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Afinal, o Que é Ética?

Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, ÉTICA é "o estudo dos juízos de apreciação que
se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja
relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”. "Ethos - ética, em grego - designa a
morada humana. A ética, como morada humana, não é algo pronto e construído de uma só vez. O ser
humano está sempre tornando habitável a casa que construiu para si. Ético significa, portanto, tudo aquilo
que ajuda a tornar melhor o ambiente para que seja uma moradia saudável: materialmente sustentável,
psicologicamente integrada e espiritualmente fecunda."
Alguns diferenciam ética e moral de vários modos:
1. Ética é princípio, moral são aspectos de condutas específicas;
2. Ética é permanente, moral é temporal;
3. Ética é universal, moral é cultural;
4. Ética é regra, moral é conduta da regra;
5. Ética é teoria, moral é prática.
Etimologicamente falando, ética vem do grego "ethos", e tem seu correlato no latim "morale", com o
mesmo significado: Conduta, ou relativo aos costumes. Podemos concluir que etimologicamente ética e
moral são palavras sinônimas. Vários pensadores em diferentes épocas abordaram especificamente
assuntos sobre a ÉTICA: Os pré-socráticos, Aristóteles, os Estóicos, os pensadores Cristãos (Patrísticos,
escolásticos e nominalistas), Kant, Espinoza, Nietzsche, Paul Tillich etc. Passo a considerar a questão da
ética a partir de uma visão pessoal através do seguinte quadro comparativo:
Ética Normativa Ética Teleológica Ética Situacional

Ética Moral Ética Imoral Ética Amoral


Baseia-se em princípios e regras Baseia-se na ética dos fins: “Os Baseia-se nas
morais fixas fins justificam os meios”. circunstâncias. Tudo é relativo e
temporal.
Ética Profissional e Ética Ética Econômica: O que importa Ética Política: Tudo é possível,
Religiosa: As regras devem ser é o capital. pois em política tudo vale.
obedecidas.
* Afinal, o que é ética? ÉTICA é algo que todos precisam ter. Alguns dizem que têm. Poucos levam a
sério. Ninguém cumpre à risca...

O que é ética? Qual a diferença entre ética e moral?


A ética não se confunde com a moral. A moral é a regulação dos valores e comportamentos considerados
legítimos por uma determinada sociedade, um povo, uma religião, uma certa tradição cultural etc. Há morais
específicas, também, em grupos sociais mais restritos: uma instituição, um partido político... Há, portanto,
muitas e diversas morais. Isto significa dizer que uma moral é um fenômeno social particular, que não tem
compromisso com a universalidade, isto é, com o que é válido e de direito para todos os homens. Exceto
quando atacada: justifica-se dizendo-se universal, supostamente válida para todos. Mas, então, todas e
quaisquer normas morais são legítimas? Não deveria existir alguma forma de julgamento da validade das
morais? Existe, e essa forma é o que chamamos de ética. A ética é uma reflexão crítica sobre a moralidade.
Mas ela não é puramente teoria. A ética é um conjunto de princípios e disposições voltados para a ação,
historicamente produzidos, cujo objetivo é balizar as ações humanas. A ética existe como uma referência
para os seres humanos em sociedade, de modo tal que a sociedade possa se tornar cada vez mais humana.
A ética pode e deve ser incorporada pelos indivíduos, sob a forma de uma atitude diante da vida cotidiana,
capaz de julgar criticamente os apelos a-críticos da moral vigente. Mas a ética, tanto quanto a moral, não é
um conjunto de verdades fixas, imutáveis. A ética se move, historicamente, se amplia e se adensa. Para
entendermos como isso acontece na história da humanidade, basta lembrarmos que, um dia, a escravidão
foi considerada " natural". Entre a moral e a ética há uma tensão permanente: a ação moral busca uma
compreensão e uma justificação crítica universal, e a ética, por sua vez, exerce uma permanente vigilância
crítica sobre a moral, para reforçá-la ou transformá-la.

Por que a ética é necessária e importante?


