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POTENCIAL DE GERAÇÃO FOTOVOLTAICA DO CAMPUS DE

GOIABEIRAS - UFES

(1)Danilo Blank Pádua, (2)Felipe Viggiano de Souza, (3)Vinícius Oliveira


Nascimento
(1) – Graduando, DEL/ UFES e-mail: danilo_blank@gmail.com; (2) – Graduando,
DEL/UFES, email: felipeviggiano@gmail.com; (3) – Graduando, DEL/UFES, e-mail:
vinicius.on@gmail.com

Abstract: Power grid integrated Photovoltaic (PV) systems are an important energy
source in urban areas, mostly in sunny countries, such as Brazil. The increase of electrical
energy demand, along with environmental issues, are sponsoring the development of this
renewable power source.
This article is about the analysis of a PV system generation at the Universidade Federal
do Espírito Santo (Ufes). The studies showed impressive results concerning power
generation and Ufes' demand curve smoothening, decreasing the peak energy demand at
the local power grid. Copyright © 2009 CBEE/ABEE

Keywords: photovoltaic systems, power grid, demand curve.

Resumo: O sistema fotovoltaico (FV) integrado a edificações e interligado à rede elétrica


é um exemplo de fonte geradora de energia importante para aplicações em áreas urbanas,
principalmente em países ensolarados como o Brasil. O aumento da demanda mundial de
energia elétrica e as questões ambientais impulsionam o desenvolvimento dessa fonte de
energia.
Este artigo apresenta um estudo sobre o potencial de geração de um sistema FV, na
Universidade Federal do Espírito Santo. O estudo mostrou bons resultados em termos de
geração FV e suavização da curva de carga, ocasionando alívio de picos de demanda na
rede elétrica urbana local.

Palavras Chaves: sistema fotovoltaico, geração, curva de carga, pico de demanda.

aumento significativo, fazendo necessária uma reflexão


1 INTRODUÇÃO maior sobre a sua oferta de energia elétrica.
O Brasil passa por uma fase de expressivo crescimento O Brasil, com sua matriz energética dominada por
econômico, e para suportar e até viabilizar a hidroelétricas, deve refletir também na sua
continuidade desse crescimento, é imprescindível o diversificação, no sentido de buscar maior segurança na
investimento em infra-estrutura, sendo a capacidade de oferta, e pensando ainda nos grandes impactos
oferta de energia elétrica um ponto estratégico. Em ambientais causados pelas construções de
projeções feitas, o consumo de eletricidade deverá hidroelétricas, e pensando nessa diversificação, vemos
crescer a uma taxa de 4,9% ao ano, saindo de 359.772 com uma solução bastante promissora para o país, a
GWh em 2006 para 581.941 GWh em 2016, dados energia solar, proveniente de células fotovoltaicas,
referentes à trajetória inferior do plano, ou seja, o aproveitando a localização geográfica privilegiada do
mínimo em crescimento previsto (EPE,2007). Brasil.
Considerando que o PIB do Estado do Espírito Santo, 1.1 Energia fotovoltaica
cresceu mais que a média nacional (IJSN- Instituto
Jones Santos Neves, 2008), é sensato pensar que o A conversão de energia solar em energia elétrica cai
consumo de eletricidade no estado também terá um quase que como uma luva para o caso brasileiro, com
sol abundante o ano quase inteiro, e ainda apresenta
várias vantagens como: a inexistência de qualquer peça latitude da Capital - 20º19'09' S -, propicia um
móvel implicando em manutenção mais barata, fonte aproveitamento máximo da incidência dos raios solares
silenciosa, a não emissão de poluentes quando em num sistema com painéis fixos (SHAYANI,2006) e um
funcionamento, e fácil adequação ao meio urbano, ângulo azimutal de 0º. Foi obtida uma média diária
reduzindo os gastos e as perdas com a trasnmissão da mostrada no gráfico 1. O gráfico 2 ilustra uma
energia. estimativa mensal da incidência solar em Vitória,
durante o período de 12 meses.
1.2 O Brasil fotovoltaico
Enquanto isso, o Brasil, que tem um potencial de
energia solar com seu local menos ensolarado
recebendo cerca de 40 % mais radiação solar do que o
local mais ensolarado da Alemanha, concentra amaior
parte da utilização dessa energia em pequenos projetos
nacionais de geração fotovoltaica , e em maior escala
apenas no programa do Ministério de Minas e Energia,
Luz para Todos, com 12 mil residências já instaladas
pela Coelba. Há uma demanda de 120 mil residências
apenas na região amazônica.
Gráfico 1 – Incidência solar média em um dia
De acordo com a ANEEL, tais pequenos projetos
nacionais de geração fotovoltaica de energia elétrica
foram concebidos principalmente para o suprimento de
eletricidade em comunidades rurais e/ou isoladas do
Norte e Nordeste do Brasil. Atuam basicamente com
quatro tipos de sistemas: i) bombeamento de água, para
abastecimento doméstico, irrigação e piscicultura; ii)
iluminação pública; iii) sistemas de uso coletivo, tais
como eletrificação de escolas, postos de saúde e centros
comunitários; e iv) atendimento domiciliar. Entre
outros, estão as estações de telefonia e monitoramento
remoto, a eletrificação de cercas, a produção de gelo e a
dessalinização de água (ANEEL,2005). Gráfico 2 – Incidência solar média em um ano

