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Livro 1
De
CHRISTINA ROSS
Para Christopher, que sabe por quê.
Isenção de Responsabilidade:
Este é um trabalho de ficção. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas (a não
ser que explicitamente mencionado) é mera coincidência. Copyright © 2016 Christina Ross.
Todos os direitos reservados em todo o mundo.
ÍNDICE
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Livros de Christina Ross
LIVRO UM
CAPÍTULO 1
* * *
Abalada pela conversa, saí do escritório da mulher e caminhei cegamente pelo corredor
até os elevadores. Dezenas de homens e mulheres andavam em minha direção ou
passavam por mim, e todos tinham um emprego. O que há de errado comigo? Por que
não consigo um emprego? Estou quase sem dinheiro. Se não encontrar alguma coisa
logo, não sei o que farei.
Senti as lágrimas queimando nos olhos, mas não iria chorar, de jeito algum, e as engoli.
Você é melhor do que isso. Isso não é para você. Foi tudo culpa dela. Escute Lisa.
Pense em um emprego de garçonete. Poderia lhe dar o tempo de que precisa para
encontrar o emprego que deseja. Você tem experiência como garçonete. E precisa do
dinheiro. Concentre-se nisso.
Fui até um dos elevadores e pressionei o botão para descer. Apesar do ar-
condicionado, senti mais calor do que sentira no apartamento. Fiquei esperando que o
elevador chegasse e não pude evitar de ouvir mentalmente a voz do meu pai.
Você vai fracassar, sabia? Você vai fracassar e voltar correndo para nós. Bem, eis
como as coisas são, garota. Se fracassar, talvez não a queiramos de volta. Talvez eu e
sua mãe estejamos muito bem sem você. Pense nisso se for embora.
Na verdade, fora aquela conversa que me convencera a partir. Lisa e eu tínhamos nos
formado na semana anterior. Telefonei para contar a ela o que o meu pai dissera e, no fim
daquela semana, garantimos nosso pequeno apartamento horroroso por meio de um
corretor em Nova Iorque, colocamos nossas coisas dentro do Golf de dez anos de Lisa,
que tínhamos apelidado de Gretta muito tempo antes, e deixamos o Maine e nossas vidas
anteriores para trás.
— Gretta nos tirará daqui — dissera Lisa quando chegamos na I-95 Sul. — Pode ser
um carro velho mas nunca me deixa na mão. Faremos isso juntas. Meu livro está pronto, a
capa é demais, mas o texto precisa de uma boa revisão sua antes que eu o coloque na
Amazon. Quem sabe o que acontecerá com ele? Talvez estoure. Mas, mesmo que isso não
aconteça, temos uma à outra, como sempre. Nós conseguiremos juntas. Não deixe aquele
bêbado do seu pai afastá-la dos seus sonhos. E, por favor, não deixe que ele entre ainda
mais na sua cabeça e a prejudique mais do que já fez.
Era mais fácil falar do que fazer. As palavras do meu pai me assombravam, como
sempre o fizeram. Talvez ele visse a verdadeira Jennifer Kent. Talvez ele me visse como eu
realmente era: um fracasso. Alguém que, depois de quatro meses, não conseguira um
maldito emprego em uma das maiores cidades do mundo.
As portas do elevador se abriram. Não havia ninguém dentro dele, o que era uma
bênção. Entrei, pressionei o botão para o térreo e encostei-me na parede do elevador.
Não vou chorar.
Mas chorei. Eu estava brava, furiosa, e achava que não tinha outra opção além de
encontrar um emprego como garçonete em um restaurante chique. Isso, claro, significaria
outra rodada de entrevistas, pois precisava encontrar um excelente restaurante que
pagasse bem. Eu me senti desanimada com a perspectiva de ter que começar tudo de
novo. Meus olhos começaram a se encher de lágrimas por causa da frustração.
Para meu horror, quando as emoções assumiram o controle, o elevador desacelerou ao
se aproximar do 47º andar. Rapidamente limpei as lágrimas dos olhos, preocupada por ter
borrado o rímel, e baixei a cabeça quando as portas se abriram para que ninguém
conseguisse ver como eu estava tão profundamente triste, furiosa e desesperada.
Mas não fui rápida o suficiente. Por um instante, o homem que entrou no elevador me
encarou. Ele olhou para mim com preocupação, viu que o botão do térreo já estava aceso
e ficou parado ao meu lado.
As portas se fecharam. Um silêncio desconfortável se estendeu entre nós.
Ele era lindo. Claro que era. Por que não seria lindo? Por que o universo pararia de me
sacanear agora?
Só foi preciso um rápido olhar para ver como ele era bonito. Provavelmente um metro e
noventa, cabelos escuros penteados para trás em torno de um rosto anguloso, com uma
sombra de barba, lábios grossos e olhos da cor do mar. Os olhos eram o que mais
chamavam a atenção: azuis esverdeados e envoltos por cílios grossos. Eu vira muitos
homens atraentes durante o tempo que passara em Manhattan, tendo ignorado todos eles,
pois precisava encontrar um emprego antes de pensar em sair com alguém. Mas esse
homem era além do meu nível. Dada a minha onda de extrema sorte, naturalmente eu
estava uma bagunça quando ele me viu pela primeira vez.
Tire-me daqui. Por favor, faça com que o elevador ande mais depressa e leve-me até
a rua. Eu caminharei para casa no calor. Não me importo. Só me tire daqui, agora.
— Desculpe-me — disse ele. — Mas você está bem?
Foda-se a minha vida. — Receio que a alergia tenha me atacado com vontade hoje.
Meus olhos estão queimando.
— É só isso?
Ele sabe que não. Sabe que estou mentindo. E daí? Ele é um estranho. De acordo
com a srta. Blackwell, nunca mais a verei novamente, nem a ele. Por que não queimá-la
enquanto posso? Talvez eu me vingue dela.
— Na verdade, não é verdade.
— E qual é a verdade?
— Vim aqui tentar um emprego de secretária. Tenho diploma em administração, estou
em Nova Iorque desde maio e nada deu certo. Não consigo encontrar um emprego.
Aparentemente, de acordo com a srta. Blackwell no 51º andar, que obviamente está tão
furiosa por estar enfrentando um divórcio difícil que acabou descontando em mim, não
posso nem mesmo atender ao telefone nem gerenciar um sistema de arquivo. Pelo amor
de Deus. Eu esperava colocar o pé na porta e subir na empresa, mas hoje foi apenas mais
um dia de desapontamentos. — Eu olhei para ele, vi o que parecia um ar de irritação no
rosto dele e consegui abrir um sorriso. — Desculpe-me pelo desabafo.
— Fui eu quem perguntou. Você encontrou a srta. Blackwell?
— Sim, mas não se aproxime dela. Ela é o inferno na Terra. Ela ameaçou entrar em
contato com os caçadores de talento que conhece na cidade e avisá-los sobre mim.
A testa dele se franziu. Vi raiva nos olhos dele. — Por que ela faria isso?
— Porque ela não consegue imaginar por que eu estaria interessada em um emprego
de baixo nível para o qual sou qualificada demais. Disse que desperdicei o tempo dela.
Trocamos algumas palavras. Não foi bonito, mas ela não foi profissional. Ela tratou o
assunto como se fosse algo pessoal. Portanto, agora sou uma mercadoria danificada para
qualquer caçador de talento que eu procure.
— O que ela fez foi difamação.
— Foi. Não que eu possa fazer alguma coisa a respeito. Estou quebrada. — Respirei
fundo e mudei de assunto. Aquele cara não era só incrivelmente sexy, mas parecia gentil e
sincero, parecido com a taxista que me levara até lá. Eu adorava aquela cidade. Mas
naquele momento? Por causa de Blackwell? Ela podia muito bem ir para o inferno.
Ergui a mão atrás da cabeça e soltei o grampo que prendia o cabelo para cima e para
longe do rosto. Eu o sacudi e deixei que caísse sobre os ombros em ondas castanhas
suaves. Foi uma sensação libertadora.
— Você gosta daqui? — perguntei. — Supondo que seja um funcionário. Estou
perdendo alguma coisa incrível? Apesar da bruxa negra da morte lá em cima, sinto que
estou.
Ele estava olhando para o meu cabelo, mas pareceu despertar e seu olhar encontrou o
meu. — Trabalhar aqui não era exatamente parte dos meus planos, mas aqui estou. É
bom. E me mantém ocupado, que é importante.
— O que você faz?
— Apenas coisas de negócio. Não vou entediá-la com o assunto.
— Eu adoraria ser entediada com "apenas coisas de negócio".
Eu admirei a roupa cara dele e o relógio brilhante que usava no pulso e decidi que ele
provavelmente era um diretor sênior ou algum outro cargo cujo trabalho era intenso. Olhei
rapidamente para o rosto dele, vi que ele me olhava intensamente e não pude negar a
atração que senti. Que idade ele tinha? Trinta? Será que era solteiro? Com a aparência
que tinha, não podia ser solteiro. A não ser que ele preferisse daquela forma. Não que
importasse. Ele era de um nível completamente diferente do meu — o custo do relógio
apenas provavelmente poderia me manter no apartamento por um ano inteiro — e, quando
o elevador começou a desacelerar, fiquei aliviada. Eu realmente queria ir para casa.
— Qual é o seu nome? — perguntou ele.
Apesar de ser muito atraente, eu nunca dizia meu nome inteiro para qualquer um. — É
Jennifer — disse eu. Eu não queria saber o dele e não perguntei.
Mas ele o disse mesmo assim.
— Sou Alex.
Ele estendeu a mão, que eu apertei no momento em que o elevador parou e as portas
se abriram.
— Foi um prazer conhecer você — eu disse, consciente da descarga elétrica que senti
quando nos tocamos. A palma da mão dele era macia e incomumente quente. —
Novamente, desculpe-me pelo desabafo.
— Parece que você tinha todos os motivos para desabafar.
Aquele cara era real? Uma parte de mim não queria ir embora, mas eu fui. Precisava
chegar em casa e começar a procurar um emprego de garçonete. Não tinha tempo para
homens, nem mesmo para aquele.
— Tenha um bom dia — eu disse.
Saímos do elevador juntos. Eu apressei o passo para andar adiante dele, mas podia
senti-lo atrás de mim. Conseguia ouvir os passos dele. Conseguia sentir os olhos dele em
mim. Com a pasta na mão direita, passei a outra mão pela roupa para garantir que não
estivesse amassada quando saísse do prédio. Puxei o casaco para baixo, passei os dedos
pelo cabelo e o sacudi. Empurrei a porta para abri-la e esperei que ele a agarrasse atrás
de mim. Mas ele não o fez. Quando me virei para ver onde ele estava, eu o vi parado na
porta com as mãos nos bolsos. Ele sorria para mim.
Sorri de volta e, para meu horror, colidi com alguém na calçada.
A pasta foi arrancada da minha mão e caiu no chão com tanta força que se abriu. Em
um pé de vento súbito, os currículos extras que eu mantinha dentro dela começaram a voar
pela Quinta Avenida. O homem mais velho com quem colidi me disse para cuidar por onde
andava e foi embora irritado.
— Minha nossa — eu disse para mim mesma. Rapidamente, comecei a recolher os
currículos que conseguia. A impressão deles em um papel decente custara muito dinheiro.
Um dinheiro que eu não tinha para imprimi-los novamente. E precisaria deles mais tarde
quando começasse as entrevistas em restaurantes. — Não acredito nisso — resmunguei.
A porta se abriu atrás de mim. — Nunca conseguiremos pegar todos eles — eu o ouvi
dizer. — Mas podemos pegar alguns. Vou ajudá-la.
Para minha surpresa, ele correu pela Quinta, esgueirando-se pela multidão na calçada
larga e pegando os currículos que ainda estavam ao alcance. Eu fiz o mesmo. Quando
terminamos, eu o vi correndo pela avenida na minha direção, com vários currículos na mão.
O rosto dele estava coberto de suor. Estava infernalmente quente do lado de fora, mas ele
era mais do que suficiente para fazer com que o calor desaparecesse. Ele parecia um
deus. Eu não recordava ter me sentido tão atraída fisicamente por um homem. Na
verdade, eu nunca me sentira assim antes. Geralmente dispensava os homens.
— Você está bem? — perguntou ele.
— Estou bem — respondi. — Envergonhada, mas bem. Muito obrigada. — Peguei os
currículos da mão dele. — Você não precisava ter feito isso.
— Pelo jeito, o cara em quem você tropeçou não pretendia ajudá-la. Foi um erro
honesto. Algumas vezes, não entendo por que as pessoas precisam ser tão rudes.
— Esse dia precisa terminar — disse eu. — Obrigada novamente. Agradeço muito,
Alex. — Sentindo-me como uma idiota, fechei a pasta, disse um adeus rápido e
desajeitado e andei para longe dele, mesmo sentindo que ele estava prestes a dizer algo
quando me virei para partir.
CAPÍTULO 5
Na manhã seguinte, depois de um tratamento noturno com uma pomada antibiótica que
Lisa comprou na farmácia ali perto, meus pés estavam melhores. Muito melhores, o que foi
um alívio. As bolhas ainda estavam enormes e cheias de sangue e pareciam um show de
horrores, mas o inchaço diminuíra bastante, o que significava que não havia qualquer
infecção.
Portanto, não precisaria de hospital algum. Eu não tinha dinheiro para ir a um hospital,
de qualquer forma, e nem tinha tempo a perder. Precisava me levantar, fazer um bule de
café para cada uma de nós e abraçar Lisa por me ajudar a colocar a pomada e a enrolar
meus pés em gaze. Depois, precisava começar a procurar os melhores restaurantes da
cidade na internet. Eu certamente não pretendia distribuir comida em alguma coisa
chamada Tubby's Diner. Precisava de um restaurante chique onde conseguisse ganhar
dinheiro suficiente para alimentar minha conta bancária anêmica, que estava beirando o
ridículo.
E eu estava disposta a trabalhar feito louca para isso.
Se eu pretendia sobreviver naquela cidade — e não voltar para casa, onde meus pais
me ridicularizariam ou me rejeitariam —, precisava de dinheiro. Dinheiro rápido, de
gorjetas. Se eu conseguisse entrar no melhor lugar possível, sabia que as coisas
mudariam, pois isso me daria a oportunidade de encontrar o emprego que queria durante o
dia. Não seria fácil, mas com certeza me manteria lá, que era onde queria ficar.
E obrigada novamente a você, Lisa, pela ideia.
Eu queria agradá-la. Saí da cama e andei silenciosamente até a cozinha. Meus pés
doíam muito, mas não tanto quanto no dia anterior. Eu a encontrei dormindo no sofá-cama
e me senti culpada. Das duas, era ela quem ganhava mais dinheiro e, mesmo assim, não
ficara com o quarto. Observando-a dormir, o cabelo loiro espalhado como uma rede sobre
o rosto bonito, decidi que daria o quarto a ela. Lisa merecia. Quando chegamos em
Manhattan, ela presumira que eu conseguiria um emprego que pagasse bem e
simplesmente torcera para que o livro estourasse.
— Você fica com o quarto — dissera ela. — Não sei se esse livro fará algum sucesso.
Você ganhará mais dinheiro do que eu rapidamente. É justo.
Só que não era o caso. Por mim, o quarto seria dela e eu dormiria no sofá-cama. E,
francamente, quem se importava? O que importava era nossa amizade. Um dia,
superaríamos aquela situação ridícula e riríamos dela, tomando martínis no Ritz.
Continue sonhando, garota.
Vou mesmo.
Então sonhe alto.
É o que pretendo. Não economizei durante anos para vir até aqui à toa. Vim aqui para
ter sucesso.
Quando o café começou a ferver, o aroma foi suficiente para acordar Lisa.
— Esse cheiro é incrível — disse ela.
— E é só Folgers. Imagina se fosse Starbucks.
Uma expressão sonhadora inundou o rosto dela. — Starbucks — disse ela. — Se eu
fosse um zumbi, que posso muito bem ser, depois do capítulo que escrevi ontem à noite,
esse é o primeiro lugar aonde iria. Tomaria um frappuccino, comeria um biscoito e,
obviamente, um prato cheio de cérebro. Afinal, eu seria um zumbi. Portanto, vamos fazer
de conta que é Starbucks.
— Você é muito criativa — disse eu. — Será fácil para você. Para mim, nem tanto. Mas,
pelo menos, temos café!
Ela começou a se levantar.
— Não — eu disse. — Fique aí, levo uma xícara para você. Você salvou a minha vida
nas últimas duas semanas. Ou meses. Nos últimos meses, sim. Aproveite os últimos
momentos no sofá-cama porque, a partir de hoje à noite, o quarto será seu.
Ela se sentou no sofá-cama e me encarou. — Do que está falando?
— O quarto é seu. É a coisa certa a fazer. Mudarei minhas coisas para o seu armário e
você pode levar todas as suas coisas para o armário do quarto. Decore o aposento,
aproveite uma cama de verdade, para variar, e durma como a princesa que é.
— Jennifer, você não precisa fazer isso. Não me importo de dormir aqui. Na verdade,
por causa do barulho da lanchonete que passa pelo chão, eu consigo acordar e começar a
escrever mais cedo. Aquela lanchonete é pura motivação.
Eu acenei em direção ao quarto. — Acho que há um despertador lá dentro.
— Com um botão de soneca.
Revirei os olhos, servi duas xícaras de café, coloquei um pouco de açúcar e adicionei
creme. Depois de mexê-los rapidamente, levei a xícara para ela e a beijei na testa. —
Sério, eu tenho sido um problema ultimamente, mais do que o normal, o que significa que
você tem um problema gigante nas mãos. Agradeço por tudo o que fez por mim, mais do
que imagina, e agradeço especialmente pela sua paciência. Eu tenho sido um fardo.
Ela fez uma careta para mim. — Você não precisa me agradecer. Acho que você me
ouviu durante semanas quando Kevin me chutou. Lembra-se de como foi? Deixe-me
relembrá-la, porque foi épico. 'Por que ele chutaria um traseiro tão bonito como esse? Que
tolo. Que idiota. Quem ele acha que está enganando? Quero dizer, certo? Certo? Isso é
idiotice. Ahhhh. Por que eu ainda o amo? Por que quero que ele me telefone agora? Eu vou
matá-lo. Ajude-me a cortar os pneus daquele maldito carro dele. Vou pegar uma faca.' E
assim por diante. Eu fui uma vaca psicótica bêbada sem o menor filtro naquela noite. Essa
amizade não é exatamente uma via de mão única e você sabe que nunca foi.
Eu me sentei na cadeira perto dos pés dela. — Quando estiver pronta para trocar de
quarto, é só me avisar, ok? Mas tem que ser hoje. É minha vez de ficar com o sofá. — Ela
estava prestes a dizer alguma coisa, mas levantei a mão. — Por favor, não. Você merece.
Eu insisto. Fim de conversa. Agora, deixe-me contar sobre o meu dia. — Falei a ela sobre
os meus planos de escolher os melhores restaurantes da cidade e, quando meus pés
pudessem novamente aguentar um par de sapatos, de começar a visitá-los imediatamente
para procurar um emprego.
— Acho que está dando o passo certo.
— Foi ideia sua. E é o passo certo. Ora, provavelmente vou ganhar mais como
garçonete do que se fosse trabalhar para a maligna srta. Blackwell. E se conseguir um
emprego, eu vou comprar o ar-condicionado. Dá para acreditar nesse calor? Tão cedo?
Vou abrir as janelas para movimentar o ar um pouco.
— Talvez por uma hora.
— Refrescar antes que fique quente demais.
— Parece que hoje vai fazer um calor do inferno de novo.
Eu sorri. — Então sugiro usarmos bastante desodorante, senão, teremos um problema
sério.
Meu celular tocou no momento em que eu abria a janela da sala.
— Quem me telefonaria uma hora dessas?
— Talvez seja um emprego. Talvez estejam telefonando de volta.
Eu fui até a cozinha e peguei o telefone que estava sobre o balcão. — Não me deixe
nervosa.
— Quem é?
Eu fiquei olhando para o visor. — Wenn Enterprises — respondi. — Puta merda, você
tem razão. É Blackwell.
CAPÍTULO 7
— Alô?
— Jennifer Kent?
Olhei para Lisa e assenti. Era mesmo Blackwell. O tom cortante da voz dela era
facilmente reconhecível. — Sou eu.
— Aqui é a srta. Blackwell.
— Quem?
— Srta. Blackwell?
— Desculpe, tive um branco, não sei quem é.
— É mesmo? Não consigo acreditar. — Ela pigarreou, provavelmente de raiva e
frustração. — Uma posição ficou vaga recentemente. Pediram-me que telefonasse a você
para saber se está interessada em fazer uma entrevista.
— Desculpe, onde é a entrevista?
— Wenn Enterprises.
— Ahh, você é aquela srta. Blackwell.
— Isso mesmo.
— Como pude esquecer? Aquela que me ameaçou? Aquela que usou o divórcio dela
contra mim? Receio que eu esteja ocupada, srta. Blackwell.
— Eu pensaria duas vezes sobre isso, srta. Kent.
— E por quê?
— Porque esse emprego é especial. Tem um salário alto. É o tipo de emprego que
ajudará você a ser notada na Wenn Enterprises. Acredito que foi isso o que você disse
quando nos conhecemos.
— Você quer dizer quando trocamos algumas palavras?
— Srta. Kent, sinto muito pela forma como a tratei. — Era como se ela estivesse lendo
um roteiro. A voz era fria e ríspida. Nada no tom dela sugeria que sentia alguma coisa, mas
estava fazendo tudo certo. Por quê? — Foi uma troca de palavras infelizes que tivemos. É
tudo. Eu estive sob muita pressão ultimamente.
— É, eu notei. E como isso me afeta?
— Não deveria afetá-la, por isso pedi desculpas.
Que seja. — Por que está me telefonando sobre esse emprego novamente?
— Porque me pediram que o fizesse.
— Quem pediu?
— O próprio sr. Wenn. Ele viu o seu currículo e gostaria que viesse fazer uma
entrevista.
— E como o sr. Wenn, de todas as pessoas, viu o meu currículo?
— Não posso lhe dar essa informação.
— É para a vaga de secretária?
— Não. Ele precisa de uma assistente executiva.
— Mas ele já não tem uma?
— Ele tinha, mas a promoveu essa manhã.
— Para que cargo?
— Diretora sênior de alguma coisa.
— Isso é muito específico.
— Srta. Kent, não fui eu quem a promoveu. Foi o sr. Wenn. Fui informada disso
recentemente e, depois, fui instruída a telefonar a você. É tudo o que sei.
