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& Construções

Ano XXXVII | Nº 53
Jan. • Fev. • Mar. | 2009
ISSN 1809-7197 IBRACON
www.ibracon.org.br Instituto
Instituto Brasileiro
Brasileiro do
do Concreto
Concreto

Marco Regulatório

Concreto para obras


de infra-estrutura

Normalização

Execução de ensaio
Concreto: material
de carbonatação
construtivo mais
consumido no mundo
GESTÃO DA QUALIDADE

Selo para
Pré-Fabricados
de Concreto
Instituto Brasileiro do Concreto

Sumário
Fundado em 1972
Declarado de Utilidade Pública Estadual
Lei 2538 ce 11/11/1980
Declarado de Utilidade Pública Federal
Decreto 86871 de 25/01/1982

Diretor Presidente
Rubens Machado Bittencourt
4 Entenda o Concreto
1
Diretor 1º Vice-Presidente
Paulo Helene As origens e a evolução do concreto
Diretor 2º Vice-Presidente
Mário William Esper
enquanto material construtivo
Diretor 1º Secretário

Nelson Covas

Diretor 2º Secretário
Sonia Regina Freitas

Diretor 1º Tesoureiro
Claudio Sbrighi Neto

Diretor 2º Tesoureiro 23 Marco Regulatório


Luiz Prado Vieira Júnior
O concreto em obras de infra-estrutura seguras, duráveis
Diretor Técnico
Carlos de Oliveira Campos e de qualidade
Diretor de Eventos
Túlio Nogueira Bittencourt

Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento
31 Recuperação Estrutural
Luiz Carlos Pinto da Silva Filho
As metodologias de recuperação
Diretor de Publicações e Divulgação Técnica
José Luiz Antunes de Oliveira e Sousa e reforço de pontes rodoviárias
Diretor de Marketing no Rio Grande do Norte

Alexandre Baumgart

Diretor de Relações Institucionais


Wagner Roberto Lopes
Diretor de Cursos
Juan Fernando Matías Martin

Diretor de Certificação de Mão-de-obra 35 Normalização


Júlio Timerman
Proposta de planejamento e normalização dos ensaios
de carbonatação
Revista CONCRETO & Construções
Revista Oficial do IBRACON
Revista de caráter científico, tecnológico
e informativo para o setor produtivo da construção
43 Gerenciamento Empresarial
civil, para o ensino e para a pesquisa em concreto
Os processos gerenciais relativos a Clientes e Pessoas em empresas
ISSN 1809-7197
Tiragem desta edição 5.000 exemplares
Publicação Trimestral
Distribuida gratuitamente aos associados 52 Controle Tecnológico
Jornalista responsável
Fábio Luís Pedroso – MTB 41728 Programas Interlaboratoriais referentes à resistência à compressão
fabio@ibracon.org.br
axial do concreto

Publicidade e Promoção
Arlene Regnier de Lima Ferreira
arlene@ibracon.org.br

desktop publisher
57 Gestão da Qualidade
Gill Pereira (Ellementto-Arte)
gill@ellementto-arte.com O processo de certificação de elementos
Assinatura e Atendimento pré-fabricados de concreto
office@ibracon.org.br

Gráfica: Ipsis Gráfica e Editora

Preço: R$ 12,00

As idéias emitidas pelos entrevistados ou em


artigos assinados são de responsabilidade de seus
autores e não expressam, necessariamente, a
opinião do Instituto.
seções
Copyright 2009 IBRACON. Todos os direitos de
reprodução reservados. Esta revista e suas partes
não podem ser reproduzidas nem copiadas, em
nenhuma forma de impressão mecânica, eletrônica,
ou qualquer outra, sem o consentimento por escrito 5 Editorial
dos autores e editores.

PRESIDENTE DO Comitê Editorial


6 Converse com IBRACON
Tulio Bittencourt, PEF-EPUSP, Brasil 8 Personalidade Entrevistada – José Zamarion
Comitê Editorial
Ana E. P. G. A. Jacintho, PUC-Campinas, Brasil 20 Mercado Nacional
Joaquim Figueiras, FEUP, Portugal
José Luiz A. de Oliveira e Sousa , UNICAMP, Brasil
Luis Carlos Pinto da Silva Filho, UFRGS, Brasil
29 Entidades Parceiras
Paulo Helene, PCC-EPUSP, Brasil
Paulo Monteiro, UC BERKELEY, USA 50 Engenharia Legal
Pedro Castro, CINVESTAV, México
Raul Husni, UBA, Argentina
Rubens Bittencourt, IBRACON, Brasil
66 Acontece
Ruy Ohtake, ARQUITETURA, Brasil 69 Mantenedor Créditos Capa:
IBRACON
Rua Julieta Espírito Santo Pinheiro, 68 70 Pesquisa Aplicada Foto aérea – Marginal Pinheiros
Jardim Olímpia – CEP 05542-120
São Paulo – SP

4 REVISTA CONCRETo
A publicação
para seu
reconhecimento no
cenário internacional.

científica
Com vistas a esse
reconhecimento, a RIEM
é publicada em inglês,

no IBRACON porém dando ao autor a


possibilidade de realizar todo
o processo de avaliação em
português ou espanhol, fazendo
É com grande satisfação que me dirijo à a tradução após sua aprovação do manuscrito.
comunidade através deste editorial da Revista A critério do autor, o artigo pode ter publicada
Concreto e Construções. Como professor também uma versão em português ou espanhol.
universitário, empenhado na formação de Esse procedimento vem permitindo que mesmo
jovens engenheiros e arquitetos e atuando aqueles profissionais não tão familiarizados
também no desenvolvimento de pesquisa e com o idioma inglês possam comunicar seus
ensino em pós-graduação, senti-me lisonjeado desenvolvimentos à comunidade internacional,
ao ser convidado, há três anos, para atuar e que profissionais estrangeiros tenham também
como editor da Revista IBRACON de Estruturas alcance à nossa comunidade. É interessante
(RIEst) e, mais recentemente, para participar da observar que todos os números publicados
Diretoria do IBRACON. até agora contam com um ou mais autores
Em atividades de pesquisa na estrangeiros.
Universidade, embora a preocupação principal Estamos atualmente em entendimentos
seja a solução de problemas nacionais, é com o ACI, American Concrete Institute, parceiro
fundamental o intercâmbio com pesquisadores tradicional do IBRACON, para que os resumos
do mundo todo. Para isso, a participação de artigos e “links” para os textos completos da
em eventos relevantes e a publicação de RIEM sejam carregados em sua base de dados
resultados em revistas de impacto internacional e disponibilizados aos membros do ACI. Esse
é de vital importância. O peso do IBRACON, procedimento tem potencial para aumentar
com seu grande número de associados e o alcance de nossa revista. Haverá uma
sua atuação na promoção de atividades contrapartida similar com relação às publicações
científicas, principalmente o Congresso do ACI, que será divulgada oportunamente.
Brasileiro do Concreto, evento tradicional na Assim como a Revista Concreto e
área, criou condições para o desenvolvimento Construções está consolidada, em seu 37º ano
de periódicos que promovessem a inserção de publicação, a RIEM está se consolidando
de pesquisadores brasileiros na comunidade como uma revista científica brasileira de alcance
científica internacional. internacional, em condições de ser indexada nos
Em 2004, no 46º Congresso Brasileiro do principais bancos de dados considerados pelos
Concreto, em Florianópolis, tivemos aprovada a órgãos de avaliação de produção científica e de
criação da Revista Ibracon de Estruturas (RIEst) fomento à pesquisa.
e da Revista Ibracon de Materiais (RIMat), Desejo a todos que apreciem o
que passaram a ser publicadas eletronicamente conteúdo deste número da Revista Concreto
a partir de 2005. Em 2008, visando concentrar e Construções e convido para uma visita à
os esforços de maneira mais efetiva, ambas página eletrônica de nossa Revista IBRACON de
foram combinadas de modo a formar a Revista Estruturas e Materiais em http://www.revistas.
IBRACON de Estruturas e Materiais (RIEM), ibracon.org.br/index.php/riem/ e participem
que completou o primeiro volume nesse dessa iniciativa como leitores assíduos ou
mesmo ano. como autores, submetendo manuscritos para
EDITORIAL

A RIEM conta com um número publicação em números futuros.


significativo de artigos em processo de avaliação
ou já aprovados para publicação, indicando uma José Luiz Antunes de Oliveira e Sousa
forte tendência à regularidade, requisito essencial Diretor de Publicações e Divulgação Técnica

REVISTA CONCRETO 5
Converse com o
IBRACON
Inscrição no Concurso Ibracon de Teses e Dis- Contamos com sua ajuda para divulgar e difundir
sertações vai até março esta idéia!
Prof. Luiz Carlos P. Silva Filho
Gostaríamos de lembrar a comunidade técnico- Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento
científica do concreto que as inscrições ao Prêmio IBRACON
IBRACON DE TESES E DISSERTAÇÕES 2009, nas áreas  
de Estruturas e Materiais, serão aceitas até 31 de Publicação de artigos na revista
março de 2009. CONCRETO & Construções
Considerando as regras do prêmio, neste ano podem
concorrer os trabalhos de MESTRADO defendidos en- Caros profissionais,
tre 1º de março de 2007 e 28 de fevereiro de 2009.
As teses de doutorado do período 1º de março de 2008 A revista CONCRETO & Construções, publicação
a 28 de fevereiro de 2010 poderão ser inscritas até 31 oficial do IBRACON, voltada à divulgação de te-
de março de 2010, para premiação em 2010. mas da atualidade, de assuntos controversos e de
Lembramos que o Concurso de Teses e Dissertações boas práticas do setor construtivo relacionados ao
foi implantado pela Diretoria de Pesquisa e Desen- concreto, assim como do ensino, da pesquisa e do
volvimento do IBRACON para valorizar as pesquisas desenvolvimento do concreto, abre espaço a cada
de pós-graduação sobre o concreto. O concurso foi edição aos profissionais que desejem expor suas
iniciado em 2006. opiniões e experiências.
Desde então o mesmo vem promovendo o merecido A participação acontece pela submissão de notas in-
reconhecimento da qualificada produção científico- formativas, comentários e artigos técnicos ao Comitê
tecnológica nacional no campo do concreto e contri- Editorial do periódico. Veja a seguir as principais
buindo para a integração entre as pesquisas acadê- modalidades de colaboração.
micas e o mercado da construção civil no Brasil.
Em 2009, a premiação vai acontecer em Curitiba, Artigo de opinião
durante a realização do 51º Congresso Brasileiro do O artigo de opinião é aquele que visa divulgar uma prá-
Concreto, de 6 a 10 de outubro. tica profissional, uma obra exemplar, a normalização de
Para realizar a inscrição, os candidatos deverão um aspecto construtivo, uma pesquisa tecnológica, etc,
inserir seus trabalhos científicos no Banco de Teses segundo o conhecimento consolidado do profissional.
e Dissertações do IBRACON, acessível no link P&D O valor do artigo referencia-se na experiência do profis-
no site www.ibracon.org.br. Não é necessário ser sional que escreve, em suas vivências na prática.
associado para cadastrar a tese ou dissertação! Sua composição deve conter: título; créditos (nome
Entretanto, para poder concorrer ao Prêmio, os do profissional e empresa onde trabalha); intro-
candidatos deverão ser obrigatoriamente sócios dução; desenvolvimento do tema (subdividido em
do instituto. seções); e conclusão. A referência bibliográfica é
O julgamento será feito por comissões indicadas dispensável, mas, quando necessária, deverá ser
pela Diretoria do IBRACON. Essas comissões serão sucinta (máximo: 5 referências).
formadas por representantes dos diversos segmentos O artigo, com, no máximo, 20.000 caracteres com
do setor, a saber: pesquisa; desenvolvimento; pro- espaços, deve ser entregue em documento Word.
dução; comercialização; mercado; controle; ensino; Fotos, tabelas, figuras, gráficos devem conter le-
uso; manutenção; projeto; materiais; etc. gendas explicativas e ter sua posição indicada no

