Você está na página 1de 130

Apesar de todas as negações que têm Mario Moroni

ocorrido periodicamente, há mais de dois Há cerca de vinte anos, dedica-se a


mil anos os cristãos acreditam experiências e estudos sobre o Santo
tenazmente que o Santo Sudário seja o Sudário. É membro da British Society for the
lençol fúnebre que envolveu no sepulcro Turin Shroud (Sociedade Britânica de

Nosso Senhor Jesus Cristo. Procuramos Estudos sobre o Santo Sudário de Turim) e
do Centro Internazionale di Sindologia di
encontrar o autor ou o falsificador, como
Torino (Centro Internacional de Pesquisas
se diz, da controvertida imagem,
sobre o Sudário de Turim). Autor de
sabendo que isto seria de grande
numerosas memórias apresentadas em
conforto para todos aqueles que não
congressos nacionais e internacionais,
querem crer. Com o
pensamento projetou-se, sobretudo, como expert
voltado, sobretudo a esses amigos que numismático na condução de numerosas e
perderam tudo, menos a razão, interessantes campanhas experimentais
escrevemos este ensaio técnico- para a verificação de algumas das
científico. Considerando que uma problemáticas ligadas à formação da
técnica para ser capaz de reproduzir imagem, à datação dos tecidos de celulose
uma obra de arte deve satisfazer todas e outros.
as características nela presentes e Francesco Barbesino
render-se aos meios técnicos e aos Diplomado em engenharia industrial,

conhecimentos à disposição na época trabalha no Departamento de Química da


Politécnica de Milão, primeiro como
da suposta realização, esta obra
responsável pelo Laboratório de Provas
comprova que tanto artistas quanto
Materiais, depois como cientista sênior no
falsários não poderiam ter feito tais
Centro de Informações, Estudos e
milagres (só de pensar, sentimos
Experiências de Milão. Participa de
repugnância), afinal por mais que sua numerosos programas multidisciplinares de
arte seja universal e tenha ainda assim pesquisas como expert em provas materiais
eles estavam presos às limitações e envelhecimento de materiais poliméricos.
técnicas de sua época. Há muitos anos faz parte da Aliança
Católica, uma associação cívica cultural
para a difusão da doutrina social da Igreja
Católica.
SANTO SUDÁRIO
A IMPOSSIBILIDADE DE FALSIFICAÇÃO
Mario Moroni e Francesco Barbesino

SANTO SUDÁRIO
A IMPOSSIBILIDADE DE FALSIFICAÇÃO
TRADUÇÃO

ANTÔNIO LOTTI NETO

1ª edição

Editor Responsável: Ítalo Amadio


Editor Assistente: Roberto F. Amadio
Coordenação de Produção Editorial: Katia F. Amadio
Autoria: Mario Moroni e Francesco Barbesino
Tradução: Antônio Lotti Neto
Projeto Editorial: Marco Polo Henriques
Assessor Teológico: Padre Cleodon Amaral de Lima
www.celebris.com.br Capa e Projeto Gráfico: Walter Mazzuchelli
Produção editorial: ACWM Artes Gráficas
Revisão: MineoTakatama
e-mail:sac@celebris.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
_____________________________________________________________________
Moroni, Mario
Santo Sudário : a impossibilidade de falsificação / Mario Moroni, Francesco
Barbesino; tradução Antônio Lotti Neto. - São Paulo : Celebris, 2005.

Título original: Apologia di un falsário : Un'indagine sulla


Santa Sindone di Torino.
Bibliografia.
ISBN 85-89219-41-0

1. Santo Sudário 2. Santo Sudário - Falsificação


3. Santo Sudário- História I.Título.
04-8091 CDD-232.966
_____________________________________________________________________
Índices para catálogo sistemático:
1. Santo Sudário : Origem histórica : Cristologia 232.966

 Copyright – todos os direitos reservados à:

Av. Casa Verde, 455 – Casa Verde


CEP 02519-000 – São Paulo – SP
www.riedeel.com.br – e-mail: sac@rideel.com.br

Proibida qualquer reprodução, seja mecânica ou


Eletrônica, total ou parcial,
Sem a permissão expressa do editor.

1 3 5 7 9 0 8 6 4 2
0 40 5
Apresentação a edição brasileira
A genialidade de Mario Moroni e Francesco Barbesino por pouco não

causou aos leitores a impressão de que o livro tratava como uma criação real o que

na verdade constitui uma fábula. O Santo Sudário, que é o resultado de um

fenômeno divino impossível de ser imitado ou repetido por mãos humanas, pode às

vezes causar dúvidas aos incrédulos ou aos humanos de pouca fé, mas mesmo

assim estaremos diante da maior relíquia da Cristandade e do maior milagre

científico em tamanho e complexidade.

Ouvimos alguém dizer que não necessitamos do Santo Sudário para

acreditarmos em Cristo, o que é verdade, mas o pano de linho que envolveu Jesus

de Nazaré pode ser uma fonte que inspire a aumentar a nossa fé. A bomba atômica

deixou marcas nos escombros da grande explosão, no Japão, apesar de destruir e

queimar, ao contrário da "energia divina" que impregnou de sangue o Sudário, sem

queimá-lo.

Quando o papa Clemente VII, em 1390, tomou a decisão infeliz de editar

uma bula para afirmar que o Sudário não era verdadeiro, recebeu como recompensa

divina o título de "anti-papa" e teve de negá-la depois de três meses, a pedido de

todos os cristãos. Criar um falsário imaginário para o "Grande Milagre" faz-nos

valorizar ainda mais o poder e a glória de Deus.

Quanto mais estudarmos e vivermos o Sudário, mais saberemos que não

há coincidência, e sim o dedo do Criador em tudo. Escolher um pano de Unho puro,

de primeiríssima qualidade para a época, sem costuras ou emendas, para envolver o

corpo de um condenado à morte não era coincidência - era já o Senhor

manifestando-se por meio da vontade de José de Arimatéia, membro do Sinédrio e

amigo de Pilatos. Que coragem!


Não podemos permitir que inescrupulosos tentem manchar a vida artística

de Leonardo da Vinci dando-lhe a autoria da pintura divina. Sabemos da vaidade

dele ao assinar suas obras, o que não condiz com o artista a comparação com o

corpo físico de Jesus, de 1,80 metro, 78 quilos, porte atlético, e, sem dúvida, muito

mais belo em físico e espírito. A maneira, a forma, a energia e a técnica utilizada por

Deus para ressuscitar seu filho Jesus ainda são ignoradas pelo homem, e, quanto

mais aparelhos e técnicas são criados e descobertos, mais clara torna-se a

grandeza da ressurreição. É até ridículo, hoje, falarmos do teste do carbono 14, pois,

com os avanços da ciência, os resultados obtidos pelo infeliz Walter McCrone, em

1978, que afirmava ser o Sudário da era medieval, já não podem ser levados a sério,

uma vez que os atuais cientistas apontam centenas de causas e motivos que

redundaram no maior erro interpretativo da história do Santo Sudário. Para esses

estudos não foram levados em consideração: a manipulação das mãos que jogaram

água para apagar o incêndio de 1532, em Chambery - local das peregrinações das

pessoas que pretendiam tocar o Sudário; a fervura realizada pelas irmãs clarissas;

os remendos colocados no Sudário; a retirada, para exame, de parte da borda, e

não do centro do Sudário, onde há maior quantidade de sangue. Até hoje temos de

esclarecer essas afirmações levianas, apoiadas por grandes autoridades da época.

Ao sugerir o subtítulo "A impossibilidade de falsificação" foi apenas para

induzir o leitor a perceber que a beleza do livro estava em criar um gênio farsante, o

qual, mesmo com o auxílio do demônio, não teria capacidade de imitar Deus. Ao

examinar o Sudário por meio da termografia, percebemos a cor amarela como

emissora de calor e a cor azul, exatamente próximo à barba, como uma zona fria, e

é isso que encanta a "ciência divina", capaz de separar o lado santo do lado onde o

carrasco arrancou parte da barba de Jesus.


Os detalhes do flagelo e do suplício apresentados neste livro levam-nos à

reflexão de que somos felizes por acreditar sem tê-lo visto, alimentando-nos de

coragem para continuar a evangelização verdadeira, isto é, levando a Boa Nova a

todos os humildes de coração.

A terra impregnada no Sudário, o pólen de plantas em extinção, a

fotografia em três dimensões - tudo isso reforça e enaltece os autores, lembrando-

nos que o Pai não se esqueceu de atender a todos os tipos e especialidades da

ciência, a fim de que cada um tivesse a sua maneira de comprová-lo.

Sobre o sangue humano tipo AB, encontrado no Sudário, estudado e

muito pesquisado, bastava à afirmação de que nenhum tipo de tinta contém

hemoglobina, pigmento existente apenas no sangue. Muitos falsários tentaram

durante anos reproduzir o Sudário, mas nunca conseguiram, por meio de tinta,

conferir a expressão de morte por agonia e ressurreição por divindade.

As qualidades humanas e científicas do Dr. Mario Moroni e do Dr.

Francesco Barbesino nos levaram ao interior deste livro para dizer aos ouvidos dos

falsários: "Vocês, por mais sábios que fossem, não teriam o dom do autor, nosso Pai

e Senhor Deus".

Que os leitores se enriqueçam e aumentem seus conhecimentos após a

leitura desta fábula escrita por dois gênios.

Dr. José Humberto Cardoso Resende

Presidente do Centro Sindonológico Brasileiro

Presidente da Associação Santo Sudário de Jesus

Professor limiar da Universidade Gama Filho

Prefácio
Há muito tempo um espírito puro duvidou que Napoleão tivesse existido. A

coisa não é, portanto, paradoxal. Se colocarmos tudo sistematicamente em

discussão, da autenticidade dos documentos à veracidade dos testemunhos, o

significado dos achados pode fazer uma vida ser resistida em suas próprias

negações. Certamente não basta um indício que defina a origem de um documento

ou um achado histórico. Quando, não obstante os indícios são evidenciados, eles

organizam entre si e convergem para uma conclusão de certeza racional.

Os conhecimentos adquiridos nas mais variadas disciplinas dentro desse

venerado achado histórico que é o Santo Sudário de Turim fornecem numerosos e

concordantes indícios de sua autenticidade. Para nós, que não cultuamos a ciência,

é pacífico que não podemos prestar atenção a essas respostas definitivas e nunca

alcançaremos a Verdade, que tem outras saídas a serem reveladas que não essas

das investigações técnico-científicas.

Em todo o caso, os próprios limites de cada pesquisa sobre documentos

históricos não autorizam uma objeção irracional. Porém, o que não faltam são

falsificadores. Nos debates sobre o Sudário de Turim foram inseridas freqüentes

demonstrações de velhas teses contestadas, objeções para as quais já se

respondeu, então, inventam-se novas para dar continuidade. Nós estamos na era da

propaganda: o ponto principal é apresentar suas próprias teses conscientemente,

sem incertezas. Sempre há um grande número de distraídos ou desinformados que

proporcionam ótima audiência. Até mesmo se alguém se irritasse em demonstrar o

contrário lhe ocorreria muito tempo para analisar, verificar e rebater: desse modo, o

golpe quase sempre tem sucesso.

Se a ciência alcançou hoje, como os sociólogos nos informam, menor nível de

conscientização dos últimos duzentos anos, isso também é devido aos inúmeros
homens da ciência cujo os preconceitos e a ansiedade de serem os protagonistas

são maiores e mais proeminentes em comparação com a procura da Verdade.

Não se trata de renunciar às próprias hipóteses de trabalho, mas

simplesmente verificar todos os fatos antes de falar. Às vezes parece que as

ideologias, não contentes de ter devastado o campo da política, querem ridicularizar

o da ciência. Com efeito, é realmente das ideologias assumir um detalhe como

chave de interpretação geral da realidade, e quando se quer tirar de um elemento as

análises dos resultados conclusivos, negligenciando os modos interdisciplinares, que

é o caráter real de qualquer pesquisa, nos colocam em uma atitude ao mesmo

tempo ideológica e anti-científica.

O Santo Sudário de Turim é o resultado da confluência de numerosos fatores,

alguns notáveis, outros, não; contudo, perfeitamente definidos. Essa confluência é

em si mesma um milagre, não no sentido de ser necessariamente impossível

desenvolver um modelo (certamente complexo), que irá permitir um dia a reprodução

em todos os seus particulares dessa venerada relíquia, mas no sentido de que

algumas (coincidências) nos pegarão de surpresa. O mesmo ocorreu ao expert em

estatísticas, o apólogo, quando um chimpanzé, batendo as teclas de uma máquina

de escrever ao acaso, começou a compor, sem erros, uma canção da Divina

comédia, coisa que outro perito teria hipotetizado já como possível.

Algumas coincidências às vezes se manifestam totalmente inesperadas sem

que possam achar uma explicação no campo dos fenômenos, parecendo haver uma

estreita aliança com o milagre. O Sudário é um exemplo disso.

Para falar dessa venerada relíquia, idealizamos um super-homem, tão culto,

tão qualificado, tão modesto, tão intelectualmente superior ao seu tempo que nos faz

recordar de perto o chimpanzé do apólogo. Este com sorte, poderia ser capaz de
fabricar, sem incertezas, o pano de Turim, contrariamente a todas as outras pessoas

que, não desfrutando da mesma sorte supracitada, precisariam de tempo, de grande

paciência e de menos preconceitos. E, naturalmente, da ajuda do bom Deus.

OS AUTORES

ÍNDICE

Prefácio ............................................................................................................................... 10
Introdução .......................................................................................................................... 15
A procura da data do nascimento........................................................................ 18
Um grande tecnólogo..................................................................................................... 24
O pano................................................................................................................................ 24
A imagem ........................................................................................................................... 25
O quadro ........................................................................................................................... 27
A impressão térmica................................................................................................. 35
Radiação nuclear e outras formas de energia ........................................... 44
Imagens negativas naturais................................................................................ 47
Gênese natural por contato................................................................................ 49
O incêndio de 1532 confunde as cartas ......................................................... 56
Uma primeira consideração ...................................................................................... 64
Um grande conhecedor do mundo antigo............................................................ 66
Os aromas......................................................................................................................... 66
A terra ............................................................................................................................. 68
O pólen ............................................................................................................................. 69
Um doutor anticonformista ...................................................................................... 75
O flagelo............................................................................................................................. 76
A coroa de espinhos..................................................................................................... 77
A ferida do pulso esquerdo................................................................................ 78
... e ao pé direito................................................................................................. 82
A ferida nas costas................................................................................................. 84
A moeda sobre o olho direito ........................................................................... 86
... e sobre o supercílio esquerdo ............................................................... 91
Uma segunda consideração..................................................................................... 93
Uma pequena fonte de luz......................................................................................... 95
As análises com o C14............................................................................................ 95
As respostas dos obscuros ................................................................................ 101
O Sudário é autêntico.......................................................................................... 115
Introdução

Durante muitos séculos os nossos antepassados e as pessoas crédulas

retiveram na memória, de boa-fé, que o santo Sudário estava preservado na


Catedral de Turim, à esquerda do altar principal onde foi gravado natural ou

milagrosamente, o semblante humano de Jesus crucificado. Hoje o panorama

mudou. Cientistas e profissionais renomados classificam essa crença como

infantilidade, herança de tempos imaturos, com base na postulação de que o

Sudário é um ícone elaborado em tempos posteriores aos da Paixão. Desnecessário

dizer que isso seria muito útil, quase um dever cívico - colocar em dúvida a ciência -,

pois devemos tudo a ela, da criação da espinha dorsal à bomba atômica, e nós

agiríamos com insensatez se não analisássemos, no caso específico, as indicações

e as sugestões de alguns cientistas ilustres que durante anos se dedicaram a um

trabalho de desmitificação radical.

Com base na postulação citada fomos à procura do falsificador ou do

artista (o dolo não deixa de estar implícito) - o autor do famoso ícone. O presente

trabalho é a descrição dessa busca e dos resultados obtidos. Não nos restam

dúvidas sobre a veracidade Ao Santo Sudário, como documentamos no item "O

Sudário é autêntico".
A procura da data do nascimento

Ao buscar a origem dessa longa história e tentar determinar a data de

nascimento daquele que em nossa opinião não foi um falsificador, mas uma grande

personalidade da história do progresso humano, logo nos primeiros passos

encontramos gravíssimas dificuldades, infelizmente. Os "fanáticos do Sudário"

sublinham em altos brados a existência de elementos que comprovariam a sua

veracidade desde os primeiros séculos da era cristã e tornariam plausível a

fabricação do venerado Sudário já na época de Jesus. A tese deles é que através

dos séculos a arte paleocristã e conseqüentemente a bizantina teriam retomado os

traços somáticos da face representados no Sudário1, e aos olhos deles tal imagem,

considerada autêntica, desfrutou de grande credibilidade. Assim, diversos exemplos

podem ser citados: um sarcófago preservado em Santo Ambrósio, em Milão, de 380

d.C; um afresco nas catacumbas de Comedela, em Roma, do século IV; um ícone

do século VI preservado no monastério de Santa Catarina, no monte Sinai. Também

os imperadores bizantinos não mostraram grande imaginação ao representar o rosto

do Salvador, que mantiveram idêntico ao de Justiniano II (692); Miguel III (843); até o

ano anterior à queda de Constantinopla, causada pela quarta cruzada. Para

1
São características a barba espessa, o bigode irregular e o chumaço de cabelo caído no rosto em forma de E,
bem como os grandes olhos fechados e as faces inchadas, os longos cabelos que caem nas costas e escondem as
orelhas, o nariz reto com a ponta achatada e as narinas dilatadas.
demonstrar que o que está reproduzido é o rosto, fazem espelhar dois semi-rostos: o

do Sudário propriamente dito e aquele tirado do ícone, do afresco ou da moeda, de

forma que haja uma perfeita continuidade entre os dois lados da imagem, ou,

utilizando o método das perícias judiciais para o reconhecimento das impressões

digitais ou dos traços somáticos, sobrepor as imagens à do rosto do Sudário e

determinar as correspondências observadas entre elas, os chamados pontos de

congruência. Ressaltam que nos tribunais dos Estados Unidos bastam 14 pontos de

congruência para que o reconhecimento seja oficial, e eles já acharam mais de 145

pontos entre o rosto do Sudário e uma moeda de Justiniano II2!

Essas experiências, embora sejam um pouco sugestivas, não

demonstram, todavia, que o gênio que queremos revelar não tenha existido, mas

simplesmente que os traços do vulto de Jesus foram notados desde os primórdios

da era cristã (talvez o Sudário original?) por artistas que conheciam bem esse

período e reproduziam com perfeição cada detalhe. Tanto conheciam a tradição

iconográfica bizantina que reproduziram um Cristo manco do pé direito3.

Naturalmente isso não fornece nenhuma contribuição para determinar a data de

nascimento do nosso herói, que pode ser de um século qualquer da nossa era, pois

ele não nos deixou incidências para que pudéssemos identificar detalhes da cultura

e, em particular, da arte figurativa de sua época.

Entretanto, na nossa pesquisa ficou comprovado que o artista do Sudário

deve ter nascido nos primórdios do ano da graça de 1356, porque sabemos por meio

de documentos que o Sudário dele aparece em Lirey, na França, na diocese de

Troves, cujo proprietário, Godofredo de Charny, carrega consigo todas as

2
A. D. Whanger e M. Whanger. "Polarized Image overlay technique: a new image comparison method and its
applications", in: Applied Optics, 24, nº 6, 15/03/1985, pp. 766-772
3
3. Na verdade, um dos joelhos mais flexionado que o outro, na crucificação, revelaria que no rigor de sua morte
uma perna apareça visivelmente mais curta em relação àquela à qual estava sobreposta.
ornamentações do rei da França e morre no dia 19 de setembro do mesmo ano na

Batalha de Poitiers. Naquele ano, depois de ter erguido uma igreja colegiada em

Lirey (pequena cidade situada a Basílio I, o Macedônio (869); Constantino VII e

Romano I (945-959); Romano III (1030) e Manuel I (1180), 10 quilômetros de

Troyes), deu, em confiança aos cânones, essa tela para ser ostentada4. Dizem ainda

que o lençol foi doado ao conde Godofredo I de Charny pelo rei Filipe VI de Valois

como recompensa pelo desempenho dele durante a invasão de Calais. Fazem o

povo acreditar (ou eles acreditam sem pestanejar?) que se trata do lençol fúnebre

que envolveu Jesus no sepulcro. Todavia, quando, trinta anos mais tarde, depois de

um período em que a região foi palco de várias guerras, o Sudário reaparece em

público, e Godofredo II, sucessor do pai, recebe a concessão real e pontifical para

ostentação (1389), mas tem a oposição do bispo diocesano monsenhor d'Arcis, que

recorre ao rei pedindo a revogação de tal concessão. Cansado das polêmicas

surgidas entre cânones e senhores de Charny, de um lado, e o bispo d'Arcis, de

outro, o papa Clemente VII emitiu em janeiro de 1390 uma bula ordenando que

todos deveriam aceitar que o pano não era o verdadeiro Sudário, mas uma cópia.

Parecia um julgamento definitivo, mas em junho do mesmo ano uma outra

revogação concede nova indulgência àqueles que continuaram a visitar Lirey o local

onde se conservou "com veneração, o Sudário com as impressões de Nosso Senhor

Jesus Cristo". Porém os Charny se defenderam com eficácia daquilo que soava

como uma acusação implícita de fraude mais ou menos voluntária. Mas monsenhor

d'Arcis não se dissuadiu da idéia. Ofendido pela falta de respeito à sua autoridade,

preparou um esboço de memorando que se tornou famoso, pois ali afirmou

4
Carta do bispo de Troyes, Henrique de Poitiers, para Godofredo I de Charny datada de 28 de maio de 1356.
Arquivo Departamental de l'Aube, Troyes, I, 17 -original em pergaminho; e Arquivo Nacional, Paris, Cartum L
746, nº 22 - cópia cartácea Camusat, p. 422v, na qual os presidentes se cumprimentam pela feliz conclusão dos
trabalhos da colegiada.
explicitamente que sua primeira ostentação, em 1355, ocorreu sem a autorização de

seu precursor, o bispo de Troyes, Henrique de Poitiers, que conduziu uma

indagação sobre o pano e descobriu o pintor, réu confesso, que com astúcia o havia

pintado. Os responsáveis por esse engano, descoberta admirável, tinham escondido

o lençol até meados de 1389.

Desafortunadamente possuímos somente dois impressos do memorando:

uma cópia do outro, sem data e sem assinatura. Os fiéis ao Sudário não deixam de

observar que nas escrituras de Clemente VII, em se tratando do Sudário, não se

encontra nenhuma referência a esse documento, mas recordam as várias cartas de

Charny, sobretudo da enviada ao bispo, que é muito significativa e não menciona o

memorando. Isso está de acordo com o que foi exposto acima e o exame dos

documentos depositados na Biblioteca Nacional de Paris, relativos às querelas entre

monsenhor d'Arcis e o senhor de Charny, que permitem afirmar que os escritos

nunca foram enviados às cortes de Avignon5. Deixando de lado todas as prevenções

possíveis, o memorando diz somente, e de modo genérico, ter descoberto a fraude,

e o modo como foi pintada a obra do artista, mas faltam as referências relativas à

investigação que foi conduzida pelo antecessor, Enrico di Poitiers (atos do processo

contra os Charny ou outro documento), e o que conta mais na nossa investigação é

o nome do dito pintor que teria pintado a obra, pois é aqui que o monsenhor d’Arcis

erra: se o suposto falsificador e o autor do Sudário são a mesma pessoa, aquilo que

apareceu na frente do seu antecessor não é um ladrão de galinhas qualquer, mas

um gênio do qual não podemos nem imaginar a imensidão da sua grandeza.

Nesse caso, aquelas preciosas cópias do memorando, agora em nosso

poder, são consideradas as provas resplandecentes de que o Sudário é uma pintura

5
H. Leynen. Sudarion, 2/09/1993; e L. Fossati, "Os mais antigos; documentos sobre o Sudário", in: Estudos
Católicos, nº 287, jan., 1985, pp. 23-31.
do século XIV ou mais corretamente, como diríamos hoje, uma manufatura originária

da alta Idade Média. Sobretudo, nem entre o mais alto clero existe essa convicção:

primeiramente, o cônego Ulisse Chevalier, professor doutor da Universidade Católica

de Lyon, empenha-se, no início do século XX, a constituir uma verdadeira e própria

cruzada com tal fervor que foi necessário a intervenção da Santa Sé para apagar o

ímpeto tido como excessivo6. Depois o jesuíta Herbert Thurston, que tem o mérito de

ter desmitificado o Sudário, na homônima voz da Enciclopédia Católica.

Finalmente, em 1988, a análise com o carbono 14 foi introduzida para

datar com grande precisão o Sudário: como os peritos em espectrometria de

massa e aceleração (EMA) dos três laboratórios encarregados da análise já previam,

o Sudário foi datado entre os anos 1260 e 1390. É a demonstração definitiva que o

linho do Sudário de Turim é de origem medieval, segundo artigo da revista Nature,

que apresenta o resultado dessa análise.

