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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ
CURSO DE BACHARELADO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS
BELÉM
2017
FABRICIO IUCHIRO NAKATA DA SILVA
MAURO RAIMUNDO MATIAS PALHETA
BELÉM
2017
INFLUÊNCIA DO DOBRAMENTO A FRIO NA MICROESTRUTURA E
MICRODUREZA DE UM AÇO BAIXO CARBONO ABNT/SAE 1015
Conceito: ________________
Banca Examinadora:
________________________________________________________
Prof. Dr. Otávio Fernandes Lima da Rocha, IFPA – Orientador
________________________________________________________
Prof. Dr. Fernando de Almeida Gonçalves, IFPA – Membro Interno
________________________________________________________
Prof. Dr. Evaldo Júlio Ferreira Soares, IFPA – Membro Interno
_______________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Adrina Paixão de Souza da Silva, UFPA – Membro Externo
BELÉM
2017
AGRADECIMENTOS
Ao Profº. Dr. Otávio Fernandes Lima da Rocha, pela paciência e dedicação em sua
orientação, e por estar sempre presente indicando e apresentando todos os mecanismos
necessários para a conclusão do TCC;
Ao Profº. Dr. Evaldo Júlio Ferreira Soares, que nos acompanhou e nos motivou durante
todo o trabalho;
Agradeço a minha família que me deu apoio e nunca me deixou desistir dessa longa
jornada de aprendizagem que pude viver no IFPA.
Agradeço a minha família pelo constante apoio, aos meus pais Franco Palheta e Judith
Palheta (in memorian) e, especialmente às minhas queridas filhas Camila Palheta Sergio e
Carolina Palheta Garcia e aos meus amados netos Bento Palheta Sérgio e Miguel Felipe Palheta
Garcia, que hoje se constituem o alicerce de minhas realizações.
Agradeço ao Arquiteto Danilo Ribeiro Palheta, pelo apoio e a edição, em Autocad, dos
elementos constituídos pelos corpos de prova utilizados neste trabalho.
RESUMO
A fim de investigar o aumento de dureza em uma liga metálica Fe-C, neste trabalho, uma barra
retangular de seção transversal 10x10mm de aço carbono ABNT 1015 foi submetida ao ensaio
de dobramento a frio, conforme norma ABNT-NBR ISO 7438:2016. O principal parâmetro
operacional analisado foi o ângulo de dobramento (), assumindo valores de 34, 70, 100, 130
e 140o. Técnicas de caracterização microestrutural foram executadas para revelar a
microestrutura da barra antes e após os dobramentos. O efeito da intensidade do trabalho a frio
(%TF) foi avaliado pela microdureza (HV) das amostras dobradas, por meio da variação do
ângulo de dobramento. O ensaio de Microdureza Vickers obedeceu a norma ASTM E 384-16,
e foi realizado nos corpos-de-prova (CP) não dobrado e nos submetidos ao ensaio, o mesmo foi
executado, para cada ângulo de dobramento, nas regiões onde estão localizadas as fibras
pertencentes às zonas de tração e compressão (ZT e ZC, respectivamente). Observou-se que os
valores de HV aumentam com o aumento do ângulo de dobramento. A dependência de HV=f(α)
é caracterizada por meio de expressões matemáticas dos tipos potência e Hall-Petch dadas por
HV=122,16(α)0,11 e HV=240,6-352,9(α)-1/2, respectivamente. Evidenciou-se pelos resultados
de HV que, para maiores valores de α, as fibras localizadas na linha neutra (LN) sofrem
deformações, contrariando, portanto, a literatura.
In this work, in order to investigate the increase of hardness in a Fe-C alloy, low carbon ABNT
1015, 10x10mm rectangular, has been subjected to cold bending test, according to ISO 7438:
2016 standard. The main operational parameter analyzed was the bending angle (), assuming
values of 34, 70, 100, 130 and 140o. Microstructural characterization techniques have been
carried out to reveal the microstructure of specimens before and after the cold forming. The
effect of the cold forming intensity (%TF) has been evaluated by the microhardness (HV) of
the bending samples, through the variation of the bending angles. The Vickers microhardness
test has been performed in accordance with ASTM E 384-16 standard, in both non-bending
specimen and in the bending samples, for each assumed angle, in the regions where the fibers
of traction and compression zones (ZT and ZC, respectively) are localized. It has been observed
that the HV values increase with increasing bending angle. The HV dependence as a function
of α, i.e, HV=f(α) has been characterized by a mathematical expressions of the power and Hall-
Petch types given by HV = 122,16 (α)0,11 and HV = 240,6-352,9 (α) -1/2, respectively. It has
been evidenced by the HV results that for higher α values the fibers localized in the neutral line
(LN) undergo deformations, which is contrary to the literature.
