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Equivalência Patrimonial

Equivalência Patrimonial
*

Muitos Problemas, Nenhuma Solução

Quando se fala em equivalência patrimonial, especialmente no Brasil, há uma aparente tranquilidade: a


prática já é adotada há muito tempo e não parece haver dúvidas acerca da sua metodologia e aplicação.
Todavia, com o advento da harmonização das normas contábeis brasileiras com as internacionais, e consi-
derando recentes eventos que envolvem o tema, o vespeiro há tempos aparentemente calmo foi novamente
cutucado.
O presente texto não pretende trazer soluções para o assunto. Pelo contrário, a intenção é colocar mais
lenha na fogueira apresentando diversas questões controversas sobre o tema, na linha daquilo que em lín-
gua inglesa se chamaria de food for thought. Uma vez que a ideia é dar início a uma discussão na Revista
FIPECAFI sobre o assunto, solicitamos a todos os interessados na discussão que entrem em contato conos-
co1 propondo soluções, levantando outras questões aqui não abordadas e até mesmo enviando novos textos
para publicação.
Assim, inicialmente apresentaremos um breve histórico da utilização da equivalência patrimonial no mun-
do e no Brasil para, posteriormente, focar em algumas das questões atualmente sendo discutidas.

Um Breve Histórico da Equivalência Patrimonial

Christopher Nobes2 apresenta uma evolução da equiva-


lência patrimonial no mundo desde o início do século
XX. Nesse artigo o autor aponta para quatro tipos de uti-
* Elaborado pela Editoria (Texto original - Prof. Eric Aversasri Martins)

lização desse método ao longo da história.


A primeira utilização da equivalência patrimonial, de-
nominada Proto-Consolidação pelo autor, foi por volta
de 1910, na Grã-Bretanha, teria sido para o reconheci-
mento das subsidiárias (controladas) nas demonstrações
contábeis das investidoras como uma alternativa à con-
solidação. De uma maneira geral, sua utilização passou a
ser substituída pela consolidação das demonstrações ou

1 Os interessados podem entrar em contato através do email revista@


fipecafi.org.
2 Nobes, Christopher. An analysis of the International Development of
Equity Method. Abacus, v. 38, n. 1, 2002.
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nenhuma consolidação já na década de 1930, ten- patrimonial, é a denominada Semi-Consolidação,
do sido eliminada, naquela jurisdição, em 1947. Ou onde esse método é utilizado para o registro de in-
seja, abandonou-se a equivalência em troca da con- vestimentos em entidades não controladas, incluin-
solidação no caso das controladas e não se a adotou do-se nestas as joint-ventures (controle comparti-
para as coligadas. lhado).
Por sua vez, nos EUA, a adoção da consolidação Nesse tipo de utilização surgem discussões sobre
iniciou-se no começo daquele século, não tendo consolidações proporcionais, percentuais de parti-
sido muito utilizado o método da equivalência pa- cipação definindo limites para a adoção da equiva-
trimonial com a finalidade de registro de subsidiá- lência patrimonial (que variam de 3% a 33,3% em
rias. Todavia, sua utilização era aceita em algumas diversas jurisdições) e a natureza do método como
circunstâncias, especialmente na diferenciação de sendo adequado para a avaliação de investimentos.
subsidiárias com “participação substancialmente
integral” (consolidadas) das com “participação não
integral mas ainda com controle” (registradas pela
equivalência patrimonial). O Brasil foi um dos primeiros
Posteriormente, uma segunda utilização do méto- países não saxônicos a
do em estudo, denominada Pseudo-Consolidação,
aponta para algo já bastante conhecido no mercado
adotar a equivalência
brasileiro: a exigência de sua adoção nas demons-
trações individuais, nas jurisdições em que estas são
legalmente exigidas, em contraposição àquelas em
patrimonial como método de
que as demonstrações consolidadas são as principais
(Inglaterra e USA, por exemplo). Essa diferença de registro de investimentos.
utilização da equivalência para demonstrações indi-
viduais e consolidadas levaram à adoção de um mo-
delo de equivalência no qual o patrimônio líquido A Equivalência Patrimonial no Brasil
da investidora é o mesmo que o apurado com base
nas demonstrações consolidadas. O Brasil foi um dos primeiros países não saxônicos a
adotar a equivalência patrimonial como método de
A terceira utilização apontada pelo autor é a da
registro de investimentos. Com o advento da Lei no
Consolidação-Substituta. Nesse caso, a equivalência
6.404 no já longínquo ano de 1976, o Brasil aban-
patrimonial é utilizada nas demonstrações consoli-
dona a escola aziendalista italiana e adota o modelo
dadas para registro dos investimentos em subsidiá-
de contabilidade norte-americana. Nesse momento,
rias que, por diversas razões, não são consolidadas,
foi tornada obrigatória a avaliação de investimentos
tais como controle temporário, controle exercido
em sociedades coligadas e controladas pelo “valor
por minoritários, grande proporção de minoritários
de patrimônio líquido” (artigo 248 da citada lei).
e subsidiárias estrangeiras, especialmente em países
Veja-se que não se utilizava o termo equivalência
com restrição de transferência de fundos.
patrimonial, que surge pela primeira vez na norma-
Nessa utilização, já no final da década de 1970, a tização brasileira na Instrução CVM no 01/78, mas
equivalência patrimonial é utilizada como uma so- a metodologia já era a utilizada até os dias de hoje.
lução para o registro de investimentos, em diversas
Ainda, com o advento da Lei no 6.404/76, também é
jurisdições, devido à falta de definição mais específi-
tornada obrigatória a elaboração de balanço conso-
ca sobre quais deveriam ser as subsidiárias consoli-
lidado para empresas abertas com entidades contro-
dadas especialmente no que diz respeito ao conceito
ladas. Até então, somente era mencionado o balanço
de controle (alguém já viu essa discussão recente-
consolidado na Circular no 179/72 do BACEN, que
mente?)
exercia o papel de guardião das companhias abertas
Por fim, a quarta utilização da equivalência antes da criação da CVM, mas sem que fosse dado
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como obrigatório. Pronunciamento Técnico CPC 36 – Demonstrações
Consolidadas) determina que a entidade (contro-
Desde então, as demonstrações contábeis das em-
ladora) que controle uma ou mais entidades (con-
presas brasileiras regidas por citada carta legal passa-
troladas) apresente demonstrações consolidadas. E
ram a apresentar os investimentos em participações
estas é que passam a ser as demonstrações primá-
societárias com base na equivalência patrimonial
rias, sendo inclusive desnecessária a apresentação
(para todos os investimentos nas demonstrações
das individuais (para o IASB). Por sua vez, o IAS 28
individuais e para coligadas nos consolidados, mas
– Investments in Associates exige que os investimen-
também utilizando-se o custo histórico quando não
tos em empresas coligadas e joint ventures sejam re-
relevantes por um certo tempo). Assim, no Brasil,
conhecidos pela equivalência patrimonial, tanto no
ela se tornou uma metodologia generalizadamente
balanço consolidado quanto no individual se neste
aceita e uma prática não muito questionada.
último não existirem controladas que obriguem à
Todavia, com a adoção das normas internacionais a consolidação.
coisa mudou um pouco de figura.
O IAS 28 deu origem ao Pronunciamento Técnico
CPC 18 - Investimento em Coligada, em Controlada
O Conflito Lei das S/A versus IFRS
e em Empreendimento Controlado em Conjunto.
Todavia, por força da legislação brasileira, o CPC 18,
Não há, por parte do IASB, interesse em normati- além de exigir a adoção da equivalência patrimonial
zar as demonstrações individuais. Para esse órgão, o para coligadas e joint ventures nos balanços consoli-
importante são as demonstrações consolidadas, pois dados, assim como a norma original, também exige
são elas que representam a realidade econômica dos o registro de controladas por esse método nos ba-
grupos. A visão das entidades como entes isolados lanços individuais, para acompanhar a Lei das S/A.
não faz parte das normas do IASB (a não ser em ca-
sos específicos, como será visto mais adiante) e isso Ocorre que o Brasil adotou o IFRS também nas de-
gerou conflito com a legislação brasileira. monstrações individuais, o que, como dito, não é
o foco da norma original. Como não existe norma
Uma vez que as normas do IASB focam nas sobre demonstrações individuais no IASB, e sim so-
demonstrações consolidadas, o IFRS 10 – bre demonstrações separadas, foi determinado pela
Consolidated Financial Statements (correlação com o ICPC 09 – que as demonstrações individuais no
Brasil seriam regidas pelo IAS 27 – Separate Financial
Statements (correlação com o Pronunciamento
Havia uma divergência entre Técnico CPC 36 – Demonstrações Separadas), po-
rém com o aditamento de que os investimentos em
a legislação brasileira, que controladas, coligadas e joint ventures nos balanços
individuais fossem avaliados pela equivalência pa-
exige a adoção, nos balanços trimonial. O que provocava um conflito, já que, até
o final de 2014, a IAS 27 definia que, nessas demons-
individuais, da equivalência trações separadas, os investimentos em participa-
ções societárias (quaisquer que fossem) deveriam
patrimonial em todos os ser avaliados com base no custo ou no valor justo.

