Taxonomia, 22
Morfologia, 25
Clima e solo, 54
Cultivares, 63
Porta-enxertos, 76
Propagação, 88
Referências, 271
ORIGEM E DISPERSÃO DOS CITROS
A origem da maioria das espécies de citros não é conhecida com
exatidão, visto que as plantas das diferentes espécies que compõem o
gênero Citrus vêm sendo utilizadas e disseminadas pelo homem há
vários séculos, sem que houvesse nenhum tipo de registro dessa
movimentação, que ocorreu principalmente na forma de frutos e
sementes de um local para outro. O primeiro registro escrito sobre os
citros data de cerca de 2.000 anos a.C., na China. Nesse documento, os
citros foram mencionados em uma lista de tributos oferecidos a um
imperador chinês.
A maioria das espécies de citros originou-se nas regiões
tropicais e subtropicais do Sudeste Asiático abrangendo ampla faixa de
o
terra, situada aproximadamente entre os paralelos 15 e 25 Norte. Essa
região se estende desde o Himalaia até a China Central, Filipinas,
Miamar, Tailândia e Indonésia.
Há dúvidas quanto à origem do pomeleiro, também conhecido
como grapefruit, tendo em vista que plantas desse tipo de citros não
foram encontradas em estado selvagem na região de origem das demais
espécies. Acredita-se que possua origem americana (Antilhas),
provavelmente resultante de hibridação natural entre Citrus maxima
(toranjeira) e Citrus reticulata (tangerineira).
O sabor característico das frutas, com diferenças consideráveis
entre espécies e cultivares, a concentração razoável de vitamina C (10-80
mg/10mL de suco), a facilidade de adaptação às condições de clima e solos
variados e de processamento industrial dos frutos provavelmente foram os
principais fatores responsáveis pela disseminação e importância dos citros.
A primeira espécie de citros conhecida na Europa foi a cidreira
(Citrus medica), cuja introdução ocorreu cerca de 330 anos a.C. As
laranjeiras-doces (Citrus sinensis) e azedas (Citrus aurantium) e os
limoeiros (Citrus limon) foram introduzidos na Europa no século XII e
as tangerineiras (C. reticulata), no século XIX.
Na América, o introdutor dos citros foi Cristóvão Colombo, em
1493, nas Antilhas e Haiti, de onde foram levados posteriormente para
o México e Estados Unidos (Flórida). No Brasil, foi introduzido pelos
10 Siqueira e Salomão
a b
c d
e f
Figura 3 - Ramos de citros de planta juvenil, com espinhos longos (a); ramo
jovem de laranjeira, com quinas proeminentes, devido ao
crescimento desigual que inicia-se na base de cada pecíolo. Essas
quinas originam uma seção triangular quando o ramo é cortado
transversalmente (b); ramo maduro de laranjeira com caule
cilíndrico e folhas de cor verde-escura (c); nó, formado pelo
conjunto de gema, espinho, e folhas (d); folhas de citros com
diversos tamanhos, formatos e características das asas no pecíolo
(e); ramo novo de citros mostrando a distribuição das folhas (f).
Citros: do plantio à colheita 31
a b
c d
a b
1
2
3 4 5
Figura 6 - Laranjeira durante a brotação de primavera, emitindo ramos
reprodutivos (ramos com flores) e ramos apenas vegetativos
(a); Tipos de brotação dos citros (b): broto vegetativo (1),
broto reprodutivo unifloral com folhas (2), broto reprodutivo
multifloral com folhas (3) broto reprodutivo unifloral sem
folhas, (4) broto reprodutivo multifloral sem folhas (5).
a b
Fruto
O crescimento dos frutos dos citros é do tipo sigmoidal simples,
podendo ser dividido em três fases, embora não seja possível distinguir
claramente o término de uma fase e o início da subsequente. As fases
são denominadas fase I (divisão celular), II (expansão celular) e III
(amadurecimento dos frutos). A duração de cada fase depende da
espécie de citros e das condições climáticas. Em Viçosa, Minas Gerais,
o desenvolvimento de tangerinas ‘poncã’ a partir de cinco milímetros
de diâmetro até a colheita dos frutos, realizada quando com valor médio
de sólidos solúveis totais de 11,1 e acidez total titulável de 0,5 durou
276 dias (9,2 meses) (Figura 8).