CP – Corpo de Prova
CP A – Corpo de Prova A
CP B – Corpo de Prova B
CP C – Corpo de Prova C
CP D – Corpo de Prova D
CP E – Corpo de Prova E
CP F – Corpo de Prova F
HV – Microdureza Vickers
LN – Linha Neutra
TF – Trabalho á Frio
TM – Trabalho a Morno
TQ – Trabalho à Quente
ZC – Zona de Compressão
ZT – Zona de Tração
ᾳ - Ângulo de Dobramento
σ – Tensão Externa
S0 – Área Original
L – Comprimento
D – Diâmetro do Cutelo
Da – Diâmetro do Apoio
a – Espessura da Barra
R – Raio de Dobramento
f – Deslocamento do cutelo
t – Tempo
v – Velocidade
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 2.1. Etapas da fabricação do aço..............................................................................................18
Figura 3.4. Microscópico ótico utilizado na captura das micrografias dos CPs.......................36
Figura 3.5. Microdurômetro modelo SHIMADZU HMV-2.....................................................37
Figura 3.6. Máquina universal de ensaios mecânicos utilizada no ensaio de dobramento
dos CPs......................................................................................................................................38
Figura 4.8. Gráfico da relação entre a distância do centro dos CPs em sentido
transversal e a microdureza equivalente..................................................................................58
Figura 4.9. Gráfico da relação entre a distância do centro dos CPs em sentido
transversal e a microdureza equivalente na Linha neutra........................................................58
LISTA DE TABELAS
1.1.Objetivo ...................................................................................................................................... 16
1.1.1Etapas ....................................................................................................................................... 16
1.1.2. Objetivos específicos ............................................................................................................. 16
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 17
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 61
1 INTRODUÇÃO E OBJETIVO
Em 9 de abril comemora-se o Dia Nacional do Aço, data que tem como objetivo
lembrar a importância do metal para cotidiano das pessoas. O aço pode ser utilizado em diversas
aplicações, como na construção civil, indústria, no setor automobilístico e de utensílios
domésticos. É um componente importante para o funcionamento da economia por meio do
encadeamento de diversas cadeias produtivas. (DECAFER, c2017).
Dados preliminares do Instituto Aço Brasil apontam que em fevereiro de 2017 as
siderúrgicas brasileiras produziram aproximadamente 5,69 mil toneladas do metal. De acordo
com a Deaço – empresa especializada na distribuição e transformação do aço, a maior parte do
que é produzido pelas siderúrgicas é absorvida pelos setores da construção civil e indústria de
bens de consumo duráveis- eletrodomésticos e automóveis. Este metal pode ser transformado
em diversos utensílios, desde uma estrutura para a construção civil a uma lata de aço para
conservar alimentos. Além de sua importância para diversos setores da economia, o aço
destaca-se por ser um material 100% reciclável. Por suas características é reaproveitado para a
transformação de outros produtos. O processo produtivo também vem se tornando cada vez
mais sustentável, uma vez que muitas usinas siderúrgicas do país têm investido em ações de
sustentabilidade por meio de apoio a projetos sociais e uso de tecnologias limpas. (DECAFER,
c2017).
Normalmente, uma grande variedade de produtos de pequeno, médio e grande porte,
do mais simples ao mais complexo, é fabricada pela indústria metal/mecânica, valendo-se do
processo de conformação como um dos principais meios de obtenção de forma rápida e com
qualidade. Por isso, o controle dos efeitos deste processo na estrutura do material é primordial
para garantir um bom produto final. Assim, os efeitos causados pela conformação plástica são
responsáveis pelas mudanças as propriedades mecânicas do material. Por exemplo, o estudo
das mudanças ocorridas após o fenômeno da conformação plástica a frio, pode promover
possíveis modificações nas operações industriais, visando elevar a produtividade, precisão
dimensional, confiabilidade e o contínuo melhoramento nos processos de fabricação dos
produtos obtidos. Portanto, o trabalho a frio exerce influência nas propriedades mecânicas do
metal, cujos efeitos são refletidos, principalmente, no aumento da dureza do material e,
consequentemente, no aumento de seu limite de escoamento, no aumento do limite de
resistência, na diminuição do alongamento e na diminuição da ductilidade.
