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Brasília, 04 a 08 de novembro de 1996 - Nº

52
Data (páginas internas): 13 de novembro de
1996

Este Informativo, elaborado pela


Assessoria da Presidência do STF a partir de
notas tomadas nas sessões de julgamento das
Turmas e do Plenário, contém resumos não-
oficiais de decisões proferidas na semana pelo
Tribunal. A fidelidade de tais resumos ao
conteúdo efetivo das decisões, embora seja
uma das metas perseguidas neste trabalho,
somente poderá ser aferida após a sua
publicação no Diário da Justiça.

ÍNDICE DE ASSUNTOS
Cálculo de Benefício Previdenciário
Cálculo de Remuneração e Teto
Competência da Justiça Estadual
Convocação de Juízes
Criação de Cargos Públicos
Estabilização no Serviço Público
Legitimidade para ADIn
Loteamento Irregular
Prazo para Recurso de Assistente
Prequestionamento
Publicação de Pauta e Nulidade
Sigilo de Comunicação de Dados
Traslado de Peça Obrigatória
Violência Presumida e Estupro

PLENÁRIO
Sigilo de Comunicação de Dados
Admitindo embora a relevância da tese defendida pela
autora da ação direta, o Tribunal indeferiu, por falta de
demonstração do periculum in mora, a medida cautelar
requerida pela Associação dos Delegados de Polícia do
Brasil - ADEPOL, contra o par. único do art. 1º da Lei
9296/96, que regulamenta o art. 5º, XII, da CF (“é inviolável
o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo,
no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma
que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal;”). Sustenta-se que a norma
impugnada, ao permitir a “interceptação do fluxo de
comunicações em sistemas de informática e telemática”,
estaria ofendendo o citado dispositivo constitucional, que,
segundo a autora, só autoriza a quebra de sigilo das
comunicações telefônicas. ADIn 1.488-UF, rel. Min. Néri da
Silveira, 07.11.96.

Criação de Cargos Públicos


Indeferida cautelar em ação direta ajuizada pelo
Governador do Estado de Pernambuco contra lei
complementar estadual que, disciplinando a situação dos
servidores locais estabilizados por força do art. 19 do ADCT,
determina a transformação das funções e empregos ocupados
por esses servidores no âmbito do Poder Executivo,
autarquias e fundações públicas, em cargos públicos de
provimento efetivo e em comissão. Na sessão em que teve
início o julgamento da medida cautelar (14.08.96), o
Tribunal deferiu a suspensão de eficácia de dispositivo dessa
mesma lei complementar que prevê a “ascensão” definida
como “passagem do servidor de classe do nível básico para
a primeira de nível médio e de classe deste para a primeira
do nível superior” como forma de provimento derivado de
cargo público. ADIn 1.476-PE, rel. Min. Carlos Velloso,
07.11.96.

Legitimidade para ADIn


A Confederação Nacional dos Transportes - CNT, sendo
constituída por entes sindicais e não sindicais, não pode ser
definida como “confederação sindical”, nem como
“entidade de classe de âmbito nacional”, para o fim de
legitimar-se à propositura da ação direta de
inconstitucionalidade (CF, art. 103, IX). Com esse
fundamento, o Tribunal não conheceu de ação direta
ajuizada por essa pessoa jurídica contra a lei gaúcha que
“torna obrigatório o trânsito com faróis baixos ligados dos
veículos automotores de qualquer categoria nas rodovias do
território do Rio Grande do Sul durante o dia”. Precedentes
citados: ADIn 433-DF (RTJ 138/421); ADIn 444-DF (RTJ
137/82); ADIn 705-SC (RTJ 152/782); ADIn 706-MG (RTJ
142/401); ADIn 853-DF (RTJ 150/488). ADIn 1.479-RS, rel.
Min. Moreira Alves, 07.11.96.

Cálculo de Remuneração e Teto - 1


Concluindo o julgamento de medida cautelar em ação
direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Conselho
Federal da OAB contra a Emenda nº 21/95 à Constituição do
Estado do Ceará, o Tribunal decidiu, por unanimidade,
conferir interpretação conforme à Constituição ao preceito
que determinava a adoção, até 1º de março de 1996, das
medidas necessárias à modificação da forma de cálculo da
remuneração dos servidores da Administração Direta,
autarquias e fundações públicas, a fim de que cada uma das
vantagens por eles percebidas incida exclusivamente sobre o
vencimento base ou soldo. Suspendeu-se, desse modo, na
norma impugnada, a eficácia de “outras interpretações que
impliquem alcançar situações concretas existentes à data em
que entrou em vigor a Emenda Constitucional”.

Cálculo de Remuneração e Teto - 2


Quanto ao preceito que exclui do limite máximo de
remuneração “somente a progressão funcional por tempo de
serviço, o salário família e o adicional de férias”, o
Tribunal, por maioria, considerou relevante a argüição de
inconstitucionalidade deduzida pelo autor da ação, no sentido
de que a utilização do advérbio “somente” permitiria a
inclusão no teto de outras vantagens de caráter pessoal, em
contradição com o entendimento firmado pela jurisprudência
do STF. Sendo impossível, no entanto, a suspensão de
eficácia apenas do citado advérbio pois, se o fizesse, o
Tribunal estaria modificando a norma impugnada, e não
simplesmente, como lhe compete, fiscalizando a sua
constitucionalidade , a cautelar foi deferida em relação a todo
o dispositivo. Vencidos os Ministros Marco Aurélio, Octavio
Gallotti e Néri da Silveira. Precedentes citados: RE 141788-
CE (RTJ 152/243); ADIn 14-DF (RTJ 130/475); ADIn 356-
RO (RTJ 133/557); RMS 21840-DF (DJ de 04.11.94); RE
160860-PR (DJ de 15.12.95). ADIn 1.443-CE, rel. Min.
Marco Aurélio, 06.11.96.

