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COSMOVISÃO CRISTÃ
A solução para a humanidade é Jesus Cristo, bem como para toda a criação. A
Igreja possui a missão de levar as Boas Novas para toda criatura, assim, o discipulado é
a essência da solução para tudo.
Portanto, ide e fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do
filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho
mandado. Mt.28:19,20a.
Pois foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que havendo por ele
feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo todas as
coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão nos céus.Cl.01:19 e 20.
Ora, só aqui na terra há muitas coisas para serem reconciliadas, (pois o texto diz: todas
as coisas) mas, para isso temos que verdadeiramente discernir como são as coisas, de
acordo com a VERDADE DE DEUS. Por isso é necessário o entendimento sobre
cosmovisão.
O termo alemão Weltanschauung foi cunhado por Kant e veio depois a ser uma
palavra chave na mentalidade do idealismo alemão e do romantismo, sendo transmitido
via Fichte para Schelling, Schleiermacher, Schlegel, Novalis, Hegel e Goethe. Por volta
de 1840, segundo Albert Wolters, o termo tinha se tornado "um item padrão no
vocabulário do Alemão educado" (p.15). Na década de 30 ele penetrou em outras
línguas, e desde Kierkegaard os filósofos tem buscado relacionar a nova idéia ao
conceito mais antigo de "filosofia".
Devido à sua origem, o termo traz uma carga idealista-romântica bastante forte.
Uma característica importante do período foi o "nascimento da consciência histórica",
marcada pela oposição ao intelectualismo grego-iluminista e pela ênfase no particular,
temporal e concreto.
Assim enquanto o termo "filosofia", de origem grega, pertence a uma
mentalidade orientada para o universal e essencial, o termo alemão weltanschauung
pertence a uma mentalidade dominada pela relatividade histórica.
O primeiro a utilizar a noção de weltanschauung para expressar a visão de um
cristianismo integral abarcando todas as dimensões da cultura foi o teólogo escocês
2
James Orr (1884-1913). Suas palestras nas Kerr Lectures para 1890-91 foram
publicadas com o titulo The Christian View of God and Things. Nessa obra Orr afirma
que o modernismo deve ser enfrentado através do desenvolvimento de uma cosmovisão
abrangente, na qual princípio deve ser ordenado contra princípio. Declara também que
"... a visão cristã das coisas forma um todo lógico que não pode ser ... aceito ou
rejeitado por partes, mas permanece ou cai em sua integridade, e que pode apenas sofrer
com tentativas de amálgama ou compromisso com teorias que se apóiam em bases
totalmente distintas." (p. 95)
O conjunto total de crenças de uma pessoa compõe a sua cosmovisão. Mas nem
todas as crenças tem o mesmo "peso" dentro do sistema. As crenças que sustentamos
sobre o mundo estão inter-relacionadas de diversas formas, e tem diferentes funções.
Assim, embora num sentido mais lato, a totalidade das crenças de um individuo
constitua sua cosmovisão individual, o conjunto de crenças mais fundamentais, que
ocupam papel central na "imagem mental" do mundo de um ou mais indivíduos define a
sua cosmovisão.
Quais seriam essas "crenças fundamentais"? Segundo um autor, uma
cosmovisão seria “a visão ou conjunto de suposições e crenças que um determinado
indivíduo ou grupo possui da vida, do mundo, de Deus, de si mesmo, e suas inter-
relações”. Essa definição é bem ampla, mas indica aspectos chave: eu, Deus, o mundo, e
as relações entre eles.
Para identificar as crenças que tem um papel mais importante numa cosmovisão,
precisamos apelar para alguma descrição fenomenológica ou científica da cosmovisão.
Em principio, podemos dizer que as crenças mais importantes de uma cosmovisão são
aquelas crenças que tem a capacidade de englobar todas as outras, isto é, aquelas que
permeiam todas as regiões de nossa cosmovisão. Outro fator que torna uma crença
importante é seu impacto sobre as nossas vidas.
