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MATERIAL DE APOIO
DIREITO CIVIL
PARTE GERAL

Apostila 01
Prof. Pablo Stolze Gagliano

Personalidade Jurídica. Nascituro. Pessoa Física ou Natural

1. A Personalidade Jurídica.

1.1. Conceito.

Personalidade Jurídica, para a Teoria Geral do Direito Civil, é a aptidão genérica


para se titularizar direitos e contrair obrigações, ou, em outras palavras, é o
atributo necessário para ser sujeito de direito.
Neste ponto, vale transcrever a sábia preleção de RIPERT e BOULANGER, na
monumental obra “Tratado de Derecho Civil” segun el Tratado de Planiol (Tomo I –
Parte General, Buenos Aires: La Rey, 1988, pág. 310):

“La personalidad jurídica está vinculada a la existencia del individuo, y no a su


conciencia o a su voluntad. Um niño muy pequeno, o um loco, es una persona.
Entre las personas físicas no se hace diferencia alguna para la atribuición de
derechos civiles; por muy débil o incapacitado que esté, todo ser humano es, y
sigue siendo, una persona del derecho”.

1.2. Aquisição da personalidade jurídica (Pessoa Física ou Natural)

O seu surgimento ocorre a partir do nascimento com vida (art. 2°, CC-02 e art. 4º,
CC-16).
2

No instante em que principia o funcionamento do aparelho cárdio-respiratório,


clinicamente aferível pelo exame de docimasia hidrostática de Galeno, o recém-
nascido adquire personalidade jurídica, tornando-se sujeito de direito, mesmo que
venha a falecer minutos depois.
Na mesma linha, a Res. nº 1/88 do Conselho Nacional de Saúde1 dispõe que o
nascimento com vida é a:“expulsão ou extração completa do produto da concepção
quando, após a separação, respire e tenha batimentos cardíacos, tendo sido ou
não cortado o cordão, esteja ou não desprendida a placenta”.
Em uma perspectiva constitucional de respeito à dignidade da pessoa, não importa
que o feto tenha forma humana ou tempo mínimo de sobrevida (como se dá no
Código Civil Espanhol – art. 30).
Assim, se o recém-nascido – cujo pai já tenha morrido - falece minutos após o
parto, terá adquirido, por exemplo, todos os direitos sucessórios do seu genitor,
transferindo-os para a sua mãe, uma vez que se tornou, ainda que por breves
instantes, sujeito de direito.

1.3. O Nascituro.

LIMONGI FRANÇA, citado por FRANCISCO AMARAL, define o nascituro como sendo
“o que está por nascer, mas já concebido no ventre materno”.2
Cuida-se do ente concebido, embora ainda não nascido, dotado de vida intra-
uterina, daí porque a doutrina diferencia-o (o nascituro) do embrião mantido em
laboratório3.

1
Cit. por DINIZ, Maria Helena, in Curso de Direito Civil Brasileiro, 25ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2008, pág. 198.
2
AMARAL, Francisco, Introdução ao Direito Civil, Renovar, pág. 217.
3
A título de curiosidade, ver a dicção do art. 9° § 1°, PL 90/99: “Não se aplicam aos
embriões originados in vitro, antes de sua introdução no aparelho reprodutor da mulher
receptora, os direitos assegurados ao nascituro na forma da lei. Já o Projeto de Reforma do
CC, em sua redação original, aponta em sentido contrário: “Art. 2°. A personalidade civil da
pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os
direitos do embrião e do nascituro” (grifos nossos).
3

A Lei Civil trata do nascituro quando, posto não o considere pessoa, coloca a salvo
os seus direitos desde a concepção (art. 2º, CC-02, art. 4º, CC-16).
Ora, se for admitida a teoria natalista, segundo a qual a aquisição da
personalidade opera-se a partir do nascimento com vida, é razoável o
entendimento no sentido de que, não sendo pessoa, o nascituro possui mera
expectativa de direito (VICENTE RÁO, SILVIO RODRIGUES, EDUARDO ESPÍNOLA,
SILVIO VENOSA).
Mas a questão não é pacífica na doutrina.
Os adeptos da teoria da personalidade condicional sufragam entendimento
no sentido de que o nascituro possui direitos sob condição suspensiva. Vale dizer,
ao ser concebido, já pode titularizar alguns direitos (extrapatrimoniais), como o
direito à vida, mas só adquire completa personalidade, quando implementada a
condição do seu nascimento com vida.
A teoria concepcionista, por sua vez, influenciada pelo Direito Francês, é
mais direta e ousada: entende que o nascituro é pessoa desde a concepção
(TEIXEIRA DE FREITAS, CLÓVIS BEVILÁQUA, SILMARA CHINELATO).
CLÓVIS BEVILÁQUA, em seus “Comentários ao Código Civil dos Estados
Unidos do Brasil”, Rio de Janeiro: Ed. Rio, 1975, pág. 178, após elogiar
abertamente a teoria concepcionista, ressaltando os seus excelentes argumentos,
conclui ter adotado a natalista, “por parecer mais prática” (sic). No entanto, o
próprio autor, nesta mesma obra, não resiste ao apelo concepcionista, ao destacar
situações em que o nascituro “se apresenta como pessôa” (sic).
A despeito de toda essa profunda controvérsia doutrinária, o fato é que, nos
termos da legislação em vigor, inclusive do Novo Código Civil, o nascituro tem a
proteção legal dos seus direitos desde a concepção4.

4
A leitura da ementa referente a ADI 3510-0 (em que se questionaram dispositivos da Lei
de Biossegurança) aparentemente reforça a teoria natalista
(http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=3510&pr
ocesso=3510). Mas, em nosso sentir, o embate entre as teorias, na interpretação que se
faz do art. 2º do CC, ainda persistirá por muito tempo. A temática é muito polêmica. Uma
pesquisa na doutrina demonstrá tal assertiva.
4

Nesse sentido, pode-se apresentar o seguinte quadro esquemático, não


exaustivo:

a) o nascituro é titular de direitos personalíssimos (como o direito à


vida, o direito à proteção pré-natal etc.)5;
b) pode receber doação, sem prejuízo do recolhimento do imposto de
transmissão inter vivos;
c) pode ser beneficiado por legado e herança;
d) pode ser-lhe nomeado curador para a defesa dos seus interesses
(arts. 877 e 878, CPC);
e) o Código Penal tipifica o crime de aborto;
f) como decorrência da proteção conferida pelos direitos da
personalidade, concluímos que o nascituro tem direito à realização
do exame de DNA, para efeito de aferição de paternidade6.

5
O art. 7. do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe que: “a criança e o adolescente
têm direito à proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas públicas que
permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de
existência”.
6
Confira-se, neste ponto, o julgado do Supremo Tribunal Federal no caso “Glória Trevis”
(Rcl 2040
QUESTÃO DE ORDEM NA RECLAMAÇÃO, Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA, Julgamento:
21/02/2002 , Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Publicação: DJ DATA-27-06-2003 PP-00031
EMENT VOL-02116-01 PP-00129), em que podemos observar a aplicação da teoria da
“ponderação de interesses”, visando a dirimir eventuais conflitos entre direitos
constitucionais. Embora se buscasse, em verdade, a apuração de um crime, o fato é que o
nascituro mereceria, em nosso sentir, no caso em tela, o beneficio da produção da prova
pericial, para que, após seu nascimento, não houvesse que carregar o peso das
circunstâncias duvidosas da sua concepção: “EMENTA: - Reclamação. Reclamante
submetida ao processo de Extradição n.º 783, à disposição do STF. 2. Coleta de
material biológico da placenta, com propósito de se fazer exame de DNA, para
averigüação de paternidade do nascituro, embora a oposição da extraditanda. 3.
Invocação dos incisos X e XLIX do art. 5º, da CF/88. 4. Ofício do Secretário de
Saúde do DF sobre comunicação do Juiz Federal da 10ª Vara da Seção Judiciária
do DF ao Diretor do Hospital Regional da Asa Norte - HRAN, autorizando a coleta e
entrega de placenta para fins de exame de DNA e fornecimento de cópia do
prontuário médico da parturiente. 5. Extraditanda à disposição desta Corte, nos
termos da Lei n.º 6.815/80. Competência do STF, para processar e julgar eventual
pedido de autorização de coleta e exame de material genético, para os fins
pretendidos pela Polícia Federal. 6. Decisão do Juiz Federal da 10ª Vara do
Distrito Federal, no ponto em que autoriza a entrega da placenta, para fins de
5

Existe, ainda, a possibilidade de se reconhecer ao nascituro direito aos


alimentos.
Nesse sentido, confira-se o seguinte julgado do TJRS:

“INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. ALIMENTOS PROVISÓRIOS EM


FAVOR DO NASCITURO. POSSIBILIDADE. ADEQUAÇÃO DO QUANTUM. 1. Não
pairando dúvida acerca do envolvimento sexual entretido pela gestante com o
investigado, nem sobre exclusividade desse relacionamento, e havendo
necessidade da gestante, justifica-se a concessão de alimentos em favor do
nascituro. 2. Sendo o investigado casado e estando também sua esposa grávida, a
pensão alimentícia deve ser fixada tendo em vista as necessidades do
alimentando, mas dentro da capacidade econômica do alimentante, isto é,
focalizando tanto os seus ganhos como também os encargos que possui. Recurso
provido em parte. (AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 70006429096, SÉTIMA CÂMARA
CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: SÉRGIO FERNANDO DE
VASCONCELLOS CHAVES, JULGADO EM 13/08/2003)”.

realização de exame de DNA, suspensa, em parte, na liminar concedida na


Reclamação. Mantida a determinação ao Diretor do Hospital Regional da Asa
Norte, quanto à realização da coleta da placenta do filho da extraditanda.
Suspenso também o despacho do Juiz Federal da 10ª Vara, na parte relativa ao
fornecimento de cópia integral do prontuário médico da parturiente. 7. Bens
jurídicos constitucionais como "moralidade administrativa", "persecução penal
pública" e "segurança pública" que se acrescem, - como bens da comunidade, na
expressão de Canotilho, - ao direito fundamental à honra (CF, art. 5°, X), bem
assim direito à honra e à imagem de policiais federais acusados de estupro da
extraditanda, nas dependências da Polícia Federal, e direito à imagem da própria
instituição, em confronto com o alegado direito da reclamante à intimidade e a
preservar a identidade do pai de seu filho. 8. Pedido conhecido como reclamação
e julgado procedente para avocar o julgamento do pleito do Ministério Público
Federal, feito perante o Juízo Federal da 10ª Vara do Distrito Federal. 9. Mérito do
pedido do Ministério Público Federal julgado, desde logo, e deferido, em parte,
para autorizar a realização do exame de DNA do filho da reclamante, com a
utilização da placenta recolhida, sendo, entretanto, indeferida a súplica de
entrega à Polícia Federal do "prontuário médico" da reclamante”.
6

Na doutrina, preleciona o Prof. Teixeira Giorgis:

“Como a regra constitucional declara a vida inviolável e o estatuto menorista


assegura à gestante o atendimento pré-natal e perinatal, não há mais controvérsia
sobre o direito do nascituro a alimentos. Então se aceita que a pesquisa da filiação
seja cumulada com um pedido de alimentos provisórios para que a mãe possa
enfrentar as despesas anteriores ao parto, como os custos da pediatria, a
assistência cirúrgica, transfusões, ultra-sonografia, intervenções fetais e outras
(AGI 596067629); é que a gravidez diminui a capacidade laborativa da pessoa
(AGI nº 70016977936), situação que também se aceita em caso de união estável
(AGI nºs 70017520479 e 70016977936).Para a concessão dos alimentos é
necessário haver indícios convincentes sobre a paternidade invocada (AGI nº
70018406652), não sendo atendida a postulação quando não ocorram elementos
seguros sobre a genitura ou sobre o início da prenhez (AGI nº70009811027).
Assim também acontece quando os cônjuges estão separados de fato por mais de
quatro meses (APC nº 587002155)”.7
E, finalmente, em 2008, fora aprovada a lei dos “alimentos gravídicos”, que
reconhece, em favor do nascituro, direito aos alimentos.
Vale a pena conferir:

LEI Nº 11.804, DE 5 DE NOVEMBRO DE 2008.

Disciplina o direito a alimentos gravídicos


e a forma como ele será exercido e dá
outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

7
GIORGIS, José Carlos Teixeira, in “Alimentos para o Nascituro”
http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?idnoticia=8070, acessado em 20 de julho
de 2008.
7

Art. 1o Esta Lei disciplina o direito de alimentos da mulher gestante e a


forma como será exercido.

Art. 2o Os alimentos de que trata esta Lei compreenderão os valores


suficientes para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que sejam
dela decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as referentes a alimentação
especial, assistência médica e psicológica, exames complementares, internações,
parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas
indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere
pertinentes.

Parágrafo único. Os alimentos de que trata este artigo referem-se à parte


das despesas que deverá ser custeada pelo futuro pai, considerando-se a
contribuição que também deverá ser dada pela mulher grávida, na proporção dos
recursos de ambos.

Art. 3º (VETADO)

Art. 4º (VETADO)

Art. 5º (VETADO)

Art. 6o Convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz fixará


alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as
necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré.

Parágrafo único. Após o nascimento com vida, os alimentos gravídicos ficam


convertidos em pensão alimentícia em favor do menor até que uma das partes
solicite a sua revisão.

Art. 7o O réu será citado para apresentar resposta em 5 (cinco) dias.

Art. 8º (VETADO)
8

Art. 9º (VETADO)

Art. 10º (VETADO)

Art. 11. Aplicam-se supletivamente nos processos regulados por esta Lei as
disposições das Leis nos 5.478, de 25 de julho de 1968, e 5.869, de 11 de janeiro
de 1973 - Código de Processo Civil.

Art. 12. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 5 de novembro de 2008; 187o da Independência e 120o da


República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Tarso Genro
José Antonio Dias Toffoli
Dilma Rousseff

É interessante ler também a mensagem de veto8:

MENSAGEM Nº 853, DE 5 DE NOVEMBRO DE 2008.

Senhor Presidente do Senado Federal,

Comunico a Vossa Excelência que, nos termos do § 1o do art. 66 da


Constituição, decidi vetar parcialmente, por contrariedade ao interesse público e
inconstitucionalidade, o Projeto de Lei no 7.376, de 2006 (no 62/04 no Senado
Federal), que “Disciplina o direito a alimentos gravídicos e a forma como ele será
exercido e dá outras providências”.

8
Disponível no: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Msg/VEP-853-
08.htm, acessado em 20 de Janeiro de 2009.
9

Ouvidos, o Ministério da Justiça, a Advocacia-Geral da União e a Secretaria


Especial de Políticas para as Mulheres manifestaram-se pelo veto aos seguintes
dispositivos:

Art. 3o

“Art. 3o Aplica-se, para a aferição do foro competente para o processamento


e julgamento das ações de que trata esta Lei, o art. 94 da Lei no 5.869, de 11
de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.”

Razões do veto

“O dispositivo está dissociado da sistemática prevista no Código de Processo


Civil, que estabelece como foro competente para a propositura da ação de
alimentos o do domicílio do alimentando. O artigo em questão desconsiderou a
especial condição da gestante e atribuiu a ela o ônus de ajuizar a ação de
alimentos gravídicos na sede do domicílio do réu, que nenhuma condição
especial vivencia, o que contraria diversos diplomas normativos que dispõem
sobre a fixação da competência.”

