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LEITURA E CIDADANIA: FORMAÇÃO DO LEITOR PELA

ESCOLA

Emilio Davi Sampaio


Iris Genaro Borges1

RESUMO: Desde a Antiguidade os livros são vistos pela sociedade como fonte de
conhecimento, pois neles estão registradas todas as informações obtidas no decorrer
dos séculos. A leitura é a chave para o acesso dessa fonte do saber, que possibilita o
crescimento pessoal e profissional do bom leitor. Sendo assim, este artigo pretende
discutir questões voltadas ao ensino, ao hábito e à importância social da leitura. Seu
principal objetivo é conhecer o processo de formação do leitor, os motivos que levam
alunos a desistência dessa atividade, e a diferença entre a leitura espontânea, feita
pelo prazer e a movida pela necessidade de se aperfeiçoar no seu campo de trabalho.
A leitura, por ser passada de geração a geração, está profundamente enraizada na
sociedade moderna, por ser de caráter transformador, aqueles que a buscam com
empenho e interesse conseguem vários benefícios, como o desenvolvimento das
aptidões intelectuais, conhecimento cultural, melhora na produção escrita, além de
transformar o indivíduo em cidadão crítico.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura, ensino, educação

ABSTRACT: Since ancient times books have been noticed by society as a source of
knowledge, for in them, there have been registered all the information gotten
throughout history. Reading is the key to access this source of Knowledge, what is
responsible to the reader personal and professional growth. So, this article intends to
discuss the questions on teaching, habits and reading social importance. Its mains
objective is to know the reader formation process, the reasons that lead students to
give it up and the difference between spontaneous reading, done for pleasure and the
other triggered by necessity to enhance job activities. Reading, for being passed
through generation to generation, is deeply rooted in the modern society. Reading has
got a changing and challenging characteristic and those who dedicate seriously to it
benefit themselves, getting intellectual and cultural development, enhancement in
writing production, let alone the changes as critical citizenship.

KEY-WORDS: reading, teaching, education

1.Estratégias e ensino da Leitura



Msc. em Educação pela UFSCar. Docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação Lato Sensu em Letras
da UEMS.
1
Graduada em letras pela UEMS.
Há muito um debate vem sendo travado em nossa sociedade, chamado
“Crise da leitura”, pois no atual momento acredita-se que a leitura não
tem mais espaço reservado na vida das pessoas, principalmente na das
crianças e jovens. Pode-se dizer que esse fato acontece pela falta de
incentivo à leitura, por parte da família e dos educadores, vítimas do
mesmo sistema? Esta é, sem dúvida, uma das mais contundentes
perguntas no momento.

O progresso tecnológico vem colocando as pessoas em um acelerado


ritmo, pois vê-se que as informações e o conhecimento de hoje não
serão suficientes amanhã e a leitura passa de privilégio para obrigação.
O que ocorre é que a grande massa da população não tem acesso aos
livros, literários ou não, e isso faz com que a leitura seja um privilégio
de poucos.

A leitura é uma ponte entre o conhecimento sistematizado e o mundo


real. O livro, por ser a fonte de conhecimento, é um instrumento de
combate à ignorância e à alienação, pois através dos textos os homens
expõem os visíveis problemas sociais, enfrentados por seus
semelhantes no dia-a-dia.

É importante observar que a leitura pode, muitas vezes, estar sujeita às


regras e conveniências sociais, que visam o domínio de uma classe
social sobre outra, usando o analfabetismo funcional como uma arma
opressora.

