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A cadeirante Laura Martins sobe a rampa de acesso à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (foto: Rodrigo Clemente/EM)
Acessibilidade é... oferecer condições às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida de utilização dos espaços
públicos ou coletivos com segurança e autonomia, total ou assistida. A vanguarda da luta por um mundo acessível tem sido
conduzida pelos portadores de deficiência física, mas as conquistas deles, avisam os especialistas, são para todos. Belo Horizonte,
nos últimos anos, avançou no que diz respeito à implantação de estrutura acessível, conta a funcionária pública Laura Martins, que é
cadeirante. No entanto, entre aprovar um princípio e implantá-lo há uma distância notável. “Temos ônibus adaptados, mas os
elevadores não funcionam”, exemplifica.
Nos espaços culturais, a acessibilidade também oscila. “A maior parte dos teatros está adaptada”, comemora.“Todos têm direito à
arte e à cultura. Deficiente não é ser humano de segunda categoria”, avisa. “E há cinemas onde os lugares reservados para
cadeirantes são tão próximos da tela que o deficiente acaba no hospital por ficar com o pescoço muito levantado”, critica Laura. O
ideal são salas semiplanas e lugares para os cadeirantes no fundo, “o que também existe”. A maior parte dos museus entrou na linha.
“Mas ainda não existe projeto de acessibilidade para o conjunto arquitetônico da Pampulha”, observa.
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30/08/2018 Deficientes apontam os maiores problemas de acessibilidade nos espaços culturais de BH
Laura relata que há bares e restaurantes “excelentes”. Outros, atendendo a pedido dos clientes, fizeram mudanças e se tornaram
acessíveis. “E há quem me deu resposta grosseira por eu perguntar se a casa estava adaptada a cadeirantes”, lembra Laura. “Ainda há
muita incompreensão com o universo público da deficiência”, garante. Só rampa não basta, já que algumas são muito íngremes.
Ajudam, e muito, banheiros com portas largas e barras de apoio, pias sem colunas, vagas reservadas em estacionamentos. Fã de
viagens, ela criou o site Cadeira Voadora (cadeiravoadora.com.br), onde dá dicas e relata as condições de acesso a determinados
locais em várias cidades.
O humorista Geraldo Magela, o Ceguinho, confirma que muitos espaços culturais já incorporaram o tema da acessibilidade. “O
problema é como chegar até eles, já que, muitas vezes, o caminho é acidentado”, observa, lembrando-se de buracos nos passeios.
“Sinalização tátil no piso é uma boa ideia, mas é comum ela conduzir a orelhões, bancas de revista, mesas de bar e até terminar em
degraus”, conta. Na opinião de Magela, bom mesmo para os deficientes são aplicativos e programas que permitem o acesso às novas
tecnologias. “Mas eles ainda são caros para a maioria dos cegos”, observa.
Os teatros, assim como os botecos, são lugares tranquilos, de acordo com o ator. “Sempre tem quem ajude”, observa. Com bom
humor, diz que chato é quando alguém confunde cego com surdo. “Em vez de oferecer o braço, fica gritando no ouvido”, conta. Filmes
com audiodescrição ainda são raros. Uma exceção é o curta Morte cega, dirigido por Paulo Villara e estrelado por Magela.
O aposentado Gilberto Porta tem 55 anos e, em 1987, sofreu acidente ao mergulhar em piscina rasa. Bateu a cabeça no fundo e
fraturou duas vértebras da região cervical, ficando tetraplégico. Ele é fã de esportes radicais, ou, como prefere, esportes de aventura.
Já fez tirolesa, rapel, voo de balão, mergulho – inclusive em lagoa no fundo de uma caverna. Em geral, faz isso tudo acompanhado.
“Se dá vontade, faço e ponto. Só tenho medo de ficar parado”, brinca o criador do blog bhlegal.net sobre lugares acessíveis e
prestadores de serviço na área.
“Avançamos muito no tema da acessibilidade”, conta Gilberto Porta, explicando que o conceito chegou a comércio, hotéis, bares,
restaurantes e até às agências de viagem. Porém, afirma que ainda é um desafio andar de cadeira de rodas nas ruas de Belo
Horizonte. “É difícil encontrar um quarteirão onde se possa andar sem problemas”, garante. Para ele, pesa “a mania de usar pedras
portuguesas nas calçadas”, o que complica o andar de todos – não só dos cadeirantes. “Todo mundo tem alguma dificuldade”, alerta.
Calçamento com piso tátil muitas vezes é mal instalado, guinado o deficiente visual a obstáculos (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
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Gilberto explica que é uma satisfação quando encontra cardápios em braile, alguém que fale libras e banheiros adaptados. Os últimos,
explica, com detalhes como espelho levemente inclinado para que o cadeirante possa se ver ou porta-toalhas mais baixos.
Por outro lado, relata encrencas, como carros estacionados sobre rebaixamentos para cadeirantes e motoristas que desrespeitam
vagas reservadas. “É falta de educação”, critica.
O deficiente visual Flávio Oliveira, historiador, doutor em educação e consultor em acessibilidade cultural, explica que hoje existe
razoável consciência no tocante à importância da remoção de barreiras arquitetônicas nos equipamentos culturais e de lazer.
“Para que BH seja percebida como uma cidade onde o lazer e a cultura são mais humanizados, é preciso investir bem mais no
treinamento das pessoas que lidam diretamente com o público para que essas adquiram, por exemplo, naturalidade e desenvoltura ao
lidar com pessoas com deficiência”, argumenta.
Flávio aponta carência na oferta de recursos de acessibilidade comunicacional, como audiodescrição e interpretação em língua de
sinais em quase todos os filmes, exposições e espetáculos. O especialista confirma que o maior nó são calçadas em péssimo estado.
“Especialmente fora do Hipercentro”, frisa.
“Mesmo no Hipercentro, as calçadas estão repletas de obstáculos, como lixeiras, postes mal colocados, mesinhas de bares, orelhões
sem sinalização. Esses equipamentos urbanos constituem embaraço e um sério risco de acidente para as pessoas com quaisquer
limitações, o que inclui não só pessoas com diferentes tipos de deficiência visual ou motora, mas também idosos, pessoas com
carrinhos de bebês ou qualquer outra situação permanente ou temporária de mobilidade reduzida”, conclui.
Flávia Pinheiro Tavares torresarquiteta, urbanista e assessora técnica especializada em acessibilidade do Crea-MG
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