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Qual o modelo de intervenção clínica comportamental que você mais se interessa?

Justifique sua resposta.

Começarei respondendo diretamente a pergunta e depois tratarei de justificar a


resposta, contando um pouco do histórico de meu contato e interesse pela Análise do
Comportamento e seus modelos de intervenção clínica. Dos modelos que fui
apresentado até agora, o que mais me interessa é a Psicoterapia Analítica
Comportamental (FAP), principalmente pela primazia que o “aqui e agora” tem em sua
abordagem, fazendo uso, por exemplo, dos comportamentos emitidos durante a sessão
terapêutica como conteúdo da própria terapia. Interesso-me pela análise funcional do
comportamento, em oposição à descrição topográfica isolada, pois entendo que ela é
mais efetiva para prevê-lo e modifica-lo. Expus minha justificativa de maneira
resumida, agora traçarei brevemente o histórico de meu interesse pelas abordagens
comportamentais e desenvolverei minha justificativa inicial.
Venho tentando, ao longo destes anos de graduação, fazer um curso de
psicologia de forma bastante exploratória, conhecendo muita coisa, como me
recomendaram os alunos veteranos e os professores. Desde o início venho tentando
conhecer o máximo possível das coisas que despertam meu interesse; coisa que é muito
difícil, pois vejo a psicologia como um campo de dispersão de muitos saberes com uma
diversidade incrível. Nos primeiros semestres tive muito interesse pela epistemologia da
psicologia, muito por conta de ser um campo tão diverso e que, ainda assim, é
considerado um único campo. Nas disciplinas inicias do curso, nós liámos alguns
capítulos de livros, ou artigos científicos; sendo que não tínhamos muito background
em psicologia. Naquele tempo eu acreditava que não estava entendendo alguns
conteúdos porque elas eram muito complexos, mas com o passar do tempo, lendo um
pouco mais sobre as teorias e sistemas psicológicos e descobrindo meus interesses,
passei a crer que muitas coisa que eu não entendia era realmente porque julgava não ter
muita utilidade. Acredito que muitos problemas em psicologia são questões de
linguagem, de conceitos que não são muito úteis por diversos motivos como a
ambiguidade, por exemplo. De que adianta criar um conceito (que deveria ser útil
justamente na medida em que pode ser compartilhado por uma comunidade) se ele abre
margem a tantas interpretações diferentes? É a pergunta que me fazia. Foi aí que me
aproximei da filosofia, que já discute estas questões há bastante tempo. Li um pouco
dos empiristas ingleses e hoje estou conhecendo um pouco mais do pragmatismo, numa
disciplina que estou cursando. Longe de pensar que “resolvi” questões como esta ao
longo destes anos de graduação, mas creio que posso dizer que tenho mais
aproximações com o pragmatismo do que com concepções mais essencialistas; neste
mesmo bojo, está meu interesse pelo Behaviorismo e pela Análise do Comportamento.
Desde o primeiro semestre a linguagem clara usada por Skinner em sua empreitada não-
mentalista me atraiu. Mais tarde, nas aulas de Psicoterapia II, fui apresentado a alguns
modelos de intervenção da clínica comportamental. Li, inclusive, que tinham modelos
recomendáveis de acordo com a demanda do cliente. Mas, dentre as abordagens que
foram introduzidas, a FAP me chamou mais atenção principalmente por conta da
importância do tempo/espaço da clínica e dos valores do cliente para o desenvolvimento
da terapia.
Podemos observar, através da conclusão de vários experimentos realizados
desde a fundação do Behaviorismo, a influência ou determinação que os estímulos
(eliciadores, discriminativos e reforçadores) têm sobre nosso comportamento, então,
esta abordagem contextualista me parece muito útil para uma compreensão funcional do
comportamento. No que se refere à clínica, o contato com os conceitos
“Comportamentos Clinicamente Relevantes” (CRB) 1 e 2 da FAP foi a primeira coisa
que me chamou atenção. Assim que li sobre estes conceitos lembrei-me de um texto que
li no início do curso onde Skinner se defendia de acusações que lhe faziam; diziam que
a Análise do Comportamento usava muito do ambiente de laboratório pra generalizar
conclusões sobre o comportamento humano, sendo que o ambiente de laboratório é um
ambiente artificial e nós, cotidianamente, nos comportamos em ambientes com muita
diversidade. Skinner respondeu a esta crítica dizendo que o ambiente de laboratório é
tão natural quanto o resto dos ambientes, só é controlado; o fato de ser controlado, não
faz do ambiente anti-natural. Penso a mesma coisa do ambiente da clínica. Apesar de ser
o ambiente que está envolvido por uma relação de comercial, na maioria das vezes,
ainda se trata de um ambiente de relações interpessoais e problemas desta ordem
(interpessoal) frequentemente motivam as pessoas a procurarem pela clínica. Pude ler
com a FAP, trabalhando com as contingências dentro da sessão, formas de usar da
relação cliente/terapeuta em prol do processo terapêutico. Creio que o uso desta
ferramenta pode facilitar a vinculação com o cliente, bem como, em alguns casos,
atalhar o caminho que seria percorrido até a enunciação verbal.
as conclusões de vários experimentos realizados desde o início do Behaviorismo
podemos verificar a influência que os estímulos (eliciadores, discriminativos e
reforçadores) têm sobre nosso comportamento, então, creio que esta abordagem
contextualista me parece muito útil para uma compreensão funcional do
comportamento.
Outro ponto que, no meu entendimento, é fundamental para qualquer
abordagem, é que o trabalho terapêutico seja direcionado para que o cliente experiencie
uma vida de acordo com seus próprios valores; o terapeuta deve desenvolver seu
trabalho para contribuir para que o cliente avance nesta direção. Pelo que li até agora é
de extrema importância que, ao longo da terapia, o cliente entre em contato com seus
próprios valores e a “coerência” (ou não) que eles têm com a vida que o cliente leva.
Há, também, uma ressalva que, apesar de não ter lido em textos sobre a FAP, o
professor de Psicoterapia II fazia: cabe ao terapeuta ter conhecimento sobre o contexto
cultural no qual está inserido e exercendo sua prática profissional de maneira que na
clínica não seja conivente com práticas culturais que julgue que são ruins para o
desenvolvimento da própria cultura; por este motivo a visão de mundo do terapeuta, seu
ponto de vista ético-político é de extremamente importante pra sua prática profissional.
Creio que é muito importante pra formação do profissional de psicologia, independente
de atuar na clínica ou não, este conhecimento e posicionamento em relação à cultura.
Considero que ainda tenho muito a aprender sobre a FAP e outas propostas,
também, como a ACT (Teoria de Aceitação e Compromisso) e mesmo sobre a Análise
do Comportamento, em geral. Como disse no início, venho fazendo este curso de
maneira bastante exploratória, tenho me aprofundado em algumas temas que creio que
me ajudarão a desenvolver minha prática profissional, algumas coisas fora de
psicologia, também. Creio que a clínica comportamental pode ser muito útil às pessoas
no que se refere às questões que as pessoas geralmente levam aos terapeutas. Fiz
bastante uso do critério da “utilidade” práticas como conveniente ou não, mas creio que
“utilidade” seja um bom critério, principalmente considerando que sou aluno de uma
universidade pública que é financiada pelos trabalhadores deste país. Tenho muito
interesse em me dedicar aos estudos da clínica comportamental por estes motivos.

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