Você está na página 1de 5

William Seymour e o Reavivamento da Rua Azusa

teologiacarismatica.com.br/william-seymour-e-o-reavivamento-da-rua-azusa/

October 5, 2016

William J. Seymour nasceu em 2 de maio de 1870 em Centerville, Louisiana, filho dos ex-
escravos Simon e Phillis Seymour que o criaram como crente Batista. Mais tarde, morando
em Cincinnati, entrou em contato com os ensinamentos de santidade através do
Movimento Reavivalista de Martin Wells Knapp e do Movimento Reformado da Igreja de
Deus, liderado por Daniel S. Warner, também conhecidos como os “Luzeiros santos da
escuridão”[1]. Crendo que estavam vivendo o crepúsculo da história humana, estes
cristãos acreditavam que o derramamento do Espirito precederia o arrebatamento da
igreja. Eles ficaram profundamente impressionados com o jovem Seymour.

Após se mudar para Houston, Seymour passou a frequentar uma igreja local de afro-
americanos pastoreada por Lucy F. Farrow, ex-governanta na residência de Charles F.
Parham. Parham liderou o Movimento de Fé Apostólica do meio-oeste, o nome original do
Movimento Pentecostal, que havia iniciado em sua Escola Bíblica Betel na cidade de
Topeka, Kansas, em Janeiro de 1901. Desde 1905 ele havia mudado sua base de
operações para a área de Houston, onde conduziu reavivamentos e iniciou outra Escola
Bíblica. Farrow providenciou para que Seymour assistisse as aulas. No entanto, por causa
da Lei Jim Crow de segregação racial da época, Seymour teve que ouvir as palestras de
Parham separado dos outros alunos. Seymour aceitou a visão sua visão sobre o batismo
no Espírito Santo – a crença de que Deus a qualquer momento daria linguagens inteligíveis
– falar em línguas aos crentes para o evangelismo missionário.

Neeley Terry, uma afro-americana e membro da nova congregação liderada por


Hutchinson em Los Angeles, visitou Houston em 1905 e ficou impressionado quando ouviu
Seymour pregar. Voltando para casa ela o recomendou para Hutchinson, uma vez que a
igreja estava à procura de um pastor. Como resultado, Seymour aceitou o convite para
pastorear o pequeno rebanho. Com alguma ajuda financeira de Parham, ele viajou de trem
para o oeste e desembarcou em Los Angeles em Fevereiro de 1906.
1/5
Reavivamento da Rua Azusa

Seymour imediatamente encontrou resistência quando, apenas dois dias após sua
chegada, começou a pregar para sua nova congregação que o falar em línguas é a
evidência bíblica do batismo no Espírito Santo. No domingo seguinte, 4 de março, ele
voltou para a missão e descobriu que Hutchinson havia trancado a porta. A condenação
também veio da Associação da Igreja Holiness do Sul da Califórnia, da qual a igreja local
era afiliada. No entanto, nem todos da congregação estavam incomodados com o ensino
de Seymour. Destemido, Seymour, ficando na residência de um membro da igreja, Edward
S. Lee, aceitou o convite de Lee para ministrar estudos bíblicos e reuniões de oração ali.
Depois disso, ele foi para a casa de Richard e Ruth Asberry, na rua Bonnie Brae Norte,
214. Cinco semanas depois, Lee veio a ser o primeiro a falar em línguas. Seymour então
compartilhou o testemunho de Lee numa reunião na Bonnie Brae Norte e então muitos
outros também começaram a falar em línguas.

A notícia desses eventos se espalhou rapidamente tanto nas comunidades afro-


americanas quanto nas comunidades brancas. Durante várias noites, oradores pregavam
da varanda para a multidão rua abaixo. Crentes da Missão de Hutchinson, Primeira Igreja
do Novo Testamento, e várias congregações de santidade, começaram então a orar pelo
batismo Pentecostal. (Hutchinson mesmo foi batizado no Espírito como foi o próprio
Seymour). Finalmente, após a varanda frontal desabar, o grupo alugou o antigo prédio da
Igreja Episcopal Metodista Africana (Stevens African Methodist Episcopal – A.M.E), na rua
Azusa, 312 no início de abril. Um jornal de Los Angeles se referiu a isso como um “barraco
desabado”. Recentemente tendo sido usado como estábulo e estalagem. Madeira de
demolição e gesso espalhados pelo local, mais parecendo um celeiro.

As reuniões da Missão da Fé Apostólica rapidamente chamaram a atenção da imprensa,


devido à natureza incomum dos cultos. Entre 300 e 350 pessoas podiam entrar na
estrutura de madeira pintada de branco que media 12 metros por 18, enquanto muitas
outras, às vezes, ficavam do lado de fora. Os cultos eram realizados no primeiro andar,
onde os bancos foram dispostos de maneira retangular. Alguns eram simplesmente tábuas
pregadas sobre barris vazios. Não havia plataforma elevada e não havia púlpito no início
do reavivamento.

