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MATERIAL DE APOIO
DIREITO CIVIL
PARTE GERAL
Apostila 01
Prof. Pablo Stolze Gagliano
1. A Personalidade Jurídica.
1.1. Conceito.
O seu surgimento ocorre a partir do nascimento com vida (art. 2°, CC-02 e art. 4º,
CC-16).
2
1.3. O Nascituro.
LIMONGI FRANÇA, citado por FRANCISCO AMARAL, define o nascituro como sendo
“o que está por nascer, mas já concebido no ventre materno”.2
Cuida-se do ente concebido, embora ainda não nascido, dotado de vida intra-
uterina, daí porque a doutrina diferencia-o (o nascituro) do embrião mantido em
laboratório3.
1
Cit. por DINIZ, Maria Helena, in Curso de Direito Civil Brasileiro, 25ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2008, pág. 198.
2
AMARAL, Francisco, Introdução ao Direito Civil, Renovar, pág. 217.
3
A título de curiosidade, ver a dicção do art. 9° § 1°, PL 90/99: “Não se aplicam aos
embriões originados in vitro, antes de sua introdução no aparelho reprodutor da mulher
receptora, os direitos assegurados ao nascituro na forma da lei. Já o Projeto de Reforma do
CC, em sua redação original, aponta em sentido contrário: “Art. 2°. A personalidade civil da
pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os
direitos do embrião e do nascituro” (grifos nossos).
3
A Lei Civil trata do nascituro quando, posto não o considere pessoa, coloca a salvo
os seus direitos desde a concepção (art. 2º, CC-02, art. 4º, CC-16).
Ora, se for admitida a teoria natalista, segundo a qual a aquisição da
personalidade opera-se a partir do nascimento com vida, é razoável o
entendimento no sentido de que, não sendo pessoa, o nascituro possui mera
expectativa de direito (VICENTE RÁO, SILVIO RODRIGUES, EDUARDO ESPÍNOLA,
SILVIO VENOSA).
Mas a questão não é pacífica na doutrina.
Os adeptos da teoria da personalidade condicional sufragam entendimento
no sentido de que o nascituro possui direitos sob condição suspensiva. Vale dizer,
ao ser concebido, já pode titularizar alguns direitos (extrapatrimoniais), como o
direito à vida, mas só adquire completa personalidade, quando implementada a
condição do seu nascimento com vida.
A teoria concepcionista, por sua vez, influenciada pelo Direito Francês, é
mais direta e ousada: entende que o nascituro é pessoa desde a concepção
(TEIXEIRA DE FREITAS, CLÓVIS BEVILÁQUA, SILMARA CHINELATO).
CLÓVIS BEVILÁQUA, em seus “Comentários ao Código Civil dos Estados
Unidos do Brasil”, Rio de Janeiro: Ed. Rio, 1975, pág. 178, após elogiar
abertamente a teoria concepcionista, ressaltando os seus excelentes argumentos,
conclui ter adotado a natalista, “por parecer mais prática” (sic). No entanto, o
próprio autor, nesta mesma obra, não resiste ao apelo concepcionista, ao destacar
situações em que o nascituro “se apresenta como pessôa” (sic).
A despeito de toda essa profunda controvérsia doutrinária, o fato é que, nos
termos da legislação em vigor, inclusive do Novo Código Civil, o nascituro tem a
proteção legal dos seus direitos desde a concepção4.
4
A leitura da ementa referente a ADI 3510-0 (em que se questionaram dispositivos da Lei
de Biossegurança) aparentemente reforça a teoria natalista
(http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=3510&pr
ocesso=3510). Mas, em nosso sentir, o embate entre as teorias, na interpretação que se
faz do art. 2º do CC, ainda persistirá por muito tempo. A temática é muito polêmica. Uma
pesquisa na doutrina demonstrá tal assertiva.
4
5
O art. 7. do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe que: “a criança e o adolescente
têm direito à proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas públicas que
permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de
existência”.
6
Confira-se, neste ponto, o julgado do Supremo Tribunal Federal no caso “Glória Trevis”
(Rcl 2040
QUESTÃO DE ORDEM NA RECLAMAÇÃO, Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA, Julgamento:
21/02/2002 , Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Publicação: DJ DATA-27-06-2003 PP-00031
EMENT VOL-02116-01 PP-00129), em que podemos observar a aplicação da teoria da
“ponderação de interesses”, visando a dirimir eventuais conflitos entre direitos
constitucionais. Embora se buscasse, em verdade, a apuração de um crime, o fato é que o
nascituro mereceria, em nosso sentir, no caso em tela, o beneficio da produção da prova
pericial, para que, após seu nascimento, não houvesse que carregar o peso das
circunstâncias duvidosas da sua concepção: “EMENTA: - Reclamação. Reclamante
submetida ao processo de Extradição n.º 783, à disposição do STF. 2. Coleta de
material biológico da placenta, com propósito de se fazer exame de DNA, para
averigüação de paternidade do nascituro, embora a oposição da extraditanda. 3.