Art. 5o

“Art. 5o Recebida a petição inicial, o juiz designará audiência de justificação


onde ouvirá a parte autora e apreciará as provas da paternidade em cognição
sumária, podendo tomar depoimento da parte ré e de testemunhas e requisitar
documentos.”

Razões do veto

“O art. 5o ao estabelecer o procedimento a ser adotado, determina que será


obrigatória a designação de audiência de justificação, procedimento que não é
obrigatório para nenhuma outra ação de alimentos e que causará retardamento,
por vezes, desnecessário para o processo.”
10

Ouvidos, o Ministério da Justiça e a Advocacia-Geral da União manifestaram-


se ainda pelo veto aos seguintes dispositivos:

Art. 8o

“Art. 8o Havendo oposição à paternidade, a procedência do pedido do autor


dependerá da realização de exame pericial pertinente.”

Razões do veto

“O dispositivo condiciona a sentença de procedência à realização de exame


pericial, medida que destoa da sistemática processual atualmente existente,
onde a perícia não é colocada como condição para a procedência da demanda,
mas sim como elemento prova necessário sempre que ausente outros elementos
comprobatórios da situação jurídica objeto da controvérsia.”

Art. 10

“Art. 10. Em caso de resultado negativo do exame pericial de paternidade, o


autor responderá, objetivamente, pelos danos materiais e morais causados ao
réu.

Parágrafo único. A indenização será liquidada nos próprios autos.”

Razões do veto

“Trata-se de norma intimidadora, pois cria hipótese de responsabilidade


objetiva pelo simples fato de se ingressar em juízo e não obter êxito. O
dispositivo pressupõe que o simples exercício do direito de ação pode causar
dano a terceiros, impondo ao autor o dever de indenizar, independentemente da
existência de culpa, medida que atenta contra o livre exercício do direito de
ação.”
11

Ouvidos, o Ministério da Justiça e a Secretaria Especial de Políticas para as


Mulheres manifestaram-se ainda pelo veto ao seguinte dispositivo:

Art. 9o

“Art. 9o Os alimentos serão devidos desde a data da citação do réu.”

Razões do veto

“O art. 9o prevê que os alimentos serão devidos desde a data da citação do


réu. Ocorre que a prática judiciária revela que o ato citatório nem sempre pode
ser realizado com a velocidade que se espera e nem mesmo com a urgência que
o pedido de alimentos requer. Determinar que os alimentos gravídicos sejam
devidos a partir da citação do réu é condená-lo, desde já, à não-existência, uma
vez que a demora pode ser causada pelo próprio réu, por meio de manobras que
visam impedir o ato citatório. Dessa forma, o auxílio financeiro devido à
gestante teria início no final da gravidez, ou até mesmo após o nascimento da
criança, o que tornaria o dispositivo carente de efetividade.”

Por fim, o Ministério da Justiça manifestou-se pelo veto ao seguinte


dispositivo:

Art. 4o

“Art. 4o Na petição inicial, necessariamente instruída com laudo médico que


ateste a gravidez e sua viabilidade, a parte autora indicará as circunstâncias em
que a concepção ocorreu e as provas de que dispõe para provar o alegado,
apontando, ainda, o suposto pai, sua qualificação e quanto ganha
aproximadamente ou os recursos de que dispõe, e exporá suas necessidades.”

Razões do veto
12

“O dispositivo determina que a autora terá, obrigatoriamente, que juntar à


petição inicial laudo sobre a viabilidade da gravidez. No entanto, a gestante,
independentemente da sua gravidez ser viável ou não, necessita de cuidados
especiais, o que enseja dispêndio financeiro. O próprio art. 2o do Projeto de Lei
dispõe sobre o que compreende os alimentos gravídicos: „valores suficientes
para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela
decorrentes, da concepção ao parto, inclusive referente à alimentação especial,
assistência médica e psicológica, exames complementares, internações, parto e
demais prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis (...)‟. Esses gastos
ocorrerão de qualquer forma, não sendo adequado que a gestante arque com
sua totalidade, motivo pelo qual é medida justa que haja compartilhamento
dessas despesas com aquele que viria a ser o pai da criança.”

Essas, Senhor Presidente, as razões que me levaram a vetar os dispositivos


acima mencionados do projeto em causa, as quais ora submeto à elevada
apreciação dos Senhores Membros do Congresso Nacional.

Este texto não substitui o publicado no DOU de 6.11.2008

Posto isso, observamos ainda que até mesmo direito à reparação por dano
moral em favor do nascituro já foi admitido pelo Superior Tribunal de Justiça:

RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DO TRABALHO. MORTE. INDENIZAÇÃO


POR DANO MORAL. FILHO NASCITURO. FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO.
DIES A QUO. CORREÇÃO MONETÁRIA. DATA DA FIXAÇÃO PELO JUIZ. JUROS DE
MORA.
DATA DO EVENTO DANOSO.
PROCESSO CIVIL. JUNTADA DE DOCUMENTO NA FASE RECURSAL.
POSSIBILIDADE, DESDE QUE NÃO CONFIGURDA A MÁ-FÉ DA PARTE E
OPORTUNIZADO O CONTRADITÓRIO. ANULAÇÃO DO PROCESSO. INEXISTÊNCIA
DE DANO. DESNECESSIDADE.
13

- Impossível admitir-se a redução do valor fixado a título de compensação por


danos morais em relação ao nascituro, em comparação com outros filhos do de
cujus, já nascidos na ocasião do evento morte, porquanto o fundamento da
compensação é a existência de um sofrimento impossível de ser quantificado com
precisão.
- Embora sejam muitos os fatores a considerar para a fixação da satisfação
compensatória por danos morais, é principalmente com base na gravidade da lesão
que o juiz fixa o valor da reparação.
- É devida correção monetária sobre o valor da indenização por dano moral fixado
a partir da data do arbitramento. Precedentes.
- Os juros moratórios, em se tratando de acidente de trabalho, estão sujeitos ao
regime da responsabilidade extracontratual, aplicando-se, portanto, a Súmula nº
54 da Corte, contabilizando-os a partir da data do evento danoso. Precedentes - É
possível a apresentação de provas documentais na apelação, desde que não fique
configurada a má-fé da parte e seja observado o contraditório. Precedentes.
- A sistemática do processo civil é regida pelo princípio da instrumentalidade das
formas, devendo ser reputados válidos os atos que cumpram a sua finalidade
essencial, sem que acarretem prejuízos aos litigantes.
Recurso especial dos autores parcialmente conhecido e, nesta parte, provido.
Recurso especial da ré não conhecido.
(REsp 931556/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
17/06/2008, DJe 05/08/2008)

Em posição anterior, decidiu a Corte:

“DIREITO CIVIL. DANOS MORAIS. MORTE. ATROPELAMENTO. COMPOSIÇÃO


FÉRREA. AÇÃO AJUIZADA 23 ANOS APÓS O EVENTO. PRESCRIÇÃO INEXISTENTE.
INFLUÊNCIA NA QUANTIFICAÇÃO DO QUANTUM. PRECEDENTES DA TURMA.
NASCITURO. DIREITO AOS DANOS MORAIS. DOUTRINA. ATENUAÇÃO. FIXAÇÃO
NESTA INSTÂNCIA. POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I - Nos
14

termos da orientação da Turma, o direito à indenização por dano moral não


desaparece com o decurso de tempo (desde que não transcorrido o lapso
prescricional), mas é fato a ser considerado na fixação do quantum. II - O
nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai, mas a
circunstância de não tê-lo conhecido em vida tem influência na fixação do
quantum.
III - Recomenda-se que o valor do dano moral seja fixado desde logo, inclusive
nesta instância, buscando dar solução definitiva ao caso e evitando inconvenientes
e retardamento da solução jurisdicional.” (STJ, QUARTA TURMA, RESP 399028 / SP
; RECURSO ESPECIAL 2001/0147319-0, Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO
TEIXEIRA, Julg. 26/02/2002, DJ 15.04.2002 p.00232)

Questões de concurso: Existe proteção jurídica ao natimorto?


Segundo a doutrina, existe, sim.

Em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, deve-se proteger o

nome, a imagem e a memória daquele que nasceu morto9.

O que é “concepturo”?

Trata-se daquele ente que ainda não foi nem concebido (ex.: o futuro

filho de fulano...). Fala-se, aqui, em “prole eventual” (no Direito Sucessório, ver o

art. 1799, I).

9
Enunciado 01 (Jornadas de Direito Civil – CJF): “Art. 2º. A proteção que o Código defere
ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como
nome, imagem e sepultura.” As Jornadas de Direito Civil são importantes postulados de
doutrina, fruto de encontros de juristas, realizados em Brasília. Você pode encontrar os
enunciados das I, III e IV Jornadas (eis que na II não houve apresentação dessa ordem)
no site www.pablostolze.com.br (fonte: Conselho da Justiça Federal).
15

2. Capacidade de Direito e de Fato e Legitimidade.

Adquirida a personalidade jurídica, toda pessoa passa a ser capaz de direitos e


obrigações.
Possui, portanto, capacidade de direito ou de gozo.
Todo ser humano tem, assim, capacidade de direito, pelo fato de que a
personalidade jurídica é um atributo inerente à sua condição.
Se puder atuar pessoalmente, possui, também, capacidade de fato ou de exercício.
Reunidos os dois atributos, fala-se em capacidade civil plena:

CAP. DE DIREITO + CAP. DE FATO  CAPACIDADE CIVIL PLENA

A falta de capacidade de fato ou de exercício, conduz-nos ao problema da


incapacidade.

Questão de Concurso: O que é a “restitutio in integrum”, em Teoria Geral


(no âmbito dos atos praticados por menores)?

Segundo Clóvis Beviláqua, em sua obra “Theoria Geral do Direito Civil” (RED,
1999, págs. 120-123), este instituto tem origem romana, consistindo “no benefício
concedido aos menores e às pessoas que se lhes equiparam, a fim de poderem
anular quaisquer atos válidos sob outros pontos de vista, nos quais tenham sido
lesadas” (pág. 121).
Concedida a restituição, as partes retornam ao estado anterior de coisas.
O Código de 1916, em seu art. 8º acabava com este benefício.
16

O novo Código Civil, na mesma linha, não tem dispositivo algum beneficiando
especificamente menores ou incapazes, razão por que entendemos continuar
extinto o instituto.
Afastada esta hipótese, previu o novo estatuto, outrossim, especial situação de
invalidade do negócio jurídico, para salvaguardar interesse do incapaz, quando o
seu representante praticar ato atentatório ao seu interesse:

Art. 119. É anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de


interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de
quem com aquele tratou.

Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da


cessação da incapacidade, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação
prevista neste artigo.

Questão de Concurso: O que se entende por “estado das pessoas”?

Segundo Orlando Gomes (in Introdução ao Direito Civil, 10. ed, 2. tiragem, Rio de
Janeiro: Forense, 1993, pág. 172), “A noção de status coliga-se à de capacidade.
O status é uma qualidade jurídica decorrente da inserção de um sujeito numa
categoria social, da qual derivam, para este, direitos e deveres”.
Nessa linha de pensamento, é possível se identificar estados político (nacionais e
estrangeiros), familiar (cônjuge, por exemplo), individual (idade, sexo, saúde).

2.1. Incapacidade absoluta.

O Código Civil de 1916, em seu art. 5O, reputava absolutamente incapazes


de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
17

a) os menores de 16 (dezesseis) anos;


b) os loucos de todo o gênero;
c) os surdos-mudos, que não puderem exprimir a sua vontade;
d) os ausentes, declarados tais por ato do juiz.

Seguindo a diretriz mais moderna e adequada do Novo Código Civil, as seguintes


pessoas são consideradas absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os
atos da vida civil:

2.1.1. Os menores de dezesseis anos.

Trata-se dos menores impúberes.


Abaixo deste limite etário, o legislador considera que a pessoa é inteiramente
imatura para atuar na órbita do direito.
Vale lembrar que, no Estatuto da Criança e do Adolescente, a distinção é peculiar:

“Art. 2º, ECA - Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze
anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade.

Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este


Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade”.

Observe-se, todavia, que tanto a criança quanto o adolescente são considerados


incapazes (absoluta ou relativamente incapazes, conforme veremos no item
2.2.1.).
18

2.1.2. Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o


necessário discernimento para a prática desses atos.

As pessoas que padeçam de doença ou deficiência mental, que as torne incapazes


de praticar atos no comércio jurídico, são consideradas absolutamente incapazes.
O Novo Código Civil afastou a expressão “loucos de todo o gênero”, duramente
criticada por Nina Rodrigues na época da elaboração do Código Civil de 1916.
A incapacidade deve ser oficialmente reconhecida por meio do procedimento de
interdição, previsto nos arts. 1177 a 1186 do CPC.
A doutrina admite, ainda, uma incapacidade natural, quando a enfermidade ou
deficiência não se encontra judicialmente declarada. Nesse caso, admite-se a
invalidação do ato praticado pelo incapaz não oficialmente interditado, se ficarem
demonstrados: o prejuízo ao incapaz e a má-fé da outra parte. É bom lembrar
ainda que, declarada judicialmente a incapacidade, não devem ser considerados
válidos os atos praticados pelo incapaz mesmo nos intervalos de perfeita lucidez.

2.1.3. Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir a sua
vontade.

São considerados absolutamente incapazes aqueles que, em razão de uma causa


temporária (ou permanente, claro) estejam impedidas de manifestar vontade.
É o caso da pessoa vítima de uma intoxicação fortuita, ou em estado de coma, em
virtude de acidente de veículo.

Questão de concurso: E como fica a situação do surdo-mudo incapaz de


manifestar vontade?

Não estando previsto em inciso autônomo, como ocorria no Código revogado,


ainda assim, ele poderá ser considerado absolutamente incapaz, caso se enquadre
em qualquer das hipóteses do art. 3°, especialmente a do inc. III.
19

Questão de concurso: a senilidade é causa de incapacidade?


Não.

A senilidade, entendida nesse contexto como a idade muito avançada, não gera
incapacidade civil.
Diferentemente, outrossim, é a situação da pessoa de idade avançada que também
apresente problema de saúde mental apto a justificar a sua interdição.

2.2. Incapacidade relativa.

O Código de 1916, em seu art. 6O, considerava incapazes, relativamente a certos


atos ou à maneira de os exercer:

a) os maiores de 16 (dezesseis) e menores de 21 (vinte e um) anos;


b) os pródigos;
c) os silvícolas.

Consoante a diretriz do Novo Código Civil, são incapazes, relativamente a certos


atos, ou à maneira de os exercer :

2.2.1. Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

Trata-se dos menores púberes.

2.2.2. Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental,


tenham o discernimento reduzido.

Muito cuidado com este dispositivo.


20

A embriaguez, o vício de tóxico e a deficiência, consideradas como causas de


incapacidade relativa, neste caso, REDUZEM, mas não ANIQUILAM a capacidade de
discernimento.
Se privarem totalmente o agente de capacidade de consciência e orientação, como
na embriaguez patológica ou toxicomania grave (dependência química total)
configurar-se-á incapacidade absoluta, na forma do art. 3°, II.

2.2.3. Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo.

São consideradas relativamente incapazes as pessoas dotadas de desenvolvimento


mental incompleto, como os portadores da síndrome de Down (pessoas especiais
que, com muito amor e carinho em sua educação, merecem todo o nosso respeito,
e podem perfeitamente atuar social e profissionalmente).