Esses dois critérios compreendem dois tipos básicos de crenças: (1) minha idéia
de totalidade, ou seja, o que acredito sobre o que a realidade é e como está estruturada e
(2) minha visão de mim mesmo, do meu lugar dentro dessa estrutura. Na verdade essas
duas perguntas são a mesma pergunta, a primeira de dentro para fora, a segunda de fora
para dentro. Essa pergunta dupla pode ser desdobrada em perguntas sobre a origem,
estado presente e o destino do mundo e do homem.
humana que tem um papel chave na constituição de nossa visão de mundo: a fé. A fé é a
dimensão da nossa vida que nos dá o horizonte último de todo o que somos e fazemos;
ela tem o poder de organizar todas as nossas crenças e dar sentido a elas à luz do que
consideramos supremo para nós.1
As questões últimas da existência, sobre a vida e a morte, o mal e o sofrimento, a
natureza humana e o seu destino estão além do poder da razão. Por isso o homem
sempre busca essas respostas esperando que elas "se revelem" de algum modo a ele.
Nesse nível o homem se abre para o transcendente e espera que o sentido último venha a
emergir diante dos seus olhos, exercitando fé Por essa razão podemos dizer que aquelas
idéias mais centrais em nosso sistema de crenças, as que tem o poder de originar e
dirigir nossa cosmovisão são recebidas por nós a partir da fé.
Dito isto, devemos admitir que diferentes condições de vida afetam
profundamente o sistema de crenças de alguém. Para que uma cosmovisão tenha
sucesso em orientar a vida, ela deve ser capaz de iluminar a experiência apontar
caminhos. Ou seja: ela deve ser consistente com os fatos da experiência. Como as
condições da experiência variam bastante, temos às vezes cosmovisões (no sentido de
conjunto total de crenças) divergentes emergindo dos mesmos compromissos básicos de
fé. A visão de mundo Anabatista, por exemplo, é diferente da visão de mundo
Calvinística. Naturalmente, é legítimo perguntar qual cosmovisão está mais de acordo
com a Bíblia. Mas também devemos admitir que condições de experiência diferentes
podem levar a diferentes ênfases e novas descobertas sobre a verdade bíblica.
Que tipo de experiência pode afetar nossa cosmovisão? A vida emocional, por
exemplo. Sentimentos enraizados de abandono podem afetar a integridade da fé.
Pessoas que foram submetidas ou testemunharam abusos freqüentes de autoridade
podem moldar sua cosmovisão de tal forma que o poder seja sempre identificado com o
mal. Pessoas que nunca conheceram a miséria e a exploração de perto podem adotar
uma visão otimista da sociedade e apoiar teorias econômicas liberais. Conflitos pessoais
podem causar uma ruptura entre o que é confessado na fé e a prática, e alguém pode
tentar fechar essa brecha alterando não a prática, mas a confissão de fé. A vida social
também pode nos levar a uma alteração de cosmovisão. O desejo de manter privilégios
sociais pode nos levar a adotar posturas que justificam a opressão. Ou podemos ser
levados a aceitar como corretos certos comportamentos imorais devido à pressão da
maioria.
Temos então que a cosmovisão tem sempre duas fontes: (1) nossas crenças
fundamentais, fornecidas pela orientação religiosa fundamental, através da fé, e (2)
nossas experiências e condições de vida, incluindo condições materiais, sociais,
emocionais, intelectuais, etc. Podemos dizer que ela serve como um mediador entre a fé
e essas condições de vida:
1
Olthuis, On Worldviews, p. 33.
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(1) A cosmovisão repele a filosofia - neste modelo há uma tensão inevitável entre o
pensamento teórico e a as crenças de vida. É o modelo presente no
existencialismo.
(2) A cosmovisão coroa a filosofia - nessa perspectiva a cosmovisão é a mais alta
manifestacão da filosofia.
(3) A cosmovisão flanqueia a filosofia. Conforme este modelo a filosofia e a
cosmovisão devem ser distinguidas e separadas. Essa visão influenciou Husserl e
Max Weber.
(4) A cosmovisão produz a filosofia. Nessa perspectiva a filosofia não fundamenta
a cosmovisão, mas dá expressão cientifica a cosmovisão. É a posição de Dilthey.
(5) A cosmovisão e a filosofia. Nessa visão a filosofia é a verdadeira
weltanschauung cientifica. É a perspectiva de Engels sobre o materialismo
dialético
A perspectiva neo-calvinista tem sido de utilizar a noção de que a cosmovisão
produz a filosofia, associada ou não à (3), e negando ao mesmo tempo as propostas (2) e
(5).
