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SER MESSIÂNICO

Charles Guimarães Filho


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PREFÁCIO

O Centro Cultural Paraíso Terrestre em maio de 2010 realizou


um ciclo de palestras intitulado “Ser Messiânico”. Passado cinco anos,
mais exatamente em julho de 2015, resolveu reeditar este evento com
algumas modificações.

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ÍNDICE

1ª) PALESTRA: INTRODUÇÃO 07

2ª) PALESTRA: IMM NO JAPÃO E NO BRASIL 33

IMM NO JAPÃO 33
IMM NO BRASIL 44

3ª) PALESTRA: IDENTIDADE MESSIÂNICA 65

ANEXOS 91

Bibliografia e Sites 91
Cronologia da IMM no Brasil 93

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1ª) PALESTRA: INTRODUÇÃO

Numa sala do Instituto Àgora inteiramente lotada de pessoas tem início


...

PALESTRANTE: Boa noite. Meu nome é Charles, sou ministro


messiânico.
Prestem atenção, pois tem início o Ciclo de Palestras intitulado “Ser
Messiânico” promovido pelo Centro Cultural Paraíso Terrestre. Quem
desejar maiores informações a respeito deste Centro Cultural basta
consultar o manual exposto no site www.charlesguimaraesfilho.com
Entenderam? Tudo certo? Então, prestem atenção.
Vamos começar esta introdução com uma questão que não é a do tema
desta palestra “Ser Messiânico”. Mas então será sobre o que? Não
fiquem preocupados já que certamente não será sobre “Ser Marciano”,
“Ser Lusitano” ou “Ser Insano”. Será sobre a polêmica de não se poder
partir da suposição de que são messiânicos querendo saber o que é ser
messiânico, nem de que são religiosos querendo saber o que é ser
messiânico, nem de curiosos querendo ... nem de ... mas sim apenas de
que são brasileiros querendo saber o que é ser messiânico. Para isso
achamos sensato partir da indagação “Ser Brasileiro” para depois
abordar “Ser Messiânico”. Vamos fazer isso sem pressa, com muita
calma, muita tranquilidade, bem devagar, devagarzinho.
Aliás, diga-se de passagem, que isso só vai poder ser feito com toda
essa serenidade graças ao bom Deus que levou um amigo que eu tinha.
Ele era ministro que nem eu, muito mais enrolado do que eu, quando
falava ninguém entendia nada. Ele era japonês e quase não falava
português, mas não era porque desconhecesse a língua portuguesa
não, era porque era muito gago, mas muito gago mesmo, para vocês
terem uma ideia, nem o né que japonês vive falando ele não conseguia
completar. E ainda por cima era completamente apressado, inquieto,
intranquilo. Vocês já conheceram um ansioso que fosse gago e
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japonês? Duvido! Ele com aquela gagueira toda e com aquela
ansiedade transbordante, nunca conseguiu dizer qual era o seu nome e
nem a comida e bebida que queria comer e tomar. Agora, como
brasileiro é bonzinho e dá sempre um jeitinho, colocamos um nome
apropriado para ele e sempre servíamos o mesmo prato e bebida
especial. Passamos a chamá-lo de Expedito e só dávamos arroz com
cachaça. Acabou falecendo por causa ...

PINGUÇO (interrompe, trocando a língua): ... do arroz. Eu tenho um


monte de amigo que morreu de cirrose por causa de comer arroz.

PALESTRANTE (levanta-se e por conta, não se referindo ao bêbado):


Hei! O que isso está fazendo aqui? Cadê o segurança para tirar esse pé-
de-cana daqui? Quem teve a ousadia de convidar um cara nesse
estado? Quem?

PINGUÇO (pensando que é com ele): Foi o Expedito, que está lá fora no
portão.

PALESTRANTE (meio assustado, falando alto para si): Expedito! O


gaguinho japonês? O meu amigo falecido? O que ele está querendo?

PINGUÇO (tentando lembrar, pensando que é com ele): Ele estava


tentando dizer alguma coisa.

PALESTRANTE (falando alto para si): Vai ver que está precisando de um
pouco de incenso, amuleto, alguma tábua memorial, ô povo para gostar
de fumaça, adorar negócio de sorte e proteção. Ou quem sabe aquele
velão vermelhão, música religiosa japonesa ... Ih! Música japonesa e
religiosa, nem pensar! Deus me livre, se popular! Se popular já é chata,
imagine ... nem quero imaginar. Agora se fosse um Réquiem de Mozart
... Mas, qual será a necessidade do meu falecido amigo Expedito?

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PINGUÇO (continua pensando que é com ele): Sei lá. Fiquei mais de uma
hora com ele só ouvindo muitas repetições de sílabas e paradas
involuntárias no início das palavras ... que não entendi nada e vim para
cá. (tentando lembrar-se de algo): Mas, só tinha uma coisa que ele falou
e que eu consegui entender. Só que não estou conseguindo me
lembrar.

PALESTRANTE (não dando importância ao que o bêbado está falando,


senta, falando com o público): Não liguem para o que esse mamado
está falando, isso é conversa de bêbado. Todo biriteiro tem mania de
ver e ouvir fantasma.

PINGUÇO (sem se mancar, continua): Ah! Me lembrei. A única coisa que


eu entendia é ele chamando, chamando, chamando, chamando, ...

PALESTRANTE (escutando aquela zoada de bêbado, chateado,


interrompe falando alto): Chamando o quê ou quem, seu chato?

PINGUÇO (imitando como ele fazia): Chaliii. Chaliii.

PALESTRANTE (assustado, levanta e olha para o fundo da sala, falando


para si): Mas, Chali é como o Expedito me chamava! Será que ele quer
me mandar alguma mensagem sobre os artigos religiosos? Será que ele
não gostou de eu dizer que ele era enrolado?

Expedito incorporou numa pessoa da plateia.

EXPEDITO (interrompe, impaciente): Pôla Chali deixa de enlolá. Fafala


lologo ... o quiqui ... qui ...

PALESTRANTE: Expedito!!! (com medo seus olhos e sua cabeça se fixam


no texto que está na mesa e fala meio trêmulo): Aceitando a ... sugestão

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desse ... desse meu querido amigo ... ausente ... que Deus com Sua
Empresa precisou levá-lo para sua companhia ...

EXPEDITO (indignado interrompe): ... quiquiqui companhia de Deus


pôla nenhuma, tôtô é che cheio de cachaceiro na minha vóta por casa
da única coisa qui basilero me dava, não.

PINGUÇO: Arroz, não foi? Foi o maldito daquele arroz.

EXPEDITO (bravo): Que aloz cosa nenhuma, seu saquêzeiro.

PALESTRANTE: O que essa bondosa alma que partiu deixando saudade


está precisando que eu fale para levar consolo ...

EXPEDITO: Dedesembucha lologo o que é sêêê basilero. Mas, senta pá


não paparece discusu, nééé.

PALESTRANTE (senta imediatamente): Então, prestem atenção. Se


fosse um homem estrangeiro comum diria que: ser brasileiro é ter
como capital Buenos Aires e viver em eterno carnaval onde tudo é
permitido, ficar só na praia bebendo caipirinha, vendo as mulheres mais
bonitas e "calientes" do mundo, que passam o tempo todo dançando
tal de samba que quando os que vêm de fora querendo participar dele
movimentam seu corpo num ritmo de salsa com merengue. (pausa,
olhando para o público): Acredito que tal visão de brasileiro não se
encaixa em vocês aqui presentes, não é verdade?

PINGUÇO: Ô da palestra! Deixa estrangeiro de lado e imagina um


brasileiro comum. Sabe o que ele diria?

PALESTRANTE (levanta-se e por conta): Hei! O que isso ainda está


fazendo aqui? Quem foi que teve a coragem de convidar ... um cara ...

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PINGUÇO: É isso aí! Diria que ser brasileiro é ser um cara ... que adere à
causa e sentimento de outros, um ser solidário sem ser muito um sete
um; ... que causa ou sente contentamento, um ser alegre sem ser muito
gay; ... que age com rapidez e eficiência, um ser esperto sem ser muito
larápio; ... que dá sentimento de possível realização daquilo que se
deseja, um ser esperançoso sem ser candidato a cargo político; ... que é
desprovido de tudo e desregrado de toda, um ser livre sem ser muito
detento de penitenciária.

PALESTRANTE (senta, falando para si): Esse além de bêbado difícil de


suportar, é um tremendo de um otário. Vou pegar ele no contrapé.
(irritado): Deixa de imaginar um brasileiro comum e imagina um
brasileiro um pouco acima da média. Sabe o que ele diria?

PINGUÇO: O mesmo que eu acabei de dizer.

PALESTRANTE: Sim, só que explicava. Falava que ser brasileiro é


realmente fazer parte de um povo solidário só que capaz de pagar 40%
de sua renda em tributos e a maior taxa de juros do planeta com
retorno zero de saúde, educação, segurança, emprego, e ainda dar
esmola para pobre na rua ao invés de cobrar do governo uma solução
para miséria.

PINGUÇO: Se é para esculhambar, eu também explico. Falava que ser


brasileiro é realmente fazer parte de um povo solidário só que capaz de
eleger para o cargo mais importante do País um sujeito só porque tem
uma história de vida sofrida embora não tenha escolaridade,
sinceridade, moral e preparo nem para ser gari. E tem mais ... os ricos
de dentro e de fora ficam cada vez mais ricos, os corruptos ganham
mensalões ou malões, e os pobres ganham mínimozinhos ou bolsinhas,
e a classe média ganha um tremendo de um consolo enorme de
resignação. Explica mais se for capaz.

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PALESTRANTE: Ser brasileiro é integrar um povo alegre, ou
ligeiramente bêbado que nem aquele ali, capaz de fazer piadinha até no
enterro do pai, rir feito bobo com escândalos de corrupções que
acompanhamos todo dia como a do Petrolão, fora pedaladas e caixa
dois. Ser brasileiro é participar de um povo esperto capaz de se
enganar, fingindo que os políticos que ocupam cargos públicos no país,
surgiram de Marte e pousaram em seus cargos, bem como de votar que
nem otário naquele que lhe proporciona bolsa família, uma esmola de
menos de cem reais mensais para não fazer nada, enquanto um
deputado recebe vários milhares de reais por mês para fazer o mesmo.
Ser brasileiro é pertencer a um povo do futuro que em todo passado
acredita ter vivido numa democracia com liberdade, igualdade, justiça e
direitos sociais porque tem eleição e são sempre os mesmos que
ganham, tem julgamento para os ricos e são sempre absolvidos. Explica
mais se for capaz.

PINGUÇO: Ser brasileiro, em todo presente, é acreditar ter Deus como


seu compatriota.

PALESTRANTE (olhando para o público): Ô Público. Também tenho fé


que essa visão de brasileiro não lhes diz respeito, não é verdade?

PINGUÇO: E se fosse um falecido que nem o Expedito que está ali, o


que ele diria? Vá lá, pergunta a ele. Vai.

PALESTRANTE (ressabiado): Vamos deixar o Expedito quieto. O pobre


coitado ainda nem atravessou o rio. A fila do julgamento está
completamente congestionada, o céu está um inferno. (aceitando a
metade do proposto pelo bebum): Agora, se fosse um falecido, não o
Expedito, mas um falecido extraordinário como Oscar Wilde - o grande
expoente da literatura inglesa nos meados do século XIX – a visão de
brasileiro seria outra?

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PINGUÇO: Lá vem você novamente com sua predileção estrangeira. Taí,
o que acha que ele diria? Diz se tem coragem.

PALESTRANTE: Através de suas frases como “Viver é a coisa mais rara


do mundo; a maioria das pessoas apenas existe.”, “Trabalho é o refúgio
dos que não têm nada para fazer” e “As pessoas hoje conhecem o
preço de tudo e o valor de nada”, ...

PINGUÇO: ... ele estaria dizendo que ser brasileiro é ... é ...

PALESTRANTE: ... é ser um homem que apenas sobrevive dirigido pelo


trabalha, trabalha, trabalha, trabalha ... para consumir. (pausa, olhando
para o público): Possivelmente, isso também não queira dizer nada para
vocês ...

PINGUÇO (interrompendo): ... mas suponhamos, ô da palestra, apenas


por hipótese, que o falecido gringo Oscar esteja certo. Que exista
alguém aqui neste recinto que finge estar interessado nesta palestra,
mas que não consegue deixar de continuar pensando no trabalho, no
que deixou de fazer, no que vai fazer amanhã, se estivesse lá poderia
estar fazendo isso e aquilo em vez de estar escutando esse palestrante
chato.

PALESTRANTE (incomodado com a hipótese): Chato é você, seu pinguço


desarvorado. Saiba que felizmente não tem ninguém aqui nessa triste
situação não?

PINGUÇO (interrompendo): Mas suponhamos, ô da palestra, apenas por


hipótese, que infelizmente ... tem alguém ... alguém como aquele
careca ali, de cueca e óculos escuro, como aquela idosa lá, grávida de
trigêmeos, aquele garotão acolá, todo vestido de rosa ... (surpreso): não
é possível!!! (reconhecendo): Meu Deus! Aquela é a “santa” do
Miltinho. (jogando beijo para o “Miltinho” na plateia): Miltinho querida,

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como você está linda. (falando para o público): Mas, vocês aqui da
plateia não acham que ele é uma gracinha? Miltinho é tão bonitinho.
Uns acham que ele é uma bichinha, eu não! Acho que bichinha é muito
pouco, eu acho que ele é no mínimo uma trichinha.

PALESTRANTE: Bom, você quer que eu suponha que existam muitos


aqui nessa “alegre” situação, é isso? Se existir dá para gente ficar
espantado e intrigado. Por não entender por que um ser brasileiro que
apenas sobrevive dirigido pelo trabalha, trabalha, trabalha, trabalha ...
para consumir arrumou tempo e quem sabe apreço para vir assistir a
uma palestra sobre ser messiânico?

PINGUÇO: O que também não saí da minha cabeça, além da cachaça é


claro, é o que esse ser brasileiro entende por ser messiânico?

PALESTRANTE (falando alto para si, se levanta intrigado): O que não saí
da minha cabeça é aquela pergunta desse bebum “O que o Expedito
diria?”.

EXPEDITO: Pôla chali, não enlolá, fafala lologo bijetivu de cicu de


paléta, nééé.

PALESTRANTE (senta rapidamente): É é é, é melhor.


(começa): O objetivo deste Ciclo de Palestras é oferecer para vocês
brasileiros algumas ideias do que é ser messiânico com a finalidade de
suscitar interesse e criar premissas para ... o surgimento, a formação e
o desenvolvimento do ... Ih! Não dá para explicar isso em poucas
palavras não. Acho melhor que aquele que quiser saber ...

EXPEDITO: Pôla chali, não enlolá.

PALESTRANTE (falando para Expedito): Mas, até aí do outro lado você


continua um cara apressado e intranquilo. (para o público): Todavia,

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antes de oferecer algumas ideias do que é ser messiânico acho sensato
delimitar o tema “Ser Messiânico”, pois este pode sugerir diversas
indagações como “Por que ser messiânico?”, “Para que ser
messiânico?” e “Como ser messiânico?”, e afinal só se tem seis horas
disponíveis de palestras.

PINGUÇO (interrompendo e advertindo): O que pode deixar qualquer


palestrante nervoso. E pior ... (falando como se fosse uma confidência
para o palestrante): ... tem uma pessoa quieta aí na plateia ...

PALESTRANTE (falando com desconsideração pelo que lhe está sendo


dito): Ah, sim! Aquela única pessoa dos presentes que aparenta não ser
portadora de transtorno de déficit de atenção.

PINGUÇO: Pois é, mas só que ele está ultra-nervoso ...

PALESTRANTE (falando com desconsideração pelo que lhe está sendo


dito): ... sim, eu já reparei que ele tem uns tiques, cacoetes, faz barulho
com a garganta, já tomou não sei quantos comprimidos ... ah! e está
com um serrote numa das mãos e um facão na outra, é esse?

PINGUÇO (falando assustado e apenas para o palestrante): É esse


mesmo. Eu reconheci. Ele apareceu no Jornal Nacional como um dos
três rapazes de uma cidade na Ucrânia que matavam com requintes de
crueldade com barras de ferro, martelo e outros materiais pesados.

PALESTRANTE (falando assustado e baixo, apenas para o pinguço): ...


Ih!!! Agora, pelo visto ele abandonou o grupo e a especialidade de
esmagar. Deve ter passado para a carreira solo e se tornou especialista
em cortar e furar. (lembrando): Ah! Estou me lembrando de eram os
maníacos de Dnepropetrovsk! Só não estou recordando porque eles
faziam aquelas barbaridades.

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PINGUÇO (falando apenas para o palestrante): Eles não aguentavam
palestras muito longas porque os remédios iam perdendo o efeito e
creu.

PALESTRANTE (falando rápido): Deste modo, o tema “Ser Messiânico”


fica circunscrito a: “O que é messiânico?”. E sabem o que eu fiz para
saber o que é messiânico? Há um mês eu perguntei aos nobres 18
integrantes do Centro Cultural. Escutei e anotei 18 respostas, analisei-
as e fiz uma divisão em dois sentidos: um restrito, tomando a resposta
“Messiânico é aquele que pode ministrar Johrei”; e um amplo, tomando
a resposta “Messiânico é aquele que está comprometido com os
ensinamentos do Messias”.

PINGUÇO (intrometendo e falando em confidência audível para o


palestrante): Ô da palestra! Eu me esqueci de dizer o maníaco de
Dnepropetrovsk no início é bastante interessado depois é que ...
(pausa, aconselhando): Vai por mim, pisa no freio e manera no
acelerador porque ele ainda está na fase de interessado.

PALESTRANTE (falando alto para si): Só faltava essa aqui dentro, além
da alma penada do Expedito, desse bêbado inconveniente, aquele
desconhecido irresponsável que o convidou, o segurança que não o põe
para fora, o careca cuequeiro, a anciã de bucho cheio, a rosácea do
Miltinho, ainda tem esse maníaco de Dnepropetrovsk. Já não sei nem
que ritmo que vou dar a essa palestra. (tomando decisão): Sabe de uma
coisa, a palestra é minha, a vida é minha, eu vou é dá uma ...

PINGUÇO (interrompendo): ... uma explicadinha, sabe como é


palestrante, os meus colegas aqui da plateia não são muito favorecido
de cabeça, tem que dá um refresquinho, são meio fresquinho, digo
fraquinho. Eles adoram posar de vítima. (vira para trás, com a garrafa
na mão, falando com a plateia): Não é verdade pessoal, vocês não são
vítimas das secas, das enchentes, de terem muitos filhos, de serem

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flamenguistas, enfim de serem deficientes de tudo, principalmente
daquele negócio ... de ... de entender, entendem o que eu estou
querendo dizer? (virando, pondo a garrafa no chão e fala com o
palestrante): Quando eles ficam calados ou ficam rindo é porque não só
entenderam como concordam. Prossiga ô da palestra.

PALESTRANTE (falando para si, irritado com tanta intromissão): Esse


entornado só fica se intrometendo parece até o louro José da Ana
Braga. Mas, na dúvida, vamos dar um reforço. (se ajeita, pigarreia, e
atende): Prestem atenção. Messiânico, no sentido restrito, é aquele que
assistiu aulas numa instituição religiosa sobre a doutrina, submeteu-se
a práticas determinadas por autoridade dessa instituição e recebeu
uma medalha chamada Ohikari num rito litúrgico efetuado por esta
instituição. Em suma, messiânico é considerar Ohikari, doutrina,
autoridade, rito e instituição religiosa. No caso particular dessa
instituição ser a Igreja Messiânica Mundial do Brasil, anotada
simbolicamente por IMMB, além de portar o Ohikari, é comum
participar de organizações da IMMB como: Sede Central, Solo Sagrado
do Brasil, Johrei Center, Centro de Aprimoramento, Fundação Mokiti
Okada, Korin Empreendimentos, Construtora Novo Mundo,
Certificadora Mokiti Okada e Centro de Difusão Internacional. (pausa):
Agora, prestem atenção, muita atenção. Messiânico, num sentido
amplo, é ...