Invocação dos incisos X e XLIX do art. 5º, da CF/88. 4. Ofício do Secretário de
Saúde do DF sobre comunicação do Juiz Federal da 10ª Vara da Seção Judiciária
do DF ao Diretor do Hospital Regional da Asa Norte - HRAN, autorizando a coleta e
entrega de placenta para fins de exame de DNA e fornecimento de cópia do
prontuário médico da parturiente. 5. Extraditanda à disposição desta Corte, nos
termos da Lei n.º 6.815/80. Competência do STF, para processar e julgar eventual
pedido de autorização de coleta e exame de material genético, para os fins
pretendidos pela Polícia Federal. 6. Decisão do Juiz Federal da 10ª Vara do
Distrito Federal, no ponto em que autoriza a entrega da placenta, para fins de
5
7
GIORGIS, José Carlos Teixeira, in “Alimentos para o Nascituro”
http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?idnoticia=8070, acessado em 20 de julho
de 2008.
7
Art. 3º (VETADO)
Art. 4º (VETADO)
Art. 5º (VETADO)
Art. 8º (VETADO)
8
Art. 9º (VETADO)
Art. 11. Aplicam-se supletivamente nos processos regulados por esta Lei as
disposições das Leis nos 5.478, de 25 de julho de 1968, e 5.869, de 11 de janeiro
de 1973 - Código de Processo Civil.
8
Disponível no: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Msg/VEP-853-
08.htm, acessado em 20 de Janeiro de 2009.
9
Art. 3o
Razões do veto
Art. 5o
Razões do veto
Art. 8o
Razões do veto
Art. 10
Razões do veto
Art. 9o
Razões do veto
Art. 4o
Razões do veto
12
Posto isso, observamos ainda que até mesmo direito à reparação por dano
moral em favor do nascituro já foi admitido pelo Superior Tribunal de Justiça:
O que é “concepturo”?
Trata-se daquele ente que ainda não foi nem concebido (ex.: o futuro
filho de fulano...). Fala-se, aqui, em “prole eventual” (no Direito Sucessório, ver o
9
Enunciado 01 (Jornadas de Direito Civil – CJF): “Art. 2º. A proteção que o Código defere
ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como
nome, imagem e sepultura.” As Jornadas de Direito Civil são importantes postulados de
doutrina, fruto de encontros de juristas, realizados em Brasília. Você pode encontrar os
enunciados das I, III e IV Jornadas (eis que na II não houve apresentação dessa ordem)
no site www.pablostolze.com.br (fonte: Conselho da Justiça Federal).
15
Segundo Clóvis Beviláqua, em sua obra “Theoria Geral do Direito Civil” (RED,
1999, págs. 120-123), este instituto tem origem romana, consistindo “no benefício
concedido aos menores e às pessoas que se lhes equiparam, a fim de poderem
anular quaisquer atos válidos sob outros pontos de vista, nos quais tenham sido
lesadas” (pág. 121).
Concedida a restituição, as partes retornam ao estado anterior de coisas.
O Código de 1916, em seu art. 8º acabava com este benefício.
16
O novo Código Civil, na mesma linha, não tem dispositivo algum beneficiando
especificamente menores ou incapazes, razão por que entendemos continuar
extinto o instituto.
Afastada esta hipótese, previu o novo estatuto, outrossim, especial situação de
invalidade do negócio jurídico, para salvaguardar interesse do incapaz, quando o
seu representante praticar ato atentatório ao seu interesse:
Segundo Orlando Gomes (in Introdução ao Direito Civil, 10. ed, 2. tiragem, Rio de
Janeiro: Forense, 1993, pág. 172), “A noção de status coliga-se à de capacidade.
O status é uma qualidade jurídica decorrente da inserção de um sujeito numa
categoria social, da qual derivam, para este, direitos e deveres”.
Nessa linha de pensamento, é possível se identificar estados político (nacionais e
estrangeiros), familiar (cônjuge, por exemplo), individual (idade, sexo, saúde).
“Art. 2º, ECA - Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze
anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade.
2.1.3. Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir a sua
vontade.
A senilidade, entendida nesse contexto como a idade muito avançada, não gera
incapacidade civil.
Diferentemente, outrossim, é a situação da pessoa de idade avançada que também
apresente problema de saúde mental apto a justificar a sua interdição.
2.2.4. Os pródigos.
3. Emancipação
A menoridade, à luz do Novo Código Civil, cessa aos 18 (dezoito) anos completos,
quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil (art.5º)11.
Vale lembrar que esta redução aos 18 anos reverberou (não necessariamente para
impor modificação na legislação especial) nos âmbitos penal, processual,
previdenciário, e, especialmente, no direito de família, no que tange ao pagamento
de pensão alimentícia.
10
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6001.htm, acessado em 20 de julho de 2008.
11
No CC-16, art. 9.: “Aos vinte e um anos completos acaba a menoridade, ficando
habilitado o indivíduo para todos os atos da vida civil”.
22
– Com a maioridade, extingue-se o poder familiar, mas não cessa, desde logo,
o dever de prestar alimentos, fundado a partir de então no parentesco.
Precedentes do STJ.
Na mesma vereda:
O pedido do pai foi negado em razão de o TJ/MG haver entendido que, para
exonerar-se do dever de pagar a pensão alimentícia à sua filha maior, o pai teria
que entrar com uma ação própria, autônoma, em que fosse permitida a ambas
as partes a produção de ampla prova. O pai alega que o dever de prestar
alimentos que lhe foi imposto tem por único fundamento o fato de sua filha ser
menor de idade à época da decisão judicial que lhe reconheceu o direito,
condição que se alterou, pois hoje, já com 24 anos, atingida a maioridade, não
mais faz jus aos alimentos.