O analfabetismo funcional refere-se às pessoas que são alfabetizadas,


sabem ler e escrever, porém esse conhecimento se resume em leitura
cotidiana, como por exemplo, para se localizar com os nomes de ruas,
ônibus, lojas, supermercado, e leitura de textos curtos e simples. O
conhecimento dessas pessoas, neste caso, é superficial, pois não
conseguem buscar, em texto de nível médio, um significado mais
profundo. Foucambert (1994, p.118) caracteriza o analfabetismo e o
iletrismo da seguinte forma:

O analfabetismo caracteriza-se pela impossibilidade de


compreender ou de produzir uma mensagem escrita simples
[...] O analfabetismo funcional refere-se à mesma
impossibilidade, porém envolve pessoas com vários anos de
escolaridade que dominaram essas técnicas de
correspondências grafo-fonética num certo período de sua vida,
mas que perderam esse domínio por falta de uso e de
exercícios com elas. [...] O iletrismo se caracteriza pelo
afastamento em relação às redes de comunicação escrita, pela
falta de familiaridade com livros e jornais, pela exclusão do
indivíduo das preocupações e respostas contidas na elaboração
da coisa escrita.
Neste contexto, o analfabetismo funcional é visto como parte do
iletrismo, ou melhor, como resultado do mesmo. Ao deixar a leitura de
aprofundamento para trás o leitor passa apenas a fazer uma leitura
superficial e desinteressante, pois não se envolve com o texto buscando
mais compreensão e conhecimento.

A leitura acompanha o poder, pois ela transforma o leitor, e ele o


mundo a sua volta, através da busca pelo conhecimento, e sua
aplicação traz somente benefícios para os seres envolvidos. Foucambert
(1994, p.121) afirma que: “A defasagem entre leitores e não-leitores
reproduz a divisão social entre o poder e a exclusão, entre as classes
dominantes e os que são apenas executores.” Na busca pelo poder
aquisitivo, o homem precisa se aperfeiçoar cada vez mais na sua área
de trabalho e o maior e mais eficaz meio de consegui-lo é a leitura.

Apesar de ser muito importante para a sociedade, o ensino da leitura


vem sendo trabalhado de forma casual, formando analfabetos
funcionais. Segundo Silva e Zilberman (1998, p.79):

[...] a escola não está vencendo o desafio de alfabetizar


funcionalmente a parcela da população que consegue chegar a
ela. [...] embora se tenha conseguido nos últimos anos um
aumento substancial na taxa de escolarização, a escolarização
por si só não está dando uma contribuição decisiva à solução do
problema.

A melhor solução para o problema é, para Silva e Zilberman (1998,


p.81) “[...] a maneira de aprender a ler funcionalmente é ler.” Isto é,
manter o aluno dentro e fora da sala de aula em contato com a leitura.
Isso não quer dizer que seja a realização de uma leitura didática e
obrigatória, mas uma leitura interessante e envolvente, que desperte o
prazer do aluno pela leitura.

O bom leitor é aquele que relaciona o conteúdo do texto com a


realidade que o cerca, fazendo críticas, concordando ou discordando de
idéias e opiniões, elaborando hipóteses e questionando seu meio social.
Segundo Silva (1995, p.47) “[...] a leitura enriquece ou empobrece,
dinamiza ou paralisa, dirige ou desvia, conscientiza ou serve para
alienar as ações relacionadas com a formação de leitores.” Sendo
assim, o livro pode ou não abrir novos horizontes ao bom leitor.

As crianças, ao serem alfabetizadas, reproduzem o som que ouvem


para escrever, ou seja, escrevem da forma como ouvem. Quanto maior
seu contato com materiais escritos, maior sua bagagem de
conhecimento. Ler histórias, fazer bilhetes e anotações, dá às crianças o
incentivo que elas precisam para ler qualquer coisa escrita, como por
exemplo: livros, jornais, anúncios. Ao serem alfabetizadas, é
fundamental que explorem o universo de significados contidos nos
textos. Solé (1998, p.60) afirma que:

As crianças só podem aprender porque as correspondências


entre o som e a letra lhe são transmitidas [...] a criança pode
se beneficiar tanto do contexto de uma frase conhecida para
descobrir o significado de uma palavra nova inserida na
mesma, como de uma experiência em correspondência.