2.2.4. Os pródigos.

A prodigalidade é um desvio comportamental por meio do qual o indivíduo


desordenadamente dilapida o seu patrimônio, podendo reduzir-se à miséria.
Para a sua própria proteção (e para evitar que bata às portas de um parente ou do
Estado), o pródigo poderá ser interditado. Segundo a legislação em vigor, a
curatela do pródigo somente o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar
quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral,
atos que não sejam de mera administração (art. 1782, CC-02).

Questão de Concurso: Para casar, o curador do pródigo deve ser ouvido?

Como o casamento deflagra também efeitos patrimoniais, o seu curador deve


manifestar-se, não para interferir na escolha afetiva, mas para opinar acerca do
regime de bens escolhido.
21

2.2.5. Algumas palavras sobre a capacidade jurídica dos silvícolas.

A disciplina normativa do índio (evite falar silvícola), que no Código de 1916


mereceu assento entre os relativamente incapazes, passou a ser remetida à
legislação especial (art. 4º, parágrafo único, CC-02), que disciplina
autonomamente a matéria (cf. especialmente a Lei n. 5371 de 05 de dezembro de
1967, e a Lei n. 6001 de 19 de dezembro de 1973 - Estatuto do Índio).
Confira o que dispõe o art. 8º do Estatuto do Índio10:
Art. 8º São nulos os atos praticados entre o índio não integrado e qualquer pessoa
estranha à comunidade indígena quando não tenha havido assistência do órgão
tutelar competente. Parágrafo único. Não se aplica a regra deste artigo no caso em
que o índio revele consciência e conhecimento do ato praticado, desde que não lhe
seja prejudicial, e da extensão dos seus efeitos.

2.3. Suprimento da Incapacidade (Representação e Assistência).

O suprimento da incapacidade absoluta dá-se através da representação, e o da


incapacidade relativa, por meio da assistência. Cuida-se de institutos protetivos
dos incapazes.

3. Emancipação
A menoridade, à luz do Novo Código Civil, cessa aos 18 (dezoito) anos completos,
quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil (art.5º)11.
Vale lembrar que esta redução aos 18 anos reverberou (não necessariamente para
impor modificação na legislação especial) nos âmbitos penal, processual,
previdenciário, e, especialmente, no direito de família, no que tange ao pagamento
de pensão alimentícia.

10
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6001.htm, acessado em 20 de julho de 2008.
11
No CC-16, art. 9.: “Aos vinte e um anos completos acaba a menoridade, ficando
habilitado o indivíduo para todos os atos da vida civil”.
22

O STJ, aliás, já firmou entendimento no sentido de que a redução da maioridade


civil não implica cancelamento automático da pensão alimentícia:

PENSÃO ALIMENTÍCIA. MAIORIDADE. FILHO.

Trata-se de remessa pela Terceira Turma de recurso em ação revisional de


alimentos em que a controvérsia cinge-se em saber se, atingida a maioridade,
cessa automaticamente ou não o dever de alimentar do pai em relação ao filho.
Prosseguindo o julgamento, a Seção, por maioria, proveu o recurso, entendendo
que, com a maioridade do filho, a pensão alimentícia não pode cessar
automaticamente. O pai terá de fazer o procedimento judicial para exonerar-se ou
não da obrigação de dar pensão ao filho. Explicitou-se que completar a maioridade
de 18 anos não significa que o filho não irá depender do pai. Precedentes citados:
REsp 347.010-SP, DJ 10/2/2003, e REsp 306.791-SP, DJ 26/8/2002. REsp
442.502-SP, Rel. originário Min. Castro Filho, Rel. para acórdão Min. Antônio de
Pádua Ribeiro, julgado em 6/12/2004

E mais: ALIMENTOS. MAIORIDADE DO ALIMENTANDO. EXONERAÇÃO AUTOMÁTICA


DA PENSÃO. INADMISSIBILIDADE.

– Com a maioridade, extingue-se o poder familiar, mas não cessa, desde logo,
o dever de prestar alimentos, fundado a partir de então no parentesco.

– É vedada a exoneração automática do alimentante, sem possibilitar ao


alimentando a oportunidade de manifestar-se e comprovar, se for o caso, a
impossibilidade de prover a própria subsistência.

Precedentes do STJ.

Recurso especial não conhecido.

(REsp 739.004/DF, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado


em 15.09.2005, DJ 24.10.2005 p. 346)
23

Na mesma vereda:

HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. ALIMENTOS. A jurisprudência do Superior


Tribunal de Justiça consolidou-se no sentido de que a maioridade dos filhos não
acarreta a exoneração automática da obrigação de prestar alimentos. Ordem
denegada.
(HC 55.065/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em
10.10.2006, DJ 27.11.2006 p. 271)

Habeas corpus. Prisão civil. Execução de alimentos. Precedentes da Corte.


1. O habeas corpus, na linha da jurisprudência da Corte, não constitui via
adequada para o exame aprofundado de provas indispensáveis à verificação da
capacidade financeira do paciente para pagar os alimentos no montante fixado.
2. A maioridade do credor dos alimentos não exonera, por si só, a obrigação do
devedor.
3. A propositura de ação revisional de alimentos não impede a prisão civil do
devedor de alimentos.
4. "O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que
compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se
vencerem no curso do processo" (Súmula nº 309/STJ - atual redação aprovada em
22/3/06 pela Segunda Seção).
5. Ordem concedida em parte.
(HC 55.606/SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA
TURMA, julgado em 05.09.2006, DJ 13.11.2006 p. 240)

Firmado o entendimento de que o cancelamento da pensão não é automático, o


próprio STJ, em 2005, passou a admitir que a exoneração pudesse se dar no bojo
de outros processos de família, não exigindo necessariamente propositura de ação
exoneratória:
24

STJ - quarta-feira, 13 de abril de 2005


09:37 - Pai não precisa entrar com novo processo para deixar de pagar pensão a
filha maior

Decisão unânime tomada com base em voto da ministra Nancy Andrighi,


presidente da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, definiu que, para
deixar de pagar pensão alimentícia, o pai não necessita entrar com uma ação
autônoma própria. Pode fazer o pedido nesse sentido até mesmo dentro do
processo de investigação de paternidade cumulada com alimentos movida contra
ele pela filha maior.

A decisão do STJ foi tomada durante o julgamento de um recurso especial


oriundo de Minas Gerais em que o contador S. B., de Belo Horizonte, foi
condenado a pagar três salários mínimos de pensão à sua filha maior, T. C. da
C., universitária de 24 anos. Julgada procedente pelo Tribunal de Justiça do
Estado a ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos, o pai
efetuou o pagamento das prestações alimentícias, mas requereu a exoneração do
pagamento em razão de a filha já haver atingido a maioridade, estando,
portanto, extinto o pátrio poder.

O pedido do pai foi negado em razão de o TJ/MG haver entendido que, para
exonerar-se do dever de pagar a pensão alimentícia à sua filha maior, o pai teria
que entrar com uma ação própria, autônoma, em que fosse permitida a ambas
as partes a produção de ampla prova. O pai alega que o dever de prestar
alimentos que lhe foi imposto tem por único fundamento o fato de sua filha ser
menor de idade à época da decisão judicial que lhe reconheceu o direito,
condição que se alterou, pois hoje, já com 24 anos, atingida a maioridade, não
mais faz jus aos alimentos.

Ao acolher em parte o recurso do pai, a relatora do processo, ministra Nancy


25

Andrighi, afastou o impedimento encontrado pelo tribunal mineiro. Para a


ministra, cujo voto foi acompanhado integralmente pelos ministros Antônio de
Pádua Ribeiro, Carlos Alberto Menezes Direito e Castro Filho, o pai tem o direito
de requerer a exoneração do dever de prestar alimentos em qualquer ação,
podendo fazê-lo, inclusive, como no caso, no processo de investigação de
paternidade cumulada com alimentos, que lhe foi movido pela filha maior.

Viriato Gaspar

Mais recentemente, frise-se, a Súmula 358 afastou quaisquer dúvidas quanto à


necessidade de se demonstrar a ausência de fundamento para a prestação
alimentar que, como visto, não desaparece pelo simples fato de se atingir a
maioridade:

Súmula: 358
O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a
maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório,
ainda que nos próprios autos.

E especialmente para os alunos que almejam a carreira do Ministério Público,


confiram estes julgados:

RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIMENTOS. MAIORIDADE DO


ALIMENTANDO. MINISTÉRIO PÚBLICO. ILEGITIMIDADE PARA RECORRER.
O Ministério Público não detém legitimidade para recorrer contra decisão em
que se discute alimentos quando o alimentando houver alcançado a maioridade.
Recurso especial não conhecido.
(REsp 712.175/DF, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado
em 18.10.2005, DJ 08.05.2006 p. 222)
26

RECURSO ESPECIAL. EXONERAÇÃO AUTOMÁTICA. ALIMENTOS. MAIORIDADE DO


ALIMENTANDO. ILEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA RECORRER.
1. Carece ao Ministério Público legitimidade para recorrer contra decisão que
extingue o dever de prestar alimentos em razão do alimentando ter alcançado a
maioridade, mormente se este tem advogado constituído nos autos.
2. Recurso especial não conhecido.
(REsp 982.410/DF, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA,
julgado em 06.12.2007, DJ 17.12.2007 p. 217)

CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ALIMENTOS. AUTORIA.


MINISTÉRIO PÚBLICO. MENOR. PÁTRIO PODER DA GENITORA CONFIGURADO.
ILEGITIMIDADE ATIVA. LEI N. 8.069/1990, ART. 201, III. I. Resguardado o pátrio
poder da genitora, não se reconhece legitimidade ativa ao Ministério Público para a
propositura de ação de alimentos. Precedentes. II. Recurso especial conhecido,
mas desprovido. (REsp 1072381/MG, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR,
QUARTA TURMA, julgado em 24/03/2009, DJe 11/05/2009)

Direito civil e processual civil. Família. Recurso especial. Ação revisional de


alimentos. Homologação de acordo em sentença sem manifestação prévia do
Ministério Público. Prejuízo da criança evidenciado. Anulação dos atos processuais.
- Legitimado que é, o Ministério Público, para velar pelo interesse do incapaz, e
considerado o notório prejuízo à alimentada com a redução dos alimentos, no
acordo homologado em Juízo, sem a presença e tampouco a manifestação prévia
do fiscal da lei, deve ser anulado o processo, a partir da audiência em que
prolatada a sentença homologatória de acordo, prosseguindo-se nos moldes do
devido processo legal. - Para além da circunstância provocada pelo desemprego na
vida propriamente dita daquele que presta os alimentos, propagam-se os reflexos
incidentes diretamente sobre aquele que os recebe, ante a utilização em larga
escala do emprego informal no mercado de trabalho; a denominada relação sem
vínculo empregatício repercute diretamente na forma de comprovação da renda do
27

alimentante, que poderá, de diversas maneiras, esgueirar-se pelas beiradas da


informalidade para eximir-se da obrigação alimentar, sob alegação de desemprego.
Recurso especial provido, para anulação do processo, a partir da audiência em que
homologado o acordo por sentença que reduziu os alimentos, considerado o
princípio do melhor interesse da criança. (REsp 1058689/RJ, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/05/2009, DJe 25/05/2009)

A título de complementação, na seara do Direito da Criança e do Adolescente, há


também decisão do E. STJ no sentido de que a redução da maioridade não
interferiu no ECA, no que tange à medida de internação imposta ao adolescente
infrator:

HABEAS CORPUS. ECA. INTERNAÇÃO. LIBERAÇÃO COMPULSÓRIA. IDADE LIMITE,


21 ANOS. NOVO CÓDIGO CIVIL. REDUÇÃO DA IDADE DA CAPACIDADE CIVIL.
DESINFLUÊNCIA NA MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
RESTRIÇÃO. ATIVIDADES EXTERNAS. INOCORRÊNCIA.
1. O Novo Código Civil, ao reduzir a idade da capacidade civil, não revogou o
artigo 121, parágrafo 5º, do Estatuto da Criança e do Adolescente, que fixa
a idade de 21 anos para a liberação compulsória do infrator.
2. Ajustada a execução da medida sócio-educativa de internação ao artigo 121,
parágrafo 5º, da Lei n° 8.069/90, não há falar em constrangimento ilegal
(Precedentes da Corte).
3. Conquanto o artigo 120 da Lei 8.069/90 dispense autorização do juiz para a
realização de atividades externas pelo menor sujeito à medida sócio-educativa de
semiliberdade, tal não implica a exoneração do magistrado do seu dever legal de
presidir o bom cumprimento do comando da sentença, adequando a medida sócio-
educativa às peculiaridades do menor e ao próprio ato infracional por ele
perpetrado (Precedentes da Corte).
4. Writ denegado.
28

(HC 28.332/RJ, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em


28.09.2004, DJ 01.02.2005 p. 613)
No âmbito da Previdência Social, a redução da maioridade civil não implicou a
negação do direito de percepção assegurado pela lei previdenciária, por ser norma
especial.

Nessa linha, o Prof. HARILSON ARAÚJO:

“Assim, pela análise dos dispositivos em questão, em matéria de regime


geral de benefícios de previdência do sistema do INSS, os filhos e os irmãos de
qualquer condição que estejam sob a dependência econômica do segurado, salvo
se emancipados, somente perdem a qualidade de beneficiários ao completarem 21
anos de idade”.12

E também o enunciado 3 da I Jornada de Direito Civil:

3 – Art. 5º: a redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18
anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica
situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações
similares de proteção, previstas em legislação especial.

Finalmente, neste ponto, uma pergunta não quer calar.

Seria possível antecipar-se a aquisição da capacidade plena?

A resposta é positiva: é possível, por meio da emancipação.

12
http://www.portalbrasil.net/2004/colunas/direito/abril_01.htm, acessado em 20 de julho
de 2008.
29

Vale lembrar que a emancipação repercute no âmbito do poder familiar, e,


conseqüentemente, pode interferir também na obrigação de prestar alimentos,
como, inclusive, já decidiu o STJ:

Prisão civil. Débito alimentar. Emancipação do alimentando.


I. - A emancipação do alimentando e a declaração deste dando quitação das
verbas alimentares vencidas constitui prova de não haver motivo para manter-se a
prisão civil do paciente.
II. - Ordem de habeas corpus concedida.

(HC 30.384/RS, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA,


julgado em 18.11.2003, DJ 15.12.2003 p. 301

A emancipação poderá ser:

a) voluntária;
b) judicial;
c) legal.

A emancipação voluntária ocorre pela concessão dos pais, ou de um deles na falta


do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação
judicial, desde que o menor haja completado dezesseis anos (art. 5º., parágrafo
único, I, primeira parte, CC-02).
A emancipação é ato irrevogável, mas os pais podem ser responsabilizados
solidariamente pelos danos causados pelo filho que emanciparam. Esse é o
entendimento mais razoável, em nossa opinião, para que a vítima não fique sem
qualquer ressarcimento.
A emancipação judicial é aquela concedida pelo juiz, ouvido o tutor, se o menor
contar com dezesseis anos completos (art. 5º, parágrafo único, I, segunda parte,
CC-02).
30

Posto isso, passaremos a analisar as hipóteses de emancipação legal.

