Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EVANGELHO
EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO – QUESTÕES PRELIMINARES
(AUTORIA, DATAÇÃO E LUGAR DE COMPOSIÇÃO)
I. AUTORIA
b) O autor é testemunha ocular. Esteve com Jesus na Última Ceia (13,23) e na aparição do
Ressuscitado aos apóstolos, junto do lago de Tiberíades (21,1.2.7). Ora, a Santa Ceia foi
reservada somente a Jesus e seus apóstolos. Não houve mais ninguém presente além de
Jesus e os Doze. Podemos concluir que, dada a presença do “discípulo amado” na cena,
ele só pode ser um dos Doze Apóstolos.
c) O adjetivo “predileto” nos diz que ele fazia parte do círculo dos apóstolos mais
próximos de Jesus: Pedro, Tiago e João (cf. Mc 5,37; 9,2; 14,33). Ele com certeza não é
Tiago, visto que este foi martirizado muito cedo (cf. At 12,2) – por volta de 44 d.C. – e
o Quarto Evangelho foi escrito em um período posterior. Também não é Pedro, pois há
evidentes distinções entre os dois personagens (cf. 20,2; 21,20) e, ao que tudo indica, já
estava morto quando o evangelho foi composto (sua morte data de 67 d.C., segundo
Clemente de Roma).
Com tais indícios podemos afirmar que o autor do Quarto Evangelho é João, o
Apóstolo. Vejamos o que nos diz a Tradição Católica sobre a questão da autoria.
1
Entende-se que é o “amado” devido os diversos momentos em que se aparece o título de “discípulo
predileto” no texto, em especial no mesmo c. 21, versículos 7 e 20.
2
Todas as citações deste material foram extraídas da “Bíblia do Peregrino – Novo Testamento”, Paulus,
3ª edição, 2005.
3
Esta disposição encontra-se na apostila “Curso Bíblico – Escola Mater Ecclesiae”, de D. Estêvão
Bettencourt, página 37.
4
Idem;
I.2. EVIDÊNCIAS EXTERNAS (TRADIÇÃO DA IGREJA)
5
BALLARINI, Teodorico. Introdução à Bíblia, IV – Os Evangelhos. Editora Vozes, Petrópolis, 1972.
Página 297.
6
SANTOS EVANGELHOS, Bíblia Sagrada. Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra. Edição
portuguesa, 1985. Página 1071;
7
Idem.
8
Idem. Página 1072.
9
BALLARINI, Teodorico. Introdução à Bíblia, IV – Os Evangelhos. Editora Vozes, Petrópolis, 1972.
Página 295.
Para encerrar a questão da autoria, ficamos com o que nos disse SANTO AGOSTINHO
DE HIPONA († 430 d.C.):
[João] que pronunciou essas palavras, [também ele] as recebeu, ele que
repousou sobre o peito do Senhor, de onde ele bebia o que nos daria a beber.
Mas o que ele nos ofereceu foram palavras; a compreensão, deves procurá-la
por tua vez na fonte onde o próprio João bebeu... Talvez me objeteis dizendo
que estou mais presente diante de vós do que Deus. De modo algum! É Deus
que está mais presente junto de vós. Sem dúvida, eu apareço aos vossos
olhares, mas ele, Deus, está soberanamente presente (praesidet) à vossa
consciência. A mim vossos ouvidos, a ele o vosso coração: que tudo seja
preenchido!”(Homilias sobre o Evangelho de São João, I, 7)10.
Nos últimos dois séculos (XIX e XX) houve grandes críticas quanto à autoria do livro.
Hoje, mesmo com opiniões contrárias, a autoria do Quarto Evangelho fica sendo atribuída -
assim como nos garantiram os Santos Padres e o próprio escrito joanino - a João, o
discípulo predileto de Nosso Senhor Jesus Cristo. A questão da autoria não interfere na
canonicidade do Evangelho de São João. Quem quer que seja o verdadeiro autor, o livro
continuará sendo canônico, isto é, reconhecido pela Igreja como inspirado por Deus.
“Por muito tempo a crítica não-católica foi inclinada a fixar a composição do quarto
evangelho pela metade do século II ou ainda mais tarde.” (BALLARINI, Teodorico. Introdução
à Bíblia, IV – Os Evangelhos, p. 302). Ora, esta datação sugerida por tal crítica é inviável, em
razão de alguns dados importantes que nos esclarecem o período em que o Quarto Evangelho
foi escrito:
b) Os papiros P66 (contém 1-5; extrato do cap. 6; 7-13; extratos dos caps. 14.15.16; 17-
19; extratos dos caps. 20-21) e P75 (contém 1-12; extratos dos caps. 13;14;15), que
datam respectivamente da metade do século II e do início do século III 11.
d) SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA († 107 d.C.) - que foi discípulo de São João -
quando escreveu suas cartas, fez alusão a diversos temas joaninos contidos no
Quarto Evangelho. Ora, Inácio aprendeu muito com São João e, com certeza,
difundiu em seus ensinamentos aquilo que aprendera com seu mestre. Levando em
consideração o que foi apresentado, podemos aceitar a datação entre 96-100 d.C.,
ou seja, final do século I.
10
LEÓN-DUFOUR, Xavier. Leitura do Evangelho segundo João, I. Edições Loyola, 1996. Página 37.
11
MARGUERAT, Daniel (org.). Novo Testamento – História, escritura e teologia. Edições Loyola, 2015.
Página 442.
III. LUGAR DE COMPOSIÇÃO
Segundo IRINEU DE LYON, São João teria composto seu evangelho em Éfeso, na Ásia
Menor (o testemunho deste Padre da Igreja já foi divulgado anteriormente, na questão da autoria
do livro). “JERÔNIMO e EPIFÂNIO apresentam, porém, somente a designação genérica da
Ásia Menor.” (BALLARINI, Teodorico. Introdução à Bíblia, IV – Os Evangelhos, p. 302). A
Tradição reconhece que, tendo João saído da prisão de Patmos pelo ano de 96 d.C., após a morte
do imperador Domiciano, regressou para Éfeso, onde morava com a Santíssima Virgem.
Apesar de encontrarmos opiniões que afirmam que o lugar de composição foi Antioquia
(lugar propício para o crescimento do gnosticismo; cidade de Inácio, podendo ter sido palco
para o aprendizado do Antioqueno e da elaboração do livro), é aceitável propor Éfeso como
lugar de composição.