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DE ACOMPANHAMENTO SETORIAL
Máquinas-ferramentas
MARÇO 2012
RELATÓRIO
DE ACOMPANHAMENTO SETORIAL
Máquinas-ferramentas
março 2012
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial - ABDI
Mauro Borges Lemos
Presidente
Clayton Campanhola
Diretor
Supervisão
Maria Luisa Campos Machado Leal
Equipe Técnica
Máquinas-ferramentas
Autora: Beatriz Freire Bertasso
Introdução 6
1. As máquinas-ferramentas: o produto, o desenvolvimento tecnológico
e os mercados 7
2. Produção, consumo e comércio mundial de máquinas-ferramentas 8
3. O Setor de Máquinas-Ferramentas no Brasil 14
3.1. Caracterização da Produção 14
3.2. Fatores de competitividade sistêmica 17
3.3. Estrutura setorial 22
3.4. O comércio internacional 24
3.5. Os desafios 29
Considerações Finais 30
Referências Bibliográficas 31
Introdução
Este estudo tem como objetivo caracterizar ca, mas de forma conservadora, já que, na visão
o segmento produtor de máquinas-ferramentas dos empresários, a concorrência externa repre-
brasileiro e avaliar a sua competitividade no atual senta um limite importante à captura da deman-
cenário internacional. da interna.
O setor de máquinas-ferramentas brasileiro é O surgimento de um novo player global (a Chi-
bastante tradicional. Começou a se desenvolver na) e a queda da demanda a partir da crise de
nos anos 1930 e ganhou grande impulso com a 2008 marcaram um forte acirramento da concor-
implantação da indústria automobilística no país, rência em âmbito internacional. Os produtores
que, em um ambiente de proteção, atraiu empre- locais, em desvantagem competitiva, têm rece-
sas de capital estrangeiro para produzir máqui- bido apoio governamental, o que parece não ser
nas-ferramentas localmente (VERMULM, 2003). suficiente para capacitá-los a enfrentar as atuais
Os anos de grande crescimento da produção in- pressões da concorrência externa. Trata-se de
dustrial brasileira no pós-guerra permitiram seu um momento chave para o setor.
desenvolvimento e mesmo alguma participação A justificativa para a atenção especial ao seg-
no comércio internacional. mento é o seu poder inovador e disseminador de
O baixo crescimento dos anos 1980 não im- melhorias técnicas para a indústria em geral.
pediu que algumas empresas do segmento se Estas questões estão organizadas ao longo do
mantivessem relativamente dinâmicas com a estudo em quatro seções. A primeira apresenta,
incorporação possível1 da microeletrônica aos em grandes linhas, as máquinas-ferramentas e a
equipamentos (VERMULM, 1996). A abertura co- sua base tecnológica, além de destacar alguns
mercial dos anos 1990, entretanto, expôs o setor setores demandantes. A segunda apresenta as
à concorrência externa, em bases tecnológicas atuais características da produção, consumo e
e de custo de produção bastante desfavoráveis. comércio internacional, em termos mundiais. Na
O mini-ciclo de investimentos de 1998 e, so- terceira seção, procura-se apresentar o setor de
bretudo, o recente ciclo de investimentos indus- máquinas-ferramentas brasileiro em seus princi-
triais de meados dos anos 2000 geraram deman- pais aspectos: o histórico da produção local, ca-
da suficiente para encorajar algumas empresas racterizando suas especificidades técnico-produ-
produtoras de máquinas-ferramentas a investir tivas; os fatores de competitividade sistêmica; a
na expansão da capacidade e na melhoria técni- estrutura setorial; o comércio internacional; e, fi-
nalmente os desafios postos ao conjunto de pro-
1 dada a restrição externa e o baixo desenvolvimento dutores locais. A quarta e última seção se atém a
da microeletrônica no Brasil. algumas considerações finais.
Máquinas-ferramentas 7
1. As máquinas-ferramentas: o produto,
o desenvolvimento tecnológico e os mercados
demais – o consumo aparente na China chega a Machine Tool Builders’ Association) localiza o boom
quase duas vezes o observado para a Alemanha de importações de equipamentos pela China na
e Japão juntos naquele ano5. Os Estados Unidos virada dos anos 2000, no bojo do ciclo de investi-
aparecem na sexta posição, com um consumo mentos na indústria automobilística daquele país
aparente de cerca de 10% do chinês. Segundo (VDW, 2004, p. 12).
a Gardner, a economia norte-americana teria De forma semelhante, os produtores de má-
se mantido como a principal demandante de quinas-ferramentas de conformação japonesa
máquinas-ferramentas entre 1993 e 2000. Esse também identificam um salto na sua produção (e
conjunto de informações leva a atestar o profun- exportação) a partir de 2003, com o crescimento
do movimento de transformação da economia do investimento externo da indústria automobilís-
norte-americana, com perdas importantes para a tica japonesa no “resto do mundo” – e a Ásia é o
indústria em geral, que é a grande demandante principal espaço dessa expansão.