Cabe ao professor oferecer aos alunos amplas perspectivas, estratégias


e caminhos, para que eles possam entrar em contato com o sistema da
língua escrita e seus significados, e também com variados textos.

O professor deve permitir que os alunos planejem a própria leitura, e


sempre pedir que comentem os textos lidos, de forma que possam
controlar suas leituras, indicando um caminho de motivações e
objetivos. Deve deixar que os alunos julguem a parte mais importante
no texto lido. Os educadores devem compartilhar os mais amplos e
complexos significados que compõem o texto, exercendo o papel de
guia. Segundo Solé (1998, p.75) o educador: “[...] deve garantir o elo
entre a construção que o aluno pretende realizar e as construções
socialmente estabelecidas.”. Ao servir de guia, os professores permitem
que os alunos construam e assumam a responsabilidade do próprio
desenvolvimento.

Parafraseando Solé (1998), o melhor meio de fazer com que os alunos


assumam a responsabilidade do próprio desenvolvimento é o professor
dividir o ensino em três etapas: Na primeira etapa os professores são os
modelos, esses modelos permitem aos alunos compreenderem os
textos, os exemplos, hipóteses e mecanismos que os compõem,
expondo aos alunos os procedimentos utilizados na compreensão
textual. Na segunda etapa, começa a participação do aluno, embora
dirigida pelo professor, que formula perguntas, sugere hipóteses e
transmite as próprias opiniões e conclusões. Aos poucos, o professor vai
transferindo a responsabilidade de compreender o texto para os alunos,
incentivando-os a seguirem em frente com as próprias idéias, opiniões e
conclusões sobre o texto discutido.

Já na terceira etapa, os alunos passam a realizar sozinhos, as tarefas


que antes eram orientadas pelo professor. Eles buscam exemplos que
confirmam ou negam suas idéias, pensamento e conclusões a respeito
do tema. Mas o método mais usado no ensino de leitura é o método
direto ou ensino direto, em que ele explica e desenvolve o exercício em
questão, sendo totalmente encarregado do ensino, não permitindo que
os alunos busquem a leitura para a compreensão e interpretação.
Para ensinar os alunos a compreender o texto, o professor deve
reconhecer os objetivos do ensino da leitura e ser capaz de expor aos
alunos. O ensino é construído em cima de livros de texto, realizado em
grupos, grandes ou pequenos. O professor que está bem preparado
deve ser capaz de prever e compreender o aluno, apontando, corrigindo
e explicando os erros e as dúvidas dos alunos.

Existem discussões sobre a eficácia desse método, porém esse modo de


ensino é um dos métodos que mais se preocupa com a necessidade de
ensinar os alunos a ler. Pois, na sala de aula o aluno é passivo, ele
simplesmente responde ao entusiasmo do professor, fazendo o que ele
pede, ou seja, o aluno só corresponde ao método direto se o professor
dirigir o ensino diretamente a ele. Assim, o modelo proposto se torna
recíproco, o aluno passa a assumir um papel ativo dentro do ensino,
onde formula perguntas, esclarece dúvidas e resume o texto, depois
expõe suas dúvidas e conclusões ao grupo, assim, um ajuda o outro,
trocando opiniões. Para Silva (1995, p.103): “[...] o ensino da leitura
significa estabelecer as funções que ela deve cumprir na escola e na
sociedade [...] nenhum tipo de ensino é politicamente neutro.”

As diferenças sociais estão presentes nas escolas, influenciando, com


sua variável história de vida, a leitura e sua interpretação, pois um
texto sempre está relacionado a um contexto e a leitura, quando crítica,
remete o leitor a um mundo de percepções, conhecimentos e análises.
Fica ao encargo do professor partilhar experiências de mundo com os
alunos, incluindo toda a bagagem de conhecimento adquirida no
decorrer dos anos.

