvinismo diz que Cristo
morreu para salvar não um em particular, porém somentemorreu para salvar pessoas determinadas, que lhe foram
àqueles que exercem sua vontade livre e aceitam odadas pelo Pai desde toda a eternidade. Sua morte,
oferecimento de vida eterna. Daí, a morte de Cristo foi um portanto, foi cem por cento bem sucedida, porque todos
fracasso parcial, uma vez que os que têm volição negativa, aqueles pelos quais ele não morreu receberão a “justiça”
isto é, os que não querem aceitar, irão para o inferno. de Deus, quando forem lançados no inferno.
4. A Graça pode ser Impedida – O arminianismo afirma 4. Graça Irresistível – O calvinismo entende que a
que, ainda que o Espírito Santo procure levar todos os graça de Deus não pode ser obstruída, visto que sua graça
homens a Cristo (uma vez que Deus ama a toda a é irresistível. Os calvinistas não querem significar com
humanidade e deseja salvar a todos os homens), ainda isso que Deus esmaga a vontade obstinada do homem
assim, como a vontade de Deus está amarrada à vontade como um gigantesco rolo compressor! A graça irresistível
do homem, o Espírito [de Deus] pode ser resistido pelo não está baseada na onipotência de Deus, ainda que
homem, se o homem assim o quiser. Desde que só o poderia ser assim, se Deus o quisesse, mas está baseada
homem pode determinar se quer ou não ser salvo, é mais no dom da vida, conhecido como regeneração.
evidente que Deus, pelo menos, “permite” ao homem Desde que todos os espíritos mortos (= alienados de Deus)
obstruir sua santa vontade. Assim, Deus se mostra são levados a Satanás, o deus dos mortos, e todos os
impotente em face da vontade do homem, de modo que a espíritos vivos (= regenerados) são guiados
criatura pode ser como Deus, exatamente como Satanásirresistivelmente para Deus (o Deus dos vivos), nosso
prometeu a Eva, no jardim [do Éden]. Senhor, simplesmente, dá a seus escolhidos o Espírito de
Vida. No momento que Deus age nos eleitos, a polaridade
espiritual deles é mudada: Antes estavam mortos em
delitos e pecados, e orientados para Satanás; agora são
vivificados em Cristo, e orientados para Deus.
5. O Homem pode Cair da Graça – O arminianismo 5. Perseverança dos Santos – O calvinismo sustenta
conclui, muito logicamente, que o homem, sendo salvo por muito simplesmente que a salvação, desde que é obra
um ato de sua própria vontade livremente exercida,realizada inteiramente pelo Senhor – e que o homem nada
aceitando a Cristo por sua própria decisão, pode também tem a fazer antes, absolutamente, “para ser salvo” -, é
perder-se depois de ter sido salvo, se resolver mudar de óbvio que o “permanecer salvo” é, também, obra de Deus,
atitude para com Cristo, rejeitando-o! (Alguns arminianos à parte de qualquer bem ou mal que o eleito possa
acrescentariam que o homem pode perder, praticar. Os eleitos ‘perseverarão' pela simples razão de
subseqüentemente, sua salvação, cometendo algum que Deus prometeu completar, em nós, a obra que ele
pecado, uma vez que a teologia arminiana é uma “teologia começou. Por isso, os cinco pontos de TULIP incluem a
de obras” – pelo menos no sentido e na extensão em que o Perseverança dos Santos .
homem precisa exercer sua própria vontade para ser
salvo). Esta possibilidade de perder-se, depois de ter sido
salvo, é chamada de “queda (ou perda) da graça”, pelos
seguidores de Arminius. Ainda, se depois de ter sido salva,
a pessoa pode perder-se, ela pode tornar-se livremente a
Cristo outra vez e, arrependendo-se de seus pecados, “pode
ser salva de novo”. Tudo depende de sua continua volição
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positiva até à morte!
