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Agência Estado
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das eleições diretas em todos níveis e a possibilidade de o Executivo decretar o recesso do
Congresso eram medidas previstas já nos três primeiros atos institucionais que precederam o AI-
5.
Em recente matéria no “Fantástico” a gravação da reunião que aprovou o AI-5 foi
divulgada. Nela, declarações do então ministro Delfim Netto e Jarbas Passarinho demonstram o
clima da época.
Nos outros 12 atos que se seguiram ao fatídico texto de 13 de dezembro de 1968, foram
legalizados o banimento do País de cidadãos brasileiros e a pena de morte, além de formalizada
a manobra que impediu a posse do vice-presidente civil Pedro Aleixo, quando do afastamento do
Apenas três meses depois, em julho de 64, porém, o mandato do marechal foi prorrogado
até 15 de março de 67 por emenda constitucional. Servindo de exemplo para os 16 futuros Atos
Institucionais, o primeiro já excluía de apreciação judicial as decorrências extralegais de tudo o
que determinasse.
Pouco mais de um ano depois, em outubro de 65, Castelo Branco editou o AI-2, que
renovava os poderes de cassação de mandatos eletivos e suspensão de direitos políticos. Mais do
que isso, extinguia os partidos políticos (as principais forças no País eram a UDN, o PSD e o
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PTB), acabava com as eleições presidenciais diretas, dava ao presidente o direito de decretar
o recesso do Congresso e reintroduzia na legislação brasileira a prática decreto-lei (para
assuntos de segurança nacional), banida da Constituição de 46, então em vigor. “A marcha para
a ditadura já se tornava inevitável”, observa Barroso.
Mas a democracia ficou ainda mais distante com a edição do AI-3, em fevereiro de 66. A
partir daquele momento, as eleições para governador também passaram a ser indiretas e os
prefeitos das capitais, nomeados pelos governadores.
Se os três primeiros atos caminhavam no sentido de institucionalizar o regime concebido
a partir de 31 de março de 64, Castelo Branco decidiu ir além, deixando para o seu sucessor uma
nova Constituição. A sucessão de Castelo era inevitável por insistência dele próprio, que fez
constar no AI-2 a proibição de sua “reeleição”. Em 67, ele foi substituído pelo ministro da
Guerra, o general e representante da linha-dura do movimento Costa e Silva.
O AI-4, portanto, fez a convocação extraordinária do Congresso, para o período de
dezembro de 66 a janeiro de 67, tempo de que os parlamentares dispuseram para analisar e
aprovar o projeto do Executivo. O resultado foi a Constituição de 67. “Castelo tentou algo
impossível: criar uma meia ditadura”, entende o constitucionalista Barroso, lembrando ainda que
a nova Carta não poderia ser democrática, uma vez que o Congresso vivia intimidado pela
ameaça das cassações.
Promulgada em 24 de janeiro de 67, a Constituição elaborada pelos militares encerrava a
institucionalização do regime. Com isso, segundo Barroso, deixavam de vigorar os atos
institucionais.
Amplos poderes – mas, no ano seguinte, o Brasil e o mundo seriam varridos por uma
onda de contestação e protestos, tendo à frente os estudantes universitários.
O conturbado ano de 68, em que às passeatas nas grandes cidades brasileiras se seguiu a
decisão do Congresso de proibir que o governo processasse o deputado federal Márcio Moreira
Alves, a linha-dura militar se impôs e o presidente Costa e Silva emitiu o AI-5.
Símbolo de uma época marcada pela repressão, o AI-5 deu novamente aos generais os
poderes arbitrários dos primeiros três atos, acrescidos agora da suspensão do direito ao habeas-
corpus, ação judicial que permite a libertação de quem tenha sido preso ilegalmente.
Para pesquisadora, o regime de 1964 era militar, mas exercido com o consentimento civil de
segmentos sociais
Para a cientista política Maria Celina D’Araújo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as
cassações e punições depois do golpe de 1964 abriram cargos e espaços políticos para os
oportunistas de sempre. “Havia também, é claro, a convicção anticomunista de grupos civis
reacionários, que endossavam as práticas arbitrárias dos militares”, afirma. “A ditadura não
acontece numa tábula rasa”.
