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ISSN 0102-9924

FACULDADE DE CIÊNCIAS E C O N Ô M I C A S D A U F R G S

Qonomica
VALORES E PREÇOS DE PRODUÇÃO: UMA
RELEITURA D E M A R X A L F R E D O SAAD F I L H O

Os ANTIGOS, os NOVOS E OS N E O - I N S T I T U C I O N A L I S T A J B
HÁ CONVERGE NCIA Tf Ó RICA N O P E N S A M E N T O
INSTITUCIONALISTA
OCTAVIO AUGUSTO C. CONCEIÇÃO fl|

A MENSURAÇÃO DO GRAU DE INDEPENDÊNCIA DO BANCO


CENTRAL: UMA ANÁLISE DE SUAS FRAGILIDADES
HÉLDER FERREIRA DE MENDONÇA

A SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA MOBILIÁRIA F E D E ^ ^ ^ ^ H


BRASILEIRA: UMA INVESTIGAÇÃO ADICIONAL ^hj^B
VIVIANE LUPORINI ^R^^H

O MODELO DE KRUGMAN EXPLICA A CRISE CAMBIAL i^l


BRASILEIRA EM lANEIRO DE 1999? | H
ADRIANO CAMPOS MENEZES E TITO BELCHIOR S. M O R ^ H

ESTRANGULAMENTO DA DÍVIDA EXTERNA E CRESCIMENTC^B


ECONÔMICO NA AMÉRICA LATINA: LIÇÕES DA DÉCADA DE

MARCO VALES BURATTO E SABINO DA SILVA P. JR.

CRIAÇÃO E DESVIO DE COMÉRCIO: ANÁLISE DO FLUXO "


COMERCIAL ENTRE O BRASIL E O MERCOSUL PARA ALGUNS
PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS ^
CLÃ UDIO ROBERTO F Ó FFANO VASCONCELOS J H

A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE CELULOSE E S W


ATUAÇÃO NO MERCADO MUNDIAL
EMERSON MARTINS HILGEMBERG E CARLOS JOSÉ CAETANO
BACHA

A PROTEÇÃO SOCIAL NO PRIMEIRO QUARTEL DO SÉCULQ!


X X I : BRINCANDO COM CENÁRIOS
ROSA MARIA MARQUES E ÁQUIIAS MENDES

ECONOMÍA DO CRIME: ELEMENTOS TEÓRICOS E E v m r s c S


EMPÍRICAS ; ¡ H
GaBERTO JOSÉ SCFIAEFER E PERV FRANCISCO ASSIS SHIKIW

ANO
19
N= 36'
SbTEMBRO, 2 0 0 1
U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D O RIO G R A N D E D O SUL
Reüora: P r o f - W r a n a Maria Panizzi
F A C U L D A D E D E CIÊNCL^S E C O N Ô M I C A S
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Arestis (Univ, of East L o n d o n ) , R o b e r t o C M o r a e s , Ronald O t t o Hillbrecht, S t e f a n o Florissi,
Eleutério F S. P r a d o (I-ISP), F e r n a n d o H, Barbosa (FGV/RJ), Gustavo Franco (PUC/RJ), J o ã o
R. S a n s ó n (UFSC), J o a q u i m P A n d r a d e GJnB), J u a n H. M o l d a u (USP), Paul D a v i d s o n (Univ
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C O M I S S Ã O EDITORIAL: E d u a r d o A u g u s t o M a l d o n a d o Filho, F e r n a n d o Ferrari Filho, Gentil
C o r a z z a , M a r c e l o S a v i n o Portugal, Paulo D a b d a b Waquil; Roberto C a m p s M o r a e s .
EDITOR: F e r n a n d o Ferrari Filho
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n o r m a s na terceira capa), assinaturas e permutas d e v e m ser dirigidos a o seguinte destinatário:
P R O F F E R N A N D O FERRARI FILHO
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Telefones: (05I) 316-3348 e 316-3440 - Fax: ( 0 5 1 ) 316-3990
E-mail: rae@vortex.ufrgs,br

Análise Econômica

A n o 18, rf 33, m a r ç o , 2000 - Porto Alegre


Faculdade d e Ciências Econômicas, UFRGS, 2000

Periodicidade semestral, m a r ç o e setembro.

1 . Teoria E c o n ô m i c a - Desenvolvimento Regional -


E c o n o m i a Agrícola - Pesquisa Teórica e Aplicada -
Periódicos. I. Brasil
Faculdade d e Ciências Econômicas,
Universidade Federal d o Rio Grande d o Sul.

C D D 330.05
C D U 3 3 (81)(05)
Os antigos, os novos e os neo-institucionalistas: ha convergencia
teórica no pensamento institucionalista?

Octavio Augusto C. Conceição *

Resumo: Esse aitigo procura evidenciai' que existe um núcleo teórico


definido e nem sempre convergente entre as diversas abordagens
institucionalistas. O que as distingue é a própria definição de instituição,
que pode significar tanto normas de comportamento, quanto normas
institucionais ou padrão de organização da firma ou direito de proprie-
dade. Tal diferenciação, porém, não invalida a contribuição teórica de
cada abordagem. Pelo contrário, constitui a própria fonte de riqueza do
pensamento institucionalista, que tem na interação e na diversidade sua
própria relevância teórica. Discute-se nesse artigo as características do
método de análise institucionalista, alguns pontos do pensamento de
Veblen, o "corpo d e c o n h e c i m e n t o " formulado pelos n e o -
institucionalistas e a contribuição da Nova Economia Institucional de
Ronald Coase e Oliver Williamson.

P a l a v r a s - c h a v e : E c o n o m i a Institucional; Teoria E c o n ô m i c a ;
Institucionalismo.

Abstract: This paper tries to show that there is a clearly defined


theoretical core, not always convergent, shared by the various
institutionalist approaches. What distinguishes them is the definition of
institufion itself, that may denote not only behavior noims but institutional
forms, firm organization patterns or property rights as well. Such a
differentiation, however, does not deny the theorefical contributions from
each one of them. On the contrary, it establishes the very source of
richness in the institutionalist thought, which has in interaction and
diversity its own theoretical relevance. In this text we discuss the
characteristics of the institutionalist method of analysis, some aspects of
Veblen's contribution, the neoinstitutionalist "body of knowledge" and
the New Economic Institution contributions ftom Ronald Coase and
Oliver Williamson.

Key -words: Institutional Economy; Economic Theory; Institutionalism.

• E c o n o m i s t a d a FEE, Editor d a Revista ENSAIOS FEE, Professor A d j u n t o d o D e p a r t a m e n t o d e


E c o n o m i a d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o Rio G r a n d e d o Sul, E-mail: o c t a v i o @ f e e . t c h e , b r
1 Introdução

Dentro d a m o d e r n a teoria e c o n ô m i c a t e m se revelado crescente


o papel e a importância conferida às instituições nas várias e diferencia-
das a b o r d a g e n s teóricas. Essas, algumas vezes, a p a r e c e m c o m o regras
d o jogo, outras, c o m o organizações, o u c o m o hábitos e n o r m a s q u e
interferem irreversivelmente n a vida e c o n ô m i c a . Isto implica r e c o n h e -
cer q u e a própria diferenciação d o conceito d e instituições d e c o r r e das
diversas interpretações teóricas e analíticas, tanto d o p o n t o d e vista
m a c r o e c o n ô m i c o , q u a n t o , principalmente, m i c r o e c o n ô m i c o . O q u e se
p r o c u r a r á evidenciar nesse artigo é q u e existe u m nticleo teórico defi-
n i d o e n e m s e m p r e c o n v e r g e n t e e n t r e as d i v e r s a s a b o r d a g e n s
institucionalistas^ q u e , pela própria diversidade q u e as caracterizam,
definem instituições d e m a n e i r a igualmente h e t e r o g ê n e a (ora c o m o
n o r m a s d e c o m p o r t a m e n t o , ora c o m o formas institucionais, ora c o m o
p a d r ã o d e organização da firma ou c o m o direito d e p r o p r i e d a d e ) . Isto,
entretanto, n ã o invalida a contribuição teórica d e c a d a a b o r d a g e m .
Pelo contrário, constitui a própria fonte d e riqueza d o p e n s a m e n t o
institucionalista (Samuels, 1995). A c a d a c o n c e i t o c o r r e s p o n d e u m a
a b o r d a g e m , o q u e implica r e c o n h e c e r q u e c o n c e b e r instituições sob
u m linico e n f o q u e e m p o b r e c e s e u c a m p o analírico, q u e t e m n a
interação e n a diversidade sua própria relevância teórica.
O p r e s e n t e artigo^ foi subdividido e m q u a t r o partes. Na primeira,
d i s c u t e m - s e as c a r a c t e r í s r i c a s m a i s g e r a i s d o m é t o d o d e a n á l i s e
institucionalista, p r o c u r a n d o identificar a natureza desta linha d e pes-
quisa. Na segunda, discutem-se alguns pontos d o p e n s a m e n t o d e Veblen,
c o n s e n s u a l m e n t e a p o n t a d o pelas escolas institucionalistas c o m o o pre-
cursor d a referida linha d e p e n s a m e n t o . N a terceira seção apresenta-
se, a partir d a discussão levada a efeito n a s d u a s primeiras partes, o
"corpo d e c o n h e c i m e n t o " institucionalista, tal c o m o o formulado pela
d e n o m i n a d a c o r r e n t e neo-institucionalista. N a q u a r t a parte apresenta-