6 REVISTA CONCRETo
documento. Não é necessário adicionar fotos, figuras coletiva ou mantenedora do IBRACON. Dentre as
e gráficos no documento Word, mas, se for o caso, atividades previstas citam-se as relacionadas com
fazer com imagens em baixa resolução. As fotos, responsabilidade social e as pesquisas tecnológicas
figuras e gráficos precisam ser enviadas, separada- e a inovação aplicadas a produtos e serviços.
mente do documento Word, em formato JPEG em O texto de caráter informativo deve limitar-se a 5000
alta resolução (300 DPI). caracteres. Fotos, tabelas, figuras, gráficos devem con-
ter legendas explicativas e serem enviados separada-
Artigo Científico mente do texto, em formato JPEG em alta resolução.
O artigo científico é aquele escrito segundo o que
prescreve a metodologia científica. Seu objetivo é di- Texto da seção Entidades Parceiras
vulgar as pesquisas científicas realizadas nos centros Textos informativos sobre as atividades e campanhas
de pesquisa e desenvolvimento das empresas, nos realizadas por instituições ligadas ao setor construti-
institutos de pesquisa e nas instituições de ensino. vo. Dentre as atividades relevantes para publicação,
O artigo científico deve-se limitar a 20.000 carac- citam-se: eventos técnicos em geral; campanhas de
teres com espaços e ser entregue em documento valorização da engenharia nacional; pesquisas de opi-
Word. Referências bibliográficas ficam limitadas a, nião sobre o setor construtivo; índices de produtivida-
no máximo, 10. Fotos, tabelas, figuras, gráficos de- de relacionados a um sistema construtivo; publicações
vem conter legendas explicativas e ter sua posição técnicas; pesquisas técnicas e científicas; etc.
indicada no documento. Não é necessário adicionar O texto deve limitar-se a 5000 caracteres. Fotos,
fotos, figuras e gráficos no documento Word, mas, tabelas, figuras, gráficos devem conter legendas ex-
se for o caso, fazer com imagens em baixa resolução. plicativas e serem enviados separadamente do texto,
As fotos, figuras e gráficos precisam ser enviadas, em formato JPEG em alta resolução (300 DPI).
separadamente do documento Word, em formato
JPEG em alta resolução (1Mb cada). Texto da seção “Recordes de Engenharia”
Texto informativo sobre obra emblemática da enge-
Relatório da seção “Tecnologia” nharia em concreto. Aborda-se o aspecto mais rele-
O relatório técnico é documento redigido pelo secre- vante da obra, do ponto de vista de sua grandeza,
tário dos Comitês Técnicos do IBRACON onde se con- dificuldade, inovação, funcionalidade, seja quanto
templa o objetivo da reunião, as propostas discutidas ao seu projeto estrutural, à tecnologia construtiva
e as principais deliberações. Seu propósito é divulgar empregada, ao concreto usado, ao seu controle
as atividades dos Comitês Técnicos, resumindo suas tecnológico, à logística e gestão da obra, etc.
discussões e compromissos para o desenvolvimento Sua composição deve conter: título; créditos (nome do
da cadeia produtiva do concreto. profissional e empresa onde trabalha); apresentação da
Texto deve limitar-se a 5000 caracteres e ser entre- obra em termos gerais; abordagem técnica do aspecto
gue em documento Word. Fotos, figuras, gráficos e construtivo relevante; e dados técnicos pertinentes.
tabelas devem conter legendas explicativas e serem O texto deve conter, no máximo, 5000 caracteres.
entregues separadamente do texto, em formato Ser entregue em documento Word. . Fotos, tabelas,
JPEG em alta resolução (1Mb cada). figuras, gráficos devem conter legendas explicativas e
ter sua posição indicada no documento. Não é neces-

CONVERSE COM O IBRACON


Texto da seção “Acontece nas Regionais” sário adicionar fotos, figuras e gráficos no documento
Os textos sobre as atividades nas Regionais do IBRA- Word, mas, se for o caso, fazer com imagens em baixa
CON visam a divulgação prévia ou posterior à sua resolução. As fotos, figuras e gráficos precisam ser
realização. São textos informativos que trazem o enviadas, separadamente do documento Word, em
objetivo do evento, seu público-alvo, público par- formato JPEG em alta resolução (300 DPI).
ticipante (número de participantes), palestrantes
convidados, temas abordados, patrocinadores, local Os critérios para a publicação das contribuições são:
e data de realização. Pode ser enriquecido com de- Pertinência do tema e da abordagem ao projeto
poimentos de participantes e de realizadores. editorial:
O texto deve ser entregue em documento Word. Enquadramento do artigo aos modelos
Fotos e logomarcas devem conter legendas expli- que seguem;
cativas e serem enviadas separadamente do docu- Aprovação para publicação da parte do Comitê
mento Word, em formato JPEG em alta resolução Editorial e do autor;.
(1Mb cada). Filiação do autor ao IBRACON.
A publicação das contribuições segue sua ordem de
Texto da seção “Mantenedor” chegada e de aprovação, de acordo com as conveni-
Os textos precisam divulgar uma atividade social- ências editorias de cada edição. Participe! Envie sua
mente relevante promovida por empresa sócia colaboração para fabio@ibracon.org.br.

REVISTA CONCRETO 7
José Zamarion Ferreira Diniz
O engenheiro estrutural José Zamarion tem muita história para contar ao
longo de seus 53 anos de carreira profissional. Formado pela Escola de
Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Zamarion
participou ativamente das entidades de classe ligadas ao setor construtivo: foi
membro de várias comissões de Normas Brasileiras da Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT), inclusive das comissões revisoras da NBR 6118
– Projeto de Estruturas de Concreto – e da NBR 9062 – Projeto e Execução
de Estruturas de Concreto Pré-Moldado. Sócio honorário da Associação
Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutura e sócio fundador do Instituto
Brasileiro do Concreto, foi diretor presidente desta entidade nos biênios
1993-95 e 1995-97, além de atuar nela como vice-presidente, diretor técnico
e membro do Conselho Diretor.

Por sua contribuição ao desenvolvimento da engenharia estrutural no Brasil,


particularmente no campo dos pré-moldados de concreto, Zamarion foi
contemplado recentemente com uma homenagem do American Concrete
Institute (ACI), honraria que se vem somar a outras, como os próprios
prêmios do IBRACON – Prêmio Emilio Baumgart e Prêmio Gilberto Molinari.

Ex-professor de concreto armado e protendido da Escola de Engenharia da


UFMG, Zamarion é autor de diversos trabalhos em publicações nacionais e
internacionais, em especial, é de sua autoria o livro
“Manual para Cálculo de Concreto Armado e Protendido”.
Atualmente, é diretor da Zamarion e Millen Consultores.

8 REVISTA CONCRETo
IBRACON – Por que a escolha da Engenha- causa de um curso de inglês que havia feito pa-
ria Civil? Conte-nos sobre as razões que o ralelamente. Em razão disso, me candidatei para
motivaram. uma bolsa na Universidade de Flórida, sendo
José Zamarion Ferreira Diniz – Costumo di- aprovado condicionalmente: faria um semestre.
zer que a primeira laje que eu construí foi com Mas, acabei tendo um emprego na Universidade
nove anos. Nós morávamos numa casa com um – o de auxiliar de pesquisa, fazendo a revisão
lote ao lado, onde começaram a construir uma bibliográfica e teórica, paralelamente fazendo
casa. Eu ficava na janela olhando a construção; estudos sobre fadiga de concreto e ligação entre
às vezes, ia ao canteiro de obras conversar com o concreto pré-moldado e o moldado no local.
os operários. Com uns pedacinhos de cacos de Isso interessava no estado da Flórida em razão
cerâmica, algumas pedrinhas, um pouco de de um programa extenso de auto-estradas com
arame e com o cimento e areia fornecidos pelo trechos no mar de vários quilômetros de pontes
mestre-de-obras, eu fiz o primeiro concreto de em que eram empregadas vigas pré-moldadas
minha vida e construí as paredes e as lajes de protendidas. Desenvolvi, junto com outros cole-
uma pequena casinha. gas, dissertações e teses nesta área, assim como
Na realidade, foi uma escolha que veio com cer- participei da execução de ensaios.
ta naturalidade. Creio que porque a engenharia Um episódio interessante ocorreu numa Feira de
é um tipo de profissão que possibilita que Engenharia promovida pela Universidade:
você materialize o que é idealizado. nós apresentamos o ensaio desenvolvido
pelo professor Lobo Carneiro de compres-
IBRACON – Conte-nos são diametral que resulta
resumidamente sobre sua na ruptura por tração da
trajetória profissional, des- metade de um corpo-de-
tacando os principais mo- O engenheiro prova cilíndrico, que acabou
tivos das diversas escolhas estrutural é o profissional sendo a atração da Feira.
feitas. que participa com os Ao lado havia o ensaio à
José Zamarion Ferreira arquitetos e executores compressão com o concre-
Diniz – A engenharia era das definições relativas to rompendo-se em vários
um curso que abrangia à estabilidade e segurança pedaços e nós aplicando
o conjunto de suas espe- das estruturas, tendo o ensaio que resultava no
cializações: civil, mecâni- por princípio básico a rompimento ao meio.
ca, hidráulica, elétrica... garantia da resistência
Quando comecei a estu- requerida ao longo do tempo IBRACON – O que é ser
dar, de 51 a 56, houve uma um engenheiro estrutural?
definição maior da área Quais são as habilidades
com a criação de cursos de envolvidas nesta profis-
estruturas, de construção , de hidráulica e são? A profissão tornou-se mais simples

personalidade entrevistada
optei pela Engenharia Civil de Estruturas ou mais complexa com o avanço da
e Execução. Quando estava no terceiro tecnologia do concreto e o advento dos
ano, quando tínhamos um contato mais di- softwares de projeto? O que mudou desde o
reto com as bases da engenharia estrutural, início de sua carreira?
na cadeira de resistência dos materiais e num José Zamarion Ferreira Diniz – O engenheiro
curso intensivo no meio do ano letivo, tomei estrutural é o profissional que participa com os
contato com um tipo de concreto diferente, arquitetos e executores das definições relativas
uma evolução do concreto armado, que era o à estabilidade e segurança das estruturas, tendo
concreto protendido. Na ocasião deste curso, por princípio básico a garantia da resistência
estava sendo ampliado um cais em Vitória, no requerida ao longo do tempo.
Espírito Santo, fazendo uso do concreto pro- As habilidades requeridas referem-se a um
tendido com peças pré-moldadas no canteiro. gosto pela matemática e pelas pesquisas de
Aí, definiu-se bem claramente para mim que novos processos e materiais; um compromisso
queria fazer estruturas, dentro de estruturas, ético com a sociedade e respeito com os pro-
concreto protendido e armado. jetos de colegas.
Na seqüência, fiz um curso de estabilidade das Com avanço do concreto, a profissão tornou-se
construções de concreto armado e outros rela- mais complexa, pois se passou de uma situação
tivos à questão, como de pontes e tal. que designava uma determinada resistência
A bibliografia era geralmente em francês, mas à compressão do concreto sem uma visão de
dei preferência à bibliografia em inglês, por aperfeiçoamento da parte executiva, caminhan-

REVISTA CONCRETO 9
do-se para extrair do concreto, matéria-prima de da existência dos caminhos técnicos para
criada pelo homem, maiores vãos e melhores resolver o problema sem saber fazer o cálculo
aproveitamentos em estruturas, tais como as de momentos numa laje, numa viga, etc. Essa
rodoviárias e ferroviárias. abordagem é também válida para o curso de
Com o advento dos computadores, no início da estruturas, onde o conhecimento teórico é mui-
década de 60, estes foram considerados máqui- to mais importante para o desenvolvimento do
nas para geração de tabelas, de ábacos – eu indivíduo no âmbito da profissão do que o co-
mesmo desenvolvi uma série de tabelas para nhecimento de onde encontrar uma tabela num
estruturas de concreto armado e protendido, livro para resolver os problemas técnicos.
publicada no final da década de 60 – para au- Agora, fala-se que não tem prática suficiente
xiliar no dimensionamento. Aos poucos foi se para resolver os problemas no computador.
pensando e desenvolvendo as diversas possibi- A queixa sempre vai existir. Porém, reafirmo
lidades de programação para uma seqüência que depois o indivíduo acaba dando razão à
de execução que caminha para garantir certa formação mais ampla, a ponto de estar se co-
autonomia de um sistema construtivo – existem gitando hoje o retorno a um curso mais amplo;
softwares que permitem hoje criar, a partir da chega-se à conclusão de que a especialização
introdução de dados geométricos e especifi- foi excessiva: os engenheiros estruturais preci-
cações técnicas, uma estrutura até sua sam falar a linguagem dos engenheiros
apresentação final. tecnologistas e também dos responsáveis
Mas, o software não substitui o en- pelos processos executivos.
genheiro estrutural. Ele
resolve problemas que o IBRACON – Como sua em-
engenheiro isoladamente presa lida com essas carên-
não tinha condições de cias? O que é feito em ter-
fazer, como o estudo em Os engenheiros mos de complementação
três dimensões de vários estruturais precisam da formação do engenhei-
aspectos da estrutura. Um falar a linguagem ro civil recém-formado?
grupo de engenheiros vão dos engenheiros José Zamarion Ferrei-
se especializar no desenvol- tecnologistas e também ra Diniz – De um modo
vimento de softwares e de dos responsáveis geral, nossos colaborado-
hardwares; e outros grupos pelos processos res trilharam o caminho
irão perceber as vantagens executivos para desenvolvimento in-
e desvantagens dos di- dividual, de acordo com
versos tipos de estruturas a capacidade e interesse
fornecidos pelos softwares, de cada um, de acordo
optando pela melhor es- com as necessidades que
colha em termos técnicos e econômicos, surgem, onde se procurou extrair o que
estudando em detalhes as estruturas para foi melhor induzido pelas universidades
sua otimização. nos indivíduos, descobrir suas carências
e preenchê-las.
IBRACON – Os cursos de engenharia civil nas Os recém-formados e contratados fazem pouco
escolas brasileiras têm respondido à altura dos mais de dois anos de estágio justamente para
desafios postos pelo mercado? Quais as carên- se descobrir a vertente que mais lhe interessa:
cias ostensivas daquele que é egresso de um eles passam pelas diversas áreas na empresa.
curso de engenharia no país? A prática mostra que a pior coisa que existe é
José Zamarion Ferreira Diniz – É uma velha forçar a pessoa a trabalhar em algo que não
questão a queixa do aluno de que a escola não lhe desperta interesse. Complementarmente,
prepara para a profissão. Na época em que dava sugerimos que ele faça, pelo menos, um mes-
aula na Universidade Federal de Minas Gerais, trado ou cursos esporádicos e rápidos dados
na década de 60, ouvia-se muito essa queixa e nas escolas para rememorar ou se especializar.
havia a interpelação dos coordenadores e dire- Fazemos questão também que o profissional
tores para a questão. Mas, na minha opinião, os participe de projetos de fundações, pois estes,
engenheiros formados, depois de cinco anos de ao longo dos anos, com o desenvolvimento da
profissão, chegam sempre à conclusão de que as mecânica dos solos e das técnicas avançadas de
escolas estavam certas em fazer um programa fundações profundas, tornaram-se um nicho
abrangente, apesar de não muito profundo, paralelo à engenharia estrutural: há 50 anos,
onde o aluno é levado a saber da possibilida- havia a carência de disciplinas sobre mecânica

