para ser exato: são 15 anos, 182 dias, 5 h e até o momento que falo são 43 minutos.
Hoje eu me encontro um velho jovem, com 29 anos, sim, comecei tudo isso com 14
anos, um garoto — um brilhante garoto — Cheio de sonhos e realizações, mas tudo foi
tomado de mim no dia em que meus pais morreram.
Com pouco menos da metade da idade que tenho agora, meus pais morreram, e eu vi o
mundo se desabar em mim, passei do aluno mais brilhante da escola e que sonhava em
se tornar um cientista de renome, em uma criança desolada, órfão de parentes e
também de motivações para seguir em frente. Tudo isso fez de mim um vingador,
alguém movido pela vontade de fazer alguém pagar com a mesma moeda a sua maior
perda.
Fui obrigado a morar com uma tia minha, a qual não considero muito, mas com o
tempo, aprendi a gostar dela, seu jeito não lembra em nada minha mãe, seu modo de
educar-me e também com meus dois primos — Gustavo e Vitoria — difere em muito o
modo que minha mãe me criou. Nas situações em que minha mãe iria sentar comigo e me
explicar a razão de eu estar tomando aquela bronca — E que sempre acabava com um
sorriso e um beijo na testa — Com minha tia, eram gritos e palavrões, não tiro
totalmente a razão dela agir assim, pois, já estávamos com idade suficiente para
não aprontar o que aprontavamos,e tínhamos que tomar disciplina.
Meus primos não davam muita atenção para mim, sempre jogando na cara quem era o
verdadeiro filho e, que eu somente era um penetra naquela família, um estranho
naquela casa — eu me sentia dessa forma — com o tempo eles também foram se tornando
mais maleáveis e conseguimos ter uma convivência pacífica.
Minha prima era a garota mais linda aos meus olhos — eu era apaixonada por aquela
garota — um ano mais velha que eu, mas se tratando de maturidade ela estava a uma
década à minha frente. Eu disse "era", pois, é, os dias foram passando e, em certo
momento eu percebi o que significava ela ser minha prima, ser minha família e,
desse modo, ela passou de a garota mais linda aos meus olhos; para a garota em que
eu não considerava garota. Com o tempo, eu conheci, Sabrina, e namorei ela por
algumas horas, e desse modo, esqueci completamente minha prima.
Meu primo, Marrento, não me suportava, sempre exibia sua autoridade de homem mais
velho sobre mim, na época em que cheguei ele tinha vinte anos, mas sua rebeldia era
de um garoto de quinze. Na ausência de meu tio, tentava sem sucesso ser o homem da
casa. O que fez dele um pé no saco para mim, mas agora, tudo está em paz conosco, e
rimos quando lembramos daquela época.
Meu Tio, irei resumir em uma palavra: omisso. Sempre em casa, mas não era muito de
diálogo ou de interação com a família, era fácil esquecer que ele estava em casa.
Sentava em sua rede e lá ficava, por horas, assistindo futebol e jornal, essa era a
vida dele.
Tive que trocar de escola, pois, minha Tia morava um pouco afastado de minha antiga
casa e, pegar dois ônibus para poder frequentar a escola não era nada viável para
meus tios; eu via isso com outros olhos. Eu gostava muito daquela escola — os
amigos, as primeiras paixões, os professores, os funcionários, o ambiente — tudo me
alegrava e me confortava naquele lugar. Talvez essa seja a razão de eu ser um ótimo
aluno: eu gostar de ir à escola, e se fosse preciso pegar dois ônibus para
continuar tendo tudo aquilo eu viajaria sem problema nenhum. A escola posterior,
não tenho muita reclamação, mas também não tenho muito elogio, então, tive que me
reinventar, só que agora com a mente presa em condenar os culpados da morte de meus
pais.
Esse é um resumo da minha vida — pós fim dela — tudo que se sucedeu depois disso
foi com uma faceta totalmente diferente da que eu tinha, meus modos mudaram, minhas
formas se modificaram, era como se tivesse perdido minha inocência naquele momento,
minha pureza tinha sido derretida e fervida e depois despejado em mim, fazendo eu
queimar nela.
Minha motivação: A morte de meus pais, como disse antes. O acontecido, pesa a
contar, porém, preciso colocar isso bem claro, mostrar os culpados, para não
confundir meu ato como apenas uma revolta contra algo que eu não sigo.
Vamos ao relato…
Acordei do sonho e cai em um pesadelo assim que virei a esquina onde minha casa se
encontrava. Percebi uma movimentação incomum na frente da minha residência, minha
mente já entendeu como aquilo sendo algo ruim, "Não é natal ainda" pensei na época.
Cheguei mais perto a passos pegajosos, como se o chão não quisesse que eu seguia
aquele caminho, me empurrando para longe da tristeza que estava prestes a
enfrentar.
