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11 DE DEZEMBRO DE 2009
O Piano
7. É, por vezes, substituído pelo seu avatar sonoro “piano eléctrico”; o piano é,
eventualmente, o instrumento musical acústico que, em termos sonoros, melhor
é substituído pelo seu homónimo eléctrico; isso, claro, se nos remetermos para o
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uso mais tradicional; diga-se de passagem, que o “piano eléctrico” se parece
menos com um caixão, é razoavelmente transportável (como, p.ex., uma harpa) e
não desafina;
Estas questões, embora algo patéticas, parecem deveras importantes em termos do que
se pretende que seja uma educação musical / instrumental do piano em resposta as 3
outras questões fundamentais em pedagogia
O acto educativo
aluno
Obra
Musical
piano professor
4
aluno
Piano
Neste caso salienta-se o instrumento como centro da actividade, dirigindo para o piano
toda a atenção. É interessante que a própria linguagem de todos os dias nas escolas de
música reflecte esta questão. Por exemplo, ao dizermos que é fundamental o “domínio
do instrumento”, relevamos uma relação psicológica e física (de dominação)
relativamente ao objecto inanimado que é o piano – o tal paralelepípedo / caixão negro e
enorme.
piano
Aluno
piano
Professor
O Corpo
• O corpo do aluno (na sua dimensão física, mas também emocional, psíquica, até
energética), interage com o corpo inerte mas simbólico do instrumento; esta
interacção processa-se de formas diversas, por vezes também denominada
“postura”, “técnica pianística”, etc.;
Está sempre presente neste acto educativo um “não corpo”, uma ausência de corpo, uma
não presença física: a obra musical. Porque a partitura nada mais é que um suporte, um
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índice de algo que está bem para além dos símbolos musicais: a obra musical.
Esquecendo esse “não corpo”, pondo-o à parte, as interacções adquirem uma dimensão
pianística, dirigidas para si mesmas, não necessariamente musicais; chamando a obra
musical não só a pontuar como a determinar as interacções aluno/instrumento, estas
transformam-se em música, ou encaram a música como objectivo.
Sabemos que uma parte do trabalho de aprendizagem se faz pensando no piano, nas
suas particularidades, nas suas capacidades sonoras, na nossa forma de interagir com o
teclado, independente de qualquer obra musical. Definem-se, assim, diferentes formas
de trabalho, com objectivos bem distintos:
Esta divisão, embora algo artificial, revela-se interessante para uma eficaz distinção dos
objectivos das diferentes actividades na sala de aula. Pretende-se que os procedimentos
sejam dirigidos para questões bem definidas, para o desenvolvimento e superação de
dificuldades precisas e não para um abrangente e indefinido desenvolvimento da dita
“técnica pianística”, do “domínio do piano”, de uma “escola pianística”.
• Tantas vezes os alunos são deparados com pequenos exercícios (p. ex. Hanon) que
mecanicamente repetem ao piano.
• Será, talvez, interessante que os alunos façam esses mesmos exercícios fora do
teclado; dessa forma abstraem-se de questões pouco importantes no momento (a
altura dos sons) e concentram-se na métrica e rítmica desses exercícios (no
tampo do piano, p. ex.), nas tensões motoras, na postura, etc.
• Será, ainda, interessante que o aluno procure outros exercícios parecidos, que
invente novos e os desenvolva de alguma forma (p. ex. transpondo, alterando o
ritmo, os desenvolva com sentido harmónico, etc.).
• Será, ainda, interessante que ele faça este trabalho em conjunto com outro colega,
fazendo jogos de pergunta resposta em partes diferentes do teclado, tocando ao
mesmo tempo (coordenando o andamento), misturando diferentes exercícios.
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• No trabalho com crianças na dita “iniciação”, utilizam-se peças que mal abrangem
as 2 oitavas centrais de extensão, esquecendo o resto do instrumento; as crianças não
conhecem os pedais (tocam sempre sentadas), assim como os sons mais graves e
mais agudos, o que acontece dentro do piano, tendo simplesmente uma dimensão
reduzida do instrumento.
• Porque não tocar de pé? Haverá, eventualmente, uma postura menos incómoda e
mais móvel para a criança.
Sem dúvida que este trabalho dificilmente será mostrado numa audição escolar; poderá
ser, mesmo, pouco apreciado pelos pais da criança que poderá dizer: “afinal ela anda a
fazer aquelas trapalhadas ao piano mas ainda não sabe tocar o Hino à Alegria para a
audição”.
Sabemos que a audição, embora importante, não pode ser o cerne do processo educativo.
Muitas vezes vemos alunos dos mais diversos instrumentos a trautearem músicas que
tocam e a fazerem gestos ao mesmo tempo. Através da minha experiência tenho
observado muitos instrumentistas de sopro com essas práticas. Por outro lado, é vulgar
ver crianças, alunos de piano, a “tocar no ar” com os dedos. É interessante que
naturalmente os alunos criem essas formas de estudo, substituindo a própria prática das
peças – tocá-las mesmo no instrumento.
Estão, na verdade, a recordar os movimentos que fazem nas peças e a cantá-las de uma
forma muito esquemática. Estão a imaginar a peça, a vivê-la temporalmente, mas de
uma forma mais interior, sem instrumento: estão a aproximar-se de uma “leitura
interior”. Sabemos que este tipo de estudo é muito enriquecedor, não só para
conhecimento das estruturas/gestos musicais como também pela sua dimensão não
física – corporal. Na verdade, imaginando a peça, podemos esquecer os empecilhos
técnicos (no caso dos sopros a embocadura e a pressão do ar), as dificuldades
psicomotoras, concentrando-nos no que é importante - o som - e não no corpo. E
consegue-se, assim, aprender a música – aprender a viver a música - com menos tensão,
possibilitando mais tarde uma execução também mais livre. Porque sabemos que,
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quando aprendemos uma passagem musical, a aprendemos não só a nível auditivo como
na sua conexão com todos os sentidos, os gestos, as tensões. E, por vezes, algumas
destas dimensões devem ser esquecidas.
Os programas não são mais que listas de obras e procedimentos para exames e
avaliações, e não procedimentos pedagógicos (com competências, conteúdos, objectivos
a diverso nível) e procedimentos didácticos – o que ensinar, porquê e como nas aulas de
piano.
Piano: para uma pedagogia mais… Pedagógica? Contemporânea? Não castrante? ........ 1
O Piano ......................................................................................................................... 2
O Corpo .................................................................................................................... 6