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Como já dissemos, cada indivíduo sobre a face da terra, quer esteja consciente
disto ou não, possui uma cosmovisão. Portanto, são várias as cosmovisões, pois são
muitos os elementos que as determinam. A cosmovisão é como uma fita cassete que fica
tocando uma música dentro da mente da cada pessoa. A maioria de nós ainda não se deu
conta do nível de influência que esta percepção da realidade tem em nosso
comportamento, mas ela está muito presente e produz efeitos em todas as esferas da
vida.
Não só para realizar as tarefas básicas da igreja, evangelizando, discipulando e
defendendo a fé cristã, mas também para realizar o mandato cultural de forma efetiva e
transformadora, precisamos conhecer num nível profundo três cosmovisões: a nossa
própria, a daqueles a quem vamos servir, e a cosmovisão bíblica, que é aquela que
queremos transmitir, bem como a referência para a nossa própria.
Cada indivíduo possui a sua própria interpretação particular da realidade, como
vimos. Nesse sentido há tantas cosmovisões quanto são as cabeças. Mas há padrões que
se repetem na formação de qualquer cosmovisão. Assim, podemos tentar classificar as
cosmovisões.
Investigando o tema, percebemos que há diversas tipologias de cosmovisão, com
diferentes ênfases. Na verdade, temos razões para crer que até mesmo as diferenças
tipológicas refletem diferenças de cosmovisão!
Uma das primeiras classificações do ponto de vista cristão foi a realizada por
Kuyper, em suas Stone Lectures. Ele identificou quatro cosmovisões principais: o
Paganismo, o Romanismo, o Modernismo e o Calvinismo. O Paganismo corresponderia
às cosmovisões religiosas primitivas, anteriores ao advento da ciência. O Romanismo
seria uma tentativa de fundir o paganismo com o cristianismo. O Modernismo seria a
cosmovisão naturalista-científica da modernidade, e o Calvinismo a melhor expressão
moderna da cosmovisão cristã.
A tipologia de Kuyper foi posteriormente aprofundada e desenvolvida por
Dooyeweerd e Vollenhoven, na sua teoria dos Ground-Motives, ou “motivos-base” da
cultura ocidental. Vamos tratar dessa tipologia mais adiante.
A tipologia de Miller parece útil como análise dos padrões de pensamento que
encontramos na cultura ocidental hoje, tendo como vantagem principal a simplicidade.
No contexto brasileiro, ela retrata bem as tendências espiritualistas da religiosidade
popular, no caso da cosmovisão animista. Entretanto, por ser mais voltada para as
estruturas atuais de pensamento não fica clara a origem histórica desses padrões de
pensamento. Nesse sentido, a tipologia de Kuyper é claramente superior, ao indicar não
só os padrões de pensamento, mas também as origens de cada cosmovisão e as
civilizações que cada cosmovisão produziu.
Uma abordagem bem diferente é a seguida por James Sire, que identifica as
cosmovisões como movimentos intelectuais ou culturais que tiveram grande influência
na história, sem tentar forçá-los num padrão pré-definido. Assim, em concordância com
o título de sua obra principal sobre o assunto, Sire nos apresenta um “catálogo”, ou uma
listagem das cosmovisões principais, que também poderiam ser descritas como
“filosofias de vida”. Oito cosmovisões são apresentadas: o teísmo cristão, deísmo,
naturalismo, niilismo, existencialismo, monismo panteísta oriental, nova era e pós-
modernismo. Vamos apresentar abaixo cinco delas (excluindo o teísmo, o panteísmo e a
nova era):
pelas escrituras. A ética é limitada à revelação geral, pois sendo o cosmo normal, isso já
revela o que é certo. No entanto, tal premissa já destrói a própria ética, uma vez que o
que existe é o certo, não há como haver o mal. Isto levou os deístas a muitas crises, pois
como preservar a ética cristã com tal fundamento? Por fim, a história é linear, sendo o
curso do cosmo definido na criação, aí estão as regras da natureza, bem como o
conhecimento de Deus. No que diz respeito à finalidade, não há propósito, pois deus
não está interessado na humanidade.
4) O Existencialismo: surge antes do séc. XX, mas se consolida após o niilismo deste
período. O existencialismo ateísta surge como resposta ao naturalismo que levou ao
niilismo, já o existencialismo teísta, como uma reação à ortodoxia morta do
luteranismo.