do setor de máquinas-ferramentas. A contraparte De volta aos dados Gardner, os coeficientes de
desses números é a industrialização das econo- exportação, calculados como a relação entre o va-
mias emergentes, com grande peso da econo- lor exportado e o consumo aparente, revelam que
mia chinesa. os maiores produtores mundiais, com exceção
A associação de produtores de máquinas-fer- da China, destinam parcelas importantes de sua
ramentas alemã (Vereinigung Deutscher Werkzeug- produção ao mercado externo. A China, como já
maschinen-Fabrikanten, VDW, ou, no inglês, German salientado, tem como pólo dinâmico seu próprio
mercado e o “pequeno” excedente exportado da-
quela economia já tem sido suficiente para causar
5 É importante notar que a base de dados de produ-
ção é limitada por não abarcar todas as economias do alvoroço no mercado internacional. Segundo da-
globo, e mesmo por apresentar resultados parciais da dos COMTRADE, a China passou de nono maior
produção local quando os resultados são organizados exportador de máquinas-ferramentas do mundo,
por associações de produtores; e a base de dados de
consumo, mais disperso pelo mundo do que a produ- com 2,2% em 2002, para sexto, com 5,7% em
ção, apresenta erros de mensuração ainda maiores. 2009. Os coeficientes de importação dos grandes
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produtores, por outro lado, mostram, com exce- máquinas (um segmento bem mais amplo que
ção do Japão, a importância da entrada de impor- o de máquinas-ferramentas, portanto) nos países
tados naqueles mercados, corroborando outro receptores daquele capital, assim como o total
senso comum sobre o segmento: a existência de de emprego gerado por empresas de capital ma-
certa especialização nessa indústria e a incapaci- joritariamente estrangeiro, produzindo nos Es-
dade das diferentes economias produzirem todo o tados Unidos. Ainda que as plantas possam ter
leque de produtos consumidos. diferentes relações capital/trabalho, acredita-se
À medida que as economias vão seguindo para que essa medida seja mais interessante que a
posições menos importantes como produtoras, o comparação de resultados monetários.
coeficiente de importação tende a crescer, mas o Em 2007, os EUA geraram mais empregos fora
coeficiente de exportação não apresenta uma ten- de suas fronteiras do que os estrangeiros geraram
dência unívoca. Todos os “menores produtores” dentro daquele país, considerando o setor de má-
apresentam altos coeficientes de importação. Po- quinas. Foram 386,6 mil empregos gerados pelos
rém, enquanto Reino Unido, França e Turquia apre- produtores de máquinas norte-americanos “no
sentam coeficientes de exportação relativamente resto do mundo”, contra 152 mil empregos gera-
altos, Brasil e Índia mantêm coeficientes baixos. dos pelos estrangeiros nos EUA, mostrando como
Esses dados podem mostrar que os três primei- a produção norte-americana está “espalhada” pelo
ros têm se especializado na produção de alguns mundo. O emprego total gerado pela indústria de
tipos de máquinas específicas, assumindo um máquinas nos Estados Unidos foi de perto de 1,2
importante papel como exportadores, o que não milhões de vagas (contando com as ocupações
ocorreria no caso do Brasil e da Índia. de tempo parcial). Isso quer dizer que os estran-
O Comité para a Cooperação da indústria de geiros gerariam cerca de 13% do emprego local e
Máquinas-Ferramenta Europeia (CECIMO, 2011, que as empresas norte-americanas, indo produzir
p.9) ainda percebe a China, assim como os EUA, no resto do mundo, teriam eliminado perto de um
como economias estruturalmente importadoras terço das vagas nos EUA.
de máquinas-ferramentas, e a Alemanha e o Ja- O Gráfico 1 aponta as economias receptoras
pão como exportadoras (o último como o mais de capital norte-americano que tiveram ao menos
fragilizado pela crise de 2008, provavelmente 5 mil empregos relacionados àquele capital. Há
pela valorização sofrida pelo iene). O comité pre- um direcionamento claro do capital norte-ameri-
vê, porém, que isso deverá mudar. cano para a Europa e para as Américas. Na Ásia,
Seja pela compra de empresas estrangeiras, predomina o investimento na China e na Índia.
ou por meio das joint ventures estabelecidas Com base nas informações do Japão, foi pos-
com as mesmas, a produção chinesa está cami- sível identificar a expansão internacional da in-
nhando a passos largos na atualização tecnológi- dústria de máquinas-ferramentas de corte (arran-
ca. No momento ela já seria competitiva no seg- que de cavaco), divulgada por uma associação de
mento de média tecnologia, e se prevê que em produtores locais. Seriam três plantas produtivas
10 anos a China também será grande produtora na Europa (uma na França, outra na Suíça e a ter-
e exportadora no segmento de alta tecnologia ceira no Reino Unido); duas nos Estados Unidos;
(CECIMO, 2011, p.10). trinta e quatro na Ásia (dezenove na China, uma
A internacionalização da produção, como se na Índia, uma na Coreia, quatro em Taiwan, uma
vê, vem se aprofundando no setor. É possível nas Filipinas, três em Singapura, quatro na Tailân-
mensurá-la pelo emprego gerado ou mesmo pelo dia e uma no Vietnã); e apenas uma na América
número de empresas estrangeiras, evitando as do Sul (no Brasil).
“duplas contagens” dos dados de faturamento, A produção da Fanuc, fora do Japão, se con-
valor da produção e exportações; as eventuais centra na Ásia: há uma unidade produtora na
sub ou supervalorações das relações intrafirma China (desde 1993), outra em Taiwan (desde abril
e as distorções dos resultados econômicos gera- de 2011). As grandes produtoras de Centros de
das por variações cambiais momentâneas. Usinagens e Tornos Yamazac Mazak e Mori Sei-
Nas bases de dados do Bureau of Economic ko também têm unidades fora do Japão: a pri-
Analysis dos Estados Unidos, foi possível verifi- meira nos EUA (desde 1974), na Europa (Reino
car o volume de emprego gerado pelas filiais de Unido, desde 1987), na China (desde 2000) e em
empresas norte-americanas do setor produtor de Singapura (desde 1992); a segunda na Europa
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Alemanha
Reino Unido
China
França
Brasil
México
Canadá
Itália
Índia
Holanda
Bélgica
Austrália
Espanha
Coréia
Oriente Médio
Dinamarca
Cingapura
Japão
Fonte: Elaboração NEIT/UNICAMP, com base nos dados do Bureau of Economic Analysis.