— Mas por que você não o advertiu a meu respeito? Isso não faz sentido. Você me
jogou para fora do seu escritório. Disse que não precisava perder tempo comigo. Você
deve ter contado isso ao sr. Wenn. Você disse, acho, "tchau".
— E pedi desculpas. Espero que possamos superar isso. Estou telefonando para saber
que se quer fazer a entrevista.
— Antes que eu aceite, srta. Blackwell, preciso saber o que o cargo envolve.
— Você trabalhará diretamente com o sr. Wenn. Não é só cuidar da agenda dele.
Apesar de que, de certa forma, fará isso também. Provavelmente a melhor forma de
descrever o cargo é que você será a confidente dele. Será a pessoa indispensável sem a
qual ele não pode viver. Nesse caso particular, é disso que o sr. Wenn precisa. Você será,
literalmente, o braço direito dele. Como pode imaginar, ele é um homem muito ocupado.
Precisa de alguém inteligente que o ajude a deixar as coisas em ordem. Precisa de alguém
com quem possa discutir ideias. Depois de ver o seu currículo, ele ficou intrigado, pois
precisa de alguém com a formação que você tem. Vocês trabalharão longas horas juntos.
Muitas horas. Precisa estar preparada para isso.
— Quantas horas?
— Pelo menos doze. Provavelmente até quinze horas por dia. E você trabalhará na
maioria dos fins de semana. O sr. Wenn trabalha muito.
Ele é um bilionário. Por que não trabalharia? — Isso parece excessivo.
— Em Nova Iorque, não é, srta. Kent. Mas imagino que seja no Maine.
Eu ignorei a provocação. As pessoas no Maine frequentemente tinham três empregos
para conseguir pagar as contas e alguns ainda estavam no nível da pobreza extrema.
Aquela mulher não sabia o que estava dizendo. — E qual é o salário?
— Duzentos e cinquenta mil por ano.
Meu queixo caiu. Ela estava brincando? É claro que estava. Era uma brincadeira. Uma
brincadeira cruel. Quando eu não disse nada, ela perguntou: — Ficou surpresa com o
salário?
Eu me recompus. — Na verdade, não. Afinal de contas, é a Wenn Enterprises. Eu
esperaria que o salário estivesse nesse nível para um cargo executivo.
— Certo. Bem, srta. Kent, preciso saber se está disposta a vir até aqui para uma
entrevista. Você se encontrará diretamente com o sr. Wenn. A entrevista durará uma hora.
Está interessada?
Eu decidi que sim. — O salário é negociável?
— Tudo é negociável, especialmente se ele achar que você é a pessoa certa para o
cargo. Mas eu não tentaria. Você não tem experiência no mundo real.
— Aparentemente, tenho experiência suficiente para ganhar duzentos e cinquenta mil
por ano.
O queixo de Lisa caiu e eu desviei o olhar antes que ela me distraísse.
— Talvez. Posso marcar uma hora?
Com os pés na condição terrível em que estavam, eu mal podia caminhar. Precisava
adiar a entrevista alguns dias para que eles tivessem tempo de curar. Caso contrário, eu
pareceria uma idiota. — Pode ser na quinta-feira?
— Esperávamos que você viesse essa tarde.
— Preciso ir a um funeral hoje à tarde. O sepultamento é amanhã. Terá que ser na
quinta-feira.
— Vou avisar ao sr. Wenn sobre o funeral e o sepultamento e telefono de volta para
você.
Antes que eu pudesse dizer mais uma palavra, a linha ficou muda.
Eu me virei para Lisa e estava prestes a gritar quando o telefone tocou novamente. —
Só pode ser uma brincadeira — disse eu.
— Atenda!
— Tão depressa?
— Atenda, pelo amor de Deus!
Eu respirei fundo. — Aqui é Jennifer.
— Quinta-feira ao meio-dia. srta. Kent. O sr. Wenn gostaria de enviar flores para o
falecido. Pode, por favor, me dar o nome da funerária?
Será que ele estava parado ao lado dela? Foram apenas alguns momentos entre um
telefonema e o outro. — Isso não será necessário.
— Mas ele insiste.
Merda.— Por favor, diga a ele que aprecio o gesto, mas não é um parente. Vou ao
funeral para dar apoio a uma amiga. Verei o sr. Wenn ao meio-dia na quinta-feira. Suponho
que tenha que falar com você primeiro.
— Isso mesmo.
— Obrigada, srta. Blackwell.
A mulher fez uma pausa e eu senti a temperatura caindo uns vinte graus.
— Boa sorte, srta. Kent.
CAPÍTULO 8
— Jennifer, escute, ok? Só escute. Não diga nada. Preciso que você se concentre. Está
concentrada? Ah, merda, você não está concentrada. Por que estaria? Largue o telefone.
Afaste-se dele. E me escute. Consegue fazer isso? Pelo jeito, não. Por que está tão
pálida? Pelo amor de Deus, não desmaie.
Eu parecia estar envolta em uma névoa. De possível garçonete a possível galinha dos
ovos de ouro em questão de minutos. Pisquei e as paredes da sala pareciam
estranhamente borradas. Senti a cabeça leve, como se tivesse bebido. O mundo parecia
estar mudando de eixo. Eu ouvia o som de algo rugindo. — Duzentos e cinquenta mil
dólares. Por ano. Ah, meu Deus.
Lisa agarrou o meu braço em um esforço para me estabilizar. — Você ainda não
conseguiu o emprego.
— Eu preciso desse emprego.
Ela me empurrou contra o balcão, segurando-me naquela posição. — Então escute o
que vou dizer. Você tem um cartão de crédito e não o usou desde que chegamos aqui.
Você o guardou para uma emergência. Bem, isso é uma emergência. Está me escutando?
Essa é uma emergência completa, com alarme de incêndio e tudo. Você precisa cortar e
pintar o cabelo. Precisa comprar uma roupa nova, sapatos novos, e nada de comprar
coisas baratas. Se não der certo, você poderá pagar as roupas e o corte de cabelo com o
emprego de garçonete que conseguirá. Está me ouvindo? Qual é o problema com os seus
olhos? Por que está sorrindo desse jeito? Jennifer? Jennifer!
— Eu não consigo acreditar.
— Pare com isso.
— Nem sei quanto dinheiro isso é. Meus pais são pobres. Eu sempre fui pobre. Como
diabos é ganhar tanto dinheiro?
— Você não saberá se não me der ouvidos.
— Por que eles me pagariam tanto logo de cara?
— Quem se importa? Talvez seja isso que pagam em Nova Iorque. E qual é o cargo?
— Assistente executiva do sr. Wenn.
— Aí está o motivo.
— Ela disse que terei que trabalhar de doze a quinze horas por dia. Incluindo a maioria
dos fins de semana. Parece que estou prestes a me transformar no braço direito
confidente dele.
— O que isso significa? Não importa. Venha aqui e sente-se. Beba o café. Se estiver
frio, servirei outra xícara. Mas preciso que se sente. Você não pode entrar lá com o nariz
todo amassado caso resolva desmaiar.
Eu senti Lisa me conduzindo pela sala e abaixando-me gentilmente sobre a cadeira.
— Respire fundo.
Eu respirei fundo. — Pronto.
— Agora, vamos. Beba o café e recomponha-se. Chega.
Eu fiz o que ela pediu e, lentamente, voltei a mim mesma. — Desculpe — eu disse. —
Isso não foi legal.
— Talvez você tenha acabado de ganhar na loteria. Eu entendo. É muita coisa para
absorver, mas você ainda nem chegou lá. O que tem é uma oportunidade. Só isso. Hoje,
você descansa. Amanhã, ajeita o cabelo. Depois vamos comprar roupas e sapatos novos.
E estou falando de Prada e Louboutins. Ok?
Eu assenti. — Não consigo acreditar nisso.
— Bem, acredite. Você esperou meses para ter essa oportunidade.
— Mas com certeza não estava esperando essa oportunidade.
— Melhor ainda. Vou pegar uma toalha limpa e lavar os seus pés. Depois, vou aplicar
mais pomada e enrolá-los novamente com gaze. Faremos isso novamente quando você for
dormir. O ibuprofeno cuidará do restante do inchaço. Você tomará dois comprimidos a
cada quatro horas. Precisamos consertar esses pés o mais rápido possível.
Eu a olhei bem dentro dos olhos. — Consegue acreditar nisso? — perguntei.
— Sim — disse ela. — Mas sempre acreditei em você. É você que não acredita. Você e
os seus pais. Mas estou orgulhosa. Muito mais que orgulhosa. Essa pode ser a sua
chance. Só precisamos garantir que não vai perdê-la. Entendeu?
— Entendi — respondi eu.
— Prada conserta tudo — disse ela. — Pelo menos, foi o que eu ouvi dizer.
Normalmente, um martíni me conserta. Mas, nesse caso, vou dar ouvidos à bíblia que,
naturalmente, é a edição desse mês da Vogue. Eu a devorei na semana passada. A nova
coleção da Prada é a tendência. Queen Wintour nunca está errada.
CAPÍTULO 9
Foi um dia raro, somente de garotas, e, apesar da condição terrível dos pés, que ainda
estavam doloridos nos sapatos mais confortáveis que tinha, Lisa e eu aproveitamos muito o
tempo.
Meu cabelo foi arrumado e pintado no Salon V, na rua East Seventh. Nada dramático,
apenas o suficiente para complementar o formato oval do rosto, com uma cor castanha
que melhorava a aparência. Também fizemos um tratamento facial, além de manicure e
pedicure.
— Estamos no negócio errado — disse Lisa quando a conta foi fechada e paguei com o
cartão de crédito. — Minha nossa.
— Vai valer a pena — disse eu.
— Você está incrível.
— Ela tem razão — disse a moça do caixa. — Está mesmo. Quem dera eu tivesse a
sua aparência.
Eu sorri para ela. — Você é muito gentil.
— Acredite, é a verdade.
Eu enrubesci com o comentário. — Preciso da minha melhor aparência. — Olhei pra
Lisa, que usava jeans apertados, sandálias de couro vermelhas e uma camiseta branca
sem nada por baixo, exceto os seios fartos e uma visão clara dos mamilos.
Apesar de parecer quase indecente, era uma aparência que combinava com ela. O
cabelo loiro estava puxado para trás em um rabo de cavalo simples que caía pelas costas.
Com exceção do rímel, ela quase não usava maquiagem, pois não precisava dela. Para
mim, ela era a mais bonita das duas. Ela estudara estilo e adorava moda, que lhe era
natural, o que me fez sorrir, pois a vida dela girava em volta de histórias de sucesso sobre
zumbis.
— Acha que fiz certo mantendo o comprimento do cabelo?
— Você pode variar mais assim. Muito mais. E as pontas duplas já eram. Graças a
Deus. Um dia, você e o seu xampu barato se separarão.
— Não faço isso desde que saímos do Maine. Estava precisando há muito tempo. E, se
o emprego na Wenn não der certo, só me ajudará ao procurar um emprego de garçonete.
— Um emprego de atendente?
— Certo.
— Sim, ajudará. Mas você conseguirá esse emprego, então não vamos pensar no outro
agora. É preciso ter confiança. Com a aparência que tem agora, você deveria estar cheia
de confiança.
Mas eu não estava. E não achava que aquele dia chegaria.
Com o dinheiro de Lisa, pegamos um táxi para a loja da Prada na Quinta Avenida.
Depois de tentar seis trajes diferentes, comprei uma roupa azul-clara, com uma blusa
branca de seda que combinava perfeitamente com a roupa, com a cor do cabelo e com o
tom da pele. A roupa custou quase três mil dólares, mas encontramos um par de sapatos
de couro com desconto que custou um terço do que teriam custado na Louboutins. Tive
que prender a respiração ao pagar. O que eu estava fazendo? Aquele dia me custou uma
fortuna que eu não tinha.
Estou fazendo a coisa certa. Estou investindo no meu futuro.
Pelo menos, eu esperava que sim.
Depois de terminar as saladas baratas e os refrigerantes dietéticos no McDonald's —
tínhamos que fazer alguma concessão naquele dia ridiculamente caro — Lisa me fez várias
perguntas em um esforço de me preparar para a entrevista do dia seguinte. Quando
terminou, parecia satisfeita com as respostas.
— Bem, há algo a ser dito sobre os últimos quatro meses — disse ela.
— O quê?
— Como você teve tantas entrevistas, está mais do que preparada para o que
enfrentará amanhã. É como se você tivesse diploma em entrevistas. Seja lá o que for que
ele jogue para você, estará preparada.
— Acha mesmo?
— Eu sei que sim.
Nenhuma de nós tinha como saber como ela estava errada.
CAPÍTULO 10
Dez minutos antes do meio-dia, cheguei na Wenn Enterprises de táxi, que foi mais um
agrado de Lisa. Eu devia muito a ela. Não só pelo apoio financeiro, mas também pelo
apoio emocional. Para ter certeza de que meus pés voltariam para casa sem inchaços nem
bolhas adicionais, ela me dera dinheiro suficiente para voltar ao apartamento de táxi. Ela
era a melhor amiga possível. Eu era abençoada por tê-la na minha vida.
Se eu conseguir esse emprego, vou mimá-la com uma chuva de compras que
aniquilará qualquer coisa no mundo zumbi dela.
Saí do táxi e aproximei-me do prédio, fazendo clique clique na calçada com meus
sapatos novos que eram o máximo do máximo. Eu nunca me importara com sapatos como
aqueles porque, francamente, não tinha dinheiro para comprá-los. Eles eram elegantes,
chiques e surpreendentemente confortáveis. Fiquei aliviada por meus pés estarem de volta
ao normal, mas, ao cruzar a calçada, não pude deixar de lembrar do que acontecera na
última vez em que estivera lá, meu momento com a srta. Blackwell, minha pasta caindo na
calçada, currículos voando por toda parte e aquele homem que parecia um deus correndo
para fora do prédio para me ajudar a juntá-los. De forma geral, ir até lá naquele dia se
transformara em um dos piores dias que eu tivera desde que chegara a Manhattan. E lá
estava eu novamente, convidada para a entrevista para um cargo que poderia mudar a
minha vida para sempre. Surreal não chegava nem perto de descrever o que eu sentia.
Atravessei o saguão até a recepção, jogando o cabelo bem arrumado para trás. Eu
decidira usá-lo solto. Com o corte que fizera, ele ficava melhor assim, especialmente com
a nova cor castanha contrastando com a roupa azul-clara.
— Sou Jennifer Kent — disse eu ao homem atrás da mesa.
— Como?
Havia pessoas demais no saguão. Eu precisava falar mais alto. — Sou Jennifer Kent.
Tenho uma entrevista com o sr. Wenn.
— O que significa que precisa falar com a srta. Blackwell.
Excelente. Mas eu sabia que aquilo aconteceria.
— Vou telefonar para ela e avisar que você está aqui.
— Obrigada.
Ele agiu como se não tivesse me ouvido. Em vez disso, falou no telefone: — Uma srta.
Kent está aqui para vê-la. Sala de espera? Ah. Ok. Direi a ela para ir diretamente à sua
sala.
Ele desligou o telefone e disse: — 51º andar, vá para a esquerda, siga um longo
corredor, você encontrará...
— Já estive lá — eu disse, odiando o momento em que a srta. Blackwell me
menosprezaria novamente. — Sei onde encontrar a srta. Blackwell. — Consigo farejá-la
como um cachorro fareja um osso. — Obrigada.
Dessa vez, ele me olhou com um sorriso. — O prazer foi meu, srta. Kent.
* * *
Quando cheguei ao escritório de Blackwell, ela me olhou da cabeça aos pés, avaliando
a minha roupa e o meu cabelo, e estendeu a mão. Ela estava no telefone novamente, como
na última vez.
— Max, eis o que precisa saber, que é o que você já sabe, mas que parece que não
consegue enfiar nessa sua cabeça dura, então farei o favor de repetir. Charles não vai ficar
com o meu dinheiro. Eu vou ficar com o dinheiro dele. Entendeu? Meu Deus! Foi ele quem
transou no chão da sala de estar com aquela vagabunda da Saks. Foi documentado pela
câmera da babá e eu tenho o vídeo. De que prova mais você precisa para resolver isso? O
que há de mais prejudicial além do que eu já lhe dei? Nada! Sugiro que vire homem e faça
o trabalho direito, senão vou despedir você e contratar outro advogado. Não me venha com
essa atitude, Max. Não suspire. Não resmungue. Nós dois sabemos o que você ganhará
com isso. Nós dois sabemos que você ganhará muito com isso. Então, cale a boca,
encontre seus colhões e tire-me desse casamento antes do fim da semana. Você tem até
sexta-feira. Se não conseguir, procuro quem consiga. Muitos advogados gostariam que eu
os contratasse. Ah, bom dia para você também, seu filho da puta.
Ela desligou o telefone e olhou para mim, não com a irritação que eu esperava, mas
com um olhar exausto no rosto. — Nunca se case.
Eu não respondi.
— Mas você não quer saber disso — falou ela, olhando para mim. — Você está aqui
para falar com o sr. Wenn.
— Isso.
Ela recuou a cadeira e se levantou. — Você está bonita hoje. Gostei da roupa.
— Obrigada.
— Parece cara.
— E foi.
— E eu achei que você fosse pobre.
— Eu sou. Mas cartões de crédito ajudam.
— Uma ilusão momentânea. Posso dar uma sugestão?
— É claro.
— Você se importa se eu tocar em você?
— Você precisa tocar em mim para dar uma sugestão?
— Só no seu cabelo. Confie em mim.
Confiar na víbora? — Ok...
Ela pegou um bastão preto brilhante do porta-lápis sobre a mesa, aproximou-se por trás
de mim e ergueu o meu cabelo. Com um giro e uma volta, ela o levantou, girou, virou
novamente e prendeu meu cabelo com o bastão, criando o que parecia ser um coque
apertado.
— Há um espelho ali — disse ela, apontando para a parede à esquerda. — Dê uma
olhada.
Eu estava certa, era um coque. E parecia ótimo. Apesar de eu gostar do cabelo solto
sobre os ombros, aquela aparência era mais sofisticada.
— Gostei — disse eu. — Obrigada.
— Outra dica? — perguntou ela.
Eu a encarei.
— No meio da entrevista, quando entender a situação e souber que é o momento certo,
puxe o bastão e deixe o cabelo cair sobre as costas. Faça isso naturalmente, sem parecer
que é intencional. Faça isso enquanto estiver falando com ele e faça parecer que era a
última coisa que tinha em mente. Mantenha os olhos nele ao fazê-lo.
— O que quer dizer com "entender a situação"?
— Você verá.
— E por que devo soltar o cabelo?
— Você está prestes a entender a situação, srta. Kent. Só estou tentando ajudar.
— Então, preciso perguntar o óbvio. Depois de nossa última conversa, por que você
tentaria me ajudar?
— Porque todos nós cometemos erros. Porque eu estava tendo um dia ruim quando nos
conhecemos. Eu descontei em você e peço desculpas por isso. Estive no lugar em que
está agora e sei o que há pela frente.
— O que há pela frente é apenas uma entrevista de emprego — disse eu.
Ela sorriu para mim e, por trás daquele sorriso, havia um mistério que estava refletido,
mas não revelado, nos olhos dela. — Isso mesmo. Então, que tal irmos encontrar o sr.
Wenn agora? Eu sei que ele está ansioso para conhecê-la.
CAPÍTULO 11
Quando entrei na sala pouco iluminada, senti o cheiro suave de couro e um aroma ainda
mais suave de fumaça de charuto, nenhum dos dois desagradável. De fato, o efeito era
quase calmante.
Não havia janelas, apenas paredes com painéis cobertos de pinturas e um abajur
Tifanny que lançava sombras floridas suaves sobre uma mesa diretamente à minha direita.
Do outro lado da sala, a figura de um homem envolto em sombras se moveu para a luz
quando Ann fechou a porta atrás de mim.
— Sr. Wenn? — perguntei.
— É Alex — disse ele. A voz era profunda e calma. — Fiquei feliz por ter decidido vir,
Jennifer, especialmente depois da experiência que teve com a srta. Blackwell no outro dia.
Peço desculpas por aquilo. Espero que ela tenha sido mais gentil com você hoje.
Quando o rosto dele ficou à vista, o tempo pareceu parar e, em seguida, ele se
transformou em uma forma que não reconheci. Não podia ser ele, mas era. Era o homem
que me ajudara na rua, quando a pasta fora arrancada da minha mão na última vez em que
eu estivera lá. Era o homem que correra pela calçada para recuperar os meus currículos
que voavam. Era o homem por quem eu me sentira instantaneamente atraída ao observá-
lo andar em minha direção com o rosto anguloso suado que, naquele momento, estava
coberto com a mesma barba escura de que eu me lembrava de dois dias atrás. Achei que
ele parecia com o designer Tom Ford, só que melhor.
A srta. Blackwell invadiu minha mente e eu entendi o que ela quisera dizer com
"Mantenha a cabeça fria".
Eu não sabia se aquilo seria possível, mas, mesmo assim, forcei-me a manter uma
expressão neutra ao estender a mão para ele. — Isso é uma surpresa — disse eu.
Ele apertou a minha mão e, ao fazê-lo, a mão enorme envolveu a minha.
— Se fosse uma entrevista diferente com uma mulher diferente, eu não teria acreditado
nisso. Mas, no outro dia, era óbvio que você não sabia quem eu era, não que isso importe.
Ainda assim, o fato é que isso não acontece com frequência. Em nosso breve momento de
caos naquele dia, virei um garoto novamente. Com você, eu me senti anônimo. — Ele
gesticulou em torno do escritório. — Como se nada disso fosse importante, e não é. Pelo
menos, não para mim.
Eu não sabia o que dizer e preferi não dizer nada.
— Por favor — disse ele, soltando a minha mão. — Sente-se.
Ele acenou em direção a duas poltronas de couro de aparência confortável viradas uma
para a outra no centro da sala. Havia mesinhas laterais com abajures baixos ao lado delas.
Eu o acompanhei, ainda em uma névoa de descrença sobre o que estava acontecendo. Ele
me vira em meu pior momento: irritada, frustrada e vulnerável. Sabia que eu estivera
chorando quando entrou no elevador. Viu quando tropecei naquele homem e sabia que isso
acontecera porque eu me virara para olhar para ele.
O que estou fazendo aqui?
Escolhi uma das cadeiras e me sentei. Ela era firme, mas macia, como um pedacinho do
céu. A sensação do couro frio contra a pele foi ótima, especialmente quando cruzei as
pernas e encostei o tornozelo na parte de baixo dela. Senti um arrepio.
Ou será que fora por causa dele?