10 REVISTA CONCRETo
dos solos; hoje, não se concebe que não haja Ao mesmo tempo, a norma tinha sido revista, pela
um especialista em solos atuando junto com o última vez, em 1968 e estava superada em alguns
estrutural. O contato com projetos de funda- pontos. Por exemplo: a norma dispensava a análise
ções visa também o viés da teoria das estruturas, da variação volumétrica do concreto – por retração
não o viés prático de como fazer um buraco e e térmica – no caso da estrutura possuir, a cada 30
fazer a fundação. metros, uma junta de dilação. Na prática, encon-
trávamos pilares muito rígidos com distâncias entre
IBRACON – Por que o concreto é o material eles menor que 30 metros com fissuras.
construtivo mais largamente empregado na
construção civil? b) Que eventos levaram à formação da comissão
José Zamarion Ferreira Diniz – O concreto revisora?
depois da água é o material que mais se con- José Zamarion Ferreira Diniz – A comissão
some. São características de durabilidade, resis- revisora começou seus trabalhos em 1991. Ela foi
tência, plasticidade (dar forma aos constituintes formada no meio técnico de São Paulo: a Escola
da estrutura por sua execução no canteiro Politécnica colocou o departamento de estruturas
dentro de fôrmas e moldes). Economicamente, para discutir aprofundadamente o assunto e indi-
o concreto continua sendo, para a maioria dos cou dois de seus professores – Fernando Stucchi
casos, a melhor solução. Sua versatilidade e Rodolfo França; a Associação Brasileira
não é alcançada por outros materiais. O de Cimento Portland (ABCP) indicou meu
aço, para utilização específicas, tem van- nome para fazer o ‘meio de campo’, porque
tagens – para construção no reduto dos engenheiros
industrial, por exemplo. estruturais eu era bastante
Apesar de que, com boom atuante na confecção de
de consumo de aço no ex- concreto, lidando com as
terior, o concreto ganhou O conceito de concreto questões das propriedades,
mais espaço no mercado – estrutural presente na do desenvolvimento de tra-
hoje se faz as obras corren- norma postula que a ços e do controle de qualida-
tes com 50MPa, que deve destinação do concreto de do concreto.
evoluir facilmente para define os parâmetros de
100MPa, aumentando ain- cálculo, de propriedades c) Quais foram as principais
da mais a competitividade e de ensaio propostas de mudanças in-
do concreto. seridas na nova norma?
José Zamarion Ferreira
IBRACON – O senhor co- Diniz – Basicamente, foi a
ordenou os trabalhos de criação do conceito de con-
atualização da norma bra- creto estrutural, a análise
sileira NBR 6118/2003. estrutural do ponto de vista do uso e da

personalidade entrevistada
a) Por que a norma precisou ser atualizada? aplicação do concreto nas estruturas – como
José Zamarion Ferreira Diniz – No iní- simples, armado e protendido. A norma
cio da década de 90, no Brasil, foi feita uma antiga tinha coisas que só valiam para o concre-
atualização das normas de cimento, que antes to simples, outras para o armado. Apresentava
disso eram muito resumidas, não apresentando cálculos diferentes de resistência à tração, por
uma classificação dos tipos de cimentos dispo- exemplo, para o concreto com ou sem armadura.
níveis no mercado. Com isso, normatizou-se Porém, o concreto enquanto material tem auto-
definitivamente o uso de cimentos compostos, nomia para, de acordo com as exigências a que é
cimentos contendo uma parcela estabelecida de submetido, ser classificado em concreto simples,
escória de alto-forno (resultantes do processo armado e protendido. Isso já havia sido feitos
siderúrgico) e de “fly ash” (cinzas volantes, nas normas no exterior – européias e americanas;
resultantes da queima do carvão, que também desde início da década de 70 apresentavam os
possui características pozolânicas). Daí resultou dimensionamentos e classificações do concreto
em cinco tipos básicos de cimentos. Anterior- com parâmetros estabelecidos por sua destinação
mente à revisão, os profissionais trabalhavam final – sem armadura, com armadura e com pro-
com apenas um tipo de cimento (CP I,cimento tensão. A definição do material para barragem
Portland comum, que não possui pozolanas). por gravidade é concreto simples, mesmo que al-
Curiosamente, hoje, nenhuma fábrica de ci- guma seção use o concreto armado. A destinação
mento no Brasil produz o cimento CP I e, se o do concreto define os parâmetros de cálculo, de
faz, é para misturá-lo com pozolanas. propriedades e de ensaio.

REVISTA CONCRETO 11
Outra proposta foi a consideração das estru- são à International Organization for Standar-
turas como um todo coeso, em razão de ferra- dization (ISO) e de seu reconhecimento no ano
mentas de cálculo que possibilitavam analisar passado. Pelo trabalho do IBRACON em parce-
um prédio em três dimensões e sua interação rias com o American Concrete Institute (ACI),
com a fundação. Antes,era feita a suposição de principalmente no âmbito do Comitê Técnico
que todos os pilares de um edifício eram engas- 318, que é o que discute cálculo e projeto de
tados nos blocos de fundação e isso definia as estruturas de concreto. Por meio deste comitê
grandezas das solicitação de compressão, tração do ACI entramos no Comitê da TC 71, normas e
e momento na malha estrutural. Hoje, com os execução de estruturas de concreto, e depois de
recursos da área de fundação e de computação vários percalços e dificuldades (como arrumar
para estruturas, começa-se a se ter ferramentas dinheiro para viajar), conseguimos aprovar a
confiáveis da interação, mostrando-se inclusive norma como a que atende as prescrições neces-
casos críticos em razão da consideração simpli- sárias para ser aceita como norma internacional
ficada da interação estrutura-fundação. (ISO 19338).

d) As propostas foram bem aceitas pela comu- e) O mercado tem aceito e assimilado as re-
nidade técnica? Qual sua avaliação final do comendações da norma? A norma está bem
trabalho realizado? O que foi concluído disseminada?
e o que faltou ser implementado? José Zamarion Ferreira Diniz – Está.
José Zamarion Ferreira Diniz – Houve Depois de um período de adaptação
muita resistência. O texto- inicial, ela fixou alguns
base, proposto em 1992, foi parâmetros básicos para o
muito discutido em seminá- mercado construtivo.
rios, palestras, debates, em A revisão foi positiva:
várias universidades de todo passamos de f) Quando a norma será
Brasil. Houve uma triagem uma norma muito novamente atualizada?
por parte da Comissão de resumida com assuntos José Zamarion Ferrei-
todas as contribuições recebi- controversos ra Diniz – O processo de
das. Finalmente, chegou-se à sem definição para uma revisão começou desde o
versão quase final da norma norma mais lançamento da nova nor-
em 2002. Foi então apresen- abrangente e com ma. A comissão continua
tada à Associação Brasileira definições mais claras atuante. A idéia inicial é
de Normas Técnicas (ABNT), que a norma fosse revisada
seguindo os ritos adequados a cada cinco anos. Mas, o
de consulta pública estipula- boom na construção civil e
dos pela associação, onde se a crise financeira mundial
recebeu novas contribuições que melhoraram têm adiado tal compromisso. Quem sabe
a redação final. Em março de 2003, a nova no início do ano que vem a gente tenha
norma já valia igualmente em relação à ver- norma revista.
são anterior, mas, devido às diversas modificações As normas do ACI são revisadas a cada três anos,
introduzidas, estipulou-se um prazo de tolerância em decorrência do desenvolvimento muito
de um ano para que ela entrasse oficialmente em rápido das técnicas. Se a revisão não for feita,
vigor – a partir de março de 2004 que passou a ser o concreto perde competitividade em relação
norma utilizada para projetos de estruturas. aos outros materiais construtivos. Os profis-
No geral, a revisão foi positiva: passamos de uma sionais brasileiros do aço para construção, por
norma muito resumida, com assuntos contro- exemplo, fizeram uma revisão de sua norma nos
versos e sem definição, para uma norma mais moldes da nossa norma, e estão se preparando
abrangente com definições mais claras. É funda- para entrar no segmento construtivo com força,
mental citar a ampliação do escopo da Norma o que representa um desafio para o concreto.
com a consideração do estado limite de serviço e
a conseqüente consideração da durabilidade das IBRACON – Dos projetos em que participou,
estruturas, parâmetros obrigatórios nos projetos. qual considera o mais exemplar para sua car-
Ao mesmo tempo, a gente respeita o trabalho reira profissional? Por quê?
dos colegas que nos antecederam, valorizando José Zamarion Ferreira Diniz – Acho que foi
os serviços voluntários prestados e as condições o desenvolvimento de galpões industriais de
precárias para a realização do trabalho. grande porte na década de 70. Galpões com vãos
Mas, o teste final da norma veio de sua submis- de 25 a 30m, altura dessa ordem, comprimento

12 REVISTA CONCRETo
de 100m, com duas ou mais pontes rolantes de o que foi uma surpresa, pois esperava-se que a
até 200 toneladas de capacidade, que usaram Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
concreto parcialmente pré-moldado na obra ganhasse o prêmio. A resistência alcançada pelos
para peças em concreto armado e protendidas. vencedores passou de 100MPa. A brita usada foi
Pela primeira vez, as estruturas de aço no Brasil a de Campinas, famosa por sua brita de basalto,
em obras dessa finalidade tiveram a concor- uma vez que havia liberdade total para buscar os
rência do concreto, o que mostrou, no final da meios de fazer o concreto mais resistente.
década de 70, as verdadeiras possibilidades do Outra proposta foi a de levar o Congresso Bra-
material, do ponto de vista econômico e técnico sileiro do Concreto para outras capitais do país
- desenvolver estruturas desse porte e executá- além de São Paulo.
las com qualidade, satisfazendo as exigências Mas, o que caracteriza o trabalho no IBRACON
internacionais. Por outro lado, tendo em vista não é seu destaque para a pessoa, mas o trabalho
que a norma de projetos de concreto em vi- em conjunto, em que cada um dá sua contribui-
gor era a de 78, a estrutura já dava um passo ção dentro de suas limitações e possibilidades.
enorme em relação à própria norma vigente, Depois foi instaurado o concurso de Aparato
estipulando parâmetros que vieram a ser asse- de Proteção ao Ovo, inspirado em concursos
gurados apenas na norma de 2003. similares aos realizados nos Estados Unidos.
Outras obras desenvolvidas neste aspec-
to foram as estruturas de aeroportos no c) Que futuro enxerga para o Instituto?
Brasil, como o Aeroporto de Cumbica, em José Zamarion Ferreira Diniz – É difícil
São Paulo – usou aproxima- planejar ações no IBRACON
damente 10 mil peças de por causa dos altos e baixos
concreto pré-moldado de do mercado da construção
2,5 x 10m, que compõem civil. Por um lado, há uma
os pavimentos da estrutura concorrência acirrada de
desse aeroporto. O pessoal do mercado feiras, o que traz dificulda-
imobiliário deveria ter uma des financeiras para manter
IBRACON – O senhor foi maior participação, pois atividades e programas. Por
presidente do IBRACON o IBRACON sintetiza outro, a contribuição de em-
por duas gestões. o desenvolvimento do presas cedendo funcionários
a) Quais motivos o levaram concreto no Brasil e horas para os trabalhos de
a aceitar o cargo? diretoria estão cada vez mais
José Zamarion Ferreira restritas. Mas, temos um
Diniz – Eu fui um dos fun- corpo fixo de funcionários,
dadores do IBRACON em que ao longo do tempo foi
72, juntamente com outros montado, que mantém viva
colegas, e participei ativamente das reu- a chama, a idéia dos fundadores.