A primeira hipótese é o casamento (art. 5º, parágrafo único, II, CC-02 e art. 9º, §
1º, II, CC-16). Recebendo-se em matrimônio, portanto, antecipam a plena
capacidade jurídica, mesmo que venham a se separar ou a se divorciar depois.

Um dado relevante a ser destacado é que, segundo o Código Civil,


excepcionalmente, será permitida a convolação de núpcias por aquele que ainda
não alcançou a idade mínima legal (art. 1520, CC-02), em caso de gravidez ou
para evitar a imposição ou o cumprimento de pena criminal.

OBS.: Confronte a Lei n. 11.106 de 2005, que revogou o dispositivo do CP


autorizador da extinção da punibilidade pelo casamento, e o art. 1520 do CC. Em
sala de aula, em momento oportuno, faremos esta importante análise, inclusive
em face das suas implicações com o Direito de Família.

Em seguida, prevê a lei como causa de emancipação legal o exercício de emprego


público efetivo (art. 5º, parágrafo único, III, CC-02 e art. 9º, § 1º, III, CC-16),
embora dificilmente a lei admita o provimento efetivo em cargo ou emprego
público antes dos 18 anos.
Também a colação de grau em curso de ensino superior é causa legal de
emancipação (art. 5º, parágrafo único, IV, CC-02 e art. 9º, § 1º, IV, CC-16).
Situação também de difícil ocorrência, para os menores de 18 anos. Você já
imaginou colar grau, em seu curso de Direito, antes dos dezoito anos?
Finalmente, justifica a emancipação o estabelecimento civil ou comercial, ou a
existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com
dezesseis anos completos tenha economia própria (art. 5º, parágrafo único, V, CC-
02 e art. 9º, § 1º, V, CC-16).
31

Interessante é a questão do menor com dezesseis anos completos emancipado por


força de uma relação de emprego. Trata-se de previsão legal inovadora. Nesse
caso, entendemos que, ainda que venha a ser demitido, não retorna à situação de
incapacidade, em respeito ao princípio da segurança jurídica.

4. Extinção da Pessoa Natural.

4.1. Noções Gerais

Termina a existência da pessoa natural com a morte (art. 6º, CC-02, art. 10, CC-
16).
A parada do sistema cardiorrespiratório com a cessação das funções vitais indica o
falecimento do indivíduo. Tal aferição, permeada de dificuldades técnicas, deverá
ser feita por médico, com base em seus conhecimentos clínicos e de tanatologia.
A irreversibilidade da morte encefálica a torna um critério de determinação do
óbito cientificamente mais preciso13.
Mas a matéria reveste-se de alta complexidade.

4.2. Morte Presumida.

O Novo Código Civil admite a morte presumida, quanto aos ausentes, nos
casos em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva (art. 6., CC-02).
Mas a declaração de morte presumida não ocorre apenas em caso de
ausência.
A lei enumera outras hipóteses, em seu art. 7°, I e II:

13
MARIA HELENA DINIZ observa que “a noção comum de morte tem sido a ocorrência de
parada cardíaca prolongada e a ausência de respiração, ou seja, a cessação total e
permanente da funções vitais, mas, para efeito de transplante, tem a lei considerado a
morte encefálica, mesmo que os demais órgãos estejam em pleno funcionamento, ainda
que ativados por drogas” (“O Estado Atual do Biodireito”, São Paulo: Saraiva, 2001, págs.
266-267)..
32

“Art. 7° - Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de


ausência:
I – se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II – se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for
encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único – A declaração de morte presumida, nesses casos, somente
poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo
a sentença fixar a data provável do falecimento”.

Tais hipóteses também deverão ser formuladas em procedimento específico


de justificação, aplicando-se a Lei de Registros Públicos, no que couber.

4.3. Morte Simultânea (Comoriência).

A situação jurídica da comoriência vem prevista no art. 8º do CC-02 (art. 11,


CC-16), nos seguintes termos: “Art. 8. – Se dois ou mais indivíduos
falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos
comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”.

Fique atento: esta regra somente é aplicável, se não se puder precisar os


instantes das mortes.

No caso de não se poder precisar a ordem cronológica das mortes dos


comorientes, a lei firmará a presunção de haverem falecido no mesmo
instante, o que acarreta importantes conseqüências práticas: abrem-se
cadeias sucessórias autônomas e distintas, de maneira que um
comoriente não herda do outro.
Como diz BEVILÁQUA (in Comentários...cit. acima, pág. 207):
33

“Na falta de qualquer elemento de prova, o que a razão diz é que não se
pode afirmar qual das pessoas faleceu primeiro, e, conseqüentemente,
nenhum direito fundado na procedência da morte pode ser transferido de
uma para a outra”.

Finalmente, vale lembrar que as mortes, em tese, podem ocorrer em locais


distintos.
A título meramente ilustrativo (pois ocorrido em outro País), veja este caso
noticiado pelo Portal do Terra:

Casal morre na mesma hora em acidentes diferentes

Dois jovens namorados do noroeste da Itália morreram neste fim de semana em


dois acidentes de trânsito diferentes ocorridos na mesma hora, de acordo com os
meios de comunicação locais.

Mauro Monucci, 29 anos, morreu por volta da meia-noite de sábado quando sua
moto, de alta cilindrada, chocou-se contra um poste em um cruzamento nos
arredores do Palácio dos Esportes de Forli. O jovem morreu quando era levado
numa ambulância ao hospital, segundo a edição digital do jornal La Repubblica.

Praticamente ao mesmo tempo, o carro de sua namorada, Simona Acciai, 27 anos,


saiu da estrada em uma área periférica da cidade e caiu em um fosso. Simona
morreu na hora.

Os telefonemas para os serviços de emergência para alertar sobre os dois


acidentes foram feitos com poucos minutos de diferença, mas as autoridades só
perceberam que as vítimas eram um casal ao verificar em seus documentos que os
dois tinham o mesmo endereço.

Frente ao caso inusitado, a magistratura local ordenou a realização de autópsias


nos dois corpos.
34

EFE Agência Efe - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da
Agência Efe S/A.

http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI984767-EI294,00.html

Imaginem a confusão jurídica que poderia ocorrer se fossem casados, e se o


evento ocorresse no Brasil...

Bibliografia utilizada: Novo Curso de Direito Civil – Parte Geral – vol. 1.


Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, Ed. Saraiva
(www.saraivajur.com.br ou www.editorajuspodivm.com.br).

Plantão de Dúvidas: www.lfg.com.br

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5. Programa de Direito Civil do Intensivo I

1. Parte Geral
1.1. Personalidade Jurídica
1.2. Nascituro
1.3. Pessoa Física (Natural)
1.4. Direitos da Personalidade
1.5. Domicílio
1.6. Pessoa Jurídica
1.7. Teoria do Fato Juridico
1.8. Negócio Jurídico (Planos de Existência, Validade e Eficácia)
1.9. Defeitos do Negócio Jurídico
1.10. Prescrição e Decadência

2. Obrigações
2.1. A Relação Obrigacional na perspectiva do Direito Civil
Constitucional
35

2.2. Classificação Básica e Classificação Especial das


Obrigações (principais tipos)
2.3. Teoria do Pagamento
2.4. Principais Formas Especiais de Pagamento
2.5. Transmissibilidade da Obrigação (Cessão de Débito,
de Crédito e de Contrato)
2.6. Mora
2.7. Cláusula Penal e Arras
2.8. Teoria do Inadimplemento

3. Responsabilidade Civil (Teoria Geral e principais aspectos no


Código Civil Brasileiro à luz da jurisprudência do STJ e do STF)

4. Introdução ao Direito de Família (Casamento e União Estável)

6. Textos Complementares

TEXTO COMPLEMENTAR 01 – AUSÊNCIA

A ausência é, antes de tudo, um estado de fato, em que uma pessoa


desaparece de seu domicílio, sem deixar qualquer notícia. Visando a não
permitir que este patrimônio fique sem titular, o legislador traçou o
procedimento de transmissão desses bens (em virtude da ausência) nos
arts.463 a 484 do CC-16 (correspondente aos arts. 22 a 39 do novo CC),
previsto ainda pelos arts. 1159 a 1169 do vigente Código de Processo Civil
brasileiro. E por se tratar de matéria minuciosamente positivada, sugerimos
ao nosso estimado aluno a leitura atenta das próprias normas legais. O CC-02
reconhece a ausência como uma morte presumida, em seu art.6º, a partir do
momento em que a lei autorizar a abertura de sucessão definitiva, consoante
vimos em sala de aula. Para se chegar a este momento, porém, um longo
caminho deve ser cumprido, como a seguir veremos.

a) Curadoria dos Bens do Ausente.


36

A requerimento de qualquer interessado direto ou mesmo do Ministério Público,


será nomeado curador, que passará a gerir os negócios do ausente até o seu
eventual retorno.
Na mesma situação se enquadrará aquele que, tendo deixado mandatário, este
último se encontre impossibilitado, física ou juridicamente (quando seus
poderes outorgados forem insuficientes), ou simplesmente não tenha interesse
em exercer o múnus. Observe-se que esta nomeação não é discricionária,
estabelecendo a lei uma ordem legal estrita e sucessiva, no caso de
impossibilidade do anterior, a saber:
1) o cônjuge do ausente, se não estiver separado judicialmente, ou
de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência;
2) pais do ausente (destaque-se que a referência é somente aos
genitores, e não aos ascendentes em geral);
3) descendentes do ausente, preferindo os mais próximos aos mais
remotos
4) qualquer pessoa à escolha do magistrado.

b) Sucessão Provisória.

Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou


representante ou procurador, em se passando três anos14, poderão os
interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a
sucessão.
Por cautela, cerca-se o legislador da exigência de garantia da restituição dos
bens, nos quais os herdeiros se imitiram provisoriamente na posse, mediante a
apresentação de penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos,
valendo-se destacar, inclusive, que o § 1º do art. 30 estabelece que aquele
“que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida

14
Esta segunda hipótese se limita à previsão do art. 23 do CC-02: “Também se declarará a
ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira, ou
não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes”
37

neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a
administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que
preste essa garantia”15.
Esta razoável cautela de exigência de garantia é excepcionada, porém, em
relação aos ascendentes, descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua
condição de herdeiros (§ 2º do art.30), o que pode ser explicado pela
particularidade de seu direito, em função dos outros sujeitos legitimados para
requerer a abertura da sucessão provisória16, ao qual se acrescenta o
Ministério Público, por força do § 1º do art.28 do CC-02.
Em todo caso, a provisoriedade da sucessão é evidente na tutela legal, haja vista
que é expressamente determinado, por exemplo, que os “imóveis do ausente só se
poderão alienar não sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o
juiz, para lhes evitar a ruína” (art.31), bem como que “antes da partilha, o juiz,
quando julgar conveniente, ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a
deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela União”
(art.29).
Um aspecto de natureza processual da mais alta significação, na idéia de
preservação, ao máximo, do patrimônio do ausente, é a estipulação, pelo art.28,
do prazo de 180 dias para produção de efeitos da sentença que determinar a
abertura da sucessão provisória, após o que, transitando em julgado, proceder-se-
á à abertura do testamento, caso existente, ou ao inventário e partilha dos bens,
como se o ausente tivesse falecido.

15
Ressalve-se, todavia, que o art. 34 do CC-02 admite que o “excluído, segundo o art. 30,
da posse provisória poderá, justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue metade
dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria”.
16
“Art. 27. Para o efeito previsto no artigo antecedente, somente se consideram
interessados:
I – o cônjuge não separado judicialmente;
II – os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
III – os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;
IV – os credores de obrigações vencidas e não pagas.”
38

Com a posse nos bens do ausente, passam os sucessores provisórios a representar


ativa e passivamente o ausente, o que lhes faz dirigir contra si todas as ações
pendentes e as que de futuro àquele foram movidas.
Na forma do art. 33, os herdeiros empossados, se descendentes, ascendentes ou
cônjuges terão direito subjetivo a todos os frutos e rendimentos dos bens que lhe
couberem, o que não acontecerá com os demais sucessores, que deverão,
necessariamente, capitalizar metade destes bens acessórios, com prestação anual
de contas ao juiz competente.
Se, durante esta posse provisória, porém, se prova o efetivo falecimento do
ausente, converter-se-á a sucessão em definitiva, considerando-se a mesma
aberta, na data comprovada, em favor dos herdeiros que o eram àquele tempo.
Isto, inclusive, pode gerar algumas modificações na situação dos herdeiros
provisórios, uma vez que não se pode descartar a hipótese de haver herdeiros
sobreviventes na época efetiva do falecimento do desaparecido, mas que não mais
estavam vivos quando do processo de sucessão provisória.

c) Sucessão Definitiva.

Por mais que se queira preservar o patrimônio do ausente, o certo é que a


existência de um longo lapso temporal, sem qualquer sinal de vida, reforça as
fundadas suspeitas de seu falecimento.
Por isto, presumindo efetivamente o seu falecimento, estabelece a lei o
momento próprio e os efeitos da sucessão definitiva.
De fato, dez anos após o trânsito em julgado da sentença de abertura de
sucessão provisória, converter-se-á a mesma em definitiva – o que, obviamente,
dependerá de provocação da manifestação judicial para a retirada dos gravames
impostos – podendo os interessados requerer o levantamento das cauções
prestadas.
Esta plausibilidade maior do falecimento presumido é reforçado, em função
da expectativa média de vida do homem, admitindo o art. 38 a possibilidade de
39

requerimento da sucessão definitiva, “provando-se que o ausente conta oitenta


anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele”.

d) Retorno do Ausente

Admite a lei a possibilidade de ausente retornar.


Se este aparece na fase de arrecadação de bens, não há qualquer prejuízo
ao seu patrimônio, continuando ele a gozar plenamente de todos os seus bens.
Se já tiver sido aberta a sucessão provisória, a prova de que a ausência foi
voluntária e injustificada, faz com que o ausente perca, em favor do sucessor
provisório, sua parte nos frutos e rendimento (art.33, parágrafo único). Em função,
porém, da provisoriedade da sucessão, o seu reaparecimento, faz cessar
imediatamente todas as vantagens dos sucessores imitidos na posse, que ficam
obrigados a tomar medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu
titular (art.36)
Se a sucessão, todavia, já for definitiva, terá o ausente o direito aos seus
bens, se ainda incólumes, não respondendo os sucessores havidos pela sua
integridade, conforme se verifica no art. 39, nos seguintes termos:

“Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura


da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou
ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no
estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o
preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido
pelos bens alienados depois daquele tempo.
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o
ausente não regressar, e nenhum interessado promover a sucessão
definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município
ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições,
40

incorporando-se ao domínio da União, quando situados em


território federal.”

OBS. Olhe que interessante:

Situação interessante diz respeito ao efeito dissolutório do casamento,


decorrente da ausência, admitido pelo novo Código Civil, em seu art. 1571 § 1o :

§ 1o O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges


ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao
ausente.

Fonte: Novo Curso de Direito Civil, Parte Geral, vol. I– Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Folho (Ed.
Saraiva).

TEXTO COMPLEMENTAR 02 – VISÃO DO CÓDIGO CIVIL

Outro texto que recomendamos é o do Prof. Miguel Reale, disponível no site do


Jus Navigandi (http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2718), intitulado
“Visão do Código Civil”, em que se estudam os princípios básicos do Código Civil de
2002: eticidade, operabilidade, socialidade.

Vale a pena conferir!

