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Atualidades

 Ensino Médio

10/09/2010 - 09h25
FIM DA GUERRA DO IRAQUE

Desafio agora é manter estabilidade


política e segurança no país
José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Após mais de sete anos, os Estados Unidos terminaram uma das guerras mais caras e polêmicas de sua
história. No último dia 31 de agosto, cumprindo uma promessa de campanha, o presidente Barack Obama
anunciou o térmico da missão de combate no Iraque. Os iraquianos enfrentam agora o desafio de manter a
segurança e compor um governo em meio a desavenças étnicas que dividem a nação.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

A Operação Liberdade Iraquiana começou em 20 de março de 2003, durante o governo de George W. Bush
(2001-2009). O motivo alegado para a invasão, a suposta existência de armas de destruição em massa, nunca
foi comprovado. O objetivo era destituir o ditador Saddam Hussein do poder e estabelecer um regime
democrático. Por trás disso, havia o interesse no controle das reservas de petróleo iraquianas e no domínio
estratégico na região.

Na época, Bush tinha apoio da população para promover sua "guerra contra o terror". A campanha foi iniciada
após osataques às torres gêmeas do World Trade Center (Nova York), em 11 de setembro de 2001. Nos anos
seguintes, porém, o país se envolveu em duas guerras, no Afeganistão e no Iraque, e enfrentou a maior crise
econômica desde a Grande Depressão (1929-1933).

Somente a guerra no Iraque custou US$ 744 bilhões (R$ 1,3 trilhão) e matou mais de 4.419 militares (até 3 de
agosto) e 100 mil civis iraquianos. A imagem dos Estados Unidos também foi prejudicada devido a denúncias
de maus tratos a presos iraquianos na prisão de Abu Ghraib e operações violentas nas ruas de Bagdá.

Era, portanto, uma guerra que só acumulava despesas. Os prejuízos eram tanto financeiros quanto políticos. O
desgaste de Bush, agravado pela demora ao socorro às vítimas do furacão Katrina em 29 de agosto de 2005,
foi decisivo para a eleição de Obama no ano passado. Dentre os compromissos do novo presidente estavam
retirar os combatentes do Iraque e concentrar esforços na economia doméstica.

Para completar a retirada, no último dia 1º de setembro o governo americano deu início à Operação Novo
Amanhecer. Um efetivo de 49.700 soldados (dos 64 mil remanescentes) irá permanecer no Iraque para treinar
a polícia e o Exército locais. Obama enfatizou que os soldados deixarão definitivamente o país até o final de
2011. Para isso, pediu pressa na composição de um novo governo no Iraque.

Não será fácil reconstruir o país. O Iraque, assim como a maioria dos países do Oriente Médio , não possui
tradição democrática. Além disso, décadas de guerras destruíram a infraestrutura necessária para o
desenvolvimento. E há disputas entre grupos étnicos que impedem a formação de um Estado. A unificação do
país só foi possível, até hoje, por meio da ditadura.

Era Saddam
O Iraque é um país rico em petróleo, mas pouco desenvolvido devido a séculos de guerra e ocupação
estrangeira. Depois de quatro séculos dominado pelo Império Otomano, passou a ser colônia do Reino Unido
após o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Quatro décadas mais tarde, o período de transição da
monarquia foi marcado por sucessivos golpes de Estado.

Os conflitos terminaram com a chegada do partido de Saddam Hussein ao poder, em 1968. O ditador assumiu a
presidência em 1979, iniciando um dos regimes mais violentos do Oriente Médio. Na ocasião, em plena Guerra
Fria (1945-1991), ele tinha apoio dos Estados Unidos. A razão disso era a rivalidade com o Irã, país dos
aiatolás que pregava o fim de Israel e desafiava os americanos.

Durante o governo de Saddam, o Iraque enfrentou três guerras do Golfo Pérsico que devastaram a economia
do país: a primeira contra o Irã (1980-88), a segunda com a invasão do Kuwait (1990-91) e, finalmente, a
ocupação dos Estados Unidos (2003-2010). O ditador iraquiano foi deposto e capturado ao final de 2003. Ele foi
condenado à morte em dezembro de 2006 pelo assassinato de 148 muçulmanos xiitas na vila de Dujail,
ocorrido em 1982.
A sociedade iraquiana é formada por três grupos étnicos e religiosos que brigam entre si há séculos. Os árabes
perfazem entre 75% e 80% da população, de 29 milhões de habitantes. Os curdos estão entre 15 e 20% desse
total. A principal religião é a muçulmana, dividida entre xiitas (60 a 65%) e a minoria sunita (32% a 37%).