Citros: do plantio à colheita 39
(DAPFL)
Solo
Os citros são cultivados em solos com grande diversidade de
características físicas e químicas; entretanto desenvolvem-se melhor
em solos que tenham proporção equilibrada de areia e argila (textura
média), para garantir boa aeração, facilidade de drenagem, boa retenção
de água e capacidade de troca de cátions (CTC).
A profundidade efetiva recomendada do solo para o cultivo
dos citros deve ser de um metro, no mínimo, para garantir a
sustentação das plantas e maior exploração do solo pelas raízes; porém
são encontrados relatos de cultivo em solos rasos, com profundidade
efetiva em torno de 60 cm.
Os citros não toleram solos salinos, porém sua sensibilidade aos
sais depende de vários fatores como porta-enxerto, combinação porta-
enxerto/copa, solo, clima, método de irrigação etc. De modo geral, a
produtividade dos pomares reduz em 13% para cada 1,0 dS m-1 de
aumento da condutividade elétrica do solo, acima do valor limite de 1,4
dS m-1. Os efeitos da salinidade sobre a redução do crescimento e
62 Siqueira e Salomão
CULTIVARES
Pelo fato de os citros serem plantas altamente heterogêneas
quanto às características dos frutos, eles são divididos em grupos,
procurando reunir plantas cujas características morfológicas dos frutos
são semelhantes, com o objetivo de facilitar a comunicação entre as
pessoas que se interessam pela citricultura, ou seja, técnicos,
pesquisadores, produtores, estudantes e consumidores. Essa
classificação é denominada agronômica ou hortícola e compreende oito
grupos, sendo alguns formados por apenas uma espécie botânica
enquanto outros incluem mais de uma.
Cidra
PORTA-ENXERTOS
A escolha do porta-enxerto é um dos principais fatores a
considerar quando se pretende implantar um pomar de citros, porque
ele é responsável pela sustentação da planta, absorção de água e
nutrientes do solo; síntese de alguns hormônios, pelo sistema radicular;
adaptação a solos com diferentes características, tolerância a pragas e
doenças, tamanho das plantas, e a qualidade dos frutos do cultivar copa
enxertado sobre ele (Tabela 10). Em razão de sua influência sobre todas
essas características, tão importantes para o citricultor, fica evidenciado
que a escolha de um porta-enxerto inadequado às condições de clima e
solo do local onde o pomar será implantado pode resultar em fracasso
do empreendimento.
Citros: do plantio à colheita 77
2
Não é indicado como porta-enxerto para a laranja ‘Pera Rio’ e tangoreira ‘Murcote’.
Siqueira e Salomão
Citros: do plantio à colheita 151
Adubações
A vegetação que cresce naturalmente em determinada região
evolui de acordo com as condições de clima e solo locais, portanto está
perfeitamente adaptada ao ambiente em que vive. Nesse ambiente, as
plantas extraem equilibradamente os nutrientes que necessitam do solo
e, ao morrerem, são decompostas, liberando nutrientes para outras
plantas, havendo, dessa forma, um ciclo fechado, no qual a fertilidade
do solo é mantida ou mesmo aumentada pelo acúmulo de matéria
orgânica e, ou, fixação de nitrogênio. Nesse caso, a vegetação natural
está perfeitamente adaptada ao sistema, ou seja, as suas necessidades
em nutrientes correspondem às características naturais de fertilidade do
solo.
Com a interferência humana, esse ciclo é alterado, devido à
remoção da vegetação natural e ao plantio de espécies cuja evolução,
na maioria das vezes, ocorreu em condições de clima e solo diferentes
das existentes no local de plantio do pomar. Assim, quando espécies
exóticas, como os citros, são introduzidas em uma região qualquer, por
melhor que se adaptem ao novo ambiente, não haverá o mesmo
equilíbrio que havia anteriormente com a vegetação natural, onde as
diversas espécies ali presentes convivem harmoniosamente. Além
disso, os citros são espécies selecionadas, visando potencializar a
capacidade de produção de frutos e, assim, as exigências nutricionais
também são potencializadas.