TEXTO COMPLEMENTAR 03 – MORTE PRESUMIDA

Finalmente, segue texto gentilmente cedido pelo brilhante jurista e querido amigo
Prof. Inácio de Carvalho Neto:
41

A MORTE PRESUMIDA COMO CAUSA DE DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO17

Inácio de Carvalho Neto*

O novo Código Civil, no art. 1.571, § 1º., passou a admitir a presunção de morte
como causa de dissolução do casamento18. Contraria, assim, o que dispunha o art.
315, parágrafo único, do Código de 1916, que expressamente excluía a morte
presumida como causa de dissolução do matrimônio. Ou seja, por mais duradoura
que fosse a ausência, não tinha ela o condão de dissolver o casamento19. Com a
revogação deste dispositivo pelo art. 54 da Lei do Divórcio, e não tratando esta

17
Texto que nos foi gentilmente cedido por este grande amigo e brilhante professor de
Direito Civil.
*
Especialista em Direito Penal e Processual Penal pela Unipar. Mestre em Direito Civil pela
Universidade Estadual de Maringá – UEM. Doutorando em Direito Civil pela Universidade de
São Paulo – USP. Professor de Direito Civil da Unifil, da Faccar, da Escola do Ministério
Público e da Escola da Magistratura do Paraná. Promotor de Justiça no Paraná. Autor dos
livros Separação e divórcio: teoria e prática, ed. Juruá, 5ª. edição; Aplicação da
pena, ed. Forense, 2ª. edição; Responsabilidade do Estado por atos de seus
agentes, ed. Atlas; Ação declaratória de constitucionalidade, ed. Juruá, 2ª. edição;
Abuso do direito, ed. Juruá, 3ª. edição; Extinção indireta das obrigações, ed. Juruá,
2ª. edição; Novo Código Civil comparado e comentado, ed. Juruá, em 7 volumes
(alguns em 2ª. edição); Responsabilidade civil no direito de família, ed. Juruá; e de
diversos artigos publicados em diversas revistas jurídicas. E-mail do autor:
inaciocarvalho@onda.com.br.
18
“§ 1º. O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo
divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente”.
Igualmente dispõe o Código Civil argentino, com a redação da Lei nº. 23.515/87, com a
diferença de que a dissolução só ocorre com o novo casamento: “Art. 213 - El vínculo
matrimonial se disuelve: 1) por la muerte de uno de los esposos; 2) por el matrimonio que
contrajere el cónyuge del declarado ausente com presunción de fallecimiento; 3) por
sentencia de divorcio vincular”). Da mesma forma o Código Civil italiano: “65. Nuovo
matrimonio del coniuge. – Divenuta eseguibile la sentenza che dichiara la morte presunta,
il coniuge può contrarre nuovo matrimonio”. Igualmente dispunha o art. 59 do Projeto de
Orlando Gomes.
19
Observe-se o quanto perniciosa era a regra: imagine-se a hipótese de pessoa recém-
casada, ainda nova, desaparecendo em seguida seu cônjuge. Ficaria essa pessoa para o
resto da vida impossibilitada de se casar novamente, tendo em vista a impossibilidade do
divórcio à época.
42

expressamente do tema, entenderam alguns autores ser possível a dissolução do


matrimônio pela morte presumida20.

Não obstante, entendemos que a morte presumida não tinha este condão. Posto
que não repetida expressamente a proibição do dispositivo revogado do Código
Civil, não se podia requerer a declaração de dissolução do vínculo matrimonial por
morte presumida de um dos cônjuges, já que o instituto da morte presumida se
referia exclusivamente à sucessão dos bens deixados pelo ausente21. Necessário se
fazia, portanto, que o cônjuge promovesse o divórcio, o que lhe seria, inclusive,
mais fácil, já que o divórcio direto depende apenas de dois anos de separação de
fato, ao passo que, para a configuração da morte presumida, ordinariamente, se

20
“Ainda que se efetuasse a sucessão definitiva, com a presunção de morte, não se
considerava dissolvido o casamento, de sorte que o cônjuge presente não podia contrair
novo casamento. Agora, porém, não há mais óbice” (PACHECO, José da Silva.
Inventários e partilhas. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 67) (grifo nosso). “Se
a lei admitiu, para efeitos patrimoniais, uma presunção de morte do ausente há mais de
vinte anos ou que completou 95 anos de idade, não se vê razão para não admitir a mesma
presunção em matéria de casamento. Se houve para um caso uma forte razão de fato a
justificar a presunção, também haverá no outro caso” (CRUZ, Guilherme Braga da.
Direitos de família. 2. ed. Coimbra: Coimbra, 1942, v. 1, p. 123).
21
Neste sentido a lição da doutrina majoritária: “Quanto à primeira hipótese de dissolução
da sociedade conjugal, no art. 2º., inciso I, prevista (morte de um dos cônjuges), que,
consoante esclarece o parágrafo único do mesmo artigo, também é caso de dissolução do
vínculo matrimonial - oportuno é observar -, a despeito do silêncio da lei, que não ressalva
a vigência do parágrafo único do art. 315 do CC, pelo art. 54 da Lei 6.515/77 revogado -
que continua excluída a hipótese de morte presumida (art. 10, 2ª. parte, do CC) -
quer como fundamento para a dissolução da sociedade conjugal, quer para extinção do
vínculo matrimonial” (PEREIRA, Áurea Pimentel. Divórcio e separação judicial. 3. ed. Rio
de Janeiro: Renovar, 1989, p. 22) (grifo nosso). “Assim, para o efeito da dissolução da
sociedade conjugal, não se aproveita a presunção de morte do ausente, estabelecida no
art. 10, segunda parte, do CC. ...Todavia, embora omitida a limitação da eficácia da
presunção de morte, não se deduz daí terem os novos legisladores se afastado da
sistemática anterior, de modo a permitir que, com a declaração judicial da ausência,
induzindo a presunção de morte do cônjuge, decorra ipso jure a liberação do outro para
novo matrimônio, no pressuposto legal de estar dissolvido o vínculo anterior” (CAHALI,
Yussef Said. Divórcio e separação. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 69-
70) (grifo no original). “O efeito dissolutivo do vínculo se produz apenas com a morte real,
provada mediante certidão de assento de óbito do cônjuge. A presunção de morte do
ausente não aproveita para o efeito de terminação do vínculo conjugal, de modo que o
caminho atual é o de que a ausência é causa de separação judicial ou de divórcio”
(FREITAS, Geralda Pedroso. A terminação do vínculo conjugal. In: O direito de família e
a Constituição de 1988. Coord. Carlos Alberto BITTAR. São Paulo: Saraiva, 1989, p.
220).
43

faz necessária a ausência por dez anos (art. 1.167, inciso II, do Código de
Processo Civil). Talvez por esta razão não tenha o legislador repetido a norma do
revogado art. 315 do Código Civil. Naquele, como não se aceitava o divórcio a
vínculo, era necessário deixar expresso que também não se aplicaria a presunção
de morte. A partir da Lei nº. 6.515/77, instituído o divórcio, dificilmente alguém se
utilizaria desta presunção para dissolver o vínculo conjugal. Ademais, como
lembrava Yussef Said CAHALI, “ausente qualquer provisão legal que o autorize,
continua inexistindo qualquer ação direta para a declaração da ruptura do vínculo
matrimonial devido à ausência declarada ou presumida do cônjuge; nem esta
ausência, ainda que declarada judicialmente, tem o condão de produzir ipso jure a
dissolução do matrimônio”22.

Mas o novo Código Civil altera esta situação, decretando, no art.


1.571, § 1º., a dissolução do casamento pela ausência do outro cônjuge em
decisão judicial transitada em julgado. Pode agora, o cônjuge do ausente, optar
entre pedir o divórcio para se casar novamente ou esperar pela presunção de
morte, que se dá com a conversão da sucessão provisória em definitiva. O
divórcio, embora mais rápido, tem a desvantagem de fazer o cônjuge perder o
direito à sucessão. Com efeito, sendo o cônjuge herdeiro ainda que haja
descendentes ou ascendentes do de cujus (ou, no caso, do ausente), nos termos
do art. 1.829 do novo Código, precisará, não obstante, conservar a posição de
cônjuge até a conversão da sucessão provisória em definitiva, quando, só então,
haverá realmente a vocação hereditária. Se se divorciar antes, embora tendo a
vantagem de poder se casar novamente desde logo, terá a desvantagem de perder
a capacidade sucessória do ausente.

Mas a lei não resolve algumas questões que a nova norma suscita:
em primeiro lugar, em que momento se considera presumida a morte do ausente,
para o fim da dissolução do seu casamento? Interpretando isoladamente os arts.

22
CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 71.
44

22 e 23 do novo Código23, poder-se-ia chegar à singela conclusão de que tal


dissolução se daria tão logo se desse o desaparecimento do ausente. Mas tal
interpretação contraria a sistemática do instituto, bem como a letra do art. 6º.,
que dispõe: “A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se
esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva”. Assim, é somente com a conversão da sucessão provisória em
definitiva que se presume a morte do ausente, pelo que somente essa conversão é
que dissolve o casamento do ausente.

Há quem defenda a idéia de que o cônjuge do ausente, para casar-


se novamente, deve promover o divórcio. Mas tal entendimento não pode ser
aceito. Que o divórcio dissolve o vínculo conjugal não se duvida. Entretanto, não se
pode exigir o divórcio no caso em tela, pois a nova lei erigiu a morte presumida
como causa independente de dissolução do vínculo. Vale dizer: a morte é, ao lado
do divórcio, causa de dissolução do casamento; a conversão da sucessão
provisória em definitiva, fazendo presumir a morte, dissolve também o vínculo, e
por si só, pelo que nada mais se pode requerer para dissolvê-lo, pois já estará o
casamento dissolvido com a sentença de conversão. Quisesse a lei que o cônjuge
do ausente promovesse o divórcio, nada precisaria ter dito, pois assim já era no
sistema da Lei do Divórcio sem qualquer texto legal.

A sentença declaratória de ausência, nos termos do art. 9º., inciso


IV, do Código Civil e do art. 94 da Lei de Registros Públicos, deve ser registrada no
Registro Civil. Daí resultaria para o cônjuge do ausente a condição de viúvo? A lei
não o diz, mas é de se supor que sim, pois seria esta a conseqüência principal do
registro da sentença de conversão da sucessão provisória em definitiva. Mas: viúvo
de cônjuge vivo? Sim, porque não se pode negar que o presumido morto é um
possível vivo. E mais: uma viuvez “revogável”? Admitindo a lei o retorno do

23
“Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não
houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz,
a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e
nomear-lhe-á curador. Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador,
quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o
mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes”.
45

ausente até 10 anos depois da conversão da sucessão provisória em definitiva,


podendo ele reassumir seus bens (art. 39), ou, mesmo depois dos 10 anos
(embora sem reassumir seus bens), naturalmente poderá o ausente reabilitar-se
civilmente, deixando de ser presumido morto, com o que estará revogado o estado
de viúvo do seu cônjuge.

Pode o ex-cônjuge do ausente, pretendendo casar, habilitar-se


matrimonialmente? Que documentos deve apresentar? Vejamos o que diz o art.
1.525: “O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos
os nubentes, de próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser
instruído com os seguintes documentos: ...IV - declaração do estado civil, do
domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem
conhecidos; V - certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de
nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do registro da
sentença de divórcio”.

De princípio, já se vê que o ex-cônjuge terá que declarar seu


estado civil para casar novamente. Declarará o estado de viúvo, com as
implicações antes ditas? Ou, declarando o estado de casado, aceitará o Oficial do
Registro Civil a sua habilitação? Como ficaria, neste caso, o impedimento do art.
1.521, inciso VI24? Mas o maior problema é que a lei não previu a juntada da
certidão do registro da sentença de conversão para fins de habilitação matrimonial.
No citado inciso V só se fala em certidão de óbito, de anulação ou de divórcio;
esqueceu-se o legislador de que o nubente que foi casado pode não ter nenhum
desses documentos, mas apenas a certidão de registro da sentença de conversão,
documento que, nos termos do art. 1.571, § 1º., deve-lhe ser suficiente.

Outra conseqüência não prevista pelo legislador é o fato do


eventual retorno do ausente após o casamento de seu ex-cônjuge. Imagine-se
que, após a sentença de conversão, o ex-cônjuge do ausente se case,
aproveitando-se da disposição do art. 1.571, § 1º., vindo, depois do casamento, a
reaparecer o ausente. Como fica o primeiro e o segundo casamento do cônjuge do

24
“Art. 1.521. Não podem casar: ...VI – as pessoas casadas”.
46

ausente? Dir-se-á ser simples a solução, pois o citado parágrafo diz que o primeiro
casamento se dissolve pela presunção de morte, equivalendo, portanto, ao
divórcio, ou à morte real. Daí seguiria a conseqüência de que, estando dissolvido o
primeiro casamento, válido ficaria o segundo25. Mas deve-se discutir: a presunção
de morte é uma presunção absoluta (juris et de jure)? Não seria antes uma
presunção relativa (juris tantum)? Não se pode negar o seu caráter de presunção
relativa, já que o ausente pode retornar e, em conseqüência, provar que não está
morto realmente. Sendo presunção relativa, desfaz-se com a prova de que não
houve morte real, ou seja, com o reaparecimento do ausente. Então, desfeita a
presunção, seria lógico se entender desfeita também a dissolução do casamento. E
a conseqüência disto seria desastrosa: o segundo casamento do cônjuge do
ausente foi feito em bigamia, sendo, portanto, nulo26. Esta a solução adotada pelo
direito italiano27. Seria razoável anular o casamento do ex-cônjuge do ausente pelo
reaparecimento deste depois de tanto tempo? Melhor seria se a lei tivesse
disposição semelhante ao § 1.348 do BGB (Código Civil alemão), que dizia
expressamente ficar válido o segundo casamento nesse caso28.

Por fim, ainda um questionamento: pode o próprio ausente se


beneficiar da dissolução do casamento pela ausência? Ou em outros termos: pode
o ausente, estando vivo em algum lugar, contrair validamente um novo

25
Neste sentido, escreve GONÇALVES, Carlos Roberto (Direito civil brasileiro: parte
geral. São Paulo: Saraiva, 2003, v. 1, p. 118) que se o ausente “estiver vivo e aparecer,
depois de presumida a sua morte e aberta a sucessão definitiva, com a dissolução da
sociedade conjugal, e seu cônjuge houver contraído novo matrimônio, prevalecerá o
último”.
26
Afasta-se, contudo, as conseqüências criminais da bigamia (art. 235 do Código Penal),
tendo em vista que não houve dolo das partes.
27
“68. Nullità del nuovo matrimonio. – Il matrimonio contratto a norma dell’articolo 65 è
nullo, qualora la persona della quale fu dichiarata la morte presunta ritorni o ne sia
accertata l’esistenza. Sono salvi gli effetti civili del matrimonio dichiarato nullo. La nullità
non può essere pronunziata nel caso in cui è accertata la morte, anche se avvenuta in uma
data posteriore a quella del matrimonio”. No mesmo sentido dispunha o Projeto de Orlando
Gomes (art. 59).
28
“§ 1348. Se um cônjuge contrai um novo matrimônio depois de que o outro cônjuge foi
declarado falecido, o novo matrimônio não é nulo pela circunstância de que o cônjuge
declarado falecido ainda viva, a não ser que ambos cônjuges soubessem no momento da
conclusão do matrimônio que o cônjuge declarado falecido sobreviveu à declaração de
falecimento”. Este dispositivo, contudo, está revogado.
47

matrimônio? A lei não o diz, mas, partindo-se do pressuposto que a dissolução se


dá pela morte presumida, não estando o ausente morto realmente, não há
dissolução do casamento, pelo que não poderá ele validamente casar novamente.
Mas aí teremos outro problema: enquanto para o cônjuge do ausente o casamento
estará dissolvido, para o ausente não, permanecendo ele casado. Mas, casado com
quem? Casado com alguém que é viúvo ou que já se casou com outra pessoa?