personalidade entrevistada
niões técnicas semestrais, apresentando É preciso uma ação junto aos produtores
trabalhos ou fazendo parte da organiza- de estruturas, o pessoal do mercado imo-
ção. Depois, fui nomeado diretor tesoureiro biliário, por exemplo, que deveriam ter uma
e os colegas acharam que eu tinha algumas maior participação, pois o IBRACON sintetiza
idéias para o Instituto que poderiam dar certo, o desenvolvimento do concreto no Brasil e a
e acabaram me elegendo. possibilidade de execução de estruturas econô-
micas e desafiadores é resultante desse conhe-
b) Quais foram suas principais realizações? cimento técnico acumulado e disseminado nos
José Zamarion Ferreira Diniz – Como presiden- Congressos do IBRACON.
te, fiz um programa de revisão de rumos, de que-
bra de paradigmas e de mudança dos métodos de IBRACON – Qual é o significado da honraria
trabalho que trouxeram um crescimento razoável recebida pelo senhor do ACI pelos seus trabalhos
ao Instituto. Por exemplo, realizamos o primeiro de divulgação do concreto na América Latina?
concurso IBRACON. Era um ensaio de compressão José Zamarion Ferreira Diniz – A homenagem
do concreto de alta resistência, que foi realizado foi gratificante. Mas, creio que exageraram um
num clima de muita resistência e descrença. Os pouco ao atribuir a mim a divulgação do concre-
corpos-de-prova de vários lugares do Brasil foram to na América Latina, creio que esta se restringiu
rompidos em Porto Alegre, durante o Congresso ao Brasil. Sem dúvida, o reconhecimento veio
Brasileiro do Concreto. Quem ganhou o prêmio como conseqüência natural da intensificação das
foram os estudantes da Universidade da Bahia, relações entre o IBRACON e o ACI.

REVISTA CONCRETO 13
Concreto: as origens e a evolução
do material construtivo
mais usado pelo homem
Fábio Luís Pedroso

O concreto é material construtivo am-


plamente disseminado. Podemos encontrá-lo
em nossas casas de alvenaria, em rodovias, em
pontes, nos edifícios mais altos do mundo, em
torres de resfriamento, em usinas hidrelétricas
e nucleares, em obras de saneamento, até em
plataformas de extração petrolífera móveis.
Estima-se que anualmente são consumidas 11
bilhões de toneladas de concreto, o que dá,
segundo a Federación Iberoamericana de Hor-
migón Premesclado (FIHP), aproximadamente,
um consumo médio de 1,9 tonelada de concreto
por habitante por ano, valor inferior apenas ao
consumo de água. No Brasil, o concreto que
sai de centrais dosadoras gira em torno de 30
milhões de metros cúbicos.

Por que o concreto é tão


largamente empregado?

De maneira sucinta, pode-se afirmar que


o concreto é uma pedra artificial que se molda
à inventividade construtiva do homem. Este foi
capaz de desenvolver um material que, depois Burj Dubai – edificação mais alta do mundo
de endurecido, tem resistência similar às das (aprox. 700m)
rochas naturais e, quando no estado fresco, é
composto plástico: possibilita sua modelagem nicas de Niemayer. Mas existem outras vantagens:
em formas e tamanhos os mais variados. a disponibilidade abundante de seus elementos
Duas propriedades do concreto que o desta- constituintes e seus baixos custos.
cam como material construtivo são: sua resistência “Em termos de sustentabilidade, o con-
à água – diferentemente do aço e da madeira, o creto armado consome muito menos energia do
concreto sofre menor deterioração quando exposto que o alumínio, o aço, o vidro, e também emite
à água, razão de sua utilização em estruturas de proporcionalmente menos gases e partículas
controle, armazenamento e transporte de água – e poluentes”, ressalta Arnaldo Forti Battagin,
sua plasticidade – que possibilita obter formas cons- chefe dos laboratórios da Associação Brasileira
trutivas inusitadas, como se vê nas obras arquitetô- de Cimento Portland (ABCP).

14 REVISTA CONCRETo
A propósito, qual é a
definição
de concreto? Quais são
seus
elementos constituintes?

Segundo a ASTM (Ame-


rican Society for Testing and
Materials), o concreto é um
material compósito que consis-
te de um meio aglomerante no
qual estão aglutinadas partícu-
las de diferentes naturezas:
O aglomerante é o
cimento em presença
de água;
O agregado é qualquer Concretagem do piso de Aeroporto em Bologna
material granular, como
areia, pedregulho, O segredo para que mistura se com-
seixos, rocha britada, escória de porte como descrito acima está justamente na
alto-forno e resíduos de construção e presença do cimento. Este é mistura finamente
de demolição; se as partículas de agregado moída de compósitos inorgânicos calcinados
são maiores do que 4,75mm, o agregado é (calcário, argila) que, quando combinada com
dito graúdo; caso contrário, o agregado água, endurece. As reações químicas entre
é miúdo;
os minerais do cimento e a água (reações de
Os aditivos e adições são substâncias
hidratação) resultam na pasta que se solidifi-
químicas adicionadas ao concreto em
cará com o tempo, reunindo em torno de si
seu estado fresco que lhe alteram algumas
os agregados.
propriedades, adequando-as às
Há dois tipos básicos de cimento. Os
necessidades construtivas.
que não endurecem debaixo da água e, quan-
“O concreto é uma mistura homogê-
do endurecidos, dissolvem-se lentamente
nea de cimento, agregados miúdos e graúdos,
se expostos à água. Sua origem remonta ao
com ou sem a incorporação de componentes
Egito Antigo e à Mesopotâmia. E os cimentos
minoritários (aditivos químicos e adições),
usados no concreto, que permanecem estáveis
que desenvolve suas propriedades pelo en-
durecimento da pasta de cimento”, define em ambiente aquoso – solidifica-se e mantém
Inês Battagin, superintendente do CB-18 da suas propriedades (resistência à água); por isso,
Associação Brasileira de Normas Técnicas dito cimento hidráulico. O cimento hidráulico
(ABNT). largamente empregado no concreto moderno
é o cimento Portland.

O que é o cimento
Portland?
Por que este nome? ENTENDA O CONCRETO
CAL

Os sumérios foram os
primeiros povos a construírem
com barro cozido, que, apesar
de maleáveis, eram pouco re-
sistentes. Os zigurates, obras
representativas da construção
Mesopotâmica, eram templos
em forma de torres, atual-
mente muito desgastados
Pirâmide de Queóps em primeiro plano pela ação do tempo.

REVISTA CONCRETO 15
Equação 1 – Reação de Calcinação

Equação 2 – Extinção da Cal Virgem

Equação 3 – Endurecimento da Cal

A gipsita é originária do sulfato bi-hidrata-


do, acompanhado de certas impurezas; sua calci-
nação resulta no gesso, também um aglomerante
que endurece por hidratação, mas que, como a cal,
não possui a propriedade de resistência à água.

Cimento romano

Os romanos descobriram que, misturan-


do-se a cinza vulcânica das proximidades do
Panteão romano – vista do interior
Vesúvio – chamada pozolana – com a cal hidra-
tada, numa proporção que variava de 25 a 45%,
Mas, cabe aos egípcios o uso, pela pri- obtinham uma cal que endurecia sob a água
meira vez, do cimento de tipo não-hidráulico: – cal pozolânica. Esta foi usada na construção
a cal e a gipsita. da Via Ápia, dos banhos romanos, do Coliseu,
A cal é um aglomerante simples re- do Panteão e dos aquedutos. Gordura animal,
sultante da calcinação de rochas calcárias. A leite e sangue foram usados como aditivos para
queima da rocha resulta na produção de óxido incorporar ar à mistura.
de cálcio, denominada cal virgem. Esta, na pre- A eles atribui-se também a descoberta da
sença de água (cal hidratada), transforma-se cal hidráulica, obtida pela calcinação de rochas cal-
em hidróxido de cálcio, o aglomerante que, cárias com uma porção considerável de materiais
juntamente com areia, era
utilizado para assentar os
tijolos feitos de barro e pa-
lha. A argamassa, mistura
de areia, cimento e água,
tem consistência plástica,
mas, em contato com o ar,
endurece pela recombina-
ção do hidróxido com o gás
carbônico, reconstituindo
o carbonato de cálcio ori-
ginal (veja as equações). O
endurecimento processa-se
lentamente, de fora para
dentro, por meio da poro-
sidade da argamassa que
possibilita, de um lado, a
evaporação da água e, de
outro, a penetração do ar.
Por isso, a cal é denominada
de aglomerante aéreo. Farol atual de Eddystone

16 REVISTA CONCRETo
argilosos. “Se há dúvidas de que os romanos não Mas, sua patente foi somente obtida
tenham sido os pioneiros do concreto, há unani- por James Parker, em 1796, na Inglaterra. Pa-
midade entre os pesquisadores de que eles indu- rker fundou uma fábrica de cimento, onde os
bitavalmente foram os primeiros que o usaram em nódulos de calcário impuro contendo argila
larga escala”, acrescenta Arnaldo Battagin. eram despedaçados e queimados em fornos
A técnica de construir com concreto foi a em forma de garrafa com capacidade para até
base da ordem espacial encontrada na arquitetura 30t. Após três dias, o calcário suficientemente
romana. As abóbadas são a expressão genuína de calcinado era retirado por uma abertura na
um material plástico, maleável até desenvolver re- parte inferior do forno e mais rocha e carvão
sistência suficiente para se manter por si mesmo. O adicionados no topo. A rocha calcinada era
Panteão, construído de 118 a 128, é estrutura for- moída e peneirada antes de ser acondicionada
mada de uma cúpula de 43m de diâmetro apoiada em barris para expedição. A fábrica prosperou
num cilindro de concreto pozolânico revestido até 1810, quando a patente expirou.
com tijolos e mármore com 6m de espessura nas Cabe, porém, a Louis Vicat, construtor
nervuras. Sua fundação, um anel de concreto com francês, a teoria explicativa para o comporta-
4,5m de profundidade e 7m de largura, foi a solu- mento e as propriedades físicas do cimento. Sua
ção encontrada para evitar recalques diferenciais principal descoberta foi de que as propriedades
e para melhor distribuir a pressão aplicada no solo cimentíceas dependiam da proporção das mis-
de pouca capacidade de suporte. turas, que poderiam resultar em tipos diferen-
tes de cimentos, inclusive mais resistentes do
Cimento natural que os naturalmente encontrados.

Estudos experimentais sistemáticos sobre Cimento portland


o cimento romano foram somente realizados em
1755, pelo construtor John Smeaton, encarregado O cimento Portland surgiu, porém, da
da reconstrução do Farol de Eddystone, situado a queima de calcário e argila, finamente moídos e
9km do Porto de Plymouth, um dos portos ingle- misturados, sob altas temperaturas, promovida
ses mais movimentados da época. Como na maré pelo inglês Joseph Aspdin, em 1824. Ele estabele-
alta a rocha onde o Farol seria construído ficava ceu uma fábrica de cimento em Leeds, em 1825, e
submersa, a escolha da argamassa a ser utilizada denominou seu cimento de Portland, em menção
era fator decisivo para o sucesso da construção às rochas da ilha britânica de Portland, material
e para sua durabilidade. Dois parâmetros para de construção muito conhecido e utilizado na
a escolha do cimento foram considerados: suas época. “O cimento Portland obtido apresentava
propriedades hidráulicas e seu custo. cor e propriedades de durabilidade e solidez se-
Smeaton descobriu que o uso da cal pro- melhantes às rochas da ilha”, explica Arnaldo.
duzida a partir de uma queima imperfeita do cal- Apesar do nome, o cimento hoje conhe-
cário seria inútil, pois ela não resistia sob a água. cido como Portland não é o mesmo material
Descobriu que a dureza da rocha a partir da qual a patenteado por Aspdin. Isso porque o cimento
cal era produzida não era determinante da dure- moderno é obtido pela queima de uma mistura
za da argamassa. Encontrou que as propriedades definida de rocha calcária e argila, finamente
hidráulicas do cimento dependiam da quantidade moídas, até sua fusão incipiente, resultando numa
de argila contida na rocha calcária, mas que, se substância denominada clínquer. Os fornos de
essa argila fosse posteriormente adicionada, não Aspdin eram precários demais para conseguirem
resultaria em cimento hidráulico. Finalmente, obter clínquer, além da proporção da mistura não
achou que, das várias substâncias adicionadas às ser definida na patente. Construídos em alvenaria
argamassas – pedras pomes, cinzas volantes, resí- com forma de garrafa, com aproximadamente ENTENDA O CONCRETO
duos de tijolos e escórias de forjas de ferreiros – as 12m de altura e 5,6m de diâmetro, os fornos quei-
que se mostraram mais eficientes para conferir as mavam a mistura imperfeitamente, o que reque-
propriedades hidráulicas foram a pozolana e uma ria um custoso trabalho de inspeção e classificação
rocha vulcânica denominada tarras. manual, sendo processo bastante anti-econômico
Um fator conjuntural contribuiu para a (o consumo de coque podia atingir mais da me-
escolha da pozolana: um mercador de Plymou- tade do peso de cimento produzido).
th, tendo importado grandes quantidades do Por causa dos fornos, o uso do concreto
material para construção da Ponte de West- foi incipiente na década de 30 dos anos 1800.
minster, viu-se obrigado a vendê-lo a preços Ele foi usado principalmente em fundações.
baixos ao ter seu plano recusado. Mas, o termo concreto ficou estabelecido para
As investigações de Smeaton resultaram designar uma massa sólida resultante da com-
num excelente aglomerante e na determinação binação de cimento, areia, água e pedras.
das características fundamentais do cimento Seu desenvolvimento ganhou impulso a
hidráulico natural. partir da segunda metade do século XIX, princi-

REVISTA CONCRETO 17
palmente na Alemanha, com avanços no projeto
de fornos, que aumentaram a uniformidade do
clínquer, e dos estudos sobre a melhor propor-
ção da mistura para a obtenção de um clínquer
mais duro.