' I n ú m e r o s a u t o r e s , i n c l u i n d o Marshall e o p r ó p r i o S c h u m p e t e r ( H o d g s o n , 1998b), e s v a z i a r a m as


a b o r d a g e n s institucionalistas d a é p o c a d e q u a l q u e r c o n t r i b u i ç ã o t e ó r i c a m a i s expressiva, constitu-
indo-se mais e m discurso d o q u e propriamente e m qualquer contribuição ao p e n s a m e n t o e c o n ô -
mico,
^ Este artigo é originário d e u m a v e r s ã o a n t e r i o r e l a b o r a d a p a r a o s e m i n á r i o "A S i t u a ç ã o Atual d a
M i c r o e c o n o m i a : u m a Perspectiva M e t o d o l ó g i c a " , p r o m o v i d o p e l o C u r s o d e D o u t o r a d o e m De-
senvolvimento E c o n ô m i c o d o D e p a r t a m e n t o d e Economia da Universidade Federal d o Paraná,
r e a l i z a d o e m Curitiba n o s dias 1 6 e 17 d e o u t u b r o d e 2 0 0 0 , O título inicial d o a n i g o foi "As a b o r d a -
g e n s institucionalistas e a constituição d e u m n ú c l e o t e ó r i c o " .
se a c o n t r i b u i ç ã o d a correiite seguidora d e Ronald Coase e Oliver
Willianoson, que consagraram a Nova Economia Institucional (NEI), centrada
na Economia dos Custos de Transação. As três referidas correntes se
autoqualificam institucionalistas, o que, entretanto, n ã o lhes salvaguardam
c o m o únicas representantes da referida c o n e n t e l Este artigo buscará dis-
cutir e comparar os principais conceitos e enfoques teóricos destas três
abordagens, tentando identificar os principais pontos analíticos d o q u e
genericamente se designa d e p e n s a m e n t o institucionalista.

2 A natureza da pesquisa institucionalista

A tradição institucionalista, herdeira d e Veblen e Commons, trouxe


novos conceitos, sem, entretanto, deixar d e preservar os traços q u e lhe
são distintivos d o p e n s a m e n t o neoclássico. Contudo, a compatibilidade
c o m o p e n s a m e n t o d e Marx, Keynes e Schumpeter p e r m a n e c e , e m mui-
tos aspectos, sustentável. A amplitude e complexidade d o p e n s a m e n t o
institucionalista, n ã o p o d e n d o ser patrimônio d e u m a única visão, confere
às múltiplas concepções a possibilidade d e se avançar e m direção à cons-
tituição d e u m a teoria da dinâmica das instituições.
Invariavelmente, instituciorialismo é tido c o m o u m a linha d e pensa-
m e n t o oposta a o neoclassicismo (Hodgson, 1998a), semelhante a o mar-
xismo e m alguns aspectos (Dugger, 1988) e vinculada a o evolucionismo
(Hodgson, 1993). I n d e p e n d e n t e m e n t e d o enfoque adotado, atribui-se a o
"velho" institucionalismo norte-americano - a partir dos escritos d e Veblen,
e e m m e n o r grau aos d e C o m m o n s e Mitchel - , a matriz d a Escola
Institucionalista. Seu núcleo d e p e n s a m e n t o relaciona-se aos conceitos d e
instituições, hábitos, regras e sua evolução, t o m a n d o explícito u m forte
v í n c u l o c o m as e s p e c i f i c i d a d e s h i s t ó r i c a s e c o m a " a b o r d a g e m
evolucionária"''. Em geral, as concepções, q u e têm n a s "instituições" a
" u n i d a d e d e análise", p a r t e m d a discussão d e suas diferenças c o m o

' J u l g a - s e q u e o u t r a s a b o r d a g e n s s ã o i g u a l m e n t e r e l e v a n t e s p a r a o p e n s a m e n t o institucionalista,
e m b o r a n ã o se qualifiquem c o m o tal. É o c a s o d a Escola Francesa da Regulação, q u e c e n t r a s u a
i n t e r p r e t a ç ã o d a d i n â m i c a capitalista n a s formas institucionais de estrutura.. E d a c o n t r i b u i ç ã o neo-
schumpeteriana o u euolucionária, q u e , p a r t i n d o d e u m e n f o q u e m i c r o e c o n ô m i c o , sistematizou
i m p o r t a n t e s vínculos t e ó r i c o s d o a m b i e n t e institucional c o m as trajetórias d e i n o v a ç ã o , q u e defi-
n e m os paradigmas tecnológicos. Para u m a discussão mais d e t a l h a d a d e s t e s p o n t o s , v e r C o n c e i ç ã o
(2000).
^ H o d g s o n (1998a, p, 168) afirma q u e : "O n ú c l e o d e idéias d o institucionalismo refere-se às institui-
ções, hábitos, regras e sua e v o l u ç ã o P o r é m , o institucionalismo n ã o objetiva construir u m m o d e l o
geral simplificado c o m b a s e e m s u a s idéias. Pelo contrário, tais idéias f a v o r e c e m u m f o n e í m p e t o e m
d i r e ç ã o a a b o r d a g e n s d e análise específicas e h i s t o r i c a m e n t e localizadas. Nesse s e n t i d o h á afinidade
neoclassicismo e suas afinidades c o m o evolucionismo, b u s c a n d o iden-
tificar analiticamente p o n t o s d e concordância, q u e p e r m i t a m a consti-
tuição d e u m a possível "teoria institucionalista". Se fosse possível afir-
m a r q u e existe u m a "teoria geral" institucionalista, sua g e n e r a l i d a d e
seria e m indicar c o m o desenvolver análises específicas e variadas, e m
relação a u m f e n ô m e n o específico.

3 Veblen e o legado do antigo Institucionalismo

Os "velhos" institucionalistas - c o m o Veblen, C o m m o n s (1934) e


Mitchel (1984) - c e n t r a r a m sua análise n a importância d a s instituições,
reivindicando u m a g e n u í n a e c o n o m i a evolucionária. Entretanto, de-
senvolveram trma linha analítica mais descritiva, d e i x a n d o p a r a u m
s e g u n d o plano q u e s t õ e s teóricas não-resolvidas. Alguns simpatizantes,
c o m o G u n n a r Myrdal (1953), os qualificaram c o m o "empiricistas ingê-
nuos", o q u e d e forma a l g u m a inviabilizou seu legado. Pelo contrário,
p o i s é p r e c i s a m e n t e esse o p o n t o q u e t o r n a os insritucionalistas
evolucionários, pois a n e g a ç ã o d e pensar a economia e m t o m o d a n o ç ã o
d e equilíbrio, ou ajustamento marginal, reitera a importância d o pro-
cesso d e m u d a n ç a e transformação inerentes a o p e n s a m e n t o d e Veblen.
Sua a b o r d a g e m centra-se e m três pontos: a i n a d e q u a ç ã o d a teoria
neoclássica e m tratar as inovações, supondo-as "dadas", e, portanto,
desconsiderando as c o n d i ç õ e s d e sua implantação; a p r e o c u p a ç ã o , n ã o
c o m o "equilíbrio estável", m a s e m c o m o se dá a mvrdança e o conse-
q ü e n t e crescimento; e a ênfase n o processo d e e v o l u ç ã o e c o n ô m i c a e
transformação tecnológica. Nesse sentido, a instituição é resultante d e
u m a situação presente, q u e m o l d a o futuro, através d e u m processo
seletivo e coercitivo, o r i e n t a d o pela forma d e c o m o os h o m e n s v ê e m
as coisas, o q u e altera o u fortalece seus p o n t o s d e vista.
A crítica a o p e n s a m e n t o neoclássico persiste pelo fato d e ter p o r
pressuposto u m a falsa c o n c e p ç ã o d a natureza h u m a n a . O indivíduo é
e q u i v o c a d a m e n t e visto e m termos hedonísticos, s e n d o u m e n t e social-
m e n t e passivo, inerte e imutável (Veblen, 1919, p . 73). A hipótese rejei-
tada p o r Veblen d e q u e os indivíduos são s u p o s t a m e n t e tidos c o m o

, e n t r e institucionalismo e biologia. A biologia e v o l u c i o n á r i a t e m p o u c a s leis o u princípios gerais