De todo o exposto, concluímos que seria melhor que o legislador


tivesse evitado a disposição em comento, mantendo a não dissolução do
casamento pela presunção de morte, de modo que fosse necessário ao cônjuge do
ausente promover o divórcio, evitando, assim, todas as complicações antes
enunciadas.

Referências:

CAHALI, Yussef Said. Divórcio e separação. 10. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2002.
CRUZ, Guilherme Braga da. Direitos de família. 2. ed. Coimbra: Coimbra, 1942, v.
1.
FREITAS, Geralda Pedroso. A terminação do vínculo conjugal. In: O direito de
família e a Constituição de 1988. Coord. Carlos Alberto BITTAR. São Paulo:
Saraiva, 1989.
GONÇALVES, Carlos Roberto (Direito civil brasileiro: parte geral. São Paulo:
Saraiva, 2003, v. 1.
PACHECO, José da Silva. Inventários e partilhas. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1996.
PEREIRA, Áurea Pimentel. Divórcio e separação judicial. 3. ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 1989.

7. Enunciados das Jornadas de Direito Civil (Parte Geral)


48

I JORNADA

1 – Art. 2º: a proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no


que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura.
2 – Art. 2º: sem prejuízo dos direitos da personalidade nele assegurados, o art. 2º
do Código Civil não é sede adequada para questões emergentes da reprogenética
humana, que deve ser objeto de um estatuto próprio.
3 – Art. 5º: a redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18
anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica
situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações
similares de proteção, previstas em legislação especial.
4 – Art.11: o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação
voluntária, desde que não seja permanente nem geral.
5 – Arts. 12 e 20: 1) as disposições do art. 12 têm caráter geral e aplicam-se,
inclusive, às situações previstas no art. 20, excepcionados os casos expressos de
legitimidade para requerer as medidas nele estabelecidas; 2) as disposições do art.
20 do novo Código Civil têm a finalidade específica de regrar a projeção dos bens
personalíssimos nas situações nele enumeradas. Com exceção dos casos expressos
de legitimação que se conformem com a tipificação preconizada nessa norma, a ela
podem ser aplicadas subsidiariamente as regras instituídas no art. 12.
6 – Art. 13: a expressão “exigência médica” contida no art. 13 refere-se tanto ao
bem-estar físico quanto ao bem-estar psíquico do disponente.
7 – Art. 50: só se aplica a desconsideração da personalidade jurídica quando
houver a prática de ato irregular e, limitadamente, aos administradores ou sócios
que nela hajam incorrido.
8 – Art. 62, parágrafo único: a constituição de fundação para fins científicos,
educacionais ou de promoção do meio ambiente está compreendida no CC, art. 62,
parágrafo único.
9 – Art. 62, parágrafo único: o art. 62, parágrafo único, deve ser interpretado de
modo a excluir apenas as fundações com fins lucrativos.
49

10 – Art. 66, § 1º: em face do princípio da especialidade, o art. 66, § 1º, deve ser
interpretado em sintonia com os arts. 70 e 178 da LC n. 75/93.
11– Art. 79: não persiste no novo sistema legislativo a categoria dos bens imóveis
por acessão intelectual, não obstante a expressão “tudo quanto se lhe incorporar
natural ou artificialmente”, constante da parte final do art. 79 do CC.
12 – Art. 138: na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o
erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança.
13 – Art. 170: o aspecto objetivo da convenção requer a existência do suporte
fático no negócio a converter-se.
14 – Art. 189: 1) o início do prazo prescricional ocorre com o surgimento da
pretensão, que decorre da exigibilidade do direito subjetivo; 2) o art. 189 diz
respeito a casos em que a pretensão nasce imediatamente após a violação do
direito absoluto ou da obrigação de não fazer.

III JORNADA29

138 – Art. 3º: A vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I do


art. 3o, é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles
concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto.
139 – Art. 11: Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que
não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de
direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes.
140 – Art. 12: A primeira parte do art. 12 do Código Civil refere-se às técnicas de
tutela específica, aplicáveis de ofício, enunciadas no art. 461 do Código de
Processo Civil, devendo ser interpretada com resultado extensivo.
141 – Art. 41: A remissão do art. 41, parágrafo único, do CC às “pessoas jurídicas
de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado”, diz respeito
às fundações públicas e aos entes de fiscalização do exercício profissional.

29
A II Jornada não elaborou enunciados.
50

142 – Art. 44: Os partidos políticos, os sindicatos e as associações religiosas


possuem natureza associativa, aplicando-se-lhes o Código Civil.
143 – Art. 44: A liberdade de funcionamento das organizações religiosas não
afasta o controle de legalidade e legitimidade constitucional de seu registro, nem a
possibilidade de reexame pelo Judiciário da compatibilidade de seus atos com a lei
e com seus estatutos.
144 – Art. 44: A relação das pessoas jurídicas de Direito Privado, constante do art.
44, incs. I a V, do Código Civil, não é exaustiva.
145 – Art. 47: O art. 47 não afasta a aplicação da teoria da aparência.
146 – Art. 50: Nas relações civis, interpretam-se restritivamente os parâmetros de
desconsideração da personalidade jurídica previstos no art. 50 (desvio de
finalidade social ou confusão patrimonial). (Este Enunciado não prejudica o
Enunciado n. 7)
147 – Art. 66: A expressão “por mais de um Estado”, contida no § 2o do art. 66,
não exclui o Distrito Federal e os Territórios. A atribuição de velar pelas fundações,
prevista no art. 66 e seus parágrafos, ao MP local – isto é, dos Estados, DF e
Territórios onde situadas – não exclui a necessidade de fiscalização de tais pessoas
jurídicas pelo MPF, quando se tratar de fundações instituídas ou mantidas pela
União, autarquia ou empresa pública federal, ou que destas recebam verbas, nos
termos da Constituição, da LC n. 75/93 e da Lei de Improbidade.
148 – Art. 156: Ao “estado de perigo” (art. 156) aplica-se, por analogia, o
disposto no § 2º do art. 157.
149 – Art. 157: Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a
verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do
negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado incitar os
contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2º, do Código Civil de 2002.
150 – Art. 157: A lesão de que trata o art. 157 do Código Civil não exige dolo de
aproveitamento.
51

151 – Art. 158: O ajuizamento da ação pauliana pelo credor com garantia real
(art. 158, § 1o) prescinde de prévio reconhecimento judicial da insuficiência da
garantia.
152 – Art. 167: Toda simulação, inclusive a inocente, é invalidante.
153 – Art. 167: Na simulação relativa, o negócio simulado (aparente) é nulo, mas
o dissimulado será válido se não ofender a lei nem causar prejuízos a terceiros.
154 – Art. 194: O juiz deve suprir de ofício a alegação de prescrição em favor do
absolutamente incapaz.
155 – Art. 194: O art. 194 do Código Civil de 2002, ao permitir a declaração ex
officio da prescrição de direitos patrimoniais em favor do absolutamente incapaz,
derrogou o disposto no § 5º do art. 219 do CPC.
156 – Art. 198: Desde o termo inicial do desaparecimento, declarado em
sentença, não corre a prescrição contra o ausente.
157 – Art. 212: O termo “confissão” deve abarcar o conceito lato de depoimento
pessoal, tendo em vista que este consiste em meio de prova de maior
abrangência, plenamente admissível no ordenamento jurídico brasileiro.
158 – Art. 215: A amplitude da noção de “prova plena” (isto é, “completa”)
importa presunção relativa acerca dos elementos indicados nos incisos do §1o,
devendo ser conjugada com o disposto no parágrafo único do art. 219.

IV JORNADA

272 – Art. 10. Não é admitida em nosso ordenamento jurídico a adoção por ato
extrajudicial, sendo indispensável a atuação jurisdicional, inclusive para a adoção
de maiores de dezoito anos.
273 – Art. 10. Tanto na adoção bilateral quanto na unilateral, quando não se
preserva o vínculo com qualquer dos genitores originários, deverá ser averbado o
cancelamento do registro originário de nascimento do adotado, lavrando-se novo
registro. Sendo unilateral a adoção, e sempre que se preserve o vínculo originário
52

com um dos genitores, deverá ser averbada a substituição do nome do pai ou da


mãe natural pelo nome do pai ou da mãe adotivos.
274 – Art. 11. Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva
pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana,
contida no art. 1º, III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana).
Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se
aplicar a técnica da ponderação.
275 – Arts. 12 e 20. O rol dos legitimados de que tratam os arts. 12, parágrafo
único, e 20, parágrafo único, do Código Civil também compreende o companheiro.
276 – Art.13. O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo
por exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em conformidade
com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a
conseqüente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil.
277 – Art.14. O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da disposição
gratuita do próprio corpo, com objetivo científico ou altruístico, para depois da
morte,
determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece
sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicação do art. 4º da Lei n. 9.434/97
ficou restrita à hipótese de silêncio do potencial doador.
278 – Art.18. A publicidade que venha a divulgar, sem autorização, qualidades
inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar seu nome, mas sendo
capaz de identificá-la, constitui violação a direito da personalidade.
279 – Art.20. A proteção à imagem deve ser ponderada com outros interesses
constitucionalmente tutelados, especialmente em face do direito de amplo acesso à
informação e da liberdade de imprensa. Em caso de colisão, levar-se-á em conta a
notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade destes e,
ainda, as características de sua utilização (comercial, informativa, biográfica),
privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação de informações.
53

280 – Arts.44, 57 e 60. Por força do art. 44, § 2º, consideram-se aplicáveis às
sociedades reguladas pelo Livro II da Parte Especial, exceto às limitadas, os arts.
57 e 60, nos seguintes termos:
a) Em havendo previsão contratual, é possível aos sócios deliberar a exclusão de
sócio por justa causa, pela via extrajudicial, cabendo ao contrato disciplinar o
procedimento de exclusão, assegurado o direito de defesa, por aplicação analógica
do art. 1085;
b) As deliberações sociais poderão ser convocadas pela iniciativa de sócios que
representem 1/5 (um quinto) do capital social, na omissão do contrato. A mesma
regra aplica-se na hipótese de criação, pelo contrato, de outros órgãos de
deliberação colegiada.
281 – Art. 50. A aplicação da teoria da desconsideração, descrita no art. 50 do
Código Civil, prescinde da demonstração de insolvência da pessoa jurídica.
282 – Art. 50. O encerramento irregular das atividades da pessoa jurídica, por si
só, não basta para caracterizar abuso de personalidade jurídica.
283 – Art. 50. É cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada
“inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar
ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros.
284 – Art. 50. As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins
não-econômicos estão abrangidas no conceito de abuso da personalidade jurídica.
285 – Art. 50. A teoria da desconsideração, prevista no art. 50 do Código Civil,
pode ser invocada pela pessoa jurídica em seu favor.
286 – Art. 52. Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à
pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas
titulares de tais direitos.
287 – Art. 98. O critério da classificação de bens indicado no art. 98 do Código
Civil não exaure a enumeração dos bens públicos, podendo ainda ser classificado
como tal o bem pertencente a pessoa jurídica de direito privado que esteja afetado
à prestação de serviços públicos.
54

288 – Arts. 90 e 91. A pertinência subjetiva não constitui requisito imprescindível


para a configuração das universalidades de fato e de direito.
289 – Art. 108. O valor de 30 salários mínimos constante no art. 108 do Código
Civil brasileiro, em referência à forma pública ou particular dos negócios jurídicos
que envolvam bens imóveis, é o atribuído pelas partes contratantes e não qualquer
outro valor arbitrado pela Administração Pública com finalidade tributária.
290 – Art. 157. A lesão acarretará a anulação do negócio jurídico quando
verificada, na formação deste, a desproporção manifesta entre as prestações
assumidas pelas partes, não se presumindo a premente necessidade ou a
inexperiência do lesado.
291 – Art. 157. Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código Civil, pode
o lesionado optar por não pleitear a anulação do negócio jurídico, deduzindo,
desde logo, pretensão com vista à revisão judicial do negócio por meio da redução
do proveito do lesionador ou do complemento do preço.
292 – Art. 158. Para os efeitos do art. 158, § 2º, a anterioridade do crédito é
determinada pela causa que lhe dá origem, independentemente de seu
reconhecimento por decisão judicial.
293 – Art. 167. Na simulação relativa, o aproveitamento do negócio jurídico
dissimulado não decorre tão-somente do afastamento do negócio jurídico
simulado, mas do necessário preenchimento de todos os requisitos substanciais e
formais de validade daquele.
294 – Arts. 167 e 168. Sendo a simulação uma causa de nulidade do negócio
jurídico, pode ser alegada por uma das partes contra a outra.
295 – Art. 191. A revogação do art. 194 do Código Civil pela Lei n. 11.280/2006,
que determina ao juiz o reconhecimento de ofício da prescrição, não retira do
devedor a possibilidade de renúncia admitida no art. 191 do texto codificado.
296 – Art. 197. Não corre a prescrição entre os companheiros, na constância da
união estável.
55

297 – Art. 212. O documento eletrônico tem valor probante, desde que seja apto a
conservar a integridade de seu conteúdo e idôneo a apontar sua autoria,
independentemente da tecnologia empregada.
298 – Arts. 212 e 225. Os arquivos eletrônicos incluem-se no conceito de
“reproduções eletrônicas de fatos ou de coisas”, do art. 225 do Código Civil, aos
quais deve ser aplicado o regime jurídico da prova documental.
299 – Art. 2.028. Iniciada a contagem de determinado prazo sob a égide do Código
Civil de 1916, e vindo a lei nova a reduzi-lo, prevalecerá o prazo antigo, desde que
transcorrido mais de metade deste na data da entrada em vigor do novo Código. O
novo prazo será contado a partir de 11 de janeiro de 2003, desprezando-se o
tempo anteriormente decorrido, salvo quando o não-aproveitamento do prazo já
decorrido implicar aumento do prazo prescricional previsto na lei revogada,
hipótese em que deve ser aproveitado o prazo já decorrido durante o domínio da
lei antiga, estabelecendo-se uma continuidade temporal.
300 – Art. 2.035. A lei aplicável aos efeitos atuais dos contratos celebrados antes
do novo Código Civil será a vigente na época da celebração; todavia, havendo
alteração legislativa que evidencie anacronismo da lei revogada, o juiz equilibrará
as obrigações das partes contratantes, ponderando os interesses traduzidos pelas
regras revogada e revogadora, bem como a natureza e a finalidade do negócio.