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Interpretações Que Negam A Relação Do Pecado De Adão Com A Raça
1. INTERPRETAÇÃO PELAGIANA
Há uma explicação conhecida como pelagianismo (Pelágio) segundo a qual o
pecado de Adão não tem nenhuma relação real com o pecado de cada pessoa. Isto é, o
homem não herda a natureza pecaminosa de Adão nem sua culpa. Cada qual peca porque
escolhe pecar. A única relação do pecado de Adão com as pessoas é que ele se constituiu
num mau exemplo para todos. Cada pessoa é um novo homem e tem a chance de viver
sem pecado. Ele não nasce com sua natureza corrupta. A base do argumento de Pelágio é
que Deus pede que o homem Lhe obedeça, e se Deus requer isto é porque de fato o
homem tem capacidade de cumprir o que Deus quer, afirma. Mas esta interpretação não
tem apoio bíblico, pois a Escritura ensina que todos pecaram em Adão e nascem em
pecado. As idéias de Pelágio foram condenadas no Concílio de Cartago, em 418.
2. INTERPRETAÇÃO LIBERAL
Uma forma modificada do pelagianismo é a posição defendida por alguns teólogos
liberais. Eles propõem a evolução do homem e negam a historicidade de Adão; por
conseguinte, não há qualquer transmissão do pecado. O liberalismo é marcado pelo seu
otimismo para com a natureza humana. Ele acentua a paternidade de Deus e a fraternidade
humana. Esta também é uma posição que não tem base na revelação bíblica.
3. INTERPRETAÇÃO NEO-ORTODOXA
Alguns teólogos neo-ortodoxos consideram o relato da queda como lenda, mito, que
embora aponte para uma verdade espiritual, contudo não se refere a fato histórico.
Reinhold Niebuhr, Emil Brunner, A. Richardson, Oscar Culmann e alguns outros dizem
que Adão é um símbolo de todo o homem, e que a queda é um ato universal: todos têm a
sua queda.
Como negar a relação do pecado de Adão com a raça à luz de Romanos 5.12-19 e 1
Coríntios 15.21,22? Estes textos indicam: (1) que todos pecaram em Adão; (2) que mesmo
aqueles que não pecaram no sentido de quebrar a lei de Deus, eles morreram por causa do
pecado de Adão; (3) que há uma comparação e um contraste entre Cristo e Adão: em cada
caso, a ação de uma só pessoa é decisiva, e tem implicações para todos.
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não têm culpa com Adão diante de textos como o de Rm 5.12,14,18 e 1 Co 15.21,22?
2. INTERPRETAÇÃO FEDERALISTA
Esta teoria é também chamada de “aliança das obras”. Deus teria feito um pacto
com Adão, envolvendo todas as suas gerações. Adão teria duas relações com a
humanidade: a de chefe natural e a de chefe representativo de toda a raça humana na
“aliança das obras”. Pela sua relação natural com a humanidade, Adão não poderia lançar
sobre os seus descendentes a culpa dos seus erros, mas pela relação pactual, sim. Na
“aliança das obras” Deus colocou vários elementos: um elemento de representação, um de
prova e outro de recompensa ou punição. Na representação, Adão estaria representando
toda a humanidade, um representante federal. Sem a aliança, Adão e seus descendentes
estariam constantemente sujeitos a provas e sempre com a possibilidade de pecar, mas
com a aliança, a perseverança persistente por um certo tempo de prova seria recompensada
com o estabelecimento do homem num estado de santidade, de onde não poderia cair
jamais.
Se Adão cumprisse os termos da aliança, obteria o direito de vida eterna para si e
para os seus descendentes. Por outro lado, o descumprimento da aliança traria sobre si e
sobre toda a humanidade a morte. Como Adão não cumpriu a aliança, Deus lançou sobre
todos os que estavam ligados a Adão, pelo pacto, a culpa e a pena do primeiro pecado. Só
Jesus ficou livre dessa imputação porque ele não estava ligado ao cabeça federal. A maior
dificuldade desta teoria é que a Bíblia não fala desse pacto de obras, com exceção, talvez,
de Oséias 6.7.