a t r a v é s d o s quais a o r i g e m e o d e s e n v o l v i m e n t o p o s s a m ser explicados. [.,.] E m s u a ênfase relati-
v a m e n t e m a i o r s o b r e a s especificidades, a e c o n o m i a institucional a s s e m e l h a - s e m a i s à biologia d o
q u e à física."
"dados", estabelece c o m o alternativa sua própria tentativa e m cons-
truir u m a "teoria e c o n ô m i c a evolucionária", e m q u e instintos, hábitos
e instituições exercem n a e v o l u ç ã o e c o n ô m i c a papel análogo a o s genes
n a biologia (Veblen 1898, apud Hodgson, 1993, p . 17). Isto significa q u e
linhas d e a ç ã o habituais definem "pontos d e vista", através d o s quais os
fatos e os eventos são percebidos. C o m o são as instituições, a cultura e
as rotinas^ q u e criam d e t e r m i n a d a s formas d e seleção e d e c o m p r e e n -
são d e valores sociais, estabelece-se importante vínculo d e Veblen c o m
o p e n s a m e n t o evolucionário sobre o papel das instituições.
O artigo d e Veblen Why is economics not an evolutionary science?,
escrito e m 1898, apesar d e sugerir n o título o caráter não-evolucionário
da e c o n o m i a , revela muita proximidade c o m o referido p e n s a m e n t o .
J á e m 1919, Veblen salientava q u e a história d a vida e c o n ô m i c a dos
individuos constituía-se e m u m "processo d e a d a p t a ç ã o dos meios aos
fins, q u e , cumulativamente, modificavam-se, e n q u a n t o o processo avan-
çava". Isto implica r e c o n h e c e r q u e Veblen a d o t o u u m a posição pós-
darwiniana, enfatizando o caráter d e "processo d e c a u s a ç ã o " tão co-
m u m n a c o n c e p ç ã o evolucionária. Veblen escreveu e m 1899 q u e "... a
vida d o h o m e m e m sociedade, assim c o m o a vida d e outras espécies, é
u m a luta pela existência e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , é u m processo d e sele-
ç ã o adaptativa. A e v o l u ç ã o d a estmtura social t e m sido u m processo
d e seleção natural d e instituições." (Veblen, 1899, apud Hodgson, 1993,
p. 17). Este processo d e seleção ou c o e r ç ã o institucional n ã o impfica
q u e elas sejam imutáveis o u rígidas. Pelo contrário, as instituições mu-
d a m e, m e s m o através d e m u d a n ç a s graduais, p o d e m pressionar o sis-
terna p o r m e i o d e explosões, conflitos e crises, l e v a n d o a m u d a n ç a s d e
atitudes e ações. Em q u a l q u e r sistema social h á u m a p e r m a n e n t e ten-
são e n t r e r u p t u r a e regularidade, exigindo constante reavaliação d e
c o m p o r t a m e n t o s rotinizados e decisões voláteis d e o u t r o s agentes.
M e s m o p o d e n d o persistir p o r longos períodos, as instituições estão su-
jeitas a súbitas rupturas e c o n s e q ü e n t e s m u d a n ç a s nos hábitos d e p e n -
sar e d e agir, q u e são c u m u l a t i v a m e n t e reforçados. Tal n o ç ã o d e evolu-
ç ã o está associada a o "processo d e c a u s a ç ã o circular", p o d e n d o suge-
rir q u e Veblen talvez t e n h a sido o precursor dos estudos realizados p o r
G u n n a r Myrdal, Nicholas Kaldor e K. William Kapp. A complexidade

5 A idéia d e q u e rotinas n a s firmas a g e m c o m o g e n e s foi d e s e n v o l v i d a p o r Nelson & W i n t e r (1982).


A p e s a r d e n ã o se a u t o - r e f e r e n c i a r e m c o m o institucionalistas, o s e v o l u c i o n á r i o s a n a l i t i c a m e n t e
c o m p a t i b i l i z a m - s e m a i s c o m o " v e l h o " institucionalismo d o q u e c o m o " n o v o " ( H o d g s o n , 1993, p
17)
das idéias d e Veblen o credencia a estar incluido entre os g r a n d e s n o -
m e s d o p e n s a m e n t o e c o n ô m i c o , c o m o Marx, Marshall e S c h u m p e t e r .
Igualmente poderia figurar entre os principais expoentes d a " m o d e r n a
e c o n o m i a evolucionária", u m a vez q u e seu p r o g r a m a d e pesquisa, as-
sim c o m o o d e Schumpeter, p r o c u r a v a implicitamente explorar a apli-
c a ç ã o d e idéias d a biologia às ciências e c o n ô m i c a s . Isto, s e g u n d o
H o d g s o n (1993), t o m a Veblen u m evolucionário, o q u e p e r m i t e desig-
n a r o p e n s a m e n t o institucionalista, sem q u a i s q u e r transtornos
metodológicos mais profundos, d e institucionalismo evolucionário''. O
revigoramento, a partir d o início dos a n o s 80, d o interesse e m discus-
s õ e s d e t e m a s institucionalistas s e g u i n d o a t r a d i ç ã o d o s " v e l h o s "
institucionalistas n o r t e - a m e r i c a n o s , r e c o l o c a a n e c e s s i d a d e d e se
aprofundar algumas n o ç õ e s propostas p o r Veblen.

4 A abordagem neo-institucionalista

A a b o r d a g e m neo-institucionalista é derivada d a forte influência


d e Veblen, resgatando a importância d e conceitos centrais a o Antigo
Institucionaüsmo Norte-Americano e d o crescente vigor teórico d a tra-
dição n e o - s c h u m p e t e r i a n a . Alguns pressupostos definem seu conteií-
d o . Por exemplo, Ray Marshall (1993) refere-se à e c o n o m i a institucional
c o m o a proposta p o r Wendell G o r d o n e m 1980, cujas idéias p o d e m ser
a g r u p a d a s e m q u a t r o eixos: primeiro, a e c o n o m i a é vista c o m o u m
"processo contínuo", q u e se o p õ e às hipóteses d a e c o n o m i a ortodoxa,
à m e d i d a q u e a "economia positiva" n ã o está relacionada a t e m p o ,
l u g a r e c i r c u n s t â n c i a s ; s e g u n d o , as i n t e r a ç õ e s e n t r e i n s d t u i ç õ e s ,
tecnologia e valores são d e fundamental importância; terceiro, a análi-
se e c o n ô m i c a ortodoxa é rejeitada p o r ser d e m a s i a d a m e n t e dedutiva,
estática e abstrata, constituindo-se mais e m c e l e b r a ç ã o das instituições
e c o n ô m i c a s dominantes, d o q u e u m a p r o c u r a pela v e r d a d e e justiça

o t e r m o " e c o n o m i a institucional" é u s a d o s e m prejuízo a o d e " e c o n o m i a evolucionária", pois


a m b o s s ã o u n i d o s p o r u m c a m p o d e p e s q u i s a c o m u m . S e g u n d o S a m u e l s (1995, p 5 7 6 - 7 ) : " . t o d o s
t ê m interesse e m tópicos q u e s ã o institucionalistas e m s u a substância e n ã o t ê m n e n h u m interesse
p a r t i c u l a r e m c o n t r i b u i r c o m o p a r a d i g m a n e o c l á s s i c o . Alguns s ã o especialistas e m á r e a s d e estu-
d o particulares, tais c o m o análises e v o l u c i o n á r i a s , teoria d a o r g a n i z a ç ã o e tecnologia, Esses assun-
t o s exigem m o d e l o s e m é t o d o s d e análise b a s t a n t e diferentes d a a b o r d a g e m n e o c l á s s i c a , e m b o r a
n ã o n e c e s s a r i a m e n t e t o t a l m e n t e e m conflito c o m a m e s m a . Estes m o d e l o s e m é t o d o s s ã o m a i s
c o n g r u e n t e s c o m as análises d o s institucionalistas d o s Estados Unidos, e m b o r a a l g u m a s v e z e s
utilizem f e r r a m e n t a s e c o n c e i t o s o r i g i n a l m e n t e d e s e n v o l v i d o s p e l o s neoclássicos, c o m o o s custos
d e transação."
social; e quatro, os institucionalistas enfatizam aspectos ignorados p o r
muitos economistas ortodoxos, c o m o os trabalhos empíricos e teóricos
d e outras disciplinas, q u e lhe conferem u m caráter multidisciplinar, o u
seja, r e c o n h e c e m a importância d e interesses e conflitos, a m u d a n ç a
tecnológica, e a inexistência d e u m a constante ( c o m o , p o r exemplo, a
velocidade d a luz) aplicável à "vontade h u m a n a " , o q u e torna difícil a
c o m p r e e n s ã o d a e c o n o m i a c o m o u m a "teoria positiva" (op.cit., p . 302).
Portanto, importa à e c o n o m i a institucionalista o processo históri-
co n a formulação d a s idéias e das políticas econômicas. Warren Samuels
vê a " e c o n o m i a institucional" c o m o u m a alternativa não-marxista^ a o
neo-classicismo d o m i n a n t e n o mainstream, caracterizado p o r u m a va-
r i e d a d e d e d e a b o r d a g e n s , q u e p o d e m ser aglutinadas s e g u n d o alguns
pontos d e confluência. A proposição d e u m "paradigma institucionalista"
visa identificar os e l e m e n t o s e crenças c o m u n s , q u e o p e r a m e m níveis
teóricos e práticos semelhantes, sem, entretanto, deixar d e distinguir as
várias aplicações específicas. O primeiro p o n t o desta a b o r d a g e m , e seu
"objeto d e dissenso", é o d o papel d o m e r c a d o c o m o mecanismo-guia
da e c o n o m i a , ou, mais a m p l a m e n t e , a c o n c e p ç ã o da e c o n o m i a en-
q u a n t o organizada e orientada pelo m e r c a d o . Questiona-se se é verda-
d e q u e a escassez d e recursos é alocada entre usos alternativos pelo
m e r c a d o . Para os institucionalistas, a real d e t e r m i n a ç ã o d e toda alocação
e m q u a l q u e r s o c i e d a d e se d á p o r sua estrutura organizacional: e m re-
sumo, p o r suas instituições, e m q u e o m e r c a d o a p e n a s d á c u m p r i m e n -
to às instituições p r e d o m i n a n t e s .
Outra p r e o c u p a ç ã o dos institucionalistas é c o m a organização e
controle d a e c o n o m i a , q u e constitui u m sistema mais a b r a n g e n t e e
complexo d o q u e o mei-cado. Isto implica r e c o n h e c e r a importância d e
vários aspectos, c o m o a distribuição d e p o d e r n a s o c i e d a d e ; a forma
d e o p e r a ç ã o d o s m e r c a d o s ( e n q u a n t o c o m p l e x o s institucionais e m
interação uns c o m os outros); a formação d e c o n h e c i m e n t o (ou o q u e
leva a o c o n h e c i m e n t o e m u m m u n d o d e radical i n d e t e r m i n a ç ã o sobre
o futuro); e a d e t e r m i n a ç ã o d a alocação d e recursos (nível d e r e n d a

' M e s m o r e i t e r a n d o o c a r á t e r n ã o - m a r x i s t a d o p e n s a m e n t o institucionalista, S a m u e l s (op. cit,, p .


