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UNIRIO
ESCOLA DE HISTÓRIA
A BNCC – Base Nacional Comum Curricular desde sua formação é engendrada de problemas
em relação ao conteúdo apresentado desde suas origens devido a sua falta de popularidade,
mesmo que aberta a consultas públicas e acréscimo de ideias e sugestões. Muito se discute entre
pesquisadores e professores acerca do conteúdo que a Base definiu em suas duas primeiras
versões, tomaremos como referência a segunda versão publicada em maio de 2016, com
enfoque no Ensino Médio e o conteúdo de História proposto pela Base.
O Ensino Médio é definido como “etapa conclusiva da Educação Básica” na Lei 9394/96, ou
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e nesse caso o Ensino de História, em
tal etapa é de extrema importância na formação dos jovens estudantes, pois além de consolidar
o conteúdo lecionado durante todos os anos da formação básica, a História surge com o papel
de a partir da autonomia do próprio estudante na pesquisa, análise e identificação do conteúdo
apreendido para percepção do jovem e seu lugar no mundo, bem como as noções de
pertencimento, continuidades e descontinuidades, memória e esquecimento, vão nortear o
pensamento dos alunos, além de contribuir na formação do cidadão brasileiro.
Cidadania e cidadão são palavras que vêm do latim “civitas”. O termo indica a convivência das
pessoas que participavam das decisões sobre os rumos da sociedade romana, relacionada tanto
no aspecto público como no privado. Tal conceito, extremamente ligado à Antiguidade
Clássica, especificamente na Roma Antiga, que na segunda versão da BNCC é retirado do
conteúdo a ser lecionado, bem como todo o conteúdo de Antiguidade Clássica, e suas
civilizações de fundamental importância para compreensão do indivíduo no mundo ocidental,
e excluindo o pensamento greco-romano na antiguidade da formação, conceitos
importantíssimos como os de democracia e República perdem todo o seu significado político e
cultural, assim, ocorrendo uma falha dantesca na compreensão do indivíduo e sua relação com
a cidade, com como noções de pertencimento do cidadão que está sendo formado em sala de
aula.
Como seria possível, dentro do ensino da História, excluir o ensino da Antiguidade Clássica do
conteúdo do lecionado? Como não abordar na fase final da Educação Básica os conteúdos
abordados no 6º ano se o Ensino Médio é a consolidação desses ensinamentos? Como
compreender o quadro da história mundial do Século XX sem compreender o reafirmar todo o
processo histórico de formação da Europa sem falar dos quase dez séculos de domínio da Igreja
Católica no Ocidente? Explicar o conceito de expansão marítima, colonização e imperialismo
contemporâneo sem abordar o vasto Império Romano? Tomando muito cuidado com certos
anacronismos, centenas de conceitos, ainda que modificados com o passar do tempo tiveram
suas origens na Europa Antiga, e isso é evidente.
É mais do que necessário reforçar e ampliar o ensino da história nas Américas e na África, visto
que possuem influência direta na formação do país, em cultura, política e ideologias que durante
muito tempo foram ofuscadas em detrimento de uma história eurocêntica. Contudo, excluir o
conteúdo de História Antiga e Medieval do currículo básico do Ensino Médio, é tão excludente
quanto a história eurocêntica escrita e lecionada até os dias de hoje. É o que podemos ver com
o trecho da carta de um grupo de pesquisadores enviada à ANPUH - Associação Nacional de
Pesquisadores de História do Brasil:
Para compreender melhor é necessário entender como o Currículo está dividido e apresentado.
Sua divisão se em quatro grandes áreas de conhecimento: Ciências Humanas, Ciências da
Natureza, Linguagem e Comunicações, e Matemática e suas Tecnologias, dentro das áreas as
disciplinas, a partir destas grandes áreas de conhecimento a Base busca dialogar tornando-a
mais interdisciplinar possível, contudo enfrenta problemas em sua composição por Áreas
gerais, por exemplo, o ensino de História separado do conteúdo de Linguagens, situação que
dificulta o aprendizado nos moldes que se idealizam.
A partir das áreas do conhecimento, o currículo é dividido em Unidades Temáticas que irão
trabalhar o conteúdo através de objetos de conhecimento, e habilidades definidas por um código
alfanumérico, que define as habilidades necessárias e que serão apreendidas no período letivo
por exemplo: (EF06HI01) EF indica a etapa: Ensino Fundamental, 06 a faixa etária a partir da
série, nesse caso, sexto ano; HI: indica o campo de experiências História e 01 indica a posição
da habilidade na numeração sequencial do campo de experiência para cada grupo/faixa etária.
Como transitar da Antiguidade para o Período Medieval a partir de apenas uma civilização?
Como se propõe “reconhecer os conceitos de democracia e cidadania” sem abordar o conceito
de res publica? É possível estudar as peças de Teatro a partir apenas da experiência grega?
Certamente não. Seria como falar do processo de colonização do Brasil, separado do contexto
do comércio transatlântico. E se havia tanta troca de informações no Oceano Atlântico, imagine
no Mar Mediterrâneo que é bem menor...Com isso, a segunda versão da BNCC não plenifica o
estudo da História Antiga Clássica e limita o conhecimento sobre os antigos.
Na terceira versão o conteúdo aparece de maneira mais ampla e com maior abrangência de
região e conteúdo:
(EF06HI07) Explicar a formação da Grécia Antiga, com ênfase na formação da pólis e nas
transformações políticas, sociais e culturais.
(EF06HI10) Conceituar “império” no mundo antigo, com vistas à análise das diferentes formas
de equilíbrio e desequilíbrio entre as partes envolvidas. A passagem do mundo antigo para o
mundo medieval A fragmentação do poder político na Idade Média
Desta forma podemos comparar e perceber que os assuntos estão sendo tratados de maneira
mais ampla e sendo permitido o diálogo entre as diversas civilizações do Mediterrâneo Antigo.
BELTRÃO, C.; Entrevista com Claudia Beltrão da Rosa: apontamentos sobre a pesquisa em História
Antiga no Brasil; Romanitas – Revista de Estudos Grecolatinos, n. 8, p. 9-17, 2016. ISSN: 2318-9304)
Cf. FUNARI, Pedro Paulo A. A renovação no ensino de História Antiga. In: KARNAL, Leandro
(Org.). História na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 2003. p.95-108,
http://site.anpuh.org/
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/
http://site.anpuh.org/index.php/bncc-historia/item/3124-carta-critica-da-anpuh-rio-a-
composicao-do-componente-curricular-historia-na-bncc
http://site.anpuh.org/index.php/bncc-historia/item/3123-manifesto-do-gtha-sobre-a-bncc