2 O CASO UFES Com uma área total de 710.149m², o Campus de


Goiabeiras tem uma enorme área para o aproveitamento
O cenário descrito anteriormente nos motivou a realizar de energia solar. Uma característica a ressaltar dos
um estudo sobre o potencial fotovoltaico da própria edifícios desse campus é que a caixa d’água de grande
estrutura presente na universidade. A Ufes conta com parte deles não se situa acima do nível do telhado,
poucos investimentos nesse área de estudo, e como sendo assim possível descartar as perdas por
falado anteriormente, é uma área muito promissora e sombreamento independente da trajetória solar.
que merece um maior destaque.
Nesse estudo foram considerados somente os prédios
com as maiores áreas úteis de telhado. Os edifícios
2.1 Objetivo
escolhidos e respectivas áreas foram organizados na
Esse artigo tem o propósito de quantificar o potencial tabela 1.
de geração de energia elétrica da Ufes (Campus de
Após a determinação da área utilizável, os dados de
Goiabeiras) por intermédio de um sistema de geração
consumo de energia elétrica do campus relativo ao ano
fotovoltaica conectada à rede elétrica convencional
de 2007 foram levantados e estão expostos na tabela 2.
local. Todo o estudo foi pautado em tecnologias já
Esses dados serão comparados com a energia gerada
consolidadas no mercado, e a utilização dos espaços
pelo sistema fotovoltaico, indicando assim o percentual
pré-existentes para tal sistema foi escolhido de modo a
de economia no consumo da universidade.
não alterar arquitetonicamente as edificações do
campus. Para efeito de cálculo, essa área foi considerada de
34000m². Após a determinação da área utilizável, os
2.2 Metodologia dados de consumo de energia elétrica do campus
relativo ao ano de 2007 foram levantados e estão
A incidência solar na cidade de Vitória foi levantada expostos na tabela 2.
através do programa RADIASOL, software
desenvolvido e disponibilizado pelo GESTE/UFRGS
(Grupo de Estudos Térmicos e Energéticos da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul),
escolhendo-se um plano de inclinação de 20º em
relação à Terra (tal inclinação de superfície, similar à
Tabela 1: Edifícios selecionados para estudo de instalação de Inversores de conexão à rede para sistemas de alta
painéis solares. potência hoje, possuem rendimento médio de 90%
Unidade Área (m²) (alguns modelos pesquisados possuem eficiência maior
IC 11820,19 do que 95%).
- IC’s (I, II, III e IV) e Lab Fís-Química
Por intermédio da aplicação da Equação 1, obteve-se os
CEMUNI 9684,00
valores mensais de energia gerada pelo sistema FV,
- CEMUNI’s (I,II,III,IV, V e VI)
desprezando-se as perdas na fiação.
CT 12923,31
- CT’s (I,II,III e V) , NPD, Castelinho e Eger = Aútil × ρmês ×η (1)
Engenharia Ambiental
Onde:
CCJE 3998,60
- Ed’s (I,II,III e IV) Eger representa a energia gerada pelo sistema FV em
CEFD 6054,00 quilowatt-hora; Aútil representa a ser destinada para
Centro de Vivência 1960,00 instalação dos painéis FV em metros quadrados; ρmês é
Restaurante Universitário 4769,88 a incidência solar média de um mês específico por área
PROGRAD 1975,62 em quilowatt-hora por metro quadrado; e η siginifica o
Bilblioteca Central 5578,50 rendimento total do sistema. Na estimativa de η, a
Reitoria 3426,86 eficiência do painéis associada ao rendimento dos
Centro de Línguas 1515,40 conversores foi considerada de 11%. Foram
PU 897,70
desprezadas as perdas na fiação, perdas por queda na
Restaurante Universitário 4590,00
incidência solar diária devido às massas de ar (cap. 3
Área Total 68294,06
pgs 66-70), assim como a queda no aproveitamento da
Área Utilizável (50%) 34147,03
incidência anual dos raios solares nos painéis, visto que
Esses dados serão comparados com a energia gerada o arranjo considerado é fixo.
pelo sistema fotovoltaico, indicando assim o percentual O gráfico 3 indica uma redução bastante significativa
de economia no consumo da universidade. no consumo, reduzindo, por exemplo, o pico de 1071
MWh em dezembro para 367 MWh no mesmo mês,
Tabela 2: Consumo – Campus de Goiabeiras - 2007 sendo que em média o consumo mensal de energia pela
Consumo Ponta Consumo Fora concessionária diminui de 774 MWh para 140 MWh.
(kWh) Ponta (kWh)
O gráfico 4 ilustra uma economia de mensal de energia
Janeiro 50,864 607,631
de no mínimo 60%, com uma média de 84% ao longo
Fevereiro 47,26 562,514
do ano. Fazendo uma análise econômica superficial do
Março 64,11 727,057
Abril 86,307 942,105 resultado obtido, os dados percentuais em relação ao
Maio 74,415 775,176 gasto mensal médio de trezentos mil reais da
Junho 72,788 708,84 universidade, representam uma economia de
Julho 71,398 696,454 aproximadamente 3 milhões de reais anuais. Observa-se
Agosto 63,658 618,719 também que nos meses de janeiro, fevereiro e outubro,
Setembro 72,106 633,981 o sistema geraria mais energia do que o consumo do
Outubro 55,612 522,74 campus, “vendendo” à distribuidora esse excesso de
Novembro 82,211 827,398 energia.
Dezembro 93,978 977,752 Diferença entre energia consumida e gerada
Total no ano 834,707 8600,367
1200
1000
Consumo (MWh)
800 Geração (MWh)
600 Consumo - Geração