3. INTERPRETAÇÃO REALISTA
Outra maneira de explicar a relação do pecado de Adão com a humanidade é a que
vê Adão não apenas como um indivíduo, mas como o cabeça natural da humanidade. Do
ponto de vista orgânico e vital, todas as pessoas estavam presentes na natureza de Adão
quando ele pecou. Uma possível base bíblica para esta interpretação é Hebreus 7,9,10,
onde se diz que Levi estava em Abraão quando este pagou dízimo a Melquisedeque,
embora Abraão tivesse vivido há mais de quatrocentos anos antes de Levi.
Nesta perspectiva, na geração dos filhos, a natureza corrompida e culpada de Adão é
transmitida de geração em geração, e assim todos são herdeiros do pecado. Agostinho,
Anselmo, Boaventura e alguns outros teólogos defenderam esta idéia; antes deles,
Tertuliano. Calvino descreve Adão como a raiz da raça humana. Somos todos ramos e
participamos da mesma natureza na raiz. Jesus ficou fora dessa herança pecaminosa
porque não veio do mesmo tronco, mas foi gerado diretamente pelo Espírito de Deus. “O
que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo 3.6).
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TULIP
A tulipa17 é uma flor com pétalas de entrelaçamento, e sem a qual, não faria uma flor
completa. Se for removida uma pétala da flor, ela deixa, para todos os efeitos, a ser
concluída. É o mesmo com as doutrinas essenciais da salvação. Cada doutrina está
essencialmente ligada à outra. Se uma delas for removida, em seguida, todo o sistema cai
em contradição e absurdo. (Assim, não haveria tal coisa como um ponto 3 calvinista ou
um ponto 4 calvinista (como Amyraldianism) - seria melhor dizer que eles estão confusos
arminianos).
3. (Expiação limitada) - Jesus Cristo morreu na cruz para pagar o preço do resgate
somente dos eleitos;
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5. (Perseverança dos Santos) - Todos os eleitos vão perseverar na fé até o fim e chegar
ao céu. Nenhum perderá a salvação.
4. Graça resistível - Os homens podem resistir à Graça de Deus para não serem salvos;
5. Decair da Graça - Homens salvos podem perder a salvação caso não perseverem na
fé até o fim.
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ARMINIANISMO X CALVINISMO
Categoria Arminianismo Calvinismo
1. Incapacidade Total
1. Livre-Arbítrio ou Capacidade Humana
ou Depravação Total
Embora a queda de Adão tenha afetado O homem natural não pode sequer apreciar as coisas de
seriamente a natureza humana, as pessoas Deus. Menos ainda salvar-se. Ele é cego, surdo, mudo,
não ficaram num estado de total impotente, leproso espiritual, morto em seu pecado,
incapacidade espiritual. Todo pecador pode insensível à graça comum. Se Deus não tomar a
arrepender-se e crer, por livre-arbítrio, cujo iniciativa, infundindo-lhe a fé salvadora, e fazendo-o
uso determinará seu destino eterno. O ressuscitar espiritualmente, o homem natural continuará
Depravação Total pecador precisa da ajuda do Espírito, e só é morto eternamente. (Sl 51:5; Jr 13:23; Rm 3:10-12;
regenerado depois de crer, porque o 7:18; 1Co 2:14; Ef 1:3-12; Cl 2:11-13)
exercício da fé é a participação humana no
novo nascimento.