Tipos de cimento e de concreto

As dosagens do cimento e do concreto, ou


seja, as proporções dessas misturas, são tão impor-
tantes para a obtenção de um produto de qualidade
que são normalizadas. Cada país possui normas
técnicas que recomendam como obter diferentes
cimentos e concretos para diferentes aplicações.
No Brasil, o mercado da construção civil
dispõe de 8 opções de cimentos:

a) Cimento Portland Comum (CP I)


É o cimento Portland sem quaisquer adi-
ções, exceto gesso, usado para controlar a pega
(o tempo necessário para o endurecimento par-
cial do composto). É recomendado para o uso
em construções de concreto em geral, quando
não são exigidas propriedades especiais do ci- Peça de concreto pré-fabricado
mento. É normalizado pela ABNT NBR 5732.
c) Cimento Portland de Alto-Forno (CP III)
Normalizado pela ABNT NBR 5735, este
b) Cimento Portland Composto (CP II)
cimento pode conter escória de alto-forno
Tem adições de escória, pozolana ou
variando de 35 a 70% de sua massa. Por apre-
fíler em pequenas proporções. Sua composição
sentar maior impermeabilidade e durabilidade,
segue a norma ABNT NBR 11578. Devido ao
baixo calor de hidratação e alta resistência à
desempenho equivalente ao CP I, o cimento
expansão e a sulfatos (reações álcali-agregado),
composto atende plenamente às necessidades
este cimento é vantajoso em obras de concreto-
da maioria das aplicações usuais, apresentando,
massa, tais como a construção de barragens.
em muitos casos, vantagens adicionais.
d) Cimento Portland Pozolânico (CP IV)
Possui pozolana
em quantidade que varia
de 15 a 50% de sua massa.
É normalizado pela ABNT
NBR 5736. Recomendado
para obras expostas à
ação de água corrente e
para ambientes agressi-
vos por suas propriedades
de baixa permeabilidade,
alta durabilidade, alta
resistência à compressão
a idades avançadas.

e) Cimento Portland
de Alta Resistência
Inicial (CP V – ARI)
Por atingir altas re-
sistências já nos primeiros
dias de aplicação, este ci-
Edifício e-tower – recorde em resistência à compressão no Brasil
mento é usado por fábricas

18 REVISTA CONCRETo
de blocos para alvenaria, blocos para pavimenta- c) Concreto pesado: massa específica
ção, de tubos, lajes, meio-fio, mourões, postos e acima do intervalo estabelecido para o
de elementos arquitetônicos pré-moldados, que concreto normal, devido ao uso de
necessitam de um cimento de elevada resistência agregados de alta densidade (usado
inicial para a rápida desforma. O desenvolvimento em blindagem contra radiação)
dessa propriedade é obtido pela utilização de Os concretos podem também ser classifi-
uma dosagem específica de calcário e argila na cados em relação à sua resistência à compressão
produção de clínquer e pela moagem mais fina do aos 28 dias, conforme a ABNT NBR 8953:
cimento, normalizados pela ABNT NBR 5733. a) Concreto de baixa resistência: menos
de 20MPa (não adequado à finalidade
f) Cimento Portland Resistente a estrutural, segundo a NBR 6118)
Sulfatos (RS) b) Concreto de resistência normal:
Normalizado pela ABNT NBR 5737 e reco- de 20 a 50MPa
mendado para obras em ambientes agressivos, c) Concreto de alta resistência: mais
tais como: redes de esgotos e obras em regiões de 50MPa
litorâneas, subterrâneas e marítimas. Os cinco
tipos de cimento expostos anteriormente podem
ser resistentes a sulfatos, caso observarem os Para saber mais
parâmetros para essa propriedade.
Concreto: microestrutura, proprie-
g) Cimento Portland de Baixo Calor de dades e materiais – Kumar Mehta e Paulo
Hidratação (BC) Monteiro
Da mesma forma, é considerado cimento A evolução do concreto armado – Luís
de baixo calor de hidratação os tipos anteriores Fernando Kaefer
que demonstrem uma dissipação mais prolon- Sites: Associação Brasileira de Cimento
gada do calor gerado durante a hidratação Portland (www.abcp.org.br) e Instituto Bra-
do cimento. Definido pela ABNT NBR 13116, é sileiro do Concreto (www.ibracon.org.br)
recomendado para grandes concretagens onde
é indispensável o controle de fissuras de origem
térmica, como em obras hidráulicas.

h) Cimento Portland Branco (CPB)


É o cimento de coloração diferenciada
da coloração natural cinza. Sua obtenção
ocorre a partir de matérias-primas com bai-
xos teores de óxido de ferro e manganês e
em condições mais severas de resfriamento.
Ao cimento branco assim obtido, pode-se Água! Procure o seu jogo.
adicionar pigmentos coloridos para cimentos
de diferentes cores. Segundo a NBR 12989,
este cimento deve ter índice de brancura
maior do que 78%. É um cimento adequa-
do aos projetos arquitetônicos de concreto
aparente e para composição de argamassas ENTENDA O CONCRETO
para rejunte de azulejos e outras aplicações
não-estruturais.
Com relação ao concreto, em função de
suas massas específicas, obtidas pelas diferentes
dosagens da mistura – também chamadas de tra-
ços – temos três classes básicas de classificação:
a) Concreto de densidade normal: massa
específica no intervalo de 2000 a O sistema PENETRON® de impermeabilização por cristalização integral do concreto, cria
2800kg/m3 (comumente encontrado em um cristal insolúvel que cresce profundamente dentro dos poros capilares e fissuras do
concreto. Este tipo de mecanismo protege o concreto da corrosão e da carbonatação,
obras em geral)
reduzindo as fissuras de retração, aumentando a resistência total e durabilidade. De
b) Concreto leve: densidade abaixo do baixo custo, mais rápido e de fácil aplicação. E isso tudo com um suporte de um time de
intervalo estabelecido para o concreto pesos-pesados de um dos líderes mundiais em impermeabilização do concreto.
normal, obtida com o uso de agregados
com menor massa específica
Maiores informações no site: www.penetron.com/br
Tel: (11) 4991-5278 REVISTA CONCRETO 19

info@penetron.com.br
A crise mundial e os impactos
no setor da Construção Civil
Samara Miyagi • Analista Setorial
All Consulting

Os reflexos da crise financeira índices de renda e emprego, que, por sua


mundial já assolaram o mercado brasilei- vez, acabam inibindo uma maior procura
ro, prejudicando o setor da construção pelo setor imobiliário, assim como gera um
civil nacional. incremento na inadimplência.
Este cenário deve-se ao menor nível Nessa conjuntura altamente instável
de investimentos no mercado, assim como, e, até aqui, desfavorável para o mercado da
a redução no consumo e demanda da po- construção, percebe-se uma sensível queda
pulação. Em se tratando de um mercado no número de lançamentos imobiliários,
no qual o poder de compras dos consumi- principalmente quando comparado a perí-
dores é fator primordial, os efeitos em seus odos de forte alta, como 2007 e o primeiro
resultados são rapidamente sentidos semestre de 2008.
pelas construtoras. Cabe frisar que o setor da construção
Outro fator que tem prejudicado o civil e pesada ocupa um lugar de bastante
desempenho da construção é a queda nos destaque na economia nacional, pelo fato

MERCADO NACIONAL

20 REVISTA CONCRETo
de movimentar elevados investimentos no O principal problema é que, no de-
País e por empregar muita mão-de-obra. correr de 2008, esse cenário se alterou, com
Desta forma, uma queda no seu desempe- fortes oscilações negativas nas cotações das
nho prejudica não só sua própria indústria, ações e queda na lucratividade das empresas
mas também contribui de forma relevante listadas, inclusive do setor da construção.
para uma alta no desemprego. De uma maneira geral, pode-se infe-
Com o objetivo de amenizar esses rir que o movimento de ingresso na Bovespa
reflexos negativos, o governo federal tem passou a mostrar ao mercado desempenhos
intensificado seus esforços no intuito de completamente distintos, sendo que num
incrementar o consumo, incentivando o au- primeiro momento, as operadoras ficaram
mento de crédito disponível no mercado e capitalizadas, estocaram terrenos e investi-
reduzindo as taxas de juros. Além disso, uma ram no lançamento de muitos empreendi-
possível iniciativa do governo de incentivo mentos imobiliários.
à habitação popular poderá também contri- Com o advento da crise mundial, as
buir para melhores resultados do setor. empresas de capital aberto passaram a en-
Apesar dos incentivos, a conjuntu- frentar uma forte desvalorização, o que as
ra atual não está contribuindo para uma tornou totalmente vulneráveis ao mercado,
recuperação das construtoras. A inserção abrindo inclusive espaço para aquisições por
de empresas no mercado de capitais, por parte dos concorrentes.
exemplo, que foi prática bastante comum Vale lembrar que muitas das constru-
nos últimos anos - estimuladas pelo bom toras que possuem ações listadas na bolsa
desempenho da economia nacional – agora atuam em diversos segmentos, como o de
intensifica a crise nas companhias. materiais de construção e incorporação, o
que pode gerar desempenhos distintos de vêm sofrendo com a conjuntura econômica
acordo com a atividade exercida. desfavorável.
No caso das empresas que atuam no Em relação ao desempenho do setor
segmento de materiais de construção, com como um todo neste ano, ainda não se
destaque para a indústria de cimentos, a pode afirmar com certeza como irá reagir
tendência é de que, em 2009, os resultados o mercado, considerando-se as medidas do
ainda sejam positivos, visto que muitos governo, a instabilidade financeira dos in-
empreendimentos ainda se encontram vestidores estrangeiros e a insegurança da
em andamento. população em arcar com dívidas de longo
Ao analisarmos os resultados apre- prazo. Contudo, o que se pode inferir é que
sentados pelas empresas do setor na os resultados de 2009 e, provavelmente,
Bovespa em 2008, podemos observar que 2010 ficarão bem abaixo dos apurados nos
seu desempenho ficou bem abaixo do es- dois anos anteriores.
perado, com forte queda na lucratividade De uma maneira geral, o momento
e, conseqüentemente, no valor de mercado agora é de cautela, revisão das estratégias,
das mesmas. de freio nos investimentos e de busca por
Em termos de valor de mercado, as aportes que poderão minimizar os rombos
empresas do setor sofreram um grande com a inadimplência.
abalo neste último ano, principalmente a A previsão é de que as taxas de juros
partir do segundo semestre. mantenham a trajetória de queda, o que já
Uma das alternativas viáveis que po- é um ponto positivo para o setor, porém,
derão ser adotadas pelas construtoras para embora o governo venha tentando estimu-
evitar maiores efeitos em seus resultados é lar o crédito por parte dos bancos, a medida
a abertura da opção de recompra de ações, ainda deverá ser insuficiente para garantir
com prioridade para os próprios executivos o aquecimento da demanda e a recuperação
das empresas, seguindo o exemplo de outros dos resultados das empresas ligadas ao setor
setores da economia nacional que também da construção civil.

IBRACON

22 REVISTA CONCRETo www.cinpar2009.com.br


Concreto para obras
de infra-estrutura
Marcos de Ávila Pimenta
Furnas Centrais Elétricas S.A.