3 RESULTADOS 400

200
A partir do valor da área utilizável para instalação dos 0
painéis e dos valores mensais de incidência solar sobre -200

a UFES (Vitória-ES), para a estimativa da energia


07

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gerada pelo sistema FV são necessários dados sobre a


eficiência dos painéis e dos inversores de conexão à
Gráfico 3: Energia consumida x Energia gerada em MWh.
rede para uma estimativa do rendimento do sistema.
Atualmente, no Brasil é possível encontrar facilmente
no mercado painéis comerciais com eficiência de 14%.
P orc entag em da energ ia g erada em 2005, cap. 3. Agência Nacional de Energia
relaç ão a o c ons umo Elétrica.
140, 0%

120, 0% PU – Prefeitura Universitária – Campus de Goiabeiras/


100, 0% UFES.
80,0%

60,0%
Salamoni, I. e Outros (2004). O potencial dos sistemas
40,0%
fotovoltaicos integrados à edificação e
20,0%
interligados à rede elétrica em centros urbanos
0,0%
do Brasil: dois estudos de caso. I Conferência
Latino-Americana de Construção Sustentável
7

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(18-21 julho 2004).

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de
Gráfico 4: Energia consumida x Energia gerada em valores Marinoski, D. L. e Outros (2004). Pré-
percentuais dimensionamento de sistema solar fotovoltaico:
Estudo de caso do edifício sede do CREA-SC. I
Conferência Latino-Americana de Construção
4 CONCLUSÕES
Sustentável (18-21 julho 2004).
O estudo nos permite afirmar com convicção que a
Shayani, R. A. e Outros (2006). Comparação do custo
utilização de um sistema fotovoltaico pode representar entre energia solar fotovoltaica e fontes
uma diminuição significativa no gasto da universidade convencionais. Políticas Públicas para a
com energia elétrica, sem nenhuma alteração Energia: Desafios para o próximo quadriênio.
arquitetônica. Outro ponto a ser destacado é que o (31 de maio a 02 de junho de 2006).
padrão horário de consumo de energia da UFES é Shayani, R. A. (2006). Medição do Rendimento Global
similar ao padrão de geração de energia elétrica pelos de um Sistema Fotovoltaico Isolado Utilizando
painéis fotovoltaicos, implicando numa clara redução Módulos de 32 Células. Dissertação de Mestrado
no pico de consumo da própria universidade, visto que em Engenharia Elétrica, Publicação
grande parte da utilização dos edifícios administrativos, PPGENE.DM-265/06, Departamento de
Engenharia Elétrica, Universidade de Brasília,
bibliotecas e restaurantes, além das salas de aula é
Brasília, DF, 184p.
diurna.
A estimativa do custo total do sistema foi de US$
6,00/W (SHAYANI,2006). O arranjo utilizado é
composto de 34000 painéis fotovoltaicos, de área útil
de 1m² e potência de 120W cada. O custo total,
portanto, seria de R$ 47,5 milhões (dólar comercial
cotado a R$ 1,940, em 26/06/2009, 16:18). A
implantação desse projeto beneficiaria toda a
universidade não só com a economia de energia
elétrica: na área acadêmica, ao fomentar novas
pesquisas a serem realizadas a partir de um projeto
dessa magnitude, que por sua vez atrairiam mais
investimentos; ao proporcionar uma maior visibilidade
da universidade perante à sociedade, principalmente
como instituição engajada em questões ambientais.
Parcerias com governos e empresas privadas poderiam
ser estudadas a fim de reduzir o custo de implantação.

5 REFERÊNCIAS
EPE – Empresa de Pesquisa em Energia. Plano Decenal
de Expansão de Energia 2007/2016. MME,
2007, p. 91, Ministério de Minas e Energia.
Tabela: Relações entre o PRODUTO INTERNO
BRUTO a preços de mercado, no ES e no Brasil,
2002-2005 – Disponível em
http://www.ijsn.es.gov.br/contasregionais/tabela
s.pdf, acessado em 10/10/2008
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Atlas
de Geração Elétrica. 2ª ed. – Brasília: ANEEL,

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