Precisamos admitir que do mestre do Sudário sabemos bem pouco, e,

todavia, é possível que essa seja uma ilusão de óptica para nós, os homens, de uma

sociedade em que todos são catalogados, fotografados e estampados várias vezes.

Se caminharmos, por assim dizer, na contramão, podemos concordar que sabíamos

dele muito mais do que nos parecia à primeira vista. Com grande probabilidade,

viveu por volta do século XIV na França, e fala-se ainda da sua pessoa, pela sua

obra de arte. E para fazer render ainda mais viva a imagem que aparece devemos

separar os dotes técnicos dos artísticos e dos morais sem negligenciar, todavia, o

seu prodigioso saber.

6
P. L. Baima Bollone. Sindone o no Turim, Società Editrice ; Internazionale, 1990, pp. 251-253.
Um grande tecnólogo

O pano

Começaremos primeiramente pelo pano: como é de nosso conhecimento,

o Sudário é um longo lençol funerário de linho rústico, costurado à mão, com um

desenho de espinha de peixe, de 4,36 metros de comprimento e 1,10 metro de

largura. O comprimento é justificado pelo fato de que uma parte do tecido vinha

colocada embaixo do cadáver e o que restava era costurado e recobria a parte

anterior. O tecido de espinha de peixe ou sarja francesa, transpassado com duas ou

mais voltas, adquire um efeito agradável e estético. É um tipo de tecido muito macio

que já tinha sido notado no distante período neolítico e foi observado também nas

antigas amostras de linhos sírios, egípcios, judeus e romanos7. Todavia, segundo

um notável conhecedor de tecidos, e se considerarmos os três elementos que o

constituem - a armadura, a matéria-prima e o entrelaçamento urdido da trama -, não

existe nada igual ao pano do Sudário. Nenhum tecido antigo, ou mais recente,

reflete completamente as características encontradas no pano. Alguns deduzem que

entre os poucos linhos antigos conservados até hoje aquele similar ao Sudário foi

casualmente perdido, mas qual a melhor prova que se pode apresentar que um

gênio solitário não é o artista?

7
M. C. Siliato. Indagine su um ântico delitto. Roma, Piemme, 1983, pp. 157-159.
Por fim, o entrelaçamento das fibras do tecido (Z) não é usual. Porém,

existem alguns tecidos sírios e palestinos da época imperial que apresentam os

mesmos entrelaçamentos. O nosso artesão deixou no pano, como se fosse de

propósito, algumas fibras de algodão empilhadas uma nas outras que o professor

Raes, um expert em tecidos, afirma ser do tipo erbaceum, proveniente da área

egípcio-palestina8. Pelo contrário não se encontrou nenhum vestígio de lã, e alguns

atribuíam o fato à pura casualidade; outros recordam que segundo a lei mosaica

(Deuteronômio 22,11) era severamente proibido misturar fibras animais às vegetais

e os hebreus usavam teares diferentes para tecer o algodão e a lã.

A imagem

Como todos sabem, o Sudário reproduz em tamanho natural a imagem

frontal e dorsal de um corpo humano definido com riqueza de detalhes. As duas

imagens que se contrapõem pela cabeça mostram um corpo não lavado,

completamente manchado de sangue, e um vulto confuso, de cabelos longos, barba

e bigodes. Uma imagem quase tênua e esfumada marrom-clara, surge do fundo do

pano, por uma ligeira diferença da intensidade das cores, e em alguns pontos do

corpo, como rosto, pulsos, pés e costas, aparecem amplas manchas vermelho-

escuras e muitas outras menores, espalhadas por todo o corpo.

A imagem é muito fraca e em baixíssimo contraste com o suporte da tela.

Somente de perto pode-se perceber as bordas da imagem9, pois existem poucas

diferenças entre a imagem e o linho circundante. Cada trama do tecido é composta

8
Gabriel Vial afirmou que poderia tratar-se de resíduos devido à normal poluição através dos séculos; Gilbert
Raes nos faz observar que as bandas laterais (que poderiam ser de época posterior) não apresentam traços de
algodão, e, além disso, durante as análises de 1988, também o laboratório de Oxford encontrou fibras estranhas
que, analisadas por outro laboratório têxtil, revelaram ser de algodão.
9
. LA. Schwalbe e R. N. Rogers. "Physics and chemistry of the Shroud of Turin - A summary of the 1978
investigation", in: Analytica Chimica Ata, 135, 1982, pp. 3-49.
de 50 a 100 fibras torcidas entre si: na área onde aparece o claro-escuro não

existem muitas diferenças de intensidade de cores, pois ela é colorida de modo

uniforme, cada uma com sua intensidade. No microscópio, as fibras que reproduzem

a imagem aparecem bem corroídas e refletem a luz muito mais que as outras. O

amarelado parece ser atribuído a uma oxidação e desidratação, com a conseqüente

deterioração da celulose que compõe as fibras10.

A imagem do Sudário, e em particular o vulto do Salvador, Aquele que

todos os cristãos conhecem, reproduzida em milhares e milhares de cópias, foi

descoberta durante a ostentação que ocorreu em Turim entre 25 de maio e 2 de

junho de 1898. Ela foi concedida pela Casa dos Savóia, então proprietária do

Sudário, por ocasião das núpcias do príncipe herdeiro Vittorio Emanuele com Elena

dei Montenegro. O advogado Secondo Pia, um fotógrafo amador e de fama

internacional, foi autorizado a tirar algumas fotografias do pano. Depois de algumas

tentativas malsucedidas por falta de iluminação, em 28 de maio conseguiu uma

chapa de metal de 50 por 60 centímetros. Era o próprio Pia quem revelava as

fotografias. Com algumas chapas de negativos ainda gotejantes, disse ao seu

colaborador: "Veja, Carlino, se isso não é um milagre11". Surgiu um retrato em

negativo perfeitamente visível no qual as áreas de maior relevo eram mais escuras e

as reentrâncias, mais claras.

Como não pensar com espírito bizarro que tinha criado uma foto de

existência efêmera, com a expectativa de que, com novas técnicas, futuros cientistas

pudessem decifrar a imagem? Provavelmente sem a aplicação de uma técnica

10
E. J. Jumper et al. "A comprehensive examinalion of the various stains and images on the Shroud of Turin", in:
ACS Advances in Chemistry, nº 205; Archaeological Chemistry III; American Chemical Society, 1984.
11
Uma ótima descrição das circunstâncias, sintética, mas rica em detalhes, e chamadas
bibliográficas, in: Luigi Fossati, La ripresa delia fotografia delia sacra Sindone durante
l'Ostensione del 1989, Collegamento Pro Sindone, set./out, 1994, pp. 3-34.
pictórica que entraria em acordo com a coloração superficial das fibras, mas com

uma inversão fotográfica que fizesse emergir inesperadamente as linhas

evanescentes.

O quadro

Todavia, a hipótese de que uma técnica pictórica é a base da revelação da

imagem encontra ainda hoje crédito em numerosos cientistas e pesquisadores.

Infelizmente esses voluntariosos não conseguem dar-se conta de certos dados

históricos e da objetividade em relação ao objeto, propondo soluções não de todo

satisfatórias. Por exemplo, constatou-se que a menos de 1 metro de distância as

bordas da imagem desaparecem (pela neutra inibição lateral), mas nada nos impede

de pensar que o nosso artista tenha pintado a uma certa distância do pano,

utilizando um pincel bem comprido. Não obstante é arriscado sustentar, como afirma

Maria Consolata Corti e os ingleses Clive Price e Lynn Picknett, que o Sudário é

trabalho de Leonardo da Vinci. Estes últimos atribuíram a Leonardo também a

invenção da máquina fotográfica: o vulto do Sudário seria um auto-retrato onde o

corpo foi fotografado com a aparência de um homem crucificado propositalmente.

Infelizmente, como já foi mencionado, existem alguns documentos que dão conta da

presença do Sudário na França (revogando aqueles precedentes muitas vezes

citados pelos partidários do pano) já na metade do século XIV - cem anos antes do

nascimento de Leonardo (1452).

Uma das mais renomadas autoridades que sustentam a tese de que o

Sudário é uma obra pictórica do século XIV é o americano Walter McCrone,

experiente em microscopia e microanálise. Ele levantou a possibilidade de executar

uma série de observações no microscópio e analisar algumas amostras tiradas por


meio de uma fita adesiva, em 1978, por Ray Rogers, em 32 pontos do Sudário tidos

como significativos. McCrone encontrou vestígios de oxido de ferro (Fe203),

partícula fundamental do ocre vermelho, em diversos pontos do Sudário: estava

mais presente sobre o corpo do que sobre as manchas de sangue. Comunicou

então ter descoberto que um artista medieval teria utilizado o ocre vermelho para

retocar ou criar a imagem. As cores amareladas das fibras do linho seriam devidas

ao envelhecimento de uma cola de origem animal, utilizada para dar fundo à pintura.

Enfim, McCrone descobriu uma segunda pigmentação vermelha utilizada no

passado pelos pintores (o sulfeto de mercúrio ou cinábrio). Tratava-se então, em

tudo e por tudo, de uma habilíssima obra de arte, em que o artista teria utilizado uma

mistura de dois pigmentos: o ocre (uma solução muito diluída que se prendeu no

pano por causa da cola de origem animal na imagem do corpo) e a mistura de

vermelhão nas manchas de sangue.

Naturalmente as objeções não tardaram a surgir: uma nova análise das

fitas adesivas não revelou nenhuma reação ao mercúrio, resultado que sugeriria a

exclusão dos vermelhões, que, por outro lado, poderia escurecer com o passar do

tempo. Traços de pintura ou de pigmentos não estariam presentes nem mesmo na

área da imagem12. De fato, o grau de pureza encontrado no oxido de ferro exclui

pigmentos naturais encontrados na "terra". Existem grandes quantidades de ferro (e

de cálcio) em conseqüência do processo de fabricação usado na preparação do

Unho. Principalmente sob a forma de celulose, naturalmente os espectros desse

12
Heller e Adler, que fizeram análises químicas, encontraram somente uma pequena partícula de cinábrio
(sulfeto de mercúrio), contrariamente a McCrone e Skirius, que tinham distinguido algumas partículas de
pigmento de ouro, de ultramarino, de azurita e vermelhão. A presença de traços de pigmentação no pano do
Sudário pode ser atribuída aos artistas que realizaram cópias dele: nos últimos trabalhos, as cópias foram
colocadas em contato com o original, tornando-se "relíquias" para expor à reverência dos fiéis. E possível,
portanto, que alguns pigmentos tenham caído sobre o Sudário, como outros resíduos estranhos nele encontrados:
cera, acrílico colorido, pêlos e partes de insetos.
composto de ferro apresentam-nos comprimentos de ondas completamente

diferentes dos demonstrados por McCrone13.

O exame microscópico não havia revelado traços de sedimentação das

fibras nem escorrimento capilar dos líquidos. Também a fluorescência ao raio X não

foi capaz de reconhecer a presença de pigmentação orgânica: não se encontraram

diferenças significativas na composição dos elementos entre a área da imagem e a

da base. Foram descobertos, na verdade, traços de ferro idênticos àqueles que

McCrone havia encontrado14, e não sabiam se estavam em condições de criar uma

imagem perceptível a olho nu. No entanto, o oxido de ferro (Fe2O3), em dimensões

microscópicas que McCrone, inicialmente, tinha revelado, foi encontrado somente há

menos de duzentos anos. Percebeu-se que, ao contrário do ocre vermelho comum,

foram utilizados tipos de materiais de pintura de milhares de anos atrás, e não se

compreende por que McCrone atribuiu aquilo que observou necessariamente ao

século XIV Enfim os supostos pigmentos não apresentavam nenhuma das

transformações ocorridas em conseqüência de um acontecimento: o incêndio da

Santa Capela de Chambery, em 1532, onde se encontrava o Sudário, danificando-o.

Observou-se exatamente o contrário, que onde as queimaduras se entrelaçam com

a imagem não se vê variação do tom da cores nem da intensidade delas, embora a

água que escorria na tela para apagar o incêndio não tenha inibido a imagem, como

deveria ter ocorrido na presença de substâncias repelentes como cera e óleo.

13
Heller e Adler demonstram que sobre o linho do Sudário existem três tipos de ferro: o ferro proveniente da
fabricação do linho; o oxido de ferro (Fe203), mineral impuro que se encontrava nos reservatórios de água para
apagar o incêndio de 1532; o ferro puríssimo em forma de anéis enzimáticos espalhado por quase todo o tecido,
além da existência de maior quantidade nas manchas de sangue.
14
L. A. Schwalbe e R. N. Rogers, in: Physics and chemistry of the Shroud of Turin. Ver nota 9. Dizem que pelo
fato de McCrone não ter fornecido estimativa quantitativa da densidade de partículas que circundam as fibras ou
da sua concentração por unidade de área, R. A. Morris e outros definiram uma mínima quantidade de oxido de
ferro visível (Fe203), que é de 2 ug/cm2. Embora em alguns casos encontraram-se 30 ug no pano e 10 na imagem;
analisaram também uma linha do vulto do Sudário, do cabelo ao nariz, com áreas de 1 cm2 e intervalos de 1 cm.
As variações encontradas são de 2 : 5 ug/cm2. Em geral, os valores medidos não estavam nem mesmo a uma
distância suficiente para explicar ao menos uma reverificação da imagem.
Também no caso dos traços de sangue, McCrone, como tantos outros

cientistas, sobrepujou a genialidade do nosso artista, que não se limitou a uma

longínqua semelhança, mas, com grande probabilidade, deve ter utilizado sangue

verdadeiro. O revestimento avermelhado das fibras se dissolve completamente em

uma solução de enzimas, a prótese, utilizada para separar a proteína, e é aí que

está o possível indicador da presença de sangue15. Provas microquímicas para

separar a proteína (sensibilidade de 1 a 10 nanogramas) das mesmas fibras

provenientes de diversos pontos do pano deram resultado positivo somente nas

áreas de sangue. Embora nas bordas das manchas de sangue encontram-se fibras

revestidas de uma camada de cor dourado-amarelada, que fornece um resultado

positivo no teste de albumina e negativo no de hemoglobina, a camada, no entanto,

se dissolve na prótese. São as características típicas do soro de sangue que

confirmam o resultado da análise física que indicavam apenas soro (invisível a olho

nu) em torno das manchas de sangue visíveis somente em presença de raios

ultravioleta16. Portanto, avançou a hipótese de que as pequenas partículas

vermelhas de ocre são flocos de sangue espalhados por todo o pano por causa das

numerosas restaurações.

15
15.Um trabalho de grande importância foi aquele que Heller e Adler realizaram com métodos
microespectrofotométrico, em tiras com fibras manchadas de sangue, a hemoglobina, um componente que
contribui para a coloração do sangue. Isolaram a porfirina, um outro componente do sangue, que dá
fluorescência vermelha aos raios ultravioleta. Enfim, nas sucessivas experiências, foram capazes de reconhecer
albumina ebilirrubina. Esta última, em grande concentração, assim como ocorre nos rompimentos dos glóbulos
vermelhos quando traumatizados.
Todavia, esse enorme crescimento foi constatado somente há algumas décadas. A essas procuras são
entrelaçadas e sobrepostas as pesquisas italianas conduzidas pelo professor Baima Bollone, cujos resultados
estão de acordo com o precedente.
Rara certificarem-se de que era verdadeiramente sangue humano, adotaram soro com anticorpos
fluorescentes que se fixam aos antígenos da espécie biológica colocados abaixo da imunização e se tornam
visíveis mediante um microscópio de luz ultravioleta.
A possibilidade de identificar glóbulos humanos também à distância de milhares de anos foi preventivamente
verificada nas múmias egípcias.
16
. V. D.Miller e S. F. Pellicori. "Ultraviolet fluorescence photography of the Shroud of Turin", in: J. of
Biological Photo-graphy, 49, nº3, jul., 1981, pp. 71-85. Os autores, utilizando a técnica espectrofotométrica,
separaram três pontos da imagem (feridas nos flancos, perfuração do pulso pelo prego, sangue pisado no pé
direito e na imagem dorsal), em torno das manchas de sangue, uma auréola fluorescente. Com provas sucessivas,
descobriu-se então que o soro enzimático é fluorescente.
Sucessivas pesquisas em 1979 parecem confirmar as graves objeções

que se opunham à hipótese de McCrone que, no entanto, não desiste da realização

de novos estudos para defender corajosamente as próprias interpretações.

Uma primeira característica que se opõe à hipótese da pintura é uma

singular propriedade do Sudário comumente indicada como tridimensional e consiste

no fato de ter informações relativas a uma terceira dimensão. Vale dizer que as

fotografias comuns têm somente duas dimensões. A profundidade é sugerida com

base nas sombras e elaborada inconscientemente no cérebro de quem vê a

imagem. Todavia, são fotografias semelhantes às estelares, em que a luminosidade

das imagens está relacionada à distância real da estrela. Tomando como hipótese a

relação entre o grau de escurecimento dos vários pontos da imagem do pano do

Sudário e a distância do corpo sobreposto, vem-se utilizando um analisador de

imagens estelares para sobrepor à análise da fotografia oficial do Sudário tiradas em

épocas diferentes. Com efeito, constatou-se a diferença de quanto se obteria com

fotografias normais, nas quais a profundidade é somente intuída pelas sombras

produzidas pela iluminação, em que as imagens contêm informações relativas a uma

terceira direção. A luminosidade pode ser medida por uma equação matemática que

avalia a distância existente entre o corpo e o tecido. São mais brilhantes nas áreas

de contato (como nariz, rosto e sobrancelha) e diminuem à medida que aumenta a

distância entre o corpo e o pano. Transformando; ponto por ponto, as várias

intensidades luminosas em relevos verticais, de alturas diversas, obtém-se uma

imagem tridimensional proporcional ao tamanho do corpo, sem qualquer distorção.

Pelo contrário, repetidos experimentos com fotografias de cópias pictóricas,

devidamente elaboradas do Sudário, forneciam resultados enganosos.


Uma segunda característica encontrada mediante análise eletrônica muito

sofisticada foi a falta de direção da imagem. Utilizando um microdensitômetro,

verifica-se o maior ou menor grau de escurecimento dos milhares de células nas

quais foram decompostas as imagens fotográficas do Sudário. Associando-se um

valor numérico ao grau de escurecimento de cada uma das células medidas, faz-se

o procedimento da elaboração digital da imagem. Com ajustes próprios (filtros

numéricos), foi possível subtrair da imagem complexas informações relativas ao

suporte do pano, isolando as marcas. Elas não apresentavam a análise matemática

daqueles traços de direcionamento que são inevitavelmente aplicados nos manuais

de cores. Em seguida, com a utilização de um outro filtro numérico, chega-se a

eliminar as manchas de sangue e os sinais de feridas da face do vulto, de tal forma

que se obtém um rosto sereno e magnífico.

Naturalmente, isso nada prova, senão o fato de que também os estudiosos

mais sérios dificilmente irão render-se, como aconteceu alguns séculos antes com

monsenhor d'Arcis, à genialidade e ao espírito bizarro do nosso artista. E as provas

disso se perdem. Por exemplo, observamos que, removendo pequenos coágulos de

sangue que cobrem as fibras na área da imagem, ou dissolvendo-os completamente

eles apresentam sinais de erosão muito limitados se comparados àqueles do

Sudário privado de impressões que foram analisados apenas sob os halos do soro17.

O sangue é analisado então antes de se formarem as impressões: dispõem-se as

manchas de sangue e depois se pinta no espaço livre uma imagem anatomicamente

congruente, e isso não é coisa atual! E não se crê que para pintar tenha sido

utilizado sangue tirado anteriormente, porque os halos de soro visíveis ao redor das

manchas de sangue são de sangue coagulado, brotado de um corpo vivo, pois o

17
E. J. Jumper el al. Ver nota 10.
sangue que brota de um morto tem a parte branca do soro separada da vermelha, e

somente a ferida do tórax apresenta tal característica morfológica.

Essa observação nos leva a uma das hipóteses mais radicais de formação

da imagem. Uma hipótese em certo sentido muito simples: trata-se das impressões

deixadas por um homem medieval efetivamente crucificado, flagelado, coroado de

espinhos, e com uma ferida na costela produzida por uma ponta de lança. Não era

um condenado à morte comum, pois ninguém da era medieval mandaria executar

uma pessoa desse modo extravagante e estranho às execuções capitais, muito

menos um pobre-diabo submisso, Evangelho nas mãos, a Paixão de Jesus.

Provavelmente isso só poderia ter acontecido em um castelo do deserto (Templo),

com uma população de monges sádicos tirados diretamente do filme O nome da

rosa, ou das histórias em quadrinhos de Dylan Dog18.

Todavia também a hipótese mais simples apresenta-se sem qualquer

dificuldade. Não se deduz que os falsificadores soubessem que o cadáver tivesse

deixado impressões no lençol, nem tampouco que conhecessem o modo de

crucificação dos romanos, que foi abandonado, na pior das hipóteses, nos anos 600

ou 700, sobre o qual temos como pesquisar e que foram observados somente no

século XX e em notável contraste com toda a iconografia medieval, como, por

exemplo, a marca que foi deixada nas costas pela trave horizontal (vinha arrastando

somente a trave horizontal, o patíbulo, e não a cruz inteira), um ramo de amoreira

preta adornando a cabeça, e não a tradicional coroa de espinhos, como veremos a

seguir.

18
Não obstante, nos rastros das fábulas do Renascimento é que se descobriu um certo Diego Baffo que, para
cumprir com uma obra de misericórdia corporal em memória do filho, morto tragicamente, em 1453, tinha
recolhido na cidade de Pera, com a ajuda de um servo mouro, o corpo de um homem do qual os turcos tinham
feito um rolo e largado em cima de um linho velho, de 4 metros de comprimento, levado para fora da cidade e
enterrado. (Corriere delia Será, 15/10/1988; em S. Rodante: La scienza convalida Ia Sindone, Massimo, Milano,
1994, pp. 48-49.)
Além disso, nota-se que elas estão em toda parte até os dias de hoje;

existem uns quarenta sudários piamente visitados por milhares de peregrinos, os

quais não se preocupam com sua veracidade ou não. No máximo, se a cópia é

autêntica, ou que ela tenha tido contato físico com a verdadeira ou incorporasse uma

parcela dela. Alguns reis não tomaram posse por acaso, mas sim para estabelecer

um contato físico com o próprio território. Não havia nenhuma necessidade então,

em séculos de fervorosa crendice popular, de estudar tanto e vir a assassinar

alguém para fazer acreditar ser autêntica uma relíquia.

Permaneceria assim um modo de esclarecer outro mistério, que na

verdade é o mesmo ainda hoje para nós: como seria possível interromper o contato

do corpo com o lençol sem arrancar um coágulo de sangue e sem machucar os

contornos, porque esses que se apresentam intatos indicam claramente que o corpo

não foi movido levantando-se o pano. Pode-se notar, todavia, pelo menos

aproximadamente, o tempo em que o corpo permaneceu em contato com o pano,

pois na base dos mecanismos de fibrinólise19 somente depois de 36 a 40 horas de

contato se obtém impressões hemáticas decalcadas e daí com contornos precisos

como aqueles do Sudário20.

Este último dado, o de o corpo permanecer no Sudário por 36 horas, é

uma realidade plausível caso se aceitem as teses de uma pontual repetição das

circunstâncias narradas no Evangelho e também da dificuldade que tiveram em

19
N. Masini, "Conhecer o Sudário", in: Conexão Pró-Sudário, nº1, jan/fev., 1988, pp. 31-35, diz: "quando sai
sangue de uma ferida, uma parte desse líquido (fibrogênio) permanece presa a formas de minúsculas fibras
(fibrina) que formam algo semelhante a uma rede. Desse modo forma-se o coágulo que tende a estancar a saída
do sangue. O coágulo, uma vez formado, se retrai, pressionando pa-ra fora a parte mais líquida (soro), assim a
cada coágulo que se forma no corpo tende a formar ao redor dele um halo de soro, que é invisível a olho nu,
mas visível em fluorescência sob luz ultravioleta. Agora podemos dizer que em determinadas condições, poucas
horas depois de formada, a fibrina se fluidifica, se liqüefaz muito lentamente (fibrinólise)". Segundo Vignon, "a
fibrina se dissolve lentamente e quando está dissolvida pela metade se obtém uma boa transferência". (P.
Vignon. O Santo Sudário de Turim. Turim, Bottega de Erasmo, 1978).
20
C Brillante. "La fibrinolisi nella genesi Dell’impronta sindonica", in: La Sindone, scienza e fede. Bolonha,
Clueb, 1983, pp. 239-241. Também o dr. Sebastiano Rodante mostrou experimentalmente que são necessárias 36
horas para se obter um decalque Analógico àqueles que se encontram no Sudário.
separar o corpo das manchas de sangue. Todavia, mesmo com a ausência de traços

que evidenciam a putrefação, confirmaria que, se um corpo foi envolto no Sudário,

não permaneceu por muito tempo.