Viriato Gaspar
Súmula: 358
O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a
maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório,
ainda que nos próprios autos.
3 – Art. 5º: a redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18
anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica
situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações
similares de proteção, previstas em legislação especial.
12
http://www.portalbrasil.net/2004/colunas/direito/abril_01.htm, acessado em 20 de julho
de 2008.
29
a) voluntária;
b) judicial;
c) legal.
A primeira hipótese é o casamento (art. 5º, parágrafo único, II, CC-02 e art. 9º, §
1º, II, CC-16). Recebendo-se em matrimônio, portanto, antecipam a plena
capacidade jurídica, mesmo que venham a se separar ou a se divorciar depois.
Termina a existência da pessoa natural com a morte (art. 6º, CC-02, art. 10, CC-
16).
A parada do sistema cardiorrespiratório com a cessação das funções vitais indica o
falecimento do indivíduo. Tal aferição, permeada de dificuldades técnicas, deverá
ser feita por médico, com base em seus conhecimentos clínicos e de tanatologia.
A irreversibilidade da morte encefálica a torna um critério de determinação do
óbito cientificamente mais preciso13.
Mas a matéria reveste-se de alta complexidade.
O Novo Código Civil admite a morte presumida, quanto aos ausentes, nos
casos em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva (art. 6., CC-02).
Mas a declaração de morte presumida não ocorre apenas em caso de
ausência.
A lei enumera outras hipóteses, em seu art. 7°, I e II:
13
MARIA HELENA DINIZ observa que “a noção comum de morte tem sido a ocorrência de
parada cardíaca prolongada e a ausência de respiração, ou seja, a cessação total e
permanente da funções vitais, mas, para efeito de transplante, tem a lei considerado a
morte encefálica, mesmo que os demais órgãos estejam em pleno funcionamento, ainda
que ativados por drogas” (“O Estado Atual do Biodireito”, São Paulo: Saraiva, 2001, págs.
266-267)..
32
“Na falta de qualquer elemento de prova, o que a razão diz é que não se
pode afirmar qual das pessoas faleceu primeiro, e, conseqüentemente,
nenhum direito fundado na procedência da morte pode ser transferido de
uma para a outra”.
Mauro Monucci, 29 anos, morreu por volta da meia-noite de sábado quando sua
moto, de alta cilindrada, chocou-se contra um poste em um cruzamento nos
arredores do Palácio dos Esportes de Forli. O jovem morreu quando era levado
numa ambulância ao hospital, segundo a edição digital do jornal La Repubblica.
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1. Parte Geral
1.1. Personalidade Jurídica
1.2. Nascituro
1.3. Pessoa Física (Natural)
1.4. Direitos da Personalidade
1.5. Domicílio
1.6. Pessoa Jurídica
1.7. Teoria do Fato Juridico
1.8. Negócio Jurídico (Planos de Existência, Validade e Eficácia)
1.9. Defeitos do Negócio Jurídico
1.10. Prescrição e Decadência
2. Obrigações
2.1. A Relação Obrigacional na perspectiva do Direito Civil
Constitucional
35
6. Textos Complementares
b) Sucessão Provisória.
14
Esta segunda hipótese se limita à previsão do art. 23 do CC-02: “Também se declarará a
ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira, ou
não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes”
37
neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a
administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que
preste essa garantia”15.
Esta razoável cautela de exigência de garantia é excepcionada, porém, em
relação aos ascendentes, descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua
condição de herdeiros (§ 2º do art.30), o que pode ser explicado pela
particularidade de seu direito, em função dos outros sujeitos legitimados para
requerer a abertura da sucessão provisória16, ao qual se acrescenta o
Ministério Público, por força do § 1º do art.28 do CC-02.
Em todo caso, a provisoriedade da sucessão é evidente na tutela legal, haja vista
que é expressamente determinado, por exemplo, que os “imóveis do ausente só se
poderão alienar não sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o
juiz, para lhes evitar a ruína” (art.31), bem como que “antes da partilha, o juiz,
quando julgar conveniente, ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a
deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela União”
(art.29).
Um aspecto de natureza processual da mais alta significação, na idéia de
preservação, ao máximo, do patrimônio do ausente, é a estipulação, pelo art.28,
do prazo de 180 dias para produção de efeitos da sentença que determinar a
abertura da sucessão provisória, após o que, transitando em julgado, proceder-se-
á à abertura do testamento, caso existente, ou ao inventário e partilha dos bens,
como se o ausente tivesse falecido.
15
Ressalve-se, todavia, que o art. 34 do CC-02 admite que o “excluído, segundo o art. 30,
da posse provisória poderá, justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue metade
dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria”.
16
“Art. 27. Para o efeito previsto no artigo antecedente, somente se consideram
interessados:
I – o cônjuge não separado judicialmente;
II – os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
III – os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;
IV – os credores de obrigações vencidas e não pagas.”
38
c) Sucessão Definitiva.
d) Retorno do Ausente
Fonte: Novo Curso de Direito Civil, Parte Geral, vol. I– Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Folho (Ed.
Saraiva).