Passei pela porta e uma energia tão pesada me bateu que fiquei sem reação,
entendendo que minha sensação de que algo ruim estava acontecendo estivesse certa.
Larguei a mochila e fui em direção a sala, gritando o nome de meus pais, não sei
porque tinha feito isso, pois, sabia muito bem que eles estariam no trabalho.
Continuei chamando pelo nome deles. Na sala vi minha tia aos prantos — A tia que em
breve me adotaria — meu tio estava com a cabeça enterrada nas mãos. Alguns outros
parentes estavam por ali, todos consternados e, eu sem saber ainda do que estava
acontecendo.
Ao me ver, minha tia deu um pulo e me abraçou tão forte que parecia que iria
triturar meus ossos. Suas lágrimas molharam minha camisa, e sem perceber as minhas
lágrimas começaram a molhar meu rosto.
— Querido, está tudo bem… Vai ficar tudo bem — Disse ela chorando.
Meus olhos úmidos não viu esse "Vai ficar tudo bem" não era possível estar tudo bem
em uma casa onde todos estavam taciturnos. Se soltei dos braços de minha tia com um
pouco de ignorância.
-O que está acontecendo, porque vocês estão aqui? E, onde estao meus pais? —
Perguntei, secando as lágrimas.
Encarei todos e nada me responderam. Encaravam de volta com um olhar de pena para
mim, como se eu fosse a pessoa mais miserável do mundo, meu tio fez um gesto com a
mão me mandando sentar.
— Sente-se, filho, tenho uma coisa para te contar — Sentei-me ao lado daquele que
seria o transmissor da notícia mais triste da minha vida, olhei em seus olhos e
pude ver tristeza em seu olhar e, naquele momento, percebi que era impossível tudo
estar bem.
— Onde estão meus pais? — Disse desesperado, esesperado,in as palavras de meu tio.
— Olha, sobrinho… — Respirou profundamente — Você vai ter que ser forte, garoto…
houve um acidente onde seus pais trabalharam… — Passou a mão no rosto e fitou minha
Tia, depois, voltou seu olhar pesado para mim.
— Eles estão bem? Estão feridos? Preciso ver eles, rápido! Me diga em qual hospital
eles estão que eu irei para lá agora! — Disse levantando assustado já me preparando
para sair.
Meu Tio se levantou e me abraçou forte, comecei a chorar em seu peito já entendo a
mensagem, eu tinha acabado de perder meus pais, mas ainda não havia escutado nada
de ninguém, por enquanto era só especulação da minha mente. Meu negativismo poderia
estar, naquele momento, pregando uma peça comigo. Na sequência, as palavras
perfuraram meu peito.
— Eles se feriram muito, meu garoto, e não resistiram, os dois faleceram há uma
hora atrás, sinto muito estar te contando isso — Ele me abraçou mais forte conforme
iam lançando as palavras. Minha tia deu um espasmo de choro.
Em seguida, meu coração se quebrou, aquilo foi como contaram mim, o mundo desabou
em minha costa e depois desabou outra vez. E, as lágrimas a seguir não conseguiu
mostrar nem um terço do que eu sentia. Chorei pelo resto do dia, acreditando não
parar mais de derramar lágrimas; não queria parar de derramar. Fiz uma promessa
para mim que nunca mais iria parar de chorar e só parei quando o ódio tomou conta
do meu ser, sequei as lágrimas e decidir trazer vingança aos meus queridos pais.
****
Eu passo nas ruas todo desleixado, minhas roupas são eu que as produzo, por um
motivo óbvio não uso nada daquele marca que me enoja. Em razão disso as pessoas me
bombardeiam com seus olhares de indiferença. Uns cochicham e riem da minha cara;
outros, lança insultos sobre mim. Quem não usa roupa da Habitu é execrado por aqui.
Depois de ser metralhado por olhares perfurantes, alcanço meu destino. Uma torre de
eletricidade é onde apertarei o botão da minha vingança. Subo a passos apressados,
ansioso pelo que está por vim, não consigo me conter e sem perceber estou correndo
sobre a enorme escada que leva ao topo. Dois degraus de cada vez… três degraus de
cada vez… e estou no lugar.
Ninguém está por aqui e, penso que ninguém não esteve por aqui durante esses 15
anos. Nunca tive problemas em planejar tudo aqui. Essa é abastecedora principal de
energia de nossa cidade, mas penso que ela está parada por alguma razão, talvez
seja apenas um local que nunca falha e não tenha necessidade de pessoas estarem por
aqui.
Talvez você esteja pensado que minha vingança tem a ver com a energia, não é a
resposta, escolhi aqui porque gosto de lugares altos e aqui tudo é tão calmo, mas a
motivação maior é porque posso assistir por completo o espetáculo.