14
O número dos diferentes processos unitários de conformação mecânica,
desenvolvidos para aplicações específicas, atinge atualmente algumas centenas. Não obstante,
é possível classificá-los num pequeno número de categorias, com base em critérios tais como:
o tipo de esforço que provoca a deformação do material, a variação relativa da espessura da
peça, o regime da operação de conformação, o propósito da deformação. (USIMETAL, c2014).
Basicamente, os processos de conformação mecânica por deformação plástica podem ser
classificados em:
Trefilação: redução da seção transversal de uma barra, fio ou tubo, “puxando-se” a peça
através de uma ferramenta (fieira ou trefila) com forma de canal convergente.
Convém destacar que são escassos na literatura estudos sobre a influência da intensidade
do trabalho a frio, por dobramento, como mecanismo de endurecimento de metais e suas ligas,
bem como os efeitos do encruamento, provocado pelo dobramento a frio, na deformação das
fibras localizadas nas zonas de tração e compressão e, sobretudo, as da linha neutra (LN).
15
1.1 Objetivo
1.1.1 Etapas
16
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A fronteira entre o ferro e o aço foi definida na Revolução Industrial, com a invenção
de fornos que permitiam não só corrigir as impurezas do ferro, como adicionar-lhes
propriedades como resistência ao desgaste, ao impacto, à corrosão, etc. Por causa dessas
propriedades e do seu baixo custo o aço passou a representar cerca de 90% de todos os metais
consumidos pela civilização industrial (INSTITUTO AÇO BRASIL, c2015). O Aço é uma liga
metálica formada essencialmente por ferro e carbono, com percentagens deste último variáveis
entre 0,008 e 2,11% e distingue-se do ferro fundido, que também é uma liga de ferro e carbono,
mas com teor de carbono entre 2,11% e 6,67% (FUTURENG, 2016). O ferro é encontrado em
toda crosta terrestre, fortemente associado ao oxigênio e à sílica. O minério de ferro é um óxido
de ferro, misturado com areia fina. O carbono é também relativamente abundante na natureza e
pode ser encontrado sob diversas formas. (INSTITUTO AÇO BRASIL, c2015).
Na siderurgia, usa-se carvão mineral, e em alguns casos, o carvão vegetal. O carvão
exerce triplo papel na fabricação do aço. Como combustível, permite alcançar altas
temperaturas (cerca de 1.500º Celsius) necessárias à fusão do minério. Como redutor, associa-
se ao oxigênio que se desprende do minério com a alta temperatura, deixando livre o ferro.
Como fornecedor do elemento essencial da liga de aço, o carvão supri o carbono que se dissolve
no metal quente. O processo de remoção do oxigênio do ferro para ligar-se ao carbono chama-
se redução e ocorre dentro de um equipamento chamado alto forno (INSTITUTO AÇO
BRASIL, c2015).
Antes de serem levados ao alto forno, o minério e o carvão são previamente preparados
para melhoria do rendimento e economia do processo. O minério é transformado em sinter
quando necessário, ou utilizado in natura na redução, o carvão é destilado, para obtenção do
coque, dele se obtendo ainda subprodutos carboquímicos. No processo de redução, o ferro se
liquefaz e é chamado de ferro gusa ou ferro de primeira fusão. Impurezas como a sílica, e o
calcário utilizado como fundente, formam a escória, que é matéria-prima para a fabricação de
cimento (INSTITUTO AÇO BRASIL, c2015). O ferro gusa contém cerca de 4 a 5 % de
carbono, 0,3 a 0,7 % de silício e cerca de 0,1 % de manganês. O teor de enxofre no gusa é da
ordem de 0,01 a 0,04 % e o de fósforo em torno de 0,1 % (INFOMET, c2016). A etapa seguinte
17
do processo é o refino. O ferro gusa é levado para a aciaria, ainda em estado líquido, para ser
convertido em aço, mediante queima de impurezas, escorificação e adições. O refino do aço se
faz em fornos a oxigênio ou elétricos. Finalmente, a terceira fase clássica do processo de
fabricação do aço, destacando-se a laminação como processo de conformação plástica.