Cálculo de Benefício Previdenciário


Iniciado julgamento de recurso extraordinário em que se
discute sobre a auto-aplicabilidade das normas da CF que
determinam a correção monetária dos salários de
contribuição considerados no cálculo de benefícios
previdenciários (CF, art. 201, § 3º, e 202, caput). O Min.
Marco Aurélio, relator, entendendo que essas normas são
auto-aplicáveis, declarou a inconstitucionalidade da parte
final do par. único do art. 144 da Lei 8213/91, que afasta o
pagamento de quaisquer diferenças decorrentes da aplicação
do caput “Até 1º de junho de 1992, todos os benefícios de
prestação continuada concedidos pela Previdência Social,
entre 5 de outubro de 1988 e 5 de abril de 1991, devem ter
sua renda mensal inicial recalculada e reajustada, de
acordo com as regras estabelecidas nesta lei.” ,
relativamente às competências de outubro de 1988 a maio de
1992. O julgamento foi suspenso em virtude de pedido de
vista do Min. Maurício Corrêa. RE 193.456-RS, rel. Min.
Marco Aurélio, 06.11.96.

PRIMEIRA TURMA
Loteamento Irregular
Sendo permanente, e não instantâneo, o crime previsto
no art. 50, I, da Lei 6766/79 (“dar início, de qualquer modo,
ou efetuar loteamento ou desmembramento do solo para fins
urbanos, sem autorização do órgão público competente, ou
em desacordo com as disposições desta lei ou das normas
pertinentes do Distrito Federal, Estados e Municípios;”), o
prazo prescricional somente se inicia com a cessação da
permanência. Com esse fundamento, a Turma indeferiu
habeas corpus impetrado sob a alegação de que a prescrição
começaria a correr da data em que praticado o primeiro ato
típico. HC 74.413-SP, rel. Min. Octavio Gallotti, 05.11.96.

Prazo para Recurso de Assistente


O prazo para o assistente habilitado recorrer
supletivamente é de cinco dias, e não de quinze como prevê,
para o assistente não habilitado, o art. 598 e par. único do
CPP. Não sendo razoável que o assistente habilitado
disponha de prazo superior ao do Ministério Público, aplica-
se-lhe a regra geral do art. 593 do CPP (“Caberá apelação,
no prazo de cinco dias: ...”). Com base nesse entendimento,
a Turma deferiu pedido de habeas corpus para anular
condenação imposta ao paciente pelo Tribunal de Justiça do
Pará, em acórdão que dera provimento a apelação interposta
por assistente habilitado, no décimo dia após a data da
ciência da sentença absolutória. Precedentes citados: HC
50417- (RTJ 68/604); HC 59668-RJ (RTJ 105/90); HC
69439-RJ (DJ de 24.11.92). HC 74.242-PA, rel. Min.
Octavio Gallotti, 05.11.96.

Prequestionamento
Ainda que a matéria a ser suscitada no recurso
extraordinário tenha surgido, de modo implícito, no
julgamento da apelação, faz-se necessária a oposição de
embargos declaratórios para afastar a incidência da Súmula
356 do STF (“O ponto omisso da decisão, sobre o qual não
foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto
de recurso extraordinário, por faltar o requisito do
prequestionamento.”). AI 181.802-MG (AgRg), rel. Min.
Moreira Alves, 05.11.96.

Traslado de Peça Obrigatória


Cuidando-se de agravo contra o indeferimento de recurso
extraordinário, a falta nos autos principais de peça cujo
traslado a lei considera obrigatório deve ser comprovada
desde logo pelo agravante, mediante certidão expedida pela
secretaria do tribunal a quo. Com esse entendimento, a
Turma confirmou despacho do relator que negara
seguimento a agravo de cujo instrumento não constava a
cópia da procuração do advogado do agravado. AI 184.295-
SP, rel. Min. Moreira Alves, 05.11.96.

Estabilização no Serviço Público


O art. 19 do ACDT (“Os servidores públicos civis da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
da administração direta, autárquica e das fundações
públicas, em exercício na data da promulgação da
Constituição, há pelo menos cinco anos continuados, e que
não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37 da
Constituição, são considerados estáveis no serviço
público.”) não abrange a situação dos servidores cujo
vínculo jurídico com qualquer das pessoas jurídicas nele
relacionadas haja sofrido interrupção nos cinco anos a que
alude o dispositivo. Com base nesse entendimento, a Turma
confirmou decisão do Tribunal de Justiça do Estado de
Minas Gerais que julgara improcedente ação ordinária
ajuizada por professoras auxiliares e serventes escolares do
Estado visando à declaração de sua estabilidade (o acórdão
recorrido registra o fato de que “todas as autoras tiveram
interrupções de contrato, por intervalos acima de, pelo
menos, 30 dias e fora das épocas das férias escolares”.). RE
154.258-MG, rel. Min. Moreira Alves, 05.11.96.

SEGUNDA TURMA
Convocação de Juízes
Iniciado o julgamento de habeas corpus em que se
discute sobre a legalidade da convocação de juízes para
integrar câmara de tribunal, por ato do presidente da corte
posteriormente referendado pela maioria do plenário. Após o
voto do Min. Marco Aurélio, relator, deferindo a ordem ao
fundamento de que a convocação deveria ter observado a
forma prevista no art. 118 da LOMAN [“Em caso de vaga
ou afastamento, por prazo superior a 30 dias, de membro
dos Tribunais Superiores, dos Tribunais Regionais, dos
Tribunais de Justiça e dos Tribunais de Alçada, poderão ser
convocados (mediante sorteio) juízes, em substituição
escolhidos por decisão da maioria absoluta do Tribunal
respectivo, ou, se houver, de seu Órgão Especial."], o
julgamento foi adiado em virtude de pedido de vista do Min.
Maurício Corrêa. HC 74.440-RS, rel. Min. Marco Aurélio,
05.11.96.