PINGUÇO (interrompendo): ... ô da palestra, não adianta pedir para que


eles prestem atenção, a deficiência aqui é democrática. Quer ver? O
pessoal o que ô da palestra acabou de dizer? O que ele está querendo
dizer? Viu, ouviu, ou melhor, não ouviu nada, pois é, eles são memória
zero, raciocínio nulo, é o cruzamento de apenas dois neurônios: o nada
bom com o tudo ruim.

PALESTRANTE (prestando atenção em alguns acontecimentos, falando


para si): Êpa! O que estou vendo! Não é que esse pinguço tem razão?

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Tem uma ali escrevendo na careca do cuequeiro. Aquele lá já pulou e
correu pela sala umas cinco vezes. E aquela que não parou de falar
desde que chegou e ainda não percebeu que o cara é surdo. Nossa! E
aquele desorientado trepado na janela de cabeça para baixo ... chega,
chega, não quero ver mais nada. (pausa): Mas, como eu sou um homem
de esperança e a palestra tem que continuar. Prossigamos.
(continuando): Messiânico, num sentido amplo, é participar de um
movimento comprometido com os ensinamentos de um líder que teria
origem divina: o “Messias”. Aliás, o nome “messias” tem origem na
religião judaica, cujos devotos ainda esperam a vinda desse líder. Os
cristãos acreditam que esse Messias foi Jesus Cristo. No Brasil, houve
vários movimentos messiânicos, como o de Silvestre José dos Santos,
que começou a pregar o “paraíso terrestre” na Serra do Rodeador, em
Pernambuco, a partir de 1817, tendo ao seu redor 12 “apóstolos”. Para
Silvestre José, quando o número de fiéis atingisse o número de 1.000,
se organizaria um exército para libertar Jerusalém. O movimento foi
extinto após uma carnificina.

PINGUÇO (intrometendo novamente): Acho que este sonho de libertar


Jerusalém está sendo ressuscitado, e Silvestre José dos Santos
reencarnado no novo messias pernambucano nascido na cidade de
Garanhuns.

PALESTRANTE (falando para si): Até que esse descuidado do fígado de


vez em quando ele é um bola cheia. Mas, eu sou um homem de
palestra e a esperança tem que continuar. (continuando): A partir do
que foi dito se poderia conjecturar a existência de duas definições
extremadas de ser messiânico em termos do que é. Uma definição,
messiânico é aquele que porta Ohikari, pertence a uma instituição
messiânica e acentua a parte devocional como os ritos litúrgicos com as
suas maneiras de celebrar; a outra definição, messiânico é aquele que
segue um Messias, participa de um movimento messiânico, acentua a
cultura como os ensinamentos com os seus modos de orientar.

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PINGUÇO (intrometendo mais uma vez): Eu não sigo nada.

PALESTRANTE: Deixa de conversa fiada. Se tirar essa garrafa de cana


daí e passar para aqui você vem logo atrás. O que você não sabe é que
ela é o seu “messias”. Assim como você se deixa levar em face da
bebida, outros se deixam levar pela droga ou pelos produtos de moda
como vestuário e penteado? Porque o “messias” de vocês é o instinto
de rebanho. (pausa): Por que você não se casa com sua irmã? Por causa
do seu instinto de rebanho de incesto é que não é. Senão como é que
você explica o faraó casando-se e tendo filho com sua irmã de sangue?
Explica por que no Brasil o Regente Diogo Feijó vivia maritalmente com
sua irmã? Ah, não é por causa de instinto e sim por causa da cultura do
tabu? Nesse caso, o seu “messias” é o que zela pela variabilidade
genética? Ou será outro o seu “messias”: aquele que amplia as relações
comerciais entre grupos sociais distintos? Afinal, o seu “messias” é o
instinto ou é a cultura? Talvez materializado no seu ídolo de Rock ou no
presidente do seu país, ou quem sabe no seu papai, no amigão, no
chefe ou num personagem de filme ou novela?

PINGUÇO: Eu não sigo ninguém, ninguém.

PALESTRANTE: Nem a verdade? Estando no Rio de Janeiro e querendo


ir para São Paulo, por que você não caminha para a direção norte?
Querendo ter uma postura correta porque você não parte sempre para
a agressão ou então para a submissão? Será que há uma verdade que
se pode seguir? Que tal, a postura assertiva que se mantém no justo
meio-termo entre dois extremos inadequados, um por excesso
(agressão), outro por falta (submissão)? O que você acha dessa ideia,
para muitos ela é estranha e boba, de que o inimigo é a primeira pessoa
a ser amada? Ela é uma coisa dessas que o atrai mesmo que você não
faça nada e seja apenas um ideal? Mesmo que você não consiga
perdoar o inimigo, a sua consciência persiste em que essa ideia tem
uma lógica interessante, como se todos são irmãos aí ninguém pode

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falar de ninguém, não querer mal? Ela é verdadeira? Você a segue ou
não e por quê? Mas, quem diz qual é a verdadeira? Quem é o seu
messias oculto? Portanto, você, seu inconsciente, é que pensa que não
segue nada.

PINGUÇO (incomodado, desconversa): Ô da palestra! Sem querer


ofender, afinal, qual é a desse Centro Cultural Paraíso Terrestre é
ofender os outros?

PALESTRANTE: Você em vez de pensar, de refletir, você está fugindo


por meio da vitimização, mas está bem eu vou fingir que não estou
percebendo e vou lhe dizer qual é a desse Centro. (respondendo): O
Centro Cultural Paraíso Terrestre, como o próprio termo “Cultural”
integrante no seu nome indica, procura uma definição de ser
messiânico não como um ser devoto e muito menos como um ser
institucional, mas sim prioritariamente como um ser cultural e
consciente. Em outras palavras, um ser que não se atém apenas à
homenagem, louvor e religião, mas também ...

PINGUÇO (interrompendo): ... Por favor, por favor, você ainda não disse
o que os integrantes deste Centro disseram há um mês.

PALESTRANTE: Eles disseram que ser messiânico é ser homem


paradisíaco que serve na construção do paraíso na Terra e da Cidade da
Nova Era, um mamehito que busca a verdade, porém sendo um
exemplo discreto, atencioso e pleno de gratidão, que está num
processo de conscientização, permissão de evoluir, querer a ultra-
religião e almejar estar em união com Deus e Messias.

PINGUÇO: Não dá para dar uma definição de ser messiânico, mais


concisa, de modo a deixá-la redondinha. Não esquece que os meus
colegas aqui não batem aquele bolão, é tudo bola murcha. (vira para
trás, falando com a plateia): Não é verdade pessoal?

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PALESTRANTE: Está bem louro José. Vamos exagerar nos contrapontos:
instituição versus movimento, rito versus ensinamento, autoridade
versus Messias, devoção versus cultura, acrescentaria ainda algo como
“dominação” versus “sincretismo”, embora o ideal fosse sincretismo
versus síntese.

EXPEDITO: Não enlolá Chali.

PALESTRANTE (saco cheio): É hoje! Um chato morto, um chato vivo,


aliás, dois, porque ainda tem o maníaco de Dnepropetrovsk. Isso se a
gente não levar em conta os portadores do transtorno de déficit de
atenção. (vendo alguma coisa na plateia): Mas, ... mas, será o Benedito!

EXPEDITO: Qui tem eu!?

PALESTRANTE (falando para Expedito): Eu disse Benedito e não


Expedito. (falando para si): Além de japonês também está ficando
surdo. Isso é demais. (continuando a ver alguma coisa na plateia): Isso
é demais ... Muito demais messsmoo. (falando para alguém do público):
Ô dona Joana! Aqui não é sua casa não! A senhora não está vendo que
seu filho está incomodando todo mundo, fica a andar a toa com essa
corda na região entre o tronco e a cabeça. (escutando a resposta da
Joana): O quê! Isso não é corda não? Esse é ainda o seu cordão
umbilical que ainda não conseguiram tirar do pescoço desse moleque.
(falando para si): Mas, eu sou o último que morre, a palestra tem que
continuar. (continuando): Logo, ser messiânico é participar do
movimento orientado pelos ensinamentos do Messias sistematizados
para a Nova Cultura sem desconsiderar o processar-se com o
sincretismo existente no Brasil. Em suma, messiânico é aquele que
considera movimento, ensinamento, Messias, Nova Cultura e
sincretismo brasileiro ou síntese. Assim, se, por um lado, Johrei,
Agricultura Natural e Ikebana estilo Sanguetsu fazem parte da Nova
Cultura do Messias e, por outro lado, passe, agricultura orgânica e

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arranjo floral fazem parte do cenário brasileiro, é natural em termos de
sincretismo pensar: o quanto Johrei é como um passe espírita, a
agricultura natural uma agricultura orgânica ou o arranjo floral uma
ikebana estilo sanguetsu? Porém, em termos de síntese isso não
poderia ser levado em conta, por serem coisas diferentes.

PINGUÇO: Afinal, quem é esse Messias? Já ouvi um milhão de vezes


essa palavra e não sei de quem se trata.

PALESTRANTE: Agora sim, está enfrentando, hein? Aproveite e aprecie


o Messias de Handel, nada de música japonesa, nem de sashimi, ...

EXPEDITO: Não enlolá Chali.

PALESTRANTE (saco cheio): Nem né esse chato diz mais. Mas, tá bom,
vamos dá uma palhinha. (pausa): Messias é um japonês chamado
Mokiti Okada que viveu entre 1882 a 1955, cujo nome religioso é
Meishu-Sama. Ele fundou a Sekai Kyusei Kyo, em português, Igreja
Messiânica Mundial, em termos abreviados: IMM.

PINGUÇO (falando com fluidez, sem ser bêbado): Que relação tem entre
IMM e IMMB? Procure fazê-lo de modo que possamos explorar a
componente da definição “ser messiânico” apregoada pelo Centro
Cultural Paraíso Terrestre, qual seja: “o processar-se com o sincretismo
existente no Brasil”. Para isso explore um sincretismo entre o
cristianismo que é a maior religião no Brasil e o messianismo de
Meishu-Sama.

PALESTRANTE (atônito): Será que eu também estou ficando tonto ou


esse borrasco falou sem trocar a língua? Ou será que enfrentando vem
o milagre?

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PINGUÇO (falando que nem bêbado, apenas para o palestrante): Deixei
a bola quicando, agora é contigo mesmo, emprega a estratégia da
analogia. Lembra-se dos bolas murchas ... (vira para trás e fala com a
plateia como bêbado): Não é verdade pessoal?

PALESTRANTE (falando para si): Essa pergunta e dica de dar a resposta


feita por esse mamado não está nada “sóbria”, acho melhor pedir apoio
aos espíritos aqui presentes. É, mas como ele disse “apregoada pelo
Centro Cultural Paraíso Terrestre”, então, nada mais justo, do que eu
pedir que estes espíritos incorporem apenas na administração desse
Centro Cultural para que esta se vire em responder. (chamando):
Espíritos presentes nesta sala, por favor, um de vocês incorpore na
responsável pela Secretaria.

E quem recebe o encosto é a boazuda da oferecida apelidada de


Chuchu.

CHUCHU: Assim como existe a Igreja Primitiva como tronco do


cristianismo, se tem a IMM no Japão como tronco do messianismo de
Meishu-Sama; assim como existe a Igreja Primitiva do Brasil como ramo
da Igreja Primitiva, se tem a IMMB no Brasil como ramo da IMM. Epa!
Mas, tal Igreja Primitiva do Brasil não existe. Então, cabe a dúvida: Será
que a IMMB é mesmo um ramo da IMM?

PALESTRANTE (conversando com espírito que incorporou): Ô cara, você


incorporou na pessoa errada, essa é a Chuchu. (escutando explicação):
Ah sim! A responsável pela Secretaria está ocupada, foi ela que recebeu
as pessoas aqui hoje quando chegaram. Então, ... (chamando): Espíritos
presentes nesta sala, por favor, um de vocês incorpore na dedicante da
Secretaria.

CHUCHU: Insistamos na analogia, só que agora através dos ramos da


Igreja Primitiva. No século XI houve uma grande cisão na Igreja

23
Primitiva ocasionando dois grandes ramos, a saber: Igreja Católica
Romana e Igreja Católica Ortodoxa que não reconhece o primado do
Papa. Por um lado, no século XVI houve a Reforma na Igreja Católica
Romana proporcionando a divisão entre Catolicismo (prosseguimento
da Igreja Católica Romana) e Protestantismo, Anglicanismo e
Anabatismo (ramos da Reforma). Por outro lado, também houve uma
“Reforma” na Igreja Católica Ortodoxa proporcionando a divisão entre
Ortodoxocismo (prosseguimento da Igreja Católica Ortodoxa) e a
“União” com a Igreja Católica Romana no sentido de que embora
reconheçam o primado do Papa, porém não seguem o rito latino, mas
sim o rito oriental. Epa! Mas, Igreja Católica Romana do Brasil, Igreja
Católica Ortodoxa do Brasil ou Igreja Protestante do Brasil também não
existem. Então, continua a dúvida: Será que a IMMB é um ramo da
IMM?

PALESTRANTE (invocado): Não é na Chuchu, não! (chamando): Espíritos


presentes nesta sala, por favor, um de vocês incorpore ou na
responsável pela Secretaria ou na dedicante da Secretaria ou na
responsável pela Edição ou ...

CHUCHU: Mais uma insistência, só que agora através dos ramos da


Igreja Católica Romana, Igreja Católica Ortodoxa e Igreja Protestante.
Só que ... existem 33 830 denominações cristãs. Ufa! O que fazer?
Talvez só nos reste fazer a seguinte simplificação: como IMMB é IMM
do Brasil, então, vamos considerar apenas os ramos da Igreja Católica
Romana, Igreja Católica Ortodoxa e Igreja Protestante que tivessem no
final do seu nome as palavras “do Brasil”.

PALESTRANTE (desânimo): Desisto, vai ver que esses desencarnados só


gostam de homens. (chamando): Agora mandem brasa no dedicante da
Edição, o musculoso do ...

24
DEDICANTE DA EDIÇÃO: A Igreja Católica Romana quando no Brasil, ...

PALESTRANTE (alegre): Até que enfim!

DEDICANTE DA EDIÇÃO: A Igreja Católica Romana quando no Brasil,


embora tenha sofrido mais de vinte dissidências, as que têm escrito “do
Brasil” são apenas três: Igreja Católica Apostólica Brasileira (fundada
pelo Bispo de Maura), Igreja Católica Conservadora do Brasil e Igreja
Católica Apostólica Livre do Brasil. A Igreja Católica Ortodoxa também
tem três: Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Brasil, Igreja Católica
Apostólica Ortodoxa do Patriarcado do Brasil e a Igreja Católica
Ortodoxa Siriana do Brasil. A Igreja Protestante, que também sofreu
mais de vinte dissidências, também tem praticamente três: Igreja
Presbiteriana Independente do Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do
Brasil e Igreja Pentecostal Evangélica O Brasil para Cristo. Mas, o que
elas têm em comum? É não reconhecer o primado do Papa. Então, isso
poderia provocar a conjectura de uma relação entre IMM e IMMB de
que a IMMB não reconhece o primado do “papa” da IMM, que no caso
é Kyoshu-Sama?

PINGUÇO: Ô da palestra! Para a gente ter mais dados, desconsidera


esta simplificação.

PALESTRANTE (chamando): Agora na responsável pelo Evento.

CHUCHU: Sabe-se que a Igreja Católica Antiga se refere a movimentos


católicos independentes surgidos após o Concílio Vaticano (1869-1870)
cujos primeiros grupos se organizaram em 1871, quando muitos
intelectuais católicos na Áustria, Suíça e Alemanha rejeitaram a decisão
deste Concílio que formulou a doutrina da Infabilidade Papal. Por volta
de 1890, o movimento experimentou cisão e vários grupos tornaram-se
independentes, defendendo diversas doutrinas e buscavam ordenações
em lugares diferentes. Como é o caso da Igreja Católica Liberal, que

25
incorporou doutrinas teosóficas, bem como o da Igreja Velho-Católica,
que foi instalada no Brasil, em 1932, na cidade de Curitiba. Pois bem,
então, mesmo sem existir uma Igreja Católica Liberal do Brasil se
poderia provocar a conjectura de uma IMMB que incorporasse outras
doutrinas além da existente na IMM como desde as teosóficas até as
cristãs, espíritas ou afro-brasileiras? Ou então, mesmo sem existir uma
Igreja Católica Antiga do Brasil, embora exista uma Igreja Católica
Antiga no Brasil que é a Igreja Velho-Católica, se poderia provocar a
conjectura de uma IMMB que rejeitasse uma possível Infabilidade de
Kyoshu-Sama?

PINGUÇO: Dê mais outra insistência, só que agora sem ser doutrinária e


nem de autoridade e infabilidade do Papa.

PALESTRANTE (falando para si): Esses espíritos só gostam de homens


mesmo. Vou acertar em cheio. (chamando): Novamente no dedicante
da Edição.

CHUCHU: O rito da Igreja Católica Conservadora do Brasil segue o rito


romano (maneira como, por exemplo, se celebra a Santa Missa) sem
prestar obediência ao Papa, enquanto a Igreja Greco-Melquita Católica
não segue o rito romano (mas, sim o rito oriental bizantino) e
reconhece o primado do Papa. Então se poderia provocar a conjectura
de uma IMMB de rito diferente da IMM?

PALESTRANTE (conversando com espírito que incorporou): Ô cara, você


incorporou mais uma vez na pessoa errada. (escutando explicação): Ah
sim! É que ele nesse momento está ocupado. Ah! Mas, ele vai poder
falar agora, muito bem. Manda brasa.

PINGUÇO (falando com fluidez, sem ser bêbado): Em suma, através de


uma simples analogia entre o messianismo de Meishu-Sama e o
cristianismo no sentido de encontrar a relação entre IMM e IMMB,

26
foram criadas cinco hipóteses: IMMB não reconhece o primado da
autoridade máxima da IMM? Não aceita uma pretensa infabilidade de
Kyoshu-Sama? Não considera apenas as doutrinas da IMM? Não segue
rito da IMM? Não é um ramo da IMM?

PALESTRANTE (atônito): O que é que está acontecendo? Será que é


algum encosto? Ah! Mais o que não falta é encosto para bêbado. Isso
não é problema meu. O que é problema meu aqui é que a palestra tem
que continuar. (chamando): Que entre na dedicante da Secretaria.

CHUCHU: Muito mais do que isso, esse “sincretismo analógico” pode


propiciar outro rumo. De fato, quando ao ter constatado a existência de
três ramos do tronco do cristianismo, ou seja, Igreja Católica Romana,
Igreja Católica Ortodoxa e Igreja Protestante para a Igreja Primitiva
poderia se ter indagado se não aconteceu o mesmo com a IMM, isto é:
senão houve ramos para o tronco do messianismo?

PINGUÇO: E teve?

PALESTRANTE (irritado): Eu não vou chamar mais ninguém. (ele mesmo


falando): Aí se verificaria que a partir de 1984, iniciou-se no Japão um
conflito interno da IMM decorrente das insatisfações motivadas pela
Unificação da IMM na década de 70. A IMM ficou dividida em três
grupos denominados Saiken (Reconstrução), Shinsei (Renascer) e Goji
(Preservação). Em 2000, firmou-se um Acordo de Reconciliação que
propôs a reunião das três organizações. Agora renomeadas como
Igrejas-filiais Toho no Hikari - Luz do Oriente -, Izunome – é Izunome
mesmo - e Su no Hikari - Luz do Senhor - sob o comando de uma Igreja-
Mãe, composta pelo Kyoshu-Sama (4º Líder Espiritual) e um presidente
mundial da IMM. Este cargo de presidente mundial é atualmente
ocupado pelo Revmo. Tetsuo Watanabe, em seu segundo mandato,
eleito em comum acordo pelas três igrejas-filiais. As filiais têm presença
em várias partes do mundo ...

27
EXPEDITO: Pôla Chali, será que não está na hola de você dizê se estas
filiais têm pesença no Basil e se por acaso a IMMB não é uma déla?