investimentos societários, e Havia, em suma, uma divergência entre a legislação


brasileira, que exige a adoção, nos balanços indivi-
a IAS 27, que exigia que tais duais, da equivalência patrimonial em todos os in-
vestimentos societários, e a IAS 27, que exigia que tais
investimentos fossem avaliados investimentos fossem avaliados pelo custo ou valor
justo. Tal fato levava todos os relatórios de auditoria
pelo custo ou valor justo. de balanços individuais de entidades com empresas
controladas a conter uma ressalva indicando que as
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equivalência patrimonial”. O processo de alteração
O processo de alteração da da IAS 27 sofreu muita resistência por parte de algu-
mas jurisdições, especialmente os países saxônicos,
IAS 27 sofreu muita resistência que até os dias de hoje não gostam da equivalência
patrimonial, apesar de a utilizarem (no balanço con-
por parte de algumas jurisdi-
solidado para os investimentos em coligadas e joint
ções, especialmente os países ventures) por força da norma. Só que a discussão
sobre a equivalência patrimonial não é somente em
saxônicos, que até os dias de torno da sua permissão nas demonstrações separa-
das. Após a sua Agenda Consultation de 2011, o IASB
hoje não gostam da equiva-
incluiu na sua pauta o projeto Equity Method3, o que
lência patrimonial, apesar de a mostra a importância da matéria.