18
2.2. Aplicação do Aço
Os aços são ligas maleáveis de ferro. Esta afirmação diz que o ferro é o componente
principal do aço, que pode ser também ligado com outros elementos, tais como carbono, silício,
manganês, cromo, níquel, molibdênio etc., para atingir propriedades especiais. Os elementos
de liga já aparecem no ferro-gusa como acompanhantes do ferro, ou então são acrescentados na
aciaria ao metal em fusão, no qual se dissolvem e se distribuem homogeneamente. As adições
são limitadas de maneira que as ligas possam ser forjadas laminadas ou conformadas de outros
modos similares.
O carbono é o principal elemento endurecedor, já o manganês, silício e o fósforo ajustam
o nível de resistência do aço. Porém é a quantidade de carbono que define a classificação: abaixo
de 0,30% é considerado baixo carbono, de 0,30% a 0,60% é o médio carbono e o alto carbono
é quando tem de 0,60% a 1% (FAZFORTE, c2016)
Nas aplicações mais gerais são utilizadas ligas de ferro e carbono, geralmente
denominadas aços não ligados ou por causa da produção em larga escala, aços comuns.
(SCHEER, 1977). A Figura 2.2 apresenta a distribuição do consumo de aço por setores de
aplicações.
Figura 2.2. Participação dos Setores Consumidores no consumo de aço no ano de 2015.
19
2.3 Conformação Mecânica dos Materiais Metálicos
a) dimensão e forma;
b) propriedades mecânicas;
c) condições superficiais.
20
Figura 2.3. Classificação geral dos processos de conformação.
b) Temperatura de trabalho.
21
A Figura 2.4 apresenta de forma esquemática esses processos
22
(TQ). Quando a temperatura de trabalho é maior que a temperatura que provoca a
recristalização do metal, o processo é denominado como trabalho a quente e, abaixo dessa
temperatura, o trabalho é denominado como a frio (GRÜNING, 1973; MEYERS & CHAWLA,
1982, SAKAI et al, 2014, LIM et al, 2012). No trabalho mecânico a frio, provoca-se o
aparecimento no metal do chamado efeito de encruamento, ou seja, o aumento da resistência
mecânica com a deformação plástica. O trabalho mecânico a frio permite aumentar a resistência
mecânica de certos metais não-ferrosos que não são endurecíveis por tratamentos térmicos. No
trabalho mecânico a quente, a deformação plástica é realizada numa faixa de temperatura, e
durante um determinado tempo em que o encruamento é eliminado pela recristalização do
metal. Quando o trabalho é realizado entre uma temperatura intermediária às dos trabalhos a
frio e a quente ele é dito como morno (TM), mas de maneira geral a literatura considera como
trabalhos a frio e a quente (HELMAN & CETLIN, 2013). A Figura 2.5 apresenta de forma
esquemática a representação da temperatura em relação a temperatura do metal ou da liga
metálica.
Os metais quando se encontram com a estrutura encruada possuem energia interna
elevada em relação ao metal não deformado plasticamente. Aquecendo o metal encruado, há
uma tendência de o metal retornar à condição mais estável liberando a energia interna. O
tratamento térmico para alcançar esse efeito é denominado recozimento e, por conseguinte a
recuperação da estrutura cristalina do metal, esse tratamento provoca a diminuição da
resistência mecânica e a elevação da ductilidade (KRAUSS, 1997; NOVIKOV, 1994; KANG,
2007; MEÂNICA INDUSTRIAL, C2017).
23
O grau de deformação plástica pode ser expresso em termos de percentual de trabalho a
frio (TF) através da expressão 1.
𝑆0−Sd
%TF= x 100 (2.1)
S0
S0 = Área original;
24
Figura 2.7. Barras Laminadas de aço-carbono.
25
Figura 2.8. Dispositivo de dobramento com dois suportes e um cutelo.