PALESTRANTE: Sim, as respostas são afirmativas: a Toho no Hikari tem


a M.O.A Panamericana do Brasil e a IMMB é um ramo da Izunome. Só
que eu preciso dizer mais que ...

PINGUÇO (voltando a falar como bêbado): Não precisa dizer mais nada,
a palestra foi um sucesso. (se levanta batendo palmas): Palmas para
ele.

PALESTRANTE: Sentam aí seus tontos. É preciso saber que não só tem a


Igreja-mãe como messiânica no mundo tem mais de vinte grupos que
não tem nenhuma relação com esta igreja-Mãe, por exemplo, aqui no
Brasil se tem o Templo da Luz do Oriente, dirigido por Nakahashi, que
foi uma dissidência da IMMB.

PINGUÇO (leva um susto, passando a bebedeira): O quê! Diante dessa


variação de instituições e grupos messiânicos é possível imaginar que a
sistematização da Nova Cultura de Meishu-Sama considerando o
sincretismo no Brasil seja constituído por inúmeras diferenças? E eu
que imaginava que tudo era constituído apenas por igualdades, como o
procedimento essencial para pertencer a qualquer dos grupos seja de
portar o Ohikari que simboliza o elo que une o fiel messiânico a Meishu-
Sama.

PALESTRANTE: Nada disso! É feita por diferenças e igualdades, ou seja,


é feita por uma noção de identidade. Noção, aliás, que ocorre com
qualquer indivíduo, não necessariamente messiânico, pois qualquer
indivíduo se diferencia e se iguala conforme os vários grupos de que faz
parte. Eu, por exemplo, aqui neste instante sou professor, hoje cedo fui
aluno de natação, isto é, pela noite a identidade relacionada a ser
professor, pela manhã a identidade relacionada a ser aluno. Nesse

28
instante, até o próprio tema deste Ciclo de Palestras tem a identidade
relacionada a ser messiânico. (chamando): Outro dedicante da Edição,
continue.

DEDICANTE DA EDIÇÃO: As alternativas de identidade estão


intimamente ligadas ao contexto histórico e social em que o homem
vive. Por exemplo, ser sacerdote cristão na Idade Média na Itália era
aceitar o celibato para que a Igreja não perdesse posses em eventuais
disputas de herança, enquanto na Alemanha era condenar por não ter
fundamento bíblico. Eis porque a questão da identidade se coloca de
maneira diferente em diferentes contextos, pois, não é possível ficar
alheio de que o homem não vive num universo puramente físico, mas
sim num universo simbólico, ou seja, num universo de elementos
representativos que estão em lugar de algo que tanto pode ser um
objeto como um conceito ou ideia.

PINGUÇO (voltou a ficar bêbado, suplicando): Pelo amor de Deus! Dê


exemplos para os meus colegas. Aquela saidera. Educação especial. Não
é pessoal?

PALESTRANTE: Por exemplo, a palavra “copo” representando o objeto


copo, a aliança de casamento representando a ideia de união de um
casal. (chamando): Responsável pelo Evento, continue.

CHUCHU: Esse universo simbólico já tem suas origens na Idade da


Pedra Lascada com o primeiro a ser classificado como homem, que foi o
Homo erectus, o primeiro hominídeo a deixar a África e ir para Europa e
Ásia, que se evidencia pelo domínio do fogo e pela habilidade de
comunicação com os outros da mesma espécie. Comunicação humana
esta que é um processo envolvendo a troca de informações, e a
utilização dos sistemas simbólicos como suporte para esta troca. Entre
os sistemas simbólicos se têm a linguagem escrita, como as letras que
estou lendo; linguagem falada, tal e qual acabei de pronunciar; ou

29
linguagem gestual, sem som, como a dos surdos, ou sonora, conforme
as três palmas que batemos na oração que entoamos. Diagramas, na
qualidade de um círculo representando o conjunto cujos elementos
estão no interior da circunferência; emblemas, quão a bandeira do
Brasil espelhando a pátria; desenhos, do jeito do coração retratando o
amor; e sinais, da maneira que a pomba branca estampando a paz,
como o Ohikari o qual estou usando exprimindo ser ministro da IMMB,
como a sigla IMMB representando a abreviatura do nome Igreja
Messiânica Mundial do Brasil.

PINGUÇO (leva outro susto, passando a bebedeira): Ih, meu Deus! O


que será que estão pensando neste momento aqui presente os que
sobrevivem dirigidos pelo trabalha, trabalha, trabalha, trabalha ... para
consumir?

PALESTRANTE: Será que acreditarão que alguém teve a coragem de


dizer que: "A partir deste Dia Internacional do Idoso de 2003,
envelhecer nesse país é mais do que sobreviver, é mais do que resistir,
é mais do que ficar olhando a porta à espera da visita que não vem. A
partir de hoje a dignidade do idoso passa a ser um compromisso
civilizatório do povo brasileiro"? Será que acreditarão que também
disseram: “Alienação tem um sentido negativo em que o trabalho, ao
invés de realizar o homem, o escraviza; ao invés de humanizá-lo, o
desumaniza. O homem troca o verbo SER pelo TER: sua vida passa a
medir-se pelo que ele possui, não pelo que ele é. Ele trabalha para
consumir, mas o que ele não sabe é que ele é consumido pelo trabalho.
Ele é fetichizado pelas mercadorias e o capital não tem consciência do
valor de uso das coisas e nem do valor de Deus.”?

PINGUÇO: Terá coragem e lucidez de trocar ...

PALESTRANTE (interrompendo): ... o apenas viver para sobreviver, pelo


viver para civilização? Trocar o apenas ter, pelo ser? O fetiche da

30
mercadoria, pelo valor de uso dela? O consumo material, pela
poupança espiritual? O dinheiro, por Deus?

EXPEDITO: Pôla Chali, encela logo essa trodução senão não fica um meu
imão.

PALESTRANTE: O palestrante é o último que morre.

PINGUÇO (assustado, volta a falar que nem bêbado): Não acredita


muito nisso não ...
(assustado, volta a falar que nem sóbrio): ... presta atenção, presta
muita atenção ...

PALESTRANTE (tirando a dúvida): Mas, eu reparei que quando você se


assusta você fala normalmente, por que isso acontece?

PINGUÇO: Você, por acaso, está cego, surdo e sem instinto de


sobrevivência? Mas, eu não. Não reparou que os tiques, os cacoetes, os
barulhos com a garganta do maníaco de Dnepropetrovsk estão
aumentando e os comprimidos estão acabando.

PALESTRANTE (assustado): Ih! Ele está amassando a caixa de


comprimidos. Ele está alisando o serrote e o facão.
(falando mais rápido): Prestem atenção. Vendo, ouvindo e analisando
bem ... não precisam prestar nenhuma atenção não.
Para encerrar esta introdução dizemos que a identidade religiosa em
particular pode ser de um indivíduo, mas também pode ser de uma
comunidade. A identidade religiosa aqui nesta introdução é a de uma
comunidade – a identidade messiânica. Porém, não à identidade
messiânica em seu estado originário, no Japão. Mas, sim, aquela que ao
ser transplantada para o Brasil, se defronta com a necessidade de se
reunir com as culturas existentes neste país, inclusive as religiosas,
tomando contornos próprios e que se compõe e recompõe conforme as

31
diferentes fases históricas e regiões brasileiras. Deste modo, para quem
não vai à essência, ser messiânico hoje é diferente de alguns anos atrás,
ser messiânico aqui é diferente da Bahia, ser no Brasil é diferente da
África. Por isso que antes de apresentar a identidade messiânica no
geral, se começa com a história da IMM e da IMMB por ser a mais
desenvolvida no cenário mundial e brasileiro.

PINGUÇO (falando mais rápido): E não esqueçam seus fraquinhos que


este Ciclo de Palestras sobre “Ser Messiânico” compreende três
palestras: 1ª) Introdução – hoje; 2ª) IMM no Japão e no Brasil – neste
sábado que vem, das 9 às 11 horas; 3ª) Identidade Messiânica – no
mesmo sábado das 13 às 15 horas. Não é pessoal?

EXPEDITO: Pala quem góta di sabê bibiografia consultada nesta paléstas


basta lê o Anexo titulado “Bibliografia e Sites”. Agola tá na hola de
respondê pergunta, né?

PINGUÇO (bêbado novamente): Como vocês merecem pela paciência


que tiveram ao ficar escutando essa palestra, vamos levantar para
descansar, para comer e encher a cara com alguma coisa, e ... e ... e
(assustado): principalmente correr porque o maníaco de
Dnepropetrovsk está vindo aí ...

Pingunço e Palestrante saem correndo pela porta a fora.

32
2ª) PALESTRA: IMM NO JAPÃO E NO BRASIL

IMM NO JAPÃO

No tablado agora têm duas mesas com duas cadeiras, uma no centro do
tablado e a outra no canto da porta. O palestrante está com a cabeça
baixa na mesa. Enquanto isso, o pinguço, sem ser percebido pelo
palestrante, pega uma terceira cadeira e uma terceira mesa e
cambaleante coloca-as ao lado do palestrante.

PALESTRANTE (ao “acordar”, sem perceber a presença do pinguço,


levanta-se muito sério): Por favor, por favor, quero comunicar a todos
um milagre grandioso que ocorreu nesse recinto na primeira palestra.
(pausa): Expedito incorporou numa pessoa aqui da plateia, ficou curado
não só da gagueira, mas também daquela pronúncia desagradável.
Porém, como ele acha que sou muito devagar, ele mesmo em particular
quer explicar sobre as religiões japonesas em geral. Com vocês, uma
salva de palmas, para Expedito e o seu cavalo.

MULHER (saindo rápido lá de trás da porta, reclama): Porra Charles,


cavalo não, isso é uma égua.

PINGUÇO (olhando para mulher cavalo, imita o incorporado, com voz


de bêbado): Pôla Expedito, fafala lologo, sobre as religiões japonesas
em geral, nééé.

PALESTRANTE (toma um susto com a existência de uma pessoa ao seu


lado, novamente muito por conta com aquela situação, esbraveja):
Mas, essa coisa continua aqui e em pior estado, cadê o segurança?
Cadê o segurança? (pausa, como não veio ninguém, senta-se e falando
para si mesmo em tom de reclamação): Mas, eu só queria saber quem
foi o tonto que introduziu um zonzo nesse estado, aqui neste recinto?
33
MULHER (mesmo ainda “contrariado”, senta e obedece): As religiões
japonesas são divididas em antigas e novas. A única religião japonesa
que pode ser considerada genuinamente japonesa é o Xintoísmo que
cresceu juntamente com uma sociedade agrária de cultivo de arroz.
Dentre os deuses da natureza, os mais importantes eram os espíritos
dos cereais. É a partir de uma relação de proximidade com os deuses
que os japoneses os recebem para beber, comer e se divertir juntos,
objetivando a proteção divina e o controle da fúria dos deuses
causadores de calamidades. Os japoneses acreditavam na força
espiritual não só dos deuses dos cereais, mas também dos deuses das
montanhas, dos rios, do mar. Porém, para alguns estudiosos, o
Xintoísmo não é propriamente uma religião por não ter dogma, código
moral ou livro sagrado, consistindo apenas de um misto de veneração
aos antepassados com adoração da natureza.

PALESTRANTE (ainda reclamando daquela presença indesejada sem se


dar conta de que Expedito estava “falando”): Ah! Se eu soubesse quem
introduziu ...

MULHER (não percebendo que ele estava falando de outra coisa,


responde): ... Por falar em introduziu. A introdução em 645 d.C. do
Budismo no Japão, com sua origem indiana e influência chinesa foi
apoiada fortemente pela Corte Imperial, mas não se tratou de um
autêntico sincretismo com o Xintoísmo. Tratou-se sim de uma junção
de deuses e budas, tornando-se comum a construção de templos
budistas ao lado dos santuários xintoístas. Tratou-se, sim de atribuições
de tarefas diferenciadas como a famosa expressão popular japonesa
“nascem xintoístas e morrem budistas”, isto é, os ritos do nascimento é
função da religião xintoísta e os de morte ficam a cargo da religião
budista. (pausa): Mil anos depois, no período Edo ou Tokugawa (1600-
1868), foi marcado por um processo de unificação nacional em que a
manipulação da religião era um mecanismo importantíssimo de
controle social e de apoio ao sistema xogunal (xogum era um ditador

34
militar deixando o imperador em segundo plano). O Budismo é utilizado
a favor do Estado, cada família era obrigada a se filiar a um templo para
registrar nascimento e morte de seus membros, e assim ele se tornou a
religião oficial do xogunato.

PALESTRANTE (ainda reclamando daquela presença indesejada sem se


dar conta de que Expedito estava falando através da égua): Ah! A
presença desse bêbado aqui é um momento crítico ...

MULHER (não percebendo que ele estava falando de outra coisa,


responde): Não, não foi um momento crítico. Um dos momentos
críticos para o Budismo no Japão ocorre a partir da Restauração Meiji
(1868-1912) que é um divisor de águas entre o Japão feudal e o Japão
moderno. Como o Budismo estivera atrelado ao xogunato, na nova
ordem, era preciso separar urgentemente o Budismo do Xintoísmo.
Em janeiro de 1870, o governo instituiu uma política de difusão do
Xintoísmo cujo objetivo era reviver o culto ao Imperador dentro dos
moldes de um Xintoísmo Nacionalista. Agora, o povo japonês era
intimado a se registrar num santuário xintoísta e não mais no templo
budista. Os santuários xintoístas não eram alvos da fé, e sim, objeto
para a veneração obrigatória do povo. (Expedito abandonando o cavalo,
isso é a égua): Issa!

PINGUÇO (incorporando Expedito, meio afeminado, sóbrio): Issa!


(explicando-se por que mudou de “cavalo”, aponta para ela): Aquela
égua ali estava muito devagar, sabe como é mulher quando se interessa
por alguma coisa, compra logo. E não é que ela comprou o interesse
pelas religiões antigas. Cismou com elas e não me deixava falar sobre as
Novas Religiões Japonesas. Vamos ver se esse cavalo ... (desconfiado):
... mas, com aquele “issa”, isso é cavalo mesmo? Isso está parecendo
uma tremenda égua disfarçada.

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PALESTRANTE (imitando): Pôla Expedito, fafala lologo, sobre Nova
Religião Japonesa, nééé.

PINGUÇO (olhando com cara de que não está gostando daquela pressa,
mas obedecendo): Nesse ínterim, foi fundada a Oomoto por Nao
Deguchi (1836-1918) que, após várias visões delirantes anunciou a
concretização de Reformas e o Mundo de Miroku. Essa sim é uma
religião sincrética com traços predominantemente xintoístas e com
característica milenarista, ou seja, com movimentos que se baseiam na
crença de que o fim do mundo está próximo e na criação de um paraíso
neste planeta. No entanto, com exceção desses momentos, como na
Oomoto, a relação entre Xintoísmo e Budismo foi de
complementaridade. Uma das razões talvez seja desta relação ter sido
diferente do sincretismo religioso brasileiro em que a religião católica
foi imposta, enquanto, no caso do Japão, o Budismo foi importado.
A despeito das perseguições, a Oomoto gerou um grande número de
ramificações e se tornou uma das pioneiras das Novas Religiões
Japonesas mais frutíferas. Dentre as principais religiões derivadas da
Oomoto, há a Seicho-no-Ie e a Igreja Messiânica Mundial. (Expedito
abandonando o “cavalo”): Issa!

PALESTRANTE: Issa! Meishu-Sama, que fora ateu até a meia-idade,


passou a estudar os ensinamentos da religião Oomoto a partir da
década de 1920, após ter experimentado uma série de infortúnios. Dois
teriam sido os motivos principais que o atraíram para esta religião: o
milenarismo do ideal da Reforma visando o Mundo de Miroku e a
noção sobre a toxicidade dos remédios. Por esta razão, muitas vezes, a
Igreja Messiânica Mundial (IMM) é definida como uma Nova Religião
Japonesa (NRJ) baseada no Xintoísmo e inspirada na Oomoto que, além
disso, apresenta muitos elementos de inspiração cristã ou humanista
além de revelações divinas por via mediúnica. Também, é comum
classificar a IMM somente como uma NRJ neo-xintoísta, sobretudo,
quando a análise é centrada no ritual que apresenta traços oriundos da

36
ritualística xintoísta como: a utilização de indumentárias dos oficiantes
do culto, realização do ritual de purificação por meio da água e
utilização de hassoku e sambo materiais para a coleção das oferendas.
Contudo, mais do que o rito, mais do que a “forma” da religião
messiânica, se deve aprofundar no seu conteúdo, como nos
ensinamentos relativamente desconhecidos do público leigo e sem
acesso às teorizações feitas por estudiosos em língua japonesa. A IMM
é muito mais do que um conjunto de ritos e mitos que explicam a
origem do mundo, do Japão e da família imperial, com cultos à
natureza, à fertilidade e aos ancestrais, com Kami habitando todas as
coisas. A IMM tem fé em um deus absoluto, tem visão de que o homem
é o principal instrumento do Plano Divino, tem um Messias, tem a
tarefa de construir o Paraíso na Terra. Enfim, é possível que a partir de
uma análise se tenha indícios do quanto pode ser incompleta a ideia de
que a IMM seja uma religião neo-xintoísta.

MULHER E PINGUÇO (juntos): Issas! Uma breve análise que contribua


um pouco mais com um panorama da IMM no Japão pode se dar em
três direções: tendência religiosa, ressignificação teológica e
aproximação com ideias cristãs.

PINGUÇO: Iniciemos com a tendência religiosa que, além da tendência


xintoísta, se tem cinco tendências:

MULHER: Nativa, xamânica, crença popular, confucionista e hindu-


budista.

PINGUÇO: Abordando-se em primeiro lugar a tendência xintoísta com


seu conceito de purificação, mencionado ainda há pouco.

PALESTRANTE (chamando): Espíritos presentes nesta sala, por favor,


pela ordem, um de vocês incorpore primeiramente na ...

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CHUCHU: A purificação não pode ser dissociada da ideia de “ser útil à
Obra Divina” e nem de que “a purificação de um indivíduo se relaciona
intimamente à purificação da humanidade e do globo terrestre.”
Quando se relaciona purificação com o conceito cristão de redenção,
utilizando a ideia de que o homem é a soma de seus antepassados,
pode suscitar dissociamento. Pois, ser útil à Obra Divina pode ficar
sendo apenas ficar cultuando antepassado e ficar recebendo Johrei, o
que tende a se criar um “Macunaíma messiânico”. E ao se criar um ...

PALESTRANTE (interrompendo): ... Ô seu espírito desordenado, eu não


sei por que você cismou em incorporar na Chuchu que não faz parte
administrativa? (ouvindo explicação do espírito): Ah! Porque ela tem
muita inteligência e poder de comunicação, o que apontam para sua
necessidade de falar falar falar. Enfurece-se quando é contrariada. Dá
para ser professora, mas pode vir a ser uma excelente escritora. Mas,
para isso deve aprender a controlar seu nervosismo como não deixar
ninguém ficando esperando na porta da igreja e ... (interrompendo): ...
Ô seu espírito, você parece muito informado a respeito da Chuchu ...
Quem foi você? (recebendo explicação): Quem foi não! Você é! Você
não é um encosto de quem morreu, é um encosto de pessoa viva? O
quê! Você é o Almeida “O glorioso do planalto”, que ia casar com ela e
ela lhe deixou esperando na Igreja e não compareceu? Se é assim,
então pode pelo menos continuar encostando nela.

PINGUÇO: - Tendência nativa: espírito das palavras.

PALESTRANTE (chamando): Encosta na Dedicante da Secretaria.

CHUCHU: Em linhas gerais, o espírito das palavras é a fonte de criação


de todas as coisas e o “espírito” de qualquer coisa habita cada um dos
75 fonemas que são sons enquanto considerados nas palavras. Aquele
que consegue apreender o meio correto de uso das palavras pode se
tornar capaz de manejar os espíritos divinos e, portanto, curar doenças

38
e aplicar vários métodos secretos. Pois, afinal, as palavras possuem
força espiritual.

