Você está na página 1de 11
andlise, pois que deve assentar, fundamentalmente, nas avaliages de dados especificos, introspectivos, relatados pelo sujeito, os quais preferimos negligenciar para a exposicgo de uma teoria -comportamental da comunicag’o. Sobre a questZa da incom- preensHo, o nosso interesse, dadas cettas ptopriedades formais da comunicagao, vai para.o desenvalvimento de patologias afins, a margem das motivagdes ou intengdes dos comunicantes (na yer- dade, a despeito das suesmas). 2.22 - No que precede, o tetmo “comunicagao” foi usado de duas maneiras: como tftulo genérico do nosso estudo e como uma unidade vagamente definida de comportamento.~ Sejamos agora mais precisos. Continuaremos, é claro, a referir-nos ao aspecto pragmético da teoria de comunicaggo humana, simplesmente, come “comunicagio”. Quanto as varias unidades de comunicagao (comportamento), procuramos selecionar termos que jd $40 geral- mente compreendidos, Uma unidade comunicacional isolada ser4 chamada mensagem ou, quando nao houver possibilidade de con- fusio, uma comunicaczo, A uma série de mensagens trocadas entre pessoas chamaremos interagéo. (Para os que anseiam por ume quantificagio mais precisa, diremos apenas que a seqtiéncia a que nos sefetimos pelo termo “interacio” € maior do que uma mensagem mas nio infinita.) Finalmente, nos Capftulos 4-7, actescentaremos os padrées de interacio, que constituem uma unidade de comunicagio de nfvel ainda superior. Além disso, mesmo a respeito da unidade mais simples possivel, ser4 dbvio que, uma vez aceito todo o comportamento como comunicago, nao estaremos lidando com uma unidade de mensagem monofénica mas com um complexo fluido ¢ multifa- cetado de numerosas modos de comportamento — verbais, tonais, Posturais, contextuais, etc. — que, em seu conjunto, condicionam © significado de todos os outros. Os vatios elementos desse com- plexo (considerado como um, todo) sao capazes de permutas muito variadas ¢ de grande complexidade, que vio desde o con- “gruente ao incongruente e paradoxal. O efeito pragmético dessas combinagSes, nas situagdeS interpessoais, seré de interesse aqui. 2.23 . A impossibilidade de nfo comunicar é um fendmeno de inte- tesse mais do que simplesmente teéfico. Por exemplo, faz parte do “dilema” esquizofrénico. Se o comportamento esquizofrénico 46 for observado pondo de lado consideragées etioldgicas, pareceré que o esquizofrénico.tenta no comunicar, Mas como o disparate, o siléncio, o ensimesmamento, a imobilidade (siléncio postural) ou qualquer outra forma de rendncia.ou negagio é, em si, uma comunicagio, o esquizofrénico defronta-se com a tarefa impos- sfyel de negar que. esté comunicando e, a0 mesmo tempo, negat que a sua negacio é uma comunicagic. A compreensio desse dilema bdsico é uma chave para numerosos aspectos da comu- nicagZo esquizofrénica que, de outro modo, permaneceriam obscuros, Como qualquer comunicagdo, como veremos, implica um compromisso e, por conseguinte, define a concepgaa do emis- sor de suas telagdes com o receptor, podemos formular a hipétese de que o' equizofrénico se comporta como se evitasse qualquer compromisso — nao comunicando, Se é essa a sua finalidade, no sentido causal, é impossivel provar, evidentemente; que esse € o efeito do comportamento esquizofrénico serd abordado em maior detalhe na s. 3.2. 2.24 Em resumo, podemos postular um axioma metacomunica- cional da pragmatica da comunicag3o: nfo se pode nao comunicar. 2.3 O ConteUpo & Niveis pz RELAcio pa Comunicacho 2.31 Um outro axioma foi insinuado acima, quando sugerimos que qualquer comunicag%o implica um cometimento, um compro- misso; e, por conseguinte, define a relagio. Isto é outra’mancira de dizer que uma comunicagao nao sé transmite informagio mas, ao mesmo tempo, impde um comportamento. Segundo Bateson (132, pags. 179-81), essas duas operagées acabaram sendo conhe- cidas como os aspectos de “relato” e de “ordem”, respectiva- mente, de qualquer comunicagéo. Bateson exemplifica esses dois aspectos por meio de uma analogia fisiolégica: Seam A, B e C uma cadeia linear de neurénios. Entdo, o disparo do neurénio B é 0 “relato” que o neurénio A lhe enviou, ao disparar, e uma “ordem” enviada ao neurénio C para que dispare. O aspecto “relato” de uma mensagem transmite informacio e, portanto, é sinénimo, na comunicagio humana, do conteddo 47 da mensagem, Pode ser sobre qualquer coisa que ¢ comunicdvel, independentemente de essa informacdo particular ser yerdadeira ou falsa, valida, invdlida ou indetermindvel. O aspecto “ordem”, por outro lado, refere-se 4 espécie de mensagem e como deve ser considerada; portanto, em ultima instincia, refere-se as relacdes entre os comunicantes. Todas estas definigdes de relagdes gravi- tam em torno de uma ou varias das seguintes assergdes; “Isto ¢ como eu me vejo... Isto é como eu vejo vocé... Isto é como eu vejo que vocé me vé...” etc., numa regressdo teoricamente infinita, Assim, por exemplo, as mensagens “E importante soltar a embreagem gradual e suavemente” e “Solte a embreagem de golpe, ¢ a transmissfo pifaré num abrir e fechar de olhos” tém, aproximadamente, 0 mesmo contetido de informagio (aspecto de relato) mas definem, obviamente, telagdes muito diferentes. Para evitar qualquer incompreensfio sobre o que se diz acima, gueremos deixar bem claro que as telacdes sé raramente sio icfinidas de um modo deliberado ¢ com plena consciéncia, De fato, parece que quanto mais espontinea e “saudével” é uma relagdo, mais o aspecto relacional da comunicagio recua para um plano secundério. Inversamente, as relagdes “‘doentes” sao carac- terizadas por uma constante luta sobre a natureza das, relagdes, tornando-se cada vez menos importante o aspecto de contetido da comunicagio. 2.32 E muito interessante que antes de os cientistas behavioristas comecarem ase interrogar sobre esses aspectos da comunicaciv humana, j4 os engenheiros de-computacio tinham deparado com mesmo problema em seu trabalho, Tornou-se claro, para eles, que, quando se comunica com um organismo artificial, as comu- nicagGes tinham de apresentar os dois aspectos — o de relato ¢ o de ordem. Por exemplo, se um computador vai multiplicar dois nimeros, ter-lhe-4 de ser alimentada essa informagio (os dois niimeros) e a informagao sobre essa informagio: a ordem de “roultiplicar os nvimeros”, . Ora, o que & importante para o nosso exame € a relacio existente entre o contetido (relato) e a relacdo (ordem) da comu- nicagio. Essencialmente, foi definida no pardgrafo precedente, quando mencionamos que um computador necessita de informagao (dados) ¢ informacao sobre essa informagao (instrugdes). Assim, as instrugdes sao, claramente, de um tipo Idégico superior aos dados; sao metainformagio, visto que constituem informagio 48

Você também pode gostar