Violência Presumida e Estupro


Rejeitados embargos de declaração opostos pelo
Ministério Público Federal na qualidade de custos legis à
decisão pela qual a Turma, em julgamento de habeas corpus,
deferira o trancamento da ação penal movida contra o
paciente pelo crime de estupro contra menor de 14 anos, ao
fundamento de que a presunção de violência do art. 214 do
CP não é absoluta (os votos dos Ministros Marco Aurélio,
vencedor, e Néri da Silveira, vencido, foram publicados no
Informativo nº 34). Baseavam-se os embargos no argumento
de que, havendo o acórdão embargado considerado válido o
consentimento da menor, não poderia, ao mesmo tempo, sob
pena de incorrer em contradição, admitir a ocorrência de erro
de tipo, uma vez que este, embora exclua o dolo, pressupõe a
antijuridicidade da conduta. HC 73.662-MG (EDcl), rel.
Min. Marco Aurélio, 05.11.96.

Publicação de Pauta e Nulidade


Não há cerceamento do direito de defesa no fato de
o julgamento de recurso extraordinário haver ocorrido quase
dois anos após a publicação da pauta respectiva. Com esse
fundamento, a Turma rejeitou, por maioria de votos,
preliminar de nulidade suscitada em embargos declaratórios
opostos pela parte que interpusera o recurso, vencido o Min.
Marco Aurélio, que, à vista do tempo decorrido entre a
publicação da pauta e o julgamento do recurso, anulava o
acórdão embargado por entender que o RE deveria ter sido
incluído novamente em pauta. RE 144.971-DF (EDcl), rel.
Min. Carlos Velloso, 05.11.96.
Competência da Justiça Estadual
Tratando-se de crimes contra o sistema financeiro e a
ordem econômico-financeira, a regra de competência
aplicável é a do inciso VI do art. 109 da CF (“Aos juízes
federais compete processar e julgar: VI - os crimes contra a
organização do trabalho e, nos casos determinados por lei,
contra o sistema financeiro e a ordem econômico-
financeira”), não a do inciso IV do mesmo dispositivo (“IV -
os crimes políticos e as infrações penais praticadas em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União...”).
Desse modo, à falta de previsão legal expressa atribuindo à
Justiça Federal a competência para o julgamento dos
referidos delitos, essa competência será da Justiça Estadual.
Com esse fundamento, a Turma não conheceu de recurso
extraordinário interposto pelo Ministério Público Federal, no
qual se pretendia ver reconhecida a competência da Justiça
Federal para julgar o crime de gestão fraudulenta de
estabelecimentos bancários (Lei 1.521/51, art. 3º, VI, VII, IX
e X) e o resultante da infração ao art. 34, I, da Lei 4595/64
(“É vedado às instituições financeiras conceder
empréstimos ou adiantamentos: I - a seus diretores e
membros dos conselhos consultivo ou administrativo, fiscais
e semelhantes, bem como aos respectivos cônjuges;”). RE
198.488-SP, rel. Min. Carlos Velloso, 05.11.96.

P R E C E D E N T E S
citados

ADIn 433-DF
RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
Ação direta de inconstitucionalidade. Questão de ordem
sobre a legitimação ativa.
- Nenhuma das autoras tem legitimação para propor ação
direta de inconstitucionalidade.
- A Federação Nacional dos Sindicatos e Associações de
Trabalhadores da Justiça do Trabalho, pelo seu hibridismo
(congrega
sindicatos e associações), não é entidade sindical, e, se o fosse, não
seria uma Confederação sindical, que, como já se firmou a
jurisprudência deste Tribunal, é o órgão sindical que tem legitimação
ativa em ação direta de inconstitucionalidade. Por outro lado, não é
ela também entidade de classe, pois, ainda que se entendesse que os
servidores da Justiça do Trabalho são uma classe profissional,
federação de sindicatos e de associações não tem como associados
os integrantes da classe (os servidores), mas é uma associação
de associações, e, portanto, representa estas e não os membros
desta, os quais formam a classe.
- O Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Distrito
Federal, embora organização sindical, não e Confederação
sindical, que e o órgão sindical legitimado para propor ação
direta de inconstitucionalidade.
- A Confederação Democrática dos Trabalhadores no Serviço
Público Federal não é Confederação sindical, porque não está
organizada com a observância dos requisitos estabelecidos pela
C.L.T., nem é entidade de classe de âmbito nacional porque não
tem como associados os membros da classe que são os servidores
públicos federais, mas, sim, pessoas jurídicas, como ocorre com a
primeira das litisconsortes ativas.
Ação direta de inconstitucionalidade que não se conhece por
falta de legitimação ativa das autoras.

RE 141.788-CE
RELATOR: MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE
EMENTA - I. Recurso extraordinário: prequestionamento:
irrelevância da ausência de menção dos dispositivos
constitucionais atinentes aos temas versados.
1. O prequestionamento para o RE não reclama que o
preceito constitucional invocado pelo recorrente tenha sido
explicitamente referido pelo acórdão, mas, sim, que este tenha
versado inequivocamente a matéria objeto da norma que nele se
contenha.
2. É de receber-se com cautela a assertiva de que a
fundamentação do voto vencido é irrelevante para a satisfação do
requisito do prequestionamento: quando é patente a identidade das
questões constitucionais resolvidas, de modo diametralmente
oposto, pelo acórdão recorrido, de um lado, e pelo voto vencido, de
outro, a invocação expressa pelo voto dissidente dos
dispositivos constitucionais pertinentes às indagações que
também o acórdão enfrentou e resolveu é a melhor prova de que a
maioria do Tribunal não fez abstração de ditas normas, mas,
sim, que lhes deu inteligência diversa.
II. Vencimentos do Ministério Público estadual: teto:
imunidade a sua incidência das vantagens de caráter individual,
ainda que incorporadas.
1. Na ADIn 14, de 28.9.89, Célio Borja, RTJ 130/475, o STF -
embora sem confundir o campo normativo do art. 37, XI, com o do
art. 39, § 1º, da Constituição - extraiu, da inteligência conjugada dos
incisos XI e XII do art. 37, a aplicabilidade, para fins de cálculo
dos vencimentos sujeitos ao teto, do mesmo critério do art. 39, § 1º,
para fins de isonomia, isto é, o de isentar do cotejo as vantagens de
caráter individual.
2. Para esse efeito, constitui vantagem pessoal, e não
vencimento, a retribuição percebida pelo titular de um cargo, não
em razão do exercício dele, mas, sim, em virtude do exercício
anterior de cargo diverso; a chamada incorporação ao vencimento
da parcela correspondente não tem o efeito de alterar-lhe a natureza
originária, transmudando-a em vencimento, mas apenas o de
assegurar-lhe tratamento equivalente ao do vencimento-base,
assim, por exemplo, para somar-se a esse e compor a base de
cálculo de outras vantagens, que sobre ele devam ser calculados, ou
para a aferição do valor dos proventos da aposentadoria;
conseqüências essas, cuja compatibilidade com o art. 37, XIV, CF,
não se impugnou no caso.
3. Na técnica do recurso extraordinário, quando o acórdão
recorrido tem mais de um fundamento suficiente - tanto quanto a
falta de impugnação de qualquer um deles pelo recorrente (Sum.
283) - a confirmação de um pelo STF leva ao não conhecimento do
RE, ainda que o Tribunal não avalize o outro: irrelevante, assim,
no caso, a contestação do recorrente à negativa, pelo acórdão
recorrido, da integração do Ministério Público no Poder Executivo
e conseqüente submissão dos vencimentos dos seus membros a
remuneração dos Secretários de Estado (considerações teóricas a
respeito).