PALESTRANTE (chorando): Agora, por amor de Deus, larga a Chuchu e


encoste na Responsável pela Edição.

CHUCHU: Observa-se que Meishu-Sama emprega uma espécie de


utilização e/ou manipulação das palavras para fins terapêuticos. Por
exemplo: no caso de uma pessoa com dor de cabeça, falava-se: “Dor de
cabeça, deixe esta criatura.”. Observa-se também a compreensão do
espírito da palavra em religiões nipo-brasileiras visto que muitas delas
optam por manter a entoação de orações em língua japonesa.

PINGUÇO: - Tendência xamânica: mundo religioso.

PALESTRANTE (falando baixinho, tramando): Em homens eles gostam


de vez em quando, logo ... (chamando): Agora, encosta no Dedicante da
Edição.

DEDICANTE DA EDIÇÃO (arredio): Sai pra lá Almeida, o glorioso de


Brasília! Em mim não! Vá lá para sua noiva. (pausa): A biografia de
Meishu-Sama descreve algumas de suas experiências místicas que
contém em si traços xamânicos como o descrito neste poema:
(recitando)
“Fiquei a confeccionar,
Com quarenta e cinco pessoas,
Até tarde da noite,
Os protetores contra acidentes de trânsito
Para serem colocados nos ônibus municipais.”
(continuando): No entanto, em alguns casos, sua experiência é suis
generis e transcende a experiência xamânica em si uma vez que ele é
consciente de uma força alojada dentro de si, qual seja a de Kannon.

39
PINGUÇO: - Tendência de crença popular: religião do povo.

PALESTRANTE (chamando hesitante): Enconsta na ... na ... na


Responsável pelo Evento.

CHUCHU: Um mesmo ritual pode se tornar mais mágico ou mais


religioso conforme o contexto em termos de inserção social ou época.
Um exemplo disso é o caso do Johrei que, nos últimos tempos, tem sido
alvo de grande interesse dos africanos, e assim cura de doenças e até
mesmo ressurreições podem ser vistos como resultados de ações
mágicas ou não. Há dois tipos de magia: por similaridade e por contato.
(pausa): Um exemplo de magia por similaridade diz respeito às
caligrafias escritas por Meishu-Sama que tinham o poder de
transformar o ambiente em que eram colocadas. Conta-se que certa
vez ele caligrafou a expressão “suave brisa da primavera” e presenteou
um responsável de unidade religiosa cujo local era muito frio. Como
consequência, o local teria se tornado mais ameno e agradável.
(pausa): Um exemplo de magia por contato é algo comum na tradição
indígena brasileira como na tupinambá que crê nos poderes de cura por
meio do exorcismo do sopro e da chupada. O ritual de imposição de
mãos, como o Johrei, é comparado aos benzimentos da religiosidade
católica popular.

PINGUÇO: - Tendência confucionista: conceito de auto-aprimoramento.

PALESTRANTE: Embora, purificação e aprimoramento sejam


considerados iguais por ambos serem voltados para o crescimento
espiritual, eles têm suas diferenças, consequentemente suas
identidades. Purificação é eliminar toxinas e máculas assumindo
variadas formas: espirituais, mentais, físicas e financeiras, dependendo
da necessidade. Aprimoramento é aprender com tudo que nos
acontece no cotidiano, transformando negativo em positivo, e
desenvolvendo o espírito de busca.

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(pausa): Todavia, na expansão da IMMB não se observam muitas vezes
à prioridade nas referencias a aprimoramentos, mas sim a purificações,
ou seja, não se observam a elevação da alma através da apreensão e
prática da correta fé. Purificar sem aprimorar é possibilitar continuar no
erro e voltar a ter que purificar novamente. Para o Fundador, não é a
eliminação de sofrimento que determina a felicidade ou infelicidade
humana e sim a elevação da alma, a noção de aprimoramento torna-se
algo central na construção da identidade messiânica dos últimos
tempos.

PINGUÇO: - Tendência hindu-budista: visão sobre a morte e


reencarnação.

PALESTRANTE (sem esperança): Escolham um aí e encostem.

CHUCHU: A reencarnação está relacionada ao princípio da purificação,


depende da quantidade de máculas acumuladas durante a vida terrena,
e não na ênfase no bom ou mau karma. Para facilitar a compreensão do
fiel ocidental, a mácula tende a ser explicada como algo equivalente ao
pecado ensinado no cristianismo, embora na IMM ela seja um efeito da
ignorância a Deus e não apenas resultados de atitudes errôneas. Assim,
o aprimoramento consta para o depois da morte.

MULHER: Finda neste momento a exposição sobre as seis tendências,


vamos agora tratar da ressignificação teológica, qual seja a ideia da
presença de Kannon no início remoto da religião messiânica indicar
uma marca de ruptura de Mokiti Okada com sua religião anterior, qual
seja a Oomoto. Deste modo, embora, a IMM normalmente seja
considerada uma RNJ com raízes xintoístas, é interessante observar que
a religião messiânica é instituída inicialmente com o nome de um
bodhisattva da doutrina budista indiano-chinesa conhecido por Kannon.

PALESTRANTE: Ih! Lá vem o Almeida de novo.

41
PINGUÇO (bêbado): Também pudera! Com uma noiva atrasada que
nem essa, sem nem uma lua de mel.

CHUCHU: A primeira imagem entronizada na Igreja Kannon do Japão


(anterior à IMM) foi uma grande imagem de “Kannon de Mil Braços”,
desenhada por Mokiti Okada em 1934. Poucos dias após a instituição
da Igreja, Okada dirigiu uma palestra aos fiéis sobre Kannon,
distinguindo seu ponto de vista sobre Kannon dos demais existentes
nos sutras budistas. Em sua concepção, Kannon não se limitaria à
concepção budista; seria “o Ente Absoluto, fonte de todas as
divindades, Deus Salvador que deseja vivificar todos os seres.” Meishu-
Sama afirma que Kannon tira sua “máscara” e reassume a sua forma
original de Deus. Com tal afirmação, o Fundador se identifica com a
chamada teoria que defende que os budas são manifestações de
divindades que originariamente eram kami.

MULHER: Finalmente, há também uma aproximação com as ideias


cristãs. “Chegamos a uma época muito gratificante; portanto,
precisamos ter um nome adequado. O nome “Kyussei” (Salvação do
Mundo) é o mais apropriado, mas, por ser uma denominação japonesa,
é muito oriental; logo, não faz sentido. Por isso, escolhi a expressão
“Messias”. Assim, juntando-se o Oriente e o Ocidente, a nossa Igreja
torna-se mundial. A palavra Messias relaciona-se especialmente a
Cristo, portanto, é uma ótima denominação, por ser do apreço dos
povos civilizados.” No entanto ...

PALESTRANTE: ... uma vez que o nome de uma pessoa ou organização


tem grande influencia na formação da sua própria identidade, vejo a
necessidade primária de ressaltar a importância da denominação
“Igreja Messiânica” no caso do Brasil. Contudo, após quase cinco
décadas, em 2000, institucionalmente, a IMMB passou a ser chamada
de “Johrei Center”. Embora, no geral, os membros se autodenominam
“messiânicos”, penso ser fundamental a discussão sobre a

42
intencionalidade de uma mudança tão radical. Uma mudança que inclui
dois termos estrangeiros, Johrei em língua japonesa e Center em
inglesa, e sua real consequência, inclusive em termos de identidade,
sobretudo na atualidade, quando a IMM vem enfatizando que Meishu-
Sama é o Messias e, portanto o nome Igreja Messiânica serviria de
reforço a uma identidade messiânica.

MULHER: Pôla Chali, mas, Identidade Messiânica não é o assunto da


tecêla e última palésta deste Cicu de Paléstas, nééé?

PALESTRANTE (tomando consciência daquela pronúncia novamente):


Expedito! !h! Voltou a ter uma “recaída”?

PINGUÇO: Pôla Chali, assim como antes, vamos abodá segunda palésta
“IMM no Basil”.

PALESTRANTE: Expedito! Afinal em que corpo você está?

MULHER (desesperado): Abodá segunda palésta, mas não agola! Nééé.


Vamô fazê intevalu, não? Senão ...

PALESTRANTE: Senão o que? Prestem bem atenção.

PINGUÇO: Preta atenção, você não? Tá cego? Tá surdo? Tá sem instintu


de sobrevivênça? Côla ...

MULHER: ... côla poquê maníaco de Dnepropetrovsk está vindo aí ...

Mulher, Pinguço e Palestrante saem correndo pela porta a fora.

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IMM NO BRASIL

PALESTRANTE (sentado atrás da mesa, na cadeira do centro, meio


escondido): Eu já não aguento mais aquele maníaco de Dnepropetrovsk.
Mas, a palestra tem que continuar. (pausa, saindo do “esconderijo”):
Antes do intervalo falamos sobre a IMM no Japão, agora vamos falar
sobre a IMM no Brasil. Assim, estivemos ...

Estão entrando os corpos de Pinguço e da Mulher só que os espíritos


estão trocados, ou seja, o PINGUÇO é o Pinguço no corpo da mulher e
MULHER é a Mulher no corpo do Pinguço. Doravante, estes serão
denotados respectivamente por PINGUÇO e MULHER.

PINGUÇO (no corpo feminino, saí do público e vai sentar na cadeira do


tablado): ... estivemos não, estamos.

MULHER (no corpo masculino, saí também do público e vai sentar na


cadeira do tablado):... é isso aí, estamos.

PALESTRANTE (Se levanta e por conta): Aí meu Deus! Já vai começar


tudo de novo. Mas, cadê esse segurança para tirar ... (se dando conta
das vozes em corpos não apropriados): ... mas, pela voz, quem é esse e
quem é essa?

PINGUÇO: Eu sou o bêbado no corpo dessa mulher.

MULHER: Eu sou a mulher que o Expedito incorporou no corpo desse


pé-de-cana.

PALESTRANTE (falando para si): “Se eu fosse você”, eu já vi esse filme.


(falando para os dois, despachando): Isso não é problema meu. O que é

44
problema meu aqui é que a palestra tem que continuar. Portanto,
fechem logo essas matracas. (chamando): Ô espíritos, por favor.

CHUCHU: As religiões japonesas no Brasil iniciaram antes da 2ª Guerra


Mundial com a Oomoto em 1926 e a Seicho-no-Ie (SNI) em 1936, pós-
guerra se teve o Xintoísmo em 1949, a Igreja Messiânica Mundial (IMM)
em 1955, a Perfect Liberty (PL) em 1957 e Arte Mahikari (AM) em 1973.
Em geral, diz-se que uma peculiaridade de várias religiões japonesas é
que elas emergiram e se desenvolveram como “sistemas abertos”,
incorporando várias religiões como o Budismo, Confucionismo,
Taoismo, Cristianismo e Hinduísmo. Por outro lado, uma das
características das Novas Religiões Japonesas, ou seja, das NRJ, como a
SNI, IMM, PL e AM, é que elas foram criadas quando o país caminhava
para a modernidade ou para a internacionalidade. (pausa): No
Ocidente, os simpatizantes das NRJ geralmente apontam a relevância
destas NRJ com as explicações dadas por estas novas religiões
japonesas com relação à doença. Também apontam a preocupação
com a paz e meio ambiente. Esta visão permite que membros e
aspirantes, ao invés de se sentirem impotentes e incapacitados pela
modernidade, sintam-se capazes de controlá-la e aproveitá-la de forma
compatível à sua felicidade pessoal e bem viver aqui na Terra. (ela
incomodada com os amassos do encosto vivo): Para com isso Almeida,
olha que os outros estão olhando.

PALESTRANTE (falando para encosto vivo): Hei que pouca vergonha


espiritual é essa.

CHUCHU (o encosto vivo falando através dela): Você não disse que eu
podia pelo menos continuar encostando nela.

PALESTRANTE (falando para encosto vivo): Encostando com decência,


seu espírito indecoroso. Mas, continua “O glorioso de Brasília” que a
palestra não pode parar.

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CHUCHU: Existe uma tipologia de religiões que é calcada em seis tipos
básicos: conversionistas, manipuladoras, utópicas, reformistas,
revolucionárias e mágicas. Contudo, em geral, no caso dos movimentos
religiosos dos países do Terceiro Mundo, costuma-se dividir apenas nos
dois últimos tipos: as religiões revolucionárias e as religiões mágicas, ou
seja, as religiões que preconizam a reforma da sociedade e as religiões
que se ocupam da cura das doenças.

MULHER (falando para pinguço): Será que uma religião mágica desse
Terceiro Mundo não resolvia esse nosso problema?

PINGUÇO (falando para mulher): Esse negócio de mágica não é comigo.


Eu sou espada.

MULHER: Eu também sou, olha só esse pincel de esmalte com que


estou pintando minhas unhas. Aliás, esse vermelhão ficou lindo, não
acha? Ou prefere esse rosa nesse tom suave?

PINGUÇO (falando para mulher em termos que seria chulo): Eu gosto


mais de é de uma ...

MULHER (interrompe, entendendo outra coisa do que ele queria falar):


... rosa champanhe? Eu já não, eu gosto de todas as tonalidades de
rosa. É rosa bege, rosa profundo, rosa escuro, rosa choque, rosa fucsia,
rosa velho, mas não de rosa champanhe.

PINGUÇO (enfezado): Que rosa champanhe nada! Eu tenho aquilo roxo.

MULHER (continuando sem entender): Rosa roxo, nunca ouvi falar.


Como é bem essa tonalidade?

PINGUÇO: Macho não tem tonalidade isso é coisa de mulherzinha.

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MULHER (falando para o garotão todo de rosa na plateia): Miltinho! ...
Miltinho! Que cor é essa que você está usando? Você disse “rosa”,
apenas “rosa”. (falando para pinguço): Viu você disse Rosa roxo e ele
simplesmente ... um singelo “rosa”. Logo, era o que eu desconfiava,
confirmado: Miltinho é mais macho que você, seu pinguço.

PINGUÇO (com raiva): Que confirmação doida é essa! Eu não disse


nada de rosa roxo, eu disse o que o Collor disse: “Eu tenho aquilo roxo”.

PALESTRANTE (por conta, chama a atenção): Ô vocês duas ou dois,


fiquem caladas ou calados ou então saiam de sala para ficarem
brincando de manicure.

PINGUÇO (com raiva): Mas, eu sou mais macho que o Miltinho, eu não
sou gay, eu não gosto nem da cor rosa ... o meu preferido é ...

PALESTRANTE (retomando a palestra com toda solenidade em tom de


discurso): O seu eu não sei, eu só sei que o meu é rosa pêssego, aliás ...
(pigarreia, recompõe-se e retoma a palestra): ... Aliás, no caso do Japão,
dificilmente se encontram religiões do tipo revolucionária, porém, é
comum encontrar as mágicas quer utópicas profundamente voltada à
cura de doenças e à crença milenarista, aquela de fim do mundo e
criação de paraíso, ou quer manipulacionistas cuja ênfase recai nos
benefícios materiais, ou seja, na salvação no mundo presente. (pausa):
Posto desta maneira, a IMMB principalmente quando ela opera apenas
o lado devocional corre o risco de ser taxada de uma religião mágica
quer utópica ou manipulacionista. Em determinadas ocasiões em que
ela se preocupa demasiadamente com o aspecto numérico de membros
ou com a resignação, ela pode ser tida como uma conversionista ou
reformista. Por outro lado, quando opera o lado cultural, pode vir a ser
chamada de revolucionária.

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PINGUÇO (espreguiçando, abrindo as pernas e bocejando): Eu estou
meio cansadão, de tipologia de religiões que não façam
correspondência com as novas religiões japonesas. Será que não existe
outra ...

PALESTRANTE (chamando): Dedicante da Secretaria é pra já.

CHUCHU: Existe outra tipologia de religiões que é composta de quatro


tipos básicos: nativas, como a Tenrikyo; ideológico-intelectualizada,
como a Seicho-no-Ie; auto-aprimoramento e moral, como a Perfect
Liberty; intermediária, como as que se encaixam nos três tipos
anteriores e, em geral, apresentam forte grau de sincretismo, trazendo
consigo elementos das crenças nativas e padrões intelectualizados,
como a Oomoto. (pausa): A IMM, como derivação da religião Oomoto,
tende a ser encaixada no tipo intermediária. No seu processo de
integração à realidade brasileira ela tende a ser vista como a PL no
sentido da transformação de uma religião baseada na crença em
milagres para uma religião de ética cotidiana. No entanto, a PL não se
volta para questões de salvação e nem para ensinar o caminho do auto-
aprimoramento aliados à construção do Paraíso Terrestre, que é o caso
da IMM e consequentemente o da IMMB.

PINGUÇO: A IMMB sempre foi a mesma ou teve fases?

PALESTRANTE: A IMMB teve quatro grandes fases:


1ª) Difusão pioneira com igrejas independentes; (1955-1963);
2ª) Instalação da Sede Central e unidades religiosas, bem como
diversificação das atividades (1964-1984);
3ª) Construção do Solo Sagrado e consolidação do sistema de formação
de elemento humano que inclui membros e missionários (1985-1999);
4ª) Implantação do Sistema de Johrei Center e centralização no Trono
de Kyoshu – 4º Líder Espiritual (2000 até os dias atuais).

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MULHER: Que Trono é esse? Estou morrendo de curiosidade, vai conta.

PINGUÇO: Tá curiosa, hein santa?

MULHER: E você sua boneca Barbie, perdeu o substantivo feminino é?

PINGUÇO: Eu já disse que não sou ...

MULHER (bem afetado): Pior é você andar dizendo por aí que: (diz qual
é): “Os conceitos de homem ou mulher estão ultrapassados, eles não
me preenchem”.

PALESTRANTE (ralhando): Vamos parar com isso. Ai ai ai.


(continuando): Lembra que comparamos Kyoshu-Sama da IMM com o
Papa da Igreja Católica? Assim quando se diz Trono de Kyoshu quer
dizer comparativamente Trono do Papa, quando se diz 4º Líder
Espiritual, o atual “Papa messiânico” quer dizer comparativamente o
265 Papa, o atual Papa da Igreja Católica.

PINGUÇO: Mas, fale sobre a 1ª fase - Difusão pioneira com igrejas


independentes (1955-1964).

PALESTRANTE (reticente): Não sei não. Só se prometer que se eu falar


sobre a primeira fase você não vai querer que eu fale sobre as outras
três fases?

PINGUÇO: Tudo bem.

PALESTRANTE (falando para si, tramando): Vou armar para cima deles.
(chamando): O casal da edição: Responsável pela Edição e Dedicante da
Edição.

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CHUCHU: Em 1955, chegaram ao Brasil Shoda e Nakahashi, os primeiros
ministros japoneses com fins missionários vindos a partir da Igreja Seiko
de Kyoto. Eles não tinham sido designados pela Sede Geral da IMM.
Migraram com o fervoroso desejo de expandir a fé messiânica,
contando apenas com incentivo e apoio do chefe da Igreja Seiko –
reverendo Nakamura. É preciso esclarecer que, desde os primórdios da
IMM até a década de 70, época de unificação da Igreja, o sistema era
descentralizado e, portanto, cada igreja era autônoma o que motivou o
envio de missionários ao Brasil de forma isolada. Shoda havia iniciado
os preparativos da viagem ao Brasil e, pensando que deveria relatar sua
decisão à Sede Central, foi a Atami. Ouvindo de um dos dirigentes o
seguinte:

DEDICANTE DA EDIÇÃO: “Desde a ascensão do Fundador, a Igreja está


em crise. Portanto, neste momento, partir para o exterior não é uma
boa ideia. Acho melhor aguardar até que as coisas se acalmem. Você
não conseguirá se despedir do presidente e muito menos encontrar-se
com a 2ª Líder Espiritual. É melhor desistir da difusão no Brasil nestas
condições.”