(Suíça, desde 2006, e França, desde 2008). Ou espaço de tempo, deixar de ser um cliente, para
seja, parte importante da indústria chinesa de ser um fornecedor do resto do mundo,o que já
máquinas-ferramentas, que inclui a fabricação de vem se desenhando no segmento de máquinas-
componentes “inteligentes” dos equipamentos, ferramentas. Como apontou CECIMO (2011), a
tem como parceiro o capital japonês. exportação chinesa, que até há pouco se concen-
É interessante notar que, no Brasil, há pouco trava nos equipamentos de tecnologia madura,
investimento japonês no segmento de máquinas- tende a avançar rapidamente para produtos mais
ferramentas. Parte dos equipamentos japoneses sofisticados. A atração de IDEs de produtores
importados pelo país, na verdade são produzidos que desenham a fronteira tecnológica e os gas-
nos Estados Unidos. A Mazak, por exemplo, pro- tos crescentes em P&D levam a crer que o aden-
duz exclusivamente nos EUA para fornecer, dali, samento tecnológico das exportações chinesas é
para as Américas. iminente (CECIMO, 2011, p.9).
Desta forma, o fenômeno chinês vem assom- Afora os norte-americanos, que já viram a sua
brando não apenas os “setores nacionais” relati- liderança ruir, os produtores mais ameaçados
vamente frágeis, como se verá no caso brasileiro, com o avanço tecnológico chinês parecem ser
mas mesmos os de maior tradição. Por um lado, os europeus, que vêem como limitadas as suas
a China é uma excelente oportunidade de negó- chances de aproveitar a expansão daquele mer-
cios, já que o seu mercado em expansão vem re- cado e como certa a ameaça nos seus mercados
presentando parte crescente da demanda mun- tradicionais (CECIMO, 2011, p.3).
dial das máquinas-ferramentas. O mercado chi- Os europeus sabem que, embora seja seme-
nês, no levantamento da Gardner, foi o primeiro lhante, a trajetória chinesa é mais ameaçadora
colocado no ranking de importadores em 2010, que a japonesa. Tal como ocorreu no período de
com US$ 9,1 bilhões de importações, seguido industrialização intensiva do Japão, observa-se
pelo mercado americano, que absorveu apenas na China um célere crescimento da produção e
US$ 2,1 de máquinas-ferramentas do resto do absorção de máquinas-ferramentas; vantagens
mundo, ou seja, um quarto do consumo chinês. de custos e pouca observação dos direitos de
Por outro lado, a tradição chinesa é de, em curto propriedade intelectual. No Japão, entretanto,
12 Relatório de Acompanhamento Setorial
à medida que a capacidade industrial foi sendo locais em feiras chinesas, estudar o mercado
desenvolvida, os custos, sobretudo os da mão chinês e promover algum tipo de consolidação
de obra, foram majorados e a pouca observân- do setor local para que possa resistir aos movi-
cia dos direitos de propriedade intelectual foi mentos que estão por vir. Propõe-se o estabele-
ultrapassada pela necessidade de proteger sua cimento de relações de cooperação e parcerias
própria iniciativa inovadora, de forma que as con- (VDW, 2011), o que tende a ser um processo len-
dições de competitividade para europeus foram, to quando deixado a cargo “do mercado”. Ainda
ainda que em novas bases, “rapidamente” resta- não há um consenso se o melhor caminho para
belecidas. No caso chinês, a diferença de timing o setor é a consolidação. Se, por um lado, as es-
será muito penosa aos europeus: a mão de obra tratégias de nicho das médias empresas, com
disponível para produção na China ainda é muito base em tecnologias e mercados circunscritos,
grande e a possibilidade de crescimento da pro- parecem ser suficientes para a sobrevivência à
dução de máquinas-ferramentas para satisfazer competição, por outro, os canais de mercado,
a própria demanda interna, longeva. Uma traje- a escala, parecem fazer das maiores empresas
tória de muitos anos de crescimento é decisiva as mais aptas a enfrentar o ambiente fortemente
para o setor de bens de capital e os produtores competitivo (VDW, 2011, p.61).
que melhor puderem aproveitar da expansão do Segundo um dirigente de uma empresa de ca-
mercado chinês garantirão posições competi- pital alemão de máquinas-ferramentas no Brasil,
tivas mundiais diferenciadas. O próprio avanço o dilema entre estratégia de nicho e a consoli-
tecnológico, tantas vezes citado como principal dação é quase dogmática não apenas na Alema-
elemento de competitividade, depende da pers- nha, mas no mundo. Enquanto isso, os movimen-
pectiva de expansão da demanda. tos microeconômicos caminham no sentido de
Não por acaso os produtores alemães estão “agigantar” as estruturas de negócios do setor
se mobilizando em direção ao IDE. Em recente de máquinas-ferramentas. A colaboração entre
levantamento da VDW junto a associados, um as grandes produtoras de máquinas-ferramenta
terço dos entrevistados via a internacionalização Mori Seiki (japonesa) e GILDEMEISTER AG (DMG,
das empresas como “o” grande desafio para os alemã), para explorar o mercado europeu, estabe-
próximos anos, superando as questões tecnoló- lecida em 2009, visou a escala dos negócios. Os
gicas/inovativas (que aparecem como principal produtores descrevem os ganhos esperados nas
preocupação para apenas 16% das empresas ações conjuntas: i. em vendas e serviços; ii. no
entrevistadas). Segundo a associação, o setor ale- desenvolvimento tecnológico; iii. na produção;
mão estaria entre a internacionalização e o “Made iv. na compra e, iv. nas finanças. Pouco depois
in Germany”. Os produtores alemães sabem que desse anúncio, os parceiros anunciaram que pre-
parte da qualidade de suas máquinas se deve à tendiam estabelecer mais parcerias na Europa e
produção na própria Alemanha (à rede de forne- fecharam um acordo de cooperação com a chi-
cedores, ao relacionamento existente entre as nesa Shen Yang Machine Tool (SYMG), abrindo
diferentes firmas), mas ao mesmo tempo reco- uma joint venture com capital em partes iguais
nhecem a necessidade de estar mais próximos do entre os participantes. Esse é um movimento de
mercado consumidor notadamente nos países do grandes empresas que, se der certo, ameaça a
BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) e de produzir a sobrevivência das menores.