HC-69.439-RJ
RELATOR: MIN. NÉRI DA SILVEIRA
EMENTA: "HABEAS CORPUS". Réu absolvido pelo Tribunal
do Júri. Assistente habilitado, desde o início do processo, que
participou dos trabalhos do júri, ao lado do MP, sendo ambos
intimados da sentença, em plenário. O MP não recorreu. O assistente
apelou no décimo quarto dia, após a intimação. Alegação de
intempestividade do recurso, que foi provido pelo Tribunal, para
submeter o paciente a novo julgamento. Distinção quando o
assistente está habilitado ou não no processo. Código de Processo
Penal, art. 598 e parágrafo único. Se o assistente está habilitado no
processo, o prazo para recorrer é de cinco dias, não se aplicando à
hipótese o parágrafo único do art. 598 do Código de Processo Penal,
devendo ser intimado da sentença. Se o assistente não estiver
habilitado no processo, aplica-se o disposto no parágrafo único do
art. 598 do Código de Processo Penal, sendo o prazo para
interposição do recurso de quinze dias e correrá do dia em que
terminar o do Ministério Público. Precedentes do STF. No caso
concreto, estando habilitado o assistente, foi intempestivo o recurso
interposto no décimo quarto dia após a intimação, em plenário,
juntamente com o MP. "Habeas corpus" deferido, para cassar o
acórdão que anulou a decisão do Júri determinando fosse o paciente
submetido a novo julgamento, ficando, em conseqüência, restaurada
a sentença absolutória.

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos

Pleno 06.11.96 07.11.96 13


1ª Turma 05.11.96 ------ 142
2ª Turma 05.11.96 ------ 10
CLIPPING DO DJ
8 de novembro de 1996

ADIn N. 297-0
RELATOR: MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - Ação direta de inconstitucionalidade por omissão,
de que não se conhece, por ser auto-aplicável o dispositivo
constitucional (art. 20 do ADCT), cuja possibilidade de
cumprimento pretende o Requerente ver suprida.

HABEAS CORPUS N. 71941-4


RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO
QUALIFICADO. JÚRI. QUESITO. COMPLEXIDADE.
NULIDADE.
1. Não motiva nulidade da decisão se o quesito formulado
perante o Tribunal do Júri, embora abrangendo duas teses distintas
da defesa, permitiu fosse conhecida a vontade dos jurados.
2. Ademais, não se tratando de quesito obrigatório e não tendo
ocorrido sua impugnação em momento oportuno, sanado ficou o
defeito de formulação que não causou prejuízo à defesa.
3. "Habeas corpus" conhecido, mas indeferido.

HABEAS CORPUS N. 73079-5


RELATOR: MIN. SYDNEY SANCHES
EMENTA: - (...)
1. Não compete, originariamente, ao S.T.F. processar e julgar
pedido de "habeas corpus", que vise à concessão de indulto, em
favor de paciente que não goze de prerrogativa desse foro.
2. Essa competência é do Juízo da Execução, ainda que a
condenação não tenha transitado em julgado. Precedente: "H.C."
71.691.
3. "Habeas Corpus" conhecido, em parte, e, nessa parte, deferido
para anulação dos acórdãos que haviam fixado a competência do
Juízo prolator da sentença condenatória para apreciação do pedido
de indulto. Determinação de que tal pedido seja examinado pelo
Juízo da Execução.

HABEAS CORPUS N. 73611-4


RELATOR: MIN. SYDNEY SANCHES
EMENTA: (...)
1. Embora não podendo participar do julgamento da Exceção de
Suspeição, por nela figurarem como Exceptos, não estão estes,
depois de rejeitada tal argüição, impedidos de participar dos demais
atos do processo.
2. Nulidade inocorrente.
3. "H.C." indeferido.

HABEAS CORPUS N. 73641-6


RELATOR: MIN. NÉRI DA SILVEIRA
EMENTA: - Habeas Corpus. Júri. Anulação do julgamento
pelo Tribunal de Justiça. 2. O paciente foi condenado por
homicídio qualificado consumado e por homicídio tentado.
Recorreu da decisão do Júri, tão-só, quanto à condenação pelo
homicídio consumado. 3. Quanto à condenação por homicídio
tentado, não houve apelação nem do Ministério Público, nem do
réu, ora paciente. 4. O Tribunal anulou o julgamento
amplamente, por vício formal, determinando que o réu fosse
submetido a novo pronunciamento do Júri, também de referência
ao homicídio tentado. 5. Alegação, no habeas corpus, de
"reformatio in pejus". 6. A apelação do réu ensejava à Corte
julgadora anular o julgamento no que se referia à condenação por
homicídio qualificado consumado. Ao determinar, entretanto, o
Tribunal local a renovação integral do julgamento, pelo Júri,
também quanto ao crime tentado, contra cuja condenação não
houve apelação, ultrapassou os limites do recurso. 7. Na inicial
o impetrante alega que houve "reformatio in pejus", pois a decisão
prejudica ao paciente. 8. Habeas Corpus deferido para, cassando
em parte o acórdão referente à apelação criminal, afastar a
determinação de o paciente ser submetido a novo julgamento pelo
Júri, quanto ao homicídio tentado.