CHUCHU: Shoda respondeu que não desistiria de seu desejo e que não
causaria problemas à direção da Igreja. Contudo, ele não possuía
sequer o dinheiro necessário para as despesas de viagem e, como
estava em desacordo com as diretrizes da Igreja, naturalmente, não
obteria apoio financeiro. Foi com o incentivo e apoio dos membros que
parte dos recursos necessários à viagem foi reunida. (pausa): Em Belo
Horizonte, Nakahashi outorgou o Ohikari ao primeiro membro
messiânico no Brasil, o Sr. Otsuo Baba. Contudo, devido à denúncia de
prática de curandeirismo, Nakahashi viu-se obrigado a deixar Belo
Horizonte e partir para Curitiba, onde foi recebido pelos parentes de
Otsuo Baba. (pausa): O interesse pelo Johrei aumentara na região de
Curitiba e, portanto, novamente surgiram denúncias de curandeirismo
que culminariam com a detenção dos ministros Shoda e Nakahashi.

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Finalmente, em 1957, na cidade de Curitiba, obteve-se o registro de
pessoa jurídica da primeira unidade da religião messiânica no Brasil o
que, certamente, contribuiria para a expansão missionária na região,
sem maiores problemas judiciais.

DEDICANTE DA EDIÇÃO: Na próxima década, a década de 60, foi muito


significativa para a IMMB. A despeito do aumento do número de
membros que ocorria na região sul, a Sede Geral valorizava muito
pouco o trabalho de difusão realizado por Shoda e Nakahashi no Brasil.
Não eram enviados recursos financeiros e nem mesmo missionários
para frente de expansão.

MULHER (incomodada): Chega! Já está bom de falar sobre esta 1ª fase.


Fale sobre a 2ª fase - Instalação da Sede Central e unidades religiosas,
bem como diversificação das atividades (1964-1984).

PALESTRANTE (reticente): Não sei não. Promete que se eu falar sobre a


segunda fase você não vai querer que eu fale sobre as outras duas
fases?

MULHER: Tudo bem.

PALESTRANTE (falando para si, tramando): Vou tapeá-los. (chamando):


Responsável pelo Evento e Chuchu.

PINGUNÇO (sem voz de bêbado): É importante situar a história da


IMMB tendo em mente, na medida do possível, o contexto histórico da
IMM do Japão, na época. Em 24 de janeiro de 1962, com o falecimento
da 2ª Líder Espiritual (Nidai-Sama), uma série de mudanças começou a
ser introduzida pela nova direção da IMM. Consta que, a partir de 1964,
foi criada a função de responsável das igrejas do exterior.

51
CHUCHU: Em 1962, finalmente, a Sede Geral do Japão decidiu-se por
preparar um grupo de jovens missionários a serem enviados ao Brasil.
Em 10/07/62, chegaram ao Brasil oito ministros integrantes
contratados e enviados para difundirem a religião messiânica no país.
Todos vieram com visto de agricultor, mas diferentemente dos
membros e ministros vindos anteriormente, estavam ligados
oficialmente à Sede Geral da IMM no Japão.

PINGUNÇO (sem voz de bêbado): Em junho de 1962, com a chegada do


primeiro grupo de ministros enviados pela direção da IMM do Japão a
configuração da difusão no país passa a ter efetiva interferência da
Sede Geral, deixando de ser tida como uma iniciativa exclusiva das
igrejas japonesas. Do grupo de 1962, posteriormente, tornaram-se
diretores da IMMB, os ministros integrantes como Tetsuo Watanabe
(atual presidente da Igreja-mãe). Os demais ministros voltaram ao
Japão por diferentes motivos ou se desligaram da IMM. É também em
janeiro de 1962 que os ministros Shoda e Nakahashi retornam ao Japão
pela primeira vez desde sua chegada ao Brasil.

CHUCHU: O Registro Civil de Pessoa Jurídica da “Igreja Messiânica


Mundial Sede Central do Brasil” na Vila Mariana, SP, ocorreria em
21/1/1964 tendo sido alterado posteriormente para Igreja Messiânica
Mundial do Brasil, em 29/1/1970.

PINGUNÇO (sem voz de bêbado): Desde então, algumas medidas


passaram a ser controladas pelo sistema de difusão centralizado: envio
de ministros designados pela sede japonesa – 1ª turma em 1962 (8
ministros) e 2ª turma em 1967 (9 ministros); designação de
missionários para as unidades religiosas do país; outorga de Ohikari
centralizada; estabelecimento de diretrizes anuais, a partir da Sede
Geral.

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CHUCHU: Em 1965, foi editado pela primeira vez, em português, um
periódico oficial da organização intitulado Revista Gloria. Em 1967, foi
lançado o livro “Fragmentos dos Ensinamentos de Meishu-Sama”,
traduzido a partir de uma publicação originalmente lançada em inglês.
Em 1972, sob a coordenação de Ricardo Tatsuo Maruishi – um dos
primeiros membros nikkei formados em Londrina e que se tornou
ministro integrante da IMMB – foi lançado o livro de ensinamentos
“Alicerce do Paraíso” volume um. Mais tarde, na década de 80, outros
títulos de ensinamentos foram publicados.

MULHER: Nikkei, o que é isso?

PALESTRANTE (chamando sem muito acreditar que será atendido):


Dedicante da Secretaria.

CHUCHU: Nikkei é uma denominação em língua japonesa para os


descendentes de japoneses nascidos fora do Japão ou para japoneses
que vivem regularmente no exterior.

PINGUÇO: Ô da palestra, não dá tanto papo para “esse curiosa”. Ou


você não sabe como deixar um idiota curioso por 24 horas?

PALESTRANTE: Eu sei lá! Mas, como é que deixa?

PINGUÇO: Amanhã eu te conto ...

MULHER (olhando para trás): Quase ninguém achou graça.

PINGUÇO (olhando para trás): Não é pessoal? (voltando-se para o


palestrante): Continua falando sobre a 2ª fase.

PALESTRANTE (chamando): O casal da edição: Responsável pela Edição


e Dedicante da Edição.

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CHUCHU: Na década de 70, muitas ações foram implantadas com vistas
ao estreitamento do vínculo da IMMB com a sede do Japão. Dentre
estas, destacam-se o incentivo à peregrinação dos fiéis brasileiros aos
Solos Sagrados do Japão e a implantação do seminário de formação
sacerdotal, que enviou a 1ª turma de seminaristas brasileiros ao Japão
em 1971.

DEDICANTE DA EDIÇÃO: Iniciaram-se vários pontos de expansão da


religião em território nacional: Rio de Janeiro (1964), Rio Grande do Sul
(1965), Maranhão (1967), Ceará (1969), Mato Grosso do Sul (1969),
Brasília (1970) e Pará (1973).

CHUCHU: Após a ida de Watanabe para o Rio de Janeiro em julho de


1964, iniciou-se efetivamente a expansão da fé messiânica em âmbito
nacional devido à movimentação dos membros pelo país, tais como:
membros outorgados no RJ que retornaram à sua cidade ou se
mudaram para outros Estados; membros e/ou parentes militares
transferidos para outros Estados; funcionários públicos transferidos a
trabalho e médicos /ou profissionais liberais transferidos a trabalho
como foi o caso do Dr. Elídio para o Maranhão em 1967 juntamente
com a sua esposa Minª Laís que esteve aqui conosco neste Centro
Cultural.

MULHER: Mas, você não disse na 1ª palestra, que no IMM do Japão, a


década de 70 foi marcada por uma sucessão de dissidências de igrejas
motivadas pela rejeição ao Sistema de Unificação das Igrejas, você disse
até para nós depois da palestra que isso foi consolidado em 1972 sob a
liderança do então presidente da IMM – Teruaki Kawai.

PALESTRANTE: Sim, e daí?

PINGUÇO: É isso aí, essas “novas emergentes” ficam falando falando e


não dizem nada.

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MULHER: Não dizem nada, não. Eu fui é interrompida. Eu estava
querendo saber quais foram os reflexos deste Sistema de Unificação em
âmbito brasileiro?

PALESTRANTE (chamando): Responsável pelo Evento e Chuchu.

CHUCHU: Decorreu, sobretudo, da separação em 1970 da Igreja Seiko


no Japão, ou seja, ela foi desligada da Sede Geral. Shoda e Nakahashi
que tinham sido enviados ao Brasil, por iniciativa de Nakamura, líder da
Igreja Seiko, sofreram algumas consequências. No mesmo ano, Shoda,
que ocupava o cargo de responsável da IMMB, foi chamado de volta ao
Japão e passou a atuar como ministro responsável da IMM na região de
Saitama. No entanto, Nakahashi, que era o vice-responsável, não voltou
definitivamente ao Japão. Como havia sido designado para traduzir o
livro “Homem – ser religioso”, de autoria do então presidente Teruaki
Kawai, acabou permanecendo no Brasil e vive em São Paulo até os dias
atuais. Em dezembro de 1972, se desligou da IMM e, como já foi
mencionado na primeira palestra, fundou uma vertente da religião
messiânica conhecida como Templo da Luz do Oriente.
Cabe esclarecer que, na época, a atuação do responsável da difusão era
apenas de âmbito pastoral visto que a igreja brasileira devia
subordinação administrativo-financeira à Sede Geral no Japão. Aliás,
esta subordinação teria sido um dos principais motivos das divergências
internas ocorridas em 1973, que culminaram com ações judiciais, além
do surgimento de dissidências.

PINGUNÇO (sem voz de bêbado): Outra marca da década de 70 é o


início da diversificação das atividades da IMMB – que é uma das
características do processo de integração religiosa e cultural da religião
messiânica no país. Em 1971, foi instituída a Fundação Messiânica, cujo
nome foi alterado em 1981 para Fundação Mokiti Okada – M.O.A. com
a proposta de desenvolver atividades culturais, artísticas e assistenciais.
Em 1973, realizou-se a 1ª Exposição de Belas-Artes Brasil-Japão e, em

55
1974, foi criada a Escola de Ikebana estilo Sanguetsu. Em 1975, foram
adquiridos os terrenos de Guarapiranga e Atibaia que mais tarde
dariam lugar, respectivamente, ao Solo Sagrado de Guarapiranga e ao
Polo de Agricultura Natural.

PINGUNÇO (com voz de bêbado): Diferentemente da década de 60, a


teoria sobre a toxicidade dos medicamentos – um dos pilares da
concepção messiânica da IMM – passou a ser menos enfatizada e os
conflitos com a sociedade em geral fora evitados, por que disso?

PALESTRANTE (chamando): Pela ordem: Dedicante da Secretaria,


Responsável pela Edição, Dedicante da Edição e Responsável pelo
Evento.

CHUCHU: Com o início das atividades de cunho “ultra-religioso”, alguns


aspectos mais controversos da doutrina messiânica passaram a ser
transmitido de forma mais branda, sem causar maiores choques à
sociedade brasileira em geral, tendo sido alvo de maior reflexão pelos
próprios dirigentes da instituição.
O período entre 1976 e 1980 é marcado pela crescente expansão do
número de membros. Em 1978, é implantado o sistema de Igrejas
Regionais: IRESP (Igreja Regional de São Paulo) e IRERJ (Igreja Regional
do Rio de Janeiro), embora ainda não houvesse uma sede física para
tais igrejas regionais (só em 1982 e 1985, é que elas tiveram,
respectivamente). Com o intuito de aperfeiçoar o cuidado missionário
com os membros outorgados, implantou-se o sistema de missionários
cuja hierarquia era a seguinte: membro → auxiliar de grupo →
assistente de grupo → assistente de ministro → ministro.

DEDICANTE DA EDIÇÃO: Em 1982, comemorou-se o ano do Centenário


do Fundador Mokiti Okada. Dentre as várias atividades previstas para a
ocasião, destacaram-se a inauguração do edifício Mokiti Okada, de sete
andares, junto à Sede Central; a publicação da coleção Luz do Oriente

56
(Biografia de Mokiti Okada), além da peregrinação de muitas caravanas
de brasileiros ao Japão.

CHUCHU: Dentre outras ações de incremento deste contato


intercultural, é possível destacar o início do envio de seminaristas
brasileiros ao Japão e a partida da 1ª caravana de peregrinos
messiânicos (146 pessoas) aos Solos Sagrados do Japão em 19/03/1970.
Em 1972, a segunda caravana levaria ao Japão 300 pessoas que, além
de visitarem os locais sagrados da religião, se hospedaram em casa de
membros japoneses e experimentaram as dificuldades decorrentes das
diferenças linguísticas, culturais, do cotidiano em geral e até mesmo de
práticas messiânicas.

MULHER: Eu quero falar uma coisa, mas, por favor, não me interrompa.
(falando): A partir de 1984, como já foi mencionado na primeira
palestra, iniciou-se no Japão um conflito interno da IMM que culminaria
com a divisão da organização em três grupos denominados Saiken,
Shinsei e Goji. Este conflito apresentou reflexos no Brasil, sobretudo,
levando à criação da MOA Internacional por parte do grupo do Saiken.
Não é verdade?

PALESTRANTE: Sim, e daí?

MULHER: Mas, também foi nesta época que se iniciou no Brasil a


atividade da difusão da Agricultura Natural – uma das “Três Colunas de
Salvação”, juntamente com as “colunas” do Johrei e o do Belo. Não é
verdade?

PALESTRANTE: Sim, e daí?

PINGUÇO: Ainda não se passaram às 24 horas. Deixa a essa nova


emergente pra lá. Fale sobre a 3ª fase - Construção do Solo Sagrado e

57
consolidação do sistema de formação de elemento humano que
incluem membros e missionários (1985-1999).

PALESTRANTE: Não! Agora não! Vocês dois estão me enrolando.


Primeiro você me prometeu que só seria a primeira fase, ela a segunda,
e você agora a terceira, depois vai ser ela querendo a quarta. E aí eu
teria falado as quatro fases. E ...

PINGUÇO: ... e por que não falar? Afinal é a desconhecida história da


instituição da maioria dos aqui presentes e ...

PALESTRANTE: ... e eu teria enchido a paciência da minoria aqui


também presente. Que interesse ela pode ter nisso? Não é difícil de
guardar tantos fatos?

MULHER: O interesse de vivenciar o quanto ser alguma coisa tem algo


de profundo, de comprometimento, de conhecimento, da história.

PINGUÇO: Quanto a guardar tantos fatos, basta eles acompanharem


aquele texto que receberam intitulado “Cronologia da história da IMM
no Brasil”. [vide em Anexo]

MULHER (implorando ao público): Por favor, queridos, prooometo que


vai ser uma bem rapidinha, pode ser? Viu como eles são bonzinhos,
ninguém disse “não”.

PINGUÇO: Pela ordem novamente e rapidinho, ouviu seus espíritos


prolixos?

CHUCHU: Com o conflito interno da IMM deflagrado no Japão, Tetsuo


Watanabe passa a acumular a função de vice-presidente do grupo
Shinsei no Japão, além da Presidência da IMMB. Em 1983, por ocasião
da visita missionária da 3ª Líder Espiritual ao país, a IMMB recebeu

58
autorização da Sede Geral para construir o primeiro protótipo do
Paraíso fora do Japão.
Em 1995, é inaugurado o Solo Sagrado de Guarapiranga. É também
neste ano que ocorre o início de um novo ramo de atividade da IMMB –
a criação da Korin Agropecuária, uma empresa cujo objetivo seria a
venda de produtos obtidos através do método da Agricultura Natural.

DEDICANTE DA EDIÇÃO: Em 1998, a IMMB recebeu uma nova visita


missionária da 3ª Líder Espiritual que, após dois anos, deixou a função
de Líder Espiritual a cargo de Yoichi Okada, 4ª Líder Espiritual da Igreja,
neto do Fundador. Tal encaminhamento teria contribuído para o início
do processo de Reconciliação dos três grupos dissidentes no Japão
(Saiken, Shinsei e Goji), a partir de 2000, Tetsuo Watanabe passou a
acumular o cargo de Presidente Mundial da Igreja Messiânica, no Japão,
que engloba as três igrejas criadas a partir dos grupos citados
anteriormente (Igreja Toho no Hikari; Izunome; Su no Hikari).

CHUCHU: Muitas outras caravanas de messiânicos peregrinaram ao


Japão. O contrário também passou a ocorrer. Messiânicos japoneses
passaram a viajar ao Brasil como caravanistas, mormente por ocasião
de grandes eventos como o Congresso Internacional de Jovens (o 2º foi
realizado em 25/07/1993 em São Paulo tendo contado com 50 mil
participantes incluindo mil participantes japoneses e 4.500 dedicantes)
e a inauguração do Solo Sagrado de Guarapiranga, em 1995.
Naturalmente, o número de caravanistas brasileiros ao Japão supera o
número de caravanistas japoneses ao Brasil.

PINGUÇO: Fale sobre 4ª fase - Implantação do Sistema de Johrei Center


e centralização no Trono de Kyoshu – 4º Líder Espiritual (2000 até os
dias atuais).

PALESTRANTE: Escolha qualquer um.

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CHUCHU: Desde que assumiu a presidência da IMMB em 1976,
Watanabe empreendeu iniciativas relevantes. Além da construção do
Solo Sagrado do Brasil, destaca-se a Reforma do Sistema de Expansão,
em 2000, baseado no Johrei Center, denominação que afastaria um
pouco o apelo religioso e buscava caminhar numa direção em que o
“Johrei Center possa ser utilizado como um espaço terapêutico, com a
prática do Johrei e de difusão de artes”. Havia uma estratégia de
apresentar a Igreja Messiânica como “movimento” e que, portanto, ela
operaria em dois níveis distintos: o interno e, portanto, religioso, e o
externo ou ultra-religioso formado por segmentos por área de
interesse: arte, educação, meio ambiente, entre outros.
A inauguração do Solo Sagrado de Guarapiranga trouxe para a IMMB
novas dimensões em termos de atuação e de identidade. Desde então,
as diretrizes passaram a convergir para um ideal amplo e audacioso: a
construção da Cidade da Nova Era, que seria habitada por homens que
amam, respeitam e preservam a natureza e suas leis, vivendo em plena
harmonia. A diretriz da IMMB para o ano de 2000 dizia: “Construir a
cidade da Nova Era é o caminho da evolução para ser verdadeiramente
feliz”. A ideia de mundo paradisíaco na Terra, como já foi afirmada,
constitui o principal pilar da religião messiânica.

MULHER: Será que não existe uma periodização em correspondência


com as diretrizes da própria IMMB, não, hein!

PALESTRANTE: A IMMB pode ser periodizada em três grandes períodos:


período inicial da IMMB, nas décadas de 50, 60 e 70; período
intermediário, nas décadas de 80 e 90; período atual, após 2000. Uma
aplicação desta periodização pode ser feita nas diretrizes anuais da
IMMB que teve início em 1964. Para isso olhem a folha que receberam
sobre “Quadro de Diretrizes Anuais da IMMB”.
(pausa): Essa que está escrito Anexo 3.

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PINGUÇO: Uma conclusão que estou chegando é que no período inicial,
as diretrizes pareciam transmitir algum teor de orientação advinda do
Japão, como esta: ‘Apropriemo-nos do mérito de sermos amados por
Deus, através do culto, johrei e dedicação’. A partir de 1988, o teor da
diretriz é claramente definido com base na realidade brasileira, pois
está escrito: “Formação do pensamento voltado para a construção do
Protótipo do Paraíso Terrestre do Brasil em Guarapiranga.”

MULHER: As diretrizes dos anos de 1971, 1973 e 1980 estão


relacionadas, respectivamente, a situações locais do Japão:
consagração do Santuário Koomyo, que como sabemos está localizado
em Hakone; preparativos para as comemorações do centenário de
Meishu-Sama, que como sabemos incluiu a inauguração do Museu de
Atami; isso sem falar na “colheita dos frutos da unificação”.

PALESTRANTE: Embora, como foi dito, a unificação foi uma fase


histórica da IMM no Japão com reflexos importantes na construção da
identidade messiânica, sobretudo, institucional.
A partir da década de 70, a Igreja Messiânica cria uma associação de
cunho cultural e começa a diversificação de suas atividades, a faceta
posteriormente denominada “ultra-religiosa”.