Finalmente, segue texto gentilmente cedido pelo brilhante jurista e querido amigo
Prof. Inácio de Carvalho Neto:
41
O novo Código Civil, no art. 1.571, § 1º., passou a admitir a presunção de morte
como causa de dissolução do casamento18. Contraria, assim, o que dispunha o art.
315, parágrafo único, do Código de 1916, que expressamente excluía a morte
presumida como causa de dissolução do matrimônio. Ou seja, por mais duradoura
que fosse a ausência, não tinha ela o condão de dissolver o casamento19. Com a
revogação deste dispositivo pelo art. 54 da Lei do Divórcio, e não tratando esta
17
Texto que nos foi gentilmente cedido por este grande amigo e brilhante professor de
Direito Civil.
*
Especialista em Direito Penal e Processual Penal pela Unipar. Mestre em Direito Civil pela
Universidade Estadual de Maringá – UEM. Doutorando em Direito Civil pela Universidade de
São Paulo – USP. Professor de Direito Civil da Unifil, da Faccar, da Escola do Ministério
Público e da Escola da Magistratura do Paraná. Promotor de Justiça no Paraná. Autor dos
livros Separação e divórcio: teoria e prática, ed. Juruá, 5ª. edição; Aplicação da
pena, ed. Forense, 2ª. edição; Responsabilidade do Estado por atos de seus
agentes, ed. Atlas; Ação declaratória de constitucionalidade, ed. Juruá, 2ª. edição;
Abuso do direito, ed. Juruá, 3ª. edição; Extinção indireta das obrigações, ed. Juruá,
2ª. edição; Novo Código Civil comparado e comentado, ed. Juruá, em 7 volumes
(alguns em 2ª. edição); Responsabilidade civil no direito de família, ed. Juruá; e de
diversos artigos publicados em diversas revistas jurídicas. E-mail do autor:
inaciocarvalho@onda.com.br.
18
“§ 1º. O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo
divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente”.
Igualmente dispõe o Código Civil argentino, com a redação da Lei nº. 23.515/87, com a
diferença de que a dissolução só ocorre com o novo casamento: “Art. 213 - El vínculo
matrimonial se disuelve: 1) por la muerte de uno de los esposos; 2) por el matrimonio que
contrajere el cónyuge del declarado ausente com presunción de fallecimiento; 3) por
sentencia de divorcio vincular”). Da mesma forma o Código Civil italiano: “65. Nuovo
matrimonio del coniuge. – Divenuta eseguibile la sentenza che dichiara la morte presunta,
il coniuge può contrarre nuovo matrimonio”. Igualmente dispunha o art. 59 do Projeto de
Orlando Gomes.
19
Observe-se o quanto perniciosa era a regra: imagine-se a hipótese de pessoa recém-
casada, ainda nova, desaparecendo em seguida seu cônjuge. Ficaria essa pessoa para o
resto da vida impossibilitada de se casar novamente, tendo em vista a impossibilidade do
divórcio à época.
42
Não obstante, entendemos que a morte presumida não tinha este condão. Posto
que não repetida expressamente a proibição do dispositivo revogado do Código
Civil, não se podia requerer a declaração de dissolução do vínculo matrimonial por
morte presumida de um dos cônjuges, já que o instituto da morte presumida se
referia exclusivamente à sucessão dos bens deixados pelo ausente21. Necessário se
fazia, portanto, que o cônjuge promovesse o divórcio, o que lhe seria, inclusive,
mais fácil, já que o divórcio direto depende apenas de dois anos de separação de
fato, ao passo que, para a configuração da morte presumida, ordinariamente, se
20
“Ainda que se efetuasse a sucessão definitiva, com a presunção de morte, não se
considerava dissolvido o casamento, de sorte que o cônjuge presente não podia contrair
novo casamento. Agora, porém, não há mais óbice” (PACHECO, José da Silva.
Inventários e partilhas. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 67) (grifo nosso). “Se
a lei admitiu, para efeitos patrimoniais, uma presunção de morte do ausente há mais de
vinte anos ou que completou 95 anos de idade, não se vê razão para não admitir a mesma
presunção em matéria de casamento. Se houve para um caso uma forte razão de fato a
justificar a presunção, também haverá no outro caso” (CRUZ, Guilherme Braga da.
Direitos de família. 2. ed. Coimbra: Coimbra, 1942, v. 1, p. 123).
21
Neste sentido a lição da doutrina majoritária: “Quanto à primeira hipótese de dissolução
da sociedade conjugal, no art. 2º., inciso I, prevista (morte de um dos cônjuges), que,
consoante esclarece o parágrafo único do mesmo artigo, também é caso de dissolução do
vínculo matrimonial - oportuno é observar -, a despeito do silêncio da lei, que não ressalva
a vigência do parágrafo único do art. 315 do CC, pelo art. 54 da Lei 6.515/77 revogado -
que continua excluída a hipótese de morte presumida (art. 10, 2ª. parte, do CC) -
quer como fundamento para a dissolução da sociedade conjugal, quer para extinção do
vínculo matrimonial” (PEREIRA, Áurea Pimentel. Divórcio e separação judicial. 3. ed. Rio
de Janeiro: Renovar, 1989, p. 22) (grifo nosso). “Assim, para o efeito da dissolução da
sociedade conjugal, não se aproveita a presunção de morte do ausente, estabelecida no
art. 10, segunda parte, do CC. ...Todavia, embora omitida a limitação da eficácia da
presunção de morte, não se deduz daí terem os novos legisladores se afastado da
sistemática anterior, de modo a permitir que, com a declaração judicial da ausência,
induzindo a presunção de morte do cônjuge, decorra ipso jure a liberação do outro para
novo matrimônio, no pressuposto legal de estar dissolvido o vínculo anterior” (CAHALI,
Yussef Said. Divórcio e separação. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 69-
70) (grifo no original). “O efeito dissolutivo do vínculo se produz apenas com a morte real,
provada mediante certidão de assento de óbito do cônjuge. A presunção de morte do
ausente não aproveita para o efeito de terminação do vínculo conjugal, de modo que o
caminho atual é o de que a ausência é causa de separação judicial ou de divórcio”
(FREITAS, Geralda Pedroso. A terminação do vínculo conjugal. In: O direito de família e
a Constituição de 1988. Coord. Carlos Alberto BITTAR. São Paulo: Saraiva, 1989, p.
