Considerações ecológicas não foram excluídas, mas foram englobadas por e subordinadas à
análise da organização social, sobretudo política, da produção. Desta maneira, a ecologia
cultural foi atacada como “materialismo vulgar”, que reforçaria em vez de desfazer a
“fetichização” capitalista clássica das “coisas”, a dominação dos sujeitos pelos objetos, em vez
da sua dominação pelas relações sociais incorporadas e simbolizadas por esses objetos (ver
especialmente Friedman 1974). As relações sociais chaves em questão, denominadas modo(s)
de produção, não devem ser confundidas com a organização superficial das relações sociais
tradicionalmente estudadas pelos antropólogos sociais britânicos: linhagens, clãs, metades, e
todo o resto. Estas formas superficiais daquilo que os britânicos chamavam “estrutura social”
são vistas como modelos nativos de organização social que foram comprados pelos
antropólogos como a realidade, mas que na verdade escondem, ou ao menos correspondem
só parcialmente, às relações assimétricas de produção que são ocultas e que impulsionam o
sistema. Aqui, então, estava situada a crítica da antropologia social britânica tradicional (ver
especialmente Bloch 1971, 1974, 1977; Terray 1975). 434
Assim como a Nova Esquerda no mundo real levou mais a sério as questões culturais (estilo de
vida, consciência) do que a Velha Esquerda tinha feito, os marxistas estruturais atribuíram aos
fenômenos culturais (crenças, valores, classificações) pelo menos uma função central em seu
modelo de processo social. Especificamente, cultura foi convertida em “ideologia”, e
considerada a partir do ponto de vista de seu papel na reprodução social: legitimando a ordem
existente, mediando as contradições na base e mistificando as fontes de exploração e de
desigualdade no sistema (O’Laughlin 1974; Bloch 1977; Godelier 1977). P. 434
Apesar de tudo isso, pode-se reconhecer que, contudo, o marxismo estrutural sofreu alguns
problemas. Por um lado, o estreitamento do conceito de cultura como “ideologia”, que teve o
poderoso efeito de permitir aos analistas conectarem concepções culturais a estruturas
específicas de relação social, era excessivo, e colocou o problema de relacionar novamente a
ideologia às concepções mais gerais da cultura. Por outro lado, a tendência para ver a
cultura/ideologia principalmente em termos de mistificação deu à maioria dos estudos
culturais ou ideológicos desta escola um decidido sabor funcionalista, já que o resultado
dessas análises era mostrar como o mito, o ritual, o tabu e tudo mais mantinham o status quo.
Finalmente, e mais grave, embora os marxistas estruturais oferecessem uma maneira de
mediar os “níveis” materiais e ideológicos, de fato não contestaram a própria noção de que
esses níveis são distinguíveis analiticamente, em primeiro lugar. Assim, apesar de criticarem a
noção durkheimiana (e parsoniana) do “social” como a “base” dos sistemas, eles apenas
ofereceram uma “base” mais profunda e alegadamente mais verdadeira e objetiva. Não
obstante tentarem descobrir funções mais importantes para a “superestrutura” (ou a despeito
de afirmarem que o que é a base e o que é a superestrutura varia culturalmente e/ou
historicamente, ou mesmo às vezes, e de modo meio indeterminado, que a superestrutura é
parte da base), eles continuaram a reproduzir a ideia de que é útil manter esse conjunto de
caixinhas analíticas. P. 435
A ênfase sobre o impacto das forças externas e sobre as formas como as sociedades se
transformam ou evoluem, em boa medida para se adaptarem a esse impacto, vincula de
maneiras específicas a escola da economia política à ecologia cultural dos anos 60; de fato,
muitos dos seus seguidores atuais foram treinados naquela escola (p.ex., Ross 1980). Mas
enquanto na ecologia cultural da década de 60, que frequentemente estudava sociedades
relativamente ”primitivas”, as forças externas consideradas importantes eram as do meio
natural, para os economistas políticos da década de 70, que geralmente estudam camponeses,
as forças externas que importam são aquelas do Estado e do sistema capitalista mundial. P.
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