PINGUÇO: Observa-se que o termo “construção” (incluindo variações


como “construir”, “construirmos”) é o mais recorrente, seguido de
Johrei e Solo Sagrado do Brasil.

MULHER: As categorias “Solo Sagrado” e variações “Solo Sagrado do


Brasil” demonstram uma percepção local brasileira transmitida através
da diretriz, sobretudo, a partir de fins da década de 80 e metade dos
anos 90 quando se inauguraria o templo, às margens da represa
Guarapiranga, em São Paulo. No período atual, não mais haveria
referência à construção do Solo Sagrado do Brasil. Grande parte dele já
fora construído pelas mãos e donativos de membros e simpatizantes da

61
Igreja Messiânica. Entre 2000 e 2005, a diretriz indicava a construção da
cidade da nova era como caminho da salvação e, posteriormente, da
evolução e nova cultura. Esta fase corresponde exatamente ao período
do Novo Sistema em que as unidades religiosas passaram a ser
chamadas de Johrei Center e a ideia de ultra-religião foi mais
enfatizada.

PALESTRANTE: Em 07/08/2005, por ocasião do décimo ano desde a


inauguração do templo em Guarapiranga, Watanabe lançou
oficialmente a segunda etapa da construção do Solo Sagrado de
Guarapiranga, como um modelo da Cidade da Nova Era. Contudo, a
partir de 2006, o foco da construção passou a ser o próprio ser
humano, que deve construir a si próprio para tornar-se paradisíaco. A
orientação de “homem paradisíaco” coincide com o início de
orientações mais aprofundadas pelo 4º Líder.

PINGUÇO: No fundo, são cidade e homem paradisíaco, não é isso?

MULHER: Tenho até que concordar com você. Não é só o hooomeeem


que constrói a cidade, ao se pôr a construí-la, com certeza, ele também
é construído.

PINGUÇO (pausa, intrigado): Por que dessa expressão? “Tenho até que
concordar com você. Não é só o hooomeeem”? Por acaso, concordar
comigo é uma coisa menor? Lembre-se que também não é só a
muuulheeer? Você não se mete comigo não, hein! Lembre-se que eu
sou homem.

MULHER (bem afetado): E lembre-se também o senhorrr de que eu sou


mulherrr.

PALESTRANTE: Sim, e daí?

62
MULHER: Daí que estamos, mas não somos. Ou somos, mas não
estamos.

PALESTRANTE: Mas, que confusão.

PINGUÇO: Não tem nada de confuso, é muito simples. A coisa é que, no


fundo, nem somos homem e nem somos mulher. Não somos nem caso
atípico de corpo feminino e se considerar a si própria como homem, e
nem de corpo feminino se considerar como homem. Não somos hetero,
nem somos homo e nem somos bi.

MULHER (desmunhecando): Por que então não nos tornamos os


primeiros neutros reconhecidos na história? Que máximo! Que orgulho
para o nosso país, para os nossos pais ...

PINGUÇO (desconfiado): Não sei não, acho que esse aí não tem mais
volta não.

PALESTRANTE: Sim, e daí?

MULHER: Daí, que a solução mais simples é a gente não ter nenhuma
identificação sexual.

PINGUÇO: Mas, como isso é possível? Pense no tema deste Ciclo de


Palestras. Imagine um ser messiânico sem uma identificação
messiânica, ou seja, sem uma ação ou efeito de determinar a
identidade messiânica?

MULHER (dirigindo-se ao palestrante): Então ser messiânico necessita


de se determinar a identidade messiânica? Agora eu quero ver o
palestrante aí dizer:

63
(imitando o palestrante): “Eu já disse que isso não é problema meu. O
que é problema meu aqui é que o Ciclo de Palestras tem que
continuar.”

PALESTRANTE: Isso é um problema meu. E fechem logo essas matracas.


(pausa, olhando para o público): Isso é o assunto da 3ª palestra
intitulada “Identidade Messiânica”, que será proferida logo depois do
almoço.

64
3ª) PALESTRA: IDENTIDADE MESSIÂNICA

PALESTRANTE (andando de um lado para o outro, com ar de


preocupação): Já tenho até medo de dizer “Tem início a 3ª palestra –
Identidade Messiânica - do Ciclo de Palestras intitulado “Ser
Messiânico” promovido pelo Centro Cultural Paraíso Terrestre”.
Na primeira palestra tivemos um zonzo parcialmente preso a misturado
azar e um espírito totalmente largado a pura sorte.
Na segunda palestra foi aquela permuta de corpos onde mulher num
corpo de homem e homem num corpo de mulher.
Isso sem falar naqueles doidos todos ... Ih!!! Na terceira palestra, vou
começar a rezar, para não ter ...

Entram na sala. Um homem vestido com uma camisa metade Flamengo


e a outra metade Vasco, com chapéu de couro de nordestino, usando
pulseiras de sexo, bengala, segurando a Playboy, a National Geographic
e uma revista com Einstein na capa. Uma mulher com lenço de cabelo,
saia e colares de macumba, com camisa de farda, com duas asas,
segurando um catálogo de telefone, uma estaca de vampiro e o retrato
de Nossa Senhora da Aparecida. Eles sentam nas cadeiras no tablado,
deixando a do centro livre.

PALESTRANTE (por conta, chama mais uma vez): Ô segurança, olha


esses esquisitos sentando no tokonoma do palestrante. Ô segurança.
(mais uma vez ele não aparece): É! É mais fácil uma agulha entrar no
fundo de um camelo do que um rico de um segurança entrar no reino
dos céus desta sala.

CORONEL (voz de nordestino daqui para frente): Esquisitu não! Vê lá


como fala com o coroné? Meu nome é Raimundo Lindomar Francineide
Uellinton Johnson Uindus da Silva, do mato ou de qualquer lugar.

65
FANÁTICA: Esquisita não! Vê lá como fala com uma fervorosa toda
pura? Meu nome é ...

PALESTRANTE (atônito, senta e ainda falando para si): Não é possível!


Eu tinha que ter rezado antes, e tinha que ser para um santo forte do
nordeste, tinha que ser para Frei Damião. Mas, o que se pode fazer?
Vamos arriscar a começar a abordar este assunto “Identidade
Messiânica” pelo que estou vendo na minha frente. (começando,
falando para o público): Prestem atenção. Tanto as religiões afro-
brasileiras quanto as crenças em Nossa Senhora da Aparecida e colares
de macumba seriam exemplos de sincretismo mesclada do tipo “mix-
salada” em que há a integração de diferentes aspectos religiosos sem a
perda das diferentes tradições. O mesmo ocorre na fusão entre
Xintoísmo, Budismo e até mesmo com o Confucionismo que também
seria o tipo sincrético “mix-salada”. Já as NRJ restritas ao Japão
poderiam ser tidas com sincretismo do tipo “mix-juice” visto que uma
vez sincretizadas não é tão simples distinguir entre os aspectos do
Budismo, Xintoísmo e várias outras crenças.

CORONEL: O doutô podia explicá pra genti, o que é essa tal de “mix-
salada” e “mix-juice”. Se issu não fô difirci de sê feitu, é claru.

PALESTRANTE (olhando para o que o coronel está usando): Até que isso
é fácil, o difícil é a pessoa que está usando aceitar.

FANÁTICA (erguendo com fanatismo de religiosa a Lista Telefônica e


falando como tal): Irmão! Irmão! Aceita, aceita em nome dessa lista
telefônica que todos têm que ter um guia a quem seguir com todo
fervor. Aqui nesta lista meu guia não só estão palavras, mas também os
telefones por endereços de todos os testemunhos do mel, porque
afinal ... afinal ... (se levanta berrando): Afrodite ... Afrodite é fiel.
Afrodite é fiel.

66
CORONEL (assustando-se): Ô sua cabra berradora qui pensa que é anju,
não si avexi não. Senta logu essi seu rabu na cadera.

FANÁTICA (senta resmungando, fazendo beicinho): Hum! “pensa que


sou anjo”! Isso eu sou mesmo. Todos me conhecem. Lá na redondeza
não tem um que não diga “Oi, toda pura”.

PALESTRANTE (falando para si): Deixa logo eu continuar porque senão


esses pirados vão acabar com esta palestra. (continuando): É, mas esta
visão de mix-salada e mix-juice não são facilmente aplicáveis às NRJ
transplantadas para outras culturas como na brasileira. Aqui, no Brasil,
o que se tem é a ressignificação sincrética nipo-brasileira. Ressi ... gnifi
... cação ...

CORONEL (interrompendo): ... Recife e Cação? Ô xente! Não é que o


doutô tem razão? Lá nas práias da minha capitá de Pernambuco é cheiu
de Tubarão.

FANÁTICA: Ele disse Ressignificação, seu bode velho.

CORONEL: Essi atarentado de ressi não sei de quê, jogô em que timi?

FANÁTICA (ergue novamente a lista telefônica e berra): Irmão! Irmão!


Aceita, aceita, que foi no time dos pilares do espírita-cristão.

CORONEL (tenta acertá-la com a bengala): Pára com essa zuada, sua
cabra perdida.

PALESTRANTE (falando para si): Deixa-me logo aproveitar qualquer


coisa que eles dizem senão isso vai virar uma ... uma ... (falando para a
plateia): ... uma boa ideia! Ressignificação que, diga-se de passagem,
não foi nenhuma jogadora de futebol, mas sim um exemplar ...
(tentando lembrar-se de qualquer coisa, até que): ... foi um exemplo do

67
time dos pilares do espírita-cristão, que tinha no seu uniforme uma boa
ideia de fácil assimilação. (falando para si): Será que vou sair dessa?
(teve uma ideia): No seu uniforme estavam duas siglas: SNI e IMM.
Estavam lá em homenagem a estudiosos japoneses que atribuem
exatamente o sucesso no Brasil da Seicho-no-Ie e Igreja Messiânica
Mundial, devido à característica de suas doutrinas incluírem a crença
nos espíritos, a vida após a morte e a reencarnação, ou seja, devido à
proximidade com o universo simbólico espírita-cristão do povo
brasileiro. Observou-se que a IMM foi a que apresentou mais
semelhanças com as ideias espíritas sobre a composição do Mundo
Espiritual, encostos, evolução do espírito etc. Contudo, não se pode
esquecer que o contato não se restringe ao Espiritismo, se tem também
o Cristianismo. Neste caso a SNI faz uma leitura oriental da doutrina
cristã, inclusive abordando a questão da ressurreição, diferentemente
da IMM. Tani ... guchi re- ...

CORONEL (interrompe, falando para o público): ... Ô xente! É de Tani


que eli tá falando? (falando para o palestrante): Saiba qui o guchirrê de
minha filha Tani ... (pausa, fica olhando abismado para fanática): O qui
a cabra está escrevendu de olhu fechadu? Tá parecendu o todu puru do
Chicu Xavié de saia. Já cabou? Então, lê prá genti, o filha da moléstia.

FANÁTICA (lendo, a partir da agora toda vez que ler a psicografia se


levanta para ler, e se senta após a leitura): Taniguchi rrê-elaborou a
doutrina da SNI e, após a 2ª Guerra, introduziu elementos do
Cristianismo mesclando-o com Xintoísmo e Budismo presentes.
Objetivava com isso criar uma super-religião que englobasse todos os
ensinamentos, interpretados à luz da cultura oriental. Em sua visita
oficial ao Brasil, em 1963, Taniguchi disse em sua mensagem que o
Brasil “é o país apropriado para divulgar o verdadeiro cristianismo”.

PALESTRANTE (falando para si, surpreso): Nossa! Algum espírito está


me assessorando nesta palestra. Seria o Expedito? Quem vem lá.

68
(olhando com atenção): Que nada! É o Almeida. (chamando atenção):
Vê lá como se comporta hein, seu espírito indecoroso?

CHUCHU: Semelhantemente a Taniguchi como sua “super-religião”


(1893-1985), Meishu-Sama pretendeu que a Messiânica fosse uma
“ultra-religião” que abarcasse todos os campos da cultura humana.
Contudo, teve menos tempo para acompanhar e adaptar-se às
mudanças sociais e culturais do Japão do pós-guerra. Cinco antes do
seu falecimento em 1955, promovera a unificação de duas igrejas
propondo uma denominação nova, de caráter mais universal que
originou a denominação “messiânica”. Em 15/06/1954, realizou a
celebração provisória do “natalício do Messias”, ocasião em que
explicitou sua missão como messias, buscando conscientizar os
membros através de textos explicativos sobre sua ligação com o
messias e, de certa forma, fez aproximações com o Cristianismo.
Contudo, após a sua morte, na IMM, o tema da divindade ou da
“messianidade” de Meishu-Sama tende a ser retomado em ocasiões
específicas. No início da década de 80, por ocasião das comemorações
pelo Centenário de Meishu-Sama, e da fase final de consolidação da
Unificação da Igreja, foi publicado no Japão um material de estudos
exclusivo para ministros que aborda a questão do estado de união
deus-homem em Meishu-Sama. Após 2000, com a Reconciliação das
três Igrejas, o Quarto Líder Espiritual (Kyoshu-Sama) veio esclarecendo
em suas orientações pontos relativos à ideia de messias com relação ao
próprio Meishu-Sama e aos messiânicos.

CORONEL: Olhe comu o doutô podi vê. Num sô homi de misturá as


coisa. O doutô não tava falandu di reencarnação? Pois é, então
continui. Não se perca.

PALESTRANTE (olhando para o coronel perplexo): Não é de misturar as


coisas!!! Está bem. Está bem. Vou fingir que não estou vendo nada.
(chamando): Retomando a questão da reencarnação. Pela ordem.

69
CHUCHU: No Brasil, o crescente “desejo de reencarnação” ronda o
imaginário dos católicos de qualquer das culturas no Brasil: desde
aqueles cujo cotidiano é próximo das religiões de possessão até os
católicos eruditos mais identificados com sistemas de sentido orientais
e esotéricos. (pausa): Segundo os ensinamentos da IMM, o ser humano
está sujeito a encostos de espíritos desencarnados, sejam espíritos de
antepassados ou híbridos de humanos e animais. Assim, se por um lado
a doutrina messiânica guarda semelhança com a doutrina espírita uma
vez que admite a possibilidade de encostos, obsessões, por outro,
diverge completamente no fato de crer que o espírito humano pode se
degradar ao nível de vida dos irracionais e, após certo aprimoramento,
retomar a nascer sob a forma humana. O exemplo que acabei de citar
também demonstra um traço marcante da religiosidade popular
japonesa, que é a crença de que os animais também têm espírito.

FANÁTICA (apontando para o coronel): Um exemplo concreto é dessa


besta do coronel aqui ao meu lado.

CORONEL (tenta lhe dar uma bengalada): Ô sua cabra desmiolada qui
num conheci o qui é respeitu. (dando uma ordem para o seu jagunço
que está por ali): Severino! Não deixa pra manhã o qui podi fazê hoji
depôs desta prosa. Entendeu, não é? Depôs a genti acerta a quantia por
essi serviçu extra.

PALESTRANTE (falando para si, assustado): O aquecimento global está


chegando. Deixa-me dar uma esfriada nesse recinto. (chamando): Pela
ordem.

DEDICANTE DA EDIÇÃO: Outro exemplo, é o costume de no Japão, por


ocasião do Ano Novo, oferecer-se moti (massa de arroz) aos vários
guardiões presentes na casa, bem como oferendas feitas aos guardiões
do poço, ao guardião da cocheira dos cavalos, ao guardião da máquina
de costura. Este aspecto da religiosidade japonesa (não apenas

70
messiânica), de crença na existência de espírito em animais e poços e
até em objetos como a máquina de costura é peculiar e poderia tender
a ser facilmente ressignificada em decorrência do contato com a cultura
brasileira, sobretudo, com a religiosidade popular que é em geral
marcada por crenças sobrenaturais. Entretanto, possivelmente, devido
às diferenças do imaginário popular japonês e brasileiro, as diretrizes da
IMM não enfatizam tais aspectos em palestras ou textos escritos.

CORONEL: Bem lembrado seu espiritu. (dando uma ordem): Severino!


Não deixa de encomendá certu corpo prá não se tê assombração, viu?
Na dúvida, compra uma dúzia daquelas velas grandão, pois a bicha é
encorpada.

PALESTRANTE (chamando): Não para Dedicante da Edição.

DEDICANTE DA EDIÇÃO: Não é raro encontrar messiânicos que foram


espíritas antes de ingressarem na IMM, nem de ouvir o seguinte motivo
de ter optado por trocar o Espiritismo pela religião messiânica:

CHUCHU: “Quando criança fora católica por força da tradição familiar.


Tão logo me tornei independente, ingressei na religião espírita e ali
dediquei por certo período. Porém, uma questão me incomodava: o
fato do espírito não poder “involuir”. Ao conhecer a IMM e a crença na
dinâmica do Mundo Espiritual em que espírito se eleva ou se degrada,
passei a receber Johrei com vistas ao meu próprio crescimento
(elevação) Espiritual.”

FANÁTICA (apontando para o coronel): O exemplo concreto é como o


bode deste coronel aqui. Como ele deve ter involuído, como ele ficou
assim depois dessa degradação total.

CORONEL (lembrando): Severino! Não esqueça, viu? Aumenta o


númeru das velas.

71
PALESTRANTE (rápido para evitar encrenca): Um exemplo acima
demonstra que a proximidade de ideias da religião messiânica e espírita
despertou o interesse, contudo, um elemento distinto – presente
somente em uma das religiões – alavancou uma nova dinâmica
organizadora de sentido. A possibilidade de elevação através do Johrei
permitiu uma ressignificação sincrética que se efetivou a partir do
contato, ou melhor, do confronto entre duas religiões semelhantes e ao
mesmo tempo distintas. Com a minha mãe aí presente ocorreu isso.
(pausa, prestando atenção na fanática): Está psicografando
novamente? Que bom. Que ótimo. Assim poderemos nos embevedecer
com estas santas palavras. Mas, leia logo para nós esta mensagem de
luz.

FANÁTICA (lendo): No Espiritismo, o espírito jamais regride a estágios


inferiores. Trata-se da lei do progresso: “O espírito pode, por
negligência, manter-se estacionado, mas jamais regride a estágios
inferiores ao que se encontra, pois está sujeito à lei do progresso”.

CORONEL: Vê lá si homi adulto podi vortar a tê idadi de meninu,


mesmu que queira.

PALESTRANTE (falando para si): Não se pode elogiar. Desta vez me


mandaram um espírito de demo com suíno. Nem vou falar que segundo
a Messiânica isso não é certo, senão vai dar uma ... mas vamos
continuar porque a palestra não pode parar. (chamando): Escolham em
qualquer dos aqui presentes para encostar. Eh! Lá vem novamente o
Almeida, o tarado da porta da igreja.

CORONEL: Severino! Mais um pra genti despachá, um tar de Almeida


qui num conheci o qui é respeitu cum templo ondi reuni os fié.

CHUCHU: Um outro exemplo é sobre quais tipos de encarnações são


possíveis do ponto de vista do Espiritismo e a contrapartida do assunto

72
do ponto de vista da IMM. No Espiritismo se diz que: “uma encarnação
pode ser livre, compulsória e missionária, dependendo sempre da
condição evolutiva e da necessidade do espírito. Tudo o que o espírito
adquire em dada encarnação passa a fazer parte de seu patrimônio
espiritual, ficando registrado nos arquivos de sua mente profunda e
podendo ser por ele usado em outras existências, para seu
crescimento. Isso explica as crianças superdotadas, para as quais a
ciência oficial ainda não encontrou resposta plausível e definitiva.”

CORONEL: Como é meu casu, ela não tem resposta porque eu ...

FANÁTICA: ... andando com tantos livros não aprende nada.

CORONEL: Como não!?

FANÁTICA (apanhando a Playboy e a National Geographic do coronel,


ergue mostrando para o público): Playboy e National Geographic! Qual
a razão de ler Playboy e National Geographic?

CORONEL: Leiu Playboy por mesma razão que leiu National Geographic:
gostu de vê fotografias de lugares que sei que nunca irei visitá...