O existencialismo ateísta aceita as seguintes proposições do naturalismo: A matéria
existe eternamente; deus não existe. O cosmo existe como uma uniformidade de causa e
efeito num sistema fechado. A história é uma corrente linear de eventos ligados por
causa e efeito, mas sem uma proposta abrangente. A ética está relacionada apenas aos
seres humanos. Porém, o existencialista muito mais, em relação ao naturalista, pelo ser
humano, bem como sobre como podemos ser significativos em um mundo
insignificante. Assim, mesmo sendo a realidade, primordialmente material, esta se
apresenta ao ser humano em duas formas: objetiva e subjetiva. A objetiva é exatamente
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não mostra como diferentes cosmovisões refletem condições religiosas mais profundas.
Além disso várias cosmovisões diferenciadas por ele (deísmo, naturalismo, niilismo,
existencialismo, pós-modernismo) podem ser descritas como variações dentro de um
padrão mais amplo que Miller descreve como “secularismo” e Kuyper como
“modernismo”. De certo modo, “existencialismo” e “niilismo” são mais “filosofias”
dentro de uma cosmovisão do que cosmovisões claramente distintas.
2
Essa forma de distinguir as cosmovisões foi proposta por D. T. H. Vollenhoven.
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vir em suas formas “pagãs” ou numa forma científica moderna. O Teísmo Bíblico
estabelece uma diferença qualitativa infinita entre o Criador e a criatura:
1) O Monismo Panteísta
consideramos que o mal é apenas uma ilusão a ser superada por meio de experiências
místicas?
2) Dualismo Pagão
Outro sistema dualista que influenciou muito o mundo antigo foi o dualismo
persa, presente no Zoroastrismo e no Maniqueísmo. Conforme essas religiões, há uma
luta incessante entre o bem e o mal, que são duas forças iguais e contrárias.
O sistema dualista que mais influenciou a nossa cultura foi o dualismo grego.
Em determinado ponto de sua história, os gregos começaram a ver o mundo como fruto
da união entre duas realidades distintas: a forma e a matéria. O mundo das formas era
também chamado de mundo das “idéias”. Esse era o mundo da mente ou do espírito; era
povoado pelas idéias perfeitas, governado pela razão. Já o mundo da matéria é um
mundo inferior, o mundo do caos, daquilo que é temporário e corruptível.
3
Clouser, Roy, The Myth of Religious Neutrality, p. 36.
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3) O Teísmo Bíblico
dualismo grego). A queda do homem lançou o mundo no caos. Assim, o mal existe, não
sendo uma ilusão (como no monismo), mas não pode ser identificado com uma criatura.
O mal é a corrupção que atinge as criaturas. Vamos examinar a perspectiva bíblica mais
detalhadamente mais adiante.
4) O Dualismo Natureza/Graça
até a moral, fossem consideradas parte da “esfera da natureza”, devendo seguir suas
próprias leis. E a fé em Cristo, a igreja, etc., seriam parte da esfera da graça, que é
adicionada à natureza. Sob influência dessa visão, os homens foram pouco a pouco
reivindicando em cada uma dessas áreas a liberdade de toda influência da “esfera da
graça”. A religião foi sendo tratada como uma questão “de igreja”, ou então “de foro
íntimo”, e sua influência sobre todas as questões “naturais” foi anulada. Na linguagem
de Francis Schaeffer, quando Tomás de Aquino deu liberdade à natureza, “a natureza
devorou a graça”.
5) O Dualismo Natureza/Liberdade
natureza, como um produto do mecanismo evolutivo. Mas se isso for verdade, o homem
não pode ser realmente livre!
Ou seja: na busca desenfreada por liberdade, o homem moderno construiu uma
ciência naturalista que a cada dia nega que o homem tenha qualquer liberdade. Assim,
no evolucionismo, o homem é meramente o produto da evolução biológica; no
socialismo marxista, o homem é meramente produto do sistema econômico; em várias
teorias sociológicas, o homem é produto da sociedade; para muitos psicólogos, o
homem é produto de seu subconsciente.
Os efeitos dessa perspectiva estão entre nós. Vivemos numa sociedade que
acredita ser possível construir a liberdade, e assim, a felicidade humana por meio da
ciência. Há vários exemplos disso. Nas relações afetivas, por exemplo. O homem
moderno considera o casamento e a família tradicional como obstáculos à liberdade.
