A etapa de fabricação tem uma importância particular: com efeito, 5% do tempo destinado à
execução de uma peça são ocupados em operações de máquina e os 95% restantes são gastos em
movimentação e filas de espera. Destes 95%, apenas 30% são reservados à usinagem propriamente
dita na qual ela é realmente processada, uma vez que a preparação das máquinas e outras tarefas
consomem a maior parte do tempo. A manufatura celular atua justamente no tempo de espera ou
movimentação da peça (BLACK, 1998).
1 Benefícios
Em um sistema de produção organizado em células, a administração torna-se mais simples e
eficiente, decorrência da decomposição do sistema global de produção em subsistemas de menor
dimensão.
As principais vantagens da manufatura celular são:
Menor ciclo de fabricação,
Redução em transporte e movimentação;
Redução dos tempos de setup (ajuste de máquina);
Redução de lead time e tempo de espera;
Menor número de operadores;
Fluxos de fabricação e de materiais simplificados;
Simplificação dos sistemas de controle;
Melhora de comunicação entre os trabalhadores;
Redução de refugos e retrabalhos;
Redução da quantidade de ferramentas;
Redução dos estoques de produtos semi-acabados;
Diminuição do espaço físico ocupado;
Melhoria da motivação dos operadores;
Menores custos;
Melhoria da qualidade;
Aumento da produtividade.
Para se obter o máximo rendimento das células de manufatura, é necessário que os operadores
estejam preparados para desenvolver um novo conjunto de competências, eles necessitam
compreender um escopo mais amplo de procedimentos de trabalho, bem como estar capacitado a
desempenhar múltiplas tarefas dentro do grupo. Além disto, todos necessitam trabalhar em equipe,
resolver e encaminhar os problemas rapidamente e ter autonomia para operar dentro dos grupos
sem muita supervisão. Isto exige um processo de treinamento dos operadores mais intenso,
entretanto, após a implantação o sistema será mais flexível para responder às mudanças de
programação.
2 Etapas
O processo de conversão de um dado sistema de produção para o sistema de manufatura celular
pode ser dividido nas seguintes etapas:
Formação: refere-se à criação conceitual das células, a qual é feita através da análise da
matriz máquina-peça, e a subseqüente divisão em famílias de peças, cuja similaridade
permite produção das mesmas em grupos de máquinas;
Desenho da célula: refere-se à determinação dos parâmetros operacionais da célula,
incluindo, entre outros, tamanho do lote, números de operadores e layout da célula;
Implementação: refere-se ao processo de colocar em operação as modificações sugeridas
durante o processo de formação de células;
Operação: refere-se ao funcionamento diário das células.
A seguir, explica-se como é feita a classificação por layout e quantidade de equipamentos, em vista de
serem as mais conhecidas e utilizadas.
a) Classificação em função do layout:
Identificam-se quatro tipos de Célula de Manufatura, os quais foram classificados analogamente aos
tipos clássicos de layout:
Por produto com predominância da máquina;
Por produto com predominância do homem;
Por processo;
Por posição fixa do produto.
Célula de Manufatura por produto com predominância do homem: É semelhante à anterior, onde os
postos de serviços são dispostos na seqüência das etapas do processo de fabricação de um produto
ou família de produtos, de forma a completar pelo menos parte da fabricação de uma peça ou
produto numa área restrita. A única diferença é o predomínio do trabalho humano. Normalmente a
produtividade da célula individual, na qual possui apenas um operador, é superior a de uma célula
grupal, onde vários trabalham, entretanto exige operador funcional. Serve como exemplo o
acabamento de peças fundidas pela execução seqüencial de três operações: rebarbação, lixação e
esmerilhação realizadas por três operários ou por um operário multifuncional.