custos mais competitivos (VDW, 2011b) CECIMO (2011) chama atenção para mais um
A conformação do setor produtor local, com fator que fragilizou em termos relativos a produ-
forte predominância de médias empresas6, co- ção européia. O padrão de demanda de máqui-
loca-se como uma das dificuldades à internacio- nas-ferramentas nos anos 2000 foi dado pela in-
nalização. A associação de produtores alemã, a dustrialização de economias emergentes, que se
VDW, vem apostando em expor mais produtos concentrou em produtos de conteúdo tecnológico
intermediário, surpreendendo os produtores es-
pecializados em produtos de ponta. Arrisca-se afir-
6 Por conta dessa estrutura VDW (2011) assinala:
mar que a opção de produzir na Ásia esteja alian-
“Aside from several hundred sales and service sub-
sidiaries or branch offices of German manufacturers do a estratégia de assegurar um grande mercado
throughout the world, there are probably less than 20 consumidor à de rebaixar custos e de expor bens
German corporations producing complete machine to- de maior conteúdo tecnológico (criar demanda).
ols abroad at this time.” (p.19)
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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Fonte: Elaboração NEIT/UNICAMP, com base no Sistema de Contas Nacionais Trimestrais e PIA/IBGE.
16 Relatório de Acompanhamento Setorial
se beneficiou desse crescimento, como pode ser comercializam esses equipamentos com as eco-
observado pelo desempenho da produção física nomias industrializadas. As empresas produto-
de Bens de Capital para fins Industriais. ras de máquinas-ferramentas de capital nacional
A crise no último trimestre de 2008 interrom- (especialmente as maiores), por sua vez, apre-
peu essa trajetória. A produção interna de bens sentam, segundo um especialista da área, boa
de capital voltou a crescer em 2010, mas sem o capacitação para elaborar a parte mecânica das
ímpeto do período anterior, já que a recuperação máquinas, e chegam a ser exportadoras de má-
das economias desenvolvidas tem sido lenta e quinas de tecnologia intermediária, inclusive para
a concorrência internacional se acirrou profunda- as economias industrializadas. Haveria, entre-
mente. Na média de 2010, os gastos em FBCF já tanto, uma perda de qualidade à medida que os
haviam ultrapassado o patamar de 2008, mas a produtos vão se tornando mais complexos, mes-
produção de Bens de Capital para fins Industriais mo nesse segmento tecnológico tradicional. Ha-
não recuperou o nível médio de 2008, nem mes- veria, por exemplo, falhas de projeto de Centros
mo em 2011. de Usinagem fabricados por empresas de capital
Os empresários do setor de máquinas-fer- nacional (feitos com base na engenharia reversa)
ramentas, por sua vez, admitem que, nos seus gerando equipamentos menos confiáveis e mais
projetos de expansão e modernização pré-crise, suscetíveis a quebras do que os elaborados com
não chegaram a cogitar o uso de sistemas fle- projetos alemães ou japoneses. As máquinas ale-
xíveis integrados7 em suas próprias instalações, mãs e japonesas seriam mais duráveis, exigiriam
por exemplo , porque não tinham segurança em pouca manutenção corretiva, teriam maior efici-
relação à demanda futura. Esse sistema se carac- ência e precisão por terem concepção de projeto
teriza pela integração de máquinas CCNs através mais cuidadosa. Nos anos recentes, as empresas
de um sistema automatizado de transporte, tam- nacionais estariam procurando reforçar os esfor-
bém controlado por computador (HILSDORF et ços na área de projetos.
all, 2005) – ou seja, um sistema ainda menos de- É interessante notar que, em empresas de ori-
pendente de mão de obra e altamente produtivo. gem alemã, de tradição muito mais extensa que
Atualmente, coexistem empresas de diversos a brasileira, a precisão dos projetos vem de sua
tamanhos e de diferentes origens do capital pro- revisão contínua. Assim, eventuais avarias em um
duzindo máquinas-ferramentas no Brasil. Segun- equipamento são objeto de observação, correção
do o censo de capital estrangeiro realizado em e, quando pertinente, de incorporação de novas
2005 pelo Banco Central do Brasil, o maior volume especificações ao projeto original. Assim, é impor-
de recursos estrangeiros associado ao setor de tante conceder tempo à indústria de capital nacio-
máquinas e equipamentos no Brasil é de origem nal para o desenvolvimento de sua maturidade.
alemã, seguido pelos capitais norte-americanos As notícias da Ásia apontam a rapidez da me-
e italianos. Os japoneses, posicionados em déci- lhora da qualidade do desenvolvimento dos pro-
mo terceiro lugar, teriam um volume de recursos jetos pelos chineses, nos mesmos moldes da en-
quase desprezível no país. Do fluxo de entrada de genharia reversa, ameaçando os produtores de
recursos de 2005 a 2009, especificamente para o máquinas de padrão semelhante no mercado in-
segmento de máquinas-ferramentas, 48% foi de ternacional, não apenas por preço mas também
origem alemã e 20% de origem norte-americana. pelo avanço da qualidade.