8. Fique por Dentro

No decorrer do curso, sempre cuidaremos de trazer importantes e atuais notícias,


fundamentais em sua preparação para concurso.
Confiram algumas delas, disponíveis no site do STJ (www.stj.gov.br – ver “sala de
notícias”):
Especial STJ: Pais de nascituro podem ser indenizados
15/05/2011

Será que um bebê, ainda no útero da mãe, tem os mesmos direitos de um ser
humano já nascido? O Código Civil, ao mesmo tempo em que concede direitos ao
nascituro, desde a concepção, define que a personalidade civil do indivíduo começa
56

do nascimento com vida. A controvérsia põe em questão a personalidade civil e a


interpretação jurídica.

Em um julgamento recente, da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça


(STJ), os pais de um nascituro, ou seja, de um feto, receberam indenização pelo
Seguro DPVAT - Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de
Via Terrestre. O bebê, com 35 semanas, morreu ainda na barriga da mãe, quatro
dias depois de ela ser atingida por um carro. Segundo o relator no STJ, ministro
Paulo de Tarso Sanseverino, o caso julgado é inédito.
“Esse seguro não previa o pagamento de indenização, no caso de morte de
nascituro. E a solução dada pelo Tribunal [STJ] foi no sentido de uma interpretação
mais ampla da legislação, referente ao seguro obrigatório, para alcançar também
esses pais, já que a dor que eles sofreram com a perda de uma criança que nem
nascera ainda é tão grande como a dor dos pais de uma criança que venha a
falecer, em função de um acidente de trânsito. E nesse caso, então, foi feita uma
interpretação, com base no princípio da dignidade da pessoa humana, que tem
matriz na Constituição Federal”.

O advogado e professor de Direito Civil pelo UniCEUB, Luciano Medeiros, acredita


que há duas teorias principais para se definir o início da natureza jurídica, que é o
ponto de partida para conceder direitos e atribuir deveres ao indivíduo.
“A teoria natalista defende a ideia de que a personalidade civil somente se inicia
com o nascimento com vida. Nesse caso o nascituro teria mera expectativa de
direito. Já a segunda corrente, a teoria concepcionista, entende que os direitos do
nascituro passam a existir a partir do momento da concepção”.

De acordo com o especialista, a legislação vigente abre espaço para as duas


teorias.
“Pelas decisões dos tribunais, a gente verifica uma tendência à adoção da teoria
concepcionista. Se a gente fizer interpretação isolada de alguns dispositivos do
Código Civil, a tendência é acreditar que, de fato, o legislador adotou a teoria
natalista. Mas, se fizermos uma interpretação sistemática com outros dispositivos
do Código Civil, há a certeza de que o legislador garante direitos ao nascituro, e a
gente pode concluir que o nascituro é pessoa, então já tem direitos amparados
pela própria lei”.

Em um caso julgado em junho de 2008, o Superior Tribunal de Justiça também


decidiu em favor de um nascituro, que recebeu indenização por danos morais em
razão da morte do pai vítima de acidente de trabalho. O bebê ainda não nascido
recebeu R$ 26 mil, valor igual ao determinado para cada um dos irmãos dele.

MP pode ajuizar ação civil pública em matéria previdenciária


04/01/2011
57

A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu a legitimidade do


Ministério Público para propor ação civil pública em matéria previdenciária. O
entendimento, baseado em voto da ministra Laurita Vaz, se alinha à posição que
vem sendo adotada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no sentido de valorizar a
presença do relevante interesse social envolvido no assunto, que diz respeito, em
grande parte, a pessoas desvalidas social e economicamente.

Em seu voto, a ministra Laurita ressaltou que a jurisprudência recente do STJ tem
sido pela tese desfavorável à legitimidade do MP. Entretanto, a ministra resgatou
vasta doutrina e jurisprudência recente do STF que autorizam o órgão a ajuizar
ação civil pública para tutela de direitos individuais homogêneos sem relação de
consumo.

No STJ, o recurso é do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O Tribunal


Regional Federal da 4ª Região (TRF4) considerou legítima a atuação do Ministério
Público Federal em demanda que diz respeito à revisão de benefícios
previdenciários. A autarquia recorreu, mas não teve êxito.

A ministra Laurita explicou que os interesses individuais homogêneos classificam-


se em subespécies dos interesses coletivos, e que o MP tem legitimidade para
propositura de ação na defesa de interesses individuais homogêneos, sociais e
coletivos. “A ação civil pública presta-se à tutela não apenas de direitos individuais
homogêneos concernentes às relações consumeristas, podendo o seu objeto
abranger quaisquer outras espécies de interesses transindividuais”, afirmou.

Sendo assim, o STF já admitiu a atuação do MP para ajuizar ação para discutir não
só a revisão de benefício previdenciário (RE 549.419 e RE 607.200), como a
equiparação de menores sob guarda judicial a filhos de segurados, para fins
previdenciários (RE 491.762) e o critério de concessão do benefício assistencial a
portadores de deficiência e idosos (RE 444.357). No mesmo sentido é a posição do
STF quanto à proteção de direitos sociais, como a moradia e a educação.

Considerando que a Constituição Federal, tal como fez à moradia e educação,


elevou a previdência social à categoria de garantia fundamental do homem,
inserindo-a no rol dos direitos sociais, para a ministra do STJ é indiscutível a
presença do relevante interesse social no âmbito do direito previdenciário, o que
viabiliza a atuação do MP na demanda.

“O reconhecimento da legitimidade (...) mostra-se patente tanto em face do


inquestionável interesse social envolvido no assunto, como, também, em razão da
inegável economia processual, evitando-se a proliferação de demandas individuais
idênticas com resultados divergentes, com o consequente acúmulo de feitos nas
instâncias do Judiciário, o que, certamente, não contribui para uma prestação
jurisdicional eficiente, célere e uniforme”, disse.
Processos: Resp 1142630
58

Cadastro indevido no SPC não constitui dano moral se já existe inscrição


legítima
22/07/2010
Não cabe indenização por dano moral em caso de anotação irregular em cadastro
de proteção ao crédito quando já existe inscrição legítima feita anteriormente. Com
essa observação, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro
Cesar Asfor Rocha, suspendeu decisão da Justiça maranhense que havia
condenado um supermercado ao pagamento de indenização por danos morais.

Na reclamação dirigida ao STJ, o advogado da empresa protestou contra a decisão


da Terceira Turma Recursal e Criminal do Juizado Especial Cível do Estado do
Maranhão, a qual, se for executada, pode causar à empresa enormes prejuízos, de
difícil reparação.

Segundo alegou a defesa, o supermercado foi condenado ao pagamento de R$ 6


mil por danos morais, por ter inscrito indevidamente o nome de cliente no Serviço
de Proteção ao Crédito (SPC), mesmo com a existência de outras inscrições do
nome do autor da ação em cadastro de inadimplente.

Para o advogado, a decisão da Justiça estadual está em desacordo com


entendimento já firmado pelo STJ, constante da Súmula n. 385, que dispõe: “Da
anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por
dano moral quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao
cancelamento”.

Cesar Rocha concedeu a liminar, reconhecendo presentes os requisitos da medida


urgente. “Com efeito, ao que parece nesta análise perfunctória, o aresto
impugnado destoa do entendimento desta Corte e a sua execução imediata pode
ensejar dano de difícil reparação à reclamante”, considerou.

Ainda segundo o presidente do STJ, estão demonstrados suficientemente a


plausibilidade das alegações e o perigo na demora. “Defiro o pedido de liminar
para suspender a eficácia do acórdão prolatado pela Terceira Turma Recursal Cível
e Criminal do Juizado Especial Cível do Estado do Maranhão, até ulterior
deliberação do relator da reclamação”, concluiu Cesar Rocha.

Após o envio das informações solicitadas pelo presidente ao juízo reclamado, o


processo segue para o Ministério Público Federal, que dará parecer sobre o caso.
Processos: RCL 4310

Ministro Aldir Passarinho Junior seleciona decisões mais importantes de


2009
59

22/01/2010
Integrante da Quarta Turma e da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça,
o ministro Aldir Passarinho Junior, sexto ministro mais antigo da Corte, selecionou
os processos mais relevantes que relatou em 2009, destacando os de interesse dos
consumidores. Por exemplo a fixação de responsabilidade objetiva de
concessionária de estrada de rodagem em indenizar por morte devido à presença
de animais na pista ou a denúncia de cláusulas abusivas em plano de saúde que
pretendia limitar o tempo de internação hospitalar de cliente.

Animais na estrada

A responsabilidade por acidente de trânsito provocado pela presença de animais na


estrada é da concessionária da rodovia. A jurisprudência do STJ estabelece que as
concessionárias de serviços rodoviários, nas suas relações com os usuários, estão
subordinadas ao Código de Defesa do Consumidor. Portanto, respondem,
objetivamente, por qualquer defeito na prestação do serviço, pela manutenção da
rodovia em todos os aspectos, respondendo, inclusive, pelos acidentes provocados
pela presença de animais na pista.

Condenada a pagar indenização à família de motociclista que morreu ao se chocar


com um animal, a Coviplan Concessionária Rodoviária do Planalto apresentou
recurso especial argumentado que a responsabilidade era do Departamento
Nacional de Estradas e Rodagem (DNER), órgão que tem poder de polícia nas
estradas.

Segundo o Aldir Passarinho Junior, o juiz de primeira instância considerou que em


nenhum momento a concessionária demonstrou que o DNER estaria obrigado por
lei ou contrato a ressarci-la no caso de condenação na ação principal. Além disso, a
empresa sempre negou a responsabilidade pelo evento, o que nega o pressuposto
lógico da pretendida “denunciação da lide”, instrumento processual em que se
busca a responsabilização sucessiva ou solidária de terceiros. Seguindo o relator, a
Quarta Turma não conheceu do recurso.

Erro na doação de sangue

O ato generoso de doar sangue causou tamanho transtorno a uma voluntária que
ela teve que recorrer à Justiça. Um erro de diagnóstico levou o Serviço de
Hemoterapia Dom Bosco a comunicar a todos os bancos de sangue do país que a
voluntária era portadora de hepatite C. Ela ficou impedida de doar sangue. Por
entender que houve lesão de ordem moral, a doadora buscou ressarcimento, com
amparo no Código de Defesa do Consumidor.

Nas instâncias ordinárias, entendeu-se que não se tratava de relação de consumo,


sendo aplicável no caso as disposições do Código de Processo Civil. Passou-se a
discutir o foro competente para julgar a ação indenizatória.
60

O relator, ministro Aldir Passarinho Junior, analisou a cadeia do setor. Ocorre a


captação de sangue, uma atividade contínua e permanente que tem o sangue
como matéria prima. O material é comercializado in natura ou na forma de
derivados, gerando uma remuneração pelo sangue coletado do doador, ainda que
indiretamente. Assim, o relator entendeu que se tratae de um relação de consumo,
embora seja um caso atípico. Desta forma, o foro competente para julgar a ação é
o de domicílio da doadora.

Valor de tratamento médico

A Súmula n. 230 do STJ foi decisiva para o fim das cláusulas abusivas nos contratos
de plano de saúde que limitavam o tempo de internação do paciente. Este ano o
ministro Aldir Passarinho Junior deparou-se com uma nova forma de limitação: a
restrição do valor do tratamento. “Ora, em essência, a hipótese dos autos, de
restrição de valor, não é igual à da súmula citada, mas comporta o mesmo
tratamento. A meu ver, até tratamento mais severo, pois a cláusula é mais
abusiva ainda, é pior”, afirmou o ministro no voto.

Os demais ministros acompanharam o voto do relator e acolheram o recurso para


reformar a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que limitou o ressarcimento
do tratamento médico. Foi restabelecida a decisão de primeira instância, que
determinou o pagamento integral pela seguradora.

Indenização de honorários

Um trabalhador contratou um advogado particular para mover uma ação


reclamatória trabalhista com o objetivo de receber verba rescisória. Afirmou ter
pago R$ 6,2 mil ao advogado e R$ 560 pelo trabalho pericial. Depois ele ajuizou
ação de indenização por danos morais e matérias contra a empresa, com o
objetivo de ser ressarcido pelos gastos com sua defesa. O pedido foi negado em
primeiro grau.

O trabalhador apelou sustentando que só teve seu direito reconhecido graças à


atuação do advogado particular, e conseguiu o ressarcimento. Ao julgar o recurso
especial da empresa, o ministro Aldir Passarinho Junior entendeu que a reparação
era incabível, pois nenhum ato ilícito havia sido praticado e as verbas discutidas
eram controvertidas. Assim a Turma decidiu que não cabe ao empregador arcar
com os custos da contratação de advogado pelo empregado.

Alerta errado

O Banco do Brasil foi responsabilizado por uma atitude exagerada de um

30
A súmula referida na notícia do STJ deve ser a “302”: É abusiva a cláusula contratual de
plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.
61

funcionário. O gerente de uma agência em Tangará da Serra (MT) comunicou à


polícia que um cliente estava armado e que poderia ocorrer um assalto. O policial
agiu com excessiva agressividade para prender o suspeito.

Para o ministro Aldir Passarinho Junior, houve culpa do gerente. Segundo ele, foi
dada informação equivocada à polícia sobre o porte de arma, o que poderia ter
levado até a um desfecho mais trágico. O ministro entendeu também que o
funcionário foi muito além de uma mera comunicação à autoridade, chegando a
participar, fora do banco, da diligência que resultou na prisão do correntista.

Acompanhando as considerações do relator, a Quarta Turma manteve a decisão


que reconheceu a legitimidade passiva do Banco do Brasil para responder à ação
de indenização proposta pelo cliente preso devido ao registro de notícia-crime feita
pelo funcionário.
Processos: Resp 573260; Resp 540922; Resp 326147; Resp 1088998; Resp
537111

Adoção à brasileira não pode ser desconstituída após vínculo de


socioafetividade
14/07/2009

Em se tratando de adoção à brasileira (em que se assume paternidade sem o


devido processo legal), a melhor solução consiste em só permitir que o pai
adotante busque a nulidade do registro de nascimento quando ainda não tiver sido
constituído o vínculo de socioafetividade com o adotado. A decisão é da Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que, seguindo o voto do relator,
ministro Massami Uyeda, rejeitou o recurso de uma mulher que pedia a declaração
de nulidade do registro civil de sua ex-enteada.

A mulher ajuizou ação declaratória de nulidade de registro civil argumentando que


seu ex-marido declarou falsamente a paternidade da ex-enteada, sendo, portanto,
de rigor o reconhecimento da nulidade do ato.

Em primeira instância, o pedido foi julgado improcedente. O Tribunal de Justiça da


Paraíba (TJPB) manteve a sentença ao fundamento de inexistência de provas
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acerca da vontade do ex-marido em proceder à desconstituição da adoção. Para o


TJ, o reconhecimento espontâneo da paternidade daquele que, mesmo sabendo
não ser o pai biológico, registra como seu filho de outrem tipifica verdadeira
adoção, irrevogável, descabendo, portanto, posteriormente, a pretensão de anular
o registro de nascimento.

Inconformada, a mulher recorreu ao STJ, sustentando que o registro civil de


nascimento de sua ex-enteada é nulo, pois foi levado a efeito mediante declaração
falsa de paternidade, fato este que o impede de ser convalidado pelo transcurso de
tempo. Argumentou, ainda, que seu ex-marido manifestou, ainda em vida, a
vontade de desconstituir a adoção, em tese, ilegalmente efetuada.