Eu observei enquanto ele se sentava. Usava um terno preto que ocultava um corpo
musculoso e firme. A gravata azul intensificava o tom azul esverdeado dos olhos dele, que
brilharam ao captar o brilho das lâmpadas. Ele pareceu me estudar por um momento. Com
uma confiança que eu não sabia que tinha, fiz o mesmo.
— Vou ser bem honesto — disse ele. — Quando você foi embora naquele dia, fui
diretamente à sala de Blackwell e pedi seu currículo. Vi que você é do Maine.
— Isso.
— Você tem saudades de lá?
Pensei em meus pais e nos poucos amigos que deixara para trás. — De algumas
partes.
— Que partes?
— As partes boas.
Ele sorriu com a resposta e se virou quando houve uma batida na porta. — Entre, Ann
— disse ele.
A porta se abriu e Ann entrou com uma bandeja de prata, sobre a qual havia dois
martínis. Ela parecia impossivelmente elegante, o que fez surgir dentro de mim
inseguranças que eu tentava afogar. Observe-a, pensei. Aprenda com ela. Observe como
ela se move. É assim que as coisas são no topo. É isso que ele esperará de você.
Ela me entregou um dos martínis, que coloquei sobre a mesa ao lado da poltrona. Em
seguida, ela se virou e entregou o outro a Alex.
— Obrigado, Ann.
Com um pequeno aceno de cabeça, ela saiu da sala. Quando a porta se fechou, ele
ergueu a taça. — A novas possibilidades — disse ele.
Peguei a minha bebida e inclinei-me para a frente para brindar com ele. Nós bebemos e,
como Ann prometera, o líquido era suave e frio. Ainda assim, eu me sentia como uma
fraude. Eu não tinha nem a metade da sofisticação de Ann e iria substituí-la? Pelo amor de
Deus.
Eu não tenho esse nível todo. Martínis ao meio-dia? Quem faz isso?
A resposta veio instantaneamente.
O sr. Wenn faz.
Olhei para ele e vi que estava me observando com um olhar direto que era, ao mesmo
tempo, excitante e intimidador. Ele era muito mais que bonito. Parecia que tinha acabado
de sair das páginas da GQ. Ou da capa dela.
— Vi em seu currículo que você tem um MBA.
— Sim, tenho.
— O que esperava encontrar ao vir para Manhattan?
— Para começar? Um emprego. O que, até o momento, não aconteceu.
— Por que acha que isso aconteceu?
— Se eu soubesse, provavelmente teria um emprego.
— Não consigo imaginar por que você teria dificuldades em encontrar um emprego aqui.
Lembrei-me do que a taxista dissera no outro dia e a citei como uma possível
explicação. — A economia está em baixa.
— Não para alguém como você. Acho que, talvez, você intimide as pessoas.
Por que continuo ouvindo isso? — Como?
Ele deu de ombros e bebeu um gole do martíni, mas não respondeu. — O que esperava
encontrar na Wenn? Vi que você se candidatou a um cargo de secretária. Por quê?
— Para ser bem direta, preciso do dinheiro. Estou aqui desde maio. Meu dinheiro está
acabando e preciso trabalhar. Achei que, se conseguisse colocar o pé na porta, alguém
veria que tenho talentos que vão além de atender ao telefone. E, talvez, eu conseguisse um
cargo melhor dentro da empresa.
— Sabe, se eu tivesse perguntado isso a outra pessoa, teria recebido um monte de
mentiras como resposta.
— Eu não sou assim.
— Suponho que isso seja coisa do Maine.
— De onde vim, temos ética.
— Eu sei que você tem. Quando meus pais ainda estavam vivos, tínhamos uma casa de
veraneio em Hancock Point. Ela ainda é minha, na verdade, mas faz muitos anos que não
vou lá, estou ocupado demais aqui.
— O Point é lindo. Você devia adorar o lugar.
— Eu adorava. Quando era garoto, passava a maioria dos verões no Maine.
Inicialmente, algumas pessoas não me aceitavam porque eu era uma das pessoas de
veraneio. Mas, depois de algum tempo, isso passou. Os meus amigos eram moradores do
local. Passei a conhecê-los e brincava com eles, para desespero da minha mãe, que era
uma esnobe. Por causa dos meus amigos, percebi como tinha sorte e azar ao mesmo
tempo. Tinha comida suficiente, ao contrário da maioria dos meus amigos. Mas eles tinham
amizades duradouras, que eu não tinha por causa da minha família. O Maine me deu uma
boa perspectiva do mundo.
— E Manhattan?
— É uma perspectiva completamente diferente. Implacável. Não sinto nada aqui. Se eu
pudesse me aposentar e morar no campo ou na costa, faria isso. Mas, pelo jeito, meu
destino é carregar o legado do meu pai, que me foi imposto no testamento dele sem o meu
conhecimento. — Ele ergueu a sobrancelha. — Portanto, eis algumas informações
honestas da minha parte. Acho que agora estamos quites.
Apesar de ter me dito aquelas coisas, eu podia sentir que era apenas a ponta do que o
levara a compartilhá-las comigo. A voz dele era quase ríspida. Não parecia feliz para mim,
o que me deixou intrigada. Aquele homem parecia ter tudo — ele era um bilionário com o
próprio prédio na Quinta Avenida, pelo amor de Deus —, mas havia uma sensação
inconfundível de tristeza nele que provavelmente eu nunca entenderia. Aquela resposta
"honesta" dele denunciava isso, mas apenas até certo ponto. Havia um mistério nele, algo
mais sombrio que eu provavelmente nunca veria. Senti que ele iria longe para proteger a
privacidade dele, e não estava errado. O que ele me oferecera fora apenas como fachada,
mas eu apreciei o esforço que fez para fazer com que eu me sentisse à vontade.
— Preciso ser honesto com você, Jennifer.
Aquilo despertou o meu interesse. Ele mentira para mim? E, se sim, sobre o quê? —
Como assim?
— Eu a chamei aqui porque precisava ter certeza de que era a pessoa certa.
— Você quer dizer para o cargo de assistente executiva? — Coloquei a mão atrás da
cabeça e fiz o que Blackwell me dissera para fazer. Puxei o longo bastão preto e sacudiu o
cabelo sem afastar os olhos dos dele. Senti o peso do cabelo caindo sobre as costas, mas
minha atenção permaneceu nele. Estável e imóvel.
Ele me observou, terminou o martíni em um longo gole e desviou o olhar. Parecia
inquieto e distraído. — Sou solicitado a comparecer a muitos eventos sociais — disse ele.
— Vários por semana, a maior parte dos quais terminam com algum negócio sendo
fechado para a Wenn. Na verdade, há uma festa hoje à noite. Não gosto delas porque
acabo indo sozinho. As mulheres tentam se aproximar de mim, e sei o que elas querem.
Não estão interessadas em mim. O que querem é o dinheiro e a notoriedade que
conseguem ao estar ao meu lado. Eu sei que isso soa arrogante, mas é a verdade e odeio
isso. Em qualquer um desses eventos, não há uma única mulher que esteja interessada em
mim como pessoa. O que veem é uma conta bancária e um estilo de vida. Não estou
procurando uma assistente executiva, Jennifer. Procuro uma bela mulher, como você, que
vá a esses eventos comigo e, apesar de isso soar ridículo, faça de conta que é alguém
com que estou saindo.
Senti o estômago afundar, juntamente com o coração. — Está me pedindo para ser sua
acompanhante?
— Se estiver usando a palavra "acompanhante" no sentido tradicional, claro que não.
Isso não se trata de sexo e eu nunca a insultaria dessa forma. Só o que procuro é uma
companhia bem paga que manterá os lobos à distância para que eu possa me encontrar
com as pessoas que preciso encontrar e ajude a desenvolver o meu negócio fechando
acordos que preciso fechar nesse tipo de evento. Estou pedindo que faça de conta que é
minha namorada. Mas será só de faz de conta. Sim, de vez em quando, precisaremos ficar
de mãos dadas para manter as aparências. Talvez eu beije seu rosto. Há necessidade de
algum tipo de indicação física de que somos um casal, mas só farei o que você concordar
que é confortável. Se for apenas ficar de mãos dadas de vez em quando, sussurrar em seu
ouvido ou trocarmos um sorriso íntimo, ou talvez dançar, então é só isso que acontecerá.
Eu nunca invadirei os limites que você estabelecer. Somente você e eu teremos
conhecimento disso, mas as pessoas precisam acreditar que estamos felizes juntos e que
há uma química entre nós. Eu acho que ela já existe. No fim do evento, levo você para
casa, dizemos boa noite e Ann ou a srta. Blackwell entrará em contato com você sobre o
próximo evento. Olhe — disse ele —, sei que isso parece loucura, mas não acho que eu
tenha outra opção. Não estou interessado em namorar ninguém agora nem em um futuro
próximo. Quero me concentrar no meu trabalho e quero que me deixem em paz para fazer
isso. Não quero mulheres me distraindo. Não quero me envolver romanticamente. Isso só
estraga as coisas. Isso faz sentido?
— Como isso estraga as coisas?
Ele não respondeu à minha pergunta. — Só preciso saber se isso faz sentido para você.
— Suponho que sim, de alguma forma maluca. — E era verdade. Eu conseguia entender
por que as mulheres se jogavam em cima dele. Ele era um dos homens mais bonitos que
eu já vira. Claro, eu não era a única a ter aquela opinião. Eu conseguia imaginar as
mulheres aproximando-se dele para tentar conhecê-lo e como isso era uma interrupção
indesejável.
— Espero não tê-la ofendido — disse ele.
Coloquei a mão atrás da cabeça e levantei o cabelo do pescoço, sentindo-o quente.
Puxei-o por sobre o ombro direito e ele se enrolou em torno do seio. — Você me
surpreendeu. Eu não esperava por isso.
— Eu a acho linda, Jennifer. E você parece ser uma pessoa gentil, o que é importante
para mim. Gosto da ideia de você ser do Maine. Consigo me relacionar com isso. Se você
considerar aceitar o emprego, eu ficaria muito grato.
— Exatamente como eu colocaria isso no meu currículo?
— Que você foi minha assistente executiva. Ou o título que preferir. Não me importo. Se
achar que isso não é para você, posso lhe dar um emprego aqui com o mesmo salário.
Sem ressentimentos. Tenho certeza de que há uma posição de nível executivo que a srta.
Blackwell pode encontrar ou criar para você. Mas preciso que dê uma chance à minha
proposta primeiro.
— Por quanto tempo?
— Três meses.
— Quantos eventos por semana?
— Pode chegar a cinco. Na maior parte das semanas, seremos essencialmente
inseparáveis à noite.
Blackwell falou dentro da minha cabeça: Mantenha a cabeça fria e a mente aberta.
Pense na "imagem maior". Pense no "futuro". Não seja tola e não pense demais no
assunto.
— É estritamente platônico? — perguntei.
— Totalmente.
— Prefiro não ser beijada. — Porque tenho medo de querer mais, se você me beijar.
— O que for confortável para você.
— Ficar de mãos dadas não tem problema. Dançar, na verdade, seria agradável. Faz
algum tempo que não danço.
— É, eu também.
— Então, podemos dançar. E eu entendo a situação. Precisamos parecer íntimos. Você
pode sussurrar no meu ouvido, se quiser. Podemos ficar de mão dadas e você pode
colocar a mão nas minhas costas. Mas termina por aí.
— Mais alguma coisa?
— Deve ser simples o suficiente. Preciso avisar que não sou uma boa atriz.
— Eu também não sou um bom ator. Acho que teremos que achar nosso jeito. Mas há
uma química entre nós, Jennifer. Vi isso no seu rosto quando se virou ao sair do prédio
naquele dia. E você provavelmente viu isso no meu rosto.
— Eu estava ocupada demais catando currículos — menti.
— Se aceitar o emprego, não precisará mais deles.
Não seja tola e não pense demais no assunto.
Eu o encarei e decidi ver o quanto ele estava falando sério. — Muito bem — disse eu.
— Eu aceito o emprego. Mas o salário precisa ser reajustado para trezentos mil dólares.
Ele não titubeou. — Está bem.
Você só pode estar brincando. Mantive o rosto neutro. — Perfeito. Quando começo?
— Hoje à noite — disse ele. — Há um evento no The Four Seasons. Oito da noite.
— Hoje à noite? — perguntei. — Mas não tenho nada para vestir.
— Terá em breve. A srta. Blackwell cuidará disso para você agora. Escolha o que
quiser. Ela tem um bom olho para moda e sabe como você deverá se vestir para o evento
de hoje à noite. Amanhã de manhã, vocês duas farão compras para o resto da semana.
Todas as roupas e tudo o mais que comprar serão seus, mas preciso ter certeza de que
nunca usará a mesma roupa duas vezes.
— Está dizendo isso para uma mulher como se fosse uma coisa ruim.
— Você tem razão.
— Posso ficar com as roupas?
— E as joias.
— Há joias envolvidas?
Ele sorriu e, apesar de eu saber que não deveria reagir àquele sorriso, senti como se
estivesse me cortando como uma faca. Ele ficava absurdamente bonito quando sorria.
Mas, apesar de eu estar atraída por ele, sabia que tinha que pensar nele mais como um
irmão. Não podia me apaixonar. Era uma transação comercial. Ponto. Era como ele
enxergava as coisas e era como eu precisaria enxergá-las também.
— Há muitas joias envolvidas — disse ele. — Minha namorada só teria o melhor de
tudo, certo?
— Acho que sim.
— A srta. Blackwell também cuidará disso.
— Vou usar o meu próprio nome?
— Sim, e a sua própria história. Você é do Maine, pode falar sobre isso. Recentemente
se formou em administração, fale sobre isso também. A srta. Blackwell tem todos os
detalhes sobre como nos conhecemos. Lembre-se de lê-los cuidadosamente e memorizá-
los. — Ele piscou para mim. — Precisamos ter nossa história, Jennifer. Precisamos fazer
com que os lobos acreditem nisso para que eu possa trabalhar.
CAPÍTULO 13
— Bem, olhe só para você — disse a srta. Blackwell. — Seu cabelo está solto. Suponho
que tenha aceitado o emprego. É claro que sim. Que bom.
Eu estava parada do lado de fora do escritório dela, tendo acabado de descer da
reunião com Alex. Eu estava um pouco atordoada, mas não deixei isso transparecer. Mas
Blackwell, perspicaz como sempre, conseguiu ver.
— Você ficará bem — disse ela. — E tem que admitir, é um emprego ótimo. Acho que
você gostará dele. Conheço Alex desde que ele era um garotinho. É um homem bom e tem
um coração enorme, que protege com unhas e dentes. Por isso criou esse novo cargo que
agora é seu. Depois de tudo pelo que ele passou, não quer se envolver com ninguém
agora. Mas ele é um cavalheiro e agirá de forma correta com você, Jennifer. — Ela ergueu
a sobrancelha. — Suponho que posso chamá-la de Jennifer.
— É claro.
— Quanto a mim, será sempre srta. Blackwell.
Não pude evitar um sorriso. Provavelmente é por isso que está se divorciando. — Não
tem problema.
Ela tocou no cabelo, que era pintado de preto e tinha um corte angular severo que
combinava com a personalidade dela. — Não posso acabar com a minha reputação de
durona, posso? Você entende.
Ela se levantou e pegou um par de óculos que estava perto do computador. — Ouvi
dizer que vamos fazer compras — disse ela. — E não temos muito tempo para fazer isso
antes de escurecer. Então, onde iremos primeiro? Bergdorf? É difícil não achar a coisa
certa lá. E, depois, acho que na Cartier. Brincos de diamante. Um belo anel e uma pulseira.
E, obviamente, um colar. Algo clássico. É isso que a noite pede.
— Ele me disse que eu poderia ficar com tudo.
— Isso mesmo. Bônus. E não se esqueça, querida. Ele é um bilionário. O que
comprarmos hoje, amanhã e daqui para a frente é apenas uma gota no oceano dos Wenn.
Ela pegou um pedaço de papel sobre a mesa e o entregou a mim. — Foi assim que
vocês dois se conheceram. No carro, memorize o que está escrito. Não é muito, mas você
precisa saber de cor. Você precisará repetir isso várias vezes quando estiver com ele hoje
à noite. Tenho a impressão de que vocês dois se complementarão muito bem. Mas o que
está nesse pedaço de papel é o seu roteiro. Nunca se desvie dele.
— Entendido.
— Há um carro nos esperando lá embaixo. Que horas são? — Ela olhou para o relógio.
— Meu Deus, já passou de uma hora. Precisamos nos apressar. Hoje é uma noite
importante para ele e não vamos desapontá-lo.
— Afinal de contas, o que tem hoje à noite?
— Outra festa beneficente. Essa é de apoio ao Met, que é um dos maiores eventos.
Não é a noite de gala deles, e é por isso que será no Four Seasons, mas ainda assim todo
mundo estará lá, então, sem pressão. É outra forma que ele tem de fazer o tipo de
conexão que manterá a Wenn Enterprises avançando. Ele nunca quis a posição em que o
pai o colocou, mas Alex sempre faz o que é certo, apesar da forma como os pais o
trataram. Ele está determinado a manter o crescimento da empresa, mas, ultimamente,
tem sido difícil. Mulheres demais tentando atrair o olhar do solteirão cheio de dinheiro. É aí
que você entra.
— É, foi o que eu entendi.
— Vamos, princesa — disse a srta. Blackwell ao passar por mim. — Precisamos de um
vestido, sapatos, roupas íntimas e joias, nessa ordem. E imediatamente. Não sei como
você vai enfiar esse traseiro em um vestido sem ajuste, mas daremos um jeito. Espero. E,
não, não foi um insulto. Foi inveja. Todas as mulheres desejariam ter um corpo como o seu.
— Por que não me sinto assim?
— Sério, Maine? Sério? Você precisa lavar seus espelhos ou consultar um psiquiatra.
Meu Deus! Vamos.
* * *
Do lado de fora do prédio, uma limusine preta estacionada no meio-fio nos aguardava.
E, mais uma vez, a rapidez com que a minha vida mudava me atingiu.
— Bergdorf — disse a srta. Blackwell para o motorista, que segurava aberta a porta
traseira. — Precisamos que se apresse. Rápidamente!
Sentei ao lado dela, o motorista entrou e fomos em direção à Quinta, fazendo uma curva
na Sexta para fazer o retorno que nos levaria ao destino.
— Leia as anotações — disse Blackwell.
— Eu estou lendo.
— Não deixe passar nem uma palavra.
— Não pretendo fazer isso. Isso não é uma ciência complexa. Só há três parágrafos.
— Nós deixamos o texto simples para você.
Eu a encarei. — Você podia tê-lo deixado complicado, ainda assim, eu o teria decorado.
— Maine — disse a srta. Blackwell, alongando a palavra em exasperação. — Maine,
Maine, Maine. Pare de ser tão sensível. Nós o deixamos simples para que não se sentisse
oprimida na primeira noite. E você provavelmente se sentirá oprimida, com razão. Esse é
um mundo novo para você. Só estamos tentando ajudar. Meu Deus!
— Desculpe.
— Leia!
* * *
Quando chegamos à Bergdorf, a srta. Blackwell estava apressada.
— Valentino — disse ela ao percorrermos a loja com pressa. — Aquele homem entende
as mulheres. Ele valoriza as curvas. Ou, pelo menos, as suas curvas. Eu sou uma tábua.
Mas olhe o que ele fez com Sophia. Não é uma tábua, mas é um ícone. Ele entende como
uma mulher deve se vestir. Se tivermos sorte, encontraremos alguma coisa que vestirá
com perfeição e poderemos procurar sapatos. Isso será mais fácil. Acho que Dior porque,
afinal de contas, são malditos Dior. Depois, roupas íntimas, que devem incluir Spanx. Elas
a deixarão muito bem, mas talvez não consiga respirar direito, o que não importa para mim
e não deve importar para você. Considere isso uma concessão a uma aparência incrível.
Depois, sairemos daqui e iremos comprar as coisas boas na Cartier.
Entramos no elevador. A srta. Blackwell cruzou os braços e bateu o pé enquanto ele
subia. As portas se abriram e eu a segui enquanto ela se apressava em direção à seção
de Valentino.
— Alguém — disse ela a ninguém em particular. — Preciso de assistência.
Imediatamente. Agora. — Ela estalou os dedos sobre a cabeça. — Olá! Precisamos de
assistência aqui. Parem de trocar mensagens de sexo no telefone, pessoal. E, sim, eu
disse mensagens de sexo. Sei como vocês jovens são. Podem fazer isso no horário do
almoço. Provavelmente estão enviando mensagens umas às outras e nem sabem disso.
Meu Deus!
Uma jovem apareceu. Ela era material para modelo: alta, ossos finos, pele cremosa,
cabelos loiros. Se estava incomodada com as exigências da srta. Blackwell, não
demonstrou. A boca exibia um meio sorriso. — Como posso ajudá-la?
— Valentino — disse ela. — Algo preto. Longo. Muito bonito, muito chique, muito
Valentino. Über, über, über. — Ela gesticulou em direção ao meu traseiro. — E precisa
caber naquilo ali.
Eu corei.
A mulher me avaliou por trás, o que era ridículo, e disse: — Acho que tenho algo.
Chegou essa semana. É um pouco fora do convencional, mas é estonteante. Não está aqui
nesse andar, mas posso levá-las até ele.
— Parece que vamos fazer um reconhecimento — disse Blackwell.
— Como?
— Você sabe. Um cadáver. Reconhecimento do corpo. — Ela franziu a testa. — Mas
você não sabe. É jovem demais para saber. A ideia da morte não significa nada para você
agora. Mas significará, espere e verá.
Nós a seguimos até um provador redondo. Havia um pedestal no centro da sala,
rodeado de espelhos altos. Um dos espelhos era uma porta. A mulher a abriu,
desapareceu por um momento e voltou com o vestido sobre os braços. — É exótico —
disse ela. Em seguida, deixou a parte de baixo do vestido cair e ergueu a parte de cima
para que pudéssemos vê-lo por inteiro. Ela o girou lentamente para revelar a peça inteira.
— É deslumbrante — disse eu.
A srta. Blackwell se aproximou para estudá-lo. — Corpete de couro. Sem mangas.
Renda na gola. Uma saia de tule em camadas com detalhes em renda de seda. Muito
detalhado. Muito bonito. Obviamente feito à mão. Ah, Valentino. Nada de cadáver aqui.
Divino. — Os olhos dela se viraram para mim. — Qual é o seu tamanho?
— 40.
Ela olhou para a atendente. — Isso caberá nela?
— Talvez.
— Tire a roupa — disse Blackwell. — Vamos vesti-lo aqui mesmo.