Introdução

O PAC-Programa de
Aceleração do Crescimento en-
contra-se em fase de implan-
tação e prevê a execução de
grande quantidade de obras
de infra-estrutura, com inves-
timento total de R$646 bilhões
entre 2007 e 2010 [1]. Este
valor, somado aos R$502,2 bi-
lhões previstos para aplicação
após 2010, eleva para R$1,15
trilhão o investimento total
do PAC, sendo R$759 bilhões
em energia, R$132,2 bilhões
em logística e R$257 bilhões
na área social/urbana. Foto 1 – Vista geral da UHE Serra da Mesa-GO, obra licitada com base nos
A aplicação de quantia documentos de Projeto Básico
tão elevada exige dos órgãos
públicos e das empresas responsáveis pela fase que antecede à contratação das obras;
implantação das obras ações enérgicas para planejamento adequado das obras;
evitar o desperdício de recursos com obras pla- especificações técnicas e contratos claros
nejadas e executadas de maneira inadequada. e objetivos, que propiciem a execução
De fato, apenas 1% de desperdício dos recur- de obras seguras, econômicas e duráveis,
sos previstos representa para o país perdas de preservando os interesses dos
MARCO REGULATÓRIO
R$11,5 bilhões. Uma economia possível, mas concessionários e permitindo, ao
não viabilizada, de 5% a 10%, razoável de construtor, liberdade na escolha dos
se esperar a partir de estudos e projetos bem métodos construtivos e utilização eficiente
desenvolvidos, pode representar desperdício de seus recursos;
superior a R$100 bilhões! implantação das obras por equipes
Um país como o Brasil, com tanta neces- competentes nas áreas de projeto,
sidade e carência de recursos, não pode jogar construção e controle;
fora tal soma de dinheiro, sendo imperativo adequada alocação dos riscos dos
que os órgãos públicos e os empreendedores empreendimentos entre contratantes
privados evitem que isso aconteça, através de e contratados;
ações efetivas tais como: definição dos termos finais dos documentos
estudos e projetos bem desenvolvidos, contratuais para execução das obras antes
com grau de detalhamento adequado na da sua licitação;

REVISTA CONCRETO 23
estruturação eficiente da supervisão dos Segurança do projeto
trabalhos, com base no equilíbrio entre
os custos das atividades e a garantia da
qualidade e segurança das obras; De nada adianta a verificação teórica da
gestão adequada das questões sócio- segurança estrutural de uma obra, se, durante a
ambientais, evitando impactos nos prazos construção não for dedicada, de forma cotidia-
e custos pela falta das licenças necessárias. na e sistemática, a atenção devida à verificação
A implantação de uma grande obra do atendimento aos requisitos especificados.
com qualidade, segurança e economia não se Por outro lado, de nada adianta comprovar que
consegue apenas a partir do momento em que a resistência do concreto atende ao especifica-
se inicia a sua construção. Ao contrário, a busca do, se, ao mesmo tempo, não for observada,
de tais objetivos deve ser iniciada bem antes, a analisada e considerada a resposta dos terrenos
começar pelo desenvolvimento adequado dos e maciços rochosos afetados pela implantação
estudos e projetos que antecedem a licitação, da obra. Não é muito comum a ocorrência de
passando pelas fases de detalhamento do pro- colapsos de obras por causa da baixa resistên-
jeto e das investigações de campo, elaboração cia do concreto, sendo, entretanto, bastante
dos documentos contratuais e contratação das freqüentes os acidentes e incidentes causados
obras, tudo no seu devido tempo. pela execução deficiente da obra ou pela des-
Cabe destacar a ênfase necessária às consideração do comportamento global do con-
questões da garantia da qualidade e seguran- junto formado pelas estruturas de concreto e
ça das obras, principalmente levando-se em suas fundações.
conta o contexto atual do país, em que, com a
intensificação da presença dos agentes priva-
dos como concessionários de serviços públicos, Etapas dos estudos e projetos
muitas vezes os empreendimentos tendem a
ser vistos prioritariamente sob o enfoque do
retorno econômico-financeiro, em detrimen- A implantação de uma grande obra exi-
to da qualidade, durabilidade e segurança. ge, no mínimo, as etapas do Projeto Básico e
É inevitável associar tal fato aos acidentes e Projeto Executivo. No caso das usinas hidrelétri-
incidentes ocorridos no Brasil nos últimos anos cas, o Projeto Básico é antecedido pelos Estudos
em importantes obras concedidas pelo poder de Inventário e pelos Estudos de Viabilidade.
público, causando prejuízos ao país e à socie- A Lei 8666, que rege as contratações de
dade, além de denegrir a imagem e o prestígio obras pelos órgãos da administração pública,
construídos ao longo dos anos pela Engenharia estabelece que o Projeto Básico, imprescindí-
brasileira. vel para iniciar um processo licitatório, deve
A maneira de contratar, implantar e caracterizar, com grau de detalhamento ade-
gerenciar as grandes obras mudou considera- quado, os serviços e o custo da obra, contendo
velmente no Brasil nos últimos 10 ou 20 anos. as especificações técnicas dos serviços, equipa-
Neste período, diversos serviços públicos, an- mentos e materiais e o orçamento detalhado
tes prestados quase que somente por órgãos do custo global da obra, fundamentado em
públicos, passaram a ser concedidos também quantitativos de serviços e fornecimentos
a empresas privadas, ao mesmo tempo em propriamente avaliados.
que muitas empresas públicas passaram a O atendimento às premissas da Lei 8666
gerenciar a implantação das obras de uma contribuiria sobremaneira para reduzir as in-
forma diferente do que faziam anteriormen- certezas para os empreendedores. Entretanto,
te. Somando-se a isto o fato de que a disputa não raro se observa que, apesar de constar em
pelas concessões de serviços públicos tornou- lei, tais premissas não são atendidas. Isto gera
se mais competitiva, forçando os preços para incertezas e riscos aos empreendedores e, como
baixo, observa-se que foi criado, no mínimo, conseqüência, ônus adicionais significativos
um ambiente mais propenso à ocorrência de devido à posterior incorporação, ao preço da
problemas em nossas obras. obra, dos custos associados aos riscos. Esta si-
Entretanto, qualquer que seja o modelo tuação traz consigo uma dificuldade adicional
de gestão adotado na implantação dos novos aos empreendedores: com o detalhamento do
empreendimentos, uma condição básica deve projeto e a ocorrência de alterações nos tipos
prevalecer: a tradição da Engenharia brasileira e/ou quantitativos de serviços, surge a necessi-
de concepção e implantação de obras seguras, dade de renegociação das bases contratuais já
duráveis e de alta qualidade. firmadas anteriormente com o construtor. Esta

24 REVISTA CONCRETo
renegociação, já com as obras em andamento, A experiência mostra que não é boa
não ocorre, naturalmente, em condições favo- política economizar na execução do proje-
ráveis aos empreendedores. to, seja na contratação do projetista, seja
O aumento do custo das obras durante na realização das investigações de campo
a sua construção, tanto para o empreendedor e pesquisas de laboratório. Economizar no
como para o construtor, reduz a taxa de retorno projeto constitui-se em economia “porca”:
do negócio, o que pode gerar uma situação economiza-se no que é barato para se gastar
totalmente indesejável e nefasta: o restabe- muito mais na obra, em razão de estudos e
lecimento da rentabilidade do investimento projetos deficientes.
pode levar ao corte de despesas durante a im- Em termos econômicos e financeiros, o
plantação das obras, afetando a sua qualidade, projetista é, na maioria das vezes, o elo mais
durabilidade e segurança. fraco da corrente formada pelos agentes
A situação das usinas hidrelétricas é ain- envolvidos na implantação de uma grande
da mais crítica, pois as licitações são disputadas obra. Entretanto, é inaceitável que o proje-
atualmente com base nos Estudos de Viabilida- tista trabalhe em condições desfavoráveis,
de e não no Projeto Básico, contrariamente ao seja em termos financeiros, seja em termos
estabelecido na Lei 8666 - com a agravante de conceituais, com pressões e interferências
que as Instruções para Estudos de Viabilidade indevidas no desenvolvimento do projeto.
A gestão do projeto
deve ser exercida de forma
eficiente pelo empreende-
dor. Em última instância, a
responsabilidade pela quali-
dade dos estudos e projetos
é do empreendedor, mesmo
no caso das contratações
na modalidade EPC (Engi-
neering, Procurement and
Construction), em que, con-
tratualmente, a responsabili-
dade pelo projeto (e também
pelo fornecimento dos equi-
pamentos e construção das
obras) é do grupo EPC. Não se
considera correta a postura
de um empreendedor que,
na ocorrência de problemas
e acidentes, atribui a culpa
pelo ocorrido ao projetista
Figura 1 – Usinas hidrelétricas do PAC, a licitar e em implantação [1] ou ao construtor. Deve-se
separar a responsabilidade
[2] ainda não foram adaptadas a esta nova do empreendedor perante a sociedade da
realidade [3]. responsabilidade contratual existente en-
tre contratantes e contratados. No âmbito
MARCO REGULATÓRIO
do contrato, o empreendedor pode e deve
O Projeto cobrar dos contratados as suas responsa-
bilidades e ônus contratuais, mas, perante
a sociedade, o empreendedor, público ou
Grandes problemas ocorrerão se o empre- privado, é o responsável pela obra.
endimento não tiver um bom projeto. É essencial Também não é correta a atitude do
que o projetista tenha experiência comprovada e empreendedor que atribui às forças da
que mobilize equipes competentes e experientes natureza a responsabilidade por eventuais
ao projeto. Para as estruturas de concreto, isto se acidentes. A implantação de uma obra exige
aplica não apenas à análise e ao cálculo estrutural, da Engenharia a correta investigação das
mas também à tecnologia do concreto, agregan- condições do terreno em que será implanta-
do-se à equipe profissionais que conheçam os do o projeto, assim como a correta conside-
mecanismos de deterioração do concreto. ração das demais informações necessárias. É

REVISTA CONCRETO 25
responsabilidade dos engenheiros estudar e das ET’s refere-se aos graus de autonomia e
antecipar o comportamento da natureza e a de restrição adotados em relação ao constru-
sua influência na obra, para que não sejam tor. Observam-se, muitas vezes, disposições
pegos de surpresa pelas condições geológi- restritivas na forma de se executar os traba-
cas, hidrológicas e meteorológicas. lhos, em contraposição à fixação apenas dos
requisitos finais que devem ser obedecidos
pelos serviços, ou seja, a adoção de requisitos
Durabilidade do concreto de desempenho dos materiais e das obras.
As ET’s não devem ser desnecessaria-
mente restritivas ao construtor, pois isto se
Por muitos anos, a resistência do con- torna antieconômico para o próprio proprie-
creto constituiu-se na maior preocupação dos tário da obra. ET’s muito rígidas tendem a
projetistas de estruturas de concreto. nivelar os concorrentes e os preços por eles
Esta situação tornou-se mais alarman- apresentados, já que, assim, eles teriam que
te nos últimos anos, com o aumento gradati- trabalhar com materiais e metodologias
vo da resistência dos cimentos, que faz com executivas similares. A rigidez dos requisitos
que os concretos atendam às resistências especificados pode impedir que um constru-
especificadas com consumos bem menores tor dotado de maior conhecimento e melhor
deste material, com elevação da relação A/C, tecnologia concorra com vantagens contra
da porosidade e da permeabilidade do con- outro menos preparado.
creto. Além disso, os concretos atuais, com Há que se ter bom senso para definir
maior resistência inicial em função da maior o que tem que ser especificado obrigatoria-
finura dos cimentos, podem apresentar mente, de modo a resguardar a qualidade e
maior tendência à fissuração, devido à menor a segurança da obra e os interesses do pro-
fluência, à maior retração e à evolução mais prietário. Entretanto, deve ser dada liberdade
rápida do módulo de elasticidade. ao construtor para escolher as metodologias
Atualmente, as normas têm dado construtivas, de acordo com a sua experiência e
maior atenção à durabilidade do concreto, com os seus recursos, desde que sejam atendi-
definindo critérios e parâmetros relaciona- dos integralmente os requisitos contratuais.
dos aos diversos aspectos que interferem em A escolha dos materiais a serem empre-
tal propriedade. Porém, algumas normas e gados no concreto merece cuidado especial
práticas recomendadas por conceituadas nas ET’s. Diferentes tipos de agregados ou
instituições internacionais têm atribuído materiais cimentícios podem estar disponíveis
excessiva importância à limitação da relação no local da obra, podendo alguns ser mais
A/C máxima do concreto, em detrimento do adequados tecnicamente. Antes da licitação
controle da fissuração. das obras, é necessário que sejam realizadas
É imprescindível que os responsáveis investigações de campo e pesquisas de labora-
pelas obras de concreto possuam conheci- tório para caracterizar os diferentes materiais
mentos e capacidade de discernimento para disponíveis. Estudos de dosagens e ensaios
balancear adequadamente os parâmetros que do concreto devem ser realizados nesta fase,
interferem na durabilidade das estruturas. de modo que sejam indicados, nas ET’s, os
materiais que poderão ser empregados e as
condições para sua utilização. Isto ajuda a
Especificações técnicas das obras evitar situações que possam aumentar o custo
das obras, ou mesmo o emprego de materiais
de pior qualidade durante a obra.
As especificações técnicas – ET’s têm
que ser definidas antes da contratação das
obras, dada a sua influência nos preços. Embo- Incertezas, riscos e
ra pareça óbvio, freqüentemente isto não tem contratação das obras
ocorrido em importantes obras brasileiras, o
que leva a situações inusitadas onde contra-
tantes e contratados discutem os requisitos a De um modo geral e em condições nor-
serem estabelecidos nas ET’s, requisitos estes mais, de uma forma ou de outra, quem paga pelos
que não são, de forma alguma, negociáveis. custos associados aos riscos do empreendimento é
Uma importante questão com que se o empreendedor, independentemente da moda-
defrontam os responsáveis pela elaboração lidade de contratação. Entretanto, o contratante