HABEAS CORPUS N. 73884-2


RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: (...)
I. - A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que,
prevendo o tipo penal os índices mínimo e máximo para o
agravamento da pena, em decorrência de causa especial de aumento,
não pode a sentença adotar o índice máximo sem fundamentação
específica.
II. - Anula-se, no caso, o acórdão e a sentença, no ponto em que foi
fixada a pena, para que, mantida a condenação, seja a pena fixada
com a devida fundamentação.
III. - H.C. deferido.

HABEAS CORPUS N. 73920-2


RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS
CORPUS. MILITAR CONDENADO PELA JUSTIÇA
CASTRENSE. RECOLHIMENTO A ESTABELECIMENTO
PRISIONAL MILITAR. REGIME DE CUMPRIMENTO DA
PENA. LEI 7.210/84, ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO.
I. - A Lei 7.210/84 (Lei de Execução Penal) só se aplica aos
apenados pela Justiça Militar quando recolhidos a estabelecimento
prisional sujeito à jurisdição ordinária.
II. - H.C. indeferido.

HABEAS CORPUS N. 73980-6


RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: - "Habeas corpus";
- Ambas as Turmas desta Corte - assim, a Primeira no HC 68.847 e a
Segunda no HC 72.897 - têm entendido que, se na sentença
condenatória que transitou em julgado, for fixado o regime fechado
para o início do cumprimento da pena, apesar de a lei determinar que
a pena imposta a crime hediondo será cumprida integralmente em
regime fechado, tem o réu o direito à progressão da pena por não
poder, em virtude do trânsito em julgado, ser alterada a sentença
nesse ponto, em prejuízo do réu.
"Habeas corpus" deferido.

HABEAS CORPUS N. 74263-7


RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: (...)
I. - O defensor público, ou quem exercer cargo equivalente, deverá
ser intimado pessoalmente do acórdão que negou provimento ao
recurso do réu, sob pena de nulidade (Lei 1.060/50, art. 5º, § 5º, com
a redação dada pela Lei 7.871/89).
II. - HC deferido.

HABEAS CORPUS N. 74374-9


RELATOR: MIN. SYDNEY SANCHES
EMENTA: (...)
1. "O artigo 623 do Código de Processo Penal - que permite que o
próprio réu requeira a revisão criminal - não foi derrogado pelo
artigo 1º, I, da Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994". Precedente:
"H.C" nº 72.981.
2. "Habeas Corpus" deferido para se determinar que o Tribunal de
Justiça conheça do pedido de Revisão Criminal, formulado pelo
próprio réu.

MANDADO DE SEGURANCA N. 21644-1


RELATOR: MIN. NÉRI DA SILVEIRA
EMENTA: - Mandado de segurança. Tribunal de Contas da
União. 2. Prestação de contas referente à aplicação de valores
recebidos de entidades da administração indireta, destinados a
Programa Assistencial de Servidores de Ministério, em período em
que o impetrante era Presidente da Associação dos Servidores do
Ministério. 3. O dever de prestar contas, no caso, não é da entidade,
mas da pessoa física responsável por bens e valores públicos, seja
ele agente público ou não. 4. Embora a entidade seja de direito
privado, sujeita-se à fiscalização do Estado, pois recebe recursos de
origem estatal, e seus dirigentes hão de prestar contas dos valores
recebidos; quem gere dinheiro público ou administra bens ou
interesses da comunidade deve contas ao órgão competente para a
fiscalização. 5. Hipótese de competência do Tribunal de Contas da
União para julgar a matéria em causa, a teor do art. 71, II, da
Constituição, havendo apuração dos fatos em procedimentos de
fiscalização, assegurada ao impetrante ampla defesa. 6. Regimento
Interno do Tribunal de Contas da União, arts. 9º, §§ 1º e 8º, 119 e
121. Pauta Especial de julgamento publicada com inclusão do
processo em referência. 7. Não cabe rediscutir fatos e provas, em
mandado de segurança. 8. Mandado de segurança indeferido.

RECLAMACAO N. 514-3 (AgRg)


RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: (...)
1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal - desde a decisão
plenária do AGRMI nº 372-SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, in
RTJ 139/48 - permanece inalterada no sentido de não conhecer de
recursos remetidos via fax, dentro do prazo recursal, mesmo quando,
como ocorre no caso, a protocolização do original tenha ocorrido no
dia seguinte ao termo final do prazo.
2. Agravo regimental não conhecido, por maioria de 6 (seis) votos
contra 3 (três).