Para descobrir a técnica utilizada pelo nosso gênio, do nosso ponto de

vista, vamos a outra solução, e foram propostas numerosas, das mais sofisticadas

às mais alegóricas. Negligenciando as hipóteses miraculosas, observaremos as

mais interessantes e suas objeções, muitas vezes sensatas, que podem anular uma

à outra. A verdade é que se sugerem métodos relativamente simples que

pressupõem possam identificar um falsário e no final das investigações não se pode

deixar de reconhecer a grandeza absoluta do artista desconhecido que até hoje se

esconde atrás do Sudário. Começaremos com a hipótese da formação da imagem. A

primeira pressupõe que ela tenha sido obtida mediante uma coloração utilizando

baixo-relevo metalizado a quente.

A impressão térmica
Em 1966, Geoffrey Ashe deu a notícia definitiva (bastante curiosa), de

como obter uma imagem negativa esfumada, de cor sépia, em um pano quando

esse fosse colocado em contato com um objeto metálico e aquecido.

No caso específico, trata-se de um medalhão de bronze, de cerca de 9

centímetros de diâmetro, com o desenho de um cavalo em relevo no centro21. Há

mais ou menos vinte anos a hipótese de contato térmico vem sendo reaberta e

sustentada como a verdadeira causa da formação da imagem do Sudário na opinião

de alguns estudiosos22, com a louvável intenção de mostrar que o Sudário é obra de

21
.G.Ashe. "What sort of picture? An experimental clue to the nature of the body impressions", in: Sindon, 10,
C.I.S. de Torino, abr., 1966, pp. 1619. A hipótese da coloração ou da radiação foi proposta em 1930 por N.
Noguier de Malijay e sucessivamente por G. Caselli, em 1950. Tal hipótese foi aceita por D. Willis, N. MossoJ.
L. Carreno, K. E. Stevenson, G. R. Habermas e G. B. Judica Cordiglia.
22
. V. Pesce Delfino. E l'uomo creò Ia Sindone. Bari, Dédalo, 1982.
um personagem definido, um habilidoso falsificador de 130023. Outros fazem

hipóteses análogas, segundo as quais para obter uma impressão chamuscada é

necessário manter uma certa distância entre o linho e o modelo metálico

quente, isto é, que se tenha "ausência de contato direto com a impressão24"; outros

ainda impregnam de água quente o pano e espalham no baixo-relevo oxido de

ferro25.

O modelo térmico é cientificamente sugestivo, porque a impressão

conseguida na tela por irradiação apresenta algumas características idênticas

àquelas do Sudário: a negatividade, a indeterminação dos contornos, a cor e uma

acentuada tridimensionalidade.

De fato, uma irradiação térmica que provoca estreitamento no tecido

também é considerada entre as hipóteses menos fantásticas por diversos

defensores do Sudário. Exames feitos com o espectrofotômetro mostram que as

impressões do corpo e as queimaduras produzidas pelo incêndio de 1532 refletem a

luz do mesmo modo26, e o microdensitômetro aplicado a uma das fotografias do

Sudário não revela diferença de cor entre a imagem e as áreas queimadas; além das

fibras de celulose da área chamuscada, de cor amarelo-pálida, apresentarem o

mesmo fenômeno de desidratação e oxidação que se encontram nas fibras da

imagem27.

O maior defensor da impressão a quente é o diretor do Instituto de

Antropologia da Universidade de Bari, Vittorio Pesce Delfino, que descarta a

23
Normalmente um falsário pressupõe a falsificação de um perfeito original conhecido, com maior perfeição que
a cópia e a possibilidade de observá-lo para tal fato.
Como se verá a seguir é difícil imaginar um original mais rico de particularidades e de maior precisão que o
Sudário atualmente em nosso poder, onde nada é confiado à imaginação.
24
C Papini. La Sindone, un mistero che sisvela. Turim, Dossier 16, Claudiana, 1982.
25
J. Nickell. Inqueston the Shroud of Turin. Nova York, 1983/1987.
26
. K. E. Stevenson e G. R. Habermas, Verdetto sulla Síndon. Brescia, Queriniana, 1982, p. 229.
27
.J. H. Helle re A. D. Adler. "A chemical investigation of the Shroud of Turin", in: Canadian Society Forensis
Science lournal, 14, 1981, pp. 81-103.
possibilidade de que o Sudário seja uma reprodução falsa elaborada na era

medieval28: Não é necessário recorrer a nada de diferente do que o falsificador tenha

utilizado para a realização do vulto em que as características essenciais, como

vimos, foram reproduzidas, isto é, por meio de pirogravura utilizando uma ponta

metálica arredondada e aquecida ou com um simples modelo metálico [...], na

verdade, por meio de puros e simples retoques pictóricos com a mesma cor ocre

vermelho. Desse ponto de vista, não existe nada na imagem do Sudário que não

seja perfeitamente explicável e reproduzível (ver nota 18). A cópia se obtinha

trabalhando em baixo-relevo em bronze aquecido de 220 a 230 °C. Naturalmente,

os "amigos do Sudário", tratados não muito urbanamente no seu livro, não o

privaram de críticas, como a falta de caracteres dos estilistas medievais e a

dificuldade de medir a intensidade das cores em um pano longo de mais de 4 metros

em baixo-relevo, único no seu gênero, do qual não permanecem traços nem na

memória, e as críticas radicais não cessam. O sangue, por exemplo, do qual não

existe nenhuma dúvida, não cobre a imagem e portanto as manchas de sangue

formam-se antes da imagem. A sobreposição em baixo-relevo teria alterado o

sangue como se revela nas áreas chamuscadas pelo incêndio de 1532. Nesse caso,

como teria podido o falsificador reproduzir aquelas características físico-químicas

notadas somente na medicina atual, que consegue distinguir o sangue coagulado

das feridas que sai pelo costado? E como conhecia o excesso de bilirrubina, que

hoje em dia só se pode observar em pessoas gravemente traumatizadas? Nesse

caso, se observarmos as manchas de sangue que se encontram na fronte, duas

delas são particularmente interessantes. Aquela da direita, na raiz do cabelo, é

formada por um coágulo circular (que corresponde a uma ferida provocada pela

28
V. Pesce Delfino. Ver nota 22.
ponta do espinho da coroa), do qual se desprendem duas gotas de sangue, uma das

quais, desce por toda a cabeleira, até os ombros; a outra, perpendicularmente

afronte, até a sobrancelha. Em uma fotografia ampliada muitas vezes pode-se ver

muitíssimo bem que esse sangue tem um caráter nitidamente arterial, não

homogêneo, isto é, brota de uma artéria em jatos ritmicamente intermitentes.

Automaticamente, a ferida da qual escapa esse duplo jato de sangue corresponde

ao do ramo frontal da artéria temporal superficial. A outra mancha de sangue [...] é

aquela da fronte com a forma de Y ou 3 invertido de cor homogênea, uniforme, com

um nítido caráter de sangue venoso. A forma pontiaguda da coroa de espinhos

lesionou a veia, e a curiosa forma de um 3 invertido se deve às rugas formadas sob

os espasmos de dor sofrido pelo músculo frontal29. Uma pergunta vem à tona:

"Como poderia o falsificador conhecer a dinâmica da circulação venosa e arterial e

assim distingui-las entre si, se ela foi descoberta por Andréa Cisalpino somente em

159330?

Ainda se fazem objeções sobre uma outra característica, não visível a olho

nu e não correspondente à cópia obtida por contato em baixo-relevo. A oxidação das

fibras produzida entre 180 e 200 °C pela pirólise do carboidrato de celulose

fosforosa, que diante dos raios ultravioleta, apresenta a cor laranja fluorescente31, e

isso não ocorre com o Sudário. Contudo, o estreitamento obtido na cópia atravessa

o pano, mas sobre o Sudário interessam-nos apenas algumas fibras visíveis na

29
Essa citação é extraída do panfleto, breve mas eficaz, do dr. Giovanni Fumagalli: Ma allora ... Ia Sacra
Sindone é próprio falsa? Parabiago (Mi), II Centro, 1988.
30
Cario Papini escreve, entre tantos outros, a esse propósito: "Mais uma vez se esquece ou se desvaloriza o
excepcional desenvolvimento da arte médica e dos conhecimentos anatômicos conseguidos no oriente bizantino
e árabe. As escrituras de Galeno (século II d.C), esquecidas no Ocidente e redescobertas somente a partir do
século XII, mas sempre estudadas pelos bizantinos". Ver nota 24.
O nosso falsário era bizantino? Talvez nem mesmo medieval? Quanto a Galeno, deve-se recordar que a obra
cisalpina coloca-se de pronto em um vasto movimento de emancipação dos erros de ortodoxia galênica em
matéria de circulação do sangue que se inicia no Ocidente em meados dos anos 500. Basta consultar o verbete
"circulação sangüínea" em qualquer enciclopédia para certificar-se.
31
0 Petrosillo e E. Marinelli. La Sindone un enigma alla prova della scienza. Milão, Rizzoli, 1990, p. 230.
superfície. Em seguida foi demonstrado experimentalmente que uma impressão

térmica igual àquela produzida pelo professor Pesce tem um crescimento muito

superficial e desaparece depois de dois anos32. Por outro lado, o professor nunca

mais viu, nem de longe, o Sudário de Turim33.

Cario Papini propôs uma metodologia paralela à precedente. O modelo

metálico é tirado de uma fusão normal do cálculo de um cadáver humano. A única

variante proposta é a idéia de cozimento a uma distância muito próxima mediante

uma tela enrugada. Propõe-se uma possível sucessão de operações que deverá

passar, naturalmente, por completo teste experimental: toma-se um cadáver de

aproximadamente trinta anos, cujo aspecto corresponda aos traços tradicionais de

Jesus, tiram-se dois moldes de gesso das partes posterior e anterior, fundem-se os

dois relevos em bronze totalmente limados e retocados, aquecidos a uma

temperatura constante de 250 a 350°C, graças a um braseiro constante de carvão

ou lenha, e deixa-se durante um determinado tempo a uma pequena distância da

tela de Unho tecido em um tear flexível ao longo do eixo mediano para seguir a

curvatura do bronze - isso é tudo. Basta somente um retoque manual com sangue

verdadeiro ou com uma substância ainda ignorada para reproduzir todos os sinais

da Paixão e, por fim, juntar as manchas edemáticas utilizando provavelmente

sangue animal ou humano. Ainda uma anotação: é provável, mas não indispensável,

que a tela (Sudário) tenha sido preparada com qualquer substância por nós ignorada

para favorecer o (cozimento) e evitar a queimadura. Para o autor é quase certo que

o método funcione, mesmo não se sabendo A confirmação por aproximação de que

32
M. Moroni. "Sulla formazione naturale e sulla strinatura acciden-tale dell’immagine sindonica", in: La
Sindone-lndagini scientifiche. Atas do IV Congresso Nazionale di Studi sulIa Sindone, Siracusa, 17-18/10/1987;
Paoline, 1988, pp. 142-185.
33
É a conclusão do livro citado na nota 22.
um método similar foi usado por um falsificador, está em um artigo de Papini34 que

informa: "quando seqüestraram o Sudário da Catedral de Besançon, os enviados da

Convenção tiveram a surpresa também de encontrar um tear metálico a 'Estampa

Perfurada' que, sobreposta ao Sudário, correspondia perfeitamente às 'manchas

edemáticas, que vinha assim periodicamente pintada de vermelho vivo"

(originalmente em Monitor, Paris, 1794, p. 557). Infelizmente esse tear foi perdido,

mas o sentimento francamente jacobino do Monitor35 garante uma informação

objetiva não formada por preconceitos eclesiásticos.

Nessa resenha de defensores do método térmico, na qual muitos serão

realmente negligenciados por necessidade, não se pode excluir um personagem

singular, Joe Nickell (nota 25), pesquisador científico que em 1978 levantou a

hipótese de a imagem ser feita de uma mistura de aromas (aloé e mirra) ou de

pigmentação em pó colorido, aplicada em uma tela impregnada de água quente e

estendida sobre um baixo-relevo. Como prova, mostra o resultado de uma tela

colocada em contato com o baixo-relevo de Bing Crosby. Segundo Nickell, o falsário,

para obter um melhor resultado, teria esticado a tela no baixo-relevo e depois a teria

friccionado com a mistura de pós. A técnica de Joe Nickell, além de produzir uma

imagem privada de tridimensionalidade, não realiza uma impressão espelhada,

como acontece no Sudário, já que o decalque é feito friccionando o vermelho ocre

sobre a tela, e não por um contato direto com o baixo-relevo colocado embaixo dela.

Análogas como metodologia, as experiências foram percebidas em 1994 por Emily

Craig e Randal Bresee36, que recobrem o modelo com pó de carbono dissolvido em

um tipo de cola e transferido ao tecido com uma colher quente e vapor, do qual

34
Artigo que apareceu em Riforma, 5/04/1996.
35
Il Moniteur fundado em 1789, foi fechado com o golpe de 18 de maio de 1799.
36
E. A. Craig e R. R. Bresee. "Image formation and the Shroud of Turin", J. of Image Science and Technology,
38, nº 7, jan./fev., 1994.
resulta uma reprodução sem definição. Os pesquisadores tiveram de constatar que o

fundo feito à mão, continha grossos pigmentos secos e não prestavam para serem

transferidos para uma superfície de linho áspero com aquelas dimensões e serem

submetidos ao vapor. Por outro lado as imagens obtidas por Nickell e Craig-Bresee

não resolvem os problemas das manchas de sangue que no Sudário estão

presentes exatamente nos pontos onde falta a imagem. Enfim, também nesse caso

o foco do incêndio de 1532 e a água utilizada para apagá-lo teriam alterado as

substâncias orgânicas aplicadas na imagem. E aqui poderíamos prosseguir:

segundo Samuel Pellicori37, é o ácido lático da sudoração e da secreção cutânea

absorvido pelo linho que produz ao longo do tempo a aparição da imagem. Segundo

outros, é a ação acidificante38 dos sais de Qumran ou de Natron39; para outros ainda

são os campos eletrostáticos40-41. Em geral as resoluções obtidas

experimentalmente ficaram muito longe da original. Concluímos essa resenha com

uma experiência sugestiva. A arqueóloga Nitowsky42 conduziu provas em campo,

utilizando um manequim oco de mais ou menos 1 metro de comprimento cheio de

água quente, a 46°C. O manequim foi colocado em um sepulcro, em Jerusalém,

envolvido em linho, sobre o qual foi espalhado carbonato de cálcio e,


37
L. A. Schwalbe e R.N. Rogers. Op. cit, pp. 28-9.
38
M. G. Siliato, Indagine su un antico delitto. Roma, Piemme, 1983; e G.Riggi di Numana. Rapporto Sindone,
1978 -1982, Turim, Il Piccolo, 1982.
39
Sal de Qumran é rico em minerais de potássio, sódio, magnesio, cloro e bromo, como o natrão do Egito. Foi
feita uma experiência sobre um modelo de gesso, umedecido com solução de sal de Qumran; no cálcio, com
manchas de sangue ressecadas, colocou-se uma tela embebida de aromas e realizou-se sucessivas experiências
sobre uma tela seca recoberta de aloé e mirra em pó. Em ambos os casos o resultado foi desolador. (Texto de E.
Bedeschi, extraído do boletim químico farmacêutico, Como,fasc. 20, out., 1934.) Segundo o autor, no caso de
Jesus, a sudoração poderia ter sido rápida e reduzida a um simples banho no Cadáver em solução de natrão
(carbonato de sódio), coberto com um lençol impregnado de pó de aloé. No processo de embalsamamento usado
na época de Jesus, o aloé vinha sempre misturado com uma solução salina.
40
Oswald Scheuerman. "Wie istdas Abbild entstanden? Forschungergebnisse und Fragen zumturiner Crabtuch"
in: Das Fels, 17, nº4, abr., 1986, pp. 115-122.
41
Judica Cordilla. "La Sindone immagine eletrostática?", in: La Sindone. Nuovi studi e ricerche. Raolíne, Alba,
1978. Judica obteve impressões superficiais certamente melhoradas com base em células metálicas, materiais
orgânicos, e de pessoas vivas. Esta última re-produção sobre a tela seca, especificamente sobre as mãos, são
comparadas às artes visíveis no Sudário. Provas conduzidas por M. Moroni por meio de telas umedecidas e
tratadas com aromas forneceram imagens chamuscadas e passadas ao avesso.
42
J.A. Kohlbeke E. L. Nitowski. "New evidence may explain imageon Shroud of Turin", in: Biblical Archeology
Rewiew, XII, n º4, jul/ago., 1986, pp. 18-29.
sucessivamente, sangue diluído em solução salina e vinagre, para reproduzir seja o

ambiente rico de pó de carbonato de cálcio, como devia ser o buraco usado como

sepulcro, que, segundo Nitowski, tinha acolhido o corpo de Jesus depois da

crucificação, seja o suor e o sangue, que se tornaram ácido em conseqüência do

fortíssimo trauma. A campanha experimental não conseguiu obter resultado que

provasse conclusivamente a formação da imagem; todavia, permanece notável

porque, pela primeira vez, obtiveram-se amostras de rocha do interior de tumbas das

proximidades de Jerusalém: constatou-se em seguida que se tratava de aragonite,

em vez de cálcio comum com pequena quantidade de ferro e estrôncio, o mesmo

material encontrado entre as fibras do Sudário, na área dos pés ensangüentados. A

identidade viria a ser confirmada por Levi-Setti43 mediante análise com a

microssonda eletrônica.

43
Levi-Setti, R. et al. "Progress in high resolution scanning ion microscopy and secondary ion mass
spectroscopy imaging microanalysis", in: Scanning Electron Microscopy, 1985, pp. 535-552.
Radiação nuclear e outras formas de
energia

Logo após a explosão da bomba atômica em Hiroshima, quando já se

observava o dano causado e já se começava a reorganização da vida depois da

terrificante tragédia, os habitantes supersticiosos podiam observar com espanto um

singular fenômeno: nas paredes dos edifícios e às margens das estradas,

apareceram algumas imagens44: uma torre retangular que aparecia no teto da

Câmara de Comércio; alguns perfis humanos, como o de um pintor no ato de molhar

a ponta do pincel na lata de tinta; ou um homem no ato de chicotear o cavalo estava

impresso na fachada de pedra dos edifícios45. Uma intensa faixa de luz teria

projetado as sombras dos corpos humanos, queimados instantaneamente pelo calor,

imprimindo-as na pedra que se preservou da calcificação46, nas áreas onde estavam

as imagens.

44
Hersey, J. Hiroshima. Londres, Penguin Books, 1972, pp. 99-100.
45
A ausência de calcificação na área onde aparece a sombra projetada da figura humana nos impulsionou a
verificar um fragmento de material cerâmico de revestimento externo das paredes do Nissei Hospital de
Hiroshima revestido da onda térmica da explosão (fornecido pelo Museu de Hiroshima). O professor M.
Bertolani, da Universidade de Modena, que examinou no microscópio o fragmento cerâmico e a substância
extraída do cimento, confirmou que o cimento se manteve "calcificado" sem nenhuma particular variação de
seus componentes.
46
V. Pesce Delfino. Op. cit, p. 229.
Em conseqüência da análise desses extraordinários fenômenos, em 1978,

José Luis Correño-Etxeandia47 levantava a hipótese de que a impressão do Sudário

fosse equivalente àquelas imagens. Segundo tal hipótese, a figura do Sudário teria

sido impressa no pano por efeito de uma "energia radiante intensa e de brevíssima

duração". Ter-se-ia verificado uma transformação da matéria em energia igual à de

uma explosão atômica.

Além da "explosão luminosa de energia" de Correno, outras hipóteses

foram avantadas como a de uma ação fotorradiante de Bougarde-La Dardye, que

aparece em 1902, ou da ação radioativa do corpo de Noguier de Malijay, ou da ação

fotofulgurante de Caselli48.

Infelizmente essas intuições, apesar de engenhosas, não se apóiam em

nenhuma experiência e permanecem, por ora, sem provas.

Recentemente um estudioso de Siracusa, o dr. Sebastiano Rodante,

desenvolveu a hipótese do desprendimento de um raio de luz solar do cadáver. Uma

intensa radiação luminosa ultravioleta instantânea, nas primeiras 36 horas de

contato com a pele úmida do suor do sangue, teria melhorado a visibilidade da

impressão já delineada no pano úmido e impregnado de aromas49. Para obter uma

confirmação experimental, foram realizadas numerosas experiências nas

catacumbas de S. Giovanni, em Siracusa, um ambiente bastante sugestivo que

reproduzia as condições do sepulcro do qual fala o evangelista Mateus e possuía a

umidade necessária. Foi utilizada uma reprodução fotográfica do vulto do Sudário,

na qual foram perfurados, com agulhas finas, as partes onde se presumia que

tivessem estado em contato direto com o corpo e o pano. Os raios solares, ao

atravessar os pequenos furos, uns bens próximos dos outros, imprimiam no lençol

47
L. Carreno-Etxeandia. La Sindone ultimo repórter. Alba, Edizioni Paoline, 1978.
48
S. Rodante. La scienza convalida Ia Sindone. Milão, Massimo, 1994, pp. 73-74.
49
Idem. La realtà della Sindone. Milão, Massimo, 1987.
as impressões do rosto com claros-escuros invertidos. Rodante concluiu que esse

mesmo mecanismo poderia ter estampado no Sudário as impressões atualmente

existentes. As imagens obtidas são boas. Todavia para um artista medieval (o dito

falsário), realizar um procedimento análogo àquele do dr. Rodante, teria encontrado

dificuldades consideráveis. A imagem mais evidente é aquela que parecia uma foto

tirada do Sudário inteiro, ou uma semelhante a um cadáver, que não se entenderia

porque em seguida teria se aplicado um outro método artificioso para obter uma

segunda. Aqueles que acreditam, ao contrário, podem admitir, sem nenhum

constrangimento, que, no sepulcro, o corpo ressurgido teria emitido uma luz muito

intensa; há exemplos dessa ocorrência nos Evangelhos e nos Atos dos Apóstolos.

Mas isso nos leva para fora do campo da ciência experimental.

Também o dr. Jackson cria sua própria hipótese50, que é parecida com a

do dr. Trenn51, da Universidade de Toronto. A origem da imagem do Sudário foi

atribuída a um efeito fotoquímico sobre a celulose produzida por uma radiação de

raios X de baixa intensidade ou de ultravioleta emitida do próprio corpo por um breve

período. Essa impressão aparece como uma imagem branca; com o tempo, teria

invertido, por envelhecimento natural, o contraste da imagem até atingir as

condições atuais, em que ela aparece mais escura de fundo sotoposto. Como se

teria formado a imagem? Jackson supõe que, em certo momento, o corpo que

estava sob o pano e o sustentava teria iniciado a emissão de radiações, e com o

passar do tempo teria ficado "penetrável", permitindo ao pano afrouxar-se. O corpo

teria deixado sua impressão no tecido, enquanto esse atravessava em tempo maior

para aqueles de maior altura. Também nesse caso a hipótese pressupunha um

evento não verificável. Além disso, durante a passagem as radiações teriam deixado

50
Jackson. Shroud spectrum, na 28-29, set, 1988, pp. 516-519; além da conferência de Rosetum di Milano, em
24/03/1990.
51
D.WhangereM. Whanger. Collegamento pro Sindone, nº 6, mai./jun., 1994, p. 42.
a impressão também no lado superior do pano enquanto teria agido de modo

totalmente adverso na parte dorsal, que teria ficado estática.

Imagens negativas naturais

Na parte superior da Basílica de Assis, ornamentada pelas histórias de

São Francisco pintadas por Giotto e pelas imagens evanescentes das pinturas de

Cimabue, percebe-se que o negativo de tais imagens emerge por um natural

enegrecimento das cores claras52. Não é raro encontrar impressões que se

formaram através do tempo, e algumas delas apresentaram também um caráter

tridimensional. Um outro tipo de impressão, obtido por reação química, é aquele que

aparece no verso de um selo de 1859 produzido pelo contato da goma-arábica com

as substâncias azotadas da tinta. Por analogia, levantou-se a hipótese de que a

imagem do Sudário poderia ter sido feita com a produção do ácido oléico formado

pelo contato entre os compostos azotados (amoníaco e uréia) presentes no suor do

homem do Sudário e os aromas balsâmicos53.

Até mesmo os velhos herbários, tão queridos dos nossos avós, podem

reservar surpresas: as impressões dos vegetais emergem, de modo natural, por um

longo tempo. São as marcas também indicadas como "figuras de Volckringer"54. Elas

atribuem as impressões à desidratação das folhas, flores e frutos55; foi demonstrado

que os vegetais não completamente ressecados que deixaram uma impressão

52
0 fenômeno é atribuído a uma reação química que se manifesta com o passar dos anos e é facilitado pela
umidade: o enxofre do zinabrese une ao do chumbo. (C. Enrie. La Santa Sindone rivelata dalla fotografia, 2º ed.,
Turim, SEI; G. Chiavarello. "Di eventuali tracce di sostanze colorate o colorate-coloranti sulla Sindone", in: La
Sindone, Ia scienza, Ia fede. Bolonha, Clueb, 1983.
53
C. Chiavarello. Idem.
54
J. A. De Salvo. "The image formation process of the Shroud of Turin and its similarities to Volckringer
patterns", CIS,Turim, in: Sindon, 31, dez., 1981. O autor afirma que os traços de ácido lático contido nos
vegetais podem ter sido impressos com o tempo na celulose do papel.
55
M.J. Volckringer. "Le probleme des Impreintes devant Ia Science", in: Procure du Carmel de l'Action de
Graces, Ajaccio, 1981.
fizeram em cinqüenta anos a transferência para uma outra, mais suave, em uma

nova folha56.