570) a c r e d i t a n á o ser u m a linha m u t u a m e n t e exclusiva e m r e l a ç ã o a esta c o n c e p ç ã o : "Alguns
institucionalistas c o n s i d e r a m sua a b o r d a g e m m u t u a m e n t e exclusiva c o m o neoclassicismo, e n -
q u a n t o o u t r o s , i n c l u i n d o esse autor, c o n s i d e r a m institucionalismo e n e o c l a s s i c i s m o c o m o suple-
m e n t a r e s . Alguns institucionalistas c o n s i d e r a m sua a b o r d a g e m m u t u a m e n t e exclusiva c o m o m a r -
xismo, e n q u a n t o o u t r o s , i n c l u i n d o esse autor, c o n s i d e r a m institucionalismo e m a r x i s m o c o m o
t e n d o i m p o r t a n t e s á r e a s s o b r e p o s t a s . Há considerável diversidade d e n t r o d a e c o n o m i a institucional.
Tal h e t e r o g e n e i d a d e n ã o é p a t o l ó g i c a , m a s sinal d e riqueza e fertilidade".
a g r e g a d a , distribuição d e renda, organização e controle), e m q u e a
cultura geral é t a m b é m u m a variável tanto d e p e n d e n t e c o m o inde-
p e n d e n t e (Samuels, 1995, p . 571).
Um terceiro aspecto é q u e h á nos institucionalistas várias críticas
a o neoclassicismo, e m b o r a S a m u e l s (1995) julgue existir u m a c e r t a
s u p l e m e n t a r i d a d e entre a m b a s as escolas, c o m notáveis contribuições
d o s ijltimos q u a n t o a o f u n c i o n a m e n t o d o m e r c a d o . Para os
institucionalistas, a principal falha d o p e n s a m e n t o neoclássico está n o
"individualismo metodológico", q u e consiste e m tratar indivíduos c o m o
independentes, auto-subsistentes, c o m suas preferências dadas, e n q u a n -
t o q u e , n a r e a l i d a d e , os i n d i v í d u o s s ã o c u l t u r a l e m u t u a m e n t e
i n t e r d e p e n d e n t e s , o q u e implica analisar o m e r c a d o d o p o n t o d e vista
d o "coletivismo metodológico". Mais ainda, o conceito d e m e r c a d o é
u m a metáfora p a r a as instituições q u e formam, estruturam e o p e r a m
através dele (op.cit., p . 572). Esta afirmativa reforça ainda mais a oposi-
ç ã o dos institucionalistas a o "individualismo metodológico", q u e está
a s s e n t a d o e m p r e s s u p o s t o s q u e falseiam a c o m p l e x a , d i n â m i c a e
interativa realidade econômica, que pouco tem a ver com a
racionalidade otimizadora d e equilíbrio. A o criticar a natureza estática
d o s p r o b l e m a s e m o d e l o s neoclássicos, reafirmam a importância e m se
resgatar a natureza dinâmica e evolucionária d a economia.**
A réplica d o mainstream à c o n t u n d e n t e crítica dos institucionalistas
fundamenta-se e m q u e , se a m e s m a n ã o existisse, o respectivo c a m p o
analítico estaria c o m p l e t a m e n t e vazio, p o r n ã o possuir q u a l q u e r c o n -
tetído teórico consistente. Julga-se, a o contrário dos q u e assim p e n -
sam, q u e se está a v a n ç a n d o r u m o à constituição d e u m a alternativa
teórica a o mainstream, c o m a v a n ç o s n a teorização d a e c o n o m i a en-
q u a n t o processo dinâmico, interativo, s e m ênfase n a n o ç ã o d e equilí-
brio, e m q u e as decisões e c o n ô m i c a s - n a esfera da firma o u n o m e i o
a m b i e n t e institucional - são t o m a d a s sob incerteza. A c o r r e n t e
evolucionária é u m exemplo destes a v a n ç o s .
Portanto, o "paradigma institucionalista" se centra e m três d i m e n -
sões: crítica à organização e performance das e c o n o m i a s d e m e r c a d o ,
p o r se constituírem e m m e r a a b s t r a ç ã o ; n a g e r a ç ã o "corpo d e conheci-

" S a m u e l s (1995, p . 572) enfatiza q u e "as análises institucionais i n c o r p o r a m t a n t o m e r c a d o s e


instituições, c o m o m u i t o mais. Os institucionalistas t ê m p e r s e g i i i d o análises d a s forças sociais q u e
c o n d i c i o n a m e c a n a l i z a m a f o r m a ç ã o d e m e r c a d o s e o exercício d a e s c o l h a individual e c o m p o r -
t a m e n t o s ; as instituições q u e c o n s t i t u e m e o p e r a m a t r a v é s d o s m e r c a d o s ; a e c o n o m i a c o m p r e e n -
d i d a c o m o u m sistema e n g l o b a n d o m a i s d o q u e o m e r c a d o e s u p o r t a n d o e v o l u ç ã o sistêmica,
d e v i d a e m p a r t e à m u d a n ç a institucional e t e c n o l ó g i c a . "
m e n t o " e m u m a v a r i e d a d e d e tópicos; e n o desenvolvimento d e u m
approach multidisciplinar p a r a resolver problemas. O referido corpo de
conhecimento institucionalista é constituído d e oito itens: ênfase n a evo-
lução social e e c o n ô m i c a c o m o r i e n t a ç ã o explicitamente ativista d a s
instituições sociais, q u e n ã o p o d e m ser tidas c o m o dadas, pois são pro-
d u t o h u m a n o e mutáveis; o controle social e o exercício d a a ç ã o cole-
tiva constituem a e c o n o m i a d e m e r c a d o , q u e é u m "sistema d e contro-
le social" r e p r e s e n t a d o pelas instituições, as quais a c o n f o r m a m e a
fazem operar; ênfase n a tecnologia c o m o força maior n a transforma-
ç ã o d o sistema e c o n ô m i c o ; o d e t e r m i n a n t e último d a a l o c a ç ã o d e re-
cursos n ã o é q u a l q u e r m e c a n i s m o abstrato d e m e r c a d o , m a s as institui-
ções, especialmente as estruturas d e poder, as quais estruturam os mer-
cados, e p a r a as quais os m e r c a d o s d ã o c u m p r i m e n t o ; a "teoria d o
valor" dos institucionalistas n ã o se p r e o c u p a c o m os p r e ç o s relativos
das mercadorias, mas c o m o processo pelo qual os valores se incorpo-
r a m e se projetam nas instituições, estruturas e c o m p o r t a m e n t o s soci-
ais; a c u l t u r a t e m u m p a p e l d u a l n o p r o c e s s o d a " c a u s a ç ã o
cumulativa" ou coevolução, p o r q u e é produto da contínua
i n t e r d e p e n d ê n c i a entre indivíduos e subgrupos; a estrxitura d e p o d e r e
as relações sociais g e r a m u m a estrutura m a r c a d a pela desigualdade e
hierarquia, razão pela qual as instituições t e n d e m a ser pluralistas o u
d e m o c r á t i c a s e m suas orientações''; e os institucionalistas s ã o holísticos,
permitindo o recurso a outras disciplinas, o q u e torna seu objeto d e
estudo e c o n ô m i c o , n e c e s s a r i a m e n t e , multidisciplinar. Estas oito consi-
d e r a ç õ e s precisam, c o m relativa a m p l i t u d e , o c a m p o d e p e s q u i s a
institucionalista. Todas as a b o r d a g e n s , apesar d e diferentes n u a n ç a s ,
aproximam-se d o referido " c o r p o d e c o n h e c i m e n t o " , r e v e l a n d o u m
p o n t o e m c o m u m : a n e g a ç ã o d o funcionamento d a e c o n o m i a c o m o
algo estático, regulado p e l o m e r c a d o n a b u s c a d o equilrl^rio ótimo.
E m b o r a persistam alguns p o n t o s d e s u p l e m e n t a r i d a d e entre o pensa-
m e n t o institucionalista e o neoclassicismo, c o m o o reitera a "nova e c o -
n o m i a institucional", h á a l g u m a n t a g o n i s m o entre a m b o s , explicitando
certa incompatibilidade teórica e metodológica.