utilizarem (no balanço conso- Na justificativa para a realização desse projeto, são
apontadas diversas críticas realizadas ao método.
lidado para os investimentos Comentando o já citado artigo de Nobes, na apre-
sentação do escopo do projeto em tela o IASB reco-
em coligadas e joint ventu- nhece a utilização da equivalência patrimonial para,
res) por força da norma. ao menos, aquelas quatro diferentes circunstâncias.
Ainda, afirma o IASB que, possivelmente por ter
demonstrações contábeis não estavam de acordo tantas utilizações visando solucionar diferentes pro-
com as normas internacionais do IASB no que diz blemas de divulgação é que existem tantas visões di-
respeito a esse assunto. ferentes sobre o quê efetivamente deve ser o método
da equivalência patrimonial.
Sendo assim, o Brasil, juntamente com outras juris-
dições, especialmente da América Latina e Ásia, que Tendo em vista o projeto do IASB, o EFRAG, em
tinham o mesmo problema, solicitou que o IASB janeiro de 2014, emitiu o primeiro de suas Short
alterasse a norma IAS 27, permitindo que nas de- Discussions Series, uma série dedicada à discussão de
monstrações separadas os investimentos em parti- assuntos problemáticos com o objetivo de auxiliar o
cipações societárias também fossem avaliados pela IASB a tratar tais questões, voltado especificamente
equivalência patrimonial. para a equivalência patrimonial4. O KASB (Coreia),
em junho de 2014, também emitiu um documento
Após essa solicitação, o IASB emitiu uma revisão da dedicado à discussão da equivalência patrimonial5.
norma IAS 27, acatando a solicitação, passando a in-
cluir também o método da equivalência patrimonial E mais, o assunto vem sendo discutido no âmbito do
como aceito na avaliação dos investimentos socie- ASAF, órgão que assessora diretamente o presidente
tários nas demonstrações separadas. Dessa forma, do IASB, e em vários outros fóruns.
após o ajuste da IAS 27 e, por consequência, do CPC
A seguir, passaremos a abordar questões especifica-
36, as demonstrações individuais das entidades pas-
saram a estar plenamente de acordo com as normas mente voltadas para as principais dessas críticas à
do IASB; a divergência foi encerrada e as ressalvas equivalência patrimonial.
não mais se fazem necessárias. 3 Vide: http://www.ifrs.org/Current-Projects/IASB-Projects/equity-
method-accounting/Pages/Discussion-and-papers-stage-1.aspx.
Discussões Atuais sobre Equivalência Patrimonial 4 Vide: http://www.efrag.org/Front/n1-1256/EFRAG-Short-
Discussion-Series---The-Equity-Method--a-measurement-basis-or-
one-line-consolidation-.aspx
Mas aí percebeu-se algo não detectado pela grande 5 Vide: http://mipa.mu/wp-content/uploads/files/Discussion-Paper-
maioria de nós, brasileiros, até então: os “inimigo da TheEquityMethod-by-KASB.pdf
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O Que É Equivalência Patrimonial? definidos, está crescendo, angariando novos clientes


etc. e apesar do lucro irrisório reconhecido, o mer-
O primeiro ponto a ser abordado refere-se à natu- cado entende que há promissoras expectativas futu-
reza da informação evidenciada com a utilização da ras de rentabilidade que deverão se tornar realidade
equivalência patrimonial. Partiremos de um exem- após o final da fase de start-up. Nesse sentido, o va-
plo bastante simples comparando os três métodos lor de mercado da investida cresce de R$ 30 milhões
de avaliação de investimentos existentes nas normas (no momento da aquisição) para R$ 45 milhões (no
internacionais com a intenção de evidenciar qual momento em que o PL da investida caiu para R$ 15
efetivamente é a utilidade da informação obtida pela milhões).
utilização desse método.
Custo Histórico
Imagine-se uma investidora que obtém participa-
ção de 30% de uma empresa de tecnologia ainda na
fase de start-up, cujo patrimônio líquido em 20x0, Iniciando-se pelo o custo histórico, lembremos que
no momento da aquisição, é de R$ 20 milhões. O esse método registra o valor de aquisição pelo pre-
valor de mercado dessa empresa é de R$ 30 milhões, ço pago e não registra mais quaisquer variações no
e essa diferença deve-se, exclusivamente, ao ágio por ativo, a não ser por perda por impairment e transa-
rentabilidade futura. ções de aquisição e/ou baixa do investimento; os di-
videndos distribuídos são registrados como receita
No primeiro ano de operação, 20x1, a investida ob- do período; e não há reconhecimento de nenhuma
tém um lucro de R$ 1 milhão, distribuindo metade variação do patrimônio líquido contábil da investida
desse lucro aos acionistas. Todavia, um lucro peque- nem do seu valor de mercado.
no como esse já era previsto e considerado como
normal para uma empresa nessa fase inicial. Ocorre No exemplo acima, teriam-se as seguintes demons-
que a sua operação está atingindo os objetivos trações pelo custo histórico:

Balanço Patrimonial - Custo Histórico


Inicial 20x0 20x1 Inicial 20x0 20x1
Caixa 9.000 - 150 Capital 9.000 9.000 9.000
Custo Histórico - 9.000 9.000 Lucro Acum. - - 150
 Total 9.000 9.000 9.150  Total 9.000 9.000 9.150

Demonstração do Resultado - Custo Histórico


  20x1
Receita de Dividendos 150
Lucro do Período 150

Note-se que não há nenhuma variação no valor do ativo, mesmo tendo ocorrido alteração tanto no valor pa-
trimonial quanto no valor de mercado do investimento até que surja a receita de dividendos. Todavia, essa
receita não representa o efetivo desempenho do investimento, mas meramente a parcela do desempenho
que resultou em dividendo e que foi distribuído à investida.

Ou seja, o método do custo histórico não representa o valor do investimento, tampouco o patrimônio
líquido contábil da investida. Ele simplesmente reconhece os dividendos recebidos. E tais dividendos não
representam nem o lucro auferido pela investida, nem o ganho de capital ocorrido pela variação do preço
de mercado do investimento. E também não evidencia o pagamento por conta de um ágio por expectativa
de rentabilidade futura.

E o investimento contabilizado representa o valor justo apenas no momento da aquisição.