Existem ainda vários produtores de máquinas-fer- Segundo uma multinacional que atua no Bra-
ramentas de capital nacional, inclusive alguns de sil, usuária de máquinas-ferramentas, além de os
médio e grande porte. equipamentos importados do Japão ou da Ale-
As multinacionais que operam há muito tem- manha poderem apresentar superioridade técni-
po no mercado local (desde pelo menos os anos ca, eles também são utilizados na estratégia de
1970), além de fabricar máquinas de projeto ori- marketing da empresa. Os seja, apresenta-se o
ginário da matriz, de conteúdo técnico superior, maquinário importado aos clientes como sinôni-
chegaram a desenvolver produtos no próprio Bra- mo de produtividade, precisão e de respeito aos
sil (no segmento de tecnologia intermediária) e prazos, já que raramente esses equipamentos
apresentam falhas.
Empresários brasileiros, neste sentido, se di-
7 Flexible Manufacturing Systems (FMS) ou Sistemas zem fortemente pressionados. O maquinário chi-
Flexíveis de Manufatura, no português.
Máquinas-ferramentas 17
nês, mais simples e (até aqui) menos confiável, é resguardou a sua indústria, mantendo-se desva-
muitíssimo mais barato. O maquinário alemão e lorizada frente à moeda de referência internacio-
japonês, tecnicamente superior, encontra-se um nal. A China, respondendo à crescente pressão
pouco mais caro que o produzido internamente, internacional, retomou o sistema de pequenas
restando uma faixa estreita de mercado para as e controladas valorizações cambiais a partir de
máquinas brasileiras. meados de 2010. As moedas japonesa e coreana
Os maiores produtores locais, de capital na- valorizaram-se fortemente, mas foi o real brasilei-
cional ou estrangeiro, dizem estar continuamente ro que mais se valorizou dentre as moedas apre-
revendo seus projetos, produtos e processos para sentadas, afetando profundamente a competitivi-
viabilizar a melhoria técnica e a competitividade do dade da indústria local. A despeito das posições
produto, em um trabalho contínuo junto aos clien- relativas, é importante salientar que a forte flutu-
tes. Isso tem contribuído para sua sobrevivência ação no valor das moedas, em tão curto espaço
em condições adversas. A queixa geral, entretan- de tempo, é desfavorável às decisões de produzir
to, é que as margens encolhidas pelo “custo Bra- e de investir de forma geral, deteriorando inclusi-
sil” e pela forte competição em preços que vêm ve as condições de demanda.
enfrentando dificultam o avanço nesse sentido. A contar o ambiente fortemente competitivo,
de demanda relativamente baixa, e mercados
abertos, as empresas produtoras de máquinas-
3.2. Fatores de competitividade sistêmica ferramentas já bastante internacionalizadas certa-
mente vêm arbitrando o melhor uso possível das
Os fatores de competitividade sistêmica se suas plantas espalhadas pelas diversas econo-
referem ao ambiente mais geral em que as em- mias nacionais (aproveitando os benefícios dos
presas do setor se desenvolvem. Para Nogueira acordos pluri e bilaterais). Assim, as empresas
(1993), o entorno sistêmico é de tal importância que têm capacidade de produção em diferentes
para a indústria de bens de capital, que, em geral, economias podem optar por produzir onde o cus-
supera os eventuais estímulos dirigidos ao seg- to é menor. Tomando como referência apenas a
mento (políticas industriais). paridade das moedas, beneficia-se quem estiver
Entre os fatores sistêmicos, as condições ma- produzindo na Europa, seguido pela produção
croeconômicas são de especial impacto sobre o nos Estados Unidos, na Ásia, e então no Brasil.
setor produtor de máquinas e equipamentos, já Gerentes de filiais alemãs do setor de máqui-
que a demanda dos seus produtos, afora os mo- nas-ferramentas no Brasil disseram, em entrevis-
mentos de mudanças tecnológicas mais radicais, ta, ser cada vez mais difícil justificar a sua opera-
depende das boas perspectivas dos demais seg- ção no Brasil com os custos cada vez mais altos
mentos da indústria. O aprofundamento da inter- em relação à matriz.
nacionalização, por outro lado, faz do ambiente É claro que a competitividade vai além da taxa
externo cada vez mais relevante para a análise de câmbio, mas esse é um elemento que, de sa-
da competitividade de um setor específico. A boa ída, reposiciona as possibilidades de competição
perspectiva de crescimento da economia brasi- dos diferentes produtores.
leira para os próximos anos, assim, não tem sido O juro, outro preço macroeconômico, baliza a
suficiente para garantir tranquilidade ao produtor decisão de aquisição de uma máquina ou equipa-
brasileiro de máquinas-ferramentas. mento como uma opção de valorização do capi-
A taxa de câmbio tem sido uma grande aliada tal, assim como constitui, junto às condições de
do fornecedor internacional. O Gráfico 3 ilustra financiamento mais amplas (prazos, garantias, se-
a grande desvantagem competitiva do produtor guros de crédito), um importante custo para o de-
local deste ponto de vista, apenas no período mandante. Ainda que o Brasil seja conhecido pe-
mais recente, pós-crise do subprime. Verifica-se las altíssimas taxas básicas, o setor de máquinas-
ali que, com a política monetária expansiva norte- ferramentas brasileiro conta com linhas especiais
-americana, o dólar se desvalorizou em relação à de financiamento (FINAME/BNDES) que apresen-
maior parte das moedas – inclusive às asiáticas. tam taxas de juros bastante razoáveis. Mesmo as-
O euro, referência para a competitividade euro- sim, se o empresário brasileiro optar por investir,
péia, com exceção do período que vai do final de o crédito subsidiado no Brasil não é a única opção
2009 a meados de 2010, foi a moeda que melhor de financiamento existente. A política monetária
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out/09
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abr/11
jul/11
Yen Euro Real
Won Yuan
Fonte: Elaboração NEIT/UNICAMP, com base em dados do Federal Reserve.