Apesar de muitos poderem ser considerados líderes, o mais conhecido foi o modesto
William J. Seymour. Frank Bartleman, um dos primeiros participantes, recorda que o “Irmão
Seymour geralmente sentava atrás de duas caixas de sapato vazias, uma sobre a outra[2].
Ele geralmente mantinha a cabeça elevada durante a reunião, em oração. Não havia
orgulho lá… Naquela velha construção, com suas vigas baixas e piso bruto, Deus quebrou
homens e mulheres fortes em pedaços, e os juntou novamente, para Sua Glória… O ego
religioso rapidamente pregou seu próprio sermão fúnebre.”[3]

O segundo andar serviu como escritório da Missão e residência para várias pessoas,
incluindo Seymour e sua esposa Jenny. Também tinha uma grande sala de oração para
acomodar o excedente de pessoas do culto do andar inferior. Um observador descreveu o
espaço: “Lá em cima é uma grande sala mobiliada com cadeiras e três pranchas de
madeira colocadas de fora a fora sobre cadeiras sem encosto. É o cenáculo Pentecostal,
onde almas santificadas buscam a plenitude Pentecostal e saem falando novas línguas”.[4]
2/5
Ainda assim, o reavivamento avançava lentamente durante os meses de verão, com
apenas 150 pessoas recebendo o “Batismo com o Espírito Santo e a evidência bíblica”.
Mas isso mudou no outono, quando o reavivamento ganhou ímpeto e pessoas de toda a
parte começaram a participar. O missionário Bernt Bernsten viajou desde o norte da China
para investigar os acontecimentos após ouvir que a prometida chuva serôdia havia sido
derramada.

Histórias do reavivamento rapidamente se espalharam pela América do Norte, Europa e


outras partes do mundo por onde os participantes viajaram, testemunharam e publicaram
artigos em publicações simpatizantes à santidade. O Periódico “A Fé Apostólica” foi
particularmente influente através dos trabalhos editados por Seymour e Clara Lum,
publicados entre setembro de 1906 e maio de 1908. Distribuídas gratuitamente, milhares
de ministros e leigos receberam cópias, tantos nos EUA como no exterior: 5.000 cópias
foram impressas na primeira edição (setembro de 1906), e em 1907 a tiragem chegou a
40.000 exemplares.

A maioria dos que visitaram a Missão receberam o revestimento do Batismo no Espírito


Santo e foram capacitados com dom de línguas para pregação do evangelho por toda a
parte. Isto lhes permitia ignorar o incômodo do estudo formal da língua. A Fé Apostólica
relatou: “Deus está resolvendo o problema missionário, enviando missionários com novas
línguas no modelo de fé apostólica, sem bolsa nem alforje, e o Senhor ia adiante deles,
preparando o caminho”. Missionários alojados no local, de passagem para outra Missão
também participavam e falavam em línguas e, em alguns casos eram identificadas as
línguas faladas. Os ouvintes, no entanto, geralmente dependiam do Senhor para identificar
as línguas que ouviam.

Afro-americanos, latinos, brancos e outros tantos oravam e cantavam juntos, criando uma
dimensão de unidade espiritual e igualdade quase sem precedentes para a época. Isto
permitiu a homens, mulheres e crianças participar e celebrar sua unidade em Cristo
guiados pelo Espírito. Na verdade, foi tão incomum essa mistura de negros e brancos que
Bartleman entusiasmadamente exclamou: “A linha da cor foi apagada pelo sangue”[5]. Ele
quis dizer que na obra santificadora do Espírito Santo, o pecado do preconceito racial foi
removido pelo sangue purificador de Jesus Cristo.

Enquanto isso, no final do verão de 1906, Chales Parham iniciou outro reavivamento
Pentecostal em Zion City, Illinois, entre os seguidores do curandeiro nacionalmente
conhecido John Alexander Dowie. Só em outubro Parham foi para a Califórnia, na
esperança de consolidar os fiéis de Los Angeles dentro de uma rede mais ampla de
crentes da Fé Apostólica e, segundo, para aproveitar o que considerava ser um
desenfreado entusiasmo religioso. Como isso aconteceu, a adoração emocional e,
particularmente a mistura de brancos e negros ofendeu profundamente a Dowie. Parham
colocou a culpa em Seymour.

A maioria dos fiéis da Azusa permaneceu leal a Seymour depois que Parham designou
algumas pessoas para estabelecer uma missão rival. Após poucos anos do seu início, a
Missão de Fé Apostólica tornou-se predominantemente negra com Seymour ainda como
pastor. Anos mais tarde, o preconceito aflorou também lá, quando o próprio Seymour
destituiu pessoas brancas dos cargos de liderança, reservando-os para os negros.
3/5
O legado de Seymour

Numa escala mundial, o reavivamento da rua Azusa contribuiu para uma nova diáspora de
missionários antecipando que a evangelização mundial seria alcançada pela pregação do
evangelho acompanhada de sinais e maravilhas (Atos 5.12). Embora apenas um pequeno
número de missionários viajaram da Azusa para ministrar em outras partes, isto impactou
muitos outros que iniciaram movimentos Pentecostais surgidos como resultado de ouvirem
notícias do derramamento do Espírito em Los Angeles. Para muitos o reavivamento da rua
Azusa finalmente inaugurou o grande reavivamento do fim dos tempos.