' S a m u e l s ( 1 9 9 5 , p . 574) c h a m a a a t e n ç ã o p a r a a l g u n s a s p e c t o s t í p i c o s d a p r e o c u p a ç ã o
institucionalista, c o m o : i m p l i c a ç õ e s d a c o n d u t a d o s indivíduos s o b r e a teoria e c o n ô m i c a ; t o m a d a
d e d e c i s õ e s c o m o " p i o c e s s o n ã o - d e t e r m i n i s t a " e " n ã o - m e c â n i c o " ; diferentes visões, a m b i ç õ e s e
valores d a classe t r a b a l h a d o r a ; e p r e o c u p a ç ã o e m m a n t e r a l g u m a distância d o p o d e r estabeleci-
do.
5 A nova economia institucional e a teoria dos custos de transação

Nos últimos anos, desenvolveu-se n o m e i o a c a d ê m i c o u m g r a n d e


interesse e u m a c o n s e q ü e n t e expansão d e estudos na á r e a q u e ficou
c o n h e c i d a c o m o "nova e c o n o m i a institucional" (NEl). Os principais
autores q u e d e r a m suporte a esta análise foram Ronald Coase e Oliver
Williamson. S e m reivindicar a p a t e r n i d a d e d e tal linha d e pesquisa, os
referidos autores a p o n t a m q u e vários estudos, realizados h á pelo m e -
nos d u a s d é c a d a s , v ê m d a n d o conta desta questão'". Coase é conside-
r a d o o pai desta escola, cujo m a r c o d e referência é seu trabalho semi-
nal d e 1937 (Coase, 1937). A NEI preocupa-se, fijndamentalmente, c o m
aspectos m i c r o e c o n ô m i c o s , c o m ênfase n a teoria d a firma e m u m a
a b o r d a g e m n ã o convencional, mesclada c o m história e c o n ô m i c a , e c o -
n o m i a d o s direitos d e p r o p r i e d a d e , sistemas comparativos, e c o n o m i a
d o trabalho e organização industrial. Todos os autores reunidos enfatizam
u m ou o u t r o destes aspectos. Em linhas gerais, estes estudos preten-
d e m s u p e r a r a microteoria convencional, c e n t r a n d o sua análise nas
" t r a n s a ç õ e s " " . O m a r c o fundamental d a s análises d a NEI os distingue
d e velha t r a d i ç ã o institucionalista dos a n o s 4 0 . A ênfase e m aspectos
m i c r o e c o n ô m i c o s é d e s t a q u e e m suas análises, p o r é m as n o ç õ e s d e
m e r c a d o s e hierarquias (Dosi, 1995; e Williamson, 1995) sofrem pro-
funda redefinição relativamente à a b o r d a g e m neoclássica tradicional.
Tal fato p a r e c e distinguir irreversivelmente os "novos e c o n o m i s t a s
institucionais" d o s neoclássicos, muito e m b o r a eles próprios justifiquem
sua p e r m a n ê n c i a n a referida escola. D e n t r e suas p r e o c u p a ç õ e s estru-
turais, figuram u m a c o m p r e e n s ã o relativamente maior c o m as origens
e funções d a s diversas estruturas d a e m p r e s a e d o m e r c a d o , incorpo-
r a n d o d e s d e p e q u e n o s grupos d e trabalho até "complexas c o r p o r a ç õ e s
m o d e r n a s " . Três hipóteses d e trabalho aglutinam o p e n s a m e n t o da "nova

'° Para W i l l i a m s o n (1991a. p 17), " D e n t r e os e s t u d o s q u e t r a t a m d e forma m a i s direta o u indireta


d a ' n o v a e c o n o m i a institucional' e s t ã o Alchian & D e m s e t z (1972, 1973), A r r o w ( 1969, 1974),
Davis e N o r t h (1971), D o e r i n g e r « Piore (1971), Kornai (1971), N e l s o n & W i n t e r (1973) e W a r d
(1971). A l g u n s esforços a n t e r i o r e s m e u s n e s s e s e n t i d o se c i t a m e m Williamson ( 1 9 7 1 , 1973)."
" Williamson (1991a, p . 17) o b s e r v a q u e "Os p o n t o s c o m u n s q u e v i n c u l a m estes e s m d o s s ã o : 1)
u m c o n s e n s o e v o l u t i v o , e n q u a n t o a m i c r o t e o r i a c o n v e n c i o n a l , t ã o útil e p o d e r o s a p a r a m u i t o s
propósitos, o p e r a e m u m nível d e a b s t r a ç ã o d e m a s i a d a m e n t e alto p a r a permitir q u e muitos fenô-
m e n o s m i c r o e c o n ô m i c o s i m p o r t a n t e s sejam a b o r d a d o s d e m a n e i r a a d e q u a d a ; 2) a p e r c e p ç ã o d e
q u e o e s t u d o d a s ' t r a n s a ç õ e s ' , q u e o c u p o u os institucionalistas d e profissão a t é o s a n o s 40, é, e m
r e a l i d a d e , u m p o n t o f u n d a m e n t a l e m e r e c e a t e n ç ã o r e n o v a d a . O s n o v o s e c o n o m i s t a s institucionais
r e c o r r e m à m i c r o t e o r i a e, e m sua maioria, c o n s i d e r a m o q u e fazem m a i s c o m o u m c o m p l e m e n t o
d o q u e u m substituto d a análise c o n v e n c i o n a l .
economia institucional": e m piimeiro lugar, as transações e os custos a ela
associados definem diferentes m o d o s institucionais d e organização; e m
segundo lugar, a tecnologia, e m b o r a constitua-se e m aspecto fundamen-
tal da organização da firma, n ã o é u m fator determinante d a mesma; e,
em terceiro lugar, as "falhas d e mercado" são centrais à análise (Williamson,
1991a, p . 18). Daí a importância das "hierarquias" n o referido m a r c o
conceituai.
O antigo institucionalista noite-americano J o h n R. C o m m o n s é para
os teóiicos da "economia dos custos d e transação" u m d e seus fundado-
r e s ' 2 . A o fundar a t r a d i ç ã o institucionalista até hoje m u i t o viva e m
Wisconsin, tratou d e explorar aspectos novos e inventou u m a linguagem
"quase-judidal", cuja unidade última d e investigação econômica era a
transação. Além disso, via o conflito c o m o algo "natural", face à existência
p e r m a n e n t e d e "escassez" n a vida econômica. Por esta razão, as institui-
ções, a o se constituírem em mecanismos d e a ç ã o coletiva, teriam o fim d e
dar "ordem" a o conflito e a u m e n t a r a eficiência'-*.
Ronald Coase, e m seu aitigo clássico d e 1937, c o m e ç a a estudar a
empresa sob u m enfoque alternativo ao convencional. S e g u n d o ele, os
estudos, até então existentes, sobre as empresas e os m e r c a d o s preocupa-
vam-se n ã o e m estabelecer princípios fundamentais d e análise - fato q u e
ele procurou realizar -, mas e m elaborar análises, d e maneira arbitrária,
sem quaisquer conteúdos teóricos mais profundos. Seu artigo trata d e dois
pontos fiindamentais: primeiro, n ã o é a tecnologia, m a s as transações e
seus respectivos custos, q u e constituem o objeto central da análise; e, se-
gundo, a incerteza e, d e maneira implícita, a racionalidade limitada são
elementos-chave na análise dos custos d e transação (1937, p . 336-7). Em
Coase, a empresa teria c o m o função economizar os custos d e transação,
o q u e se realizaria d e duas maneiras: através d o mecanismo d e preços,
q u e possibilitaria à empresa escolher- os mais a d e q u a d o s e m suas transa-
ções c o m o m e r c a d o , gerando "economia d e custos d e transação"; se-
gundo, substituindo u m contrato incompleto por vários contratos com-
pletos, u m a vez q u e seria d e se supor q u e contratos incompletos elevari-
a m custos d e negociação e c o n c e r t a ç ã o .

Geoffrey H o d g s o n ( i g g S a ) q u e s t i o n a esta " p a t e r n i d a d e " , a n i m a n d o q u e q u e m p r i m e i r o utilizou


o t e r m o custo d e t r a n s a ç ã o n ã o foi C o m m o n s , n e m Coase, m a s Veblen e m texto d e 1904.
" Para C o m m o n s , a principal c o n t r i b u i ç ã o d a e c o n o m i a institucional e r a a e x p l i c a ç ã o d a impor-
t â n c i a d a a ç ã o coletiva, cujo g r a u d e c o o p e r a ç ã o exigido p a r a se lograr eficiência surgia n ã o d e
u m a p r e s s u p o s t a h a r m o n i a d e interesses, m a s d a i n v e n ç ã o d e instituições, q u e c o l o c a r i a m o r d e m
n o conflito, e n t e n d e n d o - a c o m o " n o r m a s funcionais d e a ç ã o coletiva, o n d e a lei é u m c a s o e s p e -
cial" ( C o m m o n s , 1934, apud Williamson, 1991a, p . 19).
Williamson, a o c o m e n t a r a contribuição seminal d e Coase, salien-
ta q u e o a u t o r n ã o a b o r d a c o m a devida profundidade os aspectos
internos da organização, m a s supera analiticamente a ênfase n o papel
d o m e r c a d o , u m notável a v a n ç o p a r a a é p o c a . Entretanto, observe-se
q u e o conceito d e custos d e t r a n s a ç ã o está i n t i m a m e n t e associado à
racionalidade limitada e a o oportunismo, a m b o s inerentes à organiza-
ç ã o e c o n ô m i c a . C o m o conseqüência, surgem as "falhas d e mercado"''',
q u e complexificam a análise e c o n ô m i c a e justificam a própria existên-
cia d a "nova e c o n o m i a institucional". Portanto, a ênfase nos aspectos
internos da firma, as n o ç õ e s d e "mercados" e "hierarquias", j u n t a m e n -
te c o m a p r e s e n ç a d e "falhas d e m e r c a d o " , constituem o c a m p o d e
análise d a Nova E c o n o m i a Institucional.
S e g u n d o Williamson (1991a) t e m a u m e n t a d o , d e s d e o pós-guer-
ra, a literatura q u e trata desses conceitos - d e s t a c a n d o - s e os trabalhos
d e A r r o w (1971), Samuelson (1954), Hurwicz (1972), M e a d e (1971)
o n d e a questão d e m e r c a d o s e hierarquias t e m sido tratada d e m a n e i r a
diferente d a sua. Há nestes estudos u m a natureza interdisciplinar, pois
incorpora-se tanto as "teoria d a s organizações", c o m o o " h o m e m ad-
ministrativo" d e S i m o n (1957), até " c o m p o r t a m e n t o s estratégicos"
(Goffinan, 1969; e Schelling, I960). Williamson se diferencia p o r centrar
sua análise n a "racionalidade limitada", aliada a o "oportunismo" e às
"falhas d e m e r c a d o " , s e n d o esta última u m p r o d u t o n ã o d a incerteza,
m a s d a r e u n i ã o d o s dois primeiros. Sua a b o r d a g e m t a m b é m difere d o
tradicional p a r a d i g m a "estrutura-conduta-desempenho", tão e m m o d a
nos estudos d e organização industrial dos últimos 40 anos, e m q u e a
e m p r e s a a s s u m e u m c o m p o r t a m e n t o (passivo) maximizador d e utilida-
des, descuidando-se d a organização interna. O "exterior" é visto e m
termos d e m e d i d a s d e m e r c a d o , c o m o c o n c e n t r a ç ã o , barreiras à en-
trada, d e m a n d a excessiva, etc. A distribuição d e transações entre a
e m p r e s a e o m e r c a d o , p o n t o fundamental p a r a a NEI, é considerada
c o m o d a d a , e, portanto, exógena a o m o d e l o n a s u p e r a d a tradição.
As transações são fijndamentais a o c o m p o r t a m e n t o das empresas,
c o m o que, e m t e r m o s d e reflexão, c o n c o r d a m integralmente as análi-
ses realizadas p o r Coase (1972, p.62-6 apud, Williamson, 1991b). As
transações afetam a forma d e organização interna d a s empresas e, c o m