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Equivalência Patrimonial

Vejamos, então, como seriam as demonstrações com base no método da equivalência patrimonial:

Balanço Patrimonial - Equivalência Patrimonial


Inicial 20x0 20x1 Inicial 20x0 20x1
Caixa 9.000 - 150 Capital 9.000 9.000 9.000
Eq. Patrim. - 6.000 6.150 Lucro Acum. - - 300
Ágio - 3.000 3.000  
 Total 9.000 9.000 9.300 Total 9.000 9.000 9.300

Demonstração do Resultado - Eq. Patrimonial


  20x1
Resultado de Equivalência Patrimonial 300
Lucro do Período 300

O que se verifica é que, no momento da aquisição, dos investimentos registrados, mas o valor justo
é apresentada uma informação de que foi adquirido da parcela do patrimônio líquido da investida na
uma parcela de um patrimônio líquido contábil de data de sua aquisição e mais sua parcela nas varia-
R$ 6.000 pelo preço total de $9.000, tendo sido a di- ções contábeis do patrimônio líquido da investi-
ferença entre esses valores pagos devida a ágio. da. Esse fato é obvio e notório, mas importante de
ser frisado.
No momento da aquisição, o valor do investimento
adquirido é exatamente o seu valor justo (em con- O CPC 18, ao avaliar a natureza da equivalência pa-
dições normais de negociação). Mas isso somente trimonial, comparando-a com o método do custo,
ocorre no exato instante da aquisição, tal qual no assim conclui:
custo histórico. 11. O reconhecimento do resultado com base nas
distribuições recebidas sobre o mesmo [método
No segundo exercício, a informação evidenciada é
do custo histórico] pode não ser uma mensuração
que o patrimônio líquido contábil da investida cres- adequada da receita auferida pelo investidor no
ceu, na parcela detida pela investidora, em R$ 300 investimento em coligada, em controlada e em
(referente a 30% do lucro da investida), representa- empreendimento controlado em conjunto, em
do pelo resultado de equivalência patrimonial, e caiu função de as distribuições recebidas terem pouca
relação com o desempenho da investida. Em
R$ 150 pela distribuição do dividendo (30% de R$
decorrência de o investidor possuir o controle
500). Assim, o desempenho evidenciado do investi- individual ou conjunto, ou exercer influencia
mento é de um lucro muito pequeno, mas o que foi significativa sobre a investida, ele tem interesse
reconhecido pela entidade investida. no desempenho da investida e, como resultado,
interesse no retorno de seu investimento. O
E no segundo exercício o valor do investimento investidor deve reconhecer contabilmente esse
nada mais tem a ver com o seu valor de mercado. interesse por meio da extensão do alcance de suas
demonstrações contábeis com a inclusão de sua
Apesar de contabilmente o investimento ter aumen-
participação nos lucros ou prejuízos da investida.
tado muito pouco, o seu desempenho, em termos de Como resultado, a aplicação do método da
valor de mercado, foi completamente diferente: ele equivalência patrimonial proporciona relatórios
aumentou de R$ 9.000 (30% de R$ 30 milhões) para com maior grau de informação acerca dos ativos
R$ 13.500 (30% de R$ 45 milhões). líquidos do investidor e acerca de suas receitas e
despesas. (sublinhados adicionados)
Assim pode-se concluir, inicialmente, que equiva-
lência patrimonial não representa o valor justo
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Veja-se que a norma parte do pressuposto de que o investidor possui interesse no desempenho da investi-
da (coligada ou controlada). Portanto, manter o investimento pelo método do custo somente iria levar ao
reconhecimento dos dividendos efetivamente distribuídos ao investidor. Todavia, não somente tais parce-
las de lucro efetivamente distribuídas formam o desempenho integral da investida: lucros retidos e outras
variações patrimoniais também. Assim, segundo o CPC, o uso da equivalência patrimonial permite que o
investidor registre não somente os ativos líquidos a que tem direito, mas também todas as variações patri-
moniais, inclusive aquelas diretamente decorrentes do desempenho que não tenham sido distribuídas aos
sócios. Mas não captura as variações no valor justo do investimento como um todo.

Valor Justo

Vejamos, agora, como fica a avaliação com base no valor justo:

Balanço Patrimonial - Valor Justo


Inicial 20x0 20x1 Inicial 20x0 20x1
Caixa 9.000 - 150 Capital 9.000 9.000 9.000
Investimento - 9.000 13.500 Luc. Acum. - - 4.650
 Total 9.000 9.000 13.650 Total 9.000 9.000 13.500

Demonstração do Resultado - Valor Justo


  20x1
Receita de Dividendos 150
Variação V. Justo Investimento 4.500
Lucro do Período 4.650