Um importante fator responsável pela redução da fertilidade
dos solos é a exportação de nutrientes pelos frutos colhidos, cuja
quantidade depende da adubação, solo, clima, porta-enxerto e copa
(Tabela 14). A ordem de exportação de macronutrientes é N > K > Ca
> P > Mg > S e a de micronutrientes é Fe > Zn > B > Mn > Cu. Os
nutrientes exportados devem ser repostos, para que a produtividade dos
pomares seja mantida. Por isso, a procura constante por aumento de
produtividade é importante fator de esgotamento das reservas minerais
do solo.
152 Siqueira e Salomão
Análise de solo
A análise de solo, além de avaliar os teores nutrientes, com
exceção do nitrogênio, permite avaliar a reação do solo e os problemas
a ela relacionados, como acidez, alcalinidade e salinidade, permitindo a
adoção de medidas corretivas.
A primeira etapa do processo de avaliação da fertilidade do solo
é realizar uma amostragem adequada, pois, com base na análise química
dessa amostra, será avaliada a reserva de nutrientes disponíveis. Por
isso, as amostras devem ser representativas dos talhões de onde foram
retiradas. Uma amostragem incorreta do solo pode resultar em
avaliação equivocada da fertilidade e, consequentemente, gerar
recomendações de adubação também equivocadas.
Em locais onde serão implantados novos pomares, a área deve
ser dividida em talhões homogêneos, considerando a vegetação natural,
o relevo, o uso passado e atual, e características do solo, como textura
e cor. Quanto ao tamanho das unidades amostrais, não há um tamanho
definido para todas as situações, entretanto é importante que unidades
muito grandes sejam subdivididas para facilitar a amostragem. Em
grandes propriedades, unidades amostrais com áreas entre 10 e 20
hectares são consideradas adequadas, desde que sejam homogêneas.
Recomenda-se a coleta de 20 a 40 amostras simples por unidade
amostral, com os pontos de coleta distribuídos ao acaso por toda a área.
A profundidade de amostragem depende da camada do terreno
que será preparada para o plantio. Para culturas perenes, como os citros,
a profundidade poderá ir até 40 ou 60 cm, com a amostragem feita por
camadas de 0 a 20 cm; 20 a 40 cm; e 40 a 60 cm. A mistura das amostras
simples de cada profundidade constituirá as amostras compostas, que
serão enviadas ao laboratório para análise.
As amostragens devem ser realizadas alguns meses antes do
plantio das mudas, visando possibilitar que ocorra a reação do calcário
aplicado no solo e, se necessário, o cultivo de adubos verdes para a
melhoria das propriedades físicas do solo.
Em pomares já implantados, a divisão dos talhões, com o
objetivo de coletar amostras do solo para análises químicas e físicas,
devem-se considerar, além das características mencionadas
anteriormente, a idade das plantas, variedades copa, porta-enxertos e
154 Siqueira e Salomão
Análise foliar
As folhas são os órgãos que melhor expressam o estado
nutricional das plantas, considerando que existe correlação entre o
desenvolvimento e a produção dos citros com os teores foliares de
nutrientes. A análise foliar é uma técnica complementar à análise de
solo e tem como principais objetivos confirmar sintomas visuais de
deficiência nutricional, diagnóstico de deficiências incipientes, ou seja,
ainda sem sintomas visíveis nas folhas; identificar interações ou
antagonismos; verificar a absorção de nutrientes aplicados no solo; e
avaliar o estado nutricional das plantas.
A primeira iniciativa na obtenção dos teores de nutrientes
minerais nas folhas de citros é colher amostras de folhas do pomar para
enviar ao laboratório. A fim de garantir que a amostragem seja
representativa, devem ser coletadas folhas com a mesma idade, nos
quatro quadrantes de plantas cultivadas, em talhões homogêneos,
considerando cultivar copa e porta-enxerto, idade das plantas, tratos
culturais e características do solo. As folhas devem estar com
aproximadamente seis meses de idade, cuja contagem deve ser iniciada
a partir da brotação da primavera.
Recomenda-se amostrar no mínimo 25 plantas por unidade
amostral, nas quais devem ser coletadas quatro folhas por planta a 1,5 m
Citros: do plantio à colheita 155
Devido à morte da casca, a seiva do floema não chega até o sistema radicular,
provocando morte de raízes e, consequentemente, com o passar do tempo,
da parte aérea (Figura 48c). O tamanho das lesões depende do cultivar, do
tempo em que o patógeno está presente na planta e também do clima.