Eu passara tempo suficiente em uma academia para não me sentir envergonhada de
tirar a roupa na frente de duas mulheres. Tirei a roupa e a coloquei sobre uma das
cadeiras atrás de mim e vi que Blackwell examinava o meu corpo. Depois, com a ajuda da
assistente, coloquei o vestido.
— Bem, é lindo — disse Blackwell. — Mas precisa ser ajustado. De alguma forma,
coube em seu traseiro, o que é um milagre. Mas o corpete precisa ser ajustado. Não
concorda?
Ela não me perguntou. Perguntou à assistente, que assentiu. — Posso pedir à
costureira que venha até aqui e entregaremos o vestido em uma semana.
— Precisa ser entregue daqui a uma hora — disse Blackwell.
— Não acho que seja possível, senhora.
— Quanto custa o vestido?
— Doze mil.
Senti minha garganta se contrair.
— Pagaremos vinte mil se o ajuste for feito em uma hora. Consegue resolver isso ou
preciso falar com o gerente?
— Dê-me cinco minutos — disse ela e me deixou sozinha com Blackwell.
— O dinheiro é mudo, mas sempre fala mais alto — disse Blackwell.
— Vinte mil dólares? — exclamei. — Por um vestido?
— Jennifer, isso não é nada. Deixe disso. Agora, vire-se, deixe-me ver.
Eu me virei.
— Vire-se para a esquerda.
Eu me virei.
— Agora vire-se para mim.
Eu me virei para ela.
— É esse mesmo, e foi de primeira. Como diabos isso aconteceu?
— Acredito que foi ideia da assistente.
— Ela teve uma visão, concordo. Agora, ela precisa conseguir uma costureira.
A mulher conseguiu, Blackwell sorriu e os ajustes começaram.
* * *
* * *
Logo antes das oito horas, parei em frente a um espelho e não pude acreditar na
pessoa em que me transformara. Do vestido aos diamantes, ao cabelo bem arrumado e à
maquiagem, eu parecia a mulher sofisticada que sempre quisera ser, e que raramente me
sentia. Especialmente depois de ter sido desprezada por meu pai durante anos e de ter
sido rejeitada dezenas de vezes nos últimos quatro meses.
Mas a mulher que eu via naquele momento? Ela me dava confiança. Eu girei na frente
do espelho e admirei novamente o vestido. Em seguida, olhei para Blackwell, que estava
sozinha comigo, pois Bernie já fora embora.
— O que acha? — perguntei.
— Acho que você partirá o coração de alguém.
Franzi a testa para ela. — O de quem?
— Talvez o seu mesmo.
— Não entendi.
— Lembre-se de que isso é apenas um emprego. É o melhor conselho que posso lhe
dar. Você está encenando. Nada mais. Não entenda as coisas erradas porque ele não fará
isso. Para ele, você é o meio para um fim.
— Está falando de Alex?
— De quem mais?
— Mas já conversamos sobre o emprego. Eu entendo a situação. É puramente
profissional.
— Você ainda é jovem — disse ela. — E, apesar de ser inteligente, provavelmente é um
pouco inocente, o que é natural. Se você se deixar levar pelo momento, se ele a tocar e
você sentir que está respondendo, lembre-se de que é apenas um emprego. Faça isso e
você estará bem, eu prometo, Jennifer. Quando ele estiver com você, Alex só estará
encenando ao seu lado. Ele é um bom homem, mas, no momento, está concentrado no
trabalho. O trabalho é tudo o que ele tem. Ele só pode lidar com o trabalho. Você não é
nada além de um objeto para ele. Isso soa mal, mas é a verdade. Na superfície, vocês
serão um belo casal, as pessoas acreditarão e você receberá o seu salário por causa
disso. Mas, se você se envolver emocionalmente, será a sua ruína. Ele sentirá isso
imediatamente e a despedirá.
— Por que ele só pode lidar com o trabalho agora?
— Você precisa confiar em mim em relação a isso.
— Você faz soar como se algo tivesse acontecido a ele.
— Você está vendo coisas demais.
Mas achei que não. Havia alguma coisa sobre ele que ela não estava me contando.
Apesar de Blackwell ser uma pessoa fria, nem mesmo ela conseguia esconder esse
segredo.
Mas o que isso importa? pensei. Preciso desse emprego. Ela me deu aquele
conselho por algum motivo. Muito bem. Apesar de ele ser atraente, sou apenas um objeto
para ele. Isso vale mais de um quarto de milhão por ano, sem contar os bônus. Vou
conhecer pessoas, vou fazer contatos importantes. É apenas o começo.
— Preciso ir — disse eu. — São quase oito horas.
Ela foi até uma mesa e pegou uma bolsa preta elegante.
— Esquecemos de comprar uma dessas — disse ela, entregando-me a bolsa. — É
minha, você pode usá-la. Judith Leiber. Dentro dela, Bernie deixou um batom e eu coloquei
umas balas de menta. É tudo de que precisará.
— Não creio que caiba uma garrafinha aqui.
— Muito engraçada.
— Ou um calmante.
— Eu pensei nisso...
— E perfume?
— Bernie aplicou um pouco em você. Um perfume deve sempre ser uma experiência
íntima. Pense nele como um segredo compartilhado entre você e o seu parceiro. Somente
ele deve senti-lo. Ninguém mais.
— Mas meu parceiro será Alex — disse eu.
— Será ele, mas não se preocupe. Ele não notará, posso garantir.
CAPÍTULO 15
Quando saí do carro, o motorista estendeu a mão para mim. Ele me ajudou com o
vestido para que eu não pisasse nele e caísse na calçada. Portanto, graças a ele,
consegui sair de forma graciosa, apesar de não conseguir enxergar nada por causa das
explosões de luz que me cegavam.
Alex estava logo atrás de mim, o que inflamou a multidão de repórteres ainda mais
quando perceberam que estávamos juntos. Eu estendi a mão para ele, que a ergueu até os
lábios e a beijou. Senti meus joelhos tremerem com o toque dos lábios macios dele e com
a sensação da barba contra a minha pele.
Aquela barba vai me deixar abalada todas as vezes, pensei.
Lide com isso.
Em frente a todos, com aquele tipo de beijo prolongado nas costas da minha mão, ele
acabara de me marcar como propriedade dele. Ninguém sabia do nosso acordo. Mas, com
aquele gesto simples — que violou a regra que proibia beijos — as notícias de que, pelo
menos até certo nível, Alexander Wenn estava comprometido se espalhariam rapidamente.
As perguntas começaram a surgir rapidamente, mas Alex apenas sorriu e acenou com a
cabeça para a multidão, conduzindo-me em direção a uma fila com outros homens e
mulheres vestidos para a noite e que passavam pelo recepcionista e pela porta que ele
segurava aberta.
Havia uma escada à esquerda. Com a mão dele ainda segurando a minha firmemente,
subimos os degraus até a área da recepção. Eu ouvira tanta coisa sobre essa instituição
icônica que devorei tudo o que podia como se nunca mais fosse vê-la novamente.
No topo da escada, estaria o salão Grille, bem como um bar. Descendo um corredor à
esquerda, estaria o famoso Salão da Piscina, onde negócios eram fechados todos os dias
durante o almoço. Com que frequência eu lera sobre esse lugar? Sobre como esse
restaurante era importante para a comunidade de negócios? Eu não conseguia acreditar
que estava lá. A luz suave tinha um brilho profundo e tinha o efeito de fazer com que todos
parecessem mais novos. O que, provavelmente, era intencional.
Eu ouvi um burburinho de atividade vindo do Salão da Piscina. E lá estava a sociedade
em carne e osso. A maioria das pessoas conversava em pequenos grupos, desfrutando
dos copos de champanhe que eram oferecidos em bandejas de prata pelos garçons.
Outras estavam no bar, um grupo composto apenas de homens que bebiam uísque. Não
havia mulher alguma naquele grupo, o que era uma indicação desapontadora de que aquele
ainda era um mundo masculino no qual, provavelmente, eu nunca conseguiria entrar. Se
tivesse sorte, seria tolerada na periferia dele, mas não passaria disso.
Ao olhar em torno, notei que as mulheres, em particular, pareciam flutuar no éter, com
os pés mal tocando o chão. Fiquei aliviada ao ver que não estava chique demais.
Blackwell acertara na mosca.
Então, é assim que é ser rica, pensei. E poderosa. E bem-sucedida. É incrível.
— Champanhe, sr. Wenn? — perguntou um garçom.
Alex pegou duas taças borbulhantes e entregou uma delas a mim. — Obrigado — disse
ele ao jovem, que acenou com a cabeça antes de se afastar. Alex tocou o copo dele no
meu, nós bebemos e eu o observei admirando-me sobre a borda da taça. Eu não sabia
dizer o que era encenação e o que era real. Só conseguia me lembrar do nosso acordo,
mas sentia que havia algo entre nós. Ou, talvez, eu apenas desejasse que houvesse. Ele
me excitava física e intelectualmente, uma combinação rara, se é que isso existia. Eu
devolvi o sorriso e senti-o pressionando a mão nas minhas costas, o que permiti.
— Estou procurando Cyrus — disse eu baixinho para ele.
— Ele provavelmente está no Salão da Piscina com o pai. Darius gosta daquele lugar.
— Quando deseja passar algum tempo com ele?
— Mais tarde — disse ele. — Conheço quase todo mundo que está aqui e preciso
cumprimentar as pessoas. Quero apresentar você àqueles que se aproximarem de nós,
que provavelmente será todo mundo. Mas preciso manter as coisas em movimento para
não perder a oportunidade de falar com Darius ou Cyrus. Esses eventos passam
rapidamente. Depressa demais. Preciso ter cuidado com isso.
— Você tem mais dois olhos em mim.
— Tenho olhos demais em você, isso sim. A não ser que não tenha notado, srta. Kent,
você é a estrela da festa. Ou sei lá que tipo de evento é esse.
— É um evento beneficente do Met.
Ele tomou um gole do champanhe e sorriu para mim. — Ah, é verdade. Desculpa, o
Met.
Será que os olhos dele conseguiriam me incendiar mais do que já faziam? Eu não podia
me deixar ser afetada pelos olhos dele, nem por ele, mas já era uma causa perdida.
— E assim começa — murmurou ele para mim. — Aí vem Tootie Stauton-Miller e o
marido dela, Addison, ou Addy. Ela é uma pessoa difícil, mas ele é um homem muito gentil,
provavelmente porque está em um casamento de aparências e sabe disso. — Ele se
interrompeu. — Na verdade, isso não é justo. Eu gosto de Addy, independentemente dos
segredos que ele tem. Ele é uma das pessoas mais gentis que você encontrará aqui.
Eu observei um casal elegante andando em nossa direção.
— O que quer dizer a respeito de Addy?
— Ele é gay. Todos sabem disso, mas ninguém fala no assunto. Você gostará dele.
Todos gostam dele. Quanto a ela, nem tanto. Eles têm um arranjo próprio. Suponho que
muitas pessoas aqui têm.
Ele ergueu o olhar para o casal que se aproximava. — Tootie — disse ele. — Que bom
ver você. — Ele a beijou no rosto e, em seguida, estendeu a mão para Addy, que a
apertou.
— Olá, olá! — disse Tootie, olhando-me de lado. — Faz quanto tempo? Uma semana?
Você está muito bonito, Alex. Mas, também, sempre está. Quem é essa?
— Essa é Jennifer Kent — disse ele.
Ela acenou com a cabeça para mim. — Olá, olá. Você é dos Kent da Filadélfia?
— Não, sou dos Kent do Maine.
Tootie, que tinha cerca de cinquenta anos, apesar de ter o rosto moldado e repuxado
em algo que beirava os quarenta, sorriu rigidamente para mim. Ela tinha cabelos loiros que
mal chegavam aos ombros, usava joias opulentas no pescoço, nos pulsos e nos dedos e
um vestido amarelo que, eu tinha que admitir, era sublime. Eu não entendia quase nada de
moda, mas, naquele vestido que moldava as curvas maduras do corpo, Tootie Stauton-
Miller estava deslumbrante. Ela também transmitia classe e dinheiro antigo.
— Não conheço os Kent do Maine — disse ela. — Eu deveria?
— Duvido.
— Ah. — Ela olhou para Alex confusa, provavelmente porque a mão dele ainda estava
nas minhas costas e estava à vista de todos, que não sabiam que éramos um casal.
— Você é do grupo de Northeast Harbor?
— Não.
— Do grupo de Seal Harbor?
— Desculpe, não.
— Do grupo de Grindstone Neck?
— Nem de perto.
— Do grupo de Bar Harbor?
— Também não.
— De que grupo você é?
— Não tenho um grupo. A não ser que Bangor seja um.
Ela ergueu os olhos para o teto e pareceu soltar um suspiro de alívio. — É claro.
Lamento muito. Eu sempre penso na costa. Eu sempre penso em Atlântico e em praias
rochosas quando lembro do Maine. Quando os barões da madeira dominavam Bangor,
havia com certeza um grupo da alta sociedade, com raízes na Filadélfia e em Nova Iorque.
Presumo que seja o seu.
— Receio que não.
— Ah, meu Deus.
— É um prazer conhecê-la, srta. Kent — interrompeu Addison Miller. Ele pegou a minha
mão e a beijou. Era a segunda vez naquela noite que alguém fazia tal gesto. Talvez Alex
não tivesse cruzado a linha de "sem beijos". Talvez eles simplesmente fossem assim. O
primeiro que eu recebera fora de um garanhão que agora passava a mão nas minhas
costas e o segundo de um gay que tinha uma maneira gentil da qual gostei imediatamente.
Eu não conseguia imaginar uma combinação melhor para a minha introdução à sociedade.
Mas, por outro lado, eu adorava homens gays.
— É um prazer. Por favor, chame-me de Jennifer.
— Jennifer. Você está adorável, minha querida. Deslumbrante.
— Obrigada, sr. Miller.
— É Addy. Sempre Addy. Nada dessa coisa de sr. Miller.
Ele era realmente gentil. E, melhor ainda, não era afetado como a esposa.
— Isso é Valentino?
— Sim.
— Eu o vi na passarela.
— Não diga.
— Paris. Esse corpete de couro certamente virará algumas cabeças hoje à noite.
— Eu imagino que ele tenha sido desenhado para isso.
— Parece tão agressivo para um evento como esse. Couro e rendas para dar apoio ao
Met. Meu Deus! — exclamou Tootie.
— Eu acho que é lindo — disse Alex.
— Concordo com Alex — disse Addy.
Tootie olhou para Alex e pestanejou. — Ah. Bem, claro, é lindo. Valentino e tal. Não tem
como dar errado. Bem, não mesmo.
— Não consigo imaginar alguém julgando Valentino — disse Alex. — Como você sabe,
minha mãe costumava usar os vestidos dele. Ela adorava o trabalho dele. Você se lembra
de mamãe usando Valentino, não é, Tootie?
— Eu me lembro dela usando Dior. Mas, sim, Valentino também. E Karl, claro. Ela
adorava Karl. Sua mãe tinha tanto estilo. Tanta coragem. Alguma vez ela usou alguma
coisa errada? Nunca. A moda era uma extensão dela. Sentimos tanta falta da sua mãe,
Alex. Mesmo depois desses anos todos.
— Obrigado, Tootie.
— Vocês dois estão saindo juntos?
A pergunta foi tão súbita que corei, imaginando como Alex trataria a situação.
— Estamos, sim. Faz apenas algumas semanas, mas estamos comprometidos e muito
felizes.
— Isso é motivo para comemoração — disse Addy. — Faz tempo demais. Estou feliz
por vocês.
O que fazia tempo demais?
— Eu também — disse Tootie, mas a voz dela estava tão fria que era claro que não
estava sendo sincera. Eu não era parte de grupo nenhum que ela conhecia. Aos olhos dela,
eu era uma pessoa comum, o que, para mim, não tinha o menor problema, pois era
verdade. Eu era comum. Não tinha nada a ver com aquelas pessoas. Não pertencia e não
queria pertencer àquele grupo.
A parte de mim que Alex nunca tiraria era meu senso de ser eu mesma, apesar de haver
uma chance enorme de roubar meu coração, se quisesse. Eu podia estar loucamente
atraída por ele, mas me manteria dentro do roteiro limitado que escrevera para mim. No
entanto, em minha alma, sempre seria Jennifer Kent, a garota pobre com os pais
imprestáveis, que lutara para terminar a universidade e agora lutava para ganhar a vida em
Nova Iorque. Essa era eu e não mudaria por nada nem ninguém. Preferia desistir de tudo e
virar garçonete, servindo comidas caras em um restaurante de Nova Iorque, a não ser
verdadeira comigo mesma. Portanto, pelo menos por enquanto, Tootie teria que me
aguentar, assim como outros também teriam que fazer naquela noite.
— Foi ótimo ver vocês dois — disse Alex. — Provavelmente deveríamos nos misturar à
multidão. Parece que todo mundo está aqui hoje.
Tootie se inclinou para a frente e beijou o rosto de Alex. Eu a vi sussurrar algo no ouvido
dele ao fazê-lo, o que fez com que ele gentilmente a empurrasse, com o rosto como uma
máscara sem expressão.
— Tenha uma boa noite, Tootie — disse ele. Alex olhou para Addy, cujo rosto tinha um ar
preocupado. — É sempre um prazer ver você, Addy. Você é um dos poucos aqui com
classe genuína. É algo tão raro de ver. Fico sempre feliz de encontrar você.
— E estou sempre do seu lado, Alex.
— Eu sei que sim. — E, com um olhar arrasador para Tootie Stauton-Miller, cujo rosto
tinha o olhar de uma mulher que fora longe demais, Alex pressionou a mão nas minhas
costas, dissemos adeus e avançamos mais para dentro do salão.
CAPÍTULO 17
Pela próxima hora, foi uma repetição da mesma coisa e eu estaria mentindo se dissesse
que não foi intimidador. Ao avançarmos pelo Salão da Piscina, onde Alex achava que
Davius Stavros estaria com o filho Cyrus, ele me apresentou a dezenas de pessoas sobre
as quais eu já lera ou ouvira falar. E, a cada vez que ele falava a alguém que éramos um
casal, eu precisava lembrar a mim mesma do conselho de Blackwell.
Se você se deixar levar pelo momento, se ele a tocar e você sentir que está
respondendo, lembre-se de que é apenas um emprego. Faça isso e você estará bem, eu
prometo, Jennifer. Quando ele estiver com você, Alex só estará encenando ao seu lado.
Ele é um bom homem, mas, no momento, está concentrado no trabalho. O trabalho é
tudo o que ele tem. Ele só pode lidar com o trabalho. Você não é nada além de um objeto
para ele. Isso soa mal, mas é a verdade. Na superfície, vocês serão um belo casal, as
pessoas acreditarão e você receberá o seu salário por causa disso. Mas, se você se
envolver emocionalmente, será a sua ruína. Ele sentirá isso imediatamente e a
despedirá.
Eu tinha que pensar nele como se fosse meu irmão. Considerei aquele ângulo durante a
entrevista, mas agora precisava abraçá-lo. Era a única forma de conseguir passar por tudo
aquilo. Minha atração por ele era imensa e, francamente, eu precisava do emprego.
Ao andarmos pela multidão, todos que se aproximavam pareciam interessantes até
abrirem a boca.
As pessoas elogiavam o meu vestido, o meu cabelo, meus sapatos adoráveis, minhas
joias. Mas, depois que percebiam que eu não era um deles, ninguém perguntava nada de
importante sobre mim. Para eles, eu também era um objeto, um acessório de luxo para
Alex. E, apesar de eu notar a surpresa deles quando Alex dizia que estávamos saindo
juntos, ainda me sentia como vapor. A maioria olhava diretamente através de mim. Eu era
uma ninguém sem importância na pior das hipóteses, uma curiosidade na melhor delas, e
alguém sobre quem fofocar mais tarde.
Mas permaneci profissional. Se a conversa se voltasse para negócios, o que acontecia
com frequência, eu jogava uma bomba de surpresa e falava com confiança e conhecimento
sobre o tópico que estivesse sendo discutido. Em alguns casos, recebia um olhar confuso
dos homens, um segundo olhar das mulheres e, algumas vezes, uma pergunta adicional
para verem se eu realmente sabia do que estava falando, e sabia. Em sua maior parte,
Alex mantinha a conversa leve e continuava avançando, apenas para encontrar mais
pessoas que conhecia.
E o processo continuava se repetindo.
Muito daquilo era como uma série de entrevistas e as entrelinhas eram óbvias: dentre
todas as pessoas, como era possível que eu tivesse fisgado Alexander Wenn,
especialmente quando era claro que não fazia parte das pessoas dele?
As perguntas eram sempre as mesmas.
"Onde vocês dois se conheceram? Ah, em uma exposição de arte, que interessante.
Qual é a sua formação? Ah, que charme, você tem um MBA. E que incomum. Planeja usá-
lo? Sim? Meu Deus! De onde vem? Do Maine? Que adorável. Nós passamos o veraneio lá.
Onde passa o inverno?"
Quando percebiam que talvez Alex estivesse atraído por mim porque eu tinha um
cérebro, um ar de consternação cobria-lhes o rosto. Foi nesse instante que vi as limitações
sexistas ainda inerente à sociedade deles. Os homens pensavam e faziam, com algumas
exceções e, pelo jeito, as mulheres eram apenas cabeças bonitas cheias de brilho.
Era tão fascinante quanto insultante. Na maior parte, esperava-se que as mulheres
sorrissem e assentissem enquanto os homens falavam sobre assuntos masculinos e
difíceis, como negócios. Quando as mulheres eram solicitadas a falar, admiravam o vestido
umas das outras, falavam sobre a família, sobre as reformas incríveis que estavam
fazendo em algumas de suas casas e para que parte do mundo iriam a seguir.
Obviamente, eu não sabia nada sobre a sociedade nem as regras delas, mas não bancaria
a idiota bonita de um vilarejo qualquer.
Mais tarde, ao avançarmos pelo corredor que levava ao Salão da Piscina, Alex apertou
a minha mão e perguntou se eu estava me divertindo.
— É uma multidão interessante — disse eu com cuidado.
Ele riu. — Adoro a forma como você os faz se contorcerem. Nenhum deles sabe o que
achar de você.
Eu olhei para ele. — Lamento — disse. — Não posso evitar.
— E por que deveria? Quero que seja você mesma. Olhe. Eles são de uma era
diferente ou de um berço diferente. Ou ambos. A maioria das pessoas aqui estão no livro.
Sabe o livro? Muito pouco mudou no círculo deles. E é exatamente por isso que eu
adorava o tempo que passava no Maine. Estava rodeado de pessoas de verdade. As
mulheres que conheci por causa dos amigos que fiz lá tinham vontade própria e eram
inteligentes. — Ele me lançou um olhar avaliador. — Semelhantes a você.