No momento inicial, assim como no custo histórico, participação da investidora no patrimônio líquido
não há segregação entre patrimônio líquido e ágio. contábil conforme esse varia, as amortizações e bai-
Mas o total do investimento é igual em todos os três xas da mais valia e eventuais impairments do ágio.
balanços patrimoniais e todos representam o valor
justo do investimento adquirido. Em contraposição, o ativo evidenciado pelo método
do valor justo representa o investimento na entida-
No segundo exercício, as demonstrações acima re- de, desconsiderando as “subdivisões” de PL, ágio e
presentam o desempenho do investimento, mas não mais valia, muito mais vinculadas à representação
pelo ponto de vista do patrimônio contábil da enti-
da realidade do patrimônio contábil da entidade in-
dade investida, mas sim, pelo aspecto do quanto o
vestida. Em suma, a equivalência patrimonial foca
investimento efetivamente vale no mercado, prin-
no patrimônio da investida, e o valor justo foca no
cipalmente em termos de potencial de geração de
caixa futuro. E mostra que, nesse caso, houve dois valor de mercado desse patrimônio: um olha para
ganhos: dividendo recebido e mais a variação do va- dentro da entidade e o outro olha para fora.
lor justo do investimento.
Qual é Melhor?
Assim, ao se comparar as demonstrações com base
na equivalência patrimonial e com base no valor
justo percebe-se, resumidamente, a existência de Obviamente se está mensurando o mesmo ativo; o
enormes diferenças no objetivo de cada informação. investimento é o mesmo em todos os casos, mas a
A equivalência patrimonial registra o custo históri- ótica aplicada para a representação da realidade é
co inicial de aquisição devidamente segregado em diferente, e os eventos registrados contabilmente,
patrimônio líquido contábil, ágio e mais valia na apesar de serem sobre exatamente o mesmo ativo,
aquisição. Posteriormente, continua registrando a são distintos em cada caso.
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Mas, afinal, qual é a informação mais relevante e Seguindo a linha de mais atrapalhar do que ajudar,
mais correta? Qual das duas, ou melhor, qual das não só deixamos no ar todas essas questões como
três demonstrações representa mais adequadamente pioraremos no item seguinte.
a realidade econômica e o desempenho da investida?
Ora, isso depende...
Se a investidora é uma empresa de investimentos Para Quê Balanço Individual
propriamente dita, se o seu interesse é vender o in-
vestimento no futuro, a adoção do valor justo é mais Como já anteriormente apresentado, as demonstra-
representativo da intenção da administração e do ções separadas, na sua versão antiga do IASB, eram
desempenho efetivo do investimento. A equivalên- aquelas cujos investimentos societários eram, obri-
cia patrimonial não possui a intenção de mensurar o gatoriamente, avaliados ou pelo custo ou pelo va-
valor do investimento; não é metodologia adequada lor justo (através do resultado). Posteriormente, foi
para isso. Assim, nesse caso específico, a sua utili- acrescentada a permissão da avaliação pela equiva-
zação não representa adequadamente a realidade, lência patrimonial.
uma vez que não demonstra os ganhos de capital em
potencial que podem vir a ser realizados em uma Ainda, a IAS 27 dispõe que as demonstrações sepa-
radas são normatizadas para aquelas entidades que
eventual venda. O desempenho, nesse caso, no qual
são obrigadas a divulgá-las por exigências de suas
está o investidor interessado é muito mais a variação
jurisdições específicas, para aquelas isentas de apli-
de preço do investimento com base na perspectiva
carem a equivalência patrimonial e, também, para as
de longo prazo do que eventuais lucros ou prejuízos
empresas que optarem por fazê-lo. Assim, deixando
temporários da investida.
de lado, por ora, a questão da obrigatoriedade de di-
Por outro lado, imagine-se que a investidora seja vulgação, como é o caso brasileiro, observemos as
uma empresa aérea e que sua investida seja uma em- entidades que possam eleger publicá-las: o que faria
presa de pontos que irá gerir todo o programa de com que uma entidade, sem ser obrigada, divulgasse
milhagem da investida. Ela não possui a intenção demonstrações separadas?
de vender esse investimento, mas de manter a sua Apesar de não estar explicitado na norma, a lógica
posição de investidor em um fornecedor estratégico. leva a crer que somente irão apresentar demonstra-
Uma vez que não há a intenção de vender o inves- ções separadas aquelas entidades que entenderem
timento, o desempenho no qual a investidora está que a consolidação das suas controladas pode não
interessada, segundo premissa do CPC 18, é nos re- representar a real posição patrimonial e o desempe-
sultados auferidos pela entidade, e não na variação nho da entidade. Nesse sentido, apesar de não ser
do seu preço de mercado. isenta de apresentar suas demonstrações consolida-
Mas... essa premissa é correta, sempre? Ou seja, será das, a entidade poderia apresentar adicionalmente
que em casos de controle e/ou influência significa- suas demonstrações individuais divulgando seus
tiva o desempenho do investimento divulgado deve investimentos com base em outra sistemática de
avaliação que não a consolidação (controladas) e/ou
sempre ser o dado pela variação do patrimônio lí-
equivalência (coligadas).
quido ou a variação de valor de mercado também
é relevante? Será que nesses casos, mesmo que o Por exemplo, entidades (que não sejam entidades
desempenho do valor de mercado seja ruim, a in- exclusivamente de investimentos) podem controlar
vestidora irá continuar mantendo seu investimento ou ter influência significativa sobre investidas e efe-
em virtude de perdas de capital potenciais? O gan- tivamente exercer tais direitos, mas podem fazê-lo
ho/perda de capital não faz parte do desempenho do com a intenção de potencializar o ganho de capital
investimentos em controlada ou coligadas? Como se na alienação. Assim, seriam obrigadas (como na
deve tratar diferentes entendimentos de diferentes nossa legislação) a consolidar ou adotar a equivalên-
gestões, em diferentes tipos de investimento? cia patrimonial mas, nas demonstrações separadas,