Um dos autores do presente texto recuperou uma anêmona-dos-bosques,

da família das ranunculáceas, reflorescida nas colinas ao redor de Turim e

conservadas pela professora Delia Beffa, que depois de 45 anos deixou a impressão

de uma coloração sépia, muito similar àquela da imagem do Sudário. Também um

gracioso flautista da guarda pontifícia suíça, em uma estampa em cores pintada à

mão que se encontra nas páginas internas de um livro dos meados dos Oitocentos57,

foi reproduzido por contato e apresenta a típica cor sépia pálido. É importante

sublinhar que a impressão, seja proveniente da cor mineral58, seja da vegetal,

resulta tridimensional59-60. Para obter a própria transferência, os objetos devem

necessariamente ser aderentes à folha de papel sem a existência de luz. É

inverídica, portanto, a hipótese de que a informação tridimensional das impressões

no Sudário seja reconduzir exclusivamente a distância entre o corpo e o pano. Pode-

se, portanto, pensar que tais caracteres não sejam somente próprios da impressão

anterior do Sudário. Também a parte dorsal do corpo, que aderiu ao pano

subjacente, deve ter conseguido uma impressão tridimensional bem como as partes

do corpo mais sobressalentes que essa61.

56
Idem. "Reiazione al Centre d'Etudes Théologiques", apresentado em 28/05/1984, em Caen.
57
Encontrado por M. Moroni no Álbum au collection complete et historique des costumes de Ia Cour de Rome,
Paris, 1862; reprodução graciosa da guarda suíça. As cores são do tipo "mineral" ou natural (como todas as cores
utilizadas antes da metade dos Oitocentos), diluídas em óleos vegetais.
58
Elaboração tridimensional feita pelo dr. K. E. Moran com a Estek Kodak Company North Carolina, Estados
Unidos.
59
M.J. Volckringer. The holy Shroud: Science confronts the imprints. Transcrito por V. Harper, Austrália,
Morgan, 1991.
60
De Salvo afirma que a mais surpreendente semelhança entre a imagem do corpo do Sudário e as amostras de
Volckringer é que estas podem ser reconstruídas em relevo tridimensional utilizando um analisador
tridimensional VP-8, assim como se pode fazer com a imagem do corpo de Sudário. (J.A. De Salvo. Op. cit.)
61
A elaboração do dorso, executada pelo professor Nello Balossino, de Turim, e ainda inédita, confirma o
caráter tridimensional deste lado da imagem.
Gênese natural por contato
As flores que descolorem nos herbários tinham então produzido uma

imagem de coloração sépia, cópia fiel, nas velhas folhas amareladas, mas para Paul

Vignon, biólogo e pintor francês, não sugeriam somente recordações românticas,

mas um preciso mecanismo de formação da imagem. A celulose do papel alterou-se

na superfície em contato com as flores, provavelmente por evaporação dos ácidos

por elas liberados.

Não poderia um processo análogo ser a origem da impressão no Sudário,

se lembrarmos que em 1896 o coronel Colson, assistente da Politécnica de Paris,

havia descoberto que o zinco emite, à temperatura ambiente, vapores que se

transformam em lastros fotográficos na câmara escura. Com base em tais indícios,

já em 1902, Vignon anunciava, em colaboração com Colson, a sua clássica teoria

denominada "vapor gráfico62": os vapores de amoníaco úmidos, causados pela

fermentação da uréia, presentes na abundante sudoração que cobria o cadáver,

teriam escurecido as partículas de aloé dispersas no pano. Os efeitos dos vapores

cadavéricos naturalmente deveriam ser decorrentes do aumento da distância entre

corpo e o pano. Vignon reproduzia sobre a tela umedecida com pó de aloé e mirra

algumas partes cadavéricas: as imagens, todavia, resultavam totalmente fora de

foco. Na realidade, chegou-se à conclusão mais tarde que não se tratava de

aperfeiçoar o método, mas da dificuldade de obter-se uma imagem de alta definição,

igual à do Sudário, mediante difusão ou irradiação. Deve-se notar que no pano

62
P. Vignon. Le Saint Suaire de Turin devant Ia science, l'archeologie, l'histoire, liconographie, Ia Logique. Ver
nota 19.
também a parte dorsal apresenta o mesmo grau de definição da anterior, malgrado

se referisse a amplas áreas do corpo completo e em contato direto com o tecido63.

A essa primeira tentativa são seguidas outras verificações e experiências

de valor seguro, mas para nós que não professamos a atividade médica, soa um

tanto macabro. O dr. Cordiglia64 espalhou uma mistura de pó de aloé e mirra sobre

cadáver, fazendo-a aderir a uma tela impregnada de azeite e de essência de

aguarrás. Completou a esfumatura da impressão exposta ao vapor de água. O dr.

Romanese65 aspergiu o rosto do cadáver com uma solução de água quente e sal e

colocou sucessivamente sobre ela um pano embebido de aloé e mirra pulverizado.

Os resultados obtidos foram apreciáveis, mas as impressões foram

passadas pela parte oposta do tecido e os coágulos de sangue ficaram imprecisos.

As experiências foram retomadas em 1970 pelo dr. Rodante66. Convicto,

como Vignon, de que a impressão no Sudário tivesse sido formada

espontaneamente por contato67, usou pela primeira vez mistura de suor e sangue

espalhados por toda a superfície do corpo; os aromas em pó que emplastavam os

invólucros de sangue foram aplicados aos panos com soluções aquosas. O dr.

Rodante utilizou pedacinhos de gesso com mistura de suor e sangue salpicados e

recobertos sucessivamente por um pano úmido embebido de uma solução aquosa

63
O professor Bollone faz notar, no entanto, que a transformação do aloé em carbonato de amoníaco não ocorre
no primeiro período depois da morte, mesmo com a presença de aloé e mirra para acelerá-la. (P. L Baima
Bollone, op. cit., pp. 203-204.)
64
G.Judica Cordiglia. "Ricerche ed esperienze sulla genesi dei le impronte delia S. Sindone", in: La Santa
Sindone nelle ricerche moderne. Risultati dei Convegno Nazionaie di studi sulla Santa Sindone. Turim, 1941, pp.
37-51; L'uomo delia Sindone é il Cristo. Milão, 1941; "Ipotesi e nuovi esperimenti sulla genesi delle impronte",
in: La Santa Sindone nelle ricerche moderne.
I Convegno internazionale di studio Roma -Torino Anno Santo 1950. Turim, 1951, pp. 23-26.
65
R. Romanese. "Contributo sperimentale allo studio della genesi delle impronte della Santa Sindone", in:
Risultati del Convegno Nazionale del 1941, op. cit.„pp. 51-61.
66
S. Rodante. "II sudore di sangue e le impronte della Sindone", in: Sindon, n°-21, 1975, pp. 6-12; "Ipotesi sulla
natura delle impronte sindoniche", in: Sindon, 1978, pp.126-136; "Mixturam myrrae et aloe -Rilievi di
semeiotica sindonica", in: La Sindone e Ia Scienza, Ata do II Congresso Internazionaledi Sindonologia, Leinì
(Turim), Paoline, 1979, pp. 419-423.
67
S. Rodante. "Le impronte delia Sindone non derivano soltanto da radiazione di varie lunghezzed'onda...",
in:Sindon, nº31,1982. Rodante admite uma fixação fotográfica no pano ainda úmido, sucessiva à formação da
imagem.
misturada com aloé e mirra durante aproximadamente trinta horas. As impressões

apareciam somente de um lado do pano. Os coágulos de sangue eram perfeitos e

bem-definidos: somente os mais marcantes ultrapassavam a espessura do pano.

Podia-se, portanto, concluir que os aromas, o suor de sangue e a umidade eram os

elementos determinantes para a reprodução espontânea das imagens68.

A experiência com a mistura de suor e sangue foi retomada com a mesma

metodologia do dr. Rodante por Mario Moroni. Ao modelo experimental, um molde

em cera do vulto do Sudário, colou-se uma pele magra de gamo borrifada de sangue

e de bilirrubina e foram aplicados cabelo, barba e bigode naturais, umedecidos com

mistura de suor e sangue mais diluída. Ao molde foi colado um linho parecido com o

do tecido do Sudário, umedecido de uma solução de aloé e mirra. A impressão se

apresenta como um negativo fotográfico, com a parte esquerda colocada na direita,

e vice-versa. A imagem contato direto aparece somente em um lado do linho e

alcança apenas as fibras superficiais.

A hipótese de que a imagem se teria formado espontaneamente por

contato pareceria ser a que apresenta maior grau de probabilidade e poderia

explicar, entre outros, alguns particulares relevantes sobre o Sudário, como, por

exemplo, a grande nitidez com que se apresentam os sinais deixados pelos golpes

do flagelo. Naturalmente não se excluiu a presença de uma reação química por

causa dos aromas; da contribuição, se bem que limitada, dos vapores cadavéricos:

"Os vapores alcalinos podem provir da fermentação em carbonato de amônia da

uréia, abundante no suor encontrado no tecido utilizado durante o suplício. Os

vapores produzidos são menos intensos nas superfícies mais próximas do lençol

68
S. Rodante. "Ipotesi sulla natura delle impronte sindoniche", in: L'uomo delia Sindone. PoliglottaVaticana,
Roma, Orizzonte Medico, 1979.
que os encontrados nas mais distantes69"; nem se exclui essa mesma reação

química por causa do suor da pele, não pelo fato da condensação que se forma

embaixo do lençol amassado se mostrar quase impermeável, mas pela ação da

mirra.

Todavia, provavelmente será necessário procurar outros fatores que ainda

não estão perfeitamente definidos, como as condições climático-hematológicas70,

que devem ter contribuído para completar e esfumaçar a imagem, porque aquela

realizada experimentalmente, se bem que bem definida, e com características de

tridimensionalidade71 não se iguala em fineza à do Sudário: segundo J. Jackson, as

manchas de sangue são explicáveis na caso do contato da tela com o corpo ferido,

mas não a imagem: a sua tridimensionalidade exclui o "mecanismo de contato". A

afirmação não é aceitável porque a mancha hemática, aquela da fronte, por

exemplo, estudada pelo professor G. Tamburelli contém uma informação

tridimensional.

Uma inesperada demonstração da possibilidade de decalque natural de

um cadáver no lençol foi fornecida involuntariamente por um certo sr. Les, um

indiano de aproximadamente quarenta anos da Índia Ocidental, que estava

internado no Thorthon Hospital, de Lancashire, por causa de um câncer no

pâncreas72. Alguns dias após a morte dele, em 9 de março de 1981, Patricia Olivers,

funcionária do departamento de limpeza, observou, não sem um certo terror, que

sobre a cobertura do colchão estava impressa a imagem inteira de um homem.

69
Texto lideo em 21 de abril de 1902 no Salão da Ciência de paris por Yves Delage e publicada por Revue
Scientifique, 3/05/1902.
70
G. Imbalsamo. “Il linguaggio della Sindone: formazione dell’immagine”. In: Sindon, nº3, dez. 1981.
71
O “mecanismo vertical” do corpo na tela não explica a formação do vulto do homem do Sudário que se
encontra com a cabeça um pouco inclinada para a frente e não na posição perfeitamente horizontal. A mesma
consideração vale para a impressão de ambas as voltas plantares. Esses dois detalhes importantes não se afinam
com a hipótese de que a impressão é o resultado de uma projeção ortogonal.
72
I. Wilson. "Magazine", in: Sunday Observer, 31/01/1988; e "Newsletters", in: British Society for the Turin
Shroud, nº 19,1988.
Seguindo a tradição, os coveiros tinham levado do hospital o corpo envolto no

lençol. O pijama que o defunto vestia foi jogado fora, e do colchão da cama foi tirado

a cobertura sintética que resultava manchada e foi esfregada com água sanitária,

mas sem resultado: as manchas não desapareceram. Enfim a descoberta: "Pois

enquanto Patricia Oliver olhava novamente ela gelou de incredulidade. Tinha

qualquer coisa de estranho e completamente fora do comum nas manchas em que

estava trabalhando. Claramente distinguiu na cor de carne da cobertura do colchão

a imagem fantasmagórica de uma mão, com a palma virada para cima - fraca, mas

estampada com tal precisão que se podia distinguir varias veias". Além das mãos,

que apresentam uma coloração ligeiramente mais clara, são visíveis as áreas

encravadas e os contornos das pernas magras, das costas e dos braços. A

mandíbula apresenta-se voltada para baixo.”

Depois que esse singular fenômeno veio a público, o professor J.

Camerom do London Hospital Medical School, de Londres, notável médico-legista,

sugere a causa da formação dessa imagem: "Qualquer forma de reação enzimática

é devida à liberação do líquido do corpo que é típica de câncer no pâncreas"73. Mais

recentemente, o estudioso do Sudário, o alemão Oswald Scheuerman, assinalou um

caso análogo ocorrido em um hospital alemão e reportado pelo dr. Nieper: "Há

alguns anos tínhamos um paciente internado em nosso hospital que sofria de tumor

no rim. Por acaso, quando se estava refazendo o leito, alguns dias depois, notou-se

uma imagem no pano que cobria o colchão". A impressão deixada pelo tumor estava

particularmente marcada, enquanto a do corpo estava mais fraca.

73
Um caso adicional é aquele do beato Charbel Makhlouf, monge maronita, morto no Líbano em 1898. O
reconhecimento canônico, ocorrido em 1950, verificou que o Sudário traz as características da face, meio
confusas. Tem-se notícia de um outro Sudário encontrado sobre uma múmia em uma tumba de Antinoopolis
durante as escavações de 1902. Esse Sudário, com impressões e lineamento de um vulto, foi mostrado
publicamente em Paris e depois transferido ao Louvre, onde já não é encontrado.
Os defensores do Sudário fazem observações de que também o homem

do Sudário deveria apresentar uma abundante sudoração na face inteira, rica em

substâncias colorantes de sangue. A difusão de coloração do rosto é confirmada

pela elaboração eletrônica que tomando como ponto de referência a cor do filete de

sangue no rosto, encontra sobre o vulto do Sudário numerosos pontos vermelhos

juntos, com igual intensidade de cor, sugerindo assim a presença de uma

transudação hemática74.

Na confirmação observa-se que o vistoso filete de sangue assume no

negativo fotográfico uma coloração verde-azulada, analogamente à imagem inteira

que apresenta uma ligeira cor azulada, mais ou menos esfumaçada.

74
Media Duemila, 3/03/1985, pp. 51-66.
O incêndio de 1532 confunde as cartas

Para desorientar ainda mais aqueles que procuram descobrir a refinada

tecnologia do artista incógnito há o fato de que a imagem obtida de modo natural

não tem nenhum tipo de raspadura ou coisa similar em sua superfície; entretanto o

Sudário apresenta raspaduras em todo o comprimento. Naturalmente se as

impressões tivessem sido produzidas artificialmente, por irradiação ou por contato

em baixo-relevo aquecido, ou mediante qualquer forma de radiação eletromagnética,

a raspadura estaria limitada apenas à imagem, em vez disso está em todo o pano do

Sudário, e é fácil imaginar que as áreas raspadas do linho e das impressões são

verificadas contemporaneamente na mesma temperatura por efeito de uma mesma

fonte de calor.
De fato, Accetta e Baumgart75 encontraram uma impressionante

semelhança entre as características espectrais das áreas onde está presente a

imagem do Sudário e outras áreas raspadas do pano. A estrutura superficial da

imagem do corpo e a área de fundo são essencialmente as mesmas.

Também Ray Rogers, expert nos efeitos que as cores produzem sobre

diversas substâncias, confirma a hipótese de Jackson: a cor de toda a imagem é

idêntica à do restante do pano. Schwalbe76 afirma que as fibras, nas áreas

levemente raspadas, assemelham-se muito às cores fibrosas observadas na área da

área da imagem. Roger e Marian Gilbert77 concluíram que as impressões do corpo e

as queimaduras refletem a mesma luz.

Provavelmente temos debaixo dos olhos os efeitos de um desastroso

incêndio. É historicamente comprovado que o Sudário esteve em contato com um

forte calor entre os dias 3 e 4 de dezembro de 1532, em Chambery, na Santa

Capela especialmente construída pelo duque de Savóia para abrigar a preciosa

relíquia. O lençol funerário (certamente seco) encontrava-se dobrado e colocado em

uma valiosa caixa de madeira revestida de prata com ornamentos em ouro, dentro

de um nicho do altar78.

Por volta da meia-noite de 4 de dezembro de 1532, quando se iniciava a

festa de Santa Bárbara, começou na Santa Capela um enorme jogo; talvez algum

herege tenha colocado secretamente um carvão aceso, ou alguém inadvertidamente

tenha deixado uma tocha meio apagada79.

75
J. S. Accetta e J. S. Baumgart. Applied Optics, nº19, 1980, p. 1.921.
76
L. A. Schwalbe e R. N. Rogers. "Physics and Chemistry of the Shroud of Turin. A summary of the
investigations", in: Analytica Chimica Acta, ne 135, 1982, pp. 3-49.
77
R. Cilbertjr. E M. M. Cilbert. "Ultraviolet visibile reflectance and fluorescence spectra of the Shroud of
Turin", in: Applied Optics, 1980, pp. 1.930-1.986.
78
P. L. Baeta Boline. Op. cit., pp. 138-140.
79
78. P. L. Baeta Boline. Op. cit., pp. 138-140.
79. L. G. Piano. Commentari crítíco- archeologici sopra Ia S. Sindondi N. S. Gesù Cristo venerata in Toríno.
Eredi Bianco e Comp., 1833.
Uma testemunha da época, o frade franciscano François Rebelais, estava

convicto de que o Sudário se tivesse perdido no meio do incêndio. Em uma de suas

escrituras, lê-se: O Santo Sudário de Chambery queimou-se sem que se pudesse

salvar um único pedaço. Calvino, que vivia naquele tempo, dizia: Quando um

Sudário queima, sempre se encontra um outro no dia seguinte!

Dizia-se também que... o pano não foi de fato queimado, porque alguns

ferreiros de livre e espontânea vontade correram em meio ao fogo e trouxeram para

fora a caixa do Santo Sudário. "O fogo já havia chegado ao armário e ao seu

conteúdo, quando o conselheiro ducal Philippe Lambert apercebeu-se do incêndio.

Mas o coro estava fechado por uma robusta cancela. E o vento noturno soprava

pelas portas espalancadas e alimentava o incêndio. Mas alguém havia avistado as

labaredas de fogo através da neve,o ferreiro Gillaume Poussod, cujo nome merece

ser relembrado porque forçou as barras mais torcidas, queimando até os ossos das

mãos para abrir uma passagem e pegar a caixa de prata. Dois frades franciscanos

estavam com ele, porém os nomes nunca foram transcritos..."80

O fato é que em 15 de abril de 1534, dois anos após o incêndio, efetuou-

se um reconhecimento por parte do bispo de San Giovanni di Moriena e do

cardeal Lodovico Garrevod, e foi verificado que esse pano era aquele mesmo que

existiu antes do famigerado fogo81.

Depois dessa verificação nasceram duas novas e opostas interpretações:

a primeira sustentava que tinha sido um milagre que o Sudário tivesse sido salvo em

meio àquele fogaréu. Como contraprova foi proposto introduzir o pano em um

recipiente de ferro e colocá-lo ao fogo para testar se queimava rapidamente. A

80
Maria Grazia Siliato. Il mistero della Sindone. Piemme, Casale Monferrato, 1989, p. 83.
81
Abade Léon Bouchage. Le Saint Suaire de Chambery a Saint-laire-en-Ville. Chambery, Imprimerie C. Drivet,
1891, pp. 16-26.
segunda imaginava que o Sudário fosse naturalmente anti-fogo porque era de

amianto.

É bem provável que o linho do Sudário, como outros tecidos, possa resistir

em condições especiais a um calor intenso produzido por um incêndio. É isso que se

procura demonstrar experimentalmente e dessa pesquisa aparecerão outras mais.

Em qualquer um dos casos sobre o lençol do Sudário, seja guardado em

um nicho no altar, como veio reportado em várias teses, seja alojado em uma gruta

escavada na parede que se encontra ainda hoje escondida atrás do altar, ele correu

seriamente o risco de se perder. "A gruta, inserida na parede constituída de blocos

de pedra asperamente cortados e ainda hoje chamuscada, está situada a 2,5 metros

do solo. Tem 1,65 metro de comprimento, 60 centímetros de altura e 50 centímetros

de profundidade. Na parte frontal da gruta, ao redor da borda, foi escavado um

pedaço de 5 centímetros, com a evidente função de servir de apoio para colocação

de grades e telas de proteção. De fato, são ainda visíveis no alto e embaixo da gruta

dois furos efetuados quase no meio, que deveriam servir para prender duas

pequenas grades, de 80 por 60 centímetros cada uma. Nos lados são ainda

evidentes 4 cravos utilizados muito provavelmente para murar as sapatas de

sustentação da tela. Essas saliências demonstram que a gruta não foi construída

para proteger a preciosa relíquia: isso, de fato, era um pouco maior que a tela

dobrada várias vezes em si mesmo, de tal modo que pudesse recobrir uma

superfície de 36 por 27 centímetros"82. Experiências sucessivas sobre temperaturas

externas e internas ao cofre necessárias para obter uma chamuscação idêntica

àquela que se observa no Sudário (ver acima) confirmam que o cofre deveria estar

82
Ver A.Tonelli. "II problema delle Bruciature e Ia questione storica", in: Sindon, 8/4/1962
completamente envolvido pelas chamas como teria acontecido se tivesse sido

recolocado em um armário.

A determinação da temperatura máxima no interior do relicário durante o

incêndio de Chambery foi objeto de numerosas experiências conduzidas por Mario

Moroni: a coloração resultante da amostra do tecido deveria naturalmente coincidir

com aquela típica do Sudário. Operou-se experimentalmente em escala de ½

colocando uma amostra do tecido similar àquele do Sudário em um cofre de cobre

prateado forrado por madeira. Depois de uma série de provas preliminares, os

experimentos foram realizados, dirigindo-se a cada ângulo do cofre as chamas de

um fogaréu. A temperatura externa atingia 550°C, enquanto a média registrada

internamente atingia 190°C para o cofre, e 170°C para o pano dobrado, cifras que

forneciam a desejada cor amarelo-pálida confirmada pelo exame foto calorimétrico.

Mesmo as amostras de pano manchado de sangue e soro colorido, extraídas do

pano, mantinham inalteradas as próprias cores originais.

A campanha experimental foi rica em indicações:

a) se o cofre experimental estivesse colocado em uma gruta (a 2,5 metros

do solo), como aquela atrás do altar descrita e refigurada em velhos documentos, as

temperaturas alcançadas não produziriam as duas chamuscaduras enegrecidas e

visíveis no Sudário, que a percorrem por inteiro no sentido do comprimento;

b) para preservar as duas primeiras camadas superiores de uma marcante

chamuscada foi indispensável envolver a tela em um pano de puro linho. Por outro

lado, foi plausível que fosse colocado um pano no relicário para proteção da tela;

c) a temperatura externa não justifica a fusão de uma liga de prata igual

àquela utilizada para cunhar moedas (54% de cobre e 43% de prata). A hipótese
mais provável é que as lâminas foram soldadas em estanho, pelas bordas, entre

si.

d) o Sudário de Chambery foi colocado no cofre com três lados em contato

com as paredes enquanto só um estava distante, disposição que deu origem às

duas chamusca duras enegrecidas. Contrariamente à hipótese de alguns

estudiosos, aqueles que se carbonizam são os lados não aderentes à parede.83

Os exames confirmaram que existe uma progressiva variação de cor do

primeiro ao último chamuscado, e também que a variação é mais acentuada

naqueles colocados abaixo. O fator de luminosidade médio do 27º e do 39º

chamuscado (a cópia foi pregada como sendo o Sudário, em 48 quadros) resulta

respectivamente 0,662 e 0,679%. Explica-se, portanto, as tonalidades mais

evidentes que aparecem sobre o Sudário na área do dorso e do tórax.

Chamuscadura marcada que, por incisão, não pode ser atribuída ao peso do

cadáver ou a um simulador desse porque é reencontrado também na área do peito.

83
Ver R. Gervasio. "Bruciature, macchie ed aloni che si riscontrano sul lessuto della Sindone", in: Sindon, nº
24, Turim, CIS, out., 1976, p. 10.
Uma primeira consideração

Tudo o que foi mencionado sobre o método de formação da imagem, não

faz mais que confirmar a excelência do nosso artista, que se revela depois dessa

viagem histórico-científica como o maior tecnólogo de todos os tempos. Criou-se

uma figura evanescente, de absoluto realismo, da qual, como nos códigos cifrados,

tem de se conhecer a chave de leitura, que é o negativo fotográfico, com uma

segurança surpreendente na utilização do sangue venoso e arterial de pessoas

vivas ou mortas. Apesar do saber acumulado ao longo dos séculos, os cientistas de

hoje, em situações mais favoráveis, apenas chegaram perto.