Segundo Kleiman (2002, p.30):

[...] o contexto escolar não favorece a delineação de objetivos


específicos em relação a essa atividade. Nele a atividade de
leitura é difusa e confusa, muitas vezes se constituindo apenas
em um pretexto para cópias, resumos, análise sintática, e
outras tarefas do ensino da língua. Assim, encontramos o
paradoxo que, enquanto fora da escola o estudante é
perfeitamente capaz de planejar as ações que o levarão a um
objetivo pré-determinado (por exemplo, elogiar alguém para
conseguir um favor) quando se trata de leitura, de interação à
distância através do texto, na maioria das vezes esse
estudante começa a ler sem ter idéia de onde quer chegar, e,
portanto, a questão de como irá chegar lá... nem sequer
supõe.

Especialistas em leitura afirmam que não há processo de compreensão


e sim processos de leitura e que estes processos de leitura são tantos
quantos forem os objetivos e as motivações do leitor. Afirmam também
que a forma e o tipo de texto determinam os objetivos da leitura. É a
partir dos objetivos da leitura que se permite ao aluno controlar e
regular o próprio conhecimento, esse processo é chamado “estratégia
metacognitiva”.

Por controlar o próprio conhecimento o aluno só aprende o que lhe


interessa, Kleiman (2002, p.35) afirma que “[...] a leitura desmotivada
não conduz à aprendizagem.”, pois o texto lido apenas como atividade
mecânica é esquecido rapidamente, é através do texto que o educador
passa ao aluno, que ele vai estabelecer e desenvolver suas estratégias
metacognitivas, ou seja, se o texto tratar de um tema que é de
interesse do aluno, este procura aprofundar seu conhecimento porque
estará fazendo algo prazeroso.

Os objetivos que motivam o aluno a ler e compreender o texto trazem


outra situação: a formulação de hipóteses, pois o aluno terá dúvidas e
elaborará hipóteses sobre o assunto e a estrutura do texto, de forma
que consegue alcançar novos horizontes, visando os amplos significados
presentes no texto. Assim, sempre estará construindo novos
conhecimentos para ele e para sua vida em sociedade.

2.O hábito como fator motivador da leitura

Cabe ao educador desenvolver nos alunos o interesse e o hábito pela


leitura, adotando obras de ficção e não ficção no decorrer do ano letivo,
de uma forma que eles possam ver a ligação de um assunto com outro,
mostrando algo do interesse comum deles, pois o maior contato com os
livros vem da escola. Para manter aceso o hábito da leitura, segundo
Bamberger (2002, p.20):

[...] precisamos ir além das necessidades e interesses das


várias fases de desenvolvimento e motivar a criança a ir
ajustando o conteúdo de suas leituras à medida que suas
necessidades intelectuais e condições ambientais forem
mudando. É preciso fazer da leitura um hábito determinado por
motivos permanentes, e não por inclinações mutáveis.

Para que haja entusiasmo por parte dos alunos, o professor também
precisa ser um leitor entusiasta, possuir conhecimento de várias opções
de leitura e ter um bom relacionamento com os alunos, de forma que
possa orientá-los pelo mágico caminho da leitura.

Estudos realizados com jovens leitores vêm mostrando que muitas


crianças não leem por terem dificuldade de saber ler, de compreender e
de analisar textos. Já os alunos que gostam dessa atividade têm maior
concentração e assimilam com maior rapidez o conteúdo. O fato de ler
mal leva o aluno a buscar outro passatempo, perdendo o interesse pela
educação. E cabe ao professor motivar esse aluno a ler. Bamberger
(2002, p.31), sobre isso aponta o seguinte: “[...] o que leva o jovem
leitor a ler não é o reconhecimento da importância da leitura, e sim
várias motivações e interesses que correspondem à sua personalidade e
ao seu desenvolvimento intelectual”.