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poderiam divulgar tais investimentos com base no demonstrações individuais das entidades. Impostos
seu valor justo, evidenciando mais adequadamente também são apurados e devidos com base nas de-
o valor justo dos investimentos, que é exatamente o monstrações individuais.
que pretende maximizar. Nesses casos específicos, o
resultado advindo da valorização do investimento é Todavia, nada impede que contratos privados se-
mais representativo da realidade econômica do que jam desenvolvidos com base nas demonstrações
a evidenciação da performance das investidas. consolidadas. Covenants de dívida, aquisições com
earn-out e até mesmo contratos de garantias podem
Vejamos talvez o maior exemplo disso no Brasil: a ser realizados com base em indicadores obtidos nas
BNDESPAR. Essa controlada do BNDES investe em demonstrações consolidadas.
empresas com o objetivo de fomentá-las, fazê-las
crescer, recuperá-las etc., mas não com o objetivo de Por outro lado, uma vez que a maioria das relações
ficar eternamente sócia delas e viver dos seus lucros. jurídicas é feita com base no CNPJ e diz-se necessá-
O objetivo é sempre o de uma participação temporá- ria a divulgação de suas demonstrações individuais,
ria. E normalmente nem participa de sua gestão no o que está essa equivalência patrimonial de contro-
dia a dia. Do que vale então o balanço consolidado ladas informando?
do BNDESPAR incluindo suas controladas que es- Retira-se tudo aquilo que a empresa controla, que
tão lá por um certo tempo? Do que vale seu balanço são 100% dos ativos e passivos das controladas, e in-
individual com mensuração do desempenho de suas clui-se somente a parcela de propriedade da contro-
investidas medido pela equivalência patrimonial? ladora sobre a diferença entre tais ativos e passivos. E
Será que não seria muito mais rica a informação so- isso é feito sem considerar que tal procedimento afe-
bre qual a variação do valor justo de cada um desses ta diretamente quaisquer análises de endividamento,
investimentos todos? imobilização, liquidez etc. Até mesmo a análise de
Note-se que as demonstrações separadas possuem, rentabilidade fica prejudicada, uma vez que também
sim, um objetivo que não é necessariamente aten- são retiradas linhas de receitas e despesas para se-
der à obrigatoriedade de divulgação de demons- rem substituídas por uma única linha de resultado
trações individuais que, frisamos, são opção das de equivalência patrimonial.
jurisdições e não exigência das IFRS. Ou seja, ao substituir a consolidação pela equivalên-
Todavia, o IASB optou por atender às necessidades cia patrimonial, há uma distorção na representação
das jurisdições com exigência legal de demonstra- da realidade econômica das controladoras. Não se
ções individuais na mesma norma de demonstração sabe quais os ativos e passivos que ela efetivamen-
separadas e não em um pronunciamento específico te controla, e também não se sabe como esses efeti-
para esses casos. Misturou-se, então, uma norma vamente geram retornos. Somente se sabe que uma
para suprir certas necessidades informacionais com determinada proporção de um patrimônio líquido
o que entendemos que deveria ser outra norma, gera um determinado retorno, mas sem o necessário
para suprir necessidades legais específicas de
certas jurisdições.
Covenants de dívida,
Passemos a analisar, então, a obrigatoriedade da
divulgação das demonstrações individuais, que aquisições com earn-out e até
como já mencionado anteriormente, seguem a
IAS 27 (CPC 36). Afinal, qual a sua utilidade? mesmo contratos de garantias
Sabe-se que, no Brasil, muitas relações jurídi- podem ser realizados com base
cas são realizadas com base nos balanços in-
dividuais, ou como se diz informalmente, com em indicadores obtidos nas
o “CNPJ”. Os dividendos e outros direitos so-
cietários, por exemplo, não são apurados com demonstrações consolidadas.
base nas demonstrações consolidadas, mas nas
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detalhamento destas informações. em separado, com uma menor ênfase (tais como
nos sites das empresas)? Não teriam mais utilidade
E essa é a razão das IFRS não exigirem demonstra- as demonstrações individuais se elas seguissem as
ções individuais: elas distorcem a realidade econô- antigas definições do IASB, ou seja, demonstrações
mica representada, são informações enganosas, mis- separadas, serem aquelas em que os investimentos
leading. Assim, esse tipo de demonstração somente são avaliados ou pelo custo ou pelo valor justo? Não
deve ser publicada caso elas sejam mais bem repre- se poderia utilizar as demonstrações separadas so-
sentativas, como no caso específico visto anterior- mente em casos específicos para “corrigir” eventuais
mente. Daí a opção de divulgá-las. distorções ou incompletudes que a equivalência pa-
Veja-se que, inclusive, em diversas jurisdições, tais trimonial gera nos balanços individuais?
como nos EUA, a divulgação das demonstrações in- A questão da divulgação da demonstração indivi-
dividuais é proibida! dual, apesar de importantíssima, está também rela-
Bem, por outro lado todos poderemos pensar o se- cionada com questões legais, informacionais, estru-
guinte: mas alguns credores emprestam ou fornecem turais do sistema de informação pública da CVM/
sob crédito bens e serviços a uma pessoa jurídica de- BOVESPA, custos de publicação e implicações fis-
terminada e só podem dela cobrar, e não do conso- cais. Tais aspectos não são foco do presente texto.
lidado. Ou então um determinado sindicato abrange Mas, como este assunto está intrinsecamente vincu-
apenas os empregados de uma ou de algumas das lada à utilização da equivalência patrimonial não se
empresas do conglomerado econômico, e não de to- pode deixar de considerá-lo.
dos, e quer conhecer o desempenho individual des- Somente como um teaser sobre o assunto: estão as
sa(s) empresa(s) (o que também pode ser muito en- empresas brasileiras considerando o exposto na
ganoso quando há transações entre essas entidades). ICPC 09?
Por isso a prática norte-americana: quem precisar
das informações das entidades individuais que as 7. A obrigação de “divulgar, juntamente com
leve, mas só para seu próprio uso, não se permitindo suas demonstrações financeiras, demonstrações
consolidadas...”, conforme preconizado pelo art.
a sua divulgação ao público em geral. 249 da Lei das Sociedades por Ações, não implica,
necessariamente, divulgação em colunas lado a
Outro ponto: do que vale a informação sobre o va- lado, podendo ser uma demonstração contábil
lor por equivalência patrimonial numa controlada a seguir da outra. Cumprido o mínimo exigido
ou coligada constante no ativo de uma empresa para legalmente em termos de divulgação, a entidade
seus credores? Qual a relevância desse montante pode divulgar somente suas demonstrações
para as necessidades do credor? Ou do sindicato? consolidadas como um conjunto próprio, o
que é desejável ou até mesmo necessário se
Ou outros interessados? Ou seja, mesmo que se te- existirem praticas contábeis nas demonstrações
nha a necessidade do balanço individual para certas consolidadas diferentes das utilizadas nas
finalidades específicas, não se sustenta, aparente- demonstrações individuais por autorização
mente, mesmo nesses casos, o uso da equivalência do órgão regulador ou por conterem efeitos de
patrimonial! práticas anteriores à introdução das Leis nos
11.638/07 e 11.941/09.
Esse contexto leva à necessidade de (re)avaliação da
validade e utilidade da exigência legal da divulgação
das informações individuais. A possível confusão
que a utilização da equivalência patrimonial pode le- Ausência de Definições Conceituais
var é efetivamente muito prejudicial ou só é real em
termos teóricos e acadêmicos? O mercado utiliza as Um ponto bastante criticado, conforme o próprio
informações individuais para algo, sem confundi-las IASB na já citada justificativa do IASB da implan-
com as consolidadas? Se o mercado não as utiliza, a tação do projeto Equity Method, é a ausência de de-
não ser para questões específicas de direitos societá- finições conceituais mais profundas sobre o tema,
rios, deveriam elas ser divulgadas juntamente com ou seja, de algo que sirva como uma estrutura con-
as consolidadas? Não seria possível uma divulgação ceitual que auxilie na solução de problemas práticos
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específicos. Assim sendo, em situações de falta de às obrigações que a investida possui sobre tais per-
normatização para situações práticas específicas, das. Caso o conceito fosse voltado à consolidação
como não há uma linha mestra, uma orientação em uma linha só, todas as perdas nas investidas de-
conceitual própria, cada elaborador e cada firma de veriam ser sempre registradas, independentemente
auditoria tende a buscar uma solução particular que das circunstâncias.
supra suas necessidades.
O mesmo IAS 28 menciona que muitos procedimen-
O aspecto conceitual mais frequentemente questio- tos para a aplicação da equivalência patrimonial são
nado quando se fala de equivalência patrimonial é se similares aos da consolidação, incluindo-se nestes os
esse método é uma base de avaliação de ativo ou se de aquisição de investimentos. Tal visão indica uma
é uma consolidação em uma linha só. Tal questiona- proximidade ao conceito de consolidação em uma
mento se dá pois as normas do IASB não são claras a linha só.
esse respeito. Tanto o citado texto do EFRAG quanto
o do KASB mencionam que as normas do IASB são Ainda, ao exigir que haja a eliminação de transações
contraditórias entre si quando observadas à luz des- entre investida e investidora, o IAS 28 indica, tam-
sa questão. bém, para uma visão mais voltada para a consolida-
ção em uma linha só. Caso o conceito fosse o da base
de mensuração, o resultado integral da investida de-
veria ser base para a equivalência patrimonial, sem
Os problemas da ausência qualquer eliminação.