De acordo com Garcia et al, (2013), no dobramento de uma chapa, tubo e barras, devem-
se analisar parâmetros como o encruamento do material e o raio mínimo em que este pode ser
dobrado sem que ocorra a ruptura, o retorno elástico do dobramento após a retirada da carga, e
a formação de defeitos na região dobrada. A Figura 2.9 mostra um detalhe do dobramento de
uma chapa ou tira e as respectivas variáveis de análise da peça.
Lado comprimido
Lado
Linha neutra
tracionado
27
O processo de dobramento pode ser efetuado de diversas maneiras e a Figura 2.11
apresenta as mais aplicadas.
Assim sendo, quando um material sofre deformação por dobramento (Figuras 2.8 a 2.11),
nota-se que a região externa é submetida à ação de forças trativas, enquanto a região interna
forças compressivas. Consequentemente, a estrutura apresenta deformações consideráveis
nestes locais (CAPDVILLA, 2000; MORO et al, 2006). Portanto, observa-se que nestas regiões
as características mecânicas do material, apresentam-se diferentes das outras partes. Esta
diferença baseia-se em um comportamento de estado chamado de encruamento. A Figura 2.12
apresenta a região de uma dobra de uma aço baixo carbono, mostrando as zonas tracionadas e
comprimidas.
28
Figura 2.12. Região de Tração e Compressão em dobras.
29
Figura 2.13. Projeto de materiais a partir dos mecanismos de aumento de resistência.
Mecanismos de
Projetos mecânicos
aumento de resistência
Propriedades Materiais de
mecânicas engenharia
- Módulode elasticidade
Resistência mecânica e
- Limite de escoamento
tenacidade adequadas
- Dureza
30
limite de conformabilidade do material, no qual a peça é praticamente impossibilitada de
continuar se deformando plasticamente sem que mesma se submeta a tratamento térmicos
intermediários.
Figura 2.14. Correlação entre aumento de resistência e multiplicação de discordância com o trabalho a frio: (a)
Gráfico x mostrando aumento de resistência e (b) Aumento de densidade de discordância com o aumento da
intensidade do trabalho a frio.
Fonte: Adaptado dos Sites: CIMM. Deformação à frio, e DocGo. Materiais metálicos e fundamentos de
endurecimento de metais.
31
Figura 2.15. Propriedades mecânicas dos materiais metálicos em função do trabalho a frio.
32
propriedades mecânicas do mesmo. A intensidade da dobra, portanto, segundo o autor, vai
produzir uma série de variações de propriedades para um mesmo material. Katsuki (2007), em
seu trabalho com aço de baixo carbono, considera o aumento do ângulo de dobramento como a
intensidade do trabalho (%TF). A Figura 2.16 apresenta os corpos-de-prova dobrados por
Katsuki & Yonemura, (2007).
33
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Ensaio de
microdureza
microdureza
Fonte: Arquivo próprio.
34
3.1 Materiais e equipamentos utilizados
3.1.1. Materiais
Nital 3%: Reagente químico usado para revelar a microestrutura dos aços.
Pasta de alumina de 1μm: aplicada sobre o pano para polimento a fim de auxiliar o
polimento das peças.
3.1.2. Equipamentos
Serra de fita: Marca FRANHO, modelo FM 18-S para o corte das barras de aço (Figura
3.2).
35
Politriz rotativa universal: modelo PLFDV da Fortel, utilizada para polir os corpos de
prova para revelação microestrutural. (Figura 3.3).
Figura 3.4. Microscópico ótico utilizado na captura das micrografias dos CPs.
36
Microdurômetro: modelo SHIMADZU HMV-2, resolução de 0,01mm com
penetrador piramidal de diamante, utilizado nas medições de microdureza.
(Figura 3.5).
37
Máquina universal de ensaio mecânicos: modelo aratec WDW-100E. (Figura 3.6).
Utilizada apara o ensaio de dobramento e, portanto, para aplicação do processo de
conformação por deformação plástica.
Figura3.6. Máquina universal de ensaios mecânicos utilizada no ensaio de dobramento dos CPs.
38
3.2 Métodos
O aço ABNT 1015 cuja a composição química (% em peso) pode ser observada na
Tabela 3.1, foi selecionado para o procedimento, em decorrência de se tratar de um aço baixo
carbono e de baixo custo, com grande utilização na indústria. Neste trabalho foi utilizado uma
barra de aço baixo carbono, de seção quadrada, adquirida junto empresa ArcelorMittal.