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A pesquisadora afirma também que, longe de ser uma fatalidade imposta pela desordem
nas ruas, como alegavam seus autores, o Ato Institucional número 5 foi uma escolha – a opção
preferencial dentro do projeto de “consertar” o País, dos quais os militares eram os fiéis e únicos
depositários. Esse projeto não prescindiu, porém, de um expressivo apoio civil, acrescenta
Celina, uma das autoras do livro “Ernesto Geisel”- a maior entrevista concedida pelo ex-
presidente, e uma especialista em ciclos militares. “O campo para essa concepção não era hostil,
porque uma parcela da sociedade, os grupos mais poderosos, também acreditavam nessa
superioridade moral dos militares”, aponta ela.
Ou seja, o regime de 1964 era militar, mas exercido com o consentimento civil de
importantes segmentos sociais – representados, na histórica reunião do Conselho de Segurança
Nacional que aprovou o AI-5, pelos ministros da Justiça, Gama e Silva, da Fazenda, Delfim
Netto, das Relações Exteriores, Magalhães Pinto, da Educação, Tarso Dutra, da Agricultura, Ivo
Arzua, da Saúde, Leonel Miranda, do Planejamento, Hélio Beltrão, da Indústria e Comércio,
Macedo Soares, pelo chefe do Gabinete Civil, Rondon Pacheco e pelo vice-presidente Pedro
Aleixo. Vários deles eram parlamentares da Arena e oriundos da velha UDN.
Para a pesquisadora, esse é um dado importante no quadro político da época. O AI-5, de
uma certa forma, foi o acerto final de contas entre a UDN e o PSD. “A UDN apoiou
oficialmente o golpe e, com os militares, chegava ao poder, já que, de 1945 até 1964, havia
praticamente uma coalizão PSD-PTB”, argumenta. “Os atos excepcionais se prestaram a que os
udenistas tirassem a oposição de campo”.
O que a parcela civil talvez não previsse era que o processo de fechamento fosse escapar tão
totalmente do seu controle. “Nós, civis, queríamos salvar a ordem constitucional, porque
sabíamos que o presidente Costa e Silva restauraria os poderes institucionais em breve”, defende
o ex-ministro Rondon Pacheco. “Mas tudo se deteriorou com a hipertrofia do arbítrio”.
Ele conta que, na reunião do Conselho de Segurança Nacional, Costa e Silva garantiu ao
vice-presidente Pedro Aleixo, único a votar contra o ato, que as medidas seriam utilizadas por
ele de forma cuidadosa. “Quanto ao senhor, presidente, estou tranqüilo”, respondeu Aleixo. “O
que eu temo é o arbítrio do guarda da esquina”.
Celina argumenta que, em todo o processo ditatorial, a radicalização torna-se
antropofágica – os aliados de ontem são devorados pelo núcleo que tenta se consolidar no poder.
No caso do AI-5, os militares viveram, na verdade, uma autofagia – o ato acirrou as contradições
dentro das Forças Armadas a tal ponto que, em 1969, no processo de escolha do sucessor de
Costa e Silva, uma consulta nos quartéis consolidou a divisão entre o candidato da Junta Militar,
o general Emílio Garrastazu Médici, e o preferido das tropas, o general Afonso Albuquerque
Lima.
Golpe
Reunião tem versões diferentes
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estava organizando a reunião das 17 horas”, explica. Mas Portella conta que, primeiro, Costa e
Silva reuniu-se com os ministros militares, o chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI),
general Emílio Médici e ele próprio.
O presidente pediu a opinião dos ministros sobre os acontecimentos, começando pelo da
Marinha, Augusto Radmaker, que propôs a edição de um ato de força. Em seguida, o do
Exército, Lyra Tavares, falou em favor da proposta de Radmaker - posição também afirmada
pelo ministro da Aeronáutica, Márcio de Souza e Mello. Foi então, segundo Portella, que
chegou, atrasado, o ministro da Justiça, Gama e Silva. Ele leu a sua minuta de um ato ainda mais
radical. Portella cita o mesmo comentário narrado por Pacheco, feito por Lyra Tavares: “Assim,
você desarruma a casa toda”.
Justiça
AI-5 causou mudanças no Supremo