pelo FINAME/BNDES, apela-se ao fornecimento amortecer as perdas com os demais custos até
externo de partes e componentes. meados da década, passaram a ser um item de
A existência de um mercado de mão de obra pressão sobre as margens de lucro dos produ-
qualificada como pré-condição para a organiza- tores de máquinas-ferramentas no Brasil uma
ção de um segmento industrial fortalecido tam- realidade da indústria de transformação brasileira
bém seria um desafio para uma eventual expan- em geral.
são do segmento brasileiro produtor de máqui- Em geral, ao invés de ser tributado, o setor de
nas-ferramentas. Empresários, em entrevista, fa- máquinas-ferramentas, por ser um agente que
lam não apenas da insuficiência de engenheiros potencializa os ganhos de produtividade da in-
e técnicos em formação nas áreas da mecânica dústria, recebe benefícios do Estado. O setor de
e da mecatrônica no Brasil, mas da piora da qua- bens de capital vem sendo alvo de políticas espe-
lidade desta formação. Os profissionais estariam cíficas no Brasil desde 2003, quando se retomou
com crescentes déficits nas disciplinas básicas a tradição de implementar políticas industriais. O
como o português, a matemática e a lógica, o Gráfico 5, por outro lado, ratifica, ao menos em
que dificulta fortemente o treinamento dentro parte, um dos objetos de constante queixa do
das fábricas. segmento – a carga tributária e os custos admi-
O desenvolvimento tecnológico das máqui- nistrativos em torno do gerenciamento das obri-
nas-ferramentas tem caminhado no sentido da gações para com o fisco vem onerando o setor.
maior precisão, da maior flexibilidade para inter- Embora tenha ocorrido um recuo entre 2005 e
venção sobre a matéria prima e da menor inter- 2008, quando o setor manteve alta atividade, ob-
venção humana possível, seja sobre o material serva-se um movimento ascendente do peso dos
a ser transformado seja nas operações de medi- Impostos e Taxas (não incidentes sobre o produ-
ção e de avaliação qualitativas pós-deformação, to9) no Valor da Produção. Aquela proporção para
que, em grande parte, passam a ser feitas pelos o segmento produtor de máquinas-ferramenta é
próprios equipamentos. Essas mudanças fazem ainda maior que para a Indústria de Transforma-
com que se poupe mão de obra, havendo neces- ção como um todo, o que merece atenção.
sidade de um número menor de operadores para
controlar os equipamentos (com um operador
podendo observar de 3 a 4 máquinas ao mesmo
tempo). Mas, por outro lado, esses operadores
têm que ser melhor qualificados. Além de obser-
var o trabalho da máquina, fazer a manutenção
preventiva, fazer alguns cálculos e medições, o
operário ainda necessita eventualmente intervir
no controle da máquina e fazer pequenas repro-
gramações (algumas fábricas permitem essa in-
tervenção, outras não).
Os empresários, por sua vez, salientam que,
se têm dificuldade para aumentar os quadros
de funcionários qualificados, o existente seria
considerado um importante ativo, pelo profundo
conhecimento técnico já incorporado dentro das
empresas, que não deve ser subestimado e des-
perdiçado no caso de desmonte do setor. Grande
parte das inovações no segmento é incremental
e ocorre pela arguta observação do desempenho
do equipamento – seja pelo produtor da máqui-
na-ferramenta seja pelo cliente, que leva a infor-
mação ao produtor, de forma que os funcionários
9 Que segundo o IBGE são “Despesa com impostos e
experientes são fortemente valorizados no setor. taxas tipo IPTU, ITR, IPVA, etc. Não inclui os impostos
Neste quadro, o Gráfico 4 mostra como os constantes das deduções da receita bruta (ICMS, IPI,
Gastos com Pessoal, que foram importantes para ISS, PIS, COFINS, etc.) nem a despesa com provisão
para o imposto de renda.”
Máquinas-ferramentas 21
75
70
65
60
55
50
45
40
35
30
25
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
1.6
1.4
1.2
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009*
sões, já que não fica claro se a associação está sas, de forma que elas perderam participação na
tratando de dados amostrais ou da população. geração de empregos no setor como um todo.
Ainda que se considerem as imprecisões, Considerando os dados analisados, é possí-
verifica-se que, além de o Brasil apresentar um vel distinguir duas preocupações em relação à
número bem menor de empresas e de volume escala no Brasil: aquela relativa à firma, que re-
de emprego (cerca de um terço), predominam presenta as tradicionais vantagens proprietárias
empresas de maior porte na Alemanha. As em- relacionadas à diluição de custos fixos, ao poder
presas com mais de 100 empregados, que repre- de barganha com fornecedores e financiadores;
sentavam 2,3% das unidades fabris e 40,2% do e aquela relativa ao setor, que desenvolve siner-
emprego no Brasil, em 2010, constituíam 65% gias, justifica um setor fornecedor mais especiali-
das empresas e 94% do emprego do setor de zado, etc. No Brasil, ambas devem evoluir.