Abro meu notebook e faço alguns preparativos. Aciono alguns comandos e vejo pelo
monitor que tudo está "Ok" — Tudo está funcionando — Agora, precisarei acessar
remotamente algum computador da Basa — Empresa que controla os dutos da cidade,
toda as saídas de ar está em seu comando. Um clique… e alguns ajustea, pronto…
Agora devo corrigir a frase, tudo está em meu comando.
Foram implementados saídas de ar em todos os lugares, o mundo todo está mapeado com
seu ar sendo jorrado para fora. Foi criado um tipo de gás que quebra o gás
carbônico em oxigênio, uma reciclagem do ar. Não sendo mais necessário plantas para
praticar a fotossíntese, agora, você respira oxigênio e transpira oxigênio.
Aproveitarei dessa situação para alcançar tudo.
O que planejo fazer? É bem simples essa resposta: Apagar todas os símbolos da
Halibu, tudo que estiver sua marca do mal será apagado, apenas o símbolo deixando,
o resto do tecido sem rotulo. Liberarem todos os sistemas de ar que também incluí
os da residência da população, até nos lugares mais recônditos será alcançado minha
vingança. Criando assim, panos sem rótulos, sem hierarquia social em quem veste o
mais autêntico, o mais atual, nada disso existirá, sobrará apenas um vazio
libertador.
Cálculo que, agora, nos lugares onde teve primeiro contato, os símbolos estão se
desprendendo, sinto minha pele formigar com tanta ansiedade, vendo o meu plano de
uma vida está funcionando. Sinto honrando o nome de meus pais, penso que, nesse
momento, seja onde eles estão, devem estar orgulhosos de meu feito.
Desci correndo as escadas para alcançar a superfície, me nivelar com os demais para
poder ver qual é a reação deles ao ver seu ego sendo dissolvido. Queria nesse
momento olhar nos olhos de quem criou todo esse ódio em mim, e poder ver ele sentir
o mesmo que eu senti, presenciar o ódio se formando no seu ser e, sentir-se
impotente ao ver seu mundo se desmanchar.
Chego aonde posso presenciar o meu feito. Olho para eles e vejo o espanto em seus
olhos, sem entender o que está acontecendo, eles se olham como se tudo aquilo fosse
miragem, um pesadelo sem gosto — O pior pesadelo. Passo entre eles e aqueles
olhares sumiram, nem um resquício sequer de que aquilo existiu.
Seu olhar de surpresa é tanto que me deixa surpreso. Eu sabia o quanto o ego deles
estavam manipulados, porém, essa reação que todos compartilham é um tanto
exagerada, olho bem para eles, pasmado, e percebo o porquê de suas expressões
exageradas, o que faz eu também despertar esse mesmo sentimento estupefato.
Percebo que não só os símbolos estão se desfazendo, mas também as roupas estão
sendo eliminados e, em seguida, as pessoas estão se desintegrando, virando poeira e
sumindo no ar. De pouco a pouco, seu corpo vai virando neblina e a pessoa nem
sequer existiu, braços, pernas, tronco, cabeça e depois nada sobrou.
Me desloco por todas as ruas, observo dentro das casas, dos comércios, em todos os
lugares que o gás foi solto as pessoas estão se desfazendo da mesma forma que as
primeiras. Não entendo o que está acontecendo tanto quanto eles. Será um sonho?
Minha vingança se alimentou de mim e agora estou tendo uma miragem mordaz do que
acontecerá se eu levar adiante? Sera que estou enlouquecendo? Muitas perguntas e
apenas uma certeza: eu estou apagando as pessoas.
Meus joelhos estão tocando o chão sem saber o que está acontecendo. Minhas mãos
pressionam minha cabeça numa busca desesperada de achar uma forma de reverter tudo
isso. Talvez se meus pais não tivessem morrido naquele acidente. Se eu tivesse
acreditado nas palavras deles e levado isso apenas como um acidente, um acaso, o
destino escrito pelo criador. Mas não, hoje estou aqui sendo a causa de algo que
não entendo, porém, sendo o culpado de tudo.
Berro aos céus por ajuda, mas ninguém poderá me ajudar, estou sozinho naquele lugar
deserto, tornei o mundo um lugar só meu. Uma solidão implacável, um vazio criado na
tentativa de preencher o espaço deixado em meu peito.
Aqui agora, deitado no meio da rua vazia, no meio do mundo vazio, sem energia para
ser um ser humano, percebo que não falhei em minha tentativa de apagar a marca,
porém, falhei em notar que as Pessoas não só vestiam esse símbolo como também
faziam parte dele, se tornaram ele, uma máscara que tomou o lugar da face original,
impossível de retirar, o que eu tinha que criar era uma forma de separar a marca
deles, só assim teria êxito em minha tarefa.