Apesar de ter feito algum progresso seguro no conhecimento dos

mecanismos da formação da imagem e ter acertado a importância de alguns fatores

experimentais, como, por exemplo, a presença de aloé e mirra, ninguém conseguiu

reproduzir em um pano de mais de 4 metros uma imagem leve e precisa. Alguns

tentaram, certamente com a melhor das intenções, desvendar o mistério do Sudário,

uma obra que somente um gênio poderia realizar, ou uma obra tecnologicamente

fabricada de empenho medíocre. O professor Piazzoli afirmou que "é tão absurda a
existência do Sudário, que Pesce Delfino produz Sudários... a seu bel-prazer84.”

Beato ele!

Todavia, como os antigos, nós também somos obrigados a repetir: Hic

Rodus, hic salta, quer dizer: Façam-nos ver pelo menos um dos Sudários dessa rica

produção para que possamos também acreditar. Mas já é tempo também de

considerarmos outros aspectos do nosso personagem.

84
A. Piazzoli. "Ecco le falle della Sindone", in: L’Unità, 23/03/1996. O articulista é mestre em física geral da
Universidade de Pádova.
Um grande conhecedor do mundo antigo
Os aromas

Não podemos afirmar com absoluta certeza que o aloé e a mirra foram

utilizados pelo nosso humanista para produzir a imagem. Nesse caso, estamos

certos de que, profundo conhecedor do Evangelho (em particular João 19,39), foi

necessário aspergir os dois aromas no pano, porque a presença dos aromas no

Sudário é coisa certa. O professor Baima Bollone85, fotografou as fibras por ele

retiradas em 1978 e descobriu alguns materiais morfologicamente idênticos à mirra,

visíveis no microscópio óptico, revelando que o traçado micro espectrofotométrico do

fragmento de um fio extraído do pano do Sudário correspondente ao do pé direito da

imagem apresenta a mesma composição inorgânica obtida experimentalmente por

meio de uma mancha de sangue, aloé, mirra ou saponáceo sobre um tecido.

Também Michael Adgé86 confirmou que a resposta negativa de 197387, da

comissão de especialistas nomeada pelo cardeal Pellegrino com relação à temática

natural das supostas manchas de sangue, foi atribuída exclusivamente à presença

do aloé.

85
P. L. Baima Bollone. "Primi risultati delle ricerche sí fili della Sindone prelevati nel 1978", in: Sindon, nº 30,
Turim, CIS, dez., 1981.
86
M. Adgé. "Rilievi sperimentali su alcune proprietà del Taloe e della mirra", in: La Sindone: scienza e fede,
Ata do II Congresso Nazionale di Sindonologia, Clueb, Bologna, 1983. Nesse congresso foi demonstrado que 2
miligramas de aloé são suficientes para eliminar a coloração esverdeada produzida por 1 miligrama de sangue
em solução de benzina e água oxigenada.
87
Pesquisas e estudos realizados pela comissão de especialistas nomeados pelo arcebispo de Turim, cardeal
Micbele Pellegrino, em 1969, estão em: Supp. Rivista Diocesana Torínese, Turim, jan., 1976.
Uma outra confirmação, mesmo indireta, provém do costume de untar as

paredes dos locais reservados aos hebreus do século I, descobertos nas

catacumbas hebraicas de Vila Torlonia, em Roma. Esse tipo de procedimento não foi

documentado no Talmud ou por outros escritos hebraicos; todavia, traços de

materiais resinosos e elementos presentes no aloé foram encontrados no terreno

das tais catacumbas, e analisadas duas amostras provenientes de locais diferentes,

ambas consistentes em fragmentos de tufo e na superfície uma substância

enegrecida. Foi possível distinguir grupos de comportamento cromatográficos

análogos àqueles dos derivados de antracêmicos presentes no aloé e traços de

material resinoso como a mirra. Em seguida, Fasola obtém outras confirmações das

catacumbas hebraicas ao sul de Roma designada Vigna Randanini88; e muitas

destas últimas descobertas confirmariam as pesquisas de Giovanni, que observou

um simples erro de transcrição onde se fala em cem libras de uma mistura de mirra

e aloé: uma quantidade excessiva para um cadáver, mas não para ser passada

como uma solução aquosa sobre as telas funerárias, ou nas paredes do interior do

sepulcro.

M. Moroni fez uma simulação do incêndio de 1532, pôs fogo em um pano

embebido de solução de aloé e mirra, em seguida apagou-o com água de

resfriamento e obteve coágulos e contornos segmentados como aqueles que podem

ser observados no Sudário. Experimentos análogos foram conduzidos na presença

do dr. Sebastiano Rodante e, sucessivamente, na do professor Gaetano Intrigillo.

Para essas experiências fez-se referência aos estudos do professor A. Tonelli, que,

88
V. M. Fasola e G. Vigliano. “Relazione preliminare all’analisi chimica del materiale prelevato all’ interno dei
sepolcri delle catacombe ebraiche di Villa Torlonia a Roma”, in: La Sindone e Ia scienza, Ata do II Congresso
Internazionale di Sindonologia a cura di P. Coero Borga, Turim, Paolíne, 1978. Ver também intervenção às
discussões no fechamento do IV Congresso Nazionale di Studi sulla Sindone, in: La Sindone – Indagini
scientifiche, op. cit., p. 423.
com base nos traços deixados no Sudário pelo incêndio de 1532, determinou o

modo segundo o qual a tela tinha sido dobrada no relicário89.

A tela utilizada, com metade da dimensão da do Sudário, foi umedecida

previamente em uma solução aquosa de aloé e mirra. O tecido foi então redobrado

segundo o esquema proposto por Tonelli: constatou-se que um dos ângulos

chamuscados sobrepostos permanecia mais elevado do que os outros três. Uma

similar disposição explica como a água do resfriamento penetra, por causa da

sedimentação da soldadura de estanho, em um ângulo da cobertura, e em toda a

espessura da tela sem alcançar o ângulo mais alto. Essa porção triangular foi

somente umedecida por capilares e mantiveram uma coloração mais escura. A tela

do experimento, de fato, uma vez desdobrada, apresentava algumas manchas

quadrangulares de contornos segmentados e de coloração mais intensa que no

restante do tecido que, molhado, clareou-se porque cedeu boa parte da solução

aquosa de aromas absorvida com antecedência. Como contraprova utilizou-se uma

velha tela cheia de pó não impregnada de aromas. Dobrada em quarenta e oito

partes, do mesmo modo foi deixada por oitenta horas umedecida em água rica em

calcário. Sobre a tela não se observou nenhum tipo de sinal que indicasse o limite

entre a área molhada e aquela aonde a água não chegou.

A terra
O evangelista narra que, transportado para o sepulcro, Jesus foi

imediatamente envolvido no lençol sem que tivessem tido tempo de lavar o corpo

dele90. Isso não fugiu aos olhos do nosso artista, que colocou sobre o joelho

89
Baima Bollonecita no volume L’impronta di Dio, Milão, Mondatori, 1985, o documento “Verso l’ostensione
della Sindone”, também in: Rivista dei Giovani, 15/08/1933.
90
J. Lagrange. Sinopse dos quatro evangelhos segundo a sinopse grega. Brescia, Morcelliana, 1970. Os sinóticos
falam de lençol, enquanto em João é utilizado o termo bandagem, tradução que foi objeto de detalhadas críticas.
Vê-se, por exemplo, o prefácio de Paolo Barbera e Piero Ottaviano no volume da nota 62. O argumento foi
retomado por L. Fossati na Coligação Pró-Sudário em março-abril de 1994.
esquerdo, calcanhar e nariz um pouco de terra misturada com sangue. Nenhum

simples coágulo visível a olho nu, mas pequenos traços que não fugiam ao

microscópio91. Também os cristais de aragonite colocados na área dos pés, os

mesmos, como já mencionamos, encontrados nas tumbas escavadas na rocha, nas

proximidades de Jerusalém, mostram a precisão inigualável da reconstrução.

O pólen
Portanto, um dos elementos mais originais que embelezam a nossa obra-

prima não teria sido colhido até hoje se o acaso não o houvesse conduzido para

debaixo dos olhares atentos de um estranho senhor suíço, que pediu ao tribunal de

Turim que autenticasse as fotografias feitas do Sudário pelo dr. Judica Cordiglia

alguns anos atrás. O suíço era Max Frei, formado em 1937, dirigiu por vinte e cinco

anos o serviço científico da Polícia Criminal de Zurique e foi professor especializado

em criminologia92. Mas, o que é mais importante, ele foi um dos fundadores de um

método de indagação em criminologia baseado nos estudos do pólen das plantas, e

denominado "palinologia". Frei diz que qualquer grão de pólen - o elemento que

fecunda as plantas superiores - pertence a um só tipo de planta. O minúsculo grão

(vinte dividido por duzentos milésimos de milímetro) tem uma proteção externa muito

resistente, o que lhe permite permanecer inalterado por milhares de anos. Sobre as

pirâmides foi encontrado grãos de pólen de mais de cinco mil anos de existência.

Uma vez que mais de 95% desses grãos provêem das cercanias dos lugares onde

são encontrados, a presença deles é um achado, um sinal importante de que

naquele lugar floresce um determinado tipo de planta.

91
F. PellicorieM. S. Evans. "O Sudário de Turim através do microscópio", in: Arqueologia, nº 34, jan/fev., 1981,
pp. 34-43.
92
P. L Baima Bollone. "Ricordo del prof. Max Frei-Sulzer (1913-1983)", in: Sindon. Turim, CIS, 1983, pp. 139-
140. Ver também Sindone o no, op. cit, cap. 14, onde o professor Bollone faz uma rápida síntese de toda a
façanha relativa à individualização dos grãos de pólen.
Coletadas para uma comparação quase resumida entre algumas

fotografias e o Sudário, Frei foi golpeado por uma notável quantidade de pó que foi

encontrada na tela e pediu insistentemente a retirada de algumas amostras. Assim,

malgrado as grandes dificuldades burocráticas que se opunham ao projeto, na noite

de 21 de novembro de 1973, pouco antes do início da primeira transmissão de

televisão, programada há muitíssimo tempo, Frei obteve, limitada às partes mais

externas do linho, a desejada autorização e pôde aplicar algumas tiras adesivas em

diversos pontos do pano (um total de 240 centímetros quadrados de superfície).

Uma nova retirada foi feita em 1978.

Trata-se então de identificar e classificar os eventuais grãos de pólen

encontrados nas tiras, e se o material bibliográfico disponível não for suficiente,

recolher pessoalmente, em várias áreas geográficas, o material polínico necessário

para uma confrontação. Começam assim as viagens de Frei por todo o longo

Mediterrâneo onde a tradição reza que tenha transitado o Sudário: França, Chipre,

Constantinopla, Palestina, até o planalto turco, na longínqua Urfa, antiga Edessa,

que, segundo as lendas, a presença do Sudário rendia-se inexpugnável.

Frei trabalha meticulosamente por diversos anos, depois fornece os

primeiros resultados93. Incluindo os grãos de pólen obtidos na segunda retirada,

identificou cinqüenta e seis tipos de grãos existentes até os dias de hoje, entre eles

destacamos: dezesseis são de zonas arenosas e salinas, iguais à da Palestina; sete,

de terrenos rochosos do Oriente Médio; duas florescem aos pés dos muros de

Jerusalém; dezesseis, de regiões orientais da atual Turquia, que tinha como capital

"Edessa". Alguns desses grãos estão presentes também em Constantinopla,

93
M. Frei: "II passato delia Sindone alla luce della palinologia", in: Atas do II Congresso Internazionale di
Sindonologia. Turim, 7-8/10/1978, Raoline, 1979, pp. 191-200; "Identificazione e classificazione dei nuovi
pollini della Sindone", in: Atas do II Convegno Nazionale di Sindonologia, 27-29/11/1981. Bolonha, Clueb,
1983, pp. 277-284.
enquanto um deles é típico dos arredores da cidade. Foram até mesmo encontrados

traços de aloé. Trata-se de fato de espécies que não se encontram na Europa.

Outros dezesseis tipos se encontram tanto na Europa quanto no Oriente, e outros

doze, em plantas européias comuns. Existe também o do arroz, provavelmente uma

lembrança da ostentação concedida pelo duque de Savóia a Vercelli pelo laborioso

trabalho executado no período da morte de Amadeu IX94.

Não se encontram vestígios de coloração; por isso os grãos de pólen não

fazem parte dos materiais fracionados existentes em cores antigas. Houve uma

objeção de que esses poderiam, em condições excepcionais, serem transportados

pelo vento e atravessarem o Mediterrâneo, mas os ventos típicos não sopram por

toda a costa oriental do Mediterrâneo, nem nas diversas estações de floração, e por

isso não justificariam a presença dos grãos de pólen orientais. Como os sucessivos

estudos confirmaram, metade dos grãos provém de flores entomofilias, isto é,

transportadas por insetos, enquanto a outra metade está presente em espécies de

larga difusão transportadas pelos ventos de regiões por onde, com base em indícios

e documentos históricos, transitou o Sudário.

Como se observou, existem casos em que as espécies botânicas são

dificilmente distinguíveis umas das outras, portanto, para um diagnóstico correto,

seria necessário analisar um elevado número de grãos. As pesquisas de Frei

forneceram provas indiciais muito significativas.

Em vez de realizar essa análise, verificou-se, sob luz polarizada95, que na

fotografia as impressões de flores frescas se entrevêem em torno do vulto do

94
Fossati, L "Principal: avvenimenti da quando Ia Sindone passo ai Savoia", in: Collegamento Pro Sindone,
set/out., 1993.
95
A. D. Whanger e M. WHANGER. "Floral coin and other non-body images on tht Shroud of Turin" in:
Symposium Scientifique International sur le Linceul de Turin. Paris, Cielt, 7-8/09/1989. Os autores
reconheceram vinte e oito flores primaveris da Palestina; em vinte e cinco delas, Frei já havia encontrado os
grãos de pólen.
Sudário e alguns desses fragmentos foram reencontrados sobre o Sudário pelo

arqueólogo Paul Maloney96.

Essas observações foram analisadas novamente por Avinoam Danin, da

Universidade Judaica de Jerusalém, que valendo-se das clássicas fotografias e dos

negativos do Sudário, tirados em várias épocas, encontrou diversas espécies de

flores visíveis na tela. Particularmente, além de outras plantas de origem oriental, foi

revelada, com certeza, a presença do zigophyllum dumosum, uma planta endêmica

que cresce no solo de Israel, no Sinai, e em uma pequena área do Jordão97.

Por outro lado, essas flores deveriam ser bem visíveis porque motivos

florais aparecem em muitos ícones, na auréola da imagem de Cristo, e de modo

análogo na moeda emitida durante o reinado do imperador bizantino Miguel III (842-

867). Alguns levantaram a hipótese de que o Sudário pode ter sido usado como

toalha de altar nas cerimônias solenes de Páscoa, mas tal hipótese parece não ir ao

encontro de nenhuma das últimas pesquisas iconográficas e textuais98.

Eis então outro enigma: como teria feito o nosso artista para procurar os

grãos se o maior deles mede somente dois décimos de milímetro? Mas, agora que

começamos a conhecê-lo, não podemos nos surpreender com mais nada. Com que

segurança! Poderia ter caído facilmente em uma armadilha juntando, por exemplo,

qualquer grão de oliveira, planta muito conhecida além da Palestina e em todo o

Oriente Médio. Por fim os pesquisadores de hoje ficaram muito espantados que se

tenha encontrado grão em meio ao pó existente na tela. Porém nas mais recentes e

sistemáticas indagações das professoras Daria

96
P. C. Maloney. "The current status of pollen research and prospect for the future", in: Relazione al
Symposium Scientifique International sur le Linceul de Turin. Op. cit.
97
A. Danam. "Indicazioni floreali per Porigine geográfica delia Sindone di Torino", in: Il Telo - Rivista di
Sindonologia, mai./dez., 2001, pp. 12-21 ; "Micro-traces of plants on the Shroud of Turin as geographical
markers, Int. Scient. Symposium, in: The Turin Shroud, past, present and future. Turim, Sindon-Effatà, Torino-
Cantalupo, 2-5/03/2000, pp. 495-500.
98
Zaninotto, G. "Sindone tovaglia dell'ultima cena. Ipotesi senza valore", in: idem, pp. 22-27.
Bertolani Marchetti, da Universidade de Módena, e Marta Mariotti, da

Universidade de Florença, em diversas localidades do Oriente - Horto das Oliveiras,

em Jerusalém; Edessa e Adana, na Turquia; e Campiglia, na região da Toscana -,

sobre os blocos de musgos retirados dos muros para secar, nas oliveiras ou nos pés

delas, ou no mel das colméias situadas nos campos das oliveiras, não se encontram

vestígios desse pólen.

E qual é a prova do seu saber enciclopédico! Existe uma série de indícios

que descrevem, não sem incertezas cronológicas, um possível itinerário do Sudário:

Jerusalém, Edessa e Constantinopla são etapas obrigatórias. Então os grãos de

pólen provêm desses lugares! Falta somente Chipre99, mas o nosso humanista teria

tido bons motivos para não colocá-los em outros falsos indícios.

99
É uma das inúmeras hipóteses, de remota probabilidade, sobre as circunstâncias do Sudário no período que vai
dos dois saques de Constantinopla à obra das milícias da IV Cruzada (1204 e 1204), e o reaparecimento em
Lirey, na França, qualquer ano antes de 1356, quando morre em batalha o primeiro possuidor certo do Sudário,
Godofredo de Charny.
Um doutor anticonformista

Para reproduzir os sinais da Paixão e da sucessiva crucificação, o nosso

artista nos mostra um outro aspecto da sua personalidade. Como todos os

verdadeiros sábios, é fiel somente à verdade, e se refuta a cada conformismo. Na

sua obra de arte, não existem traços de qualquer concessão à arte da sua época,

aquilo que os críticos chamam de estilo. Um ilustre professor francês de anatomia

comparada já em 1902 escrevia: "A imagem é de um realismo extremo e impecável,

sem qualquer deslize, sem esquecer qualquer detalhe, não se prende àqueles

defeitos considerados de tradição, não cede nada à esquematização, nada às

conveniências, caracteres que não se encontram em nenhuma obra iconográfica de

qualquer época100". Das cópias da tela que os pintores se esforçaram por reproduzir

nas décadas seguintes não se conhecem mais de quarenta, nem chegam perto do

original. Já apresentar o morto completamente nu em plena época medieval é uma

audácia sem precedentes. Mas vamos às particularidades.

100
A frase é do professor Yves Delate e foi extraída do volume de fr. B. Bonet Eymard: Le Saint Suaire preuve
de Ia mort et de Ia résurrection du Chríst, tomo I, Éditions de Ia Contre-Reforme Catholique, Saint-Rarres-Lès-
Vaudes,1986.
O flagelo

As impressões frontais e, sobretudo, a dorsal apresentam pequenas

manchas. Com a definição das imagens intensificada não foram individualizadas

nem 120. Descobriu-se que se tratava de feridas provenientes de contusão e corte e

tinham cerca de um décimo de milímetro, unidas entre si por duas ou três

escoriações transversais. As dorsais aparecem em forma de leque, em grupos

formados por pregas paralelas que sobem oblíquas até as lâminas dos ombros. Paul

Vignon e alguns médicos101 foram os primeiros a supor que se tratava de sinais de

flagelação dos quais falam os evangelhos de Mateus, Marcos e João. As

elaborações digitais da imagem do Sudário e as fotografias em cores com

fluorescência no campo do ultravioleta realizadas em Turim, em 1978, pelos

pesquisadores americanos102 trouxeram elementos adicionais para uma confirmação

definitiva. Tratava-se evidentemente de sinais de flagelação. O flagelo romano103era

composto por tiras de couro, com pesos de chumbo nas extremidades, ou ossos de

animais, que produziam no condenado um efeito devastador, que, se prolongado,

escarnava até os ossos.

Era com essas fustigações que se puniam os escravos, porque nem os

cidadãos romanos estavam isentos. Os magistrados romanos eram sempre

seguidos por carrascos que carregavam no ombro esquerdo um maço de varas de

101
P. Vignon, do qual já se escreveu; Yves Delage, professor de anatomia comparada da Sorbonne de Paris,
membro da Academia de Ciências, e um agnóstico convicto, depois de um estudo profundo sobre o Sudário, em
21 abril de 1902 apresentou as suas conclusões em uma publicação intitulada Llmmagine di Cristo visibile sul
Santo Sudarío di Torino, pois l'Accademía, per spirito repubblicano, se recusou a publicar integralmente.
E, também, o médico Pierre Barbet, cirurgião militar durante a I Guerra Mundial e do Hospital São José de Paris,
de 1934 a 1948, é autor de uma das mais significativas obras já publicadas pelos estudiosos dessa primeira
geração: La passion du Christ selon le chirurgien, Apostolat des Éditions, 1965.
102
D.J. Lynne J. J. Lorre. "Digital enhancement of images of the Shroud of Turin", in: Proceedings of the United
States Conference of Research on the Shroud of Turin, Albuquerque, 1977; V. D. Miller, e S. F. Pellicori. Op. cit
Ver também referência na nota 16.
103
É o flagrum, que se encontra em algumas moedas romanas e foi, entre outros, encontrado nas escavações de
Herculano e nas catacumbas de Roma.
olmo, amarrado por uma corda de cor vermelha, que era o símbolo e ao mesmo

tempo o instrumento do poder de coerção da autoridade. Todavia, a punição não

podia matar o réu, mesmo que o número de chibatadas fosse imposto por ordem do

magistrado. Na era republicana os cônsules conseguiam as varas até mesmo fora

dos limites da cidade pois só com elas atestavam o seu direito de vida ou morte. Nos

exércitos romanos, pelo contrário, a flagelação seguia até a morte com varas ou

qualquer outro tipo de instrumento iguais aos supracitados; para os soldados do rei

as culpas gravíssimas não era coisa insólita.

Os sinais de flagelação que se observa no Santo Sudário confirmam o

testemunho do evangelista Lucas quando afirma que a vontade inicial de Pilatos era

infligir ao acusado uma flagelação de severo castigo, repugnando, porém, a vontade

dos judeus de condená-lo à morte.

A coroa de espinhos
A coroa de espinhos é uma outra prova de audácia que se coloca em rota

de colisão com toda a imagem medieval. Também as manchas de sangue

produzidas pela perfuração não deixam dúvidas. Não era uma coroa pequena, mas

um verdadeiro capacete que envolvia toda a cabeça, onde os sinais visíveis de

sangue perfazem mais de trinta perfurações. Isso também foi notado pela freira

Clarisse, enquanto, de joelhos, com agulhas de ouro, remendava e cobria a tela, que

foi entregue a ela sob custódia, depois do incêndio de Chambery. Durante a

operação de restauro ela observou a sua divina testa perfurada por grossos

espinhos dos quais escorriam sangue que grudava em seu rosto104.

104
Citação tirada de S. Rodante: "Sudario e anamnesi", in: Atas do III Congresso Nazionale di Studi sulla
Sindone, Trani, 13-14/10/1984, a pedido de P. Coero Borga e G. Intrigillo, Milão, Paoline, pp. 281-292.
O professor Rodante verificou a exatidão de diversos traços desse tipo de

sangue, seja arterial, seja venoso, com a anatomia topográfica da cabeça, hoje

notada perfeitamente por nós105. Por exemplo, o escorrimento de sangue venoso em

forma de 8, o qual já mencionamos, bem visíveis sobre a fronte, à esquerda do vulto,

e o de sangue arterial sobre as têmporas, à esquerda da imagem, que se bifurca

seguindo duas direções, sugere um movimento alternado da cabeça.

Do professor Baima Bollone aprendemos que a tradição quer a coroa de

espinhos formada por um emaranhado de ramos de zizyphus (espinho-de-cristo);

Barbet assegura a probabilidade de que existissem uns maços no pretório para o

aquecimento da corte romana. Baima notou que as diferenças entre outros ramos

espinhosos do zizyphus são bastante flexíveis, mas seus espinhos penetram como

agulha na pele106, sem dobrar-se.

A ferida do pulso esquerdo


Uma grande ferida é perfeitamente visível no pano, na área do pulso

esquerdo, enquanto o direito permanece escondido, porque as mãos permanecem

cruzadas, sobre o púbis. As análises obtidas com a luz ultravioleta, colocando-se a

fonte luminosa do lado do avesso do Sudário, revelaram uma mancha quadrada,

mais escura, de mais ou menos 1 centímetro: é a marca de sangue que preencheu o

buraco do prego depois que este foi retirado, um desses pregos quadrados de

cabeça chata, utilizado pelos antigos carpinteiros romanos, e que foi preservado

como um tributo à pia mãe do imperador Constantino, Helena, e ainda hoje pode ser

105
S. Rodante. "La coronazione di spine ali a luce delia Sindon", in: Sindon, n- 24, Turim, CIS, 1976.
106
P.L. Baima Bollone. Op. cit, p. 320.
visto na Basílica de Santa Cruz, em Roma, ou a 3 de maio de cada ano quando os

pregos da Santa Cruz descem ao nível do altar-mor da Basílica de Milão107.