Os aços baixo carbono possuem, normalmente, baixas resistência mecânica e dureza e
altas tenacidade e ductilidade. Além disso, são bastante usináveis e soldáveis e apresentam
baixo custo de produção. Entre as suas aplicações típicas estão as chapas automobilísticas,
perfis estruturais e placas utilizadas na fabricação de tubos, construção civil, pontes e latas de
folhas de flandres (RIOINOX, 2011).
Tabela 3.1. Composição química da barra de aço ABNT 1015 usado no procedimento (% em peso).
Mn
C (%) Si (%) P (%) S (%) Cu (%) Cr (%) Ni (%) Mo (%)
(%)
0,1500 0,6300 0,1200 0,0170 0,0250 0,2000 0,1000 0,0700 0,0130
Dimensões da barra
10x10x6000
(mm)
O corte da barra de aço utilizada neste trabalho foi executado em uma serra elétrica
(Figura 3.2). A dimensão dos corpos-de-prova (CP) para o ensaio de dobramento foi àquela
estabelecida pela Norma Técnica ABNT-NBR ISO 7438:2016, bem como dimensões propostas
por Martinelli, (2010). A fim de comparação com os CP dobrados, uma amostra foi retirada da
barra de aço, cuja dimensão e geometria correspondentes suficientemente para submissão ao
ensaio de microdureza (HV) de referência. A Figura 3.7 mostra um desenho esquemático das
1
Certificado de qualidade do aço ABNT 1015 adquirido na ArceloMittal (Conglomerado Industrial multinacional,
aciaria, produtora e vendedora de acabados e semi acabados de ferro e aço), endereço eletrônico disponível em:
< http://brasil.arcelormittal.com.br > Acesso em dezembro de 2017.
39
dimensões do corpo-de-prova submetido ao processo de dobramento a frio, e a Tabela 3.2
apresenta as nomenclaturas dos CP com as respectivas dimensões.
Figura 3.7. Desenho esquemático do CP, conforme ABNT-NBR ISO 7438:2016 e Martinelli, (2010).
10 mm
250 mm
40
Figura3.8. Esquema do aparato de montagem para o ensaio de dobramento, conforme Norma ABNT-NBR ISO
7438:2016.
41
Tabela 3.3. Variáveis do ensaio de dobramento
V (mm/min) t(s)
(o) (medido)
CORPO DE PROVA
CP-A Não deformado
CP-B 10 60 34
CP-C 10 120 70
CP-D 10 180 100
CP-E 10 240 130
CP-F 10 300 140
∝ p x c+w (f−c) D
sen 2 = 2. w = √𝑝² + (𝑓 − 𝑐)2 − 𝑐² 3. c = R + a + (3.2)
p²+(f−c )² 2
Onde ¨a¨ = Espessura do corpo de prova, ¨D¨= diâmetro do cutelo, ¨R¨ = raio do apoio, ¨c¨ =
distância do centro do cutelo antes do dobramento ao centro do apoio no sentido vertical, ¨p¨ =
distância do centro do cutelo e o centro do apoio no sentido horizontal, e ¨f¨ = deslocamento do
cutelo.
A Figura 3.9 apresenta o esquema representativo das varáveis R, D, a, c, p e f do corpo-
de-prova para aplicação da Equação 3.2.
A Tabela 3.4 apresenta de forma consolidada, para cada CP dobrado, os valores das
variáveis indicadas na Figura 3.9 utilizadas na Equação 3.2, para obtenção dos valores de
teóricos do ângulo .
42
Tabela 3.4. Ângulo de dobramento obtido pela Equação 2.
Corpo de prova a(mm) D (mm) R(mm) c(mm) p(mm) f(mm) w sen(α/2) α/2 α(°)
CP – A 10 - - - - - - - -
CP – B 10 24 10 32 40 10 32,558 0,271 15,694 31
CP – C 10 24 10 32 40 20 26,833 0,549 33,320 66,6
CP – D 10 24 10 32 40 30 24,083 0,768 50,172 100
CP – E 10 24 10 32 40 40 25,298 0,891 62,981 126
CP - F 10 24 10 32 40 50 30,000 0,946 71,075 142
Figura 3.9. Esquema representativo do CP dobrado segundo a Norma ABNT-NBR ISO 7438:2016, para
aplicação da Equação 3.2.