220).
43
faz necessária a ausência por dez anos (art. 1.167, inciso II, do Código de
Processo Civil). Talvez por esta razão não tenha o legislador repetido a norma do
revogado art. 315 do Código Civil. Naquele, como não se aceitava o divórcio a
vínculo, era necessário deixar expresso que também não se aplicaria a presunção
de morte. A partir da Lei nº. 6.515/77, instituído o divórcio, dificilmente alguém se
utilizaria desta presunção para dissolver o vínculo conjugal. Ademais, como
lembrava Yussef Said CAHALI, “ausente qualquer provisão legal que o autorize,
continua inexistindo qualquer ação direta para a declaração da ruptura do vínculo
matrimonial devido à ausência declarada ou presumida do cônjuge; nem esta
ausência, ainda que declarada judicialmente, tem o condão de produzir ipso jure a
dissolução do matrimônio”22.
Mas a lei não resolve algumas questões que a nova norma suscita:
em primeiro lugar, em que momento se considera presumida a morte do ausente,
para o fim da dissolução do seu casamento? Interpretando isoladamente os arts.
22
CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 71.
44
23
“Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não
houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz,
a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e
nomear-lhe-á curador. Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador,
quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o
mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes”.
45
24
“Art. 1.521. Não podem casar: ...VI – as pessoas casadas”.
46
ausente? Dir-se-á ser simples a solução, pois o citado parágrafo diz que o primeiro
casamento se dissolve pela presunção de morte, equivalendo, portanto, ao
divórcio, ou à morte real. Daí seguiria a conseqüência de que, estando dissolvido o
primeiro casamento, válido ficaria o segundo25. Mas deve-se discutir: a presunção
de morte é uma presunção absoluta (juris et de jure)? Não seria antes uma
presunção relativa (juris tantum)? Não se pode negar o seu caráter de presunção
relativa, já que o ausente pode retornar e, em conseqüência, provar que não está
morto realmente. Sendo presunção relativa, desfaz-se com a prova de que não
houve morte real, ou seja, com o reaparecimento do ausente. Então, desfeita a
presunção, seria lógico se entender desfeita também a dissolução do casamento. E
a conseqüência disto seria desastrosa: o segundo casamento do cônjuge do
ausente foi feito em bigamia, sendo, portanto, nulo26. Esta a solução adotada pelo
direito italiano27. Seria razoável anular o casamento do ex-cônjuge do ausente pelo
reaparecimento deste depois de tanto tempo? Melhor seria se a lei tivesse
disposição semelhante ao § 1.348 do BGB (Código Civil alemão), que dizia
expressamente ficar válido o segundo casamento nesse caso28.
25
Neste sentido, escreve GONÇALVES, Carlos Roberto (Direito civil brasileiro: parte
geral. São Paulo: Saraiva, 2003, v. 1, p. 118) que se o ausente “estiver vivo e aparecer,
depois de presumida a sua morte e aberta a sucessão definitiva, com a dissolução da
sociedade conjugal, e seu cônjuge houver contraído novo matrimônio, prevalecerá o
último”.
26
Afasta-se, contudo, as conseqüências criminais da bigamia (art. 235 do Código Penal),
tendo em vista que não houve dolo das partes.
27
“68. Nullità del nuovo matrimonio. – Il matrimonio contratto a norma dell’articolo 65 è
nullo, qualora la persona della quale fu dichiarata la morte presunta ritorni o ne sia
accertata l’esistenza. Sono salvi gli effetti civili del matrimonio dichiarato nullo. La nullità
non può essere pronunziata nel caso in cui è accertata la morte, anche se avvenuta in uma
data posteriore a quella del matrimonio”. No mesmo sentido dispunha o Projeto de Orlando
Gomes (art. 59).
28
“§ 1348. Se um cônjuge contrai um novo matrimônio depois de que o outro cônjuge foi
declarado falecido, o novo matrimônio não é nulo pela circunstância de que o cônjuge
declarado falecido ainda viva, a não ser que ambos cônjuges soubessem no momento da
conclusão do matrimônio que o cônjuge declarado falecido sobreviveu à declaração de
falecimento”. Este dispositivo, contudo, está revogado.
47
Referências:
CAHALI, Yussef Said. Divórcio e separação. 10. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2002.
CRUZ, Guilherme Braga da. Direitos de família. 2. ed. Coimbra: Coimbra, 1942, v.
1.