RE N. 97693-1
RELATOR: MIN. NÉRI DA SILVEIRA
EMENTA - Recurso extraordinário. 2. Decreto municipal que
declarou de utilidade pública, para desapropriação, teremos e
benfeitorias, tidos como necessários à construção de via de acesso
ferroviário entre estabelecimento particular e a Estrada de Ferro
Central do Brasil. 3. Ação ordinária de nulidade do Decreto.
Alegação de tratar-se de desapropriação, exclusivamente, em
benefício e proveito de empresa privada, com fins lucrativos. 4.
Ação julgada procedente em primeiro grau, mas improcedente no
acórdão recorrido.5. O decreto que declara um imóvel de utilidade
pública, para fins de desapropriação, é ato administrativo e não ato
normativo, cabendo contra ele a propositura de ação ordinária
visando sua anulação e não ação direta de inconstitucionalidade. 6.
Emenda Constitucional nº 1/1969, art. 153, § 22. 7. A simples
construção de um acesso ligando o parque industrial de empresa
particular à Estrada de Ferro, por si só, não indica ou induz
existência de utilidade pública, mas, sim, de utilidade privada.
Hipótese em que não há falar em abertura, conservação e
melhoramento de via ou logradouro público, nem em meio de
transporte ferroviário coletivo, como serviço à comunidade, eis que
expresso, no próprio Decreto e sua motivação, que o ato
expropriatório se destina "a construção de uma via de acesso
ferroviário entre a Companhia Mineira de Cimento Portland S.A -
Cominci e a Estrada de Ferro Central do Brasil". 8. Ao Poder
Executivo interdita-se considerar de utilidade pública, para fins de
desapropriação, situações não definidas em formas legais ou que,
nestas, não sejam de manifesta compreensão. Precedentes do STF. 9.
No caso concreto, releva destacar que, após a imissão provisória na
posse, desde logo, o uso dos bens expropriados se fez em favor da
empresa privada, que, por sua iniciativa, neles principiou as obras de
construção do ramal ferroviário, de seu exclusivo interesse. 10.
Recurso extraordinário conhecido, por ofensa ao art. 153, § 22, da
Emenda Constitucional nº 1/1969, e provido para declarar a nulidade
do Decreto nº 454, de 7.3.1974, do Prefeito Municipal de
Matozinhos, MG, restabelecendo-se, assim, a sentença.

RE N. 140095-1
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
GRATIFICAÇÃO POR TEMPO DE SERVIÇO -
ADVOCACIA - CÔMPUTO - MAGISTRATURA ESTADUAL -
REGÊNCIA. Os parâmetros a serem observados no pagamento da
gratificação por tempo de serviço, relativamente à magistratura
estadual, hão de estar previstos em diploma local, observado o limite
fixado no inciso VIII do artigo 65 da Lei Complementar nº 35/79
(LOMAN). Descabe a evocação de lei federal no que computado o
tempo de advocacia para efeito de qüinqüênios (Decreto-Lei nº
2.019/83).

RE N. 169807-1
RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: (...)
I. - É possível a acumulação de um cargo de professor com um
emprego (celetista) de professor. Interpretação harmônica dos
incisos XVI e XVII do art. 37 da Constituição Federal.
II. - R.E. não conhecido.

RE N. 182211-2
RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: (...)
I. - A acumulação de proventos e vencimentos somente é permitida
quando se tratar de cargos, funções ou empregos acumuláveis na
atividade, na forma permitida pela Constituição Federal, artigo 37,
incisos XVI e XVII, artigo 95, par. único, inciso I.
II. - Precedentes do STF: RE 163.204-SP, Velloso, Plenário,
09.XI.94; MS 22.182-DF, M. Alves, Plenário, 05.04.95; RE
198.190-RJ, Velloso, 2ª Turma, 05.03.96.
III. - R.E. conhecido e provido.

RE N. 196447-2
RELATOR: MIN. NÉRI DA SILVEIRA
EMENTA: - Funcionários inativos. Lei paulista que concede
vantagem funcional para o exercício de atividade de magistério. 2. A
lei instituidora de vantagem funcional, que tem por pressuposto o
exercício de função de magistério e aplicável a partir de sua
vigência, não se estende a quem, nessa época, já se encontrava
inativado. 3. Benefício que se sujeita a requisitos que já não podem
ser atendidos pelo servidor inativo. 4. Recurso extraordinário
conhecido e provido.

RE N. 203755-9
RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: (...)
I. - Não há invocar, para o fim de ser restringida a aplicação da
imunidade, critérios de classificação dos impostos adotados por
normas infraconstitucionais, mesmo porque não é adequado
distinguir entre bens e patrimônio, dado que este se constitui do
conjunto daqueles. O que cumpre perquirir, portanto, é se o bem
adquirido, no mercado interno ou externo, integra o patrimônio da
entidade abrangida pela imunidade.
II. - Precedentes do STF.
III. - R.E. não conhecido.

RMS N. 22350-6
RELATOR: MIN. SYDNEY SANCHES
EMENTA: (...)
1. Não tendo, a impetrante do Mandado de Segurança, procurado
demonstrar, na petição inicial, que o ato impugnado, do Ministro dos
Transportes, lhe causou, mesmo, o alegado prejuízo, consistente na
"defasagem tarifária da ordem de 8,38%"; havendo, no Recurso
Ordinário, reiterado tal afirmação, mas, ainda desta vez, sem fazer
qualquer demonstração do alegado; deixou de comprovar o fato
constitutivo de seu alegado direito líquido e certo.
2. Nem se objete com a desnecessidade de demonstração de
prejuízo para as empresas representadas pela impetrante.
Não têm elas direito público subjetivo à anulação do ato de
autoridade, por ilegalidade, se não demonstrarem que esse ato ilegal
lhes causou algum prejuízo.
É que não se trata de ação popular, que pode levar à anulação de
ato de autoridade pública, mesmo sem interesse direto, concreto, do
demandante.
Em se tratando de mandado de segurança, é imprescindível a
demonstração de que o ato ilegal da autoridade prejudicou direito
subjetivo, líquido e certo do impetrante, ou de seus representados, no
caso de Mandado de Segurança Coletivo.
3. Mandado de Segurança indeferido pelo S.T.J.
4. Recurso Ordinário improvido pelo S.T.F.

Acórdãos publicados: 230

T R A N S C R I Ç Õ E
S

Com a finalidade de proporcionar aos leitores


do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que
tenham despertado ou possam despertar de modo
especial o interesse da comunidade jurídica.