de definições conceituais sobre Os problemas da ausência de definições conceituais


sobre a equivalência patrimonial também é agrava-
da pela ausência de uma definição sobre o conceito
a equivalência patrimonial de entidade. A consolidação faz com que todos os
ativos e passivos controlados pela investidora sejam
também é agravada pela consolidados. Assim, a entidade que divulga deixa
de ser a investidora individualmente e passa a ser o
ausência de uma definição grupo econômico composto por ela mais suas con-
troladas6. Assim, uma vez que as coligadas não são
sobre o conceito de entidade. controladas, qual o sentido de tratar a equivalência
patrimonial como uma consolidação em uma linha
Em um primeiro momento, a equivalência patrimo- só? A entidade é, afinal, a investida mais as contro-
nial parece ser tratada como uma base de mensura- ladas ou a investida mais as controladas mais as co-
ção. A Basis for Conclusions do IAS 28 – Investments ligadas?
in Associates and Joint Ventures (CPC 18) menciona Veja-se que a consolidação parte do pressuposto do
que investimentos podem ser mensurados com base controle. Uma vez que há controle da integralidade
em diversos critérios, e a equivalência patrimonial dos ativos e passivos da controlada, 100% destes são
é um dos possíveis. Todavia, não há definição mais incorporados às demonstrações da controladora. Ao
detalhada sobre tal mensuração. Ela busca, sim, atri- “consolidar em uma linha” os ativos líquidos das co-
buir um valor ao investimento; mas não atribuir o ligadas o conceito de controle não combina muito
valor justo deste, e sim um valor baseado no patri- bem: a investidora não tem controle sobre os ativos e
mônio líquido contábil da investida. passivos da investida; também não tem controle so-
Por sua vez, o próprio IAS 28 parece tratar a equiva- bre sua participação nesses ativos e passivos. O con-
lência patrimonial como uma base de mensuração trole que a investida possui é sobre a sua participa-
ao invés de uma consolidação em uma linha só em ção, sobre o investimento propriamente dito, mas ao
algumas situações. Por exemplo, a investidora não
precisa contabilizar as perdas no investimento por 6 Vale comentar que essa proposta de conceito de entidade
equivalência patrimonial se estas forem superiores está presente no último Exposure Draft do IASB (2010) sobre a
alteração da Estrutura Conceitual.
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aplicar a equivalência patrimonial, o controle sobre a ICPC 09 menciona que a controladora não deve
o investimento está sendo medido com base nos ati- reconhecer por equivalência patrimonial o resulta-
vos líquidos, sobre os quais a investidora não possui do de venda de ativos entre as controladas, porém,
controle algum (somente influência significativa). atualmente, o IASB não normatiza sobre o tema.
Também se pode argumentar que a consolidação in- Apesar de os tratamentos das transações entre inves-
tegral é diferente da consolidação em uma linha só, tidoras e investidas serem definidos, em linhas bem
e métodos diferentes são aplicados a realidades di- gerais, pelas normas atuais, há casos específicos que
ferentes, o que não alteraria a visão da entidade. De não são tratados, podendo levar a diferentes práticas
qualquer maneira, volta à tela a questão já anterior- contábeis (como, por exemplo, no caso de emprés-
mente apresentada de qual é efetivamente a nature- timos com juros capitalizados entre investidoras e
za e qual o conteúdo informacional da equivalência investidas).
patrimonial.
Outro aspecto muito pobremente tratado pelo IASB
Se a investidora possui interesse na performance da refere-se ao reconhecimento inicial de aquisições de
investida, mas a base de mensuração do ativo é fun- investimento, passando ao largo, por exemplo, da
damentada em algo sobre o qual que ela não possui
questão do tratamento das mais valias dos ativos e
controle (ativos líquidos), não seria interessante a
passivos adquiridos.
aplicação do conceito presente na própria existência
de resultados abrangentes? Por exemplo, no caso de Outra omissão normativa está atrelada à premissa
instrumentos financeiros mantidos para negocia- não declarada de que o patrimônio líquido indivi-
ção, o ativo é avaliado a valor justo, mas o resulta- dual da investidora deve ser igual ao patrimônio
do do exercício é avaliado pela curva do papel. As líquido do consolidado. Isso é mesmo sempre ver-
diferenças entre os dois critérios são tratadas como dade? Deve ser sempre assim? Vejamos alguns ca-
outros resultados abrangentes e “armazenadas” no sos em que isso pode ser mais um problema do que
patrimônio líquido para comporem o resultado do uma solução. O CPC adota, no Brasil, essa posição,
exercício somente quando da disponibilização para mas isso não é necessariamente um espelho do que
negociação. ocorre no IASB.
Não seria essa uma possível solução conceitual para
Segundo definições do IASB, o investimento ava-
a equivalência patrimonial? Ativo a valor justo, re-
liado por equivalência patrimonial deve ser tratado
sultado com base na performance da entidade inves-
como uma unidade de conta única, ao passo que
tida e a diferença mantida no patrimônio líquido?