26 REVISTA CONCRETo
não deve pagar mais do que o devido. Ou seja, o controle absoluto sobre prazos, custos
construtor deve receber o justo pagamento que e qualidade;
lhe cabe, nem mais nem menos do que isso. atendimento aos requisitos de segurança,
É complexa a questão dos riscos dos em- no que se refere à estabilidade dos
preendimentos e seus custos associados, sendo elementos estruturais da obra e à
necessária, aos empreendedores, a realização segurança operacional do
prévia de criteriosas análises de risco. Como já empreendimento, de forma a assegurar,
mencionado, as obras devem ser contratadas com tanto quanto possível, a sua operação
base em Projeto Básico detalhado o suficiente para ininterrupta e sem restrições.
que as empresas interessadas em sua construção Tem sido bastante discutida, talvez em
possam orçar o seu preço com segurança. Incer- razão dos recentes acidentes e incidentes ocor-
tezas nas informações utilizadas nos orçamentos ridos em obras brasileiras, a questão da respon-
são consideradas pelos futuros contratados como sabilidade pelas atividades da Engenharia do
riscos e, como tal, são valorados e incorporados aos Proprietário – EP. Percebe-se, até mesmo, uma
preços da obra. Sem dúvida, a contratação de uma perigosa confusão quanto à necessidade ou não
obra sem um Projeto Básico adequado é uma das dessa atividade em contratos do tipo EPC, em
principais causas do aumento exagerado do preço que o contratado é responsável por todos os
final das obras de infra-estrutura no Brasil. serviços e fornecimentos, inclusive pelo controle
O custo de implantação de uma obra da qualidade das obras.
sofre grande influência do tipo de contrato Independentemente do tipo de contrato
firmado para a sua construção. Em condições firmado para implantação das obras, a EP, como
normais, em um contrato EPC turn key lump o próprio nome indica, tem que ser desenvol-
sum (que pode ser entendido como um contra- vida pelo proprietário, através de equipes pró-
to na modalidade EPC de empreitada integral prias ou contratando esse serviço junto a outras
por preço global), o contratante vai pagar mais empresas. A EP é o olho do dono.
caro pelas obras, já que os preços do grupo EPC Outra discussão presente nos dias atuais
embutem todos os riscos por ele assumidos, é quanto ao modo de atuação da EP: ela deve
mesmo que eles não venham a se consumar. atuar de modo intensivo, acompanhando todas
Caso o contratante assuma os riscos de enge- as atividades do construtor ou os serviços devem
nharia, como, por exemplo, em um contrato ser verificados através de spot check1? A respos-
por preços unitários, ele pagará apenas pelos ta a esta questão vem da própria finalidade da
riscos consumados durante a obra. existência da figura da EP: garantir ao proprie-
A decisão do contratante quanto a tário que as obras sejam executadas em estrita
assumir, repassar ou compartilhar os riscos de concordância com o projeto e com os requisitos
implantação do empreendimento dependerá, especificados, de acordo com as condições de
logicamente, de cada situação específica e do prazos e preços pactuadas no contrato. Ou seja,
perfil de cada contratante. No caso de um em- garantir que o proprietário está recebendo o que
preendedor apto a gerenciar os riscos, parece comprou e pagou. Para que se tenha esta garan-
não haver dúvida de que a melhor opção é ele tia, o empreendedor tem que desempenhar o seu
assumi-los, adotando-se, por exemplo, contra- papel, acompanhando e fiscalizando a contento a
tos por preços unitários. qualidade dos materiais e dos serviços executados,
Os contratos devem estabelecer com independentemente do controle que o construtor
precisão as responsabilidades das partes pelos venha a realizar. Logicamente, o dimensionamen-
riscos e, naturalmente, pelos custos a eles asso- to da equipe de supervisão dependerá de cada
MARCO REGULATÓRIO
ciados. Isto é especialmente importante para os caso específico, de acordo com as condições da
contratantes na gestão dos custos da obra. obra e com a experiência da equipe.

Gestão da implantação das obras Conclusões

Qualquer que seja o modelo de gestão O investimento previsto pelo PAC supera
que venha a ser adotado na implantação das R$1 trilhão, distribuídos em grande quantidade
obras, o concessionário deve considerar e colo- de obras nas áreas de energia, transporte, sa-
car em prática algumas premissas básicas: neamento, etc. A administração de recursos de
o concessionário é o responsável pela obra tal ordem exige, dos órgãos públicos, muito cri-
perante a sociedade; tério, atenção e controle das atividades de pla-

1
spot check (Michaelis): n Am. teste ou prova rápida, inspeção rápida e aleatória. REVISTA CONCRETO 27
nejamento, projeto, contratação e supervisão condução inadequada dos processos de
das obras. contratação das obras;
Negligências por parte dos contratantes definição imprecisa da alocação dos riscos
das obras representarão grandes desperdícios do empreendimento entre contratantes
de recursos, em um país tão carente deles. e contratados;
Economias possíveis e não viabilizadas, por gestão contratual deficiente por parte
menores que sejam em termos percentuais, dos contratantes, com inobservância da
poderão significar perdas de várias dezenas de responsabilidade de acompanhar de perto
bilhões de reais para o país. Para impedir que os serviços e de verificar o cumprimento
isto aconteça, deve-se evitar: dos requisitos contratuais e de projeto
a concessão e/ou contratação das obras estabelecidos;
sem dispor, ainda, de projetos básicos acompanhamento inadequado das
suficientemente desenvolvidos; condições de segurança das obras e
especificações técnicas inadequadas e/ou deficiências no controle da qualidade dos
não disponíveis previamente à contratação materiais e serviços;
das obras; gestão deficiente das questões sócio-
escolha inadequada da modalidade de ambientais, principalmente considerando-se
contratação das obras; a morosidade dos órgãos ambientais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] BRASIL - Balanço do PAC – 2 Anos – Fevereiro/2009.

[02] ELETROBRÁS-DNAEE – Instruções para Estudos de Viabilidade. Rio de Janeiro, 1997.

[03] PIMENTA, M. A., PIMENTA FILHO, M. A. - Concreto para Obras de Infra-Estrutura – Estudos, Especificações
Técnicas, Construção e Controle, 50° Congresso Brasileiro do Concreto. IBRACON, Salvador, 2008.

28 REVISTA CONCRETo
Qualidade do cimento
A qualidade do
cimento está diretamen-
te ligada à segurança da
população. Cimentos pro-
duzidos fora dos padrões
estabelecidos pela Associa-
ção Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) podem
comprometer as estruturas,
causar fissuras, patologias e,
em casos extremos, podem
levar edificações ao colapso
(queda). Para esclarecer so-
bre o assunto a Associação
Brasileira de Cimento Por-
tland (ABCP) dá algumas
dicas para que o consumidor
exija qualidade na hora de
comprar cimento.
Assim como ocor-
re em outros segmentos
industrializados, o setor da construção civil (Exemplo CPII, CPIV). A classe da resistência
tem sido abastecido com cimentos fora de do produto deve estar em números
norma. De acordo com o técnico especialista arábicos, logo em seguida à sigla referente
em cimento da ABCP, Arnaldo Battagin, o ao tipo;
principal item na hora de escolher o cimento, Produto – Fique atento ao produto.
independente da marca ou do tipo de cimen- Caso esteja empedrado (mesmo que em
to, é assegurar que o produto tenha atestado pouca quantidade), o cimento não deve ser
de qualidade. “Prefira cimentos que tenham usado, principalmente em obras estruturais;
o Selo de Qualidade da ABCP ou de qualquer Sacaria – O cimento é vendido em sacos
outro órgão que possa atestar a qualidade de papel que contém 20, 40 ou 50 quilos.
da mercadoria. Caso não haja selo, peça ao Suspeite de sacos com pesagens diferentes
revendedor o laudo técnico com os ensaios. e embalagens plásticas;
É um direito do consumidor e um dever do Segundo Arnaldo Battagin, o proces-
lojista, de acordo com o Código Brasileiro do so de fabricação do cimento é uma ativida-
Consumidor”, orienta. de industrial complexa, que exige rigoroso
Além da certificação, veja o que controle de qualidade em todas as etapas de
ENTIDADES PARCEIRAS
mais os consumidores devem ver na hora de fabricação. “Este controle faz parte das ações
comprar cimento: do Programa Brasileiro de Qualidade e Produ-
Prazo de validade – O prazo de validade tividade do Habitat (PBQP-H), do Ministério
vem impresso no saco de cimento e nunca das Cidades, que estabelece critérios e normas
é superior a três meses. Caso, ele esteja para materiais, serviço e execução de cons-
vencido ou o fabricante especifique um truções do governo e da iniciativa privada”.
prazo maior, desconfie;
Procedência – Todos os sacos de cimento
devem trazer o nome do fabricante, Linha direta
da marca, o endereço e outros dados de
identificação. A sigla que especifica o
tipo do cimento deve ser escrita em letras Caso o consumidor tenha mais alguma
maiúsculas e em números romanos dúvida sobre cimento, a ABCP possui um serviço

REVISTA CONCRETO 29
de discagem direta gratuita, chamado Disque às perguntas. O número do telefone é o
Cimento e Concreto (DCC) para responder 0800.0555.776.

Especificações Brasileiras para Cimentos Portland

Os cimentos portland de acordo com as revisões das especificações brasileiras realizadas pela
ABNT em 1991 passaram a ter as seguintes designações:
1 | CIMENTO PORTLAND COMUM 4 | CIMENTO PORTLAND POZOLÂNICO
• CP I • CP IV
Cimento Portland Comum
• CP I-S 5 | CIMENTO PORTLAND DE ALTA
Cimento Portland Comum com Adição RESISTÊNCIA INICIAL
• CP V-ARI
2 | CIMENTO PORTLAND COMPOSTO
• CP II-E 6 | CIMENTO PORTLAND RESISTENTE
Cimento Portland Composto com Escória A SULFATOS
• CP II-Z • (RS)
Cimento Portland Composto com Pozolana
• CP II-F 7 | CIMENTO PORTLAND DE BAIXO
Cimento Portland Composto com Fíler CALOR DE HIDRATAÇÃO
• (BC)
3 | CIMENTO PORTLAND
DE ALTO-FORNO 8 | CIMENTO PORTLAND BRANCO
• CP III • (CPB)

30 REVISTA CONCRETo
Recuperação e reforço estrutural
de pontes rodoviárias
no Rio Grande do Norte
Fábio Sergio da Costa Pereira • Diretor
Engecal – Engenharia e Cálculos Ltda

Introdução Patologia secundária: sobrecarga


permanente imprevista de cerca de 800 kg/
cm2, devido à superposição de várias camadas
Neste artigo são descritas as metodolo- de asfalto, totalizando 50 cm.
gias executivas de recuperação e reforço estru-
tural realizadas em cinco pontes rodoviárias do
estado do Rio Grande do Norte, que apresenta-
vam diferentes patologias em suas estruturas.

Ponte Jerônimo Rosado

Construída em 1944, no centro


da cidade de Mossoró

Patologia principal: corrosão dissemi-


nada das armaduras ao longo de sua estrutura,
com flambagem localizada e perda de seção das
armaduras, principalmente nas vigas retas com
mísulas parabólicas existentes

Recuperação estrutural
Reforço com armaduras nas vigas

Vista de viga da Ponte Jerônimo Rosado com flambagem


localizada, perda de seção e rompimento de armaduras
(estribos) Detalhe das plataformas suspensas

REVISTA CONCRETO 31
Aplicação de concreto projetado em viga Detalhe do alargamento

Metodologia: retirada da sobrecarga armaduras do vigamento principal e lajes; e des-


e execução de nova camada asfáltica; remoção gaste excessivo dos passeios e guarda-corpos.
de concreto desagregado e armaduras com
corrosão; reforço estrutural das vigas com Intervenção: antes da execução da recu-
ancoragem de novas armaduras; hidrojatea- peração e do reforço estrutural, foi elaborado e
mento de areia para limpeza das armaduras; executado o projeto estrutural de alargamento
proteção catódica com pintura líquida de zinco da ponte, com introdução de duas novas vigas
nas armaduras; proteção catódica com ânodos principais (0.50 m x 2.00m), solidarizadas à laje
de sacrifício; concreto projetado via seca com existente e prolongadas lateralmente com en-
aditivo acelerador de pega; injeção de epóxi
em fissuras do concreto; e proteção estrutu-
ral ao longo de toda ponte com argamassa
polimérica.