— Não consigo bancar a burra — disse eu.
— E não espero que faça isso. Por falar nisso, a maioria das mulheres aqui
frequentaram Smith ou Vassar. Só estão representando. Elas vêm para esses eventos
como pacotes de subserviência elegante projetados para apoiar a carreira dos maridos e,
em segundo lugar, como mulheres que conseguem conversar facilmente sobre
absolutamente nada de importante. Estou acostumado com isso, você não. E consigo ver
que isso a está deixando cansada, o que entendo. Quer um conselho?
— Por favor.
— Continue a implicar com eles. Represente, mas para sua própria diversão. Eu não me
importo porque sei que não os insultará. Quando falarem sobre visitar Bora Bora, diga a
eles que achou o Monte Merapi na Indonésia mais interessante e que voltaria ao Mar de
Celebes em um instante. Eles ficarão atordoados.
— Você já foi a esses lugares?
— Há algum tempo.
— Você escalou o Monte Merapi?
— Sim. À noite.
— Mas é um vulcão ativo.
— Sim, é.
— Você é algum tipo de maluco por esportes radicais?
— Eu era. Agora, só gosto de me exercitar. É uma boa distração.
De quê?
Conversar somente com ele me deixou mais tranquila. Eu começava a entender como
ele lidava com aquela multidão. Representava para eles e eles representavam para Alex.
Pelo jeito, era assim que as coisas funcionavam.
— Merda — resmungou ele.
— Qual é o problema?
— Faça o melhor que puder. Vestido vermelho. Cabelos pretos. Vindo para cá.
— Uma das lobas?
— Ela poderia ser considerada uma alcateia inteira. Prepare-se para ela, que não será
gentil com você. Tentará aniquilar você. — Ele fez uma pausa e pressionou a mão com
mais firmeza nas minhas costas. — Immaculata — disse ele quando a mulher parou no
meio do corredor para nos encarar. — Como você está?
Ela era linda, alta e esbelta, mas mais velha do que Alex e eu. Provavelmente trinta e
poucos, mas eu não ficaria surpresa se tivesse quarenta e poucos, não importa o quanto
era bonita. Era difícil dizer. Ela olhou para mim, absorveu-me e, em seguida, virou-se para
Alex com um olhar traído. — Alex — disse ela. — Que surpresa. Achei que você tinha dito
que viria sozinho hoje.
— Isso foi na semana passada.
— Ah, semana passada. Semana passada. Você faz parecer tão distante. Faz soar
como se fossem anos, mas foi somente na semana passada. Sete dias atrás. Apenas sete
dias desde que nos encontramos pela última vez.
— As coisas mudaram desde então.
— Que coisas? E por que não fiquei sabendo? Eu sempre sei de tudo. As pessoas me
telefonam. O que poderia ter mudado em uma semana?
Alex estava prestes a falar quando ela se virou para mim. — Quem é essa?
— Essa é Jennifer Kent. Jennifer, essa é Immaculata Almendarez.
Quem diabos tem um nome desses?
Quando ela finalmente se aproximou de nós, estendi a mão, que ela apertou bem de
leve, com ar de desprezo, antes de soltá-la.
— É um prazer conhecê-la, Immaculata.
Ela ergueu a sobrancelha. — Não é? — Ela colocou a mão entre os seios formidáveis e
riu. — Brincadeira. Por favor, não fique tão séria. Meu senso de humor é assim mesmo. É
um prazer conhecê-la também, Jennifer. Vestido bonitinho o seu. O que está fazendo com
Alex?
Aquela mulher não era nada discreta. Eu começava a ver por que Alex precisava de mim
lá. Tinha que chegar a Darius Stavros antes que ele fosse embora. Se eu não estivesse ali,
não tinha dúvidas de que ela o seguraria e ele perderia aquela oportunidade.
Antes que eu pudesse responder, Alex falou em um esforço de fazê-la se calar. —
Estamos saindo juntos, Immaculata. Espero que fique feliz por nós.
— Vocês o quê?
— Estamos saindo juntos. Faz apenas duas semanas.
— Isso significa que estavam saindo juntos na semana passada?
— Ainda não era público.
— Entendo. Que misteriosos. Que dissimulados vocês dois. Onde vocês se
conheceram?
— No MoMA.
— Que românticos. A arte os apresentou. Provavelmente babando sobre um dos
pastéis. Simplesmente começaram a conversar?
— Foi. E eram os impressionistas.
— Não diga. — Ela se virou para mim com veneno nos olhos. — E eu achando que Alex
e eu tínhamos alguma coisa. Acabei de me sentir uma tola. Vim aqui sozinha hoje porque
achei que ele viria sozinho. Tanta mudança em uma semana. Ou duas. Quem está
contando? Isso é Valentino?
— Sim.
— Um presente de Alex?
Eu não deixaria que ela levasse a melhor sobre mim. — Foi. E as joias também. Não
são lindas? Ele as escolheu pessoalmente para mim. Ele é tão bom comigo. — Eu me
inclinei e beijei o rosto de Alex, quebrando as minhas próprias regras. Quando eu o beijei,
senti o aroma leve da colônia que usava, que percorreu o meu corpo por ser tão masculino
como ele. Quando me afastei, senti a surpresa dele, especialmente quando passei o dedo
no rosto dele para tirar a mancha de batom que ficara. — Obrigada novamente, querido.
Tirei o batom, você está lindo.
Ele olhou para mim de uma forma que não era nada desagradável. — O prazer foi meu
— disse ele, com um sorriso.
— Qualquer coisa que venha de Alex é um prazer. Consigo imaginar perfeitamente o
prazer que você sente com os presentes dele. E com ele.
— Você não faz ideia, especialmente quando estamos sozinhos. O que você faz,
Immaculata?
— Vou a festas. Participo de eventos. Compareço a comitês. Não trabalho porque não
preciso. Trabalho é uma palavra qualquer para mim. E você?
— Eu trabalho.
— Ah, minha querida. É como dizer "merda". Não que eu diga isso com frequência. Mas
é verdade. É como dizer "merda". Quem trabalha?
— Eu trabalho na área de negócios e adoro.
Ela colocou a mão sobre o peito e riu novamente. — Isso é tão incomum.
— É? E por quê?
— Nenhuma das minhas amigas trabalha. Eu só acho incomum, mais nada. Elas
também achariam.
— Provavelmente é coisa da sua geração.
— Provavelmente é coisa da minha o quê?
— Sua geração. Tenho vinte e cinco anos. Em se tratando da minha geração, não
podemos imaginar a vida sem sermos criativos ou sem contribuirmos de alguma forma
para o bem maior.
— Acho que preciso de um martíni.
— Há garçons por toda parte, Immaculata. Fique de olhos abertos e verá um bem
depressa. Você é uma Gibson girl?
— Uma o quê?
— Uma Gibson girl.
— Não sei o que é isso.
— É uma referência cultural.
— Por que não consigo entender o que você diz?
— Não importa.
— Para quem você trabalha? Se está com Alex, suponho que seja alguma empresa da
Fortune Five.
— Não, trabalho por conta própria. Sou consultora.
— Consultora! E empreendedora. Aos vinte e cinco anos. Que impressionante, Jane.
— Jennifer.
— Jennifer, desculpe. E sobre o que dá consultoria?
— Negócios.
— É claro que sim. Como não pensei nisso?
— Porque é uma extensão natural de se trabalhar com negócios?
— Eu não saberia.
— E por que saberia? Todas essas festas. Deve ser muito atordoante.
— Eu tenho uma assistente.
— Alguém disse uma vez que uma vida gerenciada é uma vida não estruturada. Ou algo
assim. — Senti lanças de ódio sendo enviadas em minha direção quando eu disse: — Seu
vestido também é bonitinho. De quem é?
— Querida, nesse ponto, já perdi a conta. Alguém-qualquer-coisa. Tenho certeza de que
é alguém de muito sucesso e que está em todas as revistas certas. Tudo o que importa na
vida é a beleza.
— Fico imaginando o que as pessoas em alguns dos países do terceiro mundo achariam
disso. Ou os sem-teto na sua cidade.
— Os o quê?
— Os sem-teto.
— Não conheço nenhum.
— Nunca é tarde demais para aprender. Pessoalmente, meu voto sobre o que é mais
importante na vida iria para o amor e os relacionamentos. Nunca a beleza. Ela nunca
estaria em primeiro lugar.
— Posso ver que não.
Toquei no colar com a mão e o anel brilhou sob a luz. Eu sorri para ela.
— Bem — disse Alex. — Foi bom ver você, Immaculata.
— Só bom? Já está indo embora?
— Temos que cuidar de alguns negócios — disse eu.
— Negócios, negócios, negócios. Desde quando você só se importa com negócios,
Alex? Eu costumava conversar com você por horas em eventos como esse. Negócios são
entediantes. Negócios têm cara de Zolpidem para mim.
— De quê? — perguntei.
— De Zolpidem.
— Não sei o que é isso.
— É para ajudar a dormir.
— Ah, um remédio para dormir. Como aqueles que Michael Jackson tomou?
— Como?
— Ele morreu tomando alguma coisa para dormir. Presumo que tivesse a ver com
Zolpidem.
— Não teve nada a ver com aquilo. Nem com ele.
— Espero que não.
— O Zolpidem é muito conhecido.
— Nunca ouvi falar, mas não tenho problemas para dormir. Minha consciência está
limpa. Pego no sono em segundos, a não ser que Alex tenha outras ideias. De qualquer
forma, para nós, negócios são empolgantes. É o que nos faz acordar toda manhã. E é
provavelmente um dos motivos pelos quais nos apaixonamos. Temos algo em comum que
adoramos. Na verdade, muitas coisas. Acho que complementamos um ao outro muito bem.
— Tenho certeza disso.
— Boa noite, Immaculata — disse eu. — Foi interessante conhecer você.
— Interessante?
Antes que eu pudesse responder, Alex se despediu dela e continuamos a andar.
— O que foi aquilo? — perguntou ele baixinho.
— O fim de Immaculata. Não era o que você queria?
Eu vi que ele tentava segurar o riso. — Sim. Só não achei que você soubesse agir
daquele jeito. Quem é você, Jennifer Kent?
Pelo jeito, eu continuava a surpreender.
CAPÍTULO 18
Entramos no Salão da Piscina, que era muito mais impressionante do que as fotos que
eu vira dele. A piscina ficava no centro do salão. Era quadrada e brilhava com uma luz
borbulhante. Em volta dela, havia árvores crescidas adoráveis.
Eu vi Darius Stavros quase imediatamente.
Inclinei-me perto do ouvido de Alex. — Stavros está com um grupo de pessoas em
frente à direita. Cyrus está atrás deles, parecendo entediado.
Antes que eu pudesse me afastar, alguém tirou uma fotografia.
— Veremos essa foto em algum lugar amanhã — disse ele. — Vamos até lá dizer olá?
— Por que não?
— Vou seguir o seu plano.
— Espero que funcione.
— Acho que funcionará.
— Olhe para ele. Apesar de ser muito bonito, Cyrus é apenas uma sombra do pai. Ele
precisa desse plano.
— É a segunda vez que você diz que ele é bonito.
— E ele é. Tem aquele ar grego. Funciona muito bem nele.
E por que você se importa se eu o acho bonito? Você é muito gentil, Alex, mas sou
sua funcionária. Só estou aqui para manter os lobos à distância.
— Mas, voltando ao assunto — disse eu. — Ele precisa dar ao pai alguma coisa
substancial em breve ou será um desapontamento cada vez maior. Devo dizer que, apesar
de ser rico e irresponsável, tenho pena dele. É o herdeiro de tudo o que o pai construiu,
mas talvez não queira fazer parte disso. Pelo que entendi, Darius não tem outros filhos. Por
causa disso, talvez esteja forçando o negócio sobre Cyrus. Portanto, vamos ajudá-lo.
Vamos dar a ele algo que possa dar ao pai. Algo bom. Algo que o faça se sentir bem.
Ele pareceu estar prestes a dizer algo, mas mudou de ideia. Para mim, parecia estar
em algum tipo de conflito. Fora algo que eu dissera? Eu não tinha certeza. Ocorreu-me a
ideia de que ele precisava acreditar na ilusão que criamos e que eu talvez a desmanchara
ao comentar sobre a aparência de Cyrus. Afinal de contas, ele acabara de me repreender
por causa disso. Não aconteceria novamente.
— Notou que, com a exceção de Immaculata, cuja boca você conseguiu fechar, não fui
incomodado essa noite, não notou?
— Notei. E também notei algumas mulheres furiosas por aí. Fui atacada com adagas,
facas e balas de canhão.
— O que significa que está funcionando. Obrigado por isso.
— O prazer é meu. E obrigada pelo emprego.
— Espero que não pareça um emprego para você.
Havia um novo tom na voz dele que não consegui definir. Por que parece que isso está
indo para o lado errado? Mantenha o tom leve. — Olhe para mim. Estou toda
embonecada. Isso é divertido. — Acenei com a cabeça para o outro lado do salão. —
Darius está se afastando daquelas pessoas. Agora é a sua chance de dizer olá.
E foi o que Alex fez.
Depois de alguns minutos de apresentações e conversas, durante as quais Alex só falou
sobre família com Darius, ele se virou e olhou com surpresa para Cyrus, que estava
parado atrás dele.
— Cyrus — disse ele. — Desculpe, não vi você.
— Como você está, Alex?
— Estou bem. E feliz em ver você. Essa é Jennifer Kent.
Cyrus olhou para mim de forma longa e demorada, sem deixar dúvidas de que, em certo
nível, ele me achava atraente. — Fiquei observando você desde a primeira vez em que a vi
— disse ele. — Acho que você notou. Ou, pelo menos, espero que tenha notado.
Desculpe, Alex. Não consegui tirar os olhos dela. Você é adorável, srta. Kent.
Por algum motivo, a mão de Alex ficou rígida em torno da minha. Não era apenas um
aperto de leve. Parecia possessivo. Houve uma mudança clara no ar. — Começamos a
sair juntos recentemente.
— Parabéns. Posso entender o motivo. Um amigo meu, Constantine, também notou
você, srta. Kent. Tenho a impressão de que eu e ele não estamos sozinhos.
— Cyrus — disse Alex —, tenho uma proposta para você.
— Mas estava justamente admirando a srta. Kent, Alex. Por que tirar os holofotes dela
tão depressa? Tenho a impressão de que a maioria dos homens hoje também a estão
admirando. De onde você é, Jennifer? Se é que posso chamá-la de Jennifer.
— Claro que pode Cyrus. Sou do Maine.
— Maine. É um belo lugar. É claro que o Maine produziria você. Faz sentido, não
concorda, Alex? Somente o Maine produziria esse tipo de beleza selvagem.
Ele estava falando sério? Quem falava daquele jeito?
— Se pudermos conversar sobre a proposta...
— Você quer dizer a proposta que tem para o meu pai?
— Não, na verdade, tenho uma proposta para você. Quer ouvi-la? Acho que poderá
interessá-lo.
Um garçom surgiu do meu lado, interrompendo a conversa. Eu olhei para ele. — Sim?
— Tenho dois drinques para você, madame.
— De quem?
— Dois admiradores. Acredito que eles se apresentarão a você mais tarde.
Olhei para Alex, que parecia irritado. — Uma taça de champanhe é suficiente para mim
— respondi.
— Você deveria aproveitar — disse Cyrus. — Obviamente você é uma atração hoje à
noite. É um rosto novo. E um belo rosto. Lamento, Alex, mas é verdade. Eu estive
observando os homens observando-a. Precisamos de alguém como Jennifer aqui hoje, ela
torna as coisas mais interessantes. Todos os outros se conhecem. Tenho a impressão de
que as pessoas não sabem que ela está com você. Eu certamente não sabia disso, pois
estava planejando me aproximar dela. Isso é sério?
— Muito.
O garçom parecia confuso. — Devo levar as bebidas embora, madame?
— Sim. E, por favor, agradeça a quem as mandou. Mas nunca bebo mais do que uma
taça e receio que seja melhor recusar.
— Além do fato de que ela está comigo — disse Alex. — Espero que diga isso a eles.
O garçom assentiu e se afastou.
— Isso soou meio territorial — disse Cyrus. — Mas não culpo você. Se ela estivesse
comigo, eu teria feito a mesma coisa.
— Sobre a proposta... — disse Alex.
— É claro, eu gostaria de ouvi-la. Jennifer virá também? Presumo que ela saiba do que
se trata.
Novamente, a mão de Alex, dessa vez logo acima do meu traseiro.
— Se você quiser. Acho que Jennifer gostaria de participar.
Cyrus olhou para mim, com o olhar passando do meu rosto para os seios. Ele era
bonito, claro, mas também totalmente desagradável. — Eu gostaria, sim.
Por motivos que não entendi, Alex parecia estar furioso. Ele conseguira a atenção de
Cyrus, que era o que queria. Eu não devia ser nada além de um objeto para ele. Aquele
era o acordo. Por que ele se importaria se outros homens prestassem atenção em mim?
Por que a súbita mudança de humor? Eu não entendi.
— Então vamos conversar — disse ele.
CAPÍTULO 19
Quando Alex plantou a semente da ideia que tivera, Cyrus pareceu menos interessado
nela do que em mim. Alex fez o discurso dele, mas Cyrus continuava olhando para mim, o
que achei grosseiro. Dessa vez, foi a minha mão que pousou nas costas de Alex, que
enrijeceu o corpo quando o toquei. Instintivamente, eu a retirei. Qual era o problema dele?
— Então, você precisa de nossos navios? — perguntou Cyrus quando Alex terminou de
falar.
— Em um relacionamento mutuamente benéfico, sim.
— Você pode me mandar uma proposta formal? Eu gostaria de mostrá-la ao meu pai.
Ele precisará ser envolvido nisso, apesar de eu estar contente por ter falado comigo
primeiro. Eu agradeço.
— Você terá uma proposta formal amanhã. Está claro para todos nós que você
assumirá o lugar do seu pai um dia. Por respeito a isso, preferi falar primeiro com você.
— Foi muito gentil da sua parte. — Cyrus se virou para mim, com o olhar passeando
mais uma vez pelos meus seios. Apesar de ele estar sendo muito indecente, mantive a
expressão interessada e polida em um esforço de ajudar Alex. — O que acha do negócio,
Jennifer? Devemos aceitá-lo?
— Não acho que eu seja qualificada para responder — disse eu.
Ele se virou para Alex. — Ela é qualificada?
— Ela é mais do que qualificada.
— Você se importa se eu ouvir a opinião dela?
— Se quiser, claro, vá em frente.
Havia uma frieza na voz dele que eu não entendi, mas o meu trabalho era ajudá-lo, e foi
o que fiz. Inclinei a cabeça para o lado para que Cyrus tivesse que erguer os olhos para
encontrar o meu olhar. Quando isso aconteceu, fui diretamente ao assunto. — Vejo esse
negócio como uma vitória para ambos os lados. A Wenn Oil é líder no setor. E a Stavros
Shipping também. Recentemente li que você aumentou a frota de navios substancialmente
quando assumiu uma parte significativa da empresa de Anastassios Fondaras. Acho que
você sabe a que relatório me refiro.
— Ao do Journal?
— Isso mesmo.
— Nem tudo nele é verdade.
— Provavelmente não, os jornalistas costumam entender alguns detalhes
incorretamente. Mas, se você tem vários navios parados e vazios por causa da economia,
essa é uma opção. E, do meu ponto de vista, é uma opção sólida. A Wenn Oil tem um
suprimento estável de petróleo que precisa distribuir. Você tem os meios para fazer com
que isso aconteça. Entrem em acordo sobre um preço justo e acho que todos sairão
ganhando. — Fiz uma ligeira pausa e sorri para ele. — Acho que seu pai ficaria
impressionado por ter sido você quem fechou o negócio. Alex poderia ter procurado várias
outras pessoas do setor que ele conhece, afinal, tem o mundo à disposição dele. Mas não
o fez. Ele me disse mais cedo que queria trabalhar com você. Deixou isso bem claro. E foi
por isso que viemos aqui hoje.
— Foi?
— Foi. Alex disse que esse era o objetivo dele. Suponho que o fato de ter sido ele que
procurou você com a proposta permanecerá confidencial. Só entre vocês dois.
— Sim, permanecerá — disse Alex. — No que me diz respeito, foi você quem surgiu
com a proposta, Cyrus. Foi você que pensou nela, não eu.
— A Well Oil é um grande negócio — disse eu. — Seu pai sabe disso. Pode ser um
acordo significativo se as negociações andarem bem, supondo que elas avancem. Acho
que depende de você e do seu pai e de como vocês responderão à proposta.
— E você achava que não era qualificada para falar sobre o assunto. Você é muito
inteligente, Jennifer. Com a aparência que tem, eu não esperava isso.
Filho da puta preconceituoso. — Espero que não tenha falado demais.
— É claro que não. Eu pedi a sua opinião. Só não imaginei que estivesse tão bem
informada.
Senti-me insultada, mas não demonstrei. Em vez disso, eu sorri. — Os negócios estão
no meu sangue. É um dos motivos pelos quais estou com Alex. Finalmente encontrei
alguém com quem posso conversar no mesmo nível.
— Imagino com quem mais poderia conversar no mesmo nível.
Ele não me deu a oportunidade de responder.
— Estou ansioso para ver a proposta — disse Cyrus. — Você pode enviá-la por e-mail
diretamente para mim, Alex? Não precisa enviar cópia para o meu pai.
— É claro.
— Amanhã à tarde?
— Você a terá até o meio-dia.
— E entrarei em contato com você em breve. Agradeço por ter pensado em mim
primeiro. Ou foi ideia de Jennifer?
— Foi de Alex — respondi eu.
— Jennifer tem razão — disse Alex. — Nós nos conhecemos há anos, Cyrus. Você era
o primeiro na minha lista. É claro que eu conversaria com você primeiro.
— Os outros teriam falado com o meu pai. Nós entraremos em um acordo. Eu garanto.
— Obrigado, Cyrus.
— Conversamos amanhã. — Ele se virou para mim. — E foi ótimo conhecer você,
Jennifer. Um prazer. Alex é um homem de sorte.
— Eu sei que sou, Cyrus — disse Alex. — Até amanhã. — Ele pegou a minha mão e
nós nos misturamos à multidão.
CAPÍTULO 20
Com a mão de Alex segurando a minha firmemente, nós nos afastamos de Cyrus,
passamos pela piscina borbulhante, subimos um lance de escada e percorremos o
corredor que levava ao Salão Grille e à saída além dele.
As pessoas tentaram falar com Alex no caminho, mas ele ofereceu apenas um aceno
rápido e um sorriso, o que não era normal nele.