máquinas-ferramentas na Alemanha. Tanto o setor brasileiro tem se fortalecido
O Brasil tem um parque produtivo que corres- vagarosamente pelo crescimento ou “coopera-
ponde a 50% do da Itália, que, segundo os dados ção” de produtores, conformando firmas mais
Gardner, teria o quarto maior volume produzido resistentes à competição internacional, como
de máquinas-ferramentas em 201010. também não há um volume de produção que
Os dados do Cadastro Central de Empresas justifique a existência de um setor fornecedor
do IBGE, que exploram a concentração do em- mais dinâmico, por exemplo, ou mesmo que te-
prego nas maiores empresas dos setores de ati- nha poder de barganha em conjunto. A ABIMAQ
vidades, mostram que nem mesmo a profunda tem trabalhado intensamente em busca de maior
crise que o setor vivenciou, entre 2008 e 2009, competitividade do conjunto das empresas do
promoveu a consolidação. Conforme observa-se setor, mas iniciativas simples, como a de criação
na Tabela 4, número de empresas do setor não de uma central de compras conjuntas de aço,
diminuiu e queda do volume de emprego foi ge- proposta há mais de 3 anos em pleno boom das
neralizada, atingindo também as grandes empre- commodities metálicas e de investimentos no
Brasil, não se consolidaram – acredita-se que tan-
10 Caberia uma maior investigação quanto à interna- to pelo pequeno volume de compras que o seg-
cionalização da produção de máquinas-ferramentas na mento representa junto aos fornecedores como
Europa. É possível que o deslocamento de parte im- por ser difícil alinhar os interesses dos produto-
portante da produção do setor automotivo para o leste
europeu tenha levado também parte da produção de res individuais.
máquinas-ferramentas.
24 Relatório de Acompanhamento Setorial
> 1000
501 - 1000
251 - 500
101 - 250
51 - 100
até 50
0 20 40 60 80 100
Alemanha Brasil
Número de
Pessoal ocupado CR 41 CR 82 CR 123
Período empresas
total (Pessoas) (%) (%) (%)
(Unidades)
Fabricação de máquinas-ferramentas
2006 1.166 24.429 21,29 25,78 29,33
2007 1.240 27.320 22,04 27,73 31,22
2008 1.320 29.266 21,38 27,40 30,81
2009 1.362 25.296 19,88 24,39 27,44
Fonte: Elaboração NEIT/UNICAMP, com base no Cadastro Central de Empresas/IBGE.
1
CR 4: Participação do pessoal ocupado nas 4 maiores empresas em relação ao pessoal ocupado total.
2
CR 8 Participação do pessoal ocupado nas 8 maiores empresas em relação ao pessoal ocupado total.
3
CR 12 Participação do pessoal ocupado nas 12 maiores empresas em relação ao pessoal ocupado total.
Contas Nacionais Trimestrais), percebe-se que necedor. Em 2010, ficou atrás apenas da Alema-
o faturamento do segmento caiu ligeiramente nha, alcançando o segundo maior mercado de
entre 2004 e 2008 e o mix de vendas mudou origem das importações brasileiras naquele ano.
bastante. As exportações foram perdendo es- Muito se fala na grande mídia sobre a queda
paço frente ao mercado interno – pela provável do valor médio das importações de máquinas e
combinação de maior rentabilidade alcançada equipamentos no período (valor em US$ por to-
nas vendas internas, crescente concorrência in- nelada). Isso, como mostra o Gráfico 8, não ne-
ternacional e moeda local valorizada. Assim, o cessariamente está ligado ao recuo daquele valor
que parecia uma mudança estrutural importan- por país, mesmo porque o principal insumo des-
te em meados da década – a maior participação sas máquinas, o aço, teve forte alta no período.
das exportações no faturamento do setor – não Observa-se no Gráfico 8 que a queda de valor
se confirmou, enquanto a presença de importa- médio por país entre 2004 e 2010 teria ocorrido
dos aumentou no mercado local. As exportações apenas para a Suíça e a Áustria e não para a Chi-
brasileiras de máquinas-ferramentas represen- na ou Taiwan, como comumente se afirma. Na
taram, segundo dados COMTRADE, 0,33% das verdade, é o peso crescente desses países no
exportações mundiais em 2000, 0,44% em 2005, total de importações brasileiras que está baixan-
e 0,34%, novamente, em 2009. O faturamento de do o valor médio importado. Em 2000, Alemanha,
2010 sequer voltou ao nível de 2009. Estados Unidos, Japão e Itália somavam 70%
Nos últimos 15 anos (1996 a 2010), os cinco das importações brasileiras de máquinas-ferra-
maiores mercados de origem das importações mentas; em 2004, 65%; em 2010, 52%. Nesses
do Brasil foram a Alemanha, a Itália, o Japão, os mesmos anos, China, Taiwan, Espanha e Coréia
Estados Unidos e a China. Os quatro primeiros do Sul, que aparecem com os menores valores
venderam máquinas-ferramentas todos os anos médios da máquina importada, representaram
para o Brasil, e a China, em apenas 8 anos de ne- 9%, 12% e 30% das importações brasileiras de
gócios com o país (os últimos – de 2003 a 2010), máquinas-ferramentas nos respectivos anos.
já ocupa um lugar de destaque como grande for- O destino das exportações brasileiras no
70 4,0
60
3,5
50
3,0
40
2,5
30
2,0
20
10 1,5
0 1,0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
mesmo período (1996 a 2010), por sua vez, se exportada “no mundo” de 42%. No caso brasilei-
concentrou nos países de origem do capital das ro, ainda que o tipo de máquina exportada possa
multinacionais que operam no setor de máqui- ter se alterado no período, o preço médio aumen-
nas-ferramentas brasileiro (Estados Unidos e tou 25% de 2000 a 2004 e 109% de 2004 a 2010,
Alemanha) e na América Latina (com Argentina, de forma que o preço médio se elevou em 161%
México e Chile figurando como os maiores e de 2000 a 2010. Chama a atenção o alto valor
mais constantes mercados depois dos Estados médio das exportações para a China em 2010,
Unidos e da Alemanha). cabendo maior investigação.