FREITAS, Geralda Pedroso. A terminação do vínculo conjugal. In: O direito de
família e a Constituição de 1988. Coord. Carlos Alberto BITTAR. São Paulo:
Saraiva, 1989.
GONÇALVES, Carlos Roberto (Direito civil brasileiro: parte geral. São Paulo:
Saraiva, 2003, v. 1.
PACHECO, José da Silva. Inventários e partilhas. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1996.
PEREIRA, Áurea Pimentel. Divórcio e separação judicial. 3. ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 1989.
I JORNADA
10 – Art. 66, § 1º: em face do princípio da especialidade, o art. 66, § 1º, deve ser
interpretado em sintonia com os arts. 70 e 178 da LC n. 75/93.
11– Art. 79: não persiste no novo sistema legislativo a categoria dos bens imóveis
por acessão intelectual, não obstante a expressão “tudo quanto se lhe incorporar
natural ou artificialmente”, constante da parte final do art. 79 do CC.
12 – Art. 138: na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o
erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança.
13 – Art. 170: o aspecto objetivo da convenção requer a existência do suporte
fático no negócio a converter-se.
14 – Art. 189: 1) o início do prazo prescricional ocorre com o surgimento da
pretensão, que decorre da exigibilidade do direito subjetivo; 2) o art. 189 diz
respeito a casos em que a pretensão nasce imediatamente após a violação do
direito absoluto ou da obrigação de não fazer.
III JORNADA29
29
A II Jornada não elaborou enunciados.
50
151 – Art. 158: O ajuizamento da ação pauliana pelo credor com garantia real
(art. 158, § 1o) prescinde de prévio reconhecimento judicial da insuficiência da
garantia.
152 – Art. 167: Toda simulação, inclusive a inocente, é invalidante.
153 – Art. 167: Na simulação relativa, o negócio simulado (aparente) é nulo, mas
o dissimulado será válido se não ofender a lei nem causar prejuízos a terceiros.
154 – Art. 194: O juiz deve suprir de ofício a alegação de prescrição em favor do
absolutamente incapaz.
155 – Art. 194: O art. 194 do Código Civil de 2002, ao permitir a declaração ex
officio da prescrição de direitos patrimoniais em favor do absolutamente incapaz,
derrogou o disposto no § 5º do art. 219 do CPC.
156 – Art. 198: Desde o termo inicial do desaparecimento, declarado em
sentença, não corre a prescrição contra o ausente.
157 – Art. 212: O termo “confissão” deve abarcar o conceito lato de depoimento
pessoal, tendo em vista que este consiste em meio de prova de maior
abrangência, plenamente admissível no ordenamento jurídico brasileiro.
158 – Art. 215: A amplitude da noção de “prova plena” (isto é, “completa”)
importa presunção relativa acerca dos elementos indicados nos incisos do §1o,
devendo ser conjugada com o disposto no parágrafo único do art. 219.
IV JORNADA
272 – Art. 10. Não é admitida em nosso ordenamento jurídico a adoção por ato
extrajudicial, sendo indispensável a atuação jurisdicional, inclusive para a adoção
de maiores de dezoito anos.
273 – Art. 10. Tanto na adoção bilateral quanto na unilateral, quando não se
preserva o vínculo com qualquer dos genitores originários, deverá ser averbado o
cancelamento do registro originário de nascimento do adotado, lavrando-se novo
registro. Sendo unilateral a adoção, e sempre que se preserve o vínculo originário
52
280 – Arts.44, 57 e 60. Por força do art. 44, § 2º, consideram-se aplicáveis às
sociedades reguladas pelo Livro II da Parte Especial, exceto às limitadas, os arts.
57 e 60, nos seguintes termos:
a) Em havendo previsão contratual, é possível aos sócios deliberar a exclusão de
sócio por justa causa, pela via extrajudicial, cabendo ao contrato disciplinar o
procedimento de exclusão, assegurado o direito de defesa, por aplicação analógica
do art. 1085;
b) As deliberações sociais poderão ser convocadas pela iniciativa de sócios que
representem 1/5 (um quinto) do capital social, na omissão do contrato. A mesma
regra aplica-se na hipótese de criação, pelo contrato, de outros órgãos de
deliberação colegiada.
281 – Art. 50. A aplicação da teoria da desconsideração, descrita no art. 50 do
Código Civil, prescinde da demonstração de insolvência da pessoa jurídica.
282 – Art. 50. O encerramento irregular das atividades da pessoa jurídica, por si
só, não basta para caracterizar abuso de personalidade jurídica.
283 – Art. 50. É cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada
“inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar
ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros.
284 – Art. 50. As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins
não-econômicos estão abrangidas no conceito de abuso da personalidade jurídica.
285 – Art. 50. A teoria da desconsideração, prevista no art. 50 do Código Civil,
pode ser invocada pela pessoa jurídica em seu favor.
286 – Art. 52. Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à
pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas
titulares de tais direitos.
287 – Art. 98. O critério da classificação de bens indicado no art. 98 do Código
Civil não exaure a enumeração dos bens públicos, podendo ainda ser classificado
como tal o bem pertencente a pessoa jurídica de direito privado que esteja afetado
à prestação de serviços públicos.
54
297 – Art. 212. O documento eletrônico tem valor probante, desde que seja apto a
conservar a integridade de seu conteúdo e idôneo a apontar sua autoria,
independentemente da tecnologia empregada.