" Williamson (1991a, p . 21) d i s c o r d a d e Hayek, q u e t e m n o s p r e ç o s "estatísticas suficientes" c a p a -


zes d e transformar o m e r c a d o e m a g e n t e d a ordem econômica racional, u m a vez q u e a r a c i o n a l i d a d e
limitada, a i n c e r t e z a e o c o n h e c i m e n t o idiossincrático os s u b s t i t u e m p e l a o r g a n i z a ç ã o i n t e r n a d a
firma (hierarquia).
isso, influem e m sua estrutura hierárquica, b e m c o m o n a forma e m
q u e as a t i v i d a d e s e c o n ô m i c a s i n t e r n a s se d e c o m p õ e m e m p a r t e s
o p e r a t i v a s . D e s t a forma, e s t a b e l e c e - s e a fusão e n t r e a e s t r u t u r a
organizacional interna c o m a estiittura d e m e r c a d o , o q u e permite ex-
plicar a c o n d u t a e o d e s e m p e n h o nos m e r c a d o s industriais e as subdi-
visões derivadas'5.
Esta afirmativa e s t a b e l e c e i m p o r t a n t e elo c o m o p e n s a m e n t o
institucionalista. F o r n e c e u m a visão institucional, delineada a partir d o
c o m p o r t a m e n t o organizacional e centralizada nos custos d e t r a n s a ç ã o .
C o m o t o d o o e s q u e m a d e funcionamento da organização e c o n ô m i c a
se baseia n a "transação", q u e é seu objetivo central, deriva-se daí a
seguinte proposição básica: assim c o m o a estiirtura d e m e r c a d o é im-
p o r t a n t e p a r a avaliar a eficácia d o c o m é r c i o e m atividades mercantis,
a estrutura interna é títil p a r a avaliar a organização interna. Portanto,
"fatores ambientais" conjugam-se c o m "fatores h u m a n o s " para, d e n t r o
d o e n f o q u e d e m e r c a d o s e hierarquias, explicar q u ã o custoso é elabo-
rar u m contrato, colocá-lo e m e x e c u ç ã o e fazer respeitar suas c o m p l e -
xas condições. Tais dificuldades, aliadas a o risco d e se enfrentar contra-
tos incompletos, sob diversas c o n d i ç õ e s n ã o previsíveis, p o d e m fazer
c o m q u e a empresa d e c i d a evitar o m e r c a d o e recorrer a m o d e l o s hie-
rárquicos d e organização. Estabelece-se, desta forma, a c o n e x ã o e n t r e
os três c o n c e i t o s f u n d a m e n t a i s d a " n o v a e c o n o m i a institucional":
r a c i o n a l i d a d e limitada, o p o r t u n i s m o e custos d e transação. O inter-re-
l a c i o n a m e n t o entre eles se manifesta d a seguinte forma: racionalidade
limitada e oportunismo são hipóteses d e c o m p o r t a m e n t o , q u e justifi-
c a m a existência d e custos d e t r a n s a ç ã o .
Zysman (1994, p . 274), e m u m a crítica à NEI, afirma q u e Williamson
constrói u m a m i c r o e c o n o m i a organizacional (da análise d o custo d e
t r a n s a ç ã o ) c o l o c a n d o os agentes, n o caso indivíduos, b u s c a n d o arran-
jar suas transações n a m a n e i r a mais eficiente. Nesta n o ç ã o está implíci-
to q u e a tánica razão pela qual as n a ç õ e s industrializadas a v a n ç a d a s
t ê m sistemas e c o n ô m i c o s d e m e r c a d o , c o m firmas d e mais d e u m a
pessoa, é p a r a reduzir os altos custos d e transação, q u e são criados p o r

'5 N e s s e s e n t i d o , salienta Williamson (1991a, p . 24) q u e "seria p r o v e i t o s o p r e s t a r a t e n ç ã o à o r g a n i -


z a ç ã o i n t e r n a p a r a se e s t u d a r a c o n d u t a e o d e s e m p e n h o d a s o r g a n i z a ç õ e s d e q u a s e - m e r c a d o e
d a s q u e n ã o c o n c o r r e m e m u m m e r c a d o (as n ã o - l u c r a t i v a s , c o m o hospitais, u n i v e r s i d a d e s , funda-
ç õ e s , e t c . e as e m p r e s a s g o v e r n a m e n t a i s ) . S e g u n d o a o p i n i ã o geral, o p a r a d i g m a c o n v e n c i o n a l
t e m p o u c a utilidade p a r a avaliar este tipo d e o r g a n i z a ç ã o . A análise d a o r g a n i z a ç ã o i n t e r n a p r o -
m e t e t e r u m a m a i o r a p l i c a ç ã o p a r a o e s t u d o d a s instituições q u e n ã o p e r t e n c e m a u m m e r c a d o " .
três forças: especificidade d o s ativos, r a c i o n a ü d a d e fimitada e opor-
t u n i s m o . Assim, o p r o b l e m a d a g e r a ç ã o d a a ç ã o c o l e d v a e d a
e s t r u t u r a ç ã o d e a r r a n j o s c o n t r a t u a i s a p r o p r i a d o s p a r a minimizar
custos d e t r a n s a ç ã o s ã o expressivos e l e m e n t o s q u e o r i e n t a m o c o m -
p o r t a m e n t o e d e f i n e m a s instituições.

5.1 O princípio da 'Vacionalidade limitada"

R a c i o n a l i d a d e limitada é u m p r i n c í p i o d e f i n i d o p o r H e r b e r t
Simon, a partir d o r e c o n h e c i m e n t o d o fimite d a c a p a c i d a d e d a m e n t e
h u m a n a e m lidar c o m a f o r m u l a ç ã o e r e s o l u ç ã o d e p r o b l e m a s c o m -
plexos face à r e a l i d a d e . Em função d e limites, tanto
"neurofisiológicos", q u a n t o d e l i n g u a g e m , t o r n a - s e p o r d e m a i s o n e -
rosa a a d a p t a ç ã o às sucessivas e v e n t u a l i d a d e s futuras n ã o previsí-
veis. Por essa r a z ã o , os c o n t r a t o s d e l o n g o p r a z o p r e c i s a m se a n t e c i -
p a r a eles p o r m e i o d a o r g a n i z a ç ã o i n t e r n a , tal q u e p e r m i t a à firma
a d a p t a r - s e às i n c e r t e z a s , m e d i a n t e p r o c e s s o s a d m i n i s t r a t i v o s d e for-
m a s e q ü e n c i a l . Assim, a o invés d e a n t e c i p a r t o d a s as c i r c u n s t â n c i a s
possíveis ( c o n t r a t o c o m p l e t o ) , a p r ó p r i a o r g a n i z a ç ã o i n t e r n a e c o -
n o m i z a os a t r i b u t o s d e r a c i o n a l i d a d e limitada, t o m a n d o d e c i s õ e s
e m c i r c u n s t â n c i a s n a s q u a i s os p r e ç o s d e i x a m d e ser "estatísdcas
suficientes" e a i n c e r t e z a a s s u m e a d e v i d a i m p o r t â n c i a .
Esse a r g u m e n t o explicita q u e as h i p ó t e s e s d e c o m p o r t a m e n t o
d a " n o v a e c o n o m i a institucional" s ã o descritas e m t e r m o s mais rea-
listas, q u e as utilizadas n a análise e c o n ô m i c a tradicional. Williamson
afirma q u e m u i t o s e s t u d i o s o s outsiders, e s p e c i a l m e n t e físicos, t ê m
insisddo q u e é c a d a vez m a i s n e c e s s á r i o c o m p r e e n d e r as a ç õ e s d o s
a g e n t e s h t t m a n o s e m t e r m o s d o a u t o - c o n h e c i m e n t o d e c o m o fun-
c i o n a a m e n t e d o s h o m e n s , c o m q u e c o n c o r d a Simon'^. P o r t a n t o ,
p a r a a " n o v a e c o n o m i a insdtucional" o p r o c e s s o d e c o g n i ç ã o hu-
m a n a está sujeito à racionalidade limitada, definida c o m o " c o m p o r -
t a m e n t o q u e é i n t e n c i o n a l m e n t e racional, m a s a p e n a s l i m i t a d a m e n t e
assim" (WiUiamson, 1991b, p . 114).