Fundo de Previdência e Direito Adquirido


RE 186.389-RS *

Ministro Sydney Sanches (relator)

1. O ilustre Desembargador ELIAS ELMYR MANSOUR, 1º Vice-


Presidente do E. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do
Sul, ao indeferir o processamento dos Recursos Extraordinários e
Especial interpostos pelas partes, assim fundamentou sua decisão a
fls. 254/257 - 2º volume:
1. FUNDO DE PREVIDÊNCIA DA CÂMARA MUNICIPAL
DE PORTO ALEGRE e OUTROS e MUNICÍPIO DE PORTO
ALEGRE interpõem, os primeiros, recurso especial e
extraordinário e, o segundo, recurso extraordinário da v.
decisão da Egrégia Segunda Câmara Cível deste Tribunal que
proveu parcialmente apelação interposta pelo Fundo para
condenar o Município a continuar pagando quota de custeio,
suprimida pelas leis municipais nºs. 6390/89 e 6484/89,
relativamente aos participantes com direitos adquiridos.
Concluiu a v. decisão impugnada pela constitucionalidade da
lei municipal que retirou da composição de custeio o
Município, porque tendo o fundo de previdência sido criado
através de lei ordinária não há óbice a que por outra lei da
mesma categoria se mude a composição, respeitado o direito
adquirido daqueles participantes já pensionados.
Alegam o Fundo de Previdência da Câmara Municipal de
Porto Alegre e Outros, com fundamento nos arts. 102, III, a e
105, III, a, da Constituição Federal, contrariedade, em recurso
extraordinário, ao art. 5º, XXXVI, da mesma Carta, uma vez
que não foi respeitado o direito adquirido dos participantes, e,
em recurso especial, violação ao art. 20, “caput”, do CPC,
porque a verba honorária não foi fixada individualmente.
O Município, por sua vez, fulcrado no art. 102, III, a , da
Constituição Federal, diz violados os arts. 37, “caput”, e 201,
§ 8º da Lei Maior.
Contra-razões às fls. 238/243 e 244/246.
Emitiu parecer o Dr. Procurador-Geral de Justiça pela
inadmissão dos recursos.

2. Cumpre, inicialmente, informar que opostos Embargos


Declaratórios foram estes rejeitados (folhas 200/202).

3. Do recurso especial do Fundo de Previdência da Câmara


Municipal de Porto Alegre e Outros: [...]

4. Do recurso extraordinário do Fundo de Previdência da


Câmara Municipal de Porto Alegre e Outros:
O recurso não merece prosperar. A interposição apresenta-
se equivocada, alegando violação ao art. 5º, XXXVI, da
Constituição Federal. O v. acórdão recorrido decidiu a espécie
atento ao texto constitucional vigente, uma vez que os
participantes do Fundo que já fizeram jus à aposentadoria ou
pensionamento tiveram resguardados seus direitos pela decisão
atacada, com o que não há a alegada contrariedade. Estes
direitos, que lhes foram reconhecidos como adquiridos e
insuprimíveis, evidentemente limitam-se à percepção dos
proventos previstos na lei vigente ao tempo da jubilação, não
podendo se estender, como pretendido, à imutabilidade das
fontes de custeio do Fundo.

5. Do recurso extraordinário do Município de Porto Alegre:


“Aqui, igualmente, não merece prosperar a irresignação.
Com efeito, como bem colocou o Eminente Procurador-Geral
de Justiça, às fls. 250/251, o órgão julgador deu correta
interpretação aos dispositivos invocados, os arts. 37, “caput” e
201, § 8º, da Constituição Federal, “verbis”: ”...ao reconhecer
a constitucionalidade das leis posteriores que alteraram as
fontes de custeio do Fundo, excluindo a participação do
Município face ao flagrante privilégio concedido aos edis,
atendeu ao princípio da moralidade pública, ao contrário do
que sustenta o recorrente. Por conseqüência, também inocorreu
a alegada violação ao art. 201, § 8º, da Magna Carta, pois as
próprias leis particulares, trataram de impedir a concessão de
auxílio do Poder Público ao Fundo, não sendo de nenhuma
significação a discussão acerca da natureza jurídica da
entidade, já que a decisão tratou de garantir os direitos
adquiridos pelos participantes antes do evento da nova Carta
Constitucional e sob a vigência da lei só mais tarde revogada,
cuja inconstitucionalidade jamais foi declarada.”

6. Ante o exposto, NEGO SEGUIMENTO aos recursos.


Publique-se. Intimem-se.”

2. Os Recursos Extraordinários acabaram subindo a esta Corte,


devidamente processados, porque providos pelo Relator os Agravos
de Instrumentos nºs 162.359, oposto pelo Município de Porto
Alegre, e 162.364, pelo Fundo de Previdência da Câmara Municipal
de Porto Alegre e outros, estando os respectivos autos em apenso.
3. O Agravo de Instrumento contra o indeferimento do Recurso
Especial, recebeu, no Superior Tribunal de Justiça, o número 50.201,
e teve seu seguimento negado pelo respectivo Relator, havendo a
decisão transitado em julgado (autos também em apenso).
4. Quanto aos RR.EE., o Ministério Público federal, em parecer do
ilustre Subprocurador-Geral Dr. PAULO DE TARSO BRAZ
LUCAS, opinou pelo conhecimento e provimento do R.E. interposto
pelo Município de Porto Alegre, prejudicado o do Fundo de
Previdência da Câmara Municipal de Porto Alegre e outros (fls.
335/354):
Essa manifestação assim se resume na ementa de fls. 335:

“EMENTA: Recurso Extraordinário - Fundo de Previdência da


Câmara Municipal de Porto Alegre - Contribuição devida pelo
Poder Público - Revogação da Lei que a instituiu - Direito
adquirido - Princípio da Moralidade - Vedação de subvenção
ou auxílio a entidades de previdência privada de fins lucrativos
- Alegação de contrariedade aos arts. 5º, inciso XXXVI, 37
“caput”, e 201, § 8º, da Carta Magna em vigor - Parecer pelo
conhecimento e provimento apenas do Recurso do Município de
Porto Alegre, especificamente por vulneração ao primeiro dos
dispositivos citados.”

É o Relatório.

Voto: [...]
11. Assim, o que mais importa, tanto no julgamento do R.E. do
Município de Porto Alegre, quanto no do R.E. do Fundo e demais
autores, é a verificação da ocorrência, ou não, de violação ao
princípio constitucional tutelar do direito adquirido, como salientou
o Ministério Público federal a fls. 345, item “24”, “in verbis”:

“24. O ponto essencial da controvérsia em


exame consiste, mesmo, portanto, exclusivamente em saber se
restou ou não configurada a alegada violação aos princípios da
intangibilidade do direito adquirido ou do ato jurídico
perfeito.”