Em sua decisão, o ministro Massami Uyeda destacou que quem adota à moda
brasileira não labora em equívoco, ao contrário, tem pleno conhecimento das
circunstâncias que gravitam em torno de seu gesto e, ainda assim, ultima o ato.
Para ele, nessas circunstâncias, nem mesmo o pai, por arrependimento posterior,
pode valer-se de eventual ação anulatória postulando descobrir o registro, afinal a
ninguém é dado alegar a própria torpeza em seu proveito.

“De um lado, há de considerar que a adoção à brasileira é reputada pelo


ordenamento jurídico como ilegal e, eventualmente, até mesmo criminosa. Por
outro lado, não se pode ignorar o fato de que este ato gera efeitos decisivos na
vida da criança adotada, como a futura formação da paternidade socioafetiva”,
acrescentou.

Por fim, o ministro Massami Uyeda ressaltou que, após firmado o vínculo
socioafetivo, não poderá o pai adotante desconstituir a posse do estado de filho
que já foi confirmada pelo véu da paternidade socioafetiva.

Compete ao juízo do inventário julgar ação de sobrepartilha


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08/07/2009
Em decisão unânime, a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
definiu que compete ao juízo que processou e julgou inventário processar e julgar
ação de sobrepartilha (nova partilha de bens ou de coisas, que não se partilharam
antes). Assim, a Seção declarou competente o juízo de Direito da Vara de Família
Órfãos e Sucessões Infância e Juventude e Primeiro Cível de Planaltina (GO) para
julgar o pedido de sobrepartilha nos autos do inventário de C.F. e S.S.

No caso, R.G. requereu, em outubro de 1993, perante o juízo de Planaltina, a


sobrepartilha de bens nos autos dos inventários de C.F. e S.S., cujas partilhas
foram julgadas em 1930 e 1952 respectivamente. Alegou que, nos inventários, não
foram descritas nem partilhadas as áreas denominadas “Larga dos Olhos D‟Água”,
situadas em Sobradinho (DF).

Em 2000, o representante de todos os herdeiros, com exceção de um, requereu a


remessa dos autos dos inventários à Justiça de Brasília (DF), por entender ser este
o foro competente para apreciar o pedido de sobrepartilha, uma vez que a área
questionada fora objeto de ação de desapropriação proposta pela União.

O juízo de Planaltina remeteu, então, os autos ao juízo da 4ª Vara de Família da


Circunscrição Especial Judiciária de Brasília (DF). Este determinou a remessa ao
juízo da Vara de Órfãos e Sucessões de Brasília, que, por sua vez, determinou a
devolução ao juízo de Planaltina (GO). Inconformados, os herdeiros suscitaram o
conflito de competência.

Em seu voto, o relator, ministro Sidnei Beneti, citou que, de acordo com o disposto
no parágrafo único do artigo 1.041 do Código de Processo Civil, a sobrepartilha
deve correr nos autos do inventário do autor da herança. Assim, compete ao juízo
que processou e julgou o inventário processar e julgar ação de sobrepartilha.
Processos: CC 54801
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STJ decide o que é essencial ou supérfluo em penhora de bens do devedor


18/01/2009
As decisões do Superior Tribunal de Justiça mostram que a penhora (apreensão
judicial de bens, valores, dinheiro, direitos, pertencentes ao devedor executado)
não pode ser feita sobre qualquer propriedade do devedor.

A Lei n. 8.009, de 1990, garante a impenhorabilidade do chamado bem de família.


Isso significa que o imóvel residencial próprio do casal ou da entidade familiar é
impenhorável e não serve para pagar qualquer tipo de dívida civil, comercial,
fiscal, previdenciária ou de outra natureza, feita pelos donos, pais ou filhos que
sejam seus proprietários.

Resta, então, promover a penhora sobre outros bens que fazem parte do imóvel de
família, mas que não estejam resguardados pela lei. E quais seriam esses bens? A
questão é frequentemente analisada em processos que chegam ao Superior
Tribunal de Justiça, e as decisões costumam ser mais complexas do que parecem à
primeira vista.

A Lei n. 8.009 também protege móveis e utensílios que fazem parte essencial da
vida familiar, ou seja: os equipamentos imprescindíveis ao bem-estar da família,
inclusive os de uso profissional, desde que quitados, estão a salvo de ser usados
para saldar dívidas do proprietário.

De acordo com a lei, apenas os veículos de transporte (se não forem utilizados
para fins profissionais), as obras de arte e os objetos suntuosos podem ser
penhorados. Assim, os ministros do STJ têm, em cada processo sobre o tema, dois
elementos de valor cultural e subjetivo para debater: o que é supérfluo ou
suntuoso nos dias de hoje?
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Dignidade

Os ministros das Segunda, Terceira e Quinta Turmas discutiram a tese em três


processos que abrangiam a possibilidade de penhora do aparelho de ar-
condicionado. Para os magistrados da Terceira Turma, são impenhoráveis os
equipamentos que mantêm uma residência e não somente aqueles indispensáveis
para fazer a casa funcionar. Desse modo, a Turma, por unanimidade, atendeu ao
pedido do devedor e determinou que fosse suspensa a penhora sobre o ar-
condicionado, o microondas e a tevê da família.

A conclusão da Quinta Turma do Tribunal também foi no mesmo sentido,


considerando que todos os objetos que usualmente fazem parte da residência
estão protegidos pela lei da impenhorabilidade. A ação julgada no STJ cobrava
dívidas de aluguel de um publicitário do Rio Grande do Sul. O devedor teve seu ar-
condicionado, a linha telefônica, videocassete e micro-ondas colocados na lista de
bens para ser penhorados.

Aqui no Tribunal, ficou decidido que esses equipamentos são impenhoráveis


porque o devedor não deve ser colocado em uma situação que manche a sua
dignidade e a estrutura necessária à vida regular da família no atual contexto da
classe média. Entretanto essa tese é complicada. É difícil estabelecer com
objetividade um consenso, a unanimidade na definição do que seja supérfluo ou
não nas casas dos brasileiros.

Tema complexo

A prova disso está numa decisão da Segunda Turma do STJ que, ao contrário dos
magistrados das Terceira e Quinta Turmas, concluiu que o aparelho de ar-
condicionado não é indispensável à sobrevivência e pode ser penhorado. Para os
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ministros, o equipamento não deve ser considerado bem suntuoso, mas também
não é imprescindível à sobrevivência familiar. A Turma ressaltou que o ar-
condicionado não representa uma demonstração exterior de riqueza, mas não seria
justo a família continuar usufruindo desse conforto e utilidade se tinha dívidas a
quitar.

E a falta de consenso não acontece apenas a respeito dos móveis e utensílios


domésticos. Vaga de garagem também já gerou decisões diferentes no STJ. Na
Quarta Turma, os ministros decidiram que a vaga de garagem, se tiver matrícula
individualizada, com inscrição no Registro de Imóveis, pode sim ser penhorada,
uma vez que não está caracterizada como bem de família. A jurisprudência firmada
pela Segunda Seção, formada pelas Terceira e Quarta Turmas e responsável pelos
julgamentos de Direito Privado, estabelece que a vaga individualizada tem
autonomia em relação ao imóvel residencial, tornando o bem passível de penhora
e execução.

Porém a Segunda Turma, que julga casos de Direito Público, concluiu que a vaga
de garagem faz parte indissociável do apartamento e está garantida pela lei da
impenhorabilidade. A Turma ressaltou que o proprietário do imóvel não poderia
ficar em posição de inferioridade em relação aos demais donos de apartamentos no
prédio. A penhora da vaga foi suspensa porque o uso do espaço por terceiros era
vedado pela convenção de condomínio.

E uma arca-oratório e um bufê de madeira entram na lista de bens penhoráveis?


De acordo com a Segunda Turma, sim. Para os ministros, esses móveis não são
indispensáveis ao funcionamento da casa e apenas embelezam o ambiente
doméstico. O mesmo vale para o piano. Se o devedor tem em casa um
instrumento musical que não é utilizado para fins profissionais ou de
aprendizagem, este pode ser penhorado para saldar dívidas.
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Os ministros da Segunda Turma consideraram que aparelhos de televisão e de


som, microondas e videocassete, assim como o computador e a impressora são
protegidos da penhora. Mas o piano, no caso analisado, foi considerado adorno
suntuoso e entrou na lista de bens penhoráveis.

A complexidade dessas causas é tão grande que os ministros sempre levam em


conta o contexto social de cada família. O que é indispensável para a sobrevivência
digna de uma casa pode não ser para outra. A situação do devedor não pode ser
desprezada.

Foi por isso que a Quarta Turma manteve a penhora da área de lazer com piscina,
quadra de tênis, sauna e jardins de um arquiteto de Anápolis, em Goiás. Os
ministros confirmaram que o terreno de 480 metros vinculado à residência
principal podia ser penhorado por se tratar de benfeitorias consideradas suntuosas.
Processos: Resp 658841; Resp 251360; Resp 299392; Resp 582044; Resp
182451; Resp 222012; Resp 300411; Resp 150021

STJ analisa caso a caso o que é fortuito ou força maior


11/01/2009

Qual é a ligação entre um buraco no meio da via pública, um assalto à mão


armada dentro de um banco e um urubu sugado pela turbina do avião que atrasou
o vôo de centenas de pessoas? Todas essas situações geraram pedidos de
indenização e foram julgados no Superior Tribunal de Justiça (STJ) com base num
tema muito comum no Direito: o caso fortuito ou de força maior.

O Código Civil diz que o caso fortuito ou de força maior existe quando uma
determinada ação gera consequências, efeitos imprevisíveis, impossíveis de evitar
ou impedir:

Caso fortuito + Força maior = Fato/Ocorrência imprevisível ou difícil de prever que


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gera um ou mais efeitos/consequências inevitáveis.

Portanto pedidos de indenização devido a acidentes ou fatalidades causadas por


fenômenos da natureza podem ser enquadrados na tese de caso fortuito ou de
força maior.

Exemplo: um motorista está dirigindo em condições normais de segurança. De


repente, um raio atinge o automóvel no meio da rodovia e ele bate em outro carro.
O raio é um fato natural. Se provar que a batida aconteceu devido ao raio, que é
um acontecimento imprevisível e inevitável, o condutor não pode ser punido
judicialmente, ou seja: não vai ser obrigado a pagar indenização ao outro
envolvido no acidente.

Ao demonstrar que a causa da batida não está relacionada com o veículo, como
problemas de manutenção, por exemplo, fica caracterizada a existência de caso
fortuito ou força maior.

Nem todas as ações julgadas no STJ são simples de analisar assim. Ao contrário, a
maior parte das disputas judiciais sobre indenização envolve situações bem mais
complicadas. Como o processo de uma menina do Rio de Janeiro. A garota se
acidentou com um bambolê no pátio da escola e perdeu a visão do olho direito.

A instituição de ensino deveria ser responsabilizada pelo acidente? Os pais da


menina diziam que sim e exigiram indenização por danos morais e materiais. Por
sua vez, o colégio afirmava que não podia ser responsabilizado porque tudo não
passou de uma fatalidade. O fato de o bambolê se partir e atingir o olho da menina
não podia ser previsto: a chamada tese do caso fortuito. Com essa alegação, a
escola esperava ficar livre da obrigação de indenizar a aluna.

Ao analisar o pedido, o STJ entendeu que a escola devia indenizar a família. Afinal,
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o acidente aconteceu por causa de uma falha na prestação dos serviços prestados
pela própria instituição de ensino. Assim como esse, outras centenas de processos
envolvendo caso fortuito e indenizações chegam ao STJ todos os dias.

Assalto à mão armada no interior de ônibus, trens, metrôs? Para o STJ é caso
fortuito. A jurisprudência do Tribunal afirma que a empresa de transporte não deve
ser punida por um fato inesperado e inevitável que não faz parte da atividade fim
do serviço de condução de passageiros.

Entretanto em situações de assalto à mão armada dentro de agências bancárias, o


STJ entende que o banco deve ser responsabilizado, já que zelar pela segurança
dos clientes é inerente à atividade fim de uma instituição financeira.

E o buraco causado pela chuva numa via pública que acabou matando uma
criança? Caso fortuito? Não. O STJ decidiu que houve omissão do Poder Público,
uma vez que o município não teria tomado as medidas de segurança necessárias
para isolar a área afetada ou mesmo para consertar a erosão fluvial a tempo de
evitar uma tragédia.

E onde entra o urubu? Numa ação de indenização por atraso de vôo contra uma
companhia aérea. A empresa alegou caso fortuito porque um urubu foi tragado
pela turbina do avião durante o vôo. Mas o STJ considerou que acidentes entre
aeronaves e urubus já se tornaram fatos corriqueiros no Brasil, derrubando a tese
do fato imprevisível. Resultado: a companhia aérea foi obrigada a indenizar o
passageiro.

Moral da história: Imprevistos acontecem, mas saber se o caso fortuito ou de força


maior está na raiz de um acidente é uma questão para ser analisada processo a
processo, através das circunstâncias em que o incidente ocorreu.

Processos: Ag 626417; Ag 555165; Resp 329931; Resp 246758


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Desemprego não justifica falta de pagamento de pensão alimentar


30/06/2008
Em decisão unânime, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
indeferiu recurso em habeas-corpus de um pai que atrasou o pagamento da
pensão alimentícia sob a alegação de que estava desempregado. O ministro relator
Massami Uyeda afirmou que a alegação de desemprego não pode ser apreciada no
STJ, pois depende do exame de provas.

Ao relatar o caso, o ministro ressaltou não observar qualquer ilegalidade na ordem


de prisão decorrente do inadimplemento de verbas alimentares. “Assinala-se que,
no tocante aos débitos alimentares referentes às prestações vencidas no curso do
processo, incluídas as decorrentes de acordo judicial, é certo que o executado
encontra-se em inadimplemento, o que denota clara afronta aos princípios
norteadores da solidariedade e da dignidade humana”, assinalou o ministro.

A defesa de J.L.S.D. interpôs o recurso no STJ contra a decisão da 11ª Câmara


Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ/RJ) que manteve a decisão do
juiz de primeiro grau. O acusado alegou que haveria ilegalidade do decreto de
prisão, que os bens apreendidos garantiriam a ação de execução de alimentos e,
ainda, que os valores cobrados, no total de R$ 7.200, seriam exorbitantes.

O relator, ministro Massami Uyeda, seguindo precedentes no Tribunal, ressalta que


o débito alimentar que autoriza a prisão civil do acusado compreende as três
prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que vencerem no curso do
processo. Segundo o ministro, pelo fato de o acusado não ter demonstrado
qualquer intenção de pagar, a prisão não é considerada ilegal. Ressaltou que não
se examinam as alegações de desemprego e da exorbitante cobrança de valores
alimentícios por serem fatos complexos e controvertidos que dependem de prova.
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E, por último, considerando a resistência do executado da ação em honrar seus


compromissos de ordem moral, não se observa qualquer ilegalidade na prisão.
Seguindo o voto do relator, a Turma negou o provimento ao recurso ordinário.

Processos: RHC 23552


Coordenadoria de Editoria e Imprensa

9. Mensagem

“Prepara-se o cavalo para o dia da Batalha, mas apenas o Senhor dá a vitória”


(Sagrada Escritura)
Força e Fé, amigos!
A vitória é uma certeza que virá no tempo certo.
Façamos a nossa parte!
Se pudermos despertar em vocês o amor pelo Direito Civil, já estaremos
realizados! Contem conosco!
Um grande abraço!
O amigo,
Pablo
www.pablostolze.com.br
C.D.S. 2011.2.ok.

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