A ética tem sido o principal regulador do desenvolvimento histórico-cultural da humanidade. Sem ética, ou
seja, sem a referência a princípios humanitários fundamentais comuns a todos os povos, nações, religiões
etc, a humanidade já teria se despedaçado até à auto-destruição. Também é verdade que a ética não garante
o progresso moral da humanidade. O fato de que os seres humanos são capazes de concordar
minimamente entre si sobre princípios como justiça, igualdade de direitos, dignidade da pessoa humana,
cidadania plena, solidariedade etc, cria chances para que esses princípios possam vir a ser postos em
prática, mas não garante o seu cumprimento. As nações do mundo já entraram em acordo em torno de
muitos desses princípios. A "Declaração Universal dos Direitos Humanos", pela ONU (1948), é uma
demonstração de o quanto a ética é necessária e importante. Mas a ética não basta como teoria, nem como
princípios gerais acordados pelas nações, povos, religiões etc. Nem basta que as Constituições dos países
reproduzam esses princípios (como a Constituição Brasileira o fez, em 1988). É preciso que cada cidadão e
cidadã incorpore esses princípios como uma atitude prática diante da vida cotidiana, de modo a pautar por
eles seu comportamento. Isso traz uma conseqüência inevitável: freqüentemente o exercício pleno da
cidadania (ética) entra em colisão frontal com a moral vigente... Até porque a moral vigente, sob pressão
dos interesses econômicos e de mercado, está sujeita a freqüentes e graves degenerações.

Por que se fala tanto em ética hoje no Brasil?


Não só no Brasil se fala muito em ética, hoje. Mas temos motivos de sobra para nos preocuparmos com a
ética no Brasil. O fato é que em nosso país assistimos a uma degradação moral acelerada, principalmente
na política. Ou será que essa baixeza moral sempre existiu? Será que hoje ela está apenas vindo a público?
Uma ou outra razão, ou ambas combinadas, são motivos suficientes para uma reação ética dos cidadãos
conscientes de sua cidadania. O tipo de desenvolvimento econômico vigente no Brasil tem gerado
estruturalmente e sistematicamente situações práticas contrárias aos princípios éticos: gera desigualdades
crescentes, gera injustiças, rompe laços de solidariedade, reduz ou extingue direitos, lança populações
inteiras a condições de vida cada vez mais indignas. E tudo isso convive com situações escandalosas,
como o enriquecimento ilícito de alguns, a impunidade de outros, a prosperidade da hipocrisia política de
muitos etc. Afinal, a hipocrisia será de todos se todos não reagirem eticamente para fazer valer plenamente
os direitos civis, políticos e sociais proclamados por nossa Constituição:
"Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil : construir uma sociedade livre, justa
e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação"
(Art. 3º da Constituição da República Federativa do Brasil, 1988).

Por que e a quem a falta de ética prejudica?


A falta de ética mais prejudica a quem tem menos poder (menos poder econômico, cultural, político). A
transgressão aos princípios éticos acontece sempre que há desigualdade e injustiças na forma de exercer o
poder. Isso acentua ainda mais a desigualdade e a injustiça. A falta ou a quebra da ética significa a vitória da
injustiça, da desigualdade, da indignidade, da discriminação. Os mais prejudicados são os mais pobres, os
excluídos.
A falta de ética prejudica o doente que compra remédios caros e falsos; prejudica a mulher, o idoso, o
negro, o índio, recusados no mercado de trabalho ou nas oportunidades culturais; prejudica o trabalhador
que tentar a vida política; prejudica os analfabetos no acesso aos bens econômicos e culturais; prejudica as
pessoas com necessidades especiais (físicas ou mentais) a usufruir da vida social; prejudica com a
discriminação e a humilhação os que não fazem a opção sexual esperada e induzida pela moral dominante
etc.
A atitude ética, ao contrário, é includente, tolerante e solidária: não apenas aceita, mas também valoriza e
reforça a pluralidade e a diversidade, porque plural e diversa é a condição humana. A falta de ética instaura
um estado de guerra e de desagregação, pela exclusão.

Em que e onde, no Brasil, está mais fazendo falta a ética?