Considerando a rispidez com que ele caminhava, obviamente a noite terminara. Nossa
missão estava cumprida. Não havia dúvidas em minha mente de que Cyrus responderia
positivamente à proposta de Alex. Mas, naquele exato momento, estava claro que Alex
estava irritado comigo.
Eu olhei para ele e vi que o rosto dele estava sombrio. Sem expressão alguma. Ele
parecia uma pessoa diferente. O calor e o humor que demonstrara mais cedo tinham
desaparecido.
O que eu fizera de errado? Será que ele realmente se importara com o fato de que eu
dissera que Cyrus era bonito? Era isso? Ou aqueles homens que me enviaram as bebidas?
Ou que Cyrus não parava de me devorar com os olhos? Não fazia sentido. Por que ele se
importaria com isso? Eu era um objeto para ele, não era? Tínhamos concordado sobre
isso. Novamente, a única coisa que eu conseguia imaginar é que, ao dizer que achava
Cyrus atraente, eu quebrara a ilusão de que éramos um casal. Nada mais do que
acontecera estivera sob meu controle. Parecia absurdo que ele reagisse tão furiosamente
àquilo e aos avanços de Cyrus quando declarara, em alto e bom tom, que aquilo era
apenas um acordo de negócios. Talvez eu estivesse errada, mas algo me dizia que não.
À nossa frente, no Salão Grille, havia uma orquestra tocando. Quando chegamos mais
cedo, não havia orquestra nem dança. Mas agora, bem à frente, eu via as pessoas
valsando, as cabeças subindo e descendo no ritmo da música.
Um garçom vinha em nossa direção com taças de champanhe sobre uma bandeja de
prata. Tentei reduzir o passo para pegar uma das taças, pois estava com sede, mas Alex
não deixou. Ele me pressionou à frente e passamos pelo homem. À nossa direita, estava a
escada que levaria para fora do prédio e até a calçada. Essa noite terminara com um
ponto de exclamação. De alguma forma, eu estragara tudo. Pelo jeito, por algum motivo,
era o fim da relação entre a Wenn Enterprises e eu.
— Alex — disse eu.
Ele se virou para mim com aço nos olhos. — Quer dançar comigo? — perguntou ele.
Fiquei espantada com a pergunta. Eu estava certa de que íamos embora. Quando não
respondi imediatamente, ele disse: — Hoje, você falou que faz muito tempo que não dança.
Eu gostaria de dançar com você. O que acha?
Paramos ao lado da escada.
— Você está bravo comigo?
— Perguntei se gostaria de dançar comigo. Foi parte do nosso acordo. Você disse que
podíamos dançar. E eu gostaria de ter essa dança.
— Eu não danço há anos. Não quero envergonhar você.
— Você tem os pés rápidos. Acabou de provar isso. Só precisa me seguir.
Ele me olhava com uma intensidade que queimava. A oferta para dançar não era uma
pergunta. Seria uma violação do acordo se eu recusasse.
— É claro, eu adoraria dançar com você — disse eu.
— Então vamos.
Ele me conduziu à pista de dança, onde nos misturamos à multidão. Ele colocou a mão
direita no meio das minhas costas, ergueu a minha mão direita com a mão esquerda,
puxou-me para perto dele e começamos a valsar.
Só que não era uma valsa comum.
Alex assumiu o controle imediatamente e começou a girar agressivamente na pista a
ponto de me deixar estonteada. As pessoas se afastaram de nós e outras se aproximaram
para assistir enquanto Alex me conduzia pela pista de dança em passos fluidos que eram
tão rápidos e precisos que precisei confiar nele totalmente para continuar de pé, parecer
elegante e garantir que não daria um vexame.
Por algum motivo, ele estava me desafiando. Se tropeçasse, ele faria com que eu
parecesse uma tola. Eu não sabia por que ele estava fazendo aquilo, mas estava, e não
deixaria que levasse a melhor. Quando eu era mais jovem e minha mãe estava sóbria, fez
questão de que eu tivesse aula de dança durante anos, que ela própria gostara de ter
quando criança.
O que eu me lembrava sobre a valsa era que, para ter sucesso, precisava me entregar
totalmente ao parceiro, e foi o que eu fiz. Encostei o corpo em Alex, girei na pista com ele
e joguei a cabeça para trás enquanto ele girava, girava e girava. A multidão começou a
aumentar com interesse. Errei dois passos, xingando secretamente, mas, mo momento do
floreio, eu estava preparada. Estendi a perna esquerda para trás o máximo que consegui e
ele fez o mesmo com a perna direita. Fizemos uma pausa para um momento dramático e
romântico, com os rostos virados para lados contrários. Em seguida, ele me pegou nos
braços novamente e terminamos a dança com uma salva de palmas.
Alex pegou minha mão, fez uma mesura e eu retribuí. Ouvi algumas pessoas chamando
o nome dele e, em seguida, com um olhar irritado no rosto, ele começou a sair da pista de
dança no momento em que a orquestra começou a tocar novamente, dessa vez uma valsa
mais lenta.
Eu o puxei de volta.
— Ainda não terminamos — disse eu.
— Terminamos, sim.
Coloquei os braços em volta dele e não lhe dei outra opção senão dançar. Havia
pessoas demais olhando para que ele fosse embora. Ele viu isso e sabia que não podia.
Nossos corpos novamente se tornaram um só. Começamos a nos mover. Eu olhei para ele
e vi uma mistura de emoções que não consegui decifrar.
— Qual é o problema? — perguntei.
— Não tenho problema algum.
— Você acabou de tentar fazer com que eu parecesse uma tola e perdeu. Posso ter
vindo do nada, Alex, mas isso não significa que não sei dançar valsa. Minha mãe fez com
que eu aprendesse.
— Pelo jeito, não há nada que você não consiga fazer.
— O que diabos isso quer dizer?
Ele não respondeu.
— Por que você quer me sabotar desse jeito? — perguntei.
— Não seja dramática.
E então, sem um traço de ironia no rosto, ele me olhou nos olhos e me inclinou
dramaticamente. O movimento foi tão agressivo e meu braço doeu tanto, que quase caí,
mas consegui endireitar o corpo antes de ir ao chão. Ele me ergueu novamente.
— O que diabos foi aquilo? — perguntei no ouvido dele. — Você me machucou. Qual é
o seu problema? Seja homem. O que há de errado?
— Eu não pretendia machucar você.
— É, mas machucou. Acabou de machucar o meu braço.
— Achei que estávamos juntos essa noite.
— Temos um acordo de negócios. Para todos os efeitos, estamos juntos. Há um
momento, todos nesse salão achavam que éramos o casal mais feliz da face da Terra.
— Incluindo os que mandaram as bebidas para você?
— E isso foi culpa minha?
— E Cyrus, que obviamente a levaria em casa hoje se você permitisse?
— Isso é problema dele, não meu. Em momento algum, eu o incentivei. Eu me desviei
de todos os elogios que ele fez.
— Se fôssemos um casal, você nunca teria dito que acha Cyrus atraente.
Tentei manter a voz baixa. — Sinto muito, mas não somos um casal. Você é o meu
patrão. Hoje, chegamos a um acordo, que eu cumpri. E há Blackwell. Blackwell disse para
eu me afastar emocionalmente de você. Disse que eu nunca passarei de um objeto para
você. Ela me avisou para tomar cuidado com você.
— Ela fez o quê?
— Pergunte a ela. E, já que estamos no assunto, Alex, Cyrus é atraente, pelo menos
fisicamente. Fora isso, eu o acho ridículo. Não estava aguentando os olhos dele sobre
mim. Boa sorte para ele. Ele é um idiota esquisito. E com certeza não é o meu tipo.
— E qual é o seu tipo?
— E isso importa? Por que não vamos embora?
— Porque estamos no meio da música. Você queria dançar, então vamos até o fim.
Qual é o seu tipo?
Se eu não ficasse, perderia o salário de um dia e não podia me dar a esse luxo. Depois
de comprar a roupa Prada e os sapatos que usara na entrevista com ele, precisava
daquele dinheiro mais do que nunca, mesmo que fosse menos de mil dólares. Mil dólares
era uma fortuna para mim. Manteria os meus lobos à distância. Portanto, continuamos a
dançar.
— Eu fiz uma pergunta.
— Isso importa mesmo?
— Por que você está sendo tão hostil?
— Eu poderia lhe perguntar a mesma coisa. Você queria que eu virasse piada nessa
pista, mas fracassou.
— A dança ainda não terminou.
— O que diabos isso quer dizer? Se tentar alguma coisa, juro por Deus que jogo nós
dois no chão. Nós dois vamos cair. Pode ter certeza disso, Alex.
— Eu não faria isso.
Eu aproximei o rosto do ouvido dele. — É mesmo? Porque você não me diz o que fazer.
O pior é que você sabia exatamente o que estava fazendo comigo na última dança, mas
não deu certo. Sinto muito, alguém tinha que perder e foi você. Por falar nisso, Alex, sim,
eu sei que você tem muito dinheiro, isso é óbvio, mas acha mesmo que isso significa
alguma merda para mim? Porque se acha, estou aqui para lhe dizer que não. Se você acha
que significa, então realmente não sabe nada sobre o Maine nem as pessoas de lá, que diz
conhecer porque passou alguns verões lá e misturou-se com os nativos. Você sabe, gente
como eu. Muito simpático da sua parte. Como você deve ter se sentido humilde. Pena que
não aprendeu nada com isso.
Ele me virou, mas voltei novamente para perto do ouvido dele. — Preste atenção. Não
se trata de dinheiro entre nós. Trata-se de relacionamentos. Eu poderia ir até Cyrus nesse
minuto, jogar todo o meu charme nele e embolsar o dinheiro dele por um ano, talvez mais.
Mas isso não vai acontecer por dois motivos. Primeiro, eu me respeito. Segundo, ele não é
o cara para mim. Nunca estive em um relacionamento com ninguém. Isso foi por opção, e
por um bom motivo. Estou esperando um cavalheiro. Rico ou pobre, não importa. Em
algum momento, eu o encontrarei. E ficarei feliz quando isso acontecer porque dinheiro não
nos define. O dinheiro apenas estraga as coisas. Você seria diferente sem dinheiro, sabia
disso? Acho que não sabe. Depois do que acabou de fazer, não estou mais interessada
nesse emprego. Estou me demitindo nesse minuto.
A música terminou.
Eu me afastei dele, ouvi quando ele começou a me seguir, mas não me importei. Eu
estava acabada. Andei discretamente até o fundo do salão, soltei o cabelo e o sacudi. Em
seguida, retirei o colar, o anel, a pulseira e os brincos e entreguei-os a ele. — Fique com
as suas joias — disse eu. — Eu não quero as joias, nem o vestido nem os sapatos. Mas
você me pagará pelo dia de hoje, porque o meu tempo vale alguma coisa. Também ajudei
você a fechar um negócio, mas não vou pedir qualquer participação nele, apesar de
merecer. Considere como um presente meu. Deixei a bolsa de Blackwell em seu carro.
Lembre-se de devolvê-la a ela. Devolverei o vestido e os sapatos amanhã.
— Por que está fazendo isso?
— Está falando sério? Eu sofri abuso o suficiente na minha vida. Homem nenhum me
trata da forma como você acabou de fazer.
— O que quer dizer com "sofreu abuso o suficiente"?
— E por acaso você se importa? Só fique longe de mim.
Eu passei por ele.
— Jennifer.
Como eu iria para casa? Não tinha dinheiro para pagar um táxi e não poderia andar até
lá no meio da noite com aquela roupa. Qualquer coisa poderia acontecer se eu fizesse
isso. Olhei em torno do salão e vi o bar à frente. Mais uma vez, ele estava rodeado de
homens, nenhuma mulher. Que seja. Andei até lá. Dois homens mais velhos se afastaram
para que eu passasse e eu me inclinei em direção ao barman. — Preciso usar o telefone.
— Alex — disse um dos homens. — Que bom ver você.
— Jennifer.
O barman me entregou um telefone sem fio. Tentei me lembrar do número do celular de
Lisa. Eu deixara o meu próprio celular em casa. Sempre que telefonava para ela,
simplesmente selecionava o nome dela na lista de contatos. Não conseguia me lembrar da
última vez em que discara o número dela. Qual era o maldito número de Lisa? Por que eu
estava tendo um branco bem naquela hora?
— Por favor, vire-se.
— Você está segurando um monte de diamantes, Alex. Se a jovem não os quer, tenho
certeza de que a minha esposa adoraria ficar com eles.
O homem riu.
Eu ouvi o barulho das joias sendo entregues atrás de mim. — Entregue-os a ela por
mim.
— Alex, eu estava brincando.
— São um presente. Eu não preciso deles, Jon. De verdade, está tudo bem. É um
prazer.
O homem à minha esquerda me encarava intensamente. Ele era mais velho,
provavelmente perto dos setenta anos, e tinha um rosto gentil. Eu não conseguia me
lembrar do número de Lisa. Virei-me para ele.
— Do que você precisa? — perguntou ele.
Ele conseguia sentir que eu estava aflita. Não consegui acreditar que estava prestes a
pedir dinheiro para um completo estranho, mas eu estava desesperada. — Deixei a minha
bolsa no carro de alguém. Preciso pegar um táxi, mas não tenho dinheiro para chegar em
casa.
Ele colocou a mão no bolso do casaco, retirou um maço de notas gordo e baixou-o para
o colo para que ninguém pudesse vê-lo. Retirando uma das notas, ele perguntou: — Isso é
suficiente?
Eu olhei para baixo. Era uma nota de cem dólares. Meus olhos se encheram de lágrimas
quando olhei para o rosto dele. — Lamento tanto ter pedido, mas também estou muito
grata. Você não sabe o que isso significa para mim.
Ele colocou a nota na minha mão. — Sou muito mais velho que você — disse ele. —
Essas coisas acontecem. Todos fomos jovens um dia. Vá para casa em segurança. Talvez
isso se resolva sozinho.
— Obrigada.
Eu me virei e vi que Alex estava parado bem atrás de mim. Mas eu sabia que ele não
tentaria nada ali. Não com aqueles homens. Passei por ele e andei em direção à saída,
torcendo para que ele não me seguisse. Mas, naturalmente, ele me seguiu.
— Jennifer — disse ele.
— Eu lhe disse para ficar longe de mim.
Ergui o vestido e desci os degraus correndo. Eu precisava sair dali. Cruzei o saguão até
a porta, ouvindo os passos dele atrás de mim, e saí para a calçada quando um dos
homens parado ao lado da porta segurou-a aberta para mim.
— Dê-me um momento para explicar.
De que adiantava? Ele tinha se revelado. Eu não estava dando nada a ele. Parei na
calçada e procurei um táxi na rua estreita. Não havia nenhum ali, mas eu encontraria um na
Park Avenue, portanto, fui naquela direção. Alex andou ao meu lado no mesmo ritmo.
— Você não precisa fazer isso. Eu sei que cometi um erro. Deixe-me levá-la em casa.
Podemos conversar no carro. Só fiquei com ciúmes. Não sei o que deu em mim. Eu lhe
peço desculpas.
Eu me virei para ele. — Ciúmes do quê?
— Do fato de você achar que ele é atraente. Do fato de ele e dos outros homens a
acharem atraente. Do fato de aqueles homens terem mandado os drinques.
— O que não estou vendo aqui? Eu fui preparada com essa aparência por um motivo.
Estou sendo paga para ser sua acompanhante. Só isso. Você e Blackwell me disseram
que era só isso. Não fui nada além de profissional. Mantive aquele dragão da Immaculata à
distância para ajudar você. Também o ajudei com Cyrus. Dei a você aquele ângulo. Está
bem, eu disse que achava que Cyrus era atraente, mas quem se importa? E por que você
deveria se importar? Você me disse que não tinha tempo para um relacionamento quando
nos conhecemos. Você disse que queria se concentrar no trabalho e ser deixado em paz.
Você disse que não queria que as mulheres o distraíssem. Você disse que não queria se
envolver romanticamente. Você se lembra de ter dito essas coisas? Estou inventando essa
conversa? Não, não estou. Eu fui contratada para manter os lobos à distância e foi o que
fiz. Fui contratada para garantir que você pudesse fazer o seu trabalho, que conseguiu
fazer. O acordo estava claro para mim. Um comentário que fiz, alguns drinques que me
foram entregues e subitamente você está furioso e determinado a me envergonhar na
frente de todos. Bem, não deu certo, Alex. Você machucou meu braço intencionalmente.
Queria me machucar, conseguiu e agora não trabalho mais para você. Boa noite.
— Dê-me outra chance. Eu não estava preparado para isso. Eu não estava preparado
para você.
O que diabos aquilo queria dizer? Eu decidi que não importava e continuei procurando
um táxi.
Havia um descendo a Park. Acenei para ele, o motorista me viu e parou no meio-fio.
Graças a Deus.
O mais depressa que podia, corri até ele, abri a porta traseira e entrei com cuidado
para não arruinar o vestido caro dele. Assim que fechei a porta, disse ao motorista para
partir.
Eu não olhei, mas sabia que Alex estava parado na calçada assistindo à minha partida.
Eu fizera a coisa certa desistindo daquele emprego? Com certeza. Eu não era propriedade
de ninguém. Não seria tratada daquele jeito por ninguém nem deixaria que ninguém tirasse
vantagem de mim daquela forma. Eu aprendera o suficiente no meu passado de merda
com os meus pais. E, há muito tempo, prometera a mim mesma que, se alguém me
tratasse com o tipo de desrespeito que Alex acabara de demonstrar, eu me afastaria
imediatamente. Não podia fazer isso comigo mesma novamente.
— Para onde? — perguntou o motorista.
Eu dei a ele o endereço, abri a janela e deixei os sons da cidade e a brisa morna me
envolverem. Amanhã, eu devolveria a ele o vestido e os sapatos. Depois, procuraria um
emprego de garçonete em um dos melhores restaurantes da cidade e sairia daquela
situação.
CAPÍTULO 21
Quando cheguei em casa, Lisa estava acordada me esperando. Ela estava no sofá-
cama lendo um livro no Kindle e tinha um martíni na mesa ao lado.
Ela se virou quando entrei no apartamento. — O que está fazendo aqui? Ainda é cedo.
Achei que só voltaria mais tarde.
— Eu também achei que só voltaria mais tarde. Digamos apenas que eu estava errada
sobre várias coisas. — Eu tirei os sapatos perto da porta e vi quando ela saiu da cama
com um ar preocupado no rosto.
— Você está bem?
— Não.
— O que aconteceu?
— Preciso de uma bebida.
— Quer um martíni? É o que estou bebendo.
— Com certeza. Três azeitonas. E bem gelado.
— Eu sei como você gosta do martíni. Pena que não temos uma vodca melhor.
Eu coloquei a mão no ombro dela. — Um dia, nós teremos. Deixe-me tirar esse vestido
que não me pertence e nós conversaremos.
— Isso não soou muito bom.
— E não é.
— Jennifer, seja lá o que for, eu sinto muito.
— Ficará tudo bem. Claro, eu desisti de um emprego com um salário excelente hoje à
noite, sem falar nos bônus cheios de diamante, que eu devolvi a ele. Mas aprendi muita
coisa. Você, dentre todas as pessoas, sabe como meus pais me tratavam, especialmente
o meu pai. Eu saí do Maine porque me recusei a continuar sofrendo abusos. E adivinha só?
Hoje à noite foi um teste. Hoje à noite, eu mantive a promessa de nunca mais deixar que
alguém me tratasse como lixo novamente. E sabe o que é melhor ainda? Vou conseguir
dormir essa noite, e amanhã à noite, e todas as outras noites porque nada do que
aconteceu hoje foi culpa minha. Foi tudo culpa dele. Ele que se dane.
Fui para o quarto que, àquela altura, deveria ter virado o quarto de Lisa, tirei o vestido e
coloquei uma bermuda e uma camiseta. Com o máximo de cuidado, botei o vestido sobre a
única cadeira do quarto. Depois, fui até Lisa, que estava na porta do quarto. Ela estava
com um martíni na mão e um ar preocupado no rosto. Ela era a minha família. Sempre
seria. Eu a beijei no rosto, agradeci por estar sempre do meu lado e bebi um longo gole da
minha bebida.
— Meu Deus, que coisa forte.
— É vodca vagabunda, mas é o que podemos comprar.
— Não importa. Também é gostoso.
— Vodca vagabunda muito gelada pode ter esse efeito sob as circunstâncias certas.
— Não podemos nunca nos esquecer disso — falei, erguendo o copo. — Um brinde à
vodca vagabunda gelada que mal podemos pagar. Você tem um objetivo na vida.
— Saúde — disse Lisa.
Tomei outro gole e deixei a vodca descer. Era um tipo de céu infernal, nem que fosse
porque a vodca era tão forte que queimava a garganta. Mas era melhor do que nada e
cumpriu a missão. Eu estava feliz por tê-la.
— Então, o que aconteceu? — perguntou Lisa.
Contei tudo a ela. Quando terminei, eu a encarei. — Fiz a coisa certa ou exagerei na
minha reação?
— Você disse que ele machucou o seu braço?
— Foi.
— Intencionalmente?
— Sendo bem sincera? Não sei.
— Tem certeza de que ele tentou fazer com que você tropeçasse durante a valsa?
— Se eu não tivesse conseguido acompanhá-lo, teria caído. E ele sabia disso. Eu diria
que foi intencional.
— Bom, isso é complicado.
— Ele foi um imbecil naquela pista de dança.
— E engoliu uma tonelada de ciúmes antes de chegar na pista de dança. O que foi
mesmo que você disse que ele disse sobre não estar preparado para você?
— Foi só isso. E disse alguma coisa sobre dar outra chance a ele. Disse que não estava
preparado para isso nem preparado para mim.
— Talvez não estivesse. Jennifer, você não se vê da mesma forma como os outros a
veem. Eu lhe digo isso há anos. Você ainda vê a pessoa que seus pais queriam que visse.
Mas o que todas as outras pessoas veem é uma mulher deslumbrante e incrivelmente
inteligente. Uma pessoa linda e gentil, que também é muito inteligente quando se trata de
negócios. Você disse que deu a ele um conselho sobre como chegar a esse tal de Darius?
— Sim, eu disse a ele para chegar a Darius pelo filho dele.
— Como você sabia que podia dizer isso a ele?
— Porque qualquer pessoa que lê as páginas de negócios sabe que Cyrus assumirá a
empresa da família, mas poucos acreditam que ele conseguirá fazer isso. Se eu fosse
Cyrus, sentiria a falta de confiança. Eu sentiria o desapontamento do meu pai bem na
alma. Ele sabe que precisa mostrar alguma coisa ao pai. Sabe que precisa conseguir um
bom negócio. Ele era a abordagem lógica porque o pai quer ver alguma iniciativa nele.
