O documento discute a política externa do Brasil após o golpe militar de 1964. A política externa independente do governo Goulart foi substituída por uma política alinhada aos Estados Unidos, com o governo Castelo Branco rompendo relações com Cuba e apoiando a intervenção americana na República Dominicana, contrariando os princípios anteriores de não intervenção. A política externa passou a ser definida por interesses econômicos dependentes do capital estrangeiro e uma "interdependência" com os EUA como líder do mundo livre
O documento discute a política externa do Brasil após o golpe militar de 1964. A política externa independente do governo Goulart foi substituída por uma política alinhada aos Estados Unidos, com o governo Castelo Branco rompendo relações com Cuba e apoiando a intervenção americana na República Dominicana, contrariando os princípios anteriores de não intervenção. A política externa passou a ser definida por interesses econômicos dependentes do capital estrangeiro e uma "interdependência" com os EUA como líder do mundo livre
O documento discute a política externa do Brasil após o golpe militar de 1964. A política externa independente do governo Goulart foi substituída por uma política alinhada aos Estados Unidos, com o governo Castelo Branco rompendo relações com Cuba e apoiando a intervenção americana na República Dominicana, contrariando os princípios anteriores de não intervenção. A política externa passou a ser definida por interesses econômicos dependentes do capital estrangeiro e uma "interdependência" com os EUA como líder do mundo livre
2018 Segundo San Tiago Dantas, entende-se que a Política Externa Independente, iniciada no governo Jânio Quadros e tendo continuidade no governo de João Goulart, não foi planejada a priori, não estava nos planos de governo para ser implementada. Na verdade, foi reflexo de um momento no qual o Brasil aspirava realizar seus desejos nacionais, seu desenvolvimento e emancipação econômica. Ao mesmo tempo, reflexo do contexto internacional, que dividia o mundo em dois blocos antagônicos. O Brasil, dentro desse contexto, desejava conciliar o regime democrático com reformas sociais. O autor divide a Política Exterior Independente em dois momentos: este, a priori, que inspirou a tomada de decisões baseadas nos fatos acima citados; e o momento posterior a esses fatos, que resultou no sistema que baseou toda a lógica da Política Externa Independente e foi ordenado, segundo o autor, em torno de cinco pontos, baseados nos planos de governo de João Goulart. Primeiramente, na preservação da paz e no desenvolvimento econômico. Dentre os fatores que representaram essa atitude, está o reatamento de relações diplomáticas com a União Soviética, que tinha razões econômicas, como a necessidade de ampliação do mercado brasileiro devido ao crescente aumento demográfico da população. E razões políticas, com a defesa da coexistência se contrapondo ao isolamento, que colocaria os dois campos políticos – socialista e democrático – em competição. Isso acabaria por ser benéfico as próprias democracias, que defendem as liberdades políticas e, portanto, seria um incentivo às reformas sociais; Além disso, a coexistência também estava presente na posição brasileira contrária ao isolamento de Cuba e à sua expulsão da OEA e à sua presença e apoio na Conferência do Desarmamento em Genebra, aparecendo como nação não- alinhada, afirmando, assim, sua posição de independência. Segundo, na defesa dos princípios de não-intervenção e autodeterminação dos povos. Uma das constantes do novo governo era a posição de apoio constante a Organização dos Estados Americanos – OEA, que era o instrumento da não- intervenção. Defendendo que as nações cumpram seus processos históricos nacionais, sem pressões externas e imposições de limites à elas. O Brasil foi defensor da não-intervenção nos negócios internos de Cuba, defendendo que as causas de sua revolução tinham origem no seu subdesenvolvimento econômico e nas desigualdades sociais. Portanto, as atenções precisavam se concentrar na correção desses problemas para haver, assim, uma evolução plena para a democracia, dependendo da autodeterminação do povo cubano. Terceiro, na ampliação do mercado externo brasileiro, que se concentrou, principalmente, na intensificação comercial com a América Latina e com os países socialistas, mas sem desprezar o comércio com os Estados Unidos e a Europa Ocidental. A conquista de novos mercados era crucial devido à crescente expansão demográfica no Brasil, na qual, para conseguir importar mais, era necessário aumentar as exportações. Com relação aos países latino-americanos, “o governo deposita confiança no estabelecimento de uma Zona de Livre Comércio na América Latina e sob a orientação da Associação