Os sintomas observados na copa da planta são a presença de
frutos de tamanho pequeno e folhas cloróticas, semelhantes àquelas
com sintomas de deficiência de nitrogênio, e com tamanho menor que
as folhas normais. Dependendo do tamanho e do local das lesões nas
raízes e tronco das plantas, os sintomas da gomose podem surgir em
apenas um ramo ou lado da copa das plantas (Figura 48d). Esses
sintomas não devem ser confundidos com os do greening ou de
deficiência de nitrogênio.
A gomose pode ocorrer apenas no sistema radicular, portanto
os sintomas característicos observados no tronco não podem ser vistos.
A morte da radicelas implica redução na absorção de água e nutrientes,
levando a planta à morte. Nesse caso, o diagnóstico do problema é mais
difícil, havendo necessidade de coletar amostras do solo e de raízes para
avaliação da presença do patógeno em laboratório ou a remoção do solo
que cobre as raízes, para examiná-las.
Há diferenças entre os cultivares-copa quanto à tolerância à
gomose, sendo os limoeiros, limeiras ácidas e doces mais suscetíveis
que as laranjeiras, que, por sua vez, são mais suscetíveis que
tangerineiras e híbridos.
Quanto aos porta-enxertos, o Poncirus trifoliata e citrumeleiro
Swingle são resistentes, os citrangeiros, ‘Troyer’ e ‘Carrizo’
apresentam tolerância e o limoeiro ‘Cravo’ é suscetível, principalmente
em solos argilosos que tendem a reter mais umidade e apresentar menor
capacidade de drenar a água das chuvas e da irrigação. Portanto, o uso
de porta-enxertos resistentes e tolerantes à gomose é uma importante
estratégia para o controle da doença.
Outras importantes medidas de controle da gomose são: evitar
plantio em solos úmidos, pincelar o tronco das plantas uma vez por ano
com pasta bordalesa, evitar o plantio profundo de mudas; os ferimentos
no tronco e nas raízes; não molhar o tronco das plantas com a água de
irrigação; e nunca deixar acúmulo de terra, matéria orgânica e outros
junto ao tronco das plantas. Como medida curativa, recomenda-se
retirar a parte danificada com faca e pincelar o local do ferimento com
pasta cúprica ou com fungicida sistêmico registrado para essa finalidade
(Tabela 17).
Citros: do plantio à colheita 169
a b
c d
Tabela 17 – Cont.
Dose registro
Ingrediente Produto Grupo
Classe (mL ou g/
ativo registrado químico
100L)
Difere Fungicida 3,0-4,0 L/ha Inorgânico
Fanavid 85 Fungicida 300,0-450,0 Inorgânico
Fanavid Flowable Fungicida 300,0-450,0 Inorgânico
Funguran Verde Fungicida 100,0 Inorgânico
Fungitol Azul Fungicida 275,0 Inorgânico
Fungicida/B
Fungitol Verde 150,0 Inorgânico
Oxicloreto de actericida
cobre Neoram 37.5 WG Fungicida 300,0 Inorgânico
Ramexane 850 PM Fungicida 250,0 Inorgânico
Fungicida/B
Reconil 200,0 Inorgânico
actericida
Recop Fungicida 250,0 Inorgânico
150,0-200,0 ou
Status Fungicida Inorgânico
2-2,5 L/ha
Fungicida/B
Cobre Atar BR 150,0 Inorgânico
actericida
Óxido Cuproso Fungicida/B
Cobre Atar MZ 150,0 Inorgânico
actericida
Redshield 750 Fungicida 100,0 Inorgânico
Anilinopirimi
Pirimetanil Mythos Fungicida 1,0-1,5 L/ha
dina
Piraclostrobina Comet Fungicida 10,0-15,0 Estrobilurina
Egan Fungicida 75,0 Triazol
Tebuconazol
Produtorbr Fungicida 75,0 Triazol
Tiabendazol* Tecto SC Fungicida 103,0-1030,0 Benzimidazol
Trifloxistrobina Flint 500 WG Fungicida 10,0 Estrobilurina
Trifloxistrobina Estrobilurina
Nativo Fungicida 0,6-0,8 L/ha
+ Tebuconazol + Triazol
*Uso em tratamento pós-colheita.
Fonte: PIC Brasil, atualizada em 01/05/2015.
a b