Mas eis a primeira dificuldade: toda a tradição pictórica mostra o crucifixo

com os pregos que penetram nas palmas das mãos, enquanto o nosso artista faz

sair sangue dos pulsos108. Sobretudo os médicos que se interessaram pelo Sudário

sentiram a necessidade de uma verificação experimental. Barbet introduz um prego

na palma da mão de um dos braços, há pouco amputado, de 8 milímetros de largura,

e o pendura, amarrado a um peso de 40 quilos109. Bastam dez minutos com um

pequeno balanço para que o prego rasgue inteiramente a palma da mão, fazendo-a

destacar-se. Então vai à procura do ponto onde o Sudário parece indicar e o

encontra. É o espaço assim referido por Destot: uma passagem anatômica pré-

formada, normal, um caminho natural onde o prego passa facilmente, e onde se

mantém solidamente pelo osso do pulso e pelos Vigamentos anulares anteriores110.

Observa também que o prego passando por aquele furo natural, teria provavelmente

lesado o nervo médio que comanda a flexão do polegar da mão. Na realidade,

demonstrou-se em seguida que basta que o nervo seja excitado por um simples

esfregão para que o polegar se flexione e se solte embaixo da palma da mão.

Naturalmente o homem do Sudário (era lícito duvidar disso?), mostra somente

quatro dedos na mão esquerda. E com isso voltamos ao antigo problema: a data de

nascimento do nosso artista, porque a verificação dos quatro dedos foi encontrada

na imagem anterior à época em que teriam levantado essa hipótese.

107
Esse prego leva soldado na cabeça um anel o qual fez-se concatenar um segundo. Ambos deveriam ser
juntados posteriormente, de outra forma não se entenderia como o martelo poderia tê-lo golpeado.
108
Do ponto de vista anatômico entende-se por mão o conjunto formado pelos dedos, a palma e o pulso, e este
significado também era assim, provavelmente, no passado.
109
Na realidade, para sustentar um corpo de mais de 80 quilos, que era o peso estimado de Nosso Senhor Jesus
Cristo, mediante os braços que formam um ângulo de 60 graus em relação ao vértice, que é aproximadamente
aquele apresentado pelos braços de um crucificado, a força que se exerce ao longo de cada braço, para dar
equilíbrio ao peso, é agora de 80 quilos.
110
P. Barbet. Cinq plaies de Christ. Issoudun, Dillen, 1937, in: fr. B. Bonnet Eymard. Ver nota 100.
Quatro dedos mostra o Cristo ungido por Nicodemos do manuscrito Pray

de 1192, conservado na Biblioteca Nacional de Budapeste111. Abaixo dessa imagem

foi retratada a cena do encontro da santa mulher com o anjo. Aos seus pés está um

tecido no qual aparecem quatro grupos de queimaduras: são pequenos furos

dispostos em L e semicírculos idênticos àqueles que se encontram no Sudário à

altura dos rins e da panturrilha. São visíveis também em um medalhão, recordação

de uma peregrinação por Lerey, em torno de 1355, e em uma tela de Durer, de

1516. Todas essas imagens foram realizadas antes do incêndio de 1532, que

provocou outras e bem mais relevantes queimaduras. Quase dois séculos antes do

manuscrito de Pray, o crucificado com quatro dedos se encontra no Santuário de

Santa Maria ao Mar, no arquipélago de Tremiti (1016)112. Um outro documento

antigo de manufatura seria do século XII, é o já mencionado palio do papa João VII

(705-708)113. Esse pálio litúrgico fazia parte da decoração do Oratório de João VII

Giacomo Grimaldi, tabelião apostólico e arquivista do capítulo de São Pedro,

descreveu e desenhou antes que o Oratório fosse demolido, em 1606, entre a

decoração aparece o pomposo palio, bordado em ouro e prata. No princípio do

século XX o desenho voltou à tona. Aparecem figuras simbólicas, personagens

bíblicos e da Igreja, cenas da vida de Cristo, e, ao centro, em destaque, um Cristo

morto com as mãos cruzadas. A mão direita com quatro dedos cobre a esquerda.114

Retornemos ao pulso rasgado. Do pulso escorrem duas gotas de sangue

que sobem pelo antebraço, formando um ângulo de trinta graus entre eles, como se

o crucificado tivesse assumido durante o suplício, alternadamente, duas diferentes

111
I. Wilson e V. D. Miller. The mysterious Shroud. Nova York, Doubleday,1988, pp. 131-135.
112
A. Carella e G. di Mônaco. "Caratteristiche sindoniche nel crocefisso delleTremiti", in: La Sindone, nuovi
studi e ricerche. Atas do III Congresso Nazionale di Sindonologia di Trani, op. cit., p. 163.
113
J. Croquison. "Un précieux monument d'art byzantine du l'ancíen tresordu saint Pierre: l'umbella de jean VII",
in: Rivista di archeologia cristiana, n?43, 1967, pp. 49-110.
114
J. Croquison. "Un précieux monument d'art byzantine du l'ancíen tresordu saint Pierre: l'umbella de jean VII",
in: Rivista di archeologia cristiana, n?43, 1967, pp. 49-110.
posições. Aventaram hipóteses de que o condenado levanta o corpo para poder

respirar e depois volta à mesma posição. Com efeito, os experimentos realizados por

Herman Mudder, um radiologista alemão, e seus assistentes, que se prenderam a

uma cruz com bandagens amarradas sobre os pulsos, demonstraram que não seria

possível resistir por muito tempo nessa desconfortável posição: a respiração

tornava-se cada vez mais difícil, o gás carbônico acumulava-se nos pulmões e no

sangue, a circulação do miocárdio tornava-se cada vez mais insuficiente. Alguns

deles desmaiaram depois de alguns minutos. Somente quando lhes fosse permitido

permanecer um pouco nas pontas dos pés é que se notava um retorno às condições

normais.

As duas gotas de sangue, com as respectivas bifurcações, aparentemente

pouco significativas, pressupõem conhecimentos precisos da crucificação, um

suplício demasiadamente difundido no mundo romano115. Certo, existiam muitas

variantes do suplício, porque os legionários utilizavam sobretudo aquilo que tinham à

sua disposição. É o que narra, por exemplo, Flávio Josefo na Guerra judaica:

durante o assédio a Jerusalém dos anos 70 depois de Cristo, para desmoronar a

resistência inimiga realizavam-se quinhentas execuções por dia, o que acarretava

falta de espaço para as cruzes e falta de cruzes para as vítimas. Para incrementar o

divertimento, os legionários faziam os inimigos assumirem as mais impensadas

posições. Em outras circunstâncias, utilizavam também cordas. Todavia, as duas

gotas de sangue dos pulsos indicavam uma modalidade de crucificação que estão

de acordo com as leis da física, e com o pouco que sabemos daquele antigo

suplício: o condenado era obrigado a transportar o patibulum, que originalmente era

115
A última execução capital mediante crucificação foi a de um escravo turco em ; Damasco em 1247 (P. L.
Baima Bollone, in: Sindon, NS-1989-Q, Nº 1, CIS, Turim, pp. 23-29). Entretanto, devemos considerar que no
Império Romano a crucificação foi abolida em 314 por : Constantino, e se pode duvidar que a modalidade de
execução no império turco do século XIV tenha sido igual às romanas de catorze séculos atrás.
uma trave também utilizada para pregar os escravos fugitivos. Depois que o

condenado tivesse sido fixado ao patibulum, era içado com cordas.

Algumas vezes, para prolongar o sofrimento do condenado, faziam

continuamente, ou em partes, colocando entre as pernas um banquinho ou debaixo

dos pés um supedâneo. Mas o Evangelho atesta que Jesus morreu na cruz depois

de apenas três horas, e o próprio Pilatos ficou espantado. João (19,33-34) narra que

por isso não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados, com um golpe de

lança, transpassou o seu flanco. Esses testemunhos concordam com as golfadas de

sangue no pulso, na hipótese de que, no caso de Jesus, não tinha nem banquinho

nem supedâneo. No nosso caso, o condenado era estendido na terra com os braços

abertos, pregado pelos pulsos ao patibulum e depois levantado verticalmente,

enquanto o corpo pendia para baixo, por aquele pouco tempo consentido pelos

pregos. Logo após os pés terem sido pregados, manifestava naquela posição sinal

de asfixia; dessa forma, o condenado procurava um modo de levantar-se pelos pés,

estendendo os braços na posição horizontal, para depois cair na mesma posição.

Por isso o sangue escorria do pulso em duas direções diferentes.

... e ao pé direito

Motivo de debates entre os estudiosos, foi o fato de que Jesus tivesse

sido crucificado pelos membros inferiores com um ou dois pregos. Até o século XII

as imagens, salvo poucas exceções, mostram Nosso Senhor Jesus Cristo, pregado

pelos pés com dois pregos116. Todavia, se o problema da crucificação pelos

membros superiores é aceita por quase todo o universo, sobre os inferiores ninguém

116
Rara um estudo mais apurado da crucificação romana ver as publicações do professor Cino Zaninotto.
Especialmente : sobre o número de pregos, ver G. Zaninotto: "La crocifissione a quattro chiodi e l'uomo della
Sindone", in: ia Sindone - Indagini scientífiche, Atas do IV Congresso Nazionale di Studi sulla Sindone a cura di
S. Rodante, Siracusa, 17-18/10/1987, Milão, Edizioni Paoline, 1988.
está de acordo. Um acontecimento fortuito, em Jerusalém, fora dos muros de

Damasco, reacendeu o debate. São as tumbas escavadas na rocha: dentro das

quinze urnas de pedra que foram conservadas encontraram restos de trinta e cinco

pessoas - mulheres, homens e crianças - que viveram em um trágico período,

porque muitas delas revelam sinais de morte violenta. Os arqueólogos israelenses

estão certos de que estas pessoas viveram nos anos que vão da morte de Herodes,

o Grande, à destruição do templo em 70 d.C. Uma das urnas tem uma importância

particular, pois contém os ossos de um homem que foi crucificado, o único exemplo

de um crucificado que foi encontrado117. Havia fratura na tíbia e no perônio

esquerdo, e o antebraço apresentava uma bandagem na área do rádio, enquanto os

pregos transpassavam o calcanhar direito. Esses sinais traumáticos indicam que o

prego das mãos penetrava na área do carpo, o condenado havia sofrido a fratura

nos membros inferiores (crurifragium), que, bloqueando os movimentos, acelerava a

morte, e, enfim, que o prego no calcanhar não superava, com a ponta curvada, os

10 centímetros, pode-se supor terem usado dois pregos, um para cada pé, fincados

à direita e à esquerda da base. Mas não foi mencionado que se procedesse sempre

do mesmo modo.

De qualquer forma, o nosso discreto artista pouco se comprometeu e mais

uma vez, com aquela sutileza que já conhecemos, sugeriu uma solução sem,

contudo, apresentá-la imediatamente com evidência.

Na imagem frontal, os pés estão praticamente invisíveis, enquanto na

dorsal, aparece nitidamente a impressão completa da planta do pé direito e do

calcanhar esquerdo como se a tela tivesse sido virada de cabeça para baixo. No

117
A localidade tem o nome de Giv'at ha-Mivtar (colina da divisão). O crucificado tem escrito o próprio nome,
em aramaico, em um lado da urna de pedra que contém os ossos. Lê-se JOÃO-JOÃO FILHO DE HCQWL, mas
o significado da ultima palavra é incerto. Para saber mais sobre Giv'at ha-Mivtar ver: V. Tzaferis. "Jewish tombs
at and near Giv’at ha-Mivtar - Jerusalém", in: Israel Esploration Journal, nº20,1978, pp. 18-32.
plantar direito, na área do metatarso, um furo quadrado - revelado também com a

radiação de ultravioleta -, do qual faz comparação na imagem anterior com uma

mancha de sangue tão larga quanto a superfície superior do pé. Com grande

maestria e discrição, o nosso artista quis nos mostrar que, segundo o seu parecer, o

pé esquerdo estava sobreposto e a strito contacto com o direito118. Por outro lado, a

posição dos pés que não estão na mesma altura e que deu lugar à lenda de Cristo

manco pareceria estar a favor desta última hipótese. Naturalmente o nosso artista

não se esqueceu de que os membros inferiores do Sudário não devam apresentar

sinais de ruptura, pois, segundo narra o evangelista João, como era visto que já

estava morto não Lhe quebraram as pernas.

A ferida nas costas


É ainda o evangelista João que nos fala do soldado que feriu Jesus morto

com uma lança. Uma ferida da qual saiu sangue e água. Também nesse caso nada

foi esquecido na criação de uma imagem de total veracidade. Na parte direita do

tórax, a 12 centímetros do esterno, há a reprodução de uma chaga feita por uma

arma de corte, um corte elíptico de 45 milímetros de comprimento e 15 de largura,

nítido, sem turgidez, e bordas abertas, como são as feridas de pessoas mortas. Da

ferida escorre uma abundante golfada de sangue cadavérico já separado em seus

componentes corpusculares e soro, não uma impressão contínua, como em outros

pontos da tela, mas coágulos com um halo de soro ao redor (encontrado também

nesse caso pela fluorescência do ultravioleta)119, sinal de que o coração já não batia.

O sangue desce, pois, pelo abdômen e o encontramos sobre o dorso, com a forma

de uma larga faixa, que se abre em numerosos filetes.

118
G. Ricci. L'uomo delia Sindone é Cesü. Diamo le prove. Vigodarzere (PD), Edizioni Carroccio, 1989, pp. 47-
49.
119
V. D. MillereS. F. Pellicori. Op. cit.
A lança do Sudário, aquela que a tradição atribui ao centurião Longino, o

militar que reconhece a divindade de Jesus no momento da sua morte, parecia uma

arma pertencente ao exército romano e às tropas auxiliares: "Quando, em 6 d.C, foi

transformada em província romana, a Judéia recebia pela primeira vez um presídio e

considerada como de escassa importância estratégica, foi confiada por isso a um

procurador, que não formou em seu território, pelo menos até o final dos anos 70

d.C, nenhuma legião. Os procuradores tinham sob seu comando tropas auxiliares,

levadas por eles para o ponto mais alto do seu território, entre as populações não-

judaicas da Palestina120."

Essa lança era semelhante aos exemplares provenientes das escavações

arqueológicas e idênticas em comprimento à encontrada em Jerusalém e datada da

época da guerra judaica. A lança era a arma por excelência do exército romano, de

tal forma que os romanos davam a ela o nome de Quiriti. Em geral a lâmina era em

forma de folha de salgueiro e, portanto, feria tanto com a ponta como com o fio.

Quase seguramente o nosso artista não pôde revelar a relíquia original, conservada

nos palácios imperiais de Constantinopla do século VIII até a queda do Império

Romano do Oriente (1204), mas é certo que foi adquirida de modo ainda ignorado e

com excepcionais conhecimentos, tanto no campo médico quanto no arqueológico.

120
In: Coppini, L. Le lesioni di punta ed il colpo di lancia visibili sulla Sindone. Rilievi di anatomia topográfica
e radiologica; S. Rodante. La Sindone-lndagini scientifiche, Cinisello B., Edízioni Paoline, 1988.
A moeda sobre o olho direito

O nosso humanista sabe também que não podemos duvidar nem do

campo arqueológico nem da numismática antiga, porque ele mesmo nos disse,

naturalmente não de maneira explicita, mas de acordo com seu estilo, de modo

crítico, ou seja, que só compreenderá aquele que se esforçar em compreender.

Nesse caso a solução do enigma sabiamente proposto está fácil. Ele nos deixa uma

primeira pista, revelada, em 1977, pelos investigadores americanos da Academia de

Aeronáutica dos Estados Unidos, John Jackson e Eric Jumper, quando executaram

a elaboração eletrônica das impressões das fotografias do Sudário, tiradas por Enrie,

em 1931, que lhes permitia obter uma imagem tridimensional. Eric Jumper assinala,

entre outros, que em uma ampliação em relevo sobre os olhos do vulto do Sudário

sobressaem duas espessuras da dimensão de um botão, como uma moeda121.

Quase nessa mesma época um farmacêutico de Stradella, ao observar as

elaborações feitas no período das revelações das fotografias em branco e preto, ou

em slides coloridos, em 1969, pelo dr. Judica Cordiglia, distinguia sobre as pálpebras

do vulto do Sudário duas superfícies em relevo: uma, de forma circular, e outra,

elíptica. Essa não foi a única e interessante descoberta do dr. Pietro Ugolotti mesmo

121
E.J. Jumper ei ai. "Computer related investigation on the Holy Shroud", in: K. E. Stevenson. (ed.).
Proceedings ofthe 1977 U. S. Conference of Research on the Shroud of Turin. Nova York, 1977; J. P. Jackson et
al. "The three dimensional image of Jesus burial cloth", in: idem, pp. 74-94; J. P. Jackson et al. "Images of coins
on a burial cloth?", in: The Numismatist, jul., 1978, pp. 1.350-1.357.
porque, por ironia, era proveniente de um farmacêutico de Stradella, e não teria uma

grande ressonância entre os cientistas. Em agosto de 1979, o padre Filas, jesuíta e

professor da Universidade de Loyola, em Chicago, enquanto observava algumas

ampliações das fotografias de Enrie, identificou sobre a pálpebra direita da área em

relevo quatro letras dispostas em arco: Y, C, A, I, e o padre Filas pergunta se não se

trata de uma escrita parcial, em relevo, de uma moeda.

Com a ajuda de um expert em numismática, ele pesquisa catálogos e

realiza testes, para no final descobrir a existência de moedas de bronze de pequeno

diâmetro em cujas bordas aparecem as palavras TIBEPIOY KAICAPOC, em grego,

isto é, de "Tibério César". O símbolo que aparece é um lituo, uma espécie de bastão,

grosso, com a extremidade superior arqueada e sem nós, empregado para

delimitação do templo, isto é, do espaço celeste correspondente ao espaço terrestre

que deveria ser consagrado. Em Roma, na cúria dos Salii palatini, conservava-se um

lituo do qual, segundo a lenda, Rômulo serviu-se para repartir, de acordo com o

ritual etrusco, as regiões da cidade por ele fundada. Verossimilmente, a princípio o

lituo foi uma espécie de batuta mágica, uma das insígnias do poder dos magistrados

e dos sacerdotes sobre os itálicos122. Uma moeda similar, de aproximadamente 17

milímetros de diâmetro, a dileptun lítuus, foi cunhada pelo procurador Pôncio

Pilatos123. O padre Filas atribuiu então o decalque das letras que aparecem no

Sudário à moeda de Pilatos porque tinha o mesmo cunho, com idêntica inscrição, e

o mesmo símbolo tido como procedência do procurador Valério Grato (15-26

122
Enciclopédia Italiana, XXI, Instituto da Enciclopédia Italiana. Milão, Rizzoli, 1934
123
Mesmo que alguns neguem que isso existiu, falamos de Pilatos, depois do evangélico Flavio Giuseppe em
Antichità giudaiche e Fílon de Alexandria em Legazione a Caio. Também Tácito o menciona em seu Annali.
Quinto dos procuradores romanos, governou a Judéia de 26 a 36 d.C. A data de emissão das moedas é precedida
por um L que significa do ano (genitivo de termos lukabas), e é impressa com letras maiúsculas do alfabeto
grego: as primeiras nove letras para as unidades, as seguintes para os decimais. Temos, portanto, para as moedas
de 29-30 d.C, indicações com LlZ (o símbolo 5 é um antigo sinal minúsculo introduzido entre as primeiras letras
do alfabeto com valor 6); de 30-31 d.C, indicadas com LIZ; e por fim, as de 31-32 d.C, às quais correspondem
as letras LIH.
d.C.)124. Vocês imaginariam aplausos entusiásticos à frente de tamanha descoberta.

Pelo contrário, quando o pobre padre tornou pública a notícia, mesmo não sendo de

Stradella, encontrou um grande ceticismo, quando não uma verdadeira hostilidade.

Ainda recentemente apareceu, sobre essa notícia125, a tese do professor Pesce,

segundo a qual os caracteres maiúsculos que o professor Filas teria acreditado

distinguir não são senão bastõezinhos prateados retilíneos e curvos, nas nuances

fotográficas visíveis no microscópio. É notado, porém, que essas emulsões são

visíveis no negativo, mas não na impressão, onde se obtém simplesmente a imagem

captada pela objetiva fotográfica.

De fato, numerosos argumentos se opõem a uma plena aceitação do que

afirmava o padre Filas. Antes de tudo, KAI-CAPOC se inicia com K e não com C. Um

erro primário por não ser expert em língua grega? Somente dois anos depois,

quando o padre Filas encontrou uma moeda da coleção que mostrava um C em vez

do K, essa objeção foi arquivada. Mas era costume hebraico colocar moeda nos

olhos dos defuntos? Também aqui sucedem-se infindáveis querelas. Nesse caso

foram revelados dois pequenos fatos, do período próximo ao período em que viveu

Jesus: o primeiro revela moedas na parte posterior interna de dois dos crânios

encontrados no Cemitério Comunitário Israelita de Jerico126 e, o segundo revela uma

moeda de Herodes Agripa I na câmara funerária da família do sumo sacerdote

Caifás. Esses achados confirmam o costume de colocar moedas nos olhos dos

defuntos. Há algumas objeções, segundo as quais as moedas eram colocadas na

boca como óbolo, moeda grega de pequeno valor, do qual fala Luciano de

124
A moeda mostra no verso a data LIA, ano XI deTibério, em 24 d.C. Fazem referências a moedas dilepton litus
datadas LIA D. Sestini (1796), Cavedoni (1856), F. Madden(1864).
125
"Cometi demolisco la tesi della monetina impressa sull’ occhio del Cristo", in: Bari Será, caderno Cultura,
12-13/07/1996.
126
Em um crânio, uma moeda de Hircano II (63-40 a.C.) e uma de Herodes Arquelau (4 a.C-6 d.C), enquanto no
outro duas moedas de Herodes Agripa I (37-44 d.C).
Samósata, que impedia que Caronte repetisse a passagem de Stige. Há evidências

da presença de moedas de pequeno valor no fundo da caixa craniana apenas no

caso em que caem no buraco orbital através da fissura superior.

Ainda objeções. Se a imagem é um decalque, isto é, um objeto que se vê

pelo avesso, então a de Filas deveria ter o báculo girado de acordo com o eixo de

cento e oitenta graus, a moeda deveria apresentar um báculo muito parecido com

um ponto de interrogação, mesmo que o estudo de testes e análise dos catálogos de

pesquisas numismáticas introduzam sempre o báculo da forma já notada. É Mario

Moroni que formula a objeção127. O professor Filas enviou-lhe em janeiro de 1985,

um mês antes de sua morte prematura, um interessante artigo de Brame, um

apaixonado colecionador californiano de moedas hebraicas cunhadas pelos

procuradores romanos128. Ele cedeu a Moroni alguns exemplares da rara moeda de

Pôncio Pilatos com o ambicionado ponto de interrogação. No verso é nitidamente

legível Is, o XVI de Tibério (29-30 d.C.)129. Mas também a escrita deveria estar de

cabeça para baixo, um dado que ninguém havia notado: se o báculo resultava

invertido, também o teor erudito do negativo deveria estar da mesma forma. De

fato, os lítius riverse tinham invertida também a legenda. A objeção aparece com

evidência somente após um novo estudo eletrônico realizado pelo professor

Balossino em abril de 1996.

Esse estudo permitiu também revelar que algumas letras de teor erudito

não eram dispostas circularmente ao lado do báculo: do "C", em um extremo, ao "A"

127
M. Moroni. "Ulteriore prova della presenza sull’occhio destro dell’Uorno della Sindonedi una rara moneta
emessa da Ponzio Pilato", in: La Sindone - Indagini scientifiche, nota 127, pp. 329-343.
128
A. H. BrameJr. II. "The dating of the Shroud of Turin: two rare, previously unrecognized, Lituus dilepta
issued A.D. 24-25 by Valerius Gratus and A.D. 29-30 by Pontius Pílatus", in: The Augustan, XXII, nº 2, out,
1984, pp. 66-78.
129
Uma confirmação adicional foi dada por um arqueólogo israelita de Tel Aviv, Y. Meshroer, que no volume
Ancient Jewish Coinage, v. II, tav. 32, n. 23g - Herod the Great through bar Cochba, Nova York, Amphora
Books, 1982, repontava um dilepton lituus do tipo retrograde (invertido) também datado LIZ, ano XVII de
Tibério, 30-31 d.C.
resultam claramente colocadas sobre a parte recurvada do lituo "riverse"

interrupções nas áreas de sobreposição130. Não se pode deduzir que a moeda foi

rebatida imprimindo em um primeiro momento o báculo invertido depois da letra Y

CAI. Emergiram também dois leves traços paralelos colocados ao lado da haste

vertical do lituo: em cada probabilidade os sinais permanecem em círculo durante a

cunhagem.

Há quem afirme que pequenas moedas (1,8 gramas mais ou menos) não

podem manter as pálpebras. Todavia, os patologistas-legistas, que conhecem as

sensibilidades musculares do rigor mortis disseram que um pequeno peso consegue

impedir o soerguimento das pálpebras131; com o tempo deslizam dos olhos de uma

pessoa com a cabeça apoiada no próprio peito porque são pequenas e leves.