FANÁTICA (ergue a lista telefonia, pregando): Irmão! Irmão! Aceita,


aceita, testemunhos do mel, que: (se levanta berrando): Afrodite ...
Afrodite é fiel. Afrodite é fiel.

CORONEL: Mas, quem é essa tal de Afrodite que ela berra tanto?

PALESTRANTE: Afrodite era a deusa grega da beleza e do amor. Nunca


se satisfez em ser a esposa caseira do trabalhador Hefesto. Afrodite
traiu Hefesto, não só com os mortais, mas também com inúmeros
deuses.

73
CORONEL (brabo): Então, cumu que essa fanática fica dizendu que ela é
fié. Afrodite é uma vadia que num dispensa nem divindade, issu é uma
tremenda falta de respeitu. (gritando): Severino! Procura essa
passarinha fornicadora que atendi pelu nomi de Afroditi e cerol nela,
viu?

PALESTRANTE (chamando correndo para evitar mais confusão): Pela


ordem.

PINGUNÇO (sem voz de bêbado): Quanto ao surgimento de crianças


superdotadas, as doutrinas messiânica e espírita guardam semelhanças
e diferenças, simultaneamente.

CHUCHU: Segundo a religião messiânica, há causas especiais para este


fenômeno que dificilmente podem ser compreendidas pela ciência
materialista cuja expressão no Espiritismo é “ciência oficial”. Ambas as
religiões admitem que a reencarnação seja causa do surgimento de
crianças com dotes incomuns.

DEDICANTE DA EDIÇÃO: Por outro lado, a religião messiânica admite


que a causa possa ser de outra ordem. Ou seja, ensina que o apego do
espírito desencarnado pode desencadear um fenômeno de encosto,
normalmente em crianças, conforme o grau de afinidade. Assim, o
Fundador exemplifica que um grande músico que tenha morrido e não
consiga esquecer a sua especialidade pode reencarnar prematuramente
em razão do seu forte apego à sua arte. Outra possibilidade é o encosto
em crianças que sejam seus descendentes.

CHUCHU: Mais um outro exemplo, é o de na IMM chama-se “encosto


de espírito encarnado” os casos específicos de reações físicas geradas a
partir do reflexo de pessoas encarnadas. Segundo o Fundador, em
outros termos, este fenômeno significa o reflexo do pensamento ou
soonen de outra pessoa. E mais, enquanto o encosto do espírito

74
desencarnado provoca sensação de frio, o encosto de espírito
encarnado provoca sensação de calor.

FANÁTICA: Encosto de espírito encarnado não pode ser de jegue? Aí


explicaria o caso do ...

CORONEL (pedindo): Severino! Compre um casacão de friu brabu. Achu


que encostu da cabra aqui du meu ladu, está começando a esfriá.

PALESTRANTE (chamando correndo para evitar confusão): Pela ordem.

CHUCHU: O nosso Centro Cultural Paraíso Terrestre tem como proposta


principal a criação da cultura do Paraíso Terrestre. Para se compreender
o sentido messiânico desta “cultura do Paraíso”, é preciso conhecer
além das já abordadas concepções messiânicas de “espírito das
palavras”, “força alojada em si”, “purificação e doença”, “auto-
aprimoramento” e “morte e reencarnação”, outras como as que devem
ser tratadas como “o diagrama da cultura do Su”, “emblema izunome”,
“desenho da Imagem da Luz Divina”, “sinais como Solos Sagrados”, bem
como ainda outras como a “ultra-religião”, “as coisas tem espírito”, “os
elementos fundamentais” e “publicações de ensinamentos”. (pausa):
Diagrama da Cultura de Su. Neste místico símbolo da Nova Era, o ponto
dentro de um círculo, o ponto simboliza o espírito, o centro a verdade,
o centro da mente divina, o centro da sabedoria.

DEDICANTE DA EDIÇÃO: - Emblema izunome. No Brasil, o emblema da


IMM é facilmente identificado com uma cruz embora não haja relação
direta com o simbolismo cristão. Contudo, o formato do emblema
messiânico, até certo ponto, pode ter contribuído para certa
aproximação simbólica entre as duas religiões.

PINGUNÇO (sem voz de bêbado): O atual emblema da religião


messiânica difere do original criado pelo Fundador e é comumente

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chamado de izunome. O Fundador explicou o seguinte sobre as cores
do emblema original: o dourado simboliza o próprio Fundador; o
vermelho simboliza a Igreja Messiânica; o amarelo simboliza os Estados
Unidos (atualmente, ao invés da cor amarela, usa-se a cor verde). No
emblema original, não havia as linhas transversais observadas no
emblema atual.

FANÁTICA: Huumm! Por falar em cores, eu acho que o “nosso


adolescente aqui”, com essas coloridas pulseiras de silicone, joga o
Snap com o bonitinho do Miltinho.

PALESTRANTE (falando baixinho para ela): O que são essas pulseiras


coloridas?

FANÁTICA (falando baixinho para o palestrante): Caramba! Você vive


em que mundo? Essas são as famosas pulseiras de sexo que os
adolescentes estão usando.

CORONEL (invocado): Olhi, sua fanática, num sei du que tá cochichando


sobre minhas pulseiras. Mas, não tô gostando dessa ...

PALESTRANTE (falando baixinho para ela): Ele não está gostando de


que?

FANÁTICA (falando baixinho para o palestrante): Da amarela. A única


que ele não gosta é quando o Miltinho fica usando a de cor amarela.

PALESTRANTE (falando baixinho para ela): Por quê?

FANÁTICA (falando baixinho para o palestrante): Caramba! Porque é só


de ficar abraçando. O bode velho gosta de usar é a de cor vermelha, é
um sucesso, pois ele adora ficar fazendo lap dance para o Miltinho.
(falando alto para o coronel): Não é verdade, coronel?

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CORONEL: Olhi, sua fanática, num sei du que tá cochichando sobre
minhas pulseiras e falando de um tal de Mirtinho que num conheçu.
Mas, prá num deixa farta de certeza digu que issu foi presente do meu
adversário politicu lá no meu sertão, o Arrudão da Conceição e da
Corrupção. (procura conter a sua emoção): Chegu quase a me emocioná
quandu tocu nessi assuntu. (chorando): Pois bem, Arrudão da
Conceição e da Corrupção dissi que issu era que nem um sacramentu,
igual a códigu religiosu secretu que manda mensage. (recomposto da
choradeira): Essi presenti que meu adversário politicu me deu, mudou
sua vida, ele passou a rir de tanta felicidadi. Então, quandu mi via com
estes seus presentis, era só sorrisu.

FANÁTICA (gozando): Tam, tam, tam, tam. Aqui tem educação. Nem
todo prendar é agraciar.

CORONEL: Então, se codigu também é símbulu, então doutô também


podi falá nesta palestra sobre códigu de barra. Não é verdadi?

PALESTRANTE (chamando correndo para evitar confusão): Rápido,


escolham qualquer um. Pode até ser o tarado do Almeida.

FANÁTICA (interessada): Pode ser sim, é pode ser até em mim. Irmão,
irmão, irmão Almeida, vem, vem, que a toda pura é suspeita, volúvel,
insincera, irresponsável, transgressora e toda infiel.

CORONEL (chamando): Severino! Reprima iniciativa perssoá dessa


Afroditi aqui.

CHUCHU: No exterior, sobretudo no Brasil, o emblema da IMM aparece


com frequência no material veiculado pela instituição, ou seja, funciona
como uma espécie de reforço à identidade global da IMM. No Japão, no
entanto, a situação é diferente. O emblema está praticamente
desaparecido.

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Os EUA seriam os representantes da cultura materialista (horizontal) e
o Japão, o representante da cultura espiritual (vertical). Segundo
Meishu-Sama: “A união do vertical e do horizontal é que dará origem à
verdadeira cultura. Assim sendo, a tarefa mais importante é unir a
cultura americana e japonesa.”
Explicações elaboradas por integrantes do Departamento de Ensino e
Núcleo de Estudos de Teologia, da IMMB (no prelo), consideram o
emblema uma representação da própria missão da religião messiânica.
É formado por dois eixos – vertical e horizontal – que se cruzam dentro
de um círculo. O eixo vertical representa o Oriente, o espírito, a atuação
do fogo, a ligação do homem com seus ancestrais e Deus. O eixo
horizontal representa o Ocidente, a matéria, a atuação da água, a
ligação entre os homens. No centro da cruz não existe nem vertical nem
horizontal, que desaparecem e se transformam num círculo que
significa izunome, o equilíbrio entre horizontal, daijo, e vertical, shojo.
O círculo central (amarelo) simboliza a IMM e sua missão de unir as
duas culturas, espiritual e material, fazendo nascer a cultura cruzada ou
cultura izunome. O anel que o envolve (vermelho) representa o mundo
do dia ou mundo do Sol, e também o Japão, chamado de “o país do sol
nascente”.
Segundo informações obtidas junto a um dos reverendos da IMMB, a
Sede Geral da IMM, no Japão, ainda não disponibilizou um material
oficial sobre a simbologia do emblema da religião messiânica.

CORONEL: Sem querê atrapaiá o trabalhu da entidadi, tem uma palavra


... izunome ... qui não engoli direitu. (pausa, olhando para fanática): Ih!
Chicu Xavié de novo, não! (pausa) Enquanto ela escrevi com olhus
fechadu, vou recitá uns versu da minha autoria sobri ... a cegueira du
amor. (recitando versos)
Se você tem namorado
Não namore no portão
Pois o amor é cego e alucinado
Mas os vizinhos não.

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FANÁTICA (lendo): Meishu-Sama incorpora estes termos à sua doutrina
criando uma articulação com o termo izunome, que tem raízes no
xintoísmo antigo. No Kojiki (Registro de Histórias Antigas), izunome
aparece uma única vez compondo o nome de izunome-no-kami. Em
certa medida, seria possível considerar izunome um termo messiânico
ressignificado a partir de uma figura mitológica xintoísta também
existente no universo Oomotano. Assim sendo, daijo e shojo e izunome
correspondem aos aspectos horizontal, vertical e o equilíbrio entre
ambos. Como se sabe houve modificações no emblema desde a época
da elaboração original pelo Fundador. Contudo, grande parte das
características originais bem como o seu sentido de cruzamento entre
culturas para a criação de uma nova civilização parece ter sido mantido.
(pausa, ouvindo mensagem do além):
- Alô alô. Câmbio estou ouvindo. Pode falar.
- O quê? Expedito está em dúvida por que riram dele aqui no Mundo
Espiritual?
- Por quê? Câmbio.
- Porque quando perguntaram a ele “Você gosta de fofoca?”, ele
respondeu “Na na não, só só de pin pingüim.”

CORONEL: Severino! Anote, por favor, quem não está rindo.

PALESTRANTE (falando para si): Essa que psicografa parece uma


esponja absorve tudo quanto é mensagem. Vamos continuar.
(chamando): Pela ordem, nada de escolher qualquer um, pois senão o
Almeida vem logo se encostando.

PINGUNÇO (com voz de bêbado): Comigo não hein, seu Almeida!


(pausa): - Desenho da Imagem da Luz Divina. Na religião messiânica, a
caligrafia possui uma força simbólica que superar a função meramente
comunicativa ou artística. Em especial nas unidades da IMM, a
representação divina no altar é feita por uma caligrafia. Como Deus não
tem formas fixas, os messiânicos utilizam seu nome escrito em

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caligrafia japonesa, como uma imagem para representá-Lo. A origem
japonesa da IMM é o principal motivo para a utilização de uma
caligrafia no altar como forma de representação do nome do “Deus
Supremo”, Criador do Universo. A caligrafia do Altar é composta por
cinco ideogramas japoneses que quer dizer “Deus da grande luz,
claridade e verdade”. Os ideogramas da caligrafia do altar também
podem ser lidos, em japonês, como “Miroku Oomikami”. Como Deus é
Luz, segundo a doutrina messiânica, costuma-se também chamá-la de
“Imagem da Luz Divina”, em português.

CHUCHU: A partir de 05/02/1976, esta caligrafia escrita com cinco


ideogramas foi entronizada em substituição à imagem Koomyo, escrita
com dois ideogramas pelo Fundador Meishu-Sama. Segundo o
Presidente da IMM na época, Teruaki Kawai: “Foi tornada Uma.
Doravante, no Japão ou no exterior, em todas as Igrejas e lares dos fiéis
será entronizada essa Sagrada Imagem da Luz Divina”. Esta medida
demonstra uma ação institucional com vistas à consolidação de um
aspecto da identidade messiânica relativa à noção de Deus através de
uma caligrafia que pretende conferir uma identidade uniforme em
termos locais e globais. Enquanto a imagem que representa Deus
Supremo é uma caligrafia japonesa na maioria dos países em que a
IMM está presente mundo afora, há casos como o da África, em que
não há caligrafia japonesa visível; ela fica dentro de um emblema
dourado que simboliza a ideia de izunome e representa Luz Divina.

DEDICANTE DA EDIÇÃO: - Sinal Solos Sagrados. Para os messiânicos a


importância dos Solos Sagrados reside no fato de ser um protótipo do
Paraíso Terrestre cuja construção é a principal missão do ser humano.
Deus é espírito e o homem, matéria; portanto, são o trabalho conjunto
de ambas as partes que possibilitará a criação de um mundo ideal. O
homem é o representante de Deus nesta empreitada e os Solos
Sagrados são a materializações deste sonho utópico.

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Uma das imagens mais importantes do universo simbólico messiânico é
a imagem da pedra que, jogada ao centro de um lago, vai formando
círculos de pequenas ondas até chegar às margens. Esta situação,
passível de ser vivenciada entre homem e natureza, transmite a ideia
de que tudo se desenvolve a partir de uma pequena forma ou de um
pequeno modelo.

PINGUNÇO (sem voz de bêbado): Os messiânicos, por sua vez, em seu


discurso sobre si mesmo, em geral, enfatizam o aspecto positivo de
serem abertos a outras religiões e que o Solo Sagrado seria a
cristalização desta realidade. Em termos culturais, isso é um típico
exemplo de hospitalidade japonesa, porém sem maiores intenções de
estreitamentos de laços. No primeiro trimestre de 2007, participaram
do projeto de reflorestamento da área recém-adquirida pelo Solo
Sagrado cerca de 2.300 voluntários que plantaram 1.500 mudas de
árvores nativas da região. No ano 2005 sobre a reforma do alojamento
local em que foi implantado gerador eólico, placas solares, tratamento
de esgoto, entre outros recursos.

PALESTRANTE (prestando atenção no coronel que cochilava, pede a


fanática): Psiu! Acorda o bode velho do coronel. Ele já deixou até cair
no chão à revista com o gênio do Einstein na Capa.

FANÁTICA (chamando): Bode velho! Bode velho!

CORONEL (enfezado, despistando que não estava dormindo): Qui essa


porteira tá fazendu!? Por acasu quandu você psicografa eu interrompo?

FANÁTICA: O que então estava fazendo? Estava incorporando?

CORONEL: Saiba que sou vidente e audiente.

FANÁTICA: Mas, roncando?

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CORONEL (falando irritado): Mas, você não sabi qui todu vidente e
audiente profundu é assim?

FANÁTICA: E essa revista com esse gênio no chão?

CORONEL: É pra que eu não esquecessi qui quem eu vi e ouvi foi


mensagem de um gêniu.

FANÁTICA: E o que esse gênio contou?

CORONEL: Contou que um casal estava jogando golfe perto de sua casa,
num campo muito chique, rodeado por belíssimas mansões. Na terceira
tacada o marido disse para sua apetitosa jovem esposa:- “Querida,
tome cuidado ao arremessar a bola; não vá mandá-la numa dessas
casas e quebrar uma vidraça. Vai custar uma fortuna para consertar.”
Nem terminou direito a frase, ela dá a tacada e a bola vai direto para
uma janela da maior casa da vizinhança. O marido se exaspera:- “Eu
disse para tomar cuidado! E agora, como vai ser? Vamos até lá pedir
desculpas e ver quanto vai ser o prejuízo.” Eles batem à porta e ouvem
uma voz:- “Podem entrar.” Eles abrem à porta e veem vidro espalhado
pelo chão e uma garrafa quebrada perto da lareira. Um homem
sentado no sofá diz:- “Vocês são os que quebraram a minha janela?” –
“Sim. Sinto muito, e quero pagar o prejuízo” - responde o marido. – “De
jeito nenhum. Eu que quero agradecer-lhes. Sou um gênio que estava
preso nesta garrafa por milhares de anos. Vocês me libertaram. Posso
conceder três desejos. Eu dou um desejo a cada um e guardo o terceiro
para mim.”- “Que legal!” - diz o marido. – “Quero um milhão de dólares
por ano, pelo resto de minha vida.”- “Sem problema. É o mínimo que
eu posso fazer. E você, o que gostaria de pedir?” - diz o gênio olhando
para aquela esposa. – “Quero mil sapatos de cada país do mundo” - ela
responde. - “Pode considerar seu desejo realizado - diz o gênio.”- “E
qual é seu desejo, gênio?”, o marido pergunta.- “Bem, desde que fiquei
preso nesta garrafa por milhares de anos não tive mais oportunidade

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de fazer sexo. Meu desejo é ter sexo com sua mulher.” O marido olha
para sua esposa e diz:- “Bem, querida, nós ganhamos um monte de
dinheiro e sapatos. Acho que ele não está pedindo muito.” O gênio leva
a apetitosa jovem mulher para o quarto e passa cinco horas com ela.
Depois de terminar, ao se vestirem, o gênio olha para ela e pergunta: -
“Quantos anos têm seu marido?”- “35.” - ela responde. – “E ele ainda
acredita em gênios? É espantoso!!!”

FANÁTICA: Êpa! Estão me mandando uma mensagem. Será que é do


Almeida, para gente marcar um ...

CORONEL: Severino! Consulti aquelas tribus da África prá aprendê de


comu fazê algumas retiradas. A gazela aqui de temperamento
assustada e nervosa tá necessitandu.

FANÁTICA (lendo a mensagem): “Enfim, já está mais do que


comprovado que as religiões de até agora não servem, por isso é
preciso que surja algo superior a elas, algo denominado X. Quem pensa
assim, não somos apenas nós.”

PALESTRANTE (chamando): Pela ordem.

PINGUNÇO (sem voz de bêbado): - Ultra- religião. Deslocando-se de sua


face exclusivamente religiosa de busca pela cura dos “males do
espírito”, a IMMB veio gradativamente diversificando seu campo de
ação em direção a uma abordagem “ultra-religiosa”.

CHUCHU: Ao longo de sua história no Brasil, a IMMB viveu


transformação que tenderam ao afastamento da proposta de
movimento salvífico em prol de um movimento de transformação
cultural, de educação pautada em princípios espiritualistas, altruístas e
ecológicos.

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DEDICANTE DA EDIÇÃO: Em 58 anos de presença no país, a IMM viu
seu rebanho se dispersar tanto pelas rupturas internas e pelos
problemas administrativos quanto pela própria política de
metamorfose de religião em “ultra-religião”. Nestes momentos
institucionais de “ir e vir” para dentro e para além da religião, parte dos
membros messiânicos se viu diante das múltiplas facetas da “religião” e
da “ultra-religião” messiânica passível até de crise identitária.

PINGUNÇO (com voz de bêbado): Assim como há diferenças no modo


de ser do “católico praticante” e do “católico por tradição”, é possível
pensar em semelhanças e diferenças entre “messiânicos religiosos” e
“messiânicos ultra-religiosos”. Contudo, passado mais de dez anos de
introdução do discurso ultra-religioso na IMMB, não se acentuam nos
fiéis traços que caracterizem um modo de ser peculiar do messiânico
“ultra-religioso”. Possivelmente, isto se deva a uma interrupção no
percurso de criação de uma identidade ultra-religiosa ou porque ainda
seja prematuro definir o modo de ser messiânico no Brasil. Vários
podem ser os fatores responsáveis por esta identidade “ambígua” ou
“inacabada” do messiânico ultra-religioso, que, nos últimos tempos,
tem experimentado novas dimensões em sua identidade.