Muito mais poderia ser dito sobre a influência a longo prazo do reavivamento e do “Bispo”
William J. Seymour (um título honorário que recebeu mais tarde, provavelmente de sua
congregação). As limitações deste artigo, contudo, impossibilitam uma discussão mais
longa. Vamos olhar especificamente o legado de Seymour.

Para começar, devemos notar que ele modelou uma genuína humildade, que muitos
aclamaram. Ele desejava promover a unidade entre os seguidores do Espírito Santo na
Azusa e encorajava-os a serem sensíveis à direção do Espírito para os serviços ali.
Fotografias retratam-no como uma pessoa calorosa, amigavelmente sorridente e de
estatura mediana. A luta de Seymour contra a varíola o deixou cego do olho esquerdo.

No entanto, o ministério de Seymour não veio sem um preço. Ele pessoalmente suportou
duras críticas de seus oponentes – líderes do movimento de santidade não simpáticos ao
pentecostalismo, bem como o desprezo de Parham e mais tarde de Frank Bartleman.
Como as denominações pentecostais de brancos registram e contam suas histórias,
Seymour foi esquecido, em parte porque ele não contribuiu para fundação do movimento,
em parte porque a seu ver foi em Topeka o início de tudo e em parte devido à prioridade
dada por ele ao evangelismo acima da preservação do registro histórico. Seymour também
partia do princípio que o falar em línguas é a evidência física do Batismo no Espírito Santo.
Tudo isso contribuiu para que Seymour se tornasse uma figura quase esquecida na
história Pentecostal.

A grandeza de Seymour hoje pode ser encontrada na sua preocupação com revestimento
espiritual e união. O foco em Topeka e outros reavivamentos pentecostais está na
necessidade dos Cristãos em receber o Batismo no Espírito Santo para ganhar almas para
Cristo. A dinâmica inter-racial e intercultural sem precedentes na Azusa, no entanto,
acentuam tanto a santidade de caráter e poder para testemunhar em uma demonstração
incomum do amor e igualdade no corpo de Cristo. A este respeito, isto poderosamente nos
lembra que a plenitude do poder Pentecostal iludirá aqueles que buscam por poder em
seus ministérios acima do caráter cristão.

A expansão missionária da igreja primitiva como registrada no livro de Atos, destaca o fato
de o derramamento Pentecostal abraçou pessoas que eram consideradas impuras pelos
padrões judaicos. O derramamento do Espírito em Samaria (Atos 8) e entre os gentios
(Atos 10) ensinou aos primeiros cristãos que a obra redentora de Deus supera as barreiras
raciais e culturais. A humanidade caída sempre atribuiu a tais diferenças mais importância
que Deus designou e assim acabam tiranizando a obra criadora de Suas mãos. Porque

4/5
eles já tinham sido “batizados em Cristo” e “revestido de Cristo” Paulo alerta os Cristãos
Gálatas, “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem
fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3.28)

No dia de pentecostes, judeus vindos de todas as nações ficaram maravilhados ao ouvirem


louvores a Deus em seu próprio idioma (Atos 2.5-13). Alguns seriamente perguntaram: “O
que isto significa?” Outros zombaram e não deram importância à ocasião. No entanto,
Pedro colocando as coisas numa perspectiva divina, referiu-se às palavras de Joel: “Nos
últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos” (Atos 2.17, NVI).

Em setembro de 1906, a primeira edição da Fé Apostólica relatou: “Em pouco tempo, Deus
começou a manifestar seu poder e logo o prédio não poderia conter as pessoas.
Orgulhosos pregadores bem-vestidos têm vindo para nos ‘investigar’. Em pouco tempo,
seus olhares altivos são substituídos por admiração, então a convicção vem e muito
frequentemente você vai encontrá-los chafurdando no chão sujo, pedindo a Deus que os
perdoe e os faça como crianças.”

O reavivamento da rua Azusa ilustrou a verdade fundamental sobre a aquisição de poder


espiritual: o desejo de amar ao próximo e ganhar o mundo para Cristo começa com
quebrantamento, arrependimento e humildade.

Título original: William Seymour and the Azusa Street Revival

Tradução: Gabriel Wilges

[1] Eles ficaram conhecidos assim em razão dos horários das reuniões que se davam ao
entardecer ou à noite.

[2] Talvez um gazofilácio improvisado para recolher dízimos e ofertas.

[3] Bartleman, p. 58

[4] STANLEY H. Frodsham, With Signs Following. Springfield: Gospel Publishing House,
1941, p. 34

[5] Bartleman, xviii

Comentários

5/5

Você também pode gostar