É importante observar como os traços deixados pelo nosso artista tenham

estimulado cada tipo de análise. O exemplo para responder às objeções que as

impressões teriam deixado impressas em todas as cartas reportadas na cunhagem e

em perfeita posição circular132 foi necessário para especificar as formalidades da

produção em série das moedas menores do tempo de Pilatos, moedas que, como

atestam os exemplares por nós observados, não eram de maneira alguma

perfeitamente circulares e apresentavam ângulos oblíquos e cortes, algumas vezes

apêndices, por causa da fusão.

"Em uma matriz feita de pedra refratária (forma e contra-forma) escavada

para a impressão das moedas, que se comunica por uma canaleta de alimentação

na qual escorria o metal fundido, a solidificação desse metal é extraída da forma


130
M. Moroni e F. Barbesino. Sobre o Sudário duas moedas de Tibério César - O grande livro do Sudário, São
Paulo, 2000, pp. 217-220.
131
"As pálpebras, poucas horas depois da morte, no momento da instauração da rigidez cadavérica, tendem a
abrir. Um pequeno peso é capaz de impedi-las. É claro que uma quantidade de objetos de dimensões reduzidas e
de modestíssima massa não serve a esse propósito. Entre esses estão as pequenas moedas", in: P. L. Baima
Bollone.
Cimpronta di Dio, nota 94, p. 165.
132
G. Ricci.Op. cit, nota 122, pp. 91-92.
matriz com uma pinça depois que o bronze se liquefaz para formar a coleção de

moedas. Elas estão apoiadas na extremidade da bigorna, e o fundidor, com um

formão, faz soltar o modelo da primeira moeda, a segunda, a terceira, e assim até a

liberação de todas as moedas133." Mario Moroni encontrou em uma das moedas de

Pilatos que estava em seu poder outra data, e também os sinais deixados pelo

formão na fabricação das moedas, dois segmentos muito profundos que podem

aparecer em um ponto qualquer da cunhagem. Também o Sudário apresenta esses

traços sob a haste vertical do lituo. A descoberta não-científica do padre Filas recebe

seguidas confirmações: do professor Tamburelli, do Departamento de Informática da

Universidade de Turim134, do dr. Robert Haralik135 diretor do Laboratório de Análise

de Dados Espaciais da Politécnica da Virgínia, que não somente identifica o lituo e

as quatro letras de Filas, como lhe acrescentam outras duas: um O e outro C (O

YCAI C).

... e sobre o supercílio esquerdo


A descoberta de uma moeda sobre a pálpebra direita traz um importante

confronto com a recente descoberta de uma segunda moeda sobre a arcada do

supercílio esquerdo. Quem deu a notícia foi o professor Baima Bollone, notável

estudioso do Sudário, e o professor Nello Bolossimo, aluno do professor Tamburelli

e docente de elaboração eletrônica da Politécnica de Turim136. Trata-se, também

nesse caso, do decalque de uma moeda de Pôncio Pilatos que tem no centro o

133
M. Moroni. "Quella moneta di Pilato sull’occhio destro", in: La Sindone questo mistero. Storia – Scienza -
Archeologia. A cargo da Delegação Lombarda do Centro Internacional do Sudário de Turim, Bovisio Masciago,
1991.
134
G.Tamburelli. "Some result in the processing of the Holy Shroud of Turin", in: IEEE Transaction on Pattren
Analysis and Machine Intelligence. Vol. Pami3, n?6, nov., 1981.
135
R.M. Haralik. "Analysis of digital on the Shroud of Turin", in: Spatial Data Analysis Laboratory. Blacksburg
(Virgínia), Virgínia Polytecnic Institute, 1983.
136
A notícia foi dada na Rádio e Televisão Italiana, RAIII, programa Mixer, de 8/7/1996. Ela também apareceu
nos jornais diários de circulação nacional: La Stampa, II Giorno e Avvenire, todos de 7/07/1996.
simpulum, uma pequena concha com cabo137. Ao redor da borda lê-se TIBEPIOY

KAICAPOC e a data Lis (29 d.C). O cunho tem 16 milímetros de diâmetro e peso

inferior a 2 gramas. Experiências de decalque sobre a tela úmida da parte em relevo

de uma das tais moedas sujas com sangue ressecado deram resultado positivo: o

símbolo reproduzido é igual àquele que está sobre o Sudário, bem visível, sem a

presença de lentes de aumento, desse modo sem o risco de ver aquilo que não

existe.

Talvez o nosso artista, na reprodução das moedas sobre os olhos,

recordou-se do óbolo da viúva do qual falava Jesus.

137
Em um dos lados da moeda estão representadas três espigas de cevada em baixo-relevo como nome de Júlia
Augusta, mãe de Tibério: IOYAIA KAICAPOC.
Uma segunda consideração

Os sinais da crucificação e as moedas encontradas sobre as pálpebras

não contestam a grande sabedoria de um artista de espírito um pouco zombeteiro e

a sua cultura enciclopédica. Os pontos fracos que deixa são, assim, ricos de

informações que muitas vezes se perdem na ciência do século XX. Não somente os

paladinos do Sudário, que muitas vezes não sabem como poderiam ter conseguido

detalhes estupendos, mas também aqueles que estão convictos de que seja obra de

um artista desconhecido, inventam soluções infantis, ou insensatas do ponto de vista

histórico, médico e arqueológico, e, por isso não sustentam as mais profundadas

indagações.

É certo que essa imagem, única em toda a arte medieval, testemunho de

um inconformismo livre de preconceitos, deixa-nos estupefatos com o seu realismo e

a sua impressionante precisão na humanidade da era espacial, o que deveria

parecer quase uma blasfêmia aos seus contemporâneos! Mais uma vez nenhum

estilo, nenhuma expressão pessoal, nenhum vôo da fantasia, mas uma imagem que

parece saída de uma objetiva fotográfica. Modestíssimo, ou talvez desdenhoso da

ignorância que o circundava, transmitiu aos seus sucessores uma obra que os

contemporâneos descobriram a duras penas, e, talvez desgosto da incompreensão

geral, destruiu cada traço de suas obras-primas (o Sudário por certo não foi a única)
e por fim os instrumentos e os aparelhos que serviram para criá-las138. Um fato

infeliz. Em uma época próxima Leonardo estava na boca de todos, enquanto ele,

certamente mais hábil e conhecendo Leonardo, aparece por um momento como

falsificador em um documento controverso e depois desaparece por completo na

escuridão.

138
Uma análise epistemológica dos dados científicos no que diz respeito ao Sudário, talvez não valorizada de
modo justo, foi conduzida pelo dr. A. Upinsky. Aqui fala-se de uma crise epistemológica no sentido de que todas
as informações científicas convergem, malgrado objeção e incerteza em torno do pano. Se fosse um artefato do
século XIV a ciência atestaria dois fatos contraditórios entre eles (A. A. Upinsky: La science à l'épreuve du
Linceul, conferência no Symposium Scientifique International de Paris sur le Linceul de Turin, OEIL, Paris, 7
8/09/1989).
Uma pequena fonte de luz

As análises com o C14

Nos anos 50 existem afortunadamente uma sofisticada técnica para datar

os achados arqueológicos. Em 1952 um químico da Universidade de Chicago,

depois de ter descoberto que na matéria viva um isótopo de carbono, o C14,

deteriora-se com o tempo, idealizou um método139 para medir a idade dos achados

de natureza orgânica. Com esse isótopo pode se quantificar o tempo transcorrido

desde quando uma substância orgânica vivente deixou de viver, isto é, deixou de

absorver carbono da atmosfera. No carbono são notados cinco isótopos, isto é,

elementos que têm o mesmo número atômico e massa diferente. Dois estáveis no

tempo, o C12 (98,89% aproximadamente) e o C13 (1,11% aproximadamente), e três

instáveis, dos quais só o C14 encontra-se em quantidade infinitesimal (um átomo em

cada mil bilhões de átomos de carbono) e a um tempo de transformação

suficientemente longo podendo ser utilizado em uma datação. Do carbono

139
Witlard Frank Libby, professor de química pelo Instituto de Estudos Nucleares de Chicago, recebeu, em
1962, o prêmio Nobel pela pesquisado método da radiodatação com radioisótopos, em particular o C14.
assimilado pelos animais e pelos vegetais, grande parte se conserva inalterada no

tempo (C12 e C13), ao contrário da concentração do C14, que se transforma

continuamente em azoto 14, diminuindo quando cessa o equilíbrio com o ambiente

externo, que o mantinha constante. A transformação é relativamente lenta, pois são

necessários aproximadamente 5.700 anos para que a concentração se reduza à

metade. Portanto, o conteúdo do C14 diminui (de maneira exponencial) com o

passar do tempo, e o seu valor atual é um índice de tempo transcorrido pela

paralisação das mudanças com o meio externo. Os primeiros aparelhos de medição

não passavam de um simples medidor Geiger140. Baseava-se no fato de que o C14

quando caía, emitia partículas β e, portanto, media-se a quantidade de

radioatividade resídua em comparação àquela inicial de uma amostra análoga. A

amostra nesse caso permanecia à disposição para análises posteriores.

Em seguida, depois de 1979, foram realizados os espectrômetros de

massa e aceleração que separavam os átomos de C14 dos outros isótopos e os

contavam diretamente. Os AMS (Accelerator Mass Spectrometer), espectrômetros

de massa e aceleração, são máquinas muito caras e complexas, mas apresentam

uma vantagem, a de executar análises em poucas horas, enquanto

precedentemente ocorria a necessidades de esperar alguns meses, e com uma

ínfima quantidade de material necessário, alguns décimos de milímetros muito

inferiores àqueles medidores de última geração. Nesse caso, porém, ocorre a

destruição da amostra.

Depois de uma série de manobras e contra-manobras, três laboratórios

dotados com esse aparelhamento AMS obtiveram, em 1987, da Secretaria do

Vaticano, a autorização para a retirada de pequenas amostras do tecido do Sudário

140
Pertence aos medidores ditos proporcionais porque os números de átomos radiativos vêm estimados em base
ao número de desintegrações radioativas realizadas em um certo intervalo de tempo.
para o procedimento da análise de data da tela141: foram os laboratórios da

Universidade do Arizona, de Tucson; da Politécnica Federal de Zurique; e o de

Arqueologia e História da Arte de Oxford; todos coordenados pelo dr. Tite, do British

Museum.

As condições nas quais se desenvolveram as análises foram, do ponto de

vista psicológico, quase perfeitas. Os operadores, e mesmo o coordenador, eram

quase privados de conhecimento sobre o aspecto daquilo que deveriam analisar e

ainda mais: a maior parte deles já estava convicta de que se tratava de uma

falsidade medieval. Pois no ambiente dos analistas do AMS foi difundida a idéia de

que o Sudário de Turim fosse de origem medieval e obteve-se essa informação, em

1987, no IV Simpósio Internacional sobre Espectrografia de Massa com Acelerador,

que se realizou no Canadá, em Niagara-on-the-Lake. Durante o banquete oficial, na

Universidade de Rochester, o professor W S. A. Dale, da Universidade do Oeste de

Ontário, entreteve os companheiros de mesa com o tema "O Sudário de Turim

relíquia ou ícone?" Segundo o professor Dale, é improvável que a imagem

superficial do Sudário de Turim seja anterior a 969 d. C. e posterior a 1169.

O professor Baima Bollone escreve: "Nenhum dos vinte e um

analisadores (aqueles que aparecem no artigo que reporta os resultados das

análises de N.d.A.) é um verdadeiro expert do Sudário em bibliografias citadas sobre

estudo do Sudário. Trata-se dos resultados das pesquisas dos estudos computados

pela comissão de experts nomeada pelo arcebispo de Turim, cardeal Michele

141
Rara uma explanação detalhada dos acontecimentos ligados à datação do Sudário com os espectrômetros de
massa por aceleração, consultar: F. Barbesino e M. Moroni. L'ordalia del carbonio ; 14. Pessano (Milão),
Mimep-Docete, 1996.
Pellegrino e publicado em 1976. O artigo apresenta o Sudário sob termos errôneos

etc. etc.”142

Desse modo as eventuais sugestões de caráter fidedigno não

influenciaram os seus trabalhos e fixou-se na decisão do resultado. Foram

eliminadas as análises preliminares das fibras e dos eventuais resíduos de poluição,

economizando assim alguns meses de trabalho. Reduziu-se, para enxugar a

estrutura operacional, o número de avais pedidos, de quatro para dois: o British

Museum, representado pelo dr. Tite, e a Santa Sé, pelo Guardião do Sudário, na

pessoa do cardeal de Turim, Anastasio Ballestrero, mais conhecido pelas virtudes

pastorais do que por conhecimentos científicos. Tendo eliminado os laboratórios que

adotavam a contagem proporcional, foi possível retirar do Sudário 478 miligramas de

tecido, cerca de 150 para as análises e uma reserva para cada eventualidade. Foi

determinado que com as amostras do Sudário fosse fornecido a cada laboratório um

par de amostras das quais estivessem certas as datações em procedência:

segundo um método de análises às cegas, as datas não deveriam ser comunicadas

aos laboratórios, a não ser a das análises completadas. Se os valores encontrados

fossem coincidentes com os notados também na datação das amostras do Sudário,

eram considerados seguros. Porém o dr. Tite comunicou com antecedência as datas

das amostras em referência, considerando justamente que poderia contar com a

credibilidade dos pesquisadores. Os resultados foram de fato aqueles que se

esperavam, mesmo que na dispersão dos valores obtidos pelos três laboratórios

resultaram um pouco excessivos, e querendo mais pormenores, os resultados

142
P. L. Baima Bollone. Sindone o no, op. cit. Em uma entrevista ao The Tablet, de 14/01/1989, o professor
Edward Hall, : analista de Oxford, afirmava: "Pessoalmente, penso que não há o menor senso de um original do
século I ficar parado. Por exemplo, a coisa notável a propósito do Sudário de Turim é que o primeiro e único
documento preciso e histórico são as duas menções do século XIV, quando os bispos da época lamentaram a
idéia de ser falso. É a única porção da história que temos".
deveriam ser reconsiderados, porque não eram homogêneos entre si143. Essa

interpretação cruel abria a estrada a uma objeção ainda mais insidiosa. Os

resultados obtidos pelos três laboratórios pressupunham que os valores individuais

provenientes das análises dispunham-se de acordo com uma distribuição normal,

mas esse tipo de distribuição só pode ser feita... se as amostras fossem

homogêneas entre si144.

Todavia, o intervalo estabelecido pelos laboratórios - 1260-1390 - foi

acolhido com simpatia. O professor Hall, diretor do Laboratório de Oxford, recebeu,

em 1989, de quarenta e cinco homens de negócios, 1 milhão de libras esterlinas

para a atividade desenvolvida e em particular por ter estabelecido no ano anterior

que o Sudário de Turim era uma falsidade medieval. O dinheiro foi utilizado para

fundar uma cátedra de ciência arqueológica. Segundo o Thelegraph de 25 de março

de 1989, "a nova cátedra será ocupada pelo dr. Michael Tite, diretor do Laboratório

de Pesquisas do British Museum, que igualmente desfiou uma lista preponderante

para desmascarar a fraude sobre o Sudário de Turim".

Essa datação é com certeza um resultado importante na pesquisa do

nosso artista. Todavia, ocorre observar que, empurrados pelos próprios entusiasmos

científicos, os carbonistas apresentaram os resultados como a prova de uma

falsidade medieval, ao mesmo tempo que um amigo deles, o benemérito

reverendo Sox, levava para as livrarias um volume de título significativo: O Sudário

desmascarado: descoberto o maior falsário de todos os tempos. A obra de

143
Existem procedimentos estatísticos para verificar que os descartes de valores obtidos pelos laboratórios
individualmente sejam puramente casuais e não devido a erros de procedimento ou a um mostruário não
significativo. O procedimento adotado fornecia um valor estatístico do assim chamado nível significativo
(significance level) que impunha a reconsideração dos valores obtidos. O limite mínimo de valor aceitável é de
5% e este, portanto é o valor que aparece no artigo de apresentação dos resultados. Todavia o valor correto que
se obtém de cálculo é de 4,1%. Ver nota 144.
144
R. P. Jounvenroux. "Intervalles de confiance et datation radiocarbone du Linceul deTurin", in: Actes du
Symposium Scientifique International. Roma, 10-12/06/1993 publicado por F. Xavier de Guibert, Paris, 1993,
pp. 185-205. Uma boa síntese em M. Gastuche e C. Van Oosterwyck. Le radiocarbone face au Linceul de Turin,
Paris, F. Xavier de Guibert, 1999, pp. 319-338.
desmistificação de Sox foi extenuante. Já em 1980, seu amigo e também

pesquisador, dr. Walter McCrone, analisando o material removido da tela pelos

pesquisadores do STURP (Shroud of Turin Research Project - Projetos de Pesquisa

do Sudário de Turim) crê ter achado a prova de que o Sudário é uma pintura de

idade medieval. Voa então para a Inglaterra e fornece a notícia da glamourosa

descoberta sob a forma de comunicação privada para a British Society for the Turin

Shroud (Sociedade Britânica para o Sudário de Turim) da qual é secretario o

reverendo Sox. O Catholic Herald publica, em setembro de 1980, a notícia que se

difunde para todo o noticiário mundial. Sox pede demissão de secretário e

rapidamente escreve o livro A imagem sobre o Sudário – É o Sudário de Turim uma

vigarice?, onde pede desculpas ao público por tê-lo involuntariamente enganado

com uma relíquia que a ciência demonstrou ser falsa. Infelizmente as provas de

McCrone não encontraram confirmação e ele teve, definitivamente, de abandoná-las

depois dos resultados das pesquisas realizadas pelos pesquisadores do STURP.

O próprio professor Tite reconheceu em seguida que não acreditava que

se deveria, necessariamente pensar em uma falsificação, coisa sem dúvida difícil de

estabelecer por meio de uma análise que se concentrava somente na tela. Mas,

como se sabe, os erros de interpretação científica demoram para desaparecer e

depois de dois anos da datação com C14 o British Museum inaugura uma grande

mostra que ficou aberta ininterruptamente por seis meses com o título “L’arte Del

Tinganno", na seção "Individuazione scientifica dei falsi e delle contraffazioni",

destacando uma enorme imagem positiva, de tamanho natural, do negativo do

Sudário.

De qualquer forma é preciso reconhecer que os carbonistas tiveram o

mérito de uma data de partida certa. O próprio dr. Tite afirmou: "Eu creio que o
carbono seja a única certeza"145. Na verdade, ninguém ousou discutir o método de

datação com C14; todavia, aqueles que ainda crêem que o Sudário seja uma

autêntica relíquia e não aceitam o definitivo veredicto da ciência não tardaram a

desenvolver discussões, que brevemente aqui indicaremos por razões de

objetividade.

As respostas dos obscuros


Antes de mais nada é necessário dizer que não se tem certeza de que a

poluição que se impregnou no Sudário tenha sido removida pelas amostras

analisadas. A área de onde foi retirada a amostra, próxima ao assim chamado

"ângulo de Raes", é a mesma onde, em 1973, também foi extraído um fragmento de

tecido e é um dos pontos mais expostos à contaminação. De fato, encontra-se em

um dos dois ângulos pelos quais o Sudário vinha sendo explicado durante a

ostentação. Por outro lado, a poucos centímetros de distância de um dos pontos

carbonizados pelas gotas de metal fundido durante o incêndio de 1532, provém uma

das bordas manchadas pela água usada para apagar o incêndio, onde se

acumularam produtos de pirólises e depositou-se toda a sujeira dos séculos146. As

fotografias tiradas em 1978 mostram, na mesma área de retirada, um provável

emaranhado enegrecido de natureza indeterminada147. Os três laboratórios que

realizaram as análises não revelaram, durante o tratamento preliminar de limpeza

com diversos agentes químicos, nenhum indício significativo de poluição nas

amostras148. Esse surpreendente resultado foi interpretado por alguns,

145
Entrevista para o quinzenal católico L'homme nouveau, de 15/10/1989.
146
O. Petrosillo e E. Marinelli. La Sindone: um enigma alla prova della scienza, op. cit., p. 75.
147
L. Baima Bollone. Sindone o no, op. cit., p.282.
148
Escreve o dr.Willy Wölfli, diretor do laboratório de Zurique: "A fuligem de um incêndio, assim como os grãos
de pólens, poderiam contaminar uma amostra. Por isso todas as amostras foram examinadas
microscopicamente a fim de encontrar e remover qualquer material estranho". Em nosso caso nenhum material
deste tipo foi descoberto (Collegamento Pro Sindone, maio-junho, 1989, pp. 30-31).
particularmente prevenidos, como a prova de que as amostras teriam sido

substituídas antes de terem sido entregues aos laboratórios; e por outros, mais

simplesmente, como indicativo da impossibilidade de remover o material poluente.

Não se pode, no entanto, concluir que as amostras extraídas contenham remendos

e fios estranhos, muitas vezes invisíveis à primeira vista. O laboratório de Tucson,

por exemplo, encontrou no pedacinho do Sudário que lhe foi entregue um fio de

seda vermelho e fiozinhos azuis, evidentemente não vistos por aquele que o

retirou149.

Todavia, por uma estranha contradição, quase uma inversão de papéis,

os partidários do Sudário dizem que as análises, mesmo executadas corretamente,

não poderiam ter fornecido como data histórica o ano no qual morreu Nosso Senhor.

Independentemente dos resultados de 1988, que considero privados de

autenticidade pela força operacional que estão certos de terem individualizado, e

assim não atentaram que a análise radiocarbônica determinou como data histórica

não o primeiro século, mas uma data mais próxima dos nossos dias.

Na época dos nossos avós, quando os lençóis ainda eram de linho e

guardados nos armários como patrimônio de família, todos sabiam que com o tempo

o linho, sobretudo se exposto à luz, amarelaria. A coisa para a química orgânica é

simples: o linho é formado por cerca de 70% de celulose pura e composto por longa

cadeia linear de moléculas totalmente iguais, que com o tempo agregam grupos

químicos chamados cromóforos, que causam o amarelado. Esse fato, que, como

dissemos, era já notado pelas nossas avós, não é privado de conseqüências porque

149
Ocorre assinalar que as afirmações reportadas foram registradas por B. Bonnet-Eymard com a autorização dos
interlocutores. Os pesquisadores de Tucson fizeram uma macrografia do fio de seda vermelho (o Sudário foi
fixado por setas ao seu suporte em uma tela da Holanda ou "holandesa", e protegido na parte superior por um
pano avermelhado) e um deles, Toolin, afirmou a Bonnet-Eymard tê-lo conservado; todavia, durante a
demonstração, foi impossível encontrá-lo. [A Contra-Reforma católica do século XX, nº271,fev./mar.,1991, pp.
36-37 e figura 31.)
põem em dúvida o caso dos tecidos de origem vegetal, a postulação de base de

cada radiodatação: depois de morta, a substância orgânica analisada cessa

completamente qualquer tipo de troca e permite ao C14 deteriorar-se sem qualquer

interferência exterior (em física se diz que é um sistema fechado). Esse grupo de

cromóforos que entram para fazer parte da molécula que compõe a cadeia (e que

contém carbono fresco, o qual se junta àquele já presente no tecido) mostra, ao

contrário, que o sistema foi aberto. O processo de agregação acelera-se na

presença de luz e de calor, e isso também, apenas empiricamente, já sabia-se. Entre

outros, Vermon Miller, um expert em fluorescência ultravioleta e reflexometria do

Instituto Brooks, mediante fotografia por transmissão colocou em confronto os

remendos, isto é, os pedaços de tecido aplicados pelas Clarissas nas partes do

pano e do Sudário destruídas pelo incêndio de 1532. Este último apresenta um

amarelado maior que os remendos150.

Por outro lado, a linearidade das cadeias poliméricas da celulose é datada

pela presença de numerosos pontos de hidrogênio que se mantêm grudados uns

aos outros (zonas cristalinas). No local onde essas ligaduras diminuem os fachos

serão menos regulares e compactos (zonas semicristalinas ou amorfas), e aumenta

a possibilidade de agressão por parte do ambiente circunstante. Experimentalmente

foi demonstrado que o tratamento térmico (não aqueles de normal limpeza ácida e

alcalina) aumenta a zona amorfa, isto é, diminui a resistência do polímero aos

agentes externos151. Demonstrou-se então que nos tecidos antigos a amplitude das

áreas amorfas não depende somente da idade do tecido, mas da história de

qualquer tecido, isto é, das vicissitudes que estes sofreram no percurso dos séculos.

150
Os remendos são aqueles pedaços de tecido aplicados no Sudário na área carbonizada e hoje removida depois
da restauração para conservação feita em 2002.
151
M. Bettinelli et all. "Impiegodi tecniche chimico-fisicheper Io studio Dell’invecchiamento delle fibredi lino",
in: Worlwide Congress Sindone 2000, Orvieto, 27-29/08/2000.
Dessa forma não podemos nos esquecer da existência de substâncias

complementares, como a pectina e a lignina, que impregnam os fachos das fibras e

não são removidos durante o trabalho na tela. As duas substâncias, mas

particularmente a lignina, que compreende numerosos laços dobrados, são fortes

reagentes.