Célula de Manufatura por posição fixa do produto: É caracterizada pelo agrupamento de operários
que trabalham em volta de um produto colocado numa posição fixa. É o modelo implantado pela
Saab-Scania numa fábrica de motores na Suécia, onde um grupo de três operários monta um motor
colocado sobre uma bancada em meia hora. Também denominado grupo semi-autônomo. O objetivo
desta célula é oferecer ao trabalhador algo mais do que seu salário: ambiente de trabalho mais
adequado, maior responsabilidade sobre a qualidade e um envolvimento ativo nos processos de
decisão. A sua implantação não é fácil, pois exige operários multifuncionais, só alcançáveis após longo
período de treinamento. Como este tipo de célula foi implantado e desenvolvido pioneiramente na
Suécia, pode se denominado célula sueca ou escandinava, ou, seguindo a tradição do layout, por
célula posicional.
Células de uma máquina: As células de uma máquina (Single Machine Cell) são compostas por
apenas um equipamento mais o ferramental e dispositivos necessários para o seu funcionamento.
Geralmente os componentes que compõe o produto final são fornecidos externamente e apenas
passa por um processamento.
Células de máquinas agrupadas e transporte manual: As células de máquinas agrupadas e
transporte manual correspondem às células compostas por várias máquinas capazes de processar
componentes e produtos completos, sem possuir mecanismos automáticos de manuseio e transporte
destas partes entre os equipamentos. A disposição em forma de “U” permite que o fluxo de materiais
percorra a célula sempre no mesmo sentido, e a entrada e saída de material aconteça na mesma
ponta, facilitando também a movimentação entre os operadores dentro das células.
Células de máquinas agrupadas e transporte semi-integrado :
As células de máquinas agrupadas e transporte semi-integrado diferem dos outros tipos de células
porque são providas de algum sistema automático de transporte entre as máquinas. Quando as peças
processadas têm um roteiro de produção semelhante pode-se utilizar um layout em linha com um
sistema de transporte retilíneo passando por todas as máquinas. Quando as peças processadas têm
roteiros de produção diferentes se utiliza o layout em forma de “loop” possibilitando que cada peça
possa ter uma seqüência de trabalho diferente. Nos dois casos, se faz necessário que os roteiros de
produção sejam realmente semelhantes, a fim de evitar uma movimentação excessiva de peças entre
os equipamentos.
5. Conclusão
A evolução do mercado de manufatura tem passado por radicais modificações nos últimos tempos.
As teorias de administração e organização para fabricação que vieram com a revolução industrial,
perderam espaço para uma nova organização, em conseqüência da imposição de uma automatização
mais flexível, na busca de qualidade e produtividade, para fabricação em lotes pequenos e médios.
Os conceitos de células de manufatura vêm ao encontro dessa nova ordem, permitindo conceber
uma reorganização dos moldes tradicionais e racionalização dos meios produtivos, para uma
automatização mais flexível com um tratamento de grupo para a solução dos problemas.
A aplicação da Tecnologia de Grupo é uma das fases mais importantes no projeto de células de
manufatura.
A migração de um ambiente tradicional de manufatura para um ambiente de Tecnologia de Grupo,
embora possa parecer tarefa complexa, na verdade conduz a toda uma simplificação, à medida que
são organizados racionalmente os recursos.
Os benefícios trazidos pela aplicação da filosofia evidenciam-se, entre outros aspectos, numa sensível
melhora no clima de trabalho, no crescimento dos padrões de qualidade e produtividade, além de
viabilizar uma automatização mais flexível.
Para a implantação dos princípios da Tecnologia de Grupo, toda uma reorganização do ambiente de
manufatura se faz necessária como, por exemplo, a adequação do arranjo físico, a formação de
famílias de peças e células de máquinas, racionalização de projetos e processo de fabricação e
implantação de um sistema de codificação e classificação. A Manufatura Celular juntamente com a
Tecnologia de Grupo têm sido aplicados em vários ambientes de manufatura e os inúmeros
benefícios são alcançados.
6. Referências Bibliográficas
Livros: BLACK, J. T.. O projeto da fábrica com o futuro. Porto Alegre, Editora Bookman, 1998.
LORINI, Flávio José. Tecnologia de grupo e organização da manufatura.