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Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira

Instituto de Humanidades e Letras


Curso de Licenciatura em História
Tópicos em História do Brasil II

Docente: Prof. Dr. Rafael da Cunha Scheffer


Discente: Gutemberg de Queirós Lima

RESUMO: GOMES, Flávio dos Santos. Quilombos do Rio de Janeiro no século XIX. In: REIS, João
José; GOMES, Flávio dos Santos (Org). Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1996, pp. 263-290.

Flávio dos Santos Gomes é formado é formado em História e Ciências Sociais. Possui
Mestrado em História Social do Trabalho e Doutorado em História Social pela
UNICAMP, e atua na área de Brasil colonial e pós-colonial, além de desenvolver pesquisa
em história comparada, escravidão e emancipação na América Latina e Caribe.1
Logo no início de seu artigo Flávio Gomes já pontua seus objetivos: através de uma
análise das batalhas, conflitos e demais relações, avaliar as comunidades de fugidos no
Iguaçu, pautando suas formas de organização social e econômica. O autor demonstra
defesa em considerar os mocambos como um fenômeno marginal do sistema escravista.
Sua percepção é de considerá-los como uma alternativa ao sistema.
Gomes aponta que ao final do século XVIII, mais metade da população da região
iguaçuana era composta por escravizados, que detinha de um comercio agrícola centrado
no mercado interno, destacando a farinha, milho, feijão e arroz, que possuía fácil
circulação devido a presença dos rios.
O complexo econômico da região sofreu abalos com a expansão da cana de açúcar e do
café no século XIX. Por outro lado, desenvolveu seu comércio alimentício na mesma
época. Além disso, Gomes expõe que no período em questão a população cativa cresceu
demasiadamente em relação a população livre.
Com os mesmos dados, Gomes aponta que nos meados do referido século, a população
escravizada passou a significar um número menor nesta relação. Além disso, aqueles
cativos de naturalidade africana também decaíram, como consequência do fim do tráfico
negreiro.

1
Informações obtidas em <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4782975P2>.
Visitado em 20/11/2017.
Outro ponto de destaque é que a geografia fluvial da região de Iguaçu também favoreceu
o estabelecimento de mocambos, segundo o autor, constando um grande número de fugas
na dita região.
O que o autor ainda demonstra, junto à documentos da polícia da Corte, é que havia uma
grande presença de mocambos naquela zona, os quais os moradores e autoridades locais
já tinham familiaridade. Porém, era na baixada do Iguaçu que havia a maior concentração.
Nestes mesmos documentos, Gomes aponta como as investidas do Estado contra os
mocambos obtiveram insucesso durante o século XIX, passando a ser considerado
inclusive problemas crônicos de segurança. Dos obstáculos para extinguir tais mocambos,
se destacam o difícil acesso e a união compactuada entre quilombolas e comerciantes que
faziam uso dos rios.
O difícil acesso também facilitava os quilombolas em caso de fuga, uma vez que era
comum estabelecerem os mocambos em locais de grande altitude e de terreno inclinados.
Porém, Gomes destaca que além dos assaltos nos seus arredores, os quilombos também
mantinham relações comerciais com seus vizinhos. No caso do Iguaçu, destaca-se o
mercado de lenha, que advinham do provável controle que os quilombolas mantinham do
trafego fluvial.
Essas relações comerciais dos quilombolas foram também seu escudo, uma vez que que
taberneiros e barqueiros tinham interesse em manter tais relações. Essa espécie de relação
comercial entre quilombolas e seus circundantes é exemplificada por Gomes como um
fenômeno comum. O caso do Iguaçu se diferencia por essas relações comerciais causarem
os frequentes fracassos das autoridades em findar os mocambos.
O argumento de Gomes é: essa conexão dos quilombolas com comerciantes locais se
estabelece mais do que uma mera relação econômica. O que se construiu foi uma rede de
sociabilidade complexa, composta por conflitos e parcerias. O autor ainda ressalta é que
a população denunciava esse sistema de trocas, além do contato que os quilombolas
tinham com os cativos.
A originalidade do caso de Iguaçu é ressaltada por Gomes, uma vez que constituiu uma
comunidade alternativa e reconhecida no meio da escravidão, justamente por conta de sua
rede econômica, permitindo a convivência e atuação de diferentes sujeitos livres e cativos.
Em suma, sua analogia com o monstro mitológico Hidra, se refere justamente a esse
campo social complexo. Cada cabeça era um dos indivíduos que as autoridades imperiais
constantemente atacavam sem sucesso. Em final, Gomes, aponta que foi necessário
destruir todas as cabeças para findar Iguaçu.

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