Infelizmente, das vicissitudes do pano sabe-se muito pouco. O único

acontecimento interessante com o Sudário foi o incêndio de 1532 na capela do

castelo de Chambery. Desde 1993, já foram conduzidos numerosos experimentos de

simulação do tal incêndio152. Vale relembrar que o único parâmetro notado com

relativa precisão é a temperatura máxima alcançada pelo pano, que vem também

revelada pelo espectrômetro com base na coloração do Sudário.

Todavia, mais recentemente, variando os parâmetros da simulação, foi

possível reencontrar, depois da análise do AMS, aumentos no conteúdo do C14,

iguais a um rejuvenescimento de 160 e de 300 anos153. Constatou-se que a

presença contemporânea de três elementos é indispensável às provas para obter

um aumento no teor do C14: a temperatura, o vapor aquoso e os íons prateados.

Vale, no entanto, assinalar que com base na hipótese da formação da

imagem do Sudário formulada por um professor da Faculdade de Medicina de

Montpellier, na França154, iniciou-se uma campanha experimental seguindo as

152
D. A. Kouznetsov et al. "Effect of fires and biofractionation of carbon isotopes on results of radiocarbon
dating of old textiles: the Shroud of Turin", in: I. of Archaeological Science, 23,1996, pp. 109-121; "Detection of
alkylated cellulose archaeological line texile samples by capillary electrophoresis Mass spectrometry", in:
Analytical Chemistry, nº 23, v. 66,1/12/1994, pp. 4.359-4.365.
153
M. Moroni. The age ofthe Shroud of Turin, in: "The Turin Shroud, past, present and future" - Simpósio
Internacional de Ciência, Trine, 2-5/03/2000; Sindon Effatà, Turim, Cantalupo, 2000, pp. 515-522; M. Moroni et
al. "Possible rejuvenation modalities of the radiocarbon age of the Shroud of Turin", in: Shroud Turin
Conference, Richmond, Virgínia, 18-19/06/1999; "Verifica di una ipotesidi ringiovanimento radiocarbônico",
in: III Congresso Internacional di Studi sulla Sindone, Turim, 5-7/06/1998.
154
J.-B. Rinaudo. "Protoni e neutroni le chiavi dell'enigma, Il Telo", in: Ciornale Italiano di Sindonologia,
mai./ago., 1999, pp. 12-17; J.-B. Rinaudo. "Nouveau mécanisme de formation de l'image sur le Linceul de Turin
ayantpur entrainerunafausse radiodatation médiévale", in: Actes du Symposium Scientifique International,
Cielt, Roma, 1993, F. X. de Guibert, pp. 293-300.
realizações das análises realizadas nas amostras de linho antigo, alguns submetidos

à irradiação de neurônios, outros, a um sucessivo tratamento de simulação térmica

depois da irradiação. As análises com o espectrômetro de massa e aceleração

determinou o rejuvenescimento radiocarbônico igual a 360 anos para as amostras

irradiadas e, mais adiante, a 760 a 1.030 anos para aqueles submetidos também à

sucessiva simulação térmica155.

Um outro possível mecanismo de aumento e diminuição local do teor de

C14 é a difusão a quente dos isótopos de carbono, uma modalidade que foi excluída

pelos analistas da AMS, que, entretanto, deveria produzir alguma dúvida sobre o

ponto onde não deveriam efetuar a retirada de amostras do Sudário, nas

proximidades da zona carbonizada, malgrado o fato de o carbono ser considerado

um ótimo material para avaliar a radiodatação. Pode-se também observar que o

conteúdo de carbono nos três pedaços do Sudário analisados em 1988 variava

gradualmente em virtude da distância entre eles e a borda da tela. Houve propostas

dos modelos teóricos e foram realizadas análises estatísticas dessa hipótese de

variação da concentração isotópica156. Por exemplo, se analisamos um tecido

sintético que escapou da destruição de um supermercado porque estava protegido

da ação do fogo e da água em um invólucro de plástico dentro de uma caixa de

papelão, e individualizarmos os traços chamuscados na zona das dobras obteremos

tiras de carbono indeléveis que resistiram ao ataque ácido e básico, e apresentaram

enriquecimento em C13 e C14 variando de 2 a 3% até 20%, com picos de 50%157.

155
Ver nota 146.
156
P. Jackson e K. Propp. "On the evidence that the radiocarbon date of the Turin Shroud was significantly
affected by the 1532 fire", in: Actes du III Symposium scientifique International du Cielt, Nice, Editions du
Cielt, Paris, 1988, pp. 61-82; B.J. Walsh. "The 1988 Shroud of Turin radiocarbon tests reconsidered", in: Shroud
of Turin International Research Conference, Richmond, 18-20/06/1999.
157
M. C. Van Oosterwyck Gastuche. "Dates radiocarbone sur tissus d'âge archéologique bien connu", in: Actes
du Symposium Scientifique International, Roma, 10-12/06/1993, publicado por François-Xavier de Guibert,
Paris, 1993, pp. 219-228.
Mas os mecanismos que podem alterar os resultados das análises de

radiocarbono em um tecido de linho não terminam aqui.

Antes de mais nada, a intervenção do cálculo de tempo entre a morte de

uma planta e a análise do radiocarbono é possível porque até a morte da planta ela

estaria em equilíbrio com o ambiente externo, isto é, existe na planta uma

concentração de C14 igual àquela que se encontra na atmosfera circundante.

Todavia, a planta é formada por raiz, caule (que por sua vez é composto por

numerosos elementos), folhas e frutos. É improvável que em todas essas partes da

planta o teor de C14 se mantenha idêntico ao do ambiente externo. O fracionamento

isotópico, nome da distribuição de uns isótopos nas varias zonas de um organismo

vivente, pode variar de componente a componente da planta, qualquer um dos quais

pode ter uma função diversa e um conteúdo diferente de lipídios, albumina e

carboidrato, e tal distribuição biológica não se mantém constante, mas pode

multiplicar-se de acordo com a variedade dos fatores externos158. Freqüentemente

somos informados, apenas para controle, de um coeficiente de divisão159, mas é

demonstrado que as variações podem surgir mesmo se este permanecer constante.

Quanto às curvas dendrocronológicas, nota-se que elas fornecem um

valor de teor do C14 presente ano a ano nos anéis anuais das plantas. Mas não se

demonstrou até agora que cerca de 230 espécies de Unho, plantas herbáceas que

podem ser anuais, bienais ou perenes e crescem em todos os tipos de clima, solos,

alturas ou hábitat dos mais diversos, contenham a cada ano em suas fibras o

mesmo teor de C14 dos troncos dos Primus aristata, coníferas que crescem a mais

158
A. Ivanov. "Carbon dating of theTurin Shroud: reasons for scepticism, altemative approaches, prospects and
further research", in: The Turin Shroud, past, present and future, op. cit, pp. 479-494.
159
O coeficiente de divisão é δC13=[(C13/C12)]planta/ (C13/C12)ATMOSFERA-1|x1000, expressão solidamente
normalizada em 25%. Se a relação (Cl3/C12) planta permanece invariável, não é possível encontrar a variação
no teor dos isótopos. Tais variações podem atingir de 5 a 6%, introduzindo erros absolutos de quatrocentos a
quinhentos anos.
de 3.000 metros de altura nas White Mountains da Califórnia. A análise destas

plantas que forneceram, mediante uma procura extremamente árdua, a base das

atuais curvas dendrocronológicas. Todavia, se só se confrontarem as mais recentes

curvas de Klein (e outros) com aquelas de Stuiver e Pearson, que, para os dados do

aristata acrescentam a essas plantas de talo alto crescidas na Irlanda, são notadas

diferenças imperceptíveis160.

Além da transitoriedade existe um breve período de concentração do C14

na atmosfera que os anéis das plantas não conseguem indicar corretamente. Por

exemplo, a explosão das supernovas determinam um notável aumento de radiação

proveniente do espaço, com um pico de atividade de duração de 30 a 35 dias. Isso

poderá influir notavelmente na concentração de C14 do linho, se tais explosões

coincidirem com o período de crescimento das plantas, mas virá registrada de modo

muito mais diluído em um anel de crescimento anual.

A dra. Jeannette Cardamone, especialista em química de tecidos da

Politécnica da Virgínia, catalogava, entre os fatores que favorecem o degrade das

cores, a luz e a umidade, e observava que esta última pode causar o

desenvolvimento de microorganismos como fungos ou bactérias provenientes do

solo, da água ou da atmosfera161. Já em 1977 observando com um microscópio

eletrônico a remoção (SEM) de um fio do Sudário, retirada pela princesa Clotilde de

Savoia em ocasião dos remendos de 1868, observou-se uma superfície poluída

trazendo em abundância um material que pertence aos esporos e hífens de fungos

existentes162.

160
M-C.Van Oostrerwyck Gastuche: Le radiocarbone face au Linceul de Turin, op. cit.
161
J. M. Cardamone. "Flax cellulose: characterization and aging", in: Symposium Scientifique International sur
Ie Linceul de Turin, op. cit.
162
P. L. Baima Bollone; P. Borga e E. Morano. "Prime osservazioni sulla fine struttura della Sindone al
microscópio eletrônico a scansione", in: Sindon, XIX, nº 26, Cistorino, out., 1977, pp.15-22.
Era essa a avaliação da exceção que foi recentemente levantada nos

resultados da radiodatação. Um microbiólogo de origem mexicana, Leoncio Garza-

Valdes, ao estudar antigos manufaturados da cultura pré-colombiana, recordou que

estes às vezes estavam cobertos por depósitos naturais produzidos pela interação

entre alguns tipos de cogumelos e bactérias. Depósitos que crescem no tempo

mesmo depois de centenas de anos após essa simbiose, para criar uma camada

contínua em cima de uma superfície. Não somente, mas essa simbiose encontra um

habitat propício em ambiente salino, como aquele criado pelo carbonato de sódio

utilizado para clarear tecidos antigos. Por que não seria possível que também sobre

o Sudário se formasse uma camada bioplástica? Uma primeira observação com um

simples microscópio portátil de um fragmento de linho que se pensasse provinha do

Sudário163 mostrava a presença de bactérias, uma das quais viva; portanto, valia a

pena aprofundar-se na pesquisa. No laboratório de genética da Universidade do

Texas, em San Antônio, desenvolvia-se um estudo que confirmava a intuição

inicial164. Existe então uma possibilidade concreta de que o C14 medido provenha,

em parte muito notável, da bainha bioplástica formada em torno das fibras, onde, na

troca com o ambiente externo, poderia estar até hoje em ação. Também os

carbonistas se preocuparam com isso. O professor Harry Gove, da Universidade de

Rochester, um dos pioneiros no estudo da radiodatação com os aparelhos (AMS) e

um dos artífices do resultado computado pelos carbonistas em 1987 sobre o Sudário

163
É provável que se trate dos resfriamentos dos trabalhos de C. Riggi di Numana durante a retirada das
amostras para a radiodatação em abril de 1988. Todavia, a coisa não é certa porque de toda operação coordenada
pelo professor Tite, compreendido o destino do material-resíduo, não existe nenhum verbal oficial. O cardeal
Ciovanni Saldarini, atual guardião do Sudário, deixou em 15 de setembro de 1995 uma declaração na qual afirma
que não é verdadeira a existência de material residual em mãos de terceiros e caso existisse seria restituído à
Santa Sé, que é a sua legitima proprietária.
164
Trata-se de fungos da família Trichenothelia que agem internamente com a bactéria Cyanobacteria, formando
camadas que vão de 1 a 500 milésimos de milímetro. A barra que cobre os fios do Sudário foram confrontadas
com a dos antigos artefatos. Ver L. Garza-Valdes em Bio plastic coatíng on the Shroud of Turin, a preliminar
report, Simpósio sobre o Sudário de Turim, San Antonio - Texas, 11 de setembro 1993. De outra parte... a
limpeza com o método standard não garante a remoção dos fungos. Ocorre um método mais seletivo
(Radiocarbono v. 28, nº1, 1986, pp. 170-174).
de Turim, ofereceu sua colaboração ao dr. Garza Valdes para colocar em prática um

método de datação radiocarbônica na efetiva celulose do tecido do linho do Sudário

sem tomar conhecimento do revestimento bioplástico.165

Também na controvertida datação de uma múmia egípcia encontrou-se

logo o ano, mediante a radiodatação executada sobre uma bandagem que envolvia

um íbis do antigo Egito. A análise colocou em evidência a possibilidade de extrair

bioplásticos alterando o resultado obtido com os aparelhos AMS. A pesquisa na qual

tomou parte o dr. Gove revelou que entre a bandagem e o íbis que envolviam essa

múmia se observava uma diferença no C14 igual a um intervalo temporal

compreendido entre 370 e 730 anos. Na relação final diz-se que as medidas incluem

a possibilidade de que o revestimento bioplástico observado na fibra da faixa do íbis

produz uma idade radiocarbônica de centenas de anos mais jovem que a sua

verdadeira idade166.

Essas eram as observações dos antigos obscurantistas; hoje, após dez

anos de aprofundamento, parece que estamos próximos de ser mais incisivos.

Primeiramente, constatamos que uma data muito distante da presumida

morte de Jesus pode antes demonstrar que o Sudário é uma falsidade medieval,

mas também o contrário, que o tecido orgânico interagiu, com o passar do tempo,

com o ambiente externo e, se assim é, o único valor obtido da análise de recusa é

aquele histórico da morte do Sudário.

Em segundo lugar, é oportuno começar a considerar o fato decisivo de

que o linho não é uma celulose pura. Freqüentemente o detrator do Sudário extrai a

celulose pura e depois descobre que, primeiro, é necessário uma simulação térmica,

165
Entrevista concedida à jornalista Ida Molinari, de Turim, em 27/01/1995.
166
H. E. Gove et al. "A problematic source of organic contamination of linen", in: Nuclear Instruments and
Methods in Physics Research, B 123, 1997, pp. 504-507.
como a famosa experiência da mosca, que, depois da retirada de sua garra,

constatou-se que não voava mais.

Temos de analisar também que aquela que vem trabalhada não é a fibra

elementar composta de 98% de celulose pura, mas a chamada fibra técnica,

composta pela fibra de celulose, acompanhada de sustentação complementar que

cresce com ela e não pode ser removida: pectina, lignina, substância incrustada etc.

A fibra técnica é um legado em face paralela, e a fibra elementar está entrelaçada

formando uma estrutura similar à de uma corda, reagrupada para formar o fio do

linho.

Uma simples cadeia se dispõe no espaço de modo que favoreça ao

máximo a formação de numerosos pontos de hidrogênio que se unem uns aos

outros. Se bem que a simples ligação de hidrogênio seja fraca diante do grande

número de ligações que se equivalem complexamente a outras ligações mais fortes.

Quanto maior o número de pontos de hidrogênio maior será o feixe de moléculas

firmes e regulares, se falarmos agora de uma área cristalina. Porém, se, ao

contrário, o feixe for menos regular e compatível com essa outra área, os mais

atacados dos agentes externos serão os semi-cristais ou amorfos167. Em experiência

recente168 demonstrou-se, com a difração do raio X, que o tratamento térmico

diminuiu o grau de cristalinidade da celulose e a área amorfa cresce quando se

aumenta a temperatura; só após o tratamento normal de limpeza e o rescaldo é que

podemos avaliar o grau de pureza de uma substância. Em uma outra demonstração

com o infravermelho temos que a área amorfa é a mais rica do grupo carbossilícico e

167
R. T. Morrisone R. N. Boyd. Chimica orgânica. Milão, Ambrosiana, 1965, pp. 859-860; C Copedé. La carta e
II suo degrado. Florença, Nardini, 1991;J.C. Roberts. The chemistry ofpaper, The Royal Society of Chemistry.
168
M. Bettinelli et al. "Impiegodi tecnich chimico-fisiche per Io studio dell’ invecchiamento delle fibredi lino",
in: Worlwide Congress Sindone 2000, Orvieto, 27-29/08/2000; M. Moroni et at. "Analisi radiocarbonicae
datazione della Sindone di Torino", in: I Congresso Internacional e II Congresso Brasileiro sobre o Santo
Sudário, Rio de janeiro, 27-29/06/2002.
carbônico, e não aquela cristalina, cujo teor não está diretamente relacionado com a

história do linho, que é o desgaste proveniente do ataque vindo do ambiente

externo, que depende da história de cada tecido.

Naturalmente todas essas objeções que não demonstram a mínima

admiração pelo nosso artista, e a certeza moral da existência dele sugerem ainda

uma vez mais o problema por onde iniciamos, o único sobre o qual parecia termos

um mínimo de certeza, aquele sobre a data de nascimento, porque, como diz o

professor Georges Salet, na sua crítica a Kouznetsov, os grupos químicos que

contêm carbono fresco podem agregar-se à celulose do Unho, mas, na melhor das

hipóteses, observar-se-ia um rejuvenescimento de 537 anos169, e podemos nos

consolar que, sozinho, o mecanismo proposto pelo russo não nos reporta à época

de Jesus, mas, quanto ao Seu nascimento, podemos escolher entre a data dos

carolíngios e aquela dos Valois (será que teria sido súdito do rei da França?). Sem

falar dos revestimentos bioplásticos.

Ao menos se tivessem deixado, como todos fazem, uma assinatura e uma

data! Na verdade, escreveu qualquer coisa sobre o Sudário, mas esse é o enésimo

enigma! Ainda uma vez o sempre atento dr. Ugolotti descobriu alguns escritos sobre

o supercílio esquerdo e outros ao redor do vulto e dos joelhos. Mas não havia

entendido de que tratavam os escritos, e então procurou um amigo de sua

confiança, um ilustre filósofo e paleógrafo, dom Aldo Marastone. Sem entrar (não

queremos entediar o exausto leitor) no problema da decifração das palavras, saberá

que coisa fez o nosso artista? Utilizou na escrita antigos caracteres gregos, latinos,

pré-góticos e o hebraico quadrado, com o qual se escrevia o hebraico e o aramaico

do tempo de Nosso Senhor e foi reencontrado em numerosos documentos, entre os

169
. G.Salet: artigo publicado em La Lettre Mensuelle du CIELT, fev, n°- 50, 1994;mai., nº53, supplemento,
1994.
quais os famosos rótulos de Qumran170. Ainda mais para imprimir de modo indelével

tais características sobre o pano, utilizou uma técnica, a qual não somos ainda

capazes de indicar com certeza. Inútil dizer que também o professor Marastone,

diante de tanta habilidade e sabedoria filológica, acabou caindo na armadilha e se

convenceu da autenticidade do pano171.

170
A escrita hebraica clássica, o hebraico quadrado, forma-se no final do século I d.C. Para uma exposição
orgânica do argumento, recomendamos o capítulo 6 de Sindone o no, onde o argumento; é tratado com riqueza
de informações.
171
Na seqüência os pesquisadores do Instituto Óptico de Orsay aplicaram na imagem do vulto do Sudário as
técnicas de codificação digital, confirmando e ampliando as precedentes observações. Ver A. Marion e AL.
Courage, La Sacra Sindone - Nuove Scoperte, Neri Pozza, Vicenza, 1988.
Considerações finais, mas não conclusivas

Estamos chegando ao fim da nossa procura e podemos dizer que agora

conhecemos perfeitamente os dotes intelectuais e o perfil moral e psicológico do

nosso artista. Um doutor em cultura enciclopédica e ao mesmo tempo um grande

tecnólogo. Afastado da fama, modesto e brincalhão ao mesmo tempo, preferiu

consignar à posteridade uma obra-prima rica em elementos escondidos que

poderiam sem dúvida ter descoberto, um depois do outro, como num jogo de

quebra-cabeça chinês. Os sinais enigmáticos que se encontram no Sudário são os

testemunhos do seu isolamento, assim como do seu absoluto anti-conformismo. São

eles que desencadearam para cada particularidade do Sudário uma confusão de

suposições, das mais racionais às seguramente geniais, que ainda não se aplacou.

Porém, se ainda não podemos pronunciar o seu nome nem conhecermos

o século no qual trabalhou, devemos, de qualquer forma, reconhecer que nos

transmitiu uma inigualável imagem de Nosso Senhor. O Sudário nos descreve o

Homem Sofrido: a flagelação, a coroa de espinhos, a queda, a crucificação, os sinais

de uma morte rápida, a ferida nas costas das quais saíram sangue e água, o

cadáver não-lavado, tudo quanto narram os Evangelhos, o encontramos na imagem

e em outras informações preciosas, de todo verossímil. Mas não somente isso: se

removermos da imagem os coágulos de sangue e os sinais da paixão que deturpam


o vulto, descobriremos, segundo o Salmo 45, o mais espetacular dos filhos do

homem que nos transmitiu, segundo as palavras de Daniel Rops, um Vulto de

inefável e tranqüila beleza e uma majestade verdadeiramente soberana. É essa a

máxima invenção do nosso artista, porque nenhum aprendiz de bruxo de baixo

calibre saberia idealizar uma imagem de tamanha beleza.

O Sudário é autêntico
Na realidade, de agora em diante está acertado que as manchas

avermelhadas, pequenas e grandes, que se encontram um pouco em qualquer lugar

da tela, são, sem sombra de dúvida, traços de sangue humano. Estas manchas de

sangue foram decalcadas "antes" da imagem corpórea.

Os traços hemáticos de diversas formas estão em vários pontos na

duplicação da imagem. Antigamente isso não tinha despertado interesse particular.

Porém, resulta, segundo os autores, que conseguiram provas

experimentais de que o lençol que envolve uma forma volumétrica em contato com a

ferida, não está somente sobre a parte frontal e dorsal do corpo, mas também sobre

os lados e o quadril, e o sangue escorrido dessa ferida lateral compõe-no. Quando a

tela for estendida sobre um plano, em posição externa à imagem corpórea, ela se

apresenta como uma projeção ortogonal do corpo estendido.

Na verdade, só partindo dessa interpretação, muitos dos decalques de

sangue da tela do Sudário que pareciam incompreensíveis ou casuais conseguiram

pela primeira vez encontrar uma explicação satisfatória. Às tais feridas laterais

corresponde o sangue que está na área do cabelo, ao lado dos olhos, sobre o

quadril, na altura dos rins, ou nos braços e cotovelos, assim como o decalque ao
lado da planta do pé, ou o do calcanhar esquerdo, ou ainda ao longo do tornozelo do

pé direito172-173.

Finalmente é interessante notar que recorrer ao artifício de um simples

baixo-relevo ou de uma imagem pictórica convencional não forneceria o perfil das

manchas laterais. Por este preciso motivo podemos dizer que Leonardo da Vinci não

realizou o Sudário!

172
M. Moroni, F. Barbesino, "Conferiria sperimentale dei due diversi meccanismi di formazione delle macchie
ematiche e dell’immagine presenti sulla Sindone di Torino", in: Sindon, nº19, Nova Série, Centro
Internazionaledi Sindonologia, Turim, dezembro de 2003 (no prelo).
173
N. Balossino et al. "Nuovi sludi e considerazioni sull’ipotesi di formazione dell’immagine sindonica per
irraggiamento", in: idem.
Semivulto de Cristo esculpido em um sarcófago conservado na Igreja de Santo

Ambrósio, em Milão, de aproximadamente 380 d. C, colocado ao lado do semivulto

do Santo Sudário.
Semi-vulto de Cristo em uma tela nas catacumbas romanas de Comodilla, século IV,

colocada ao lado do semi-vulto do Santo Sudário.

O semi-vulto de Cristo em sólido áureo de Justiniano II, no ano 692 d. C, encostado

ao Santo Sudário.
Semi-vulto de um ícone de Cristo conservado no Monastério de Santa Catarina de

Alexandria, do século VI. Colocado junto do semi-vulto do Santo Sudário.


Algumas das imagens significativas do Santo Sudário:

A primeira fotografia, em negativo (S. Pia, 1898).

A primeira fotografia elaborada eletronicamente (C. Castelli, 1978).


A fotografia em positivo, tirada por V. Miller durante a análise de 1978.

O Sudário. A parte frontal e dorsal do corpo, aparentemente na mesma tela e com a

impressão da cabeça contraposta, uma ao lado da outra.

Foto de G. Enrie, em 1931.


Imagens impressas por onda térmica

durante a explosão da bomba atômica

em Nagasaki.

Reconstrução tridimensional do "corpo"

do Sudário conseguida à base dos

negativos da imagem dos pesquisadores

americanos J. Jackson, E. Jumper, W.

Ercoline.
O tecido do Sudário de Turin
A Santa Capela de Chambery onde ocorreu o incêndio de 1532; no detalhe a

entrada lateral da sacristia, uma imagem de 1833.


Uma das caixas utilizadas para a experiência de simulação do incêndio de

Chambery, antes e depois da prova.


Numerosas anêmonas reproduzidas por contato (45 anos depois)

Impressão pintada à mão reproduzida por contato


Nem todos concordam com a dificuldade de "fabricar"

o Sudário. Eis aqui os aparelhos propostos por C. Papini (nota 24),

salvo exclusão da prova experimental.

Os pólens das oliveiras entre aqueles retirados do Sudário.


Fotografia original da parte do lençol com digitais deixadas pelo paciente de nome

Less falecido no Asilo de São José de Thornton (Liverpool).


Motivos florais nas moedas do imperador bizantino Michele III.

Você também pode gostar