— E Alex não tinha considerado esse ângulo?
— Não.
— Considerando que você foi contratada apenas para ser uma acompanhante, acha que
é justo dizer que você o surpreendeu?
— Provavelmente. Ele inclusive sugeriu isso. Mas quem se importa. Eu entrei nessa bem
consciente da situação. E ele também, pois foi ele quem definiu as regras. Na entrevista, o
próprio Alex me disse que não queria nada de romântico na vida dele agora e, por isso,
estava procurando alguém como eu. Disse que não tinha tempo para ninguém. Blackwell
disse que eu nunca passaria de um objeto para ele. Foi a única coisa em que pensei a
noite inteira, que eu era um objeto. Ela me avisou para que eu me mantivesse longe dele,
provavelmente porque notou que eu estava atraída por ele. Sim, eu disse que achava
Cyrus bonito, mas, dada a situação, isso foi cruzar alguma linha? E sou responsável pelas
bebidas que me mandaram? Eu perdi alguma coisa nessa história toda?
— O elemento surpresa pode ser uma coisa muito poderosa. Alex estava preparado
para vê-la linda hoje à noite, mas não fazia ideia do quanto estaria linda nem, francamente,
do quanto você é inteligente. Ele não tinha como estar preparado para ver como você é
inteligente ou que, do nada, poderia mostrar a ele como conseguir um negócio
potencialmente lucrativo. Você é o pacote completo. Eu tenho que concordar. Ele
provavelmente não estava ciente disso e sentiu-se ameaçado.
— Por que ameaçado?
— E se alguém chegasse em você primeiro? E se ele a perdesse para Cyrus? Ou para
algum dos homens que mandaram as bebidas? Obviamente, ele ficou incomodado pelo
fato de você achar Cyrus atraente. Foi quando ele se transformou em um babaca. — Ela
deu de ombros. — Mas quem consegue entender os homens? Eu não consigo. Eu conheço
zumbis, não bilionários. Mas acho que estou no caminho certo.
— Eu devolvi as joias a ele — disse eu. — O vestido e os sapatos irão para as mãos de
Blackwell amanhã cedo. Eu disse que esperava ser paga pelo dia de hoje porque não
trabalho de graça. Pretendo procurar um emprego de garçonete amanhã de manhã. —
Tomei um gole do martíni, que era um pedacinho do céu necessário, e olhei para Lisa por
sobre a borda. — Então, vamos lá. Fiz a coisa certa?
— Nós duas sabemos que você nunca esteve em um relacionamento. Viu alguma coisa
nele hoje à noite que fez com que corresse. Se acha que fez a coisa certa, sabe que tem o
meu apoio.
— Essa foi uma resposta cuidadosa.
— Eu acho que as coisas são mais complicadas do que você pensa. Acho que ele
reagiu de forma idiota para magoá-la e, provavelmente, está xingando a si mesmo por isso
agora. Foi por isso que correu atrás de você. Não acho que as coisas entre vocês tenham
terminado. Você terá notícias dele ou de Blackwell.
— Deixe que telefonem. Não vou ser tratada desse jeito. Lembra-me do meu pai. Não
vou deixar que aconteça novamente. — Ergui o copo. — Na verdade, isso é meio inocente.
Vai acontecer de novo, é claro que vai, e, quando acontecer, vou embora novamente.
— Jennifer, só quero que esteja preparada para o que vai acontecer.
— O quê?
— Ao enfrentá-lo, ao se demitir, ao devolver as joias, o vestido e os sapatos, e ao
deixá-lo hoje à noite, acho que você criou uma avalanche que a atropelará de formas que
nem imagina.
— O que isso significa?
— Ninguém diz não para um bilionário — disse ela. — Você verá.
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 24
Nos dias seguintes — e, ironicamente, com a ajuda do meu MBA — finalmente a sorte
me favoreceu. Meu humor estava melhorando, apesar de Alex ser incansável nos
telefonemas, nenhum dos quais eu atendi. Em algum momento, ele desistiria. Eu só
precisava esperar e esquecê-lo, não importava o quanto a atração inicial que sentira por
ele fora forte.
Depois de comparecer a entrevistas para uma dezena de cargos de garçonete nos
melhores restaurantes, sem conseguir nenhum deles, fui entrevistada para assistente de
gerente no db Bistro Moderne, um restaurante exclusivo de propriedade do renomado chef
Daniel Boulud.
O próprio Boulud estava na cidade e me entrevistou pessoalmente, junto com o gerente
geral, Stephen Row. Eles foram simpáticos e charmosos. Nós nos demos muito bem e
consegui o emprego por causa da força da minha entrevista, particularmente da parte em
que Boulud me perguntou como eu via o cargo.
— A maior prioridade é a satisfação do cliente — disse eu. — Sempre é, bem como
garantir um serviço profissional. A segunda é auxiliar o sr. Row. Imagino que eu ajudaria a
supervisionar a equipe do andar da parte da frente da casa, flutuaria durante o horário de
atendimento e garantiria que a equipe estivesse obedecendo às políticas e aos
procedimentos do restaurante. Foi para isso que recebi meu MBA, para gerenciar de
forma eficiente e eficaz. Estou pronta para isso.
Tive uma resposta deles alguns dias depois e consegui o emprego. O salário era mais
do que generoso, bem como o pacote de benefícios. Era muito aquém do dinheiro que Alex
me oferecera, sem falar dos bônus, mas eu não podia estar mais feliz. Conseguiria viver
muito bem com o salário. Poderia pagar as minhas contas, incluindo as da roupa Prada e
dos sapatos, que estavam me deixando ansiosa, o que era excelente. E com esse tipo de
experiência de gerência de alto perfil no currículo, empregos melhores apareceriam e
todas as portas fechadas que encontrara durante meses finalmente se abririam um dia.
O restaurante ficava localizado na esquina da Cinquenta e Cinco Oeste com a rua
Quarenta e Quatro, que não ficava a uma distância que eu pudesse percorrer a pé, mas,
como agora tinha um pouco de dinheiro extra, não havia problema em pegar um táxi.
Durante os primeiros dias em que trabalhamos juntos, Stephen foi prestativo, mas, graças
a Deus, não era do tipo microgerente. Ele era um homem bonito, tinha trinta e poucos
anos, com cabelos loiros e olhos castanhos esverdeados. Ele era um verdadeiro
profissional e o que esperava de mim era simples: gerenciar a equipe, auxiliá-lo quando
precisasse de mim e — o que realmente me empolgou naquele emprego — ficar atenta
para ajudar a manter o restaurante na moda.
— Obviamente, deixamos a comida para o sr. Boulud — disse Stephen. — Mas você
tem estilo, Jennifer, e é muito inteligente. Nesse ponto, isso já ficou bem claro para todos
nós. Você é linda e se veste de forma impecável. Também é jovem e, se me permite dizer,
toda a equipe concorda que é deslumbrante, o que é um bônus. Você é exatamente a
pessoa de que precisamos para ver para onde a cidade vai, não onde ela está agora. Uma
noite por semana, uma noite de trabalho, quero que você convide um amigo ou uma amiga
e vá nos pontos mais quentes e novos da cidade. Coma uma variedade de comidas. Pague
a conta com o seu cartão corporativo.
— Eu tenho um cartão corporativo?
Ele me entregou um cartão Visa Signature, que eu sabia ser um dos cartões mais
difíceis de conseguir, pois o limite de crédito era altíssimo. O cartão tinha o meu nome. Eu
senti uma onda de adrenalina.
— Agora você tem — disse ele. — E não precisa economizar.
— E como poderia fazer isso com esse cartão?
— Não esperamos que compre diamantes com ele, Jennifer.
— Uma garota pode muito bem sonhar.
Ele deu um sorriso. — Experimente quantos pratos aguentar. Experimente, saboreie e
passe para o próximo prato. Posso colocá-la para dentro de qualquer restaurante que
desejar. Basta me dizer o que ouviu dizer e onde quer ir. Também posso dar algumas
sugestões. Veremos. De qualquer forma, garantirei que você tenha uma boa mesa. Depois,
precisarei que fale comigo no dia seguinte e me conte como foi a experiência. É assim que
nos mantemos à frente da concorrência. É assim que arrasamos.
Era o emprego dos sonhos. E, finalmente, eu poderia agradar a Lisa, o que era
importante para mim. Ela ouvira meus resmungos românticos trágicos por tempo demais e
aguentara a minha falta de dinheiro por meses. Agora, eu poderia mimá-la com uma
noitada repleta de bebidas e boa comida uma vez por semana, o que era perfeito, pois ela
adorava comer bem e apreciaria. Ela provavelmente também daria opinião sobre a
qualidade. Quando eu fosse para casa com o cartão e contasse a ela sobre o novo bônus
do trabalho, ela me abraçaria. — Preciso fazer uma assinatura on-line do Times agora
mesmo para que possa conferir as colunas sobre restaurantes. Vamos ficar gordas!
— Ah, não, não vamos. A não ser que os seus zumbis possam devorar a nossa gordura
depois.
— Posso fazer isso acontecer.
Depois de uma boa semana no trabalho, eu já tinha pego o ritmo. Stephen e eu
trabalhávamos juntos intuitivamente e gostávamos um do outro, o que era essencial. Os
garçons eram polidos e profissionais — observá-los trabalhando de forma tão eficiente em
um espaço tão apertado só aumentou o respeito e a admiração que eu sentia pelo que
eles faziam. Um bom atendimento não era fácil. Mas quando parecia fácil e quando a
comida era excelente, como era lá, os cientes geralmente tinham uma experiência incrível.
Depois de tanto tempo em Nova Iorque, eu finalmente me senti como se pertencesse a
algum lugar, e não apenas a qualquer lugar, pois sabia que meu emprego era cobiçado. Eu
me sentia abençoada e feliz. E, em dois dias, Lisa e eu sairíamos para jantar em um dos
novos restaurantes sofisticados da cidade que arrancara elogios da imprensa. Eu disse a
Stephen que gostaria de começar com um restaurante chamado Blue. Ele lera sobre o
restaurante no Times e conseguiu uma mesa.
— Como você fez isso? — perguntei. — Eles devem estar lotados pelas próximas
semanas.
— Na verdade, meses. Mas não se preocupe com isso. Não importa onde precise
entrar, basta me avisar. Posso até mesmo colocar você e a sua amiga para dentro dos
melhores clubes da cidade nas suas noites de folga.
— É mesmo?
— Mmm-hmm. Será um prazer. E mal posso esperar para ouvir o que o Blue está
fazendo. Experimente o máximo de comidas que conseguir, mesmo que sejam apenas
algumas mordidas. Depois, peça mais e venha me contar.
Eu estava no céu? Parecia que sim. O Blue era especializado em frutos do mar, que eu
e Lisa adorávamos.
— Divirta-se — disse Stephen. — Quero saber sobre a atmosfera, a qualidade do
serviço, a qualidade da comida e das bebidas, quais são as melhores seleções deles.
Absolutamente tudo.
— Obrigada, Stephen.
— Não me agradeça — disse ele com um sorriso. — É você que engordará cinco quilos
nesse mês. Se eu fosse você, entraria para uma academia.
— Posso usar o meu cartão para isso?
— Veremos como você estará em algumas semanas.
Quando a noite chegou, eu e Lisa estávamos além de empolgadas. No apartamento,
que agora tinha um belo ar-condicionado na janela da sala de estar, graças a algumas
compras on-line na Amazon, nós nos apressamos no ar frio em um esforço para nos
aprontarmos.
— Quando foi a última vez que você e eu fomos a algum lugar? — perguntou ela.
Eu estava no banheiro me maquiando. — Você quer dizer, que não seja a lavanderia?
— Isso! Quero dizer, uma noitada de verdade só de garotas.
— Ah, eu acho que foi há uns quatro meses. Eu me lembro bem. Burger King. Logo
antes de entrarmos em Manhattan. Saímos do Maine e dirigimos a noite inteira. Nós
paramos porque precisávamos usar o banheiro e porque estávamos famintas. Cada uma
de nós comeu um sanduíche gigante com batatas fritas em uma mesa particularmente
gosmenta. Não que tenhamos nos importado.
— Acho até que esbanjamos dinheiro em alguma coisa que parecia congelada.
— Acho que sim. Também acho que hoje à noite será melhor.
— Nada de peixe congelado para nós.
— O que você vai vestir?
— Algo sexy. E você?
— Algo mais sexy ainda.
— Ah, por favor. Vou usar zumbi chique.
— Está bem.
— Por falar nisso, terminei o terceiro rascunho do livro hoje. Deverá estar pronto para
você em umas duas semanas. Preciso que ele descanse um pouco, depois farei a edição
final. E depois será todo seu.
— Então precisamos comemorar hoje à noite. Parabéns! Mal posso esperar para lê-lo.
— Obrigada! Esse livro praticamente me matou e, naturalmente, comprei um vestido de
matar para comemorar. Tenho certeza de que meus amigos zumbis adoram peixe e
querem que eu esteja bonita ao comer. Ou qualquer coisa mal passada. Olhe só para mim.
Admire a minha beleza.
Ela parou na porta do banheiro. Usava um vestido preto curto perfeito que só ela
poderia usar, pois era muito miúda. Os cabelos loiros estavam puxados para trás e
desciam pelas costas. — Você está linda.
— E sexy?
— E sexy.
— Certo. Quero dizer, não se vê alguém tão sexy assim todo dia.
— É verdade.
— Você está quase pronta?
— Só preciso secar o cabelo e me vestir. Quinze minutos.
Na cozinha, meu celular tocou.
— Não atenda — disse eu. Liguei o secador e comecei a secar o cabelo. O que eu não
diria a Lisa era que parte de mim queria atender. Eu estava começando a repensar no fato
de ter deixado Alex naquela noite. Quanto mais eu me afastava do que acontecera, mais
me perguntava se não tinha exagerado. Não havia dúvidas de que ele fora longe demais,
mas as ações dele justificavam eliminá-lo da minha vida e nunca mais falar com ele? Eu
estava em conflito sobre o assunto, especificamente porque ele me machucara, física e
emocionalmente. Fiquei curiosa sobre o que ele tivera para dizer, mas ainda assim apagara
todas as mensagens de voz. Aquilo era reacionário da minha parte. Naquela noite, ele me
lembrara meu pai e a forma como me tratara. Mas ainda pensava em Alex. Ainda tecia
fantasias sobre ele. Eu me sentira atraída por alguns garotos no colégio, mas nunca fiz
nada a respeito por motivos demais que ainda não enfrentara totalmente. Mas Alex? A
aparência de Alex fizera meu coração estremecer. Assim como a gentileza inicial dele,
quando correra pela rua e me ajudara a recuperar os currículos. Aquilo fora impulsivo da
parte dele. Ele fora um cavalheiro. Aquele era o verdadeiro Alex? Eu não sabia ao certo.
Talvez eu tivesse cometido um erro com ele, mas não importava. Por algum motivo, ele
fora um imbecil naquela noite. E eu não podia ignorar isso.
Terminei de me arrumar no banheiro e coloquei um vestido vermelho curto para a noite.
Não era novo. Era algo que eu tivera durante anos e não fora caro, mas ainda assim eu o
adorava. Quando mostrei a Lisa o que vestiria, ela sorrira.
— Eu sempre adorei esse vestido.
— É tão antigo — disse eu.
— É mesmo? Porque, em se tratando do Blue, eles nunca o viram. Para todos os que
estarão lá, ele é novo.
— Eu amo você, Lisa.
— Eu amo você mais. Agora, vamos comer e beber. Merecemos um martíni com uma
vodca decente. Talvez eu precise de três.
— Acho que podemos fazer o que quisermos. É o que esperam de mim. Só preciso
estar sóbria o suficiente para dar a eles um relatório completo amanhã.
— Ajudarei você pela manhã — disse ela. — Sou uma artista faminta. Se essa coisa
acontecer toda semana, pode contar com a minha ajuda.
Eu segurei a mão dela ao sairmos. — Obrigada — disse eu.
— Pelo quê?
— Você sabe pelo quê. Não faça de conta que não sabe. Eu acho você o máximo e
estou muito grata por tê-la aqui.
— Amigas — disse ela ao sairmos do apartamento. — Não há nada como amigas.
CAPÍTULO 25
Foi na hora da saída no meu décimo primeiro dia no emprego que deixei o restaurante e
vi uma limusine preta brilhante parada do lado de fora. Eu não dei muita importância porque
o db Bistro atraía aquele tipo de clientela. Além disso, havia dois hotéis chiques vizinhos ao
restaurante. Mas, quando me aproxime do meio-fio para chamar um táxi e a limusine
avançou devagar na minha direção, soube o que estava acontecendo antes mesmo que a
janela traseira se abrisse e eu visse o rosto dele.
Alex.
Ele saiu do carro e pisou na calçada. Meu coração, é claro, disparou. Ele usava jeans
desbotados que deixavam pouca coisa por conta da imaginação e uma camiseta branca
meio larga que repousava sobre o peito musculoso. Não que isso importasse. Eu ainda
conseguia ver o corpo dele, independentemente do quanto a camiseta fosse larga. Nada
poderia ocultar aquele corpo musculoso. Nos pés, ele usava chinelos.
Eu nunca o vira com uma aparência tão casual. Eu adorava a aparência dele com um
terno, mas isso era diferente. Ele estava muito mais do que sexy e, mesmo então, era
impossível não responder fisicamente a ele. Alex era a manifestação de tudo o que eu
achava atraente em um homem.
Lisa dissera que isso aconteceria em algum momento e lá estava.
Ele andou na minha direção. — Jennifer — disse ele.
Eu me senti grata por poder vestir o que quisesse no trabalho, desde que estivesse na
moda e profissional. Naquela noite, meu cabelo estava solto, eu usava calças Dior brancas
que comprara por uma pechincha na Century 21, a blusa vermelha era Givenchy e os
sapatos eram sandálias de salto alto vermelhas Prada, também comprados na Century 21,
que combinavam com a blusa. Fisicamente, eu achava que estava com uma aparência
melhor do que na última vez em que ele me vira, o que era algo incrível, considerando tudo
o que Blackwell e Bernie fizeram por mim, mas, ainda assim, era verdade. Eu tinha um
bom emprego e estava feliz, o que me dava a confiança que me faltara desde que chegara
a Manhattan. Quando acenei para ele com a cabeça, sabia que essa confiança estava
refletida em meus olhos.
— Alex.
— É bom ver você.
— Como sabia que me encontraria aqui?
— Eu a segui na outra noite.
— Então, agora está me espreitando?
— Telefonei para você dezenas de vezes, Jennifer. Deixei pelo menos o mesmo número
de mensagens. Como não respondeu a elas, dei o próximo passo. Eu queria vê-la
pessoalmente.
— Eu preciso ir embora.
— Pode me dar uns minutos?
— De que adianta?
— Por que não respondeu às minhas mensagens?
— Porque eu não ouvi as suas mensagens. Eu as apaguei.
Ele olhou para mim surpreso e pude ver que estava desapontado.
Por um momento, ficamos parados na calçada. As pessoas atravessavam o silêncio que
se estendia entre nós como se não houvesse um muro de concreto, mas que existia porque
eu o construíra.
— Eu realmente preciso ir — disse eu. — Tive um longo dia.
— Por que não quer me escutar? Nem falar comigo?
Eu apontei o dedo para ele. — Quando alguém me trata da forma como você me tratou,
essa pessoa não merece meu tempo nem a mim. Deixe-me em paz. Pare de me telefonar.
Estou em um excelente lugar agora e não estou interessada em você. Segui minha vida.
Ele se aproximou um passo. — Eu não acredito nisso.
Eu mantive a minha posição e não me movi. — Pois deveria.
— Não consigo tirar você da minha cabeça.
— Há comprimidos para isso.
— Por favor, não seja assim. Não seja leviana. Eu não vim aqui à toa. Só vim porque
ficou claro que você não ia retornar os meus telefonemas. Quando minha esposa morreu
há quatro anos, nunca achei que encontraria alguém que pudesse ocupar o lugar dela. Mas
então conheci você.
Eu pestanejei. Ele fora casado? A esposa dele morrera? Eu me senti horrível.
— Lamento muito — disse eu. — Eu não fazia ideia.
— Vocês duas são mulheres completamente diferentes. Mas, mesmo depois desses
anos todos, ainda posso senti-la. Isso não fará o menor sentido para você, mas acho que
ela está me empurrando para continuar com isso.
— Como ela morreu?
— Em um acidente de carro. Ela estava no celular falando comigo. Atravessou para o
outro lado da rua. Ouvi tudo enquanto acontecia. Levei anos para voltar ao normal. Sei que
ela gostaria que eu fosse feliz. Você me faz feliz. Eu lamento a forma como me comportei
naquele dia. Foi imperdoável.
— Estávamos nos divertindo. O que deu em você?
— Eu estava com ciúmes. Achei que estivesse interessada em Cyrus. Depois, vieram as
bebidas de dois estranhos que estavam flertando com você. Tudo isso me tirou do sério.
Na hora, eu não sabia o motivo. Mas não demorou muito para que eu entendesse. Você é
extremamente impressionante, Jennifer. Eu nunca conheci ninguém tão rápida e inteligente
como você foi ao convencer Cyrus a levar o negócio até o pai. Observar você em ação foi
excitante. E eu estaria mentindo se dissesse que não a acho atraente. Eu a acho linda.
Eu ignorei a última frase. — Você conseguiu o negócio?
— Consegui. Mas só por causa da forma como você o montou para mim. É claro, Cyrus
precisava levar algo substancial ao pai, que ficou muito feliz porque o filho finalmente
mostrou algum interesse na empresa. Você acertou na mosca. Eu não tinha ideia de que
você era assim. Vi seu currículo, mas você está anos à frente dele. Peço desculpas por
tudo. Quero encontrar você novamente.
— Nós nunca nos encontramos.
— Jennifer, você sabe o que eu quero dizer. Não faça de conta que não sabe.
Era demais para mim. Era óbvio que ele estava falando a verdade sobre o que sentia.
Eu conseguia ver de onde estava. Ele cobriu a distância que nos separava. Procurei um
táxi.
O que aconteceria se eu o deixasse entrar novamente na minha vida? A ideia era
paralisante. Eu não era do mundo dele. Além de uma atração física e um interesse mútuo
nos negócios, o que mais havia entre nós? Mal nos conhecíamos. Se eu voltasse àquele
lugar emotivo com ele, se baixasse a guarda, ele poderia acabar comigo mais à frente. Eu
tivera a sorte de sair da situação tão depressa. Eu passara apenas um dia com ele e veja
o que acontecera comigo. Se eu passasse mais tempo com Alex e ele fizesse algo
semelhante de novo, iria me destruir, pois eu ainda estava envolvida com ele.