S e g u n d o S i m o n (1985, p . 3 0 3 ; apud Williamson, 1991b, p . l 14), " N a d a é m a i s f u n d a m e n t a l e m


n o s s a a g e n d a d e p e s q u i s a q u e n o s s a visão d a n a t u r e z a d o s seres h u m a n o s cujo c o m p o r t a m e n t o
e s t a m o s e s t u d a n d o . Faz m u i t a d i f e r e n ç a p a r a nossa estratégia d e p e s q u i s a e s t u d a r a p r o x i m i d a d e
d o Homo economicus o m n i s c i e n t e d a teoria d a escolha racional o u a r a c i o n a l i d a d e limitada d o
Homo psychologicus d a s instituições cognitivas."
5.2 A hipófese de comportamento oportunista

O q u e Simon vê c o m o " d e p r a v a ç ã o " n o c o m p o r t a m e n t o das pes-


soas - q u e se manifesta na fraqueza da própria razão -, a e c o n o m i a dos
custos d e t r a n s a ç ã o c h a m a d e "oportunismo". Ele consiste n a "busca
d o auto-interesse c o m astucia". O c o m p o r t a m e n t o oportunista é exer-
cido sob três formas: o manifesto, o sutil e o natural. N o primeiro, o
c o m p o r t a m e n t o é s e m e l h a n t e a o d o Príncipe d e Nicolau Maquiavel:
s a b e n d o q u e os agentes e c o n ô m i c o s c o m q u e m tratava e r a m oportu-
nistas, foi a l e r t a d o a se engajar n a recíproca, r o m p e n d o contratos c o m
i m p u n i d a d e , s e m p r e q u e arbitrasse q u e as razões q u e m a n t i n h a m o
vínculo d e obrigações n ã o mais existiam. N o sutil, o c o r r e o c o m p o r t a -
m e n t o estratégico, descrito n a forma d e buscar o u perseguir o auto-
interesse c o m sutileza ou astucia. Na forma natural d e oportunismo, o
sistema é t r a t a d o d e m a n e i r a marginal e as decisões são t o m a d a s visan-
d o a auto-interesses corporativos.
R e l a c i o n a n d o oportunismo c o m a organização interna d a firma,
observa-se q u e ele se manifesta através d e falta d e sinceridade e h o -
nestidade n a s transações. Nos casos e m q u e h á relações d e intercâm-
bio a l t a m e n t e competitivas, as t e n d ê n c i a s oportunistas a p r e s e n t a m
p o u c o risco; e m outros casos, muitas transações, q u e , n o início, envol-
viam licitadores qualificados, transformam-se, a o longo d o processo d e
e x e c u ç ã o d o c o n t r a t o - e antes d e sua respectiva r e n o v a ç ã o - , e m cus-
tosas e arriscadas, q u a n d o se u n e o o p o r t u n i s m o (Wiüiamson, 1991a,
p. 26). A c o m b i n a ç ã o d e racionalidade limitada e incerteza, adiciona-
da, e m s e g u n d a instância, pelo oportunismo s o m a d o às idiossincrasias,
originam a "organização interna" d a firma. Portanto, a " e c o n o m i a dos
custos d e t r a n s a ç ã o " e a organização industrial definem o a m b i e n t e
institucional - e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , as instituições -, q u e orienta o pro-
cesso d e t o m a d a d e decisões, e m u m m e i o p e r m e a d o p o r incerteza,
r a c i o n a l i d a d e limitada e o p o r t u n i s m o ' c o m vistas à r e d u ç ã o dos cus-
tos d e t r a n s a ç ã o .

" Há u m a v a r i e d a d e d e e s w d o s que tratam do "oportunismo", m a s cada u m seguindo seu próprio


interesse, d o n d e a s c o n s e q ü ê n c i a s p a r a o c a m p o d a m i c r o e c o n o m i a s ã o expressas d e m o d o in-
c o m p l e t o , p r i n c i p a l m e n t e n o s m o d e l o s c o n v e n c i o n a i s . S e g u n d o Williamson (1991a, p . 23), os
m o d e l o s e c o n ô m i c o s standard t r a t a m o s i n d i v í d u o s c o m o s e j o g a s s e m u m j o g o c o m r e g r a s
e s t a b e l e c i d a s e o b e d e c i d a s E m b o r a este tipo d e c o m p o r t a m e n t o n ã o seja a d m i t i d o n a s suposi-
ções convencionais, o oportunismo assume u m a variedade d e formas e tem papel central e m sua
análise d e m e r c a d o s e h i e r a r q u i a s .
5.3 O conceito de custos de transação

Williamson observa q u e o p r o g r a m a d e pesquisa e m "custos d e


transação" está integrado a o c a m p o da e c o n o m i a d a organização. En-
tretanto, a pesquisa e m "organização e c o n ô m i c a " apresenta g r a n d e s
"rivalidades teóricas", q u e p o d e m ser a g r u p a d a s e m seis linhas d e in-
terpretações alternativas - que, obviamente, n e m sempre são
excludentes. As mais antigas rivalidades são entre as q u e enfatizam as
organizações c o m o resultantes d e fatores explicados p o r (i) tecnologia,
(ii) monopolização, e (iii) eficiente enfrentamento a o risco. As mais re-
c e n t e s são as q u e enfatizam (iv) trocas contestáveis entre capital e tra-
balho, (v) outros tipos d e a r g u m e n t o s d e p o d e r (e.g. d e p e n d ê n c i a d e
recursos), e (vi) path-dependency.
C o m o n o r m a l m e n t e a c o n t e c e c o m conceitos centrais c o m o o d e
custos d e transação, há u m a t e n d ê n c i a e m torná-lo tautológico, já q u e ,
a o p r o c u r a r explicar t u d o , a c a b a n ã o explicando n a d a . A t r a d i ç ã o
institucionalista seguidora d e Coase v ê os custos d e t r a n s a ç ã o , geral-
m e n t e m e n o s perceptíveis e d e m e n o r facilidade d e identificação d o
q u e os custos d e p r o d u ç ã o , c o m o importante fator d e t o m a d a d e deci-
s ã o das empresas. É comiam afirmar-se q u e os custos totais s ã o com-
postos d e dois elementos: custos d e p r o d u ç ã o , d e u m lado, e custos d e
transação, d e outro. As análises convencionais centram-se a p e n a s nos
primeiros, d e s c o n s i d e r a n d o os liltimos, já q u e são formados e m ambi-
entes institucionais variados e h e t e r o g ê n e o s . Isto revela a importância
d a s questões levantadas p o r Coase (tais c o m o : p o r q u e a firma existe?;
p o r q u e as organizações i m p o r t a m ? ; se os m e r c a d o s fossem t ã o eficien-
tes, teria sentido h a v e r instituições e/ou organizações?). A resposta a
estas questões envolve o fato d e q u e "a o p e r a ç ã o d e u m m e r c a d o cus-
ta algtima coisa" (Coase, 1937, p . 40), o q u e justifica, complexifica e
amplia o contetrdo analítico d a "nova e c o n o m i a institucional".
É c o m u m surgir na literatura a "ficção" d e u m custo d e transação
zero, c o m o u m a situação ideal a ser perseguida n a atividade econômica.
Entretanto, o sistema n ã o c o m p o r t a esta possibilidade e está irremediavel-
m e n t e sujeito à incidência d e custos d e transação positivos. O ftindamen-
tal n ã o é discutir a existência destes fatores, mas sim d e estabelecer c o m o
e por q u e os custos d e transação variam conforme os diferentes m o d o s d e
organização. Sob essa perspectiva, a economia dos custos d e transação
leva e m conta as seguintes características: a transação é a u n i d a d e básica
d e análise; as transações diferem devido à frequência, à incerteza e, es-
p e c i a l m e n t e , à especificidade d o s ativos; c a d a forma g e n é r i c a d e
governança (mercado, híbrido, agência piivada, ou agência pública) é
definida por u m a síndrome d e atributos, e m q u e cada u m revela discretas
diferenças estruturais, tanto d e custo, quanto d e concorrência; cada for-
m a genética d e governança é sustentada por u m a maneira distinta d e
contrato legal; as transações, q u e diferem e m seus atributos, estão alinha-
das conforme as estruturas d e governança, q u e t a m b é m diferem e m cus-
tos e competências; o meio ambiente institucional (instituições políticas e
legais, leis, costumes, normas) é o locus da m u d a n ç a d e parâmetros, q u e
provocam alterações nos custos d e governança; e a economia dos custos
d e transação, sempre e e m qualquer lugar, é u m exercício d e "análise
comparativa institucional", e m q u e as comparações relevantes são entre
a l t e r n a t i v a s factíveis, r a z ã o p e l a q u a l i d é i a s h i p o t é t i c a s s ã o
operacionalmente inelevantes (Williamson, 1995, p . 27).
A racionalidade limitada e o oportunismo geram custos d e transa-
ção, q u e obrigam as firmas a se reorganizar para enfientá-los. Esta reorga-
nização ocorte sob três formas - m e r c a d o , hierarquias ou híbridas -, que,
interativamente, definem diferentes "ambientes institucionais", os quais,
por sua vez, interagem reversivamente c o m estas fiimas. As instituições d e
govemança - representadas por contratos inteifirmas, corporações, bureaiis,
e m p r e s a s não-lucrativas, etc. - s ã o sustentadas pelo m e i o a m b i e n t e
institucional, o n d e se situam os indivíduos.
Alguns conceitos derivados da Economia dos Custos d e Transação,
talvez devido ao demasiado entusiasmo d e seus discípulos, têm extrapolado
os limites analíticos estritamente econômicos. Fala-se inclusive e m u m a
"nova sociologia econômica", oriunda d e estudos n a área d e teoria das
organizações. Caracteristicamente a NEI, desde seus primeiros trabalhos,
preocupa-se c o m a natureza e o papel das hierarquias (Coase, 1937,
Williamson 1971 e 1975, Alchian a n d Demsetz, 1972), pois, assim c o m o os
mercados, baseiam-se e m custos, q u e revelam profiandas diferenças d e
u m local para outro. Isto explica por q u e os mercados, as hierarquias (ba-
seadas e m formas diversas d e organização) e as burocracias"* assumem
formas específicas. Vale dizer, c o m o u m a e s t r u t u r a h i e r á r q u i c a par-