298 – Arts. 212 e 225. Os arquivos eletrônicos incluem-se no conceito de
“reproduções eletrônicas de fatos ou de coisas”, do art. 225 do Código Civil, aos
quais deve ser aplicado o regime jurídico da prova documental.
299 – Art. 2.028. Iniciada a contagem de determinado prazo sob a égide do Código
Civil de 1916, e vindo a lei nova a reduzi-lo, prevalecerá o prazo antigo, desde que
transcorrido mais de metade deste na data da entrada em vigor do novo Código. O
novo prazo será contado a partir de 11 de janeiro de 2003, desprezando-se o
tempo anteriormente decorrido, salvo quando o não-aproveitamento do prazo já
decorrido implicar aumento do prazo prescricional previsto na lei revogada,
hipótese em que deve ser aproveitado o prazo já decorrido durante o domínio da
lei antiga, estabelecendo-se uma continuidade temporal.
300 – Art. 2.035. A lei aplicável aos efeitos atuais dos contratos celebrados antes
do novo Código Civil será a vigente na época da celebração; todavia, havendo
alteração legislativa que evidencie anacronismo da lei revogada, o juiz equilibrará
as obrigações das partes contratantes, ponderando os interesses traduzidos pelas
regras revogada e revogadora, bem como a natureza e a finalidade do negócio.
Será que um bebê, ainda no útero da mãe, tem os mesmos direitos de um ser
humano já nascido? O Código Civil, ao mesmo tempo em que concede direitos ao
nascituro, desde a concepção, define que a personalidade civil do indivíduo começa
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Em seu voto, a ministra Laurita ressaltou que a jurisprudência recente do STJ tem
sido pela tese desfavorável à legitimidade do MP. Entretanto, a ministra resgatou
vasta doutrina e jurisprudência recente do STF que autorizam o órgão a ajuizar
ação civil pública para tutela de direitos individuais homogêneos sem relação de
consumo.
Sendo assim, o STF já admitiu a atuação do MP para ajuizar ação para discutir não
só a revisão de benefício previdenciário (RE 549.419 e RE 607.200), como a
equiparação de menores sob guarda judicial a filhos de segurados, para fins
previdenciários (RE 491.762) e o critério de concessão do benefício assistencial a
portadores de deficiência e idosos (RE 444.357). No mesmo sentido é a posição do
STF quanto à proteção de direitos sociais, como a moradia e a educação.
22/01/2010
Integrante da Quarta Turma e da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça,
o ministro Aldir Passarinho Junior, sexto ministro mais antigo da Corte, selecionou
os processos mais relevantes que relatou em 2009, destacando os de interesse dos
consumidores. Por exemplo a fixação de responsabilidade objetiva de
concessionária de estrada de rodagem em indenizar por morte devido à presença
de animais na pista ou a denúncia de cláusulas abusivas em plano de saúde que
pretendia limitar o tempo de internação hospitalar de cliente.
Animais na estrada
O ato generoso de doar sangue causou tamanho transtorno a uma voluntária que
ela teve que recorrer à Justiça. Um erro de diagnóstico levou o Serviço de
Hemoterapia Dom Bosco a comunicar a todos os bancos de sangue do país que a
voluntária era portadora de hepatite C. Ela ficou impedida de doar sangue. Por
entender que houve lesão de ordem moral, a doadora buscou ressarcimento, com
amparo no Código de Defesa do Consumidor.
A Súmula n. 230 do STJ foi decisiva para o fim das cláusulas abusivas nos contratos
de plano de saúde que limitavam o tempo de internação do paciente. Este ano o
ministro Aldir Passarinho Junior deparou-se com uma nova forma de limitação: a
restrição do valor do tratamento. “Ora, em essência, a hipótese dos autos, de
restrição de valor, não é igual à da súmula citada, mas comporta o mesmo
tratamento. A meu ver, até tratamento mais severo, pois a cláusula é mais
abusiva ainda, é pior”, afirmou o ministro no voto.
Indenização de honorários
Alerta errado
30
A súmula referida na notícia do STJ deve ser a “302”: É abusiva a cláusula contratual de
plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.
61
Para o ministro Aldir Passarinho Junior, houve culpa do gerente. Segundo ele, foi
dada informação equivocada à polícia sobre o porte de arma, o que poderia ter
levado até a um desfecho mais trágico. O ministro entendeu também que o
funcionário foi muito além de uma mera comunicação à autoridade, chegando a
participar, fora do banco, da diligência que resultou na prisão do correntista.
Em sua decisão, o ministro Massami Uyeda destacou que quem adota à moda
brasileira não labora em equívoco, ao contrário, tem pleno conhecimento das
circunstâncias que gravitam em torno de seu gesto e, ainda assim, ultima o ato.
Para ele, nessas circunstâncias, nem mesmo o pai, por arrependimento posterior,
pode valer-se de eventual ação anulatória postulando descobrir o registro, afinal a
ninguém é dado alegar a própria torpeza em seu proveito.
Por fim, o ministro Massami Uyeda ressaltou que, após firmado o vínculo
socioafetivo, não poderá o pai adotante desconstituir a posse do estado de filho
que já foi confirmada pelo véu da paternidade socioafetiva.