CHUCHU: “Ultra” significa “além de”, algo que transcende, isto é,


supera. No caso “ultra-religião” como “religião que transcende a
religião e possui poder extraordinário capaz de criar uma nova cultura
através da reforma do ser humano e do mundo”. Meishu-Sama, que
afirma que a religião messiânica é tanto de caráter popular como
teórica. Eis um aspecto importante de identidade messiânica: uma
religião popular e teórica, ao mesmo tempo. De modo, a colocar a
teoria em prática a ponto de a Fé ser vivenciada no dia-a-dia em termos
também da família, trabalho, lazer etc.

DEDICANTE DA EDIÇÃO: A partir da segunda metade da década de 90,


observa-se entre os messiânicos uma tendência de se propor à

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divulgação de sua doutrina sob a forma da “Filosofia de Mokiti Okada”
numa tentativa de não vinculá-la à religião messiânica exclusivamente.
Em síntese, esta filosofia ensina que toda e qualquer desarmonia
existente no universo, na sociedade e na vida humana se dá em função
do afastamento humano das leis naturais. E que o Johrei, a Agricultura
Natural e o Belo são práticas básicas para a construção de uma nova
civilização.

CHUCHU: Não cabe aqui fazer uma analogia comparativa entre a


“Doutrina da IMM” e a “Filosofia de Mokiti Okada”, mas percebe-se
uma marcante diferença. Enquanto, no texto de 1950, a proposição é
“salvar a humanidade”, a Filosofia de Mokiti Okada, de 1996, busca
“despertar a humanidade” e alertá-la sobre as consequências do
desrespeito à Lei da Natureza com vistas à construção de uma nova
civilização. As evidências demonstram que, no Brasil, a IMM caminhou
como “religião” durante 40 anos desde sua introdução no país em 1955
e, a partir da inauguração do Solo Sagrado, passou a percorrer
efetivamente um caminho paralelo – o da “ultra-religião” – que não
mais visa “salvar a humanidade”, mas sim torná-la espiritualista e
altruísta.

CORONEL: Eu não sou marimbento não. Uma vez eu perdi o


madrugueiro, aqueli últimu ônibu que se a genti perdi, o próximo é só
de manhã. Pois é, eu perdi o madrugueiro. Sem me azucliná porque
tava de buxo cheiu, fui a pé a meia-noite, pela estrada da roça. Du ladu
esquerdu da estrada existia uma geréba abandonada, mal assombrada,
que abrigava um pinheiru em seu interiô. Dizem que a árvore cresceu
sozinha e ninguém tinha corage prá cortá. Só de passá pertu dela o
povu ficava todo arrepiadu. Eu quase que dei um revestrez. Mas, o pió
foi o que vi mais adianti: um bichu sem cabeça, graúdo, fazendo zuada.
Confesso que fiquei meio zambeta. Mas, eu não sou de me aperreiar
não, nada é de me ataiar. Peguei ...

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PALESTRANTE (interrompendo, chama rapidamente): Rápido, muito
rápido. Até se aquele quiser dar mais uma encostadinha, pode ser.

CHUCHU: - As coisas têm espírito. Aqui mesmo quando visitei os 93


municípios do Rio de Janeiro fazendo filmagem, conheci um cemitério
de pássaros. Na religiosidade popular do Japão, crê-se que montanhas,
árvores e rios contenham em si a força dos kami que são capazes de
influenciar a vida humana. Dentre os vários tipos de rituais, destaca-se
um ritual no qual um agricultor, em postura de prece diante de uma
árvore, ora por uma boa colheita. Na árvore, penduram-se palha e
papéis especialmente cortados designando a ocorrência de um ritual
naquele local. Ao lado da árvore, coloca-se um machado, que simboliza
uma ameaça à árvore caso ela não produza frutos.
O fiel brasileiro da Igreja Messiânica sequer imagina que exista
semelhante ritual no Japão, em que um machado simboliza uma
ameaça a árvore que não dá bons frutos. Contudo, ele eventualmente
lerá o seguinte trecho de Meishu-Sama: “Certamente as plantas
também possuem espírito. Neste ponto, assemelha-se ao homem que
cuida de sua aparência para não passar vergonha perante os outros.
Tempos atrás, ouvi um velho jardineiro contar que, quando uma planta
não dava flores como ele queria, dizia-lhe estas palavras: ‘Se este ano
você não der flores, vou cortá-la’. Assim ela não deixava de florir. Ainda
não experimentei fazer isso, mas o fato me parece verossímil. Não há
erro em lidarmos com qualquer elemento da Grande Natureza
acreditando que ele possui espírito.” Inclusive com os ...

FANÁTICA (levanta e lendo a psicografia): - Elementos fundamentais. A


junção do fogo e da água faz parte do mundo mítico da religião Oomoto
como duas forças, dois elementos. Contudo, foi Meishu-Sama que
pensou na relação entre três elementos: fogo, água e terra.
Harmonizando-se estes três elementos, universalmente, concretizam-
se a harmonia e o equilíbrio no mundo religioso.

86
O texto “Trilogia dos órgãos Internos e o Johrei” apresenta uma relação
entre órgãos do corpo e elementos da natureza. Coração, pulmão e
estomago correspondem respectivamente aos elementos fogo, água e
terra.
Numa composição de ikebana estilo sanguetsu, “o Sol, a Lua e a Terra”
é representado por galhos de plantas de diferentes tamanhos
arranjados em uma determinada posição e confere uma hierarquia. Sol,
Lua e Terra simbolizam respectivamente fogo, água e terra, ou então,
pai, mãe e filho, ou ainda, futuro, presente e passado.

CORONEL (levanta, contando sua vidência e audiência): - Publicações de


ensinamentos.
Eu vi e ele me contou que:
“Enquanto outras Novas Religiões Japonesas baseiam suas publicações
no formato das publicações da matriz no Japão, concentrando-se em
traduções, a exemplo das revistas editadas pela Seicho no Iê, a Igreja
Messiânica Mundial segue padrões próprios de publicação de
periódicos.
Até mesmo a atual Coletânea de Ensinamentos de Meishu-Sama –
Alicerce do Paraíso - seguiu uma sequencia de compilação particular,
diferente da editada no Japão. Naturalmente, a ideia de adaptação
regional parece ser incentivada pela própria matriz no Japão visto que
editou um livro Alicerce do Paraíso, versão para o exterior organizada
distintamente daquela voltada aos membros japoneses.
Foi somente em 2008 que houve a publicação de uma revista intitulada
Izunome no Brasil cujo nome é exatamente igual ao da revista
publicada sazonalmente, no Japão. Naturalmente, o conteúdo da
revista em português difere da revista japonesa, sendo que apenas
alguns artigos são traduzidos.”

PALESTRANTE: Neste caldeirão de raças ...

87
FANÁTICA E CORONEL (juntos): Realmente, a imagem do Brasil como
um caldeirão de raças é conhecida em geral e ressurge de vez em
quando no discurso institucional. Nos primeiros anos da década de 90 o
Presidente da IMMB da época incentivava os jovens a se prepararem
para fazer difusão mundial. O Brasil, tido como um local de formação de
muitos missionários fervorosos tem a função de ponte para ampliar a
difusão da religião messiânica em termos mundiais. Assim sendo a
identidade messiânica brasileira seria marcada também pela “harmonia
de diferenças”.
A identidade messiânica brasileira também é marcada por outros dados
como ...

PALESTRANTE (se levanta, interrompendo com gestos para que os dois


se sentem): Não é preciso mais dados para que o objetivo deste Ciclo de
Palestras tenha sido cumprido. Pois, oferecemos para vocês brasileiros
algumas ideias do que é ser messiânico com a finalidade de suscitar
interesse e criar premissas para ... o surgimento, a formação e o
desenvolvimento do ... Ih! Não dá para explicar isso em poucas palavras
não. Acho melhor que aquele que quiser saber venham ...

Nesse instante cada um dos personagens que fizeram parte deste Ciclo
de Palestras exige que o palestrante faça um resumo do que é ser
messiânico.

EXPEDITO: Póla Chali! Faz resumu du que é sê messianicu, fafaz lologo.

PINGUÇO (voz de bêbado): Ô da palestra! Os bolas murchas aqui


também querem um resuminho.

*PINGUÇO (voz de homem): Não é pessoal?

*MULHER (voz de mulher, bem afetada): Eu também quero.

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FANÁTICA (com voz de pregadora): Irmão! Irmão! Aceita, aceita, todos
querem um resumo.

CORONEL: Severino! O maníaco de Dnepropetrovsk ainda está por aí?

PALESTRANTE (assustado): O quê! (orgulhoso): Mas, pensando bem se


a intenção era para oferecer aos brasileiros ... (expansivo): ... o Brasil é
isso aqui, um país: mais do que de aloprados e corpo despenado, mas
também de assombrados e alma penada; mais do que de sóbrios
sisudos e perigosos, mas também de bêbados contentes e mansos;
mais do que de acendedor dos que favorecem a cinza do exterior e do
desamor, mas também de apagador dos que impedem a chama da
iluminação e do coração; mais do que normais antipatizantes inativos,
mas também de bizarros entusiastas dinâmicos.

EXPEDITO: Póla Chali! Traduz isso.

CORONEL: Severino chama o maníaco de Dnepropetrovsk.

CORONEL E FANÁTICA (juntos): Prestem atenção.

PALESTRANTE: Enfim, ser messiânico não é ser alguém que tenha uma
identidade como uma espécie de documento de identificação do
Instituto Félix Pacheco. Uma carteira de identidade circunscrita aos
dados de nome, filiação, naturalidade e data de nascimento. Mas, sim,
ser alguém que tenha consciência da própria personalidade messiânica.
Ser alguém que tenha compreensão da própria existência do
mensageiro aspecto que assume e projeta em público do que foi dito
nestas palestras.

CORONEL E FANÁTICA (juntos): Prestem atenção.

89
PALESTRANTE: Desde pertencer à instituição messiânica, refletir sobre
Kyoshu-Sama e compartilhar de rito litúrgico. Passando por se orientar
em relação a espírito das palavras, força alojada em si, purificação,
auto-aprimoramento, morte, reencarnação, diagrama da cultura do
Senhor, emblema izunome, desenho da Imagem da Luz Divina, sinais
como Solos Sagrados, as coisas têm espírito, os elementos
fundamentais fogo, água e terra, publicações de ensinamentos e
harmonia das diferenças. Até a seguir o Messias Meishu-Sama,
participar de movimento ultra-religioso messiânico, ser portador de
Ohikari, estudar ensinamento de Meishu-Sama e se entusiasmar com a
implantação da Nova Cultura para que se construa o tão desejado
Paraíso na Terra.

Coronel e Fanática levantam batendo palma, o público acompanha.


Depois de alguns instantes quando as palmas declinam, uma pessoa da
plateia faz uma pergunta deixando todos os presentes com atenção
máxima à resposta do palestrante. Este em silêncio vai até o interruptor
daquela sala do Instituto Agora, desliga-o deixando tudo escuro e parte
na certeza de ter plantado uma semente com o ciclo de palestras que
quando germinar decifrará a indagação feita. E assim se encerra este
livro ... O que? Quer saber qual foi a pergunta daquela pessoa? Pois
não, ele questionou o que é SER MESSIÂNICO.

FIM

90
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http://www.sintrasaude.com.br/docs/cct/dissidio-20052006.html
Acesso em 19/10/2008
http://www.temploluzdo oriente.org.br

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CRONOLOGIA DA IMM NO BRASIL
1955 – 10/02, falece Meishu-Sama.

A IMMB teve quatro grandes fases:

1ª) Difusão pioneira com igrejas independentes; (1955-1963);

2ª) Instalação da Sede Central e unidades religiosas, bem como


diversificação das atividades (1964-1984);

3ª) Construção do Solo S


agrado e consolidação do sistema de formação de elemento humano
que inclui membros e missionários (1985-2000);

4ª) Implantação do Sistema de Johrei Center e centralização no Trono


de Kyoshu – 4º Líder Espiritual (a partir de 2000 até os dias atuais).

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1ª) Difusão pioneira com igrejas independentes; (1955-1963).

1955 chegam ao Brasil Shoda e Nakahashi, os primeiros ministros


japoneses com fins missionários vindos a partir da Igreja Seiko de
Kyoto, e não da Sede Geral da IMM no Japão.

1956 em Belo Horizonte, Nakahashi outorgou o Ohikari ao primeiro


membro messiânico no Brasil, o Sr. Otsuo Baba. Contudo, devido à
denúncia de prática de curandeirismo, Nakahashi partiu para Curitiba,
onde foi recebido pelos parentes de Otsuo Baba.

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1957 na cidade de Curitiba, obteve-se o registro de pessoa jurídica da
primeira unidade da religião messiânica no Brasil.

1962 em 24/01, falece a 2ª Líder Espiritual (Nidai-Sama).

em ??/01, os ministros Shoda e Nakahashi retornam ao Japão.


Porém, retornam ao Brasil.

em 10/07, chegam ao Brasil oito ministros integrantes


contratados e enviados para difundirem a religião messiânica no país.
Todos vieram com visto de agricultor, mas diferentemente dos
membros e ministros vindos anteriormente, estavam ligados
oficialmente à Sede Geral da IMM no Japão.

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2ª) Instalação da Sede Central e unidades religiosas, bem como
diversificação das atividades (1964-1984).

1964 foi criada no Japão a função de responsável das igrejas do


exterior.

em 21/01, ocorreria o Registro Civil de Pessoa Jurídica da “Igreja


Messiânica Mundial Sede Central do Brasil” na Vila Mariana, SP.

inicia-se ponto de expansão da religião no Rio de Janeiro e com


isso começo da expansão da fé messiânica em âmbito nacional devido à
movimentação dos membros pelo país

1965 foi editada pela primeira vez, em português, um periódico oficial


da organização intitulado Revista Gloria.

ponto de expansão da religião no Rio Grande do Sul.

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1967 envio da 2ª turma de ministros designados pela sede japonesa
(9 ministros), bem como designação de missionários para as unidades
religiosas do país, outorga de Ohikari centralizada e estabelecimento de
diretrizes anuais, a partir da Sede Geral.

´foi lançado o livro “Fragmentos dos Ensinamentos de Meishu-


Sama”, traduzido a partir de uma publicação originalmente lançada em
inglês.

ponto de expansão da religião no Maranhão.

1969 ponto de expansão da religião no Maranhão, Ceará e Mato


Grosso do Sul.

1970 início do Sistema de Unificação das Igrejas e separação da Igreja


Seiko no Japão da Sede Geral.

Shoda, que ocupava o cargo de responsável da IMMB, foi


chamado de volta ao Japão e passou a atuar como ministro responsável
da IMM na região de Saitama.

Nakahashi, que era o vice-responsável, não voltou


definitivamente ao Japão. Como havia sido designado para traduzir o
livro “Homem – ser religioso”, de autoria do então presidente Teruaki
Kawai, acabou permanecendo no Brasil e vive em São Paulo até os dias
atuais.

em 29/01, “Igreja Messiânica Mundial Sede Central do Brasil” foi


alterado para Igreja Messiânica Mundial do Brasil.

ponto de expansão da religião em Brasília.

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19/03, partida da 1ª caravana de peregrinos messiânicos (146
pessoas) aos Solos Sagrados do Japão.

1971 1ª turma de seminaristas brasileiros ao Japão.

foi instituída a Fundação Messiânica.


1972 consolidação do Sistema de Unificação das Igrejas, sob a
liderança do então presidente da IMM – Teruaki Kawai.

em ??/12, Nakahashi se desligou da IMM e fundou uma vertente


da religião messiânica conhecida como Templo da Luz do Oriente.

sob a coordenação de Ricardo Tatsuo Maruishi – um dos


primeiros membros nikkei formados em Londrina e que se tornou
ministro integrante da IMMB – foi lançado o livro de ensinamentos
“Alicerce do Paraíso” volume 1.

a segunda caravana levaria ao Japão 300 pessoas que, além de


visitarem os locais sagrados da religião, se hospedariam em casa de
membros japoneses e experimentariam as dificuldades decorrentes das
diferenças lingüísticas, culturais, do cotidiano em geral e até mesmo de
práticas messiânicas.

1973 ações judiciais e surgimento de dissidências devido a


subordinação administrativo-financeira da IMMB à Sede Geral no
Japão.

ponto de expansão da religião no Pará.

realizou-se a 1ª Exposição de Belas-Artes Brasil-Japão 1974 - foi


criada a Escola de Ikebana estilo Sanguetsu.

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1975 foram adquiridos os terrenos de Guarapiranga e Atibaia que
mais tarde dariam lugar, respectivamente, ao Solo Sagrado de
Guarapiranga e ao Pólo de Agricultura Natural.

1978 é implantado o sistema de Igrejas Regionais: IRESP (Igreja


Regional de São Paulo) e IRERJ (Igreja Regional do Rio de Janeiro).

1981 Fundação Messiânica foi alterada para Fundação Mokiti Okada –


M.O.A. com a proposta de desenvolver atividades culturais, artísticas e
assistenciais.

1982 comemoração do Centenário do Fundador Mokiti Okada.


Destacam-se: a inauguração do edifício Mokiti Okada, de sete andares,
junto à Sede Central; a publicação da coleção Luz do Oriente (Biografia
de Mokiti Okada), além da peregrinação de muitas caravanas de
brasileiros ao Japão. Também é implantado a sede física da IRESP
(Igreja Regional de São Paulo).

1983 autorização da Sede Geral para construir o primeiro protótipo


do Paraíso fora do Japão, isso se deu por ocasião da visita missionária
da 3ª Líder Espiritual ao país.

1984 iniciou-se no Japão um conflito interno da IMM que culminaria


com a divisão da organização em três grupos denominados Saiken,
Shinsei e Goji. Este conflito apresentou reflexos no Brasil, sobretudo,
levando à criação da MOA Internacional por parte do grupo do Saiken.
Com o conflito interno da IMM deflagrado no Japão, Tetsuo Watanabe
passa a acumular a função de vice-presidente do grupo Shinsei no
Japão, além da Presidência da IMMB.

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3ª) Construção do Solo Sagrado e consolidação do sistema de
formação de elemento humano que inclui membros e missionários
(1985-1999).

Década de 80, outros títulos de ensinamentos foram publicados e


implantou-se o sistema de missionários cuja hierarquia era a seguinte:
membro → auxiliar de grupo → assistente de grupo → assistente de
ministro → ministro. Mas, também foi nesta época que se iniciou no
Brasil a atividade da difusão da Agricultura Natural.

1985 é implantado a sede física da IRERJ (Igreja Regional do Rio de


Janeiro).

1993 caravanas de messiânicos passaram a viajar ao Brasil como


caravanistas, mormente por ocasião de grandes eventos.

25/07/1993 foi realizado em em São Paulo o 2º Congresso


Internacional de Jovens. Contou com 50 mil participantes incluindo mil
participantes japoneses e 4.500 dedicantes.

1995 inauguração do o Solo Sagrado de Guarapiranga.

ocorre o início de um novo ramo de atividade da IMMB – a


criação da Korin Agropecuária, uma empresa cujo objetivo seria a
venda de produtos obtidos através do método da Agricultura Natural.

1998 IMMB recebeu uma nova visita missionária da 3ª Líder


Espiritual.

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4ª) Implantação do Sistema de Johrei Center e centralização no Trono
de Kyoshu – 4º Líder Espiritual (2000 até os dias atuais).

2000 3ª Líder Espiritual deixa a função de Líder Espiritual a cargo de


Yoichi Okada, 4ª Líder Espiritual da Igreja, neto do Fundador.

Tal encaminhamento teria contribuído para o início do processo


de Reconciliação dos três grupos dissidentes no Japão (Saiken, Shinsei e
Goji).

Tetsuo Watanabe passou a acumular o cargo de Presidente


Mundial da Igreja Messiânica, no Japão, que engloba as três igrejas
criadas a partir dos grupos citados anteriormente (Igreja Toho no
Hikari; Izunome; Su no Hikari).

Reforma do Sistema de Expansão baseado no Johrei Center.

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