Assim, a família tradicional foi bombardeada de todos os lados: mudanças na legislação,
ridicularização na mídia cultural, estudos acadêmicos que a consideram um obstáculo
para o desenvolvimento humano. Em lugar da família tradicional, propõe-se a liberdade
para o indivíduo construir seus relacionamentos. Modelos novos de família, como as
famílias matriarcais, ou abertas, ou famílias compostas (fruto de vários casamentos),
famílias homossexuais, etc., são defendidos como formas válidas.
Temos assim uma “reengenharia da família”, na qual psicólogos, sociólogos,
sexólogos, e legisladores buscam construir artificialmente, por meio de controle
científico racional, sistemas humanos mais humanos. O efeito disso, no entanto, é
impossível de esconder. Os casamentos duram cada vez menos, e os filhos desses
relacionamentos desenvolvem distúrbios psicológicos e morais. O custo financeiro
desses divórcios é enorme, bem como o custo psicológico. As pessoas vivem cada vez
mais sós e assim tornam-se cada vez mais consumistas, favorecendo o sistema
capitalista de exploração. A quantidade de mães solteiras aumenta assustadoramente, e a
liberdade sexual dificulta o controle de doenças ao mesmo tempo em que alimenta redes
de prostituição e pornografia, geralmente associadas ao consumo de drogas.
As pessoas mergulhadas no sistema moderno de vida e pensamento vivem
existências intensamente contraditórias. Permanecem o tempo todo numa intensa fúria
libertária, buscando se livrar de tudo que as “oprime”: leis morais, família, tradições
religiosas, governo, leis da natureza, envelhecimento, dor, etc. Mas no processo, negam
sua própria liberdade; tornam-se elas mesmas parafusos da grande máquina.
católicos marxistas, por exemplo, ou católicos que defendem valores morais totalmente
anticristãos.
Além dos católicos, que são tipicamente dualistas, há aquelas pessoas altamente
secularizadas, que tem uma visão de mundo completamente naturalista. Para essas
pessoas, o homem é meramente produto de forças naturais+tempo+acaso. Elas
acreditam que o futuro do homem está na ciência. Através de melhor tecnologia, de
administração pública justa e educação de alta qualidade, todos os problemas humanos
podem ser resolvidos. Elas vivem na religião do controle tecnológico.
Essas pessoas geralmente não são muito conscientes da contradição em que
vivem. Elas são otimistas quanto ao poder da ciência de resolver seus problemas.
Eventualmente, no entanto, elas experimentam, através de uma experiência religiosa, ou
através de uma desventura qualquer, a percepção de que suas vidas nesses sistema não
fazem sentido nenhum. Para atingir essas pessoas, é preciso mostrar a elas que se tudo o
que somos é pó e acaso, não podemos dizer que existe de fato o bem, ou o mal, ou a
beleza, ou a justiça, ou a racionalidade; e que a vida delas não passa de um esforço
inútil.
O que devemos pensar de religiões como o espiritismo, que cresce bastante no
Brasil? O espiritismo é um tipo de dualismo pagão, pois segundo ele a essência no
homem é o espírito imaterial. O corpo não é da essência do homem. Tanto que um único
espírito pode passar por vários corpos. Trata-se, assim, de uma perspectiva dualista.
Por isso mesmo, o espiritismo não pode se tornar uma visão integrada da
realidade. Ele não pode dar respostas a questões concretas da vida, como a política, a
filosofia, a ciência, a economia, a moralidade (até certo ponto), a arte. Entretanto, essa é
a sua força. Ao fornecer uma espiritualidade para o indivíduo moderno, sem entrar
necessariamente em choque com a cultura moderna, o espiritismo torna-se uma religião
bastante confortável. O indivíduo pode ser altamente secularizado, aplicando as
pespectivas humanistas em todas as áreas da vida e vivendo a religião do controle
tecnológico, e manter simultaneamente a crença num mundo espiritual, numa
retribuição futura, permitindo que essa crença afete no máximo sua ética pessoal e sua
vida psíquica.
E quanto aos evangélicos? A fé evangélica tem suas origens na reforma, que foi
um movimento cristão integral, nem dualista, nem monista. Entretanto, a igreja
evangélica também foi infectada pelo dualismo católico natureza/graça. Isso não está
presente apenas na teologia de algumas igrejas evangélicas, como os Luteranos e os
Metodistas. A grande maioria dos cristãos evangélicos hoje tende a pensar que temos
uma vida “espiritual”, com Deus, e uma vida “secular”. Esse dualismo é fácil de
perceber: basta perguntar se os crentes tem desenvolvido um pensamento filosófico
cristão, ou uma ação política ideologicamente cristã, ou se tem fundado ongs cristãs.