na consolidação há a existência dos ativos e passi-
Assim não se teria confusão de entidade e controle
vos consolidados. Na realização do teste de impair-
de ativos líquidos, mas também não se estaria afe-
ment do investimento, no consolidado, haverá um
tando o resultado por variações que não se pretende
tratamento específico para cada conta de ativo, in-
realizar no curto prazo (em caso de investimentos
cluindo-se o ágio; nas demonstrações individuais o
que não sejam para venda).
impairment deverá ser realizado com base no inves-
Dúvida, dúvidas e mais dúvidas. Porém, essas não timento como um todo. E os resultados podem ser
são as únicas. diferentes e levar a patrimônios líquidos distintos.
Outra situação de diferentes patrimônios líquidos
advém dos já comentados passivos a descoberto. Nas
Ausência de Normatizações Práticas demonstrações individuais as investidoras podem
parar de reconhecer perdas caso não tenham obri-
Alguns aspectos práticos, menos conceituais do que gações relacionadas a elas. Todavia, nas demons-
os anteriormente explicitados, também não estão trações consolidadas tais perdas devem sempre ser
presentes na normatização da equivalência patrimo- reconhecidas. Assim, tem-se uma diferença entre os
nial. Veja-se, por exemplo, a questão das eliminações patrimônios relativa às perdas diferentemente reco-
dos efeitos de transações entre investidas: no Brasil nhecidas
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Lembremos, ainda, os casos de negócios em conjun- Por outro lado, o CPC 18 menciona que nessas cir-
to: cada uma das investidoras é responsável pelos cunstâncias de existência de direitos substantivos
seus próprios ativos e passivos da empresa investida. somente podem ser utilizadas as participações po-
A divisão entre tais ativos e passivos não necessaria- tenciais (no exemplo, após o exercício da opção)
mente segue a mesma proporção da divisão da parti- caso haja acesso aos retornos. Uma vez que a investi-
cipação no capital social. Assim, os ativos e passivos da não possui acesso a tais retornos, ela deverá con-
consolidados podem não possuir um valor líquido siderar o percentual de 40% na elaboração de suas
exatamente igual daquele que se obtém na aplicação demonstrações individuais, gerando, assim, uma
do percentual de participação sobre o patrimônio lí-
diferença entre os patrimônios individuais e conso-
quido da investida. Nesses casos, o patrimônio líqui-
lidados.
do da investidora na sua demonstração consolidada
seria divergente daquele apurado na demonstração Outro aspecto problemático refere-se à aquisição
individual. E mais, os ágios apurados na aquisição de participação adicional em controladas. Nas de-
serão também diferentes! monstrações consolidadas, as aquisições adicionais
Outro caso: imagine-se uma investidora que possui não podem gerar ágio: qualquer ágio pago deve ser
40% de uma investida e uma opção de compra de considerado como um redutor do patrimônio líqui-
20%, irretratável por parte do vendedor, que pode do. Uma vez que a entidade “Grupo Econômico” já
ser realizada a qualquer momento, desde que seja incorpora a investida integralmente na demonstra-
pago um preço acertado, que não é impedimento ção consolidada, a transação é uma compra e ven-
para o exercício da opção. A investidora não exerce o da de participação entre os próprios sócios daque-
controle, mas a qualquer momento ela pode exercer la investida, ou seja, entre sócios de empresas que
a sua opção e passar a controlar a entidade. Ainda, fazem parte do mesmo grupo. Todavia, pelo ponto
essa opção não dá a ela nenhum direito de proprie- de vista da entidade “Individual” há uma diferença:
dade, inclusive o de recebimento de dividendos. foi efetivamente adquirida uma participação adicio-
Segundo o CPC 36, a investidora possui os chama- nal de um investimento anteriormente existente por
dos direitos substantivos sobre a investida e, portan- parte do dono da entidade “Individual” que pagou
to, possui poder sobre a investida de dirigir as ati- para um terceiro, fora dessa entidade, que é o ou-
vidades relevantes. Ela não o faz por ainda não ter tro sócio da investida que não está incorporada no
exercido a sua opção, mas pode fazê-lo a qualquer “Individual”. Assim, é possível que sejam dados tra-
momento. Nesse caso específico, ela deve consolidar tamentos diferentes, havendo redução no patrimô-
a investida. nio no consolidado e registro de ágio no individual.

Conclusão
A conclusão deste texto é que não há conclusão, mas confusão! Cumprindo o proposto
inicialmente, foram apontadas diversas questões sobre a aplicação do método da
equivalência patrimonial: desde uma investigação superficial sobre a sua natureza
passando por algumas falhas conceituais e demonstrando algumas dificuldades práticas.

Não tivemos o intuito de ser exaustivos no assunto, simplesmente o de levantar questões


que estão, atualmente, sendo debatidas no mundo. Sugerimos a todos os interessados,
confusos, em dúvida ou com soluções para apresentar que entrem em contato conosco
para darmos continuidade ao debate sobre o tema. (revista@fipecafi.org)

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