Pesquisas vêm concluindo que são as motivações que levam as crianças


a praticarem o hábito de leitura. O ato de ler, por sua vez, impulsiona
as aptidões intelectuais, como o pensamento e a fantasia, a expansão
do “eu”, o prazer de encontrar um mundo de fantasias e descobrir
coisas novas e praticar uma habilidade recém adquirida.

Os pais também devem incentivar nas crianças o hábito de ler. Como?


Lendo em voz alta, contando histórias e mostrando figuras a elas,
criando, dessa maneira, um ambiente que as conduzem ao interesse
pela leitura. É preciso incentivar e acompanhar suas leituras, evitando a
leitura mecânica, muito comum nas escolas, onde os professores fazem
da leitura um exercício, uma atividade, obrigando seus alunos a ler.
Muitos professores mandam cada criança ler um parágrafo e corrigem
cada letra pronunciada errada. Essa atitude não melhora em nada o
processo de aquisição do hábito de ler.

Outro fator que leva alunos à desistência da leitura é, segundo Silva


(1995, p.105), “[...] o vendaval de apostilas, que geralmente retalha a
totalidade de uma ou mais obras e afasta os alunos das bibliotecas”,
pois a leitura do aluno estará monitorada e sua importância será apenas
o número de livros lidos, desviando sua atenção do objetivo mais
importante no ensino da leitura: a compreensão crítica.

Porém, para alcançar esse objetivo os pais e professores devem dar


exemplos às crianças. No início da alfabetização devem incentivar as
crianças a ler pequenos livros com vários desenhos e grandes letras,
pois, segundo Bamberger (2002, p.50): “A criança entra em contato
com a linguagem das gravuras antes da linguagem das letras. Uma vez
que ela já aprendeu a entender o significado das figuras, é necessário
que o material de leitura inicial as contenha em grande número.” Se a
narrativa contém várias figuras e pequenas frases as crianças
compreenderão o texto com maior facilidade.

Conforme o desenvolvimento das crianças, a configuração do livro muda


seus espaçamentos, gravuras e as letras diminuem. É importante que
um adulto esteja acompanhando a leitura das crianças, fazendo-os
debater suas opiniões e idéias sobre o assunto lido.

Com o amadurecimento do leitor seu gosto pela leitura transforma-se.


Bamberger (2002, p.35), diz que “As motivações para a leitura e os
interesses por ela diferem não só para os vários grupos de idade, mas
também para cada tipo particular de leitor.”. O autor afirma que o gosto
pela leitura e seu gênero é influenciado pela idade, meio social e
interesse pessoal. O interesse pessoal pode variar entre quatro tipos de
leitura: informativa, escapista, literária e cognitiva. Também aumenta a
exigência pela leitura independente, proporcionando melhora na
habilidade de leitura, de forma que, progressivamente, os alunos se
familiarizem com a literatura e venham a adquirir o hábito de ler e
também possam utilizar essa habilidade para conseguir acesso a novos
conteúdos.

Nesse sentido, cabe aos professores introduzirem a leitura aos alunos


para que estes venham a praticar o ato de ler com prazer. Os
educadores devem dar a eles chance de entrar em contato com uma
diversidade de textos e deixá-los captar as primeiras emoções e ideias
do texto. Para esse tipo de exercício as bibliotecas escolares e públicas
se tornam importantes, pois elas possuem variados gêneros literários
que os alunos precisam para satisfazerem seus interesses pessoais.

É importante que os alunos se sintam à vontade entre os livros e após a


leitura cabe aos educadores estimulá-los a compartilhar as emoções e
ideias que a leitura lhes despertou. Se a leitura envolve compreensão, o
leitor se aproxima do mundo significativo do autor, que lhe oferece
novas perspectivas e opiniões. A leitura contribui para a cultura do
indivíduo, seja a leitura realizada por obrigação ou por interesse
pessoal.