Lisa entrou na minha mente. Fora em uma de nossas muitas conversas à meia noite.
Sim, ele pode machucar você, Jennifer. Mas isso é verdade para qualquer pessoa. Em
algum momento, você terá que se arriscar. Caso contrário, ficará sozinha para sempre.
Eu me sentia mais indecisa do que em toda a minha vida. Mas algumas coisas não
mudam e, mesmo assim, a minha guarda subiu, com arame farpado em toda a periferia.
— Alex, eu estou feliz agora. O seu mundo é complicado. Aqui, posso deixar a minha
marca. Sou gerente em um dos melhores restaurantes da cidade, o que é mais do que ser
acompanhante de alguém. Nesse momento, sinto como se estivesse criando algo para mim
que é bom. Consigo me ver crescendo aqui e, algum dia, em outro lugar. Posso usar esse
emprego para conseguir um emprego melhor.
— Eles têm sorte de ter você. Qualquer um tem sorte de ter você.
— Eu tenho sorte de tê-los. Não há drama nenhum aqui. Nenhum ciúme. Posso fazer
sucesso pelos meus próprios méritos. Eles me oferecem isso e sou grata. Esperei quase
cinco meses por isso.
Novamente, procurei um táxi e não vi nenhum, o que era ridículo, especialmente porque
o Hotel Algonquin ficava à direita e o Iroquois à esquerda. Deveria haver táxis lá. Eu queria
sair dali. Lisa estava me esperando, como sempre fazia, para ter certeza de que eu
chegara em casa em segurança. Eu precisava ir embora.
Ele estendeu a mão para mim. Abaixei a cabeça para olhar para ela. A palma estava
virada para cima.
— Alex — disse eu.
— Só pegue a minha mão, Jennifer. Pegue a minha mão e me diga que não sente nada.
— Eu preciso ir embora.
— Só pegue a minha mão. Se não sentir nada, eu prometo que desaparecerei e nunca
mais a perturbarei novamente. Mas, se sentir alguma coisa, terá as respostas para as
suas perguntas, porque acho que você também pensa em mim.
— Como posso não pensar quando você telefona de hora em hora?
Ele sorriu. — Eu fui persistente por um motivo. Pegue a minha mão. Se não sentir nada,
eu irei embora.
Olhei para a mão dele por um momento. O coração batia forte no meu peito, pois eu me
lembrava do que o toque dele fazia comigo. Lembrei do calor que passara entre nós na
primeira vez em que ele segurou a minha mão naquela noite, antes de entrarmos no
elevador. E na segunda vez, dentro da limusine. E em todas as outras vezes naquela noite,
antes que tudo mudasse. A sensação seria a mesma? Talvez eu realmente precisasse
saber. Talvez isso acabasse com tudo. Eu estendi a mão e coloquei-a sobre a dele. Olhei
para o rosto dele e vi como estava tenso. Ele parecia preocupado e vulnerável. A mão dele
se fechou sobre a minha e ele me puxou gentilmente para perto.
— Você sentiu? — perguntou ele.
Meus olhos se encheram de lágrimas. É claro que eu sentira. Mas o que isso significava
para mim agora? Eu me saíra muito bem nos últimos dias. Apesar de ter sido difícil
algumas vezes, eu estivera concentrada e determinada a me afastar disso. E lá estava eu
novamente, envolvida e emocionalmente despida. Ele apertou a minha mão com mais força
e me puxou para mais perto.
— Você é tão linda — disse ele.
— Eu não sei o que você vê em mim.
— Muito mais do que você vê em si mesma.
Ele pressionou os lábios contra os meus, e eles eram macios, convidativos, muito
melhores do que eu imaginara. Senti a barba dele arranhando gentilmente o meu queixo, o
que me lançou arrepios pelo corpo. Eu derreti sob o beijo dele, pois não podia negar que
eu o queria. Ele me beijou com uma paixão e uma intensidade que me surpreenderam e eu
retribuí. Por um momento, aquele beijo não era o suficiente. Era mútuo. Ele colocou os
braços em torno da minha cintura, apertando-me o suficiente para que eu pudesse sentir
sua excitação contra a coxa. A língua dele entrou na minha boca e eu a saboreei. Ele
segurou meu rosto com as mãos e me beijou nos lábios, no nariz, na testa. E as lágrimas
corriam pelo meu rosto.
— Por que você está chorando?
— Eu não sei.
— E você está tremendo.
Eu não disse nada.
— Diga-me.
Eu me virei de costas e limpei o rosto com as costas da mão. — Eu não quero me
machucar. Eu acho que você acabará me machucando.
— Fisicamente?
— Eu não sei. Talvez. Isso aconteceu antes. No mínimo, acho que você me machucará
emocionalmente. Não faço parte do seu mundo, Alex. Por que não procura alguém que
seja?
— Porque eu quero você.
— Você nem me conhece.
— Ao mandar Blackwell embora e ignorar os meus telefones nos últimos dez dias, você
disse tudo o que precisa dizer sobre quem é. Não está interessada no meu dinheiro, você
devolveu as joias e as roupas, mesmo sabendo que eram suas. Você poderia ter ganhado
uma fortuna com elas, mas não o fez. Encontrou um emprego e seguiu em frente. A
maioria das pessoas não teria feito isso porque a maioria delas tem algum objetivo quando
estou envolvido. Preciso lidar com isso todos os dias. Eu sei qual é a sua posição a meu
respeito. Sou grato por isso. Por favor, deixe-me levá-la em casa.
— Eu preciso pegar um táxi.
— Não há nenhum.
— Vai aparecer um.
— Jennifer. É só uma carona até em casa.
Mas não era. Quando entrei na parte de trás da limusine com ele, os lábios deles
estavam sobre os meus novamente. Ele me puxou para perto e me beijou de formas que
nenhum garoto de escola jamais fizera. Novamente, eu estava perdida no abraço dele.
E morrendo de medo.
CAPÍTULO 26
* * *
* * *
Quando ele me levou até em casa, vi quando olhou para o prédio e vi a preocupação no
rosto dele ao se virar para mim.
— Você está segura nesse lugar?
— Estou segura. E não ficaremos aqui por muito mais tempo. Já estamos procurando
um novo lugar para morar. Era isso o que podíamos pagar quando chegamos aqui.
— Onde é o seu apartamento?
— No quarto andar.
— Deve ser quente.
— Acabamos de comprar um ar-condicionado, então está razoável por enquanto. Antes
disso, meu cabelo ficou uma bagunça quente durante a maior parte do verão, então tem
razão. Foi úmido e quente de todas as formas erradas. Mas nós, do Maine, somos
resistentes. Mesmo em se tratando desse, uh, prédio em particular.
— Jennifer...
— Está tudo bem. Lisa e eu cuidamos uma da outra e não somos burras. Nós
protegemos uma à outra.
— Em quanto tempo vão se mudar?
— Assim que encontrarmos o lugar certo.
— Avise-me se precisar de ajuda.
— Farei isso. — Coloquei a mão no joelho dele. — Então acho que é isso.
— Por hoje.
— Por hoje.
— Obrigado por me escutar.
Eu me inclinei para a frente e beijei-o na boca. Os braços dele me envolveram e me
apertaram com força. De alguma forma, em algum momento durante a noite, com todas as
armadilhas, chegáramos àquele ponto. Como isso acontecera tão depressa? Como
chegáramos ali? Era assim que um relacionamento começava? Com pressa? Com essa
necessidade intensa de não nos afastarmos? Eu nunca estivera envolvida em nada
parecido, portanto, não sabia. Ele me beijou com mais força e eu soube menos ainda.
A voz dele estava baixa quando disse: — Eu queria que você fosse para casa comigo.
— Isso seria rápido demais.
— Mesmo assim.
— Mesmo assim — repeti. — Essa garota é cautelosa. Você provavelmente já notou
isso.
— Provavelmente sim.
— Obrigada por aparecer hoje à noite, Alex. Eu tinha descartado você e não foi fácil
para mim. Mas estou feliz por ter acontecido.
— A única coisa que eu queria era que você me ouvisse. O que aconteceu antes nunca
acontecerá de novo.
Será? Eu não sabia ao certo. Mas, naquele momento, eu estava gostando e precisava
saborear, não questionar, que era o que sempre fizera com os homens.
— O hambúrguer estava divino — disse eu. — Espero que tenha gostado das minhas
batatas.
— Você é inacreditável.
— Você procura um segundo sentido em tudo?
— Quando eles são óbvios assim? Claro que sim.
— Você precisa seriamente dormir um pouco — disse eu, beijando-o novamente. E de
novo. E talvez mais uma vez. — Vejo você em breve.
— Quando?
— Deixarei que julgue isso. — Com um beijo final que me dilacerou, pois ele
intencionalmente pressionou a língua contra a minha, saí da limusine, atravessei a rua
correndo, coloquei a chave na fechadura e entrei no prédio, onde eu sabia que Lisa estaria
acordada me esperando.
O que será que ela teria a me dizer agora?
CAPÍTULO 27
Quando entrei no apartamento, Lisa estava lá. O Kindle, como sempre, estava nas
mãos dela e um martíni frio, feito com a vodca boa que agora podíamos comprar, estava
sobre a mesa ao lado dela. Ela colocou o Kindle no colo quando entrei na cozinha. Retirei o
celular do bolso e coloquei-o sobre o balcão. E vi que ela olhava diretamente para mim.
Como eu sabia que aconteceria.
— Ora, ora — disse ela.
— Você tinha razão.
— Então me conte.
Sentei no sofá e contei a ela sobre a noite inteira. Contei sobre como o encontrara
inesperadamente na saída do db Bistro, como ele abrira o coração, sobre a morte da
esposa dele, sobre o jantar e sobre todos os beijos que aconteceram.
— Você mergulhou de cabeça, garota.
— Eu sei disso.
— Mas eu avisei que isso aconteceria.
— Não tirei você da cabeça a noite inteira.
— Eu também lhe disse que, em algum momento na vida, precisaria depositar a
confiança em alguém, mesmo que essa pessoa a tivesse magoado uma vez. Acontece.
Mas, algumas vezes, se seu instinto lhe diz que é a coisa certa a fazer, precisa perdoar
porque relacionamentos, às vezes mesmo no começo, são difíceis. Como ele agiu hoje à
noite?
— Ele não parou de pedir desculpas. Finalmente, precisei fazer com que parasse. Foi
genuíno. Eu e você conseguimos farejar uma mentira a quilômetros de distância.
— Bem colocado. Talvez eu use isso.
— Pode usar. É o mínimo que posso fazer.
Ela bebeu um gole do martíni.
— Nem todos os homens são iguais ao seu pai, Jennifer.
— Intelectualmente, eu sei disso. Emocionalmente, ainda preciso trabalhar muito para
aceitar isso.
— Quando você o verá novamente?
— Deixei que ele decida isso.
— Então, será amanhã?
— Amanhã é o meu dia de folga. Qualquer coisa pode acontecer. Acha que tomei a
decisão certa?
— Eu conheço você. Não teria feito isso se não achasse que é a opção certa. Ele deve
ser muito especial se conseguiu derrubar os seus muros.
— Se isso for adiante, em algum momento vou ter que contar a ele.
— O quê?
— Você sabe o quê.
— Não será fácil para você.
— Não, não será.
— Se e quando chegar o momento certo, você saberá.
— E há aquele outro esqueleto no armário.
— Ah, sim. Aquilo. Isso provavelmente surgirá em breve, se continuar como acho que
vai.
— Vou parecer uma idiota.
— É mesmo? Porque ele não vai achar isso. Vai olhar para você como se fosse uma
aluna nova.
Na cozinha, o celular soou.
— O príncipe encantado — disse Lisa. — Suponho que você responderá dessa vez?
— Foi uma mensagem. Espere um pouco.
Fui até a cozinha e li a mensagem em voz alta. — Se tiver algum dia livre nessa semana,
quer sair comigo uma noite? Tenho eventos aos quais devo comparecer todos os dias.
Caso contrário, será difícil escapar para ver você. Avise-me, ok? Talvez amanhã à noite?
Acho que você se divertiria bastante amanhã à noite. E não acho que eu possa esperar até
o meio da semana. A noite de hoje foi maravilhosa. Alex.
— Um encontro — disse Lisa. — Parece bacana.
— Não que eu tenha alguma coisa para vestir. Não tenho dinheiro para comprar o tipo
de vestido que precisaria usar em um desses eventos. Não há nada que eu possa fazer a
respeito.
— Então, diga a verdade a ele. Você não tem dinheiro, mas está livre amanhã à noite e
pode encontrá-lo depois do evento para tomar um drinque em algum lugar.
— Não é uma má ideia.
— Mande uma mensagem para ele.
Comecei a digitar e, quando terminei, li em voz alta para Lisa — Alex, preciso recusar
parcialmente. Não tenho dinheiro para comprar um vestido, sapatos e tudo o mais que
precisaria para qualquer tipo de evento. Pelo menos, ainda não, mas espero que possa em
breve. Mas eu adoraria encontrá-lo para um drinque depois. Avise-me. Também gostei da
noite de hoje. Jennifer.
— Nada mal — disse Lisa.
— Estou prestes a apertar o botão para enviar. Mais alguma coisa?
— Ele está esperando ao lado do telefone. Vejamos o que ele tem a dizer.
Enviei a mensagem e fui até a geladeira para pegar gelo e fazer um martíni. Eu
precisava de um. Peguei um copo no armário, fiz o drinque, coloquei um pouco de gelo e
enchi até a borda. Sem azeitona. Eu queria o espaço extra para a vodca. — A pessoa que
inventou o martíni está no céu uma hora dessas.
— E provavelmente sendo abraçada pelos anjos.
Enquanto bebia, o celular soou.
— Isso será interessante — disse Lisa.
Eu li a mensagem para mim mesma antes de lê-la em voz alta para Lisa. — Eu entendo.
Se quiser, peço à Blackwell que a pegue às 10 da manhã. Será divertido. Espero que diga
sim. Já estou com saudades. Um beijo. Alex.
— Ele está jogando um salva-vidas — disse Lisa.
— Não posso deixar que ele compre as coisas para mim. Não sou funcionária dele. Isso
está virando um relacionamento. Ele precisa me aceitar como sou ou não me aceitar.
— Você está falando sério? — perguntou ela.
— Sim, estou.
— Ora, vamos — disse ela. — Olhe, Jennifer, querida. Ouça-me por um momento, ok?
Pegue meu notebook, por favor. Quero lhe mostrar uma coisa que encontrei mais cedo.
Eu o entreguei a ela.
Ela o abriu, digitou alguma coisa e disse: — Venha cá, você precisa ver isso.
Eu parei atrás de Lisa e olhei por sobre o ombro dela. O que vi foi uma fotografia de
Alex. Não consegui ler direito naquela distância porque as letras eram muito pequenas,
mas vi que o site era da Forbes.
— Andei pesquisando alguns dias atrás. Você sabe, só para ver quem é esse cara. Eu
coloquei o nome dele no Google. Essa foi a primeira coisa que apareceu. Cliquei no artigo.
Entendi a história toda. Suponho que, depois de ler a manchete, você também tenha
entendido.
— Não consigo ler o texto, é muito pequeno daqui.
— Ele fala de cerca de três bilhões de dólares. Para ser exata, um pouco menos do que
isso. Esse é o legado que ele herdou quando os pais morreram. Mas ele está de parabéns
porque diz aqui que, depois da morte deles, quando ele assumiu o controle da Wenn,
conseguiu aumentar o valor do patrimônio em meio bilhão. Eu não me preocuparia se ele
pedisse à Blackwell que comprasse um vestido para você. Ou um colar bonito. De
verdade, não significa nada para ele.
— Não importa — disse eu. — Não me sinto confortável com isso. Podemos nos
encontrar para um drinque mais tarde. Está tudo bem.
— É mesmo? E quanto tempo você acha que isso durará? Porque preciso dizer a você,
Jennifer, que se, em algum momento, você realmente levar esse cara a sério, terá que
esquecer parte desse orgulho teimoso do Maine. Ele é da alta sociedade. É nisso que
você está se metendo. Se você virar namorada dele, o que está prestes a acontecer, pelo
que estou vendo, isso é uma extensão natural do que a função significa. Se não estiver
confortável com isso, termine tudo agora, porque haverá mais "encontros" como esse no
futuro. E eu realmente acho que ele quer dizer namorar no sentido tradicional. Ele quer
ficar com você. Que droga, ele está tentando achar todas as formas possíveis para estar
com você. Se quiser explorar um relacionamento com ele, precisará achar um meio termo.
Eu respirei fundo e olhei para o celular. Já estou com saudades estava na tela. E eu já
estou com saudades, pensei. Olhei para Lisa. — Você sabe que isso não é fácil para
pessoas como nós.
— Eu entendo. Mas também sei que você terá que ceder um pouco.
— Está bem. — Eu digitei a mensagem. — Eis o que eu escrevi: "Parece bom. Eu a
encontrarei às dez. E mal posso esperar para ver você. Jennifer".
— Parece perfeito.
— Quando nos encontrarmos amanhã à noite...
— Espero muito que não diga "devolverei tudo amanhã". Você vai dizer "obrigada pelo
vestido, Alex, adorei" e dar um beijo nele. Você vai deixá-lo feliz e continuar com a noite. E,
pelo amor de Deus, aproveite a noite. Divirta-se com ele. Você trabalha a semana inteira e
talvez não possam se encontrar novamente até que tenha outra folga. Aproveite amanhã
ao máximo.
O celular soou novamente. Li a mensagem dele: "Eu sei que isso não foi fácil para você,
Jennifer, mas fico feliz que tenha concordado. Lembre-se de que me levará para jantar em
breve e tenho um apetite enorme. Então estamos quites. Vejo você às oito. Blackwell lhe
dirá tudo amanhã. Um beijo. Alex."
Quando eu a li em voz alta para Lisa, ela ergueu a mão. — Espere um minuto. Ele vai
roubar uma das minhas noites?
— Todos precisamos ceder um pouco...
— Estou brincando. E, na verdade, adorei o que ele escreveu. Ele entende. E está
sendo sensível sobre a situação toda. Você não pode pedir mais do que isso. Está dando
a ele o que pode e ele está dando a você o que pode. Vocês estão no mesmo pé. — Ela
pegou o martíni e ergueu o copo na minha direção. — Um brinde, Jennifer. Agora, vá e
durma o sono da beleza. A infame da Blackwell chegará às dez.
CAPÍTULO 28
* * *
* * *
Mais tarde, depois de sairmos da Bergdorf, fomos à Van Cleef & Arpels, na Quinta, e
Blackwell, que, pelo jeito, já conversara com um dos gerentes, apresentou-me a ele.
— Esse é Christopher — disse ela. — Christopher, essa é Jennifer Kent. Estamos
apresentados? Ótimo, porque estamos sem tempo. Você encontrou algo parecido com o
que eu tinha em mente? — perguntou ela.
— Sim, encontrei. Escolhi algumas peças especiais. Peças dos anos vinte.
— Você é bom demais. Tão inteligente. Mostre-nos.
Em uma sala privada na parte de trás da loja, ele nos mostrou uma pulseira que me
deixou sem fôlego. Era uma pulseira fina, com desenho simples e painéis geométricos,
indicativos do período art déco. Os diamantes e as safiras que os cobriam eram
incrustados em platina.
— Experimente — disse Blackwell.
Eu estendi o braço e Christopher prendeu a pulseira em torno do pulso. Antes que eu
pudesse admirá-lo, Blackwell pegou meu braço e o virou. Os olhos dela se viraram para
Christopher.
— Você precisará tirar dois elos — disse ela. — Fora isso, é fantástico. Jennifer, o que
acha?
— É lindo.
Ela se virou para Christopher. — Você tem brincos que fazem par com a pulseira?
Ele tinha. Eu os experimentei. Eram gotas de safira grandes com diamantes pequenos e
delicados também incrustados em platina. Blackwell segurou meu queixo, avaliou os
brincos, aprovou-os e comprou-os. Em uma nuvem de descrença, eu assisti quando ela
soprou uma nuvem de beijos para Christopher. Em seguida, eu a segui para fora do prédio
até a calçada. Ela me levou até a limusine que nos aguardava e entramos.
— Sucesso — disse ela.
— Não sei como você consegue.
— Eu adoro moda. Vivo completamente para ela. Até agora, hoje foi como um feriado
para mim. Obrigada.
Eu não sabia o que dizer. Ser tratada daquela forma era estranho.
— Você provavelmente está com fome — disse ela. — E eu também, apesar de a
simples ideia de comer me irritar. Ninguém deveria precisar comer, nunca. Mas acho que
precisamos, não é? É claro que sim. Caso contrário, teremos uma aparência medonha no
caixão, o que não pode acontecer de jeito nenhum, a não ser que sejamos cremadas. Eis
algo a considerar. Assim, ninguém saberá. Hmmm. Mas estou me adiantando demais.
Salada? Algo leve? Temos tempo.
— Claro — disse eu.
— Sugiro uma salada para você. Muito verde. Depois de uma hora ou duas, seu corpo
estará totalmente limpo. Você me agradecerá mais tarde.
— Spanx não serve justamente para isso?
— Mas não faz milagres, Jennifer. Acredite em mim. Estamos falando sobre purificação
total do corpo. Vamos. Vamos nos livrar do que está dentro de você.
Eu olhei para ela e meu rosto ficou quente.
* * *
* * *
Mais tarde, depois das compras e da sala, eu realmente senti uma reviravolta
gastrointestinal e corri para o banheiro. Como Blackwell conhecia esses segredos?
Quando estava tudo terminado, meu abdômen parecia menor do que em meses. Bônus!
Quando voltei ao escritório dela, ela me avaliou com o olhar. — Viu? — disse ela. —
Olhe só para você. Sem barriga.
— Como você sabe disso tudo?
— Eu só sei.
— Mas como?
— Quando a mãe de Alex era viva, éramos muito amigas e é provavelmente por isso
que Alex me considera como família. Eu estava sempre por perto cuidando dele porque
sabia que Constante era distraída. De qualquer forma, fazíamos tudo juntas, incluindo todo
tipo de dieta maluca que aparecia. A única coisa que sempre funcionava eram os verdes.
Fazíamos uma purificação uma vez por mês e perdíamos mais de dois quilos. Funciona,
simples assim.
— Como era a mãe dele?
— Essa é uma pergunta complicada.
— Por quê?
— Porque Constance era Constance. Ela era difícil. Naturalmente, eu a amava por isso.
Éramos um