12. É de se verificar, então, se o acórdão recorrido violou o inciso


XXXVI do art. 5º da Constituição Federal, princípio tutelar do
direito adquirido, seja ao reconhecê-lo, seja ao fazê-lo nos termos
em que o fez.
13. Nesses pontos, tenho para mim que assiste razão, em parte, aos
autores, ora também recorrentes. Não, assim, ao Município.
14. Com efeito, como demonstraram os acórdãos da Apelação e dos
Embargos Declaratórios, a interpretação e a aplicação das Leis
novas não podiam atingir os autores que já haviam preenchido os
requisitos para a obtenção do benefício, segundo a legislação
contemporânea, pois tinham direito adquirido a esse respeito, na
linha, aliás, da Súmula 359 desta Suprema Corte, segundo a qual
“ressalvada a revisão prevista em lei, os proventos da inatividade
regulam-se pela lei vigente ao tempo em que o militar, ou o servidor
civil, reuniu os requisitos necessários”.
15. Na verdade, quanto a esse ponto, “mutatis mutandis”, o julgado
está em conformidade com outro, unânime, da Primeira Turma,
então composta pelos eminentes Ministros SOARES MUÑOZ
(Presidente), RAFAEL MAYER, NÉRI DA SILVEIRA, ALFREDO
BUZAID e OSCAR CORRÊA.
16. A ementa do acórdão, da lavra do saudoso Ministro ALFREDO
BUZAID, assim se expressou (RE nº 95.519-DF, j. 28.06.1984, RTJ
112/691):

“1. Deputado Federal. Mandado de segurança contra o


Conselho Deliberativo da Previdência dos Congressistas.
Direito a pensão, depois de oito anos de exercício do
mandato legislativo, de acordo com o artigo 4º da Lei nº
4.284/63.
2. Superveniência da Lei nº 6.017/73, cujo artigo 13
determina a perda ao recebimento da pensão, se o
beneficiário obtiver remuneração mensal igual ou superior
a 35 maiores salários mínimos do país em cargos públicos
ou particulares.
3. Existência de direito adquirido, que a lei nova não
pode ofender, quer se trate de relação jurídica contratual,
quer se trate de relação jurídica estatutária.
4. Recurso extraordinário conhecido e provido.” [...]

19. Sucede, porém, no caso presente, que os acórdãos da Apelação e


dos Embargos Declaratórios, ora extraordinariamente recorridos,
embora reconhecendo, em tese, o direito adquirido dos autores, não
lhes deram a devida extensão.
20. Com efeito, não basta assegurar-se que a contribuição do
Município seja de “10% dos subsídios de um vereador, para cada
participante já com direito adquirido, incluídas as parcelas em
atraso, desde 1º de janeiro de 1989”, como se determinou no
acórdão dos Embargos Declaratórios (fls. 200/202).
Para que o direito adquirido dos autores seja preservado, é
necessário que a Lei do tempo, em que preencheram os requisitos
para o benefício, seja respeitada, ou seja, a Lei nº 4.012, de
27.8.1975, com as alterações aqui não impugnadas (fls. 2/66).
21. Quando este julgamento se iniciou, na Primeira Turma, pareceu-
me, após o debate que se formou com a leitura do voto-vista do
eminente Ministro ILMAR GALVÃO, que a única maneira de se
fazer respeitar o direito adquirido dos autores, ora recorridos, ao
benefício, segundo a legislação válida da época da aquisição, seria
impor-se ao Município de Porto Alegre continuar contribuindo,
mensalmente, para o Fundo, com 10% do total do subsídio dos
Vereadores (fls. 35, letra “a”), bem, assim, com “o saldo das
dotações para pagamento de subsídios, ajuda de custo e diária de
Vereadores, verificadas em 20 de dezembro de cada exercício” (fls.
2/66, mais precisamente fls. 35, “b”, 1ª parte).
22. Convenci-me, porém, já naquela oportunidade, de que outra
solução se mostra cabível para o respeito ao direito adquirido dos
autores, sem o risco de se aumentar a responsabilidade do
Município, em face dos fatos posteriores a essa aquisição, ou seja, a
atual situação do Fundo.
23. Basta que se imponha ao Município “o dever de contribuir, não
com parcela determinada, como fixado pelo acórdão recorrido, mas
o de concorrer para o pagamento dos proventos com a diferença
que se apurar, mensalmente, entre o montante dos benefícios
devidos e a soma das contribuições dos associados em atividade e
inativos”, como salientou o Ministro ILMAR GALVÃO, naquela
assentada, quando aduziu:
“Trata-se de solução que, tal qual a que foi dada pelo
acórdão recorrido, não desborda do pedido inicial, deduzido no
sentido da condenação do Município ao pagamento da
contribuição que lhe foi imposta pela Lei nº 4.012/76, com as
alterações supervenientes, consistente, como se viu, em 10% do
total dos subsídios dos Vereadores e no saldo das dotações
orçamentárias destinadas ao pagamento de subsídios, ajuda de
custo e diárias dos Vereadores, inclusive as parcelas
atrasadas.”
24. Isto posto, para tais fins, conheço, em parte, do R.E. dos autores
e, nessa parte, lhe dou provimento. E não conheço do R.E. do
Município.
25. Sendo maior a sucumbência deste último, pagará aos autores
honorários advocatícios arbitrados em 10% (dez por cento) sobre o
valor das parcelas atrasadas, estas com os acréscimos referidos a fls.
190.
Custas em proporção.

DECISÃO: Por votação unânime, o Tribunal conheceu, em parte, do


recurso extraordinário dos autores, para dar-lhe provimento, em
parte, nos termos do voto do Ministro Sydney Sanches (Relator). E,
não conheceu do recurso do Município de Porto Alegre. Votou o
Presidente.

* Acórdão ainda não publicado.

Assessor responsável pelo Informativo


Miguel Francisco Urbano Nagib
nagib@stf.gov.br

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