Os dados de valor médio exportado, apresen- O diferencial observado da evolução dos pre-
tados no Gráfico 9, explicitam a falta de competi- ços das máquinas vendidas pelo Brasil e pelo
tividade em preço do produto brasileiro. De 2002 “mundo” ilustra um fato que os produtores locais
a 2009, os dados COMTRADE apontam para uma (mesmo de filiais de multinacionais) apontam. Há
elevação do preço médio da máquina-ferramenta prática desleal de preços não apenas nas máqui-
Reino Unido
Coréia
Espanha
Austria
Suiça
Taiwan
Japão
Estados Unidos
Itália
China
Alemanha
2010
2004
Total
2000
0 10 20 30 40 50
Africa do Sul
Cingapura
China
França
Paraguai
Chile
Estados Unidos
México
Alemanha
Argentina
2010
Total 2004
2000
0 10 20 30 40 50
nas da China ou de Taiwan, mas mesmo de pro- auxílio das próprias filiais de multinacionais, que,
dutores mais tradicionais (europeus, norte-ameri- em geral, tem mandato de produção e venda de
canos e japoneses), que estariam numa busca de- determinados equipamentos para a região. O for-
senfreada por mercados. No caso brasileiro, como necimento no caso do México geralmente se ori-
já observado, essa busca estaria claramente afe- gina na unidade produtiva instalada nos Estados
tando o comércio externo, e não os fluxos de IDE. Unidos, sendo os mandatos brasileiros destina-
O saldo comercial brasileiro de máquinas- dos à América do Sul.
ferramentas tem sido negativo. Mesmo para os Mesmo antes da crise de 2008, desconfiava-
países de origem do capital das filiais de multi- se que parte dos produtores brasileiros estaria,
nacionais aqui instaladas (EUA e Alemanha), o na verdade, se tornando importador não só de
saldo é fortemente negativo. O Brasil tem manti- componentes mas também de máquinas pratica-
do saldos positivos com a América Latina, com o mente acabadas. No próprio segmento de má-
28 Relatório de Acompanhamento Setorial
100
95
90
85
80
75
Considerações finais
De 2006 a 2008, o setor de máquinas-ferra- vas surjam do próprio mercado para contornar a
mentas brasileiro apresentou um desempenho atual perda de competitividade. É necessário o re-
razoável em contexto de excepcional demanda conhecimento de que houve um aprofundamento
interna. As importações, por outro lado, se apro- da internacionalização do segmento nos últimos
priaram de parcelas crescentes da demanda in- anos e que as empresas locais devem se forta-
terna, enquanto as exportações recuaram como lecer para serem competitivas nessas condições.
proporção do faturamento das empresas. Após a Para se tornar mais competitivo, o setor de
deflagração da crise no último trimestre de 2008, máquinas-ferramentas brasileiro precisa ganhar
as condições de mercado pioraram sensivelmen- escala. Seria importante tanto atrair maior volu-
te, com uma busca agressiva de mercados pelos me de investimentos estrangeiros, como facilitar
grandes produtores mundiais. e estimular a consolidação do setor, com linhas
Nesta situação as fragilidades do sistema de crédito especiais, por exemplo. Ambos os mo-
produtivo brasileiro, saltaram aos olhos. O se- vimentos, por sua vez, passam pela necessidade
tor no Brasil é pequeno, as firmas não operam de resguardar o setor, ainda que temporariamen-
com escala e são verticalizadas para contornar te, da crescente e desleal competição internacio-
a inexistência de um segmento fornecedor de nal. Não haverá IDE se as condições de importa-
partes e componentes. As condições sistêmicas ção continuarem mais favoráveis que à produção
nas quais as empresas operam dificultam ainda local. Não haverá consolidação se os produtores
mais o seu posicionamento frente à concorrên- locais não confiarem que poderão usufruir de fa-
cia externa: o câmbio está valorizado, o crédito tias maiores da demanda interna.
à comercialização das máquinas só flui para os Elevar, ou simplesmente “fazer valer”, a pro-
grandes produtores de máquinas-ferramentas, a teção ao setor – como, por exemplo, no caso da
disponibilidade de mão de obra qualificada é in- concessão de ex-tarifários, cujas regras foram
suficiente, o que representou custos crescentes alteradas em março de 2012 – e adotar uma po-
aos produtores. lítica correlata de atração de IDE seriam ações
O maior desafio para o setor de máquinas-fer- importantes para assegurar mais produtores atu-
ramentas brasileiro, assim como para o de máqui- ando a partir do Brasil, assim como para ampliar
nas e equipamentos em geral, é enfrentar o acirra- os mandatos das subsidiárias de empresas mul-
mento da competição internacional em condições tinacionais já instaladas no país.
sistêmicas desfavoráveis. As políticas setoriais Ainda no sentido de reconhecimento do apro-
devem ser aprofundadas para minorar o desnível fundamento da internacionalização, as condições
que aquelas condições impõem sobre a produção cambiais desfavoráveis, enquanto não contor-
local e ainda promover reformas estruturais que nadas, devem ser “aproveitadas” para a interna-
viabilizem a elevação da competitividade. Existem cionalização das empresas brasileiras em busca
empresas sólidas operando no Brasil que poderão de ativos tecnológicos e mercadológicos, tendo
sobreviver às condições adversas que se colo- como respaldo a ocupação do mercado brasileiro.
cam. O que está em jogo é a existência de um
setor como tal, já que as empresas mais frágeis
estão, aos poucos, tornando-se representantes
comerciais dos produtores externos.
Nessa conjuntura, e pela tradição empresarial
local, não é possível esperar que soluções criati-
Máquinas-ferramentas 31
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