Na leitura feita com o intuito de buscar conhecimento o importante é a


experiência emocional e os critérios elaborados com o objetivo de
analisar e criticar a obra lida, não importando se o leitor esteja ou não
lendo por obrigação ou prazer. Quando se lê para aprender o aluno
passa a se interrogar sobre o assunto em questão, estabelecendo
relações com o que sabia e as informações recém adquiridas, faz
anotações e procura tirar dúvidas, levando-o, assim, a outros
significados não presentes no texto.

Outro beneficio que a leitura traz é referente a escrita, quanto mais se


lê, melhor se escreve, pois o aluno adquire base para apoiar suas idéias
e desenvolvê-las, também a leitura dos próprios escritos faz com que os
alunos se tornem críticos. O erro na redação leva-os a escreverem com
maior perfeição, juntando o conhecimento antigo e o adquirido com a
nova leitura.

3.A biblioteca: um espaço necessário

As bibliotecas têm sido, desde a Antiguidade, um local reservado a


intelectualidade, o centro do conhecimento humano. Elas funcionam
como guardiãs do saber, onde o ser humano busca conhecimento e
informação. Milanesi (1983, p.22) afirma que:

A informação tornou-se um bem acumulável e valorável. “Um


homem informado vale por dois.” Saber e poder passaram a
ter uma trajetória claramente paralela. Do profissional
especializado ao cidadão comum, a necessidade de informar-se
caracterizou-se como algo prioritário. A biblioteca passou a ser
o território mais adequado a esse exercício determinado pelas
transformações sociais: o desenvolvimento industrial, a
competição acirrada em todos os setores, notadamente no
científico-tecnológico (em particular durante as guerras). A
partir disso, a informação foi vista como um elemento
estratégico para a segurança e o desenvolvimento.

No Brasil colônia, os livros que vinham de Portugal tinham duas funções


definidas: religiosa e educativa, e todos eram passados por censuras.
Segundo Milanesi (1983, p.26) “Os portugueses foram sempre rigorosos
com a publicação e circulação de impressos. Desde 1533, qualquer
impressão de livro passava por três censuras: Santo Ofício e Ordinário
(da Igreja Católica) e o Desembargo do Paço (poder civil).” Por ser
proibida a impressão de livros no Brasil, eles eram importados e a
maioria pertencia aos conventos.

Para Milanesi (1983, p.28): “[...] a maior transformação que a Colônia


sofreu foi a vinda de D. João VI em 1808.” Pois o rei trouxe de Portugal
sua biblioteca com 60 mil volumes e a tipografia, que começa a
funcionar, mesmo sob a vigilância da censura.

Após a independência, aconteceram algumas importantes mudanças,


como a fundação de jornais, livros, folhetos, escolas, divulgações de
novas idéias, principalmente na literatura, além da criação de novas
bibliotecas públicas. Infelizmente, o nível de analfabetos no Brasil era
enorme, como diz Milanesi (1983, p.31): “No começo do século XX, o
índice de alfabetizados não chegava a 30%.”, e como a população não
podia acompanhar o desenvolvimento da imprensa, várias atividades
ligadas à leitura não sobreviveram.

Com o surgimento do rádio e da televisão, por volta de 1920, a


população se afasta ainda mais das publicações escritas, pois para
assistir televisão e ouvir rádio não precisa de concentração ou
habilidade de leitura. Com os novos meios de comunicação, a função do
livro sofreu uma alteração, Milanesi (1983, p. 35), afirma que:

[...] a própria função do livro mudou: de lazer e instrução ele


passou a instrumento quase exclusivo para os trabalhos
escolares, as chamadas “pesquisas”, uma atividade meramente
prática, rotineira. A função do prazer diminuiu, bem como o
papel, a ideia do apostólico ligada à leitura.

Com isso, várias mudanças acontecem e as bibliotecas deixam de


exercer a função de aprimorar e estimular a vida cultural dos cidadãos
para acompanharem a nova função do livro, transformando-se em um
ambiente de pesquisa e estudo.