43
As Figuras 3.10 a 3.14 ilustram esquematicamente os corpos-de-prova efetivamente
dobrados, após processo de conformação plástica, e a Figura 3.11 mostra o registro fotográficos
dos CP dobrados após o ensaio.
1
Escritório de arquitetura, Cel. (94) 91415159, end Rua da Pimenta n° 94 Tucumã – PA.
44
Figura 3.12. Esquema representativo do CP-D dobrado.
45
Figura 3.14. Esquema representativo do CP-F dobrado.
46
3.2.3 Caracterização Microestrutural
47
próximas a linha neutra (LN) de cada peça dobrada, também foram capturadas imagens do
corpo-de-prova sem o dobramento (CP-A).
O ensaio de microdureza foi realizado de acordo com a ASTM E 384 – 16. Os ensaios
de Microdureza Vickers consistiram na aplicação de uma carga através de um indentador, com
formato piramidal de base quadrada feita de diamante, sobre a superfície plana, polida e limpa
das amostras correspondentes aos corpos-de-prova dobradas e o não dobrado, produzindo uma
impressão proporcional à carga de 1000g durante um tempo de 15 segundos, conforme
parâmetros estabelecidos pela supracitada norma para metais ferrosos. Para cada amostra
dobrada, foram realizadas no mínimo 18 indentações nas zonas comprimidas e tracionadas (ZC
e ZT, respectivamente), seguindo a direção tangencial das respectivas zonas. A fim de avaliar
os efeitos do Trabalho a Frio (%TF) nas fibras localizadas na Linha Neutra (LN), medidas de
HV foram realizadas também na direção transversal, partindo das zonas ZT e ZC sentido a LN.
A metodologia assumida neste trabalho para obtenção dos valores experimentais de HV se
encontra esquematizada na Figura 3.13, destaca-se que as distâncias mínimas para indentações
foram definidas em conformidade com a norma ASTM E384. A Figura 3.14 mostra o esquema
da metodologia assumida para medição de HV no CP sem deformação.
48
Figura 3.17 Ilustração esquemática da técnica de medição de HV para as amostras dobradas.
Figura 3.18 Ilustração esquemática da técnica de medição de HV para a amostra não deformada.
49
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Microestrutura
Figura 4.1. Microestrutura resultante do corpo de prova antes do dobramento: (a) CP - A com aumento de 100x,
(b) CP - A com aumento de 500x.
(a) (b)
Fonte: Elaborado pelo autor.
Nas Figuras 4.2 a 4.6 são mostradas as microestruturas reveladas nas zonas de tração e
compressão, para todos os ângulos de dobramento (α iguais a 34, 70, 100, 130 and 140o),
Observa-se ligeiras deformações nessas regiões para o menor ângulo de dobramento (=34o),
isto é, um pequeno achatamento e estiramento dos grãos, respectivamente, nas fibras
comprimidas e tracionadas. No entanto, evidencia-se um aumento crescente das deformações
dos grãos com o aumento do ângulo de dobramento, localizados nas regiões comprimidas e
50
tracionadas. Tal comportamento pode ser observado na Figura 4.6 para o maior grau de
dobramento (α =140o). Nas figuras 4.3(b) e 4.4(a), em destaque por área (curvada) tracejada,
foi observado claramente algumas deformações direcionadas análogas as deformações
encontradas no corpo A (CP-A) que não passou pelo processo de dobramento, provavelmente
oriundas do processo de conformação primário.
Figura 4.2. Microestrutura resultante para α =34o: (a) CP - B região de compressão com aumento de 200x
(HV=177), (b) CP – B região de tração com aumento de 200x. (HV=175 kg/mm2).
(a) (b)
(a) (b)
Fonte: Elaborado pelo autor.
Figura 4.3. Microestrutura resultante para α =70o : (a) CP - C região de compressão com aumento de 200x (HV=
199), (b) CP - C, região de tração com aumento de 200x. (HV= 202).
(a) (b)
Fonte: Elaborada pelo autor.