Os sunitas governaram o país desde a sua criação, em 1920. Essa situação mudou a partir de outubro de 2005,
quando os iraquianos aprovaram uma Constituição mediante um referendo nacional. Em dezembro foi
composto o Parlamento, no primeiro governo constitucional no país em quase 50 anos, de maioria xiita. As
diferenças étnicas vieram à tona em atentados violentos até 2007.

Impasse político
Nas eleições parlamentares de 7 de março deste ano , a coalizão xiita do primeiro-ministro Nouri al Maliki, o
Estado de Direito, terminou em segundo lugar, atrás da aliança Iraqiya, do ex-premiê Iyad Allawi (que tem
apoio dos sunitas). A Aliança Nacional Iraquiana, de xiitas radicais, ficou em terceiro lugar na disputa.

Houve denúncias de fraudes e recontagem de votos, mas os números permaneceram inalterados. O resultado
nas urnas obrigou os partidos a negociarem a composição de um novo governo, secular e multiétnico.

No entanto, passados seis meses das eleições, não foi sequer nomeado um novo primeiro ministro. Os três
blocos não se entenderam e não surgiu um outro nome, além de Maliki, para concorrer ao cargo.

Enquanto isso, uma nova onda de violência tomou conta das ruas de Bagdá. A duas semanas da retirada das
tropas, um ataque deixou pelo menos 59 mortos. Outras 12 pessoas morreram em ataques de homens-bomba
contra um complexo militar, depois do fim da missão. Os atentados colocam em dúvida as garantias do
governo iraquiano de que o país tem condições de cuidar da própria segurança.

Direto ao ponto
No último dia 31 de agosto, cumprindo uma promessa de campanha, o
presidente Barack Obama anunciou o térmico da missão de combate
no Iraque. Os iraquianos enfrentam agora o desafio de manter a
segurança e compor um governo em meio a desavenças étnicas que
dividem a nação.

A Operação Liberdade Iraquiana começou em 20 de março de 2003,


durante o governo de George W. Bush (2001-2009). O motivo alegado
para a invasão, a suposta existência de armas de destruição em
massa, nunca foi comprovado.

A guerra no Iraque custou US$ 744 bilhões (R$ 1,3 trilhão) e matou
mais de 4.419 militares (até 3 de agosto) e 100 mil civis iraquianos. A
imagem dos Estados Unidos também foi prejudicada devido a
denúncias de maus tratos a presos iraquianos na prisão de Abu Ghraib
e campanhas violentas nas ruas de Bagdá.

Para completar a retirada, no dia 1º de setembro o governo americano


deu início à Operação Novo Amanhecer. Um efetivo de 49.700
soldados irá permanecer no Iraque para treinar a polícia e o Exército
locais. Todos os soldados deixarão definitivamente o país até o final de
2011.

Para isso acontecer, é fundamental que os iraquianos cuidem da


segurança nas ruas e mantenham a estabilidade política do país. No
entanto, passados seis meses das eleições, não foi sequer nomeado
um novo primeiro ministro, devido a brigas entre xiitas e sunitas.

Saiba mais

 Iraque - plano de guerra (Bertrand Brasil): neste livro,


Milan Rai explica as razões do conflito no Iraque por trás
das justificativas oficiais do governo americano.
 Iraque - assalto ao Médio Oriente (Antígona): o linguista e
ativista político Noam Chomsky aponta o interesse dos
americanos nas reservas de petróleo iraquiano como
causas da guerra.
 O Punho de Deus (Record): romance do escritor inglês
Frederick Forsyth baseado em fatos reais e bastidores
políticos da Guerra do Golfo.
 O Atlas do Oriente Médio (Publifolha) - Dan Smith explica
as causas históricas e consequências dos conflitos na
região para a política global.
 Três Reis (1999): filme em que soldados americanos
procuram um tesouro, enterrado no deserto iraquiano logo
depois do cessar-fogo de 1991.
 Soldado Anônimo (2005): filme mostra a rotina de
soldados americanos na Guerra do Golfo.
 No Vale das Sombras (2007) - filme sobre a história de um
soldado americano que desaparece depois de desertar da
Guerra do Iraque.
 Guerra ao Terror (2009): ganhador de seis prêmios no
Oscar 2010, o filme retrata a guerra do ponto de vista de
soldados que desarmam bombas.
 Os Leões de Bagdá (Panini Comics): nesta HQ, Brian K.
Vaughan (roteiro) e Niki Henrichon (arte) contam a fábula
de uma família de leões que escapam do zoológico de
Bagdá após bombardeios americanos.
*Renato Salatiel é jornalista e professor universitário.

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