(Is 55:7; Mt 25:41-46; Mc 9:47-48; Rm
14:10-12; 2Co 5:10)
2. Eleição Condicional 2. Eleição Incondicional
Deus escolheu as pessoas para a salvação, Deus elegeu alguns para a salvação em Cristo,
antes da fundação do mundo, baseado em reprovando os demais. Aos eleitos Deus manifesta a
Sua presciência. Ele previu quem aceitaria Sua misericórdia e aos reprovados a Sua justiça. Deus
livremente a salvação e predestinou os não tem a obrigação de salvar ninguém, nem homens
salvos. A salvação ocorre quando o pecador nem anjos decaídos. Resolveu soberanamente salvar
escolhe a Cristo; não é Deus quem escolhe o alguns homens (reprovando todos os demais) e torná-
Eleição pecador. O pecador deve exercer sua própria los filhos adotivos quando eram filhos das trevas. Teve
Incondicional fé, para crer em Cristo e ser salvo. Os que se misericórdia de algumas criaturas, e deixou as demais
perdem, perdem-se por livre escolha: não (inclusive os demônios) entregues às suas próprias
quiseram crer em Cristo, rejeitaram a graça paixões pecaminosas. A salvação é efetuada totalmente
auxiliadora de Deus. por Deus. A fé, como a salvação, é dom de Deus ao
(Dt 30:19; Jo 5:40; 8:24; Ef 1:5-6, 12; homem, não do homem a Deus. (Ml 1:2-3; Jo 6:65;
2:10; Tg 1:14; 1Pe 1:2; Ap 3:20; 22:17) 13:18; 15:6; 17:9; At 13:48; Rm 8:29, 30-33; 9:16;
11:5-7; Ef 1:4-5; 2:8-10; 2Ts 2:13; 1Pe 2:8-9; Jd 1:4)
3. Redenção Universal ou Expiação Geral 3. Redenção Particular ou Expiação Limitada
O sacrifício de Cristo torna possível a toda e Segundo Agostinho, a graça de Deus é “suficiente para
qualquer pessoa salvar-se pela fé, mas não todos, eficiente para os eleitos”. Cristo foi sacrificado
assegura a salvação de ninguém. Só os que para redimir Seu povo, não para tentar redimi-lo. Ele
Expiação crêem nEle, e todos os que crêem, serão abriu a porta da salvação para todos, porém, só os
Limitada salvos. eleitos querem entrar, e efetivamente entram.
(Jo 3:16; 12:32; 17:21; 1Jo 2:2; 1Co (Jo 17:6,9,10; At 20:28; Ef 5:15; Tt 3:5)
15:22; 1Tm 2:3-4; Hb 2:9; 2Pe 3:9; 1Jo
2:2)
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ARMINIANISMO X CALVINISMO
Categoria Arminianismo Calvinismo
4. A Vocação Eficaz do Espírito
4. Pode-se Efetivamente Resistir ao Espírito Santo
ou Graça Irresistível
Deus faz tudo o que pode para salvar os pecadores. Embora os homens possam resistir à graça de
Estes, porém, sendo livres, podem resistir aos apelos da Deus, ela é, todavia, infalível: acaba
graça. Se o pecador não reagir positivamente, o Espírito convencendo o pecador de seu estado depravado,
não pode conceder vida. Portanto, a graça de Deus não convertendo-o, dando-lhe nova vida, e
é infalível nem irresistível. O homem pode frustrar a santificando-o. O Espírito Santo realiza isto sem
vontade de Deus para sua salvação. coação. É como um rapaz apaixonado que ganha
(Lc 18:23; 19:41-42; Ef 4:30; 1Ts 5:19). o amor de sua eleita e ela acaba casando-se com
ele, livremente. Deus age e o crente reage,
Graça
livremente. Quem se perde tem consciência de
Irresistível que está livremente rejeitando a salvação. Alguns
escarnecem de Deus, outros se enfurecem, outros
adiam a decisão, outros demonstram total
indiferença para as coisas sagradas. Todos,
porém, agem livremente.
(Jr 3:3; 5:24; 24:7; Ez 11:19; 20; 36:26-27;
1Co 4:7; 2Co 5:17; Ef 1:19-20; Cl 2:13; Hb
12:2).