As b u r o c r a c i a s a s s u m e m i m p o r t â n c i a f u n d a m e n t a l , e m b o r a sejam p o u c o e s t u d a d a s . A o s e c o m -
p a r a r e s t u d o s d e falhas d a b u r o c r a c i a c o m e s t u d o s s o b r e falhas d e m e r c a d o h á u m a b i s m o a i n d a
maior. U m a d a s tarefas d a e c o n o m i a d o s c u s t o s d e t r a n s a ç ã o é criar s u p o r t e analítico e m t e r m o s
c o m p a r a t i v o s às deficiências n a b u r o c r a c i a (Williamson, 1993, p . 119). U m a d a s d e r i v a ç õ e s d e s t a
tarefa seria, p o r e x e m p l o , r e i n t e r p r e t a r a falência d o m o d e l o soviético e d o dito "socialismo d e
Estado", tarefa, aliás, h e r c ú l e a s o b q u a l q u e r p o n t o d e vista, m a s factível. S e g u n d o ele, socialismo
e capitalismo p o d e m ser c o m p a r a d o s t a n t o d o p o n t o d e vista "discreto estrutural" ( b u r o c r a c i a s )
q u a n t o d a "análise m a r g i n a l " ( a l o c a ç ã o d e r e c u r s o s ) .
ticular é b a s e a d a e m custos, t e m - s e q u e , d e n t r e t o d a s as formas
factíveis d e o r g a n i z a ç ã o , dificilmente se e n c o n t r a r ã o custos idênti-
c o s ( W i l l i a m s o n , 1 9 9 3 , p . 1 1 9 ) . Esta d i m e n s ã o d o a m b i e n t e
institucional d e l i n e i a diferentes formas d e " o r g a n i z a ç ã o capitalista".
Tais c a r a c t e r í s t i c a s explicam as diferentes formas d e g e s t ã o . D e -
s i g n a n d o d e "valor a d i c i o n a d o " à Teoria d a s O r g a n i z a ç õ e s os c o n -
ceitos de oligarquia, burocracias, a d a p t a ç ã o , política, e
embeddedness and network, Williamson analisa seus efeitos s o b r e a
c o n f o r m a ç ã o institucional. Tal é o c a s o d a s b u r o c r a c i a s , q u e exer-
c e m forte influência n a s formas d e g e s t ã o , m a s q u e t a m b é m dife-
r e m p r o f u n d a m e n t e . E diferem p o r q u e s ã o c o n f o r m a d a s politica-
m e n t e ' ' ' . A visão d o s a u t o r e s d a NEI s o b r e política é b a s t a n t e dife-
r e n t e d a n o ç ã o d o s antigos institucionalistas, pois, n e s s e s tíltimos, o
conflito, e n ã o a b u s c a d e eficiência e r a c i o n a l i d a d e , é o e l e m e n t o
c e n t r a l d a análise. E m a m b o s , e n t r e t a n t o , h á p r o f u n d a s diferenças
d e a m b i e n t e s institucionais d e u m l u g a r a o u t r o , n ã o s e n d o d e s p r e -
zível a influência d o s a s p e c t o s "culturais" s o b r e as m e s m a s . C i t a n d o
Granovetter, observa q u e a e c o n o m i a dos custos d e transação e
embeddedness s ã o c o m p l e m e n t a r e s e m m u i t o s a s p e c t o s , e m b o r a ele
próprio julgue conveniente maiores aprofundamentos teóricos
(Williamson, 1995, p . 22).
A crítica m a i s c o n t u n d e n t e à análise d e Williamson é c o m p a r a r
f o r m a s d i f e r e n c i a d a s d e o r g a n i z a ç ã o "capitalista", s e m t e r p r o p r i a -
m e n t e u m a definição d o t e r m o "capitalismo" (Pitelis, 1998). O u t r a
crítica é d e r i v a d a d o u s o d o c o n c e i t o d e " p o d e r " , q u e , se n a s d e -
m a i s a b o r d a g e n s institucionalistas ( c o m o e m Veblen e C o m m o n s )
a s s u m e u m a c o n o t a ç ã o política c o m i m p o r t a n t e s e decisivos d e s -
d o b r a m e n t o s sociais e institucionais, n a NEI é t r a t a d o d e m a n e i r a
restrita à ótica d a firma, m a n i f e s t a n d o - s e c o m o u m a r e l a ç ã o d e su-
p e r i o r i d a d e e c o n ô m i c a . Isto leva Williamson a afirmar q u e a n o ç ã o
d e " p o d e r " t e m p o u c o a c o n t r i b u i r a o e s t u d o d o s c o n t r a t o s e orga-
n i z a ç õ e s , s e n d o sua i m p o r t â n c i a analítica p o u c o expressiva, o q u e
o b v i a m e n t e n ã o é o b j e t o d e c o n c o r d â n c i a c o m as d e m a i s a b o r d a -
g e n s institucionalistas.

" W i l l i a m s o n (1993, p . 120) distingue, e m t e r m o s "políticos", g e s t ã o p ú b l i c a d e gestão p r i v a d a ,


p o i s o s c o m p r o m i s s o s s ã o diferentes. As ineficiências p r i v a d a s s ã o c h e c a d a s p e l a c o m p e t i ç ã o e
s ã o m a i s f a c i l m e n t e removíveis q u e as o c o r r i d a s n a g e s t ã o pública.
6 Considerações finais

Este p o n t o r e m e t e a u m a inevitável q u e s t ã o : s ã o os "novos"


institucionalistas novos o u velhos? É inegável o a v a n ç o teórico propici-
a d o pela contribuição d o s "novos e c o n o m i s t a s insdtuclonals", q u e ,
m e s m o s e m q u a l q u e r m p t u r a c o m os princípios d a ortodoxia, incorpo-
ra conceitos centrais q u e justificam a inexistência d e situações d e óti-
mo-paretíano. Alguns críticos d a NEI n e g a m seu caráter institucionalista,
p o r rejeitar alguns d o s preceitos ílindamentais d e Veblen, c o m o a críti-
ca a o neoclassicismo. W a r r e n Samuels (1995, p . 578) os vincula a o
neoclassicismo, c o m m e n o r formalização, e sublinha os a v a n ç o s e m
relação à a b o r d a g e m tradicional, principalmente n o c a m p o d a teoria
d a firma, oriundos d a contribuição d e Douglass North^". Esta observa-
ç ã o reafirma q u e as escolas institucionalistas, q u e r d e influência orto-
doxa, q u e r heterodoxa, t ê m decisivas contribuições a o p e n s a m e n t o q u e
m i n i m a m e n t e s e p o s t u l e e n q u a n t o tal, e m q u e n e m o " v e l h o "
institucionalismo, n e m o "novo" são auto-subsistentes, pois
heurísticamente a b r e m u m valioso c a m p o d e pesquisa, b a s e a d o e m
suas respectivas interações.
O q u e se p r o c u r o u d e m o n s t r a r é q u e os autores analisados e suas
r e s p e c t i v a s c o r r e n t e s v ê m p e r m i r i n d o a visualização, d e m a n e i r a
incipiente, d e u m a teoria dinâmica das instituições, e m u m nível ainda
apreciativo. Entretanto, tal tarefa n ã o se p o d e realizar sob a tutela d e
u m a única a b o r d a g e m , m a s c o m a confluência d a s contribuições aqui
discutidas. Desta c o n j u g a ç ã o d e abordagens, tem-se a riqueza e com-
plexidade d o p e n s a m e n t o institucionalista, q u e n ã o p o d e se p r e t e n d e r
prisioneiro d e u m a única visão.

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S e g u n d o S a m u e l s (1995, p . 578), u m a refomnulação d o instimcionalismo n e s s e s e n t i d o t e m


a c e i t o substantivas c o n t r i b u i ç õ e s d e t o d o s o s g m p o s e escolas. Por e x e m p l o , a p r o p ó s i t o d a ênfase
institucionalista n o h i a t o cultural e n a n e c e s s i d a d e d e a c o m o d a r s e l e t i v a m e n t e a f o r m a ç ã o d o
capital físico (tecnologia) c o m a f o r m a ç ã o d e capital h u m a n o .
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