O aluno que tinha condição social média mantinha esses livros para
pesquisa em casa, então deixava de freqüentar a biblioteca, que passa
a prestar serviço a alunos carentes. As bibliotecas públicas são
responsabilidade do município a qual pertence, e o acervo, em vários
casos, reflete a falta de interesse pela leitura, acompanhando somente
as publicações de pesquisas e obras de cunho comercial. Milanesi
(1983, p.63), acrescenta: “Biblioteca pública é sinônimo de museu de
livros por mostrar coleção morta.” Este é o mal das bibliotecas, tanto as
municipais quanto as das escolas públicas, pois elas se esqueceram de
sua outra função, especificamente, as públicas. Milanesi (1983, p.92)
aponta que: “As bibliotecas, passando a atender aos estudantes em
estado de pesquisa, deixou de lado esse papel básico: prestação de
serviços à coletividade no âmbito do interesse geral.”

Atualmente, percebe-se que esta realidade ainda permanece em grande


parte do país. O mal das bibliotecas tem início nas escolas, que não
tem biblioteca, e quando tem é ineficiente. Os alunos começam a ter
aversão pela leitura desde os anos iniciais, quando, a eles são impostas
tarefas e obrigações maçantes e desinteressantes, então uma vez
adquirida essa aversão, ela o acompanhará por toda a vida. Essa
problemática faz parte de um círculo vicioso, onde o desprezo pela
leitura passa, como uma herança, de geração a geração. Observa-se
que os alunos não se sentem à vontade em uma biblioteca, cercados
pelo silêncio e pelos livros, normalmente os poucos existentes.

Considerações finais

A importância da leitura não se limita apenas em um prazeroso ato e


nos estudos, ela vai além, pois sua presença está em todos os lugares,
principalmente nas escolas, bibliotecas, empregos e centros urbanos,
até mesmo para localização de algo como uma rua, um restaurante.

No Brasil, a leitura dá os primeiros passos com a vinda da Família Real


que foge de Napoleão e da guerra na Europa. Ao se instalar no Rio de
Janeiro ordena a construção de escolas e uma tipografia. Lentamente a
leitura vai se “popularizando”, o comércio de livros cresce muito, porém
a população letrada é pequena.

A leitura atinge o auge no século XX quando livros e bibliotecas eram


encontrados em vários os lugares. Mesmo com toda a produção,
discussão e divulgação da leitura, ela não atingiu a massa brasileira,
pois muitos não freqüentavam escolas. Então, surgem o rádio e a
televisão, que, por sua simplicidade em ver e ouvir afasta a grande
população do ato de ler.

Pode-se dizer, referindo-se a leitura prazerosa, que a sociedade pouco


lê. As escolas ainda trabalham a leitura de forma mecânica,
contribuindo para a formação de analfabetos funcionais, ou seja,
pessoas capazes de ler, mas com dificuldade para compreender.

Constata-se que o Brasil ainda não amadureceu no processo de


formação de leitores. Falta hábito, incentivo e bibliotecas. Fato
compreendido quando se busca o contexto histórico da alfabetização do
país. Sendo fácil compreender o motivo da “Crise de leitura”. Por
sermos vítimas de uma sociedade que despreza a leitura prazerosa
pode-se dizer que a leitura tornou-se, de privilégio uma obrigação, pois
o ato de ler é exercido somente pela procura em crescer socialmente.

Para mudar esse fato é preciso, portanto, que todos, desde a escola, a
família e a comunidade em geral se lancem juntos num projeto que
possam formar novos e bons leitores. Com certeza assim sendo,
teremos uma sociedade diferente, pautada nos valores humanos que a
leitura pode oferecer.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Ática, 2002.

CAVALLO, G. CHARTIER, R. História da leitura no mundo ocidental.


São Paulo: Editora Ática, 1998.

FOUCAMBERT, J. A Leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas,


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KLEIMAN, A. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas,


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