Latino-americana de Livre Comércio (Alalc)” (DANTAS, 2006, pg. 125) reduzindo, assim, as barreiras alfandegárias. Com relação aos países socialistas, o Brasil viu uma oportunidade devido ao alto crescimento de seus mercados no mundo, então, procurou realizar suas transações de modo a se adaptar com a economia planificada. Com relação aos EUA e aos demais países ocidentais, não haveria muitas alterações, “resguardada a linha de absoluta independência” (DANTAS, 2006, pg. 127). Quarto, no apoio à emancipação dos territórios não-autônomos. Essa defesa, primeiramente, se apoiava na solidariedade moral aos povos que estavam sujeitos aos interesses das metrópoles. O Brasil também explorava suas matérias-primas, sendo crucial “eliminar as condições de prestação de trabalho que os colocam em posição artificial de concorrência no mercado internacional” (DANTAS, 2006, pg. 125). Ademais, essa defesa anticolonialista é condizente com a preservação da paz. Quinto, na política de auto formulação dos planos de desenvolvimento econômico e de prestação e aceitação de ajuda internacional. A “Aliança para o Progresso”, que funcionaria como uma forma construtiva de americanismo, não favorece apenas o financiamento de projetos de caráter técnico e econômico, mas de programas sociais. Ademais, esse auxílio econômico seria aplicado pelos órgãos nacionais dos países receptores, imprimindo seus sentidos de desenvolvimento, garantido na formulação do Convênio sobre Auxílio ao Desenvolvimento do Nordeste. Então, esses cinco pontos, segundo o autor, resumiram os objetivos segundo a Política Externa Independente, que apresentou sua ruptura com o golpe de 1964, com a consumação da deposição de João Goulart e o início do período militar. O texto de Carlos Fico introduz os detalhes dos procedimentos sobre a posse da presidência após o golpe militar e a tentativa dos norte-americanos de demonstrar legitimidade e reconhecimento no exterior, com a sucessiva posse do general Castelo Branco como presidente do Brasil. Ainda no contexto da Guerra Fria e na pós tentativa fracassada de invasão de Cuba em 1961, a “Operação Brother Sam”, liderada por Lyndon Gordon, foi caracterizada como a tentativa de desestabilizar o governo de Goulart com o apoio militar, político e econômico norte-americano para tal, demonstrando uma interferência estadunidense na política interna brasileira jamais vista antes. Como resultado, sucedeu-se um comportamento subserviente do marechal Castelo Branco em relação aos norte-americanos, levando a uma convergência ideológica com os EUA e retrocedendo toda a Política Externa Independente que se estabilizava desde o governo de Jânio Quadros, com a implementação do Ato Institucional e suas medidas repressivas. Nesse período, a ideologia dominante da política externa era o “liberal-imperialismo”, tendo como principal fundamento os interesses da burguesia institucionalizada, sendo preponderantes os interesses das elites nacionais dependentes do capital estrangeiro. É importante frisar, segundo o autor, a relação de profunda amizade entre Castelo Branco e o militar norte-americano, Vernon Walters, que implicou em diversas contradições. Ao mesmo tempo, revelava a aproximação explícita entre os dois países. Essa afinidade entre o Itamaraty e o Departamento de Estado foi expressa pela alternância de Vasco Leitão da Cunha na embaixada em Washington e Juracy Magalhães no Ministério das Relações Exteriores. Essa colocação é de extrema importância, pois ambos eram americanófilos e formalizaram diretrizes de política externa opostas a Política Externa Independente, propondo, em seu lugar, uma “interdependência”. “Para Juracy Magalhães, o Brasil reconhecia os EUA como ‘líder do mundo livre e principal guardião dos valores fundamentais da civilização’”. (FICO, 2008, pg. 151). A boa vontade era tamanha que intimidava os próprios norte-americanos, com ofertas de colaboração vindas diretamente da parte do Brasil. Castelo Branco só não enviou tropas ao Vietnã em apoio aos EUA porque não obteve apoio do Congresso. Entretanto, conseguiu os apoiar ao romper relações diplomáticas com Cuba e na invasão da República Dominicana, onde colaborou militarmente. Um episódio que ia contra diretamente aos princípios de não intervenção e autodeterminação dos povos, definindo-se em favor da “segurança coletiva das Américas”. “A premissa da hegemonia incontestável dos Estados Unidos ia de par, no plano econômico, com a premissa da associação desenvolvimentista dependente e ambas, por sua vez, remetiam ao esquema de repartição internacional de tarefas, ao conceito de soberania limitada e ao ideal de irmandade e comunhão pan-americana. [...] A política externa brasileira ia na direção oposta à da unidade latino-americana” (MARTINS, 1975, pg. 65).