Para sermos justos, é preciso admitir que os evangélicos tem feito muitas coisas
ultimamente. O movimento de Escolas Cristãs, por exemplo, expressa o ideal de uma
educação cristã e de uma cultura cristã. Mas há muitas áreas ainda sem ser tocadas. Não
temos arte cristã, por exemplo. Temos arte sacra (música religiosa); mas arte cristã não.
A Igreja evangélica brasileira precisa de Reforma. Ela precisa deixar de ser uma
religião de fim de semana e se transformar num sistema total de vida e pensamento.
4
Para mais detalhes sobre o conteúdo, a partir deste Item, vejam: CUNHA, Maurício José Silva. (2003).
O reino entre nós: transformação de comunidades pelo evangelho integral. Viçosa: Ultimato.
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Nós sabemos que a Bíblia traz respostas a todas estas fundamentais. E é parte da
missão cristã a correção dessas as crenças (cosmovisão) falsas, com suas conseqüências
deletérias, pela Verdade de Deus, que traz vida e crescimento. Uma reforma plena da
vida e da sociedade depende de uma transformação radical em nossos padrões de
pensamento:
E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso
entendimento,...Rm.12:02a
Pois os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os
meus caminhos, diz o Senhor. Is.55:08.
CONSEQUÊNCIAS
(frutos)
COMPORTAMENTO
(galhos)
VALORES
(tronco)
CRENÇAS
(raiz)
PRINCÍPIO RELIGIOSO
(Terreno)
Nível da crença - vamos supor que um grupo de indivíduos tem uma crença
comum acerca do trabalho: “o trabalho é uma maldição.” Esta crença pode ser expressa
de diversas formas. Muitas vezes, ela pode ser verbalizada diretamente pelos membros
da comunidade. Algumas vezes ela é inconsciente, e pode ser vista apenas nas
entrelinhas. Geralmente, as crenças de uma cultura se percebem na forma das pessoas
agirem, na música que o povo canta, nas artes, nas leis, na literatura, nos heróis e ídolos
do povo.
Que tipo de valores esta crença gera?
no século XVI o conceito de “chamado” para todos os cristãos, segundo o qual cada
pessoa é chamada e exercer o seu trabalho com um senso de chamado pessoal e para a
glória de Deus, fazendo para ele o melhor. O trabalho é, portanto, uma bênção. Esta
ética foi uma das grandes responsáveis pelo enorme desenvolvimento alcançado pelos
países mais influenciados pela reforma protestante.
- você vale aquilo que tem (perspectiva materialista – a realidade física é a primordial,
o meu objetivo na vida é conseguir ter coisas. “Comamos e bebamos, que amanhã
morreremos”. Muito presente no moderno ocidente e de influência crescente no
Brasil.)
- pau que nasce torto morre torto (origem no fatalismo – o meu destino está pré-
determinado “nas estrelas” ou pelos “deuses”. Não há nada que eu possa fazer para
mudá-lo, devo apenas aceitar passivamente aquilo que me está determinado, mesmo
o mal. Carma. Não abre espaço para a mudança, a reinvidicação, o
desenvolvimento. O fatalismo é parte da cosmovisão animista e também de algumas
formas de secularismo.)
- …é coisa do destino…(paganismo)
em valor. Deus nos fez assim. Os inferiores devem, de algum modo, servir aos
superiores. As mulheres são mais pecaminosas que o os homens. Embora
concepções como estas raramente sejam verbalizadas, até porque já são
consideradas crime no Brasil, manifestam-se claramente no dia a dia da vida
nacional, no machismo, na violência contra a mulher, no apartheid social brasileiro)
Queremos esclarecer que nosso objetivo aqui não é esgotar cientificamente esta
problemática, mas apenas gerar o início de uma consciência na Igreja para lidar com
estas questões. Para uma análise científica mais aprofundada, faz-se necessário a
aplicação de ensaios sociológicos que possam averiguar se estas mentiras são de fato
universalmente aceitas.
No entanto, é óbvio que estas mentiras têm trazido consequências tristes para a
nossa nação.