5. Decair da Graça 5. Perseverança dos Santos
Embora o pecador tenha exercido fé, crido em Cristo e Alguns preferem dizer “perseverança do
nascido de novo para crescer na santificação, ele poderá Salvador”. Nada há no homem que o habilite a
cair da graça. Só quem perseverar até o fim é que será perseverar na obediência e fidelidade ao Senhor.
salvo. O Espírito é quem persevera pacientemente,
(Lc 21:36; Gl 5:4; Hb 6:6; 10:26-27; 2Pe 2:20-22) exercendo misericórdia e disciplina, na condução
do crente. Quando ímpio, estava morto em
pecado, e ressuscitou: Cristo lhe aplicou Seu
sangue remidor, e a graça salvífica de Deus
Perseverança
infundiu-lhe fé em para crer em Cristo e obedecer
dos Santos a Deus. Se todo o processo de salvação é obra de
Deus, o homem não pode perdê-la! Segundo a
Bíblia, é impossível que o crente regenerado
venha a perder sua salvação. Poderá até pecar e
morrer fisicamente (1Co 5:1-5). Os apóstatas
nunca nasceram de novo, jamais se converteram.
(Is 54:10; Jo 6:51; Rm 5:8-10; 8:28-32, 34-39;
11:29; Fp 1:6; 2Ts 3:3; Hb 7:25)
Rejeitado pelo Sínodo de Dort. Este foi o sistema de
pensamento contido na “Remonstrância” (embora
originalmente os cinco pontos não estivessem dispostos
nessa ordem). Esse sistema foi apresentado pelo
arminianos à Igreja na Holanda em 1610, mas foi
rejeitado pelo Sínodo de Dort em 1619 sob a
justificativa de que era antibíblico.
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BIBLIOGRAFIA
1. PEARLMAN, Myer. CONHECENDO AS DOUTRINAS DA BÍBLIA. 6ª ed. Miami,
Flórida: Editora Vida, 1977.
2. SEVERA, de A. Zacarias. Manual de Teologia Sistemática, 1ª ed. Curitiba: A. D.
SANTO EDITORA, 1999.
3. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2ª ed. Campinas: Luz Para o Caminho, 1992.
4. ERICKSON, M.J. Introdução à Teologia Sistemática. 1ª ed. São Paulo: Vida Nova,
1997.
5. FALCÃO, Samuel. Predestinação. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981.
6. GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 1ª ed. São Paulo: Editora Vida Nova, 1999.
7. HOEKEMA, Anthony. Salvos Pela Graça. 2ªed. São Paulo: Editora Cultura Cristã,
2002.
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Biografia do autor
O pastor Antônio Carlos Gonçalves Bentes é capitão do Comando da Aeronáutica,
Doutor em Teologia pela American Pontifical Catholic University (EUA), Pós-graduado
em Ciências da Religião pela Pan Americana, Pós-graduado em Psicologia Pastoral pela
Pós-graduado em Ciências da Religião pela Pan Americana, Pós-graduado em Psicologia
Pastoral pela FATEH - Faculdade de Teologia Hokemãh, conferencista, filiado à
ORMIBAN – Ordem dos Ministros Batistas Nacionais, professor dos seminários batistas:
STEB, SEBEMGE e Koinonia e também das instituições: Seminário Teológico Hosana,
UNITHEO, Seminário Teológico Goel e Escola Bíblica Central do Brasil, atuando nas
áreas de Teologia Sistemática, Teologia Contemporânea, Apologética, Escatologia,
Pneumatologia, Teologia Bíblica do Velho e Novo Testamento, Hermenêutica, e
Homilética. Reside atualmente em Lagoa Santa, Minas Gerais. É pastor presidente da
Igreja Batista Nacional Goel em Lagoa Santa - Minas Gerais. É casado com a pastora Rute
Guimarães de Andrade Bentes, tem três filhos: Joelma, Telma e Charles Reuel, e duas
netas: Eliza Bentes Zier e Anna Clara Bentes Rodrigues.
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