08/07/2009
Em decisão unânime, a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
definiu que compete ao juízo que processou e julgou inventário processar e julgar
ação de sobrepartilha (nova partilha de bens ou de coisas, que não se partilharam
antes). Assim, a Seção declarou competente o juízo de Direito da Vara de Família
Órfãos e Sucessões Infância e Juventude e Primeiro Cível de Planaltina (GO) para
julgar o pedido de sobrepartilha nos autos do inventário de C.F. e S.S.
Em seu voto, o relator, ministro Sidnei Beneti, citou que, de acordo com o disposto
no parágrafo único do artigo 1.041 do Código de Processo Civil, a sobrepartilha
deve correr nos autos do inventário do autor da herança. Assim, compete ao juízo
que processou e julgou o inventário processar e julgar ação de sobrepartilha.
Processos: CC 54801
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Resta, então, promover a penhora sobre outros bens que fazem parte do imóvel de
família, mas que não estejam resguardados pela lei. E quais seriam esses bens? A
questão é frequentemente analisada em processos que chegam ao Superior
Tribunal de Justiça, e as decisões costumam ser mais complexas do que parecem à
primeira vista.
A Lei n. 8.009 também protege móveis e utensílios que fazem parte essencial da
vida familiar, ou seja: os equipamentos imprescindíveis ao bem-estar da família,
inclusive os de uso profissional, desde que quitados, estão a salvo de ser usados
para saldar dívidas do proprietário.
De acordo com a lei, apenas os veículos de transporte (se não forem utilizados
para fins profissionais), as obras de arte e os objetos suntuosos podem ser
penhorados. Assim, os ministros do STJ têm, em cada processo sobre o tema, dois
elementos de valor cultural e subjetivo para debater: o que é supérfluo ou
suntuoso nos dias de hoje?
65
Dignidade
Tema complexo
A prova disso está numa decisão da Segunda Turma do STJ que, ao contrário dos
magistrados das Terceira e Quinta Turmas, concluiu que o aparelho de ar-
condicionado não é indispensável à sobrevivência e pode ser penhorado. Para os
66
ministros, o equipamento não deve ser considerado bem suntuoso, mas também
não é imprescindível à sobrevivência familiar. A Turma ressaltou que o ar-
condicionado não representa uma demonstração exterior de riqueza, mas não seria
justo a família continuar usufruindo desse conforto e utilidade se tinha dívidas a
quitar.
Porém a Segunda Turma, que julga casos de Direito Público, concluiu que a vaga
de garagem faz parte indissociável do apartamento e está garantida pela lei da
impenhorabilidade. A Turma ressaltou que o proprietário do imóvel não poderia
ficar em posição de inferioridade em relação aos demais donos de apartamentos no
prédio. A penhora da vaga foi suspensa porque o uso do espaço por terceiros era
vedado pela convenção de condomínio.
Foi por isso que a Quarta Turma manteve a penhora da área de lazer com piscina,
quadra de tênis, sauna e jardins de um arquiteto de Anápolis, em Goiás. Os
ministros confirmaram que o terreno de 480 metros vinculado à residência
principal podia ser penhorado por se tratar de benfeitorias consideradas suntuosas.
Processos: Resp 658841; Resp 251360; Resp 299392; Resp 582044; Resp
182451; Resp 222012; Resp 300411; Resp 150021
O Código Civil diz que o caso fortuito ou de força maior existe quando uma
determinada ação gera consequências, efeitos imprevisíveis, impossíveis de evitar
ou impedir:
Ao demonstrar que a causa da batida não está relacionada com o veículo, como
problemas de manutenção, por exemplo, fica caracterizada a existência de caso
fortuito ou força maior.
Nem todas as ações julgadas no STJ são simples de analisar assim. Ao contrário, a
maior parte das disputas judiciais sobre indenização envolve situações bem mais
complicadas. Como o processo de uma menina do Rio de Janeiro. A garota se
acidentou com um bambolê no pátio da escola e perdeu a visão do olho direito.
Ao analisar o pedido, o STJ entendeu que a escola devia indenizar a família. Afinal,
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o acidente aconteceu por causa de uma falha na prestação dos serviços prestados
pela própria instituição de ensino. Assim como esse, outras centenas de processos
envolvendo caso fortuito e indenizações chegam ao STJ todos os dias.
Assalto à mão armada no interior de ônibus, trens, metrôs? Para o STJ é caso
fortuito. A jurisprudência do Tribunal afirma que a empresa de transporte não deve
ser punida por um fato inesperado e inevitável que não faz parte da atividade fim
do serviço de condução de passageiros.
E o buraco causado pela chuva numa via pública que acabou matando uma
criança? Caso fortuito? Não. O STJ decidiu que houve omissão do Poder Público,
uma vez que o município não teria tomado as medidas de segurança necessárias
para isolar a área afetada ou mesmo para consertar a erosão fluvial a tempo de
evitar uma tragédia.
E onde entra o urubu? Numa ação de indenização por atraso de vôo contra uma
companhia aérea. A empresa alegou caso fortuito porque um urubu foi tragado
pela turbina do avião durante o vôo. Mas o STJ considerou que acidentes entre
aeronaves e urubus já se tornaram fatos corriqueiros no Brasil, derrubando a tese
do fato imprevisível. Resultado: a companhia aérea foi obrigada a indenizar o
passageiro.
9. Mensagem