A falta e a quebra da ética ameaça todos os setores e aspectos da vida e da cultura de um país. Mas não há
como negar que, na vida política, a falta ou quebra da ética tem o efeito mais destruidor. Isto se dá porque o
político deve ser um exemplo para a sociedade. A política é o ponto de equilíbrio de uma nação. Quando a
política não realiza sua função, de ser a instância que faz valer a vontade e o interesse coletivo, rompe-se a
confiabilidade e o tecido político e social do país. O mesmo acontece quando a classe política apóia-se no
poder público para fazer valer seus interesses privados. A multiplicação de escândalos políticos no Brasil
só não é mais grave que uma de suas próprias conseqüências: a de converter-se em coisa banal, coisa
natural e corriqueira, diante da qual os cidadãos sejam levados a concluir: "sempre foi assim, nada pode
fazer isso mudar", ou coisa ainda pior: "ele rouba, mas faz".
Do outro lado, uma vida política saudável, transparente, representativa, responsável, verdadeiramente
democrática, ou seja, ética, tem o poder de alavancar a autoconfiança de um povo e reerguer um país
alquebrado e ameaçado pela desagregação. A ética é um comportamento social, ninguém é ético num
vácuo, ou teoricamente ético. Quem vive numa economia a-ética, sob um governo antiético e numa
sociedade imoral acaba só podendo exercer a sua ética em casa, onde ela fica parecendo uma espécie de
esquisitice. A grande questão destes tempos degradados é em que medida uma ética pessoal onde não
existe ética social é um refúgio, uma resistência ou uma hipocrisia. Já que ninguém mais pode ter a
pretensão de ser um exemplo moral sequer para o seu cachorro, quando tudo à sua volta é um exemplo do
contrário.

Por que a conduta de um agente público tem que se pautar pela ética?
Um agente público é um cidadão que assumiu a responsabilidade de realizar o interesse público. Não há
responsabilidade histórica maior que essa: de fazer valer e realizar a vontade e o interesse coletivo.
A idéia de "vida pública", "serviço público", "interesse público", tem sido uma idéia desgastada por nosso
passado colonial, populista, autoritário-militar e pelo nosso presente neoliberal privatizante. O "público" em
nossa história tem se realizado freqüentemente como sinônimo de ineficiência, descaso, desleixo, baixa
qualidade, trampolim para a realização de interesses privados etc. A "coisa pública" tem sido considerada
aquilo que, por ser "de todos", é "de ninguém", e por isso pode ser apropriada, usada e abusada. A atual
generalização da corrupção política tem levado essa crise do "público" ao limite. Nessas circunstâncias,
torna-se muito maior a responsabilidade do agente público de agir eticamente. E torna-se mais urgente e
trabalhosa a necessidade de se resgatar e restaurar a dignidade ética da vida pública.

Por que a conduta de toda pessoa que exerce alguma responsabilidade coletiva ou liderança social tem que
se pautar pela ética?
As lideranças sociais têm um poder e uma responsabilidade decisiva de um ponto de vista ético. Nenhuma
nação, povo, grupo social, pode realizar seu projeto histórico sem lideranças. A liderança social é o
elemento de ligação entre os interesses do grupo social e as oportunidades históricas disponíveis para
realizá-los. A responsabilidade ética da liderança, portanto, se pudesse ser medida, teria o tamanho e o
peso dos direitos reunidos de todos aqueles que ela representa e lidera. As lideranças sociais têm uma
tripla responsabilidade ética: institucional, pessoal e educacional. Institucional, porque devem cumprir
fielmente e estritamente os deveres que lhes foram atribuídos. Pessoal, porque devem ser, cada uma delas,
um exemplo de cidadania: justas, eticamente íntegras. Educacional, porque, além de serem um exemplo,
devem dialogar com aqueles que elas lideram, de modo a ampliar a sua consciência política e a fazê-los
crescer na cidadania.
A incoerência ética do líder desqualifica sua liderança e coloca em risco o destino histórico do projeto de
seu grupo.
A vida na cidade é transparente. Tudo deve ser feito às claras porque os cidadãos têm o pleno direito de ser
informados. Nem sempre foi assim. Governantes comportavam-se em relação aos governados como chefes
da casa-grande e faziam de conta que eram pais severos de população infantilizada. A transparência permite
que homens, mulheres, crianças e adolescentes tornem-se cidadãos, cobrando a responsabilidade do
governo por todos os seus atos. Na vida pública não existe acaso. Os governados podem exigir sem cessar,
e a respeito de tudo, um comportamento das classes dirigentes que seja marcado por um sentido ético.
Sejamos principistas, o fundamento da vida pública é o estado de direito. O poder não faz a lei. Ao contrário,
são os princípios de direito que permitem o controle das elites pela maioria das não-elites. Nenhuma
esperança poderá ser concretizada se esses requisitos básicos não forem o objetivo fundamental de nossas
vidas. Única condição para que o passado de opressão e violência possa dar origem a um futuro de paz e
justiça.

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