51
Figura 4.4. (a) Microestrutura resultante para α =100o: CP - D região de compressão com aumento de 200x (Hv=
202), (b) CP- D região de tração com aumento de 200x. (Hv=209).
(a) (b)
(a) (b)
Fonte: Elaborado pelo autor.
Figura 4.5. Microestrutura resultante para α =130o (a) CP - E região de compressão com aumento de 200x (HV=
209), (b) CP - E região de tração com aumento de 200x (HV= 208).
(a) (b)
Fonte: Elaborado pelo autor.
52
Figura 4.6. Microestrutura resultante para α =140o (a) CP - F região de compressão com aumento de 200x (HV=
210), (b) CP - F região de tração com aumento de 200x (HV= 213).
(a) (b)
Fonte: Elaborado pelo autor.
Sabe-se que após a deformação, que provoca o dobramento, a peça tende a voltar a sua
forma primitiva, em proporção tanto maior quanto mais duro for o material da chapa, devido a
recuperação elástica intrínseca no material. Portanto, na prática (indústria), em operações de
dobramento, deve-se fixar um angulo de dobramento mais acentuado, de modo que, uma vez
cessada a pressão de conformação, possa se obter uma peça com ângulo desejado. Nesse
sentido, a Tabela 4.1 apresenta os resultados experimentais e teóricos obtidos para os ângulos
de dobramento. Observa-se que para as condições assumidas no presente trabalho, o fenômeno
elástico é mais previsível para o maior ângulo de dobramento, isto é, para o %TF mais intenso,
uma vez que para o maior ângulo medido, =140o, o valor previsto teoricamente para o mesmo
foi de 142o. Destaca-se que os valores dos ângulos utilizados na correlação cm HV foram
aqueles efetivamente medidos após os dobramentos (Tabelas 3.3 e 4.1).
53
Tabela 4.1. Comparação teórica-experimental do ângulo de dobramento.
4.2 Microdureza
HV
Microdureza (Hv) no corpo A
Min Média Max
Horizontal 136 128 139 134 135 136 139 144 144 144
128 140,4 153
Vertical 140 153 140 138 139 141 150 148
54
Tabela 4.3. Medidas de HV nas regiôes de tração e compressão, conforme metodologia apresentada na Figura
3.17.
1 174 203 192 214 196 181 209 203 215 196
2 176 197 216 191 201 177 203 201 199 201
3 180 207 215 207 211 182 216 195 215 211
4 173 202 196 218 199 179 188 202 209 199
5 178 203 206 209 214 194 202 192 201 214
6 173 202 194 196 209 171 195 203 207 209
7 181 191 204 215 220 177 199 209 213 220
8 171 211 201 209 216 178 190 198 201 216
9 170 201 203 208 219 165 203 196 203 219
10 173 203 202 208 196 186 209 217 219 196
11 188 207 207 209 222 177 208 216 212 222
12 176 195 202 204 210 178 199 203 227 210
13 172 199 207 198 208 186 198 210 207 208
14 176 195 206 210 216 173 201 195 216 216
15 182 202 217 214 210 180 196 201 210 210
16 168 203 264 217 225 184 195 200 212 225
17 176 222 217 208 233 174 190 201 194 233
18 165 198 219 212 235 160 190 203 196 235
Média 175,11 202,27 209,33 208,16 213,33 177,88 199,50 202,5 208,66 210,05
55
Figura 4.7. Evolução de HV em função do ângulo de dobramento, para as zonas comprimida e tracionada: (a)
Expressão de potência e (b) Expressão de Hall-Petch.
(a)
(b)
56
A fim de analisar o efeito da intensidade do dobramento na deformação das fibras
localizadas na linha neutra (LN), medidas de HV foram obtidas na direção transversal das
regiões afetadas pelo deformação, conforme esquema apresentado na Figura 3.17. Os resultados
das medidas de HV se encontram consolidados na Tabela 4.4.
57
Figura 4.8. Gráfico da relação entre a distância do centro dos CPs em sentido transversal e a microdureza
equivalente.
LN
Figura 4.9. Gráfico da relação entre a distância do centro dos CPs em sentido transversal e a
microdureza equivalente na Linha neutra.
LN
58
5 CONCLUSÃO
59
SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
60
REFERÊNCIAS
61
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