Ponte sobre o Rio Traíri (trecho


Tangará – São José de Campestre)

Patologias: tabuleiro com intenso des-


gaste de sua estrutura (redução da capacidade
resistente), sendo sensível o anormal movimento
vibratório quando da passagem de veículos; preca-
ríssimo estado de conservação da pavimentação;
ocorrência de trincas e fissuras disseminadas ao
longo de pontos críticos do vigamento principal
e das lajes; ocorrência de estado de corrosão nas Vista do escoramento da viga de reforço ao longo
da ponte

Vista do alargamento da Ponte Traíri Detalhe do reforço de armadura da viga de reforço

32 REVISTA CONCRETo
gastamento nas novas vigas principais, alargan- altura dos pilares existentes, que por sua vez,
do-se o tabuleiro de 6.05 m para 8.65 m (1.30 receberam alargamento em concreto armado
m para cada lado), com dois passeios de 0.60 m 1.50 m para cada lado, com armaduras ancora-
cada um e laje de pavimentação de 7.45 m. das nos blocos de fundação existentes.

Recuperação e reforço: remoção de Ponte sobre o Rio Dois Irmãos


concreto; hidrojateamento de areia na infra e su- (trecho Natal – Lajes)
perestrutura; proteção de armadura com pintura
líquida de zinco; proteção catódica das armaduras Patologia principal: abatimento acen-
com ânodos de sacrifício; grauteamento; injeção tuado de seu tabuleiro com recalque de suas
de resina epóxi; perfuração para ancoragem de fundações da ordem de 45 cm, devido à flam-
armaduras de reforço com 15 e 10 cm; ancoragem bagem localizada das armaduras de dois pilares
das armaduras de reforço com adesivo estrutural; componentes do pórtico transversal.
reforço com manta de fibra de carbono em trincas
e fissuras; e instalação de novos aparelhos de Patologia secundária: corrosão disse-
apoio de neoprene e chumbo. minada na maioria de suas armaduras.

Detalhe executivo: adoção de escora- Recuperação: remoção de concreto dete-


mento indireto da estrutura de alargamento, riorado; hidrojateamento de areia nas armaduras;
com a implantação ao longo de todo tabuleiro pintura líquida de zinco; grauteamento das super-
de estrutura de madeira em balanço, ancoradas fícies; consolidação do solo com pasta de cimento e
com tirantes de aço na laje do tabuleiro existen- resinas químicas; injeção de epóxi; macaqueamento
te. Procedimento adotado em face da grande e encamisamento com groute dos pilares e vigas.

Flambagem localizada das armaduras de pilar da ponte Macaqueamento da ponte com introdução de aparelho
sobre o Rio Dois Irmãos de apoio

Recuperação estrutural

Encamisamento de grout dos pilares com vista dos Vista dos macacos hidráulicos durante a operação de
tubos metálicos para operação de macaqueamento da macaqueamento da Ponte Dois Irmãos
Ponte Dois Irmãos

REVISTA CONCRETO 33
Ponte sobre o Rio Traíri
(trecho Monte Alegre – Brejinho)

Patologias: colapso em duas se-


ções, com aberturas da ordem de 15cm na
zona de tração das vigas, devido a defor-
mações progressivas da ordem de 60cm,
causadas pelo recalque de suas fundações
e pilares.

Detalhe do projeto de reforço estrutural da Ponte Traíri

Recuperação e reforço: escoramento


da ponte com oito tubos metálicos através do
tabuleiro; concretagem dos tubos metálicos;
execução de novas fundações e pilares; injeção
de epóxi nas rachaduras; reposicionamento,
através de macaqueamento do tabuleiro com
transferência de carregamento; e introdução de
aparelhos de apoio de neoprene.

Ponte sobre o Rio Mossoró

Vista da estrutura da Ponte Traíri levada pela correnteza Patologias: ruptura da estrutura dos ba-
e de parte das estruturas metálicas utilizadas para o lanços junto ao guarda-roda, em virtude da per-
escoramento da de seção das armaduras com corrosão; fissuras
disseminadas ao longo do vigamento principal;
e aumento do movimento oscilatório.

Intervenção estrutural: acréscimo de


40% na capacidade resistente da estrutura do
vigamento principal, resolvido com aplicação
de protensão externa

Recuperação reforço estrutural rea-


lizados: hidrojateamento de areia nas estrutu-
ras com armaduras corroídas; pintura líquida de
zinco nas estruturas corroídas; grauteamento
das estruturas corroídas; injeção de epóxi nas
fissuras; e protensão com pós-tensão em cabos
externos sob o tabuleiro com geometria poligo-
Detalhe de fissura em viga
nal embutidos em bainhas de polietileno.

Conclusão

O artigo apresentou a atual situação


estrutural das pontes rodoviárias no estado do
Rio Grande do Norte, em razão da ausência de
investimentos para a manutenção e conservação.
Em geral, as pontes rodoviárias antigas carecem,
há muito tempo, de um planejamento executivo
para o aumento de suas vidas úteis. Vale salientar
que esses serviços apresentados foram executados
exclusivamente em razão da iminência de colapso
das pontes citadas, atingindo em tempo os obje-
tivos propostos de segurança e aumento de vida
Detalhe do escoramento da ponte útil de suas estruturas.

34 REVISTA CONCRETo
Degradação do concreto por
carbonatação: execução do ensaio
Cristiane Pauletti • Doutoranda em Engenheira Civil
Edna Possan • Doutoranda em Engenheira Civil
Denise C. C. Dal Molin • Professora Doutora
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Claudio de S. Kazmierczak • Professor Doutor


UNISINOS

1. Carbonatação do concreto

O ingresso de dióxido de carbono (CO2)


através do concreto é um dos principais de-
sencadeadores da corrosão das armaduras,
manifestação patológica preponderante nas
estruturas de concreto armado. A tendência
mundial, de aumento das emissões de CO 2
na atmosfera, traz conseqüências diretas às
estruturas construídas em ambiente urbano,
pois a profundidade carbonatada aumenta
com a elevação da concentração deste gás
no ambiente.
A carbonatação é um fenômeno físico-
químico bastante complexo que pode limitar
a vida útil das estruturas de concreto armado.
O concreto possui um pH alcalino, com valores A figura 1 ilustra a intervenção combina-
na ordem de 13, o que gera uma película pas- da de três fases: gasosa, aquosa e sólida durante
sivadora (protetora) em torno da armadura. No o processo de carbonatação do hidróxido de
entanto, quando carbonatado, sua alcalinidade cálcio. O mecanismo de carbonatação pode ser
diminui e o pH baixa para valores da ordem de simplificado como segue:
9, destruindo essa película passivadora e dando 1 – Difusão do CO2 na fase gasosa dos poros
condições para a corrosão de armaduras. e posterior dissolução na água dos poros;
As reações de carbonatação ocorrem 2 – Dissolução do Ca(OH)2 na água dos poros
entre os produtos formados na hidratação do e difusão do Ca(OH)2 dissolvido das
NORMALIZAÇÃO

cimento (principalmente o hidróxido de cál- regiões de maior alcalinidade para as de


cio) e o CO2 disponível na atmosfera, gerando menor alcalinidade;
essencialmente carbonato de cálcio e água, 3 – Reação do CO2 dissolvido com o
conforme a reação principal, apresentada na Ca(OH)2 dissolvido;
equação 1. 4 – Reação do CO2 dissolvido com C-S-H
e compostos não hidratados da pasta
de cimento;
5 – Redução do volume dos poros;
6 – Condensação do vapor de água.

REVISTA CONCRETO 35
Fatores como relação água/aglome- com o propósito de obter resultados
rante, condições de cura, grau de hidratação, confiáveis dos efeitos isolados e das
quantidade e tipo de cimento, concentração interações que interferem no processo de
de CO2 no ambiente, umidade e temperatura carbonatação do concreto;
influenciam a taxa e a velocidade de carbona- (ii) padronizar os ensaios no Brasil a fim
tação do concreto. de unificar o conhecimento sobre o
Como em ambiente natural de degrada- tema e buscar soluções para os problemas
ção o processo de carbonatação é lento, o em- referentes às manifestações patológicas;
prego de ensaios acelerados é uma alternativa (iii) criar uma base de dados a fim de agrupar
comumente adotada para estudos de desempe- e correlacionar as informações (dados,
nho de materiais, em especial o concreto. procedimentos, modelos, etc) de
Os ensaios acelerados simulam um pro- durabilidade existentes.
cesso de degradação natural, com intensidade
superior à esperada em condições normais de
serviço. Geralmente, são desenvolvidos em 2. Planejamento, Padronização
laboratório, tendo como principal objetivo e base de dados
reduzir o tempo necessário para que ocorra
a deterioração do material devido a algum
processo de degradação específico. No caso da As decisões adotadas no planejamen-
carbonatação, após um processo de precondi- to dos ensaios acelerados de carbonatação
cionamento (ou sazonamento), amostras de influenciam os resultados a serem obtidos.
concreto ou argamassa são expostas à ação de Se a intenção é padronizar, faz-se necessário
elevados teores de CO2 (de 1% a 100%), com controlar todos os fatores envolvidos no ensaio
condições de umidade relativa e temperatura ou, ao menos, saber as conseqüências de não
controladas. Em geral, a duração destes ensaios controlá-los.
varia de 30 a 180 dias. Mas o que é planejamento de ensaio?
Os ensaios naturais, também denomi- Como fazê-lo? Qual a influência do planeja-
nados de ensaios não acelerados, de campo ou mento dos ensaios nos resultados de profun-
de longa duração, têm como princípio básico a didade carbonatada?
exposição de amostras de concreto em ambiente O planejamento do ensaio refere-se à
de degradação natural, conforme o uso a que se seleção das variáveis de estudo (dependentes e
destina, em ambiente protegido ou desprotegido independes) como: tipo de ensaio (acelerado ou
das intempéries. Neste ensaio, as amostras de natural); tamanho e forma de amostra; tipo de
concreto não passam pelo precondionamento. dados e interações que se deseja coletar; entre
São expostas à degradação (0,03% a 1% de CO2), outros itens. Ou seja, refere-se à condução de
em ambiente sem controle de umidade e tempe- um experimento desde antes da realização até a
ratura, demandando tempos superiores a um ano análise e cruzamento dos dados, empregando-
para obtenção de dados passíveis de análise. se para tal a técnica de projeto de experimen-
Os ensaios acelerados formam a grande tos. É nesta etapa que se define a abrangência
maioria dos estudos desenvolvidos, pois em da pesquisa, sendo a mesma de fundamental
relação ao ensaio natural, demandam menor importância para o avanço do conhecimento.
tempo para a obtenção de dados e apresentam No entanto, para comparar dados de ex-
custos de execução reduzidos. No entanto, perimentos obtidos por centros de pesquisa dis-
apesar da necessidade e utilização destes, ain- tintos, o planejamento por si só não é suficiente.
da não existe um procedimento padronizado É necessário que os ensaios sejam conduzidos de
para a execução do ensaio e de seus fatores forma semelhante, ou seja, padronizada. Toda-
intervenientes. Além da falta de padronização via, não existe um procedimento de ensaio nor-
dos procedimentos de ensaios, a maioria dos malizado no Brasil e, os que existem no exterior,
trabalhos é conduzida de forma isolada e/ou ou são considerados não adequados, ou estão
pontual nos vários centros de pesquisas brasi- pouco difundidos no Brasil. Mas pergunta-se:
leiros, resultando em pesquisas fragmentadas e através dos estudos já realizados seria possível
de pequena extensão, com poucas correlações propor um procedimento de ensaio? Se não, o
com situações in situ. que ainda precisamos investigar?
Dentro deste contexto, cabe a discussão Com o intuito de apresentar o estado
no sentido de promover ações para: da arte das pesquisas de carbonatação no Bra-
(i) planejar e executar o projeto de sil, este artigo relaciona diversos trabalhos e
experimentos com critérios estatísticos, procura fazer uma descrição e compilação do

36 REVISTA CONCRETo
estado de conhecimento dos fatores envolvi- Por meio da padronização, acredita-se
dos nos ensaios acelerados de carbonatação, o que se iniciaria a geração de uma base de dados
que é resumido na figura 2, onde as variáveis relativos à durabilidade (comparação entre dois
envolvidas foram divididas em 4 grupos. Na ou mais materiais), que então poderia ser empre-
figura são indicados os fatores que, segundo as gado, com certa segurança, para fins de previsão
autoras, são compreendidos (3) e os que ainda de vida útil (estimativa de vida de um dado ma-
carecem de pesquisa (8). terial) de estruturas de concreto armado.
No trabalho foi constatado que fatores
como o tipo e o tempo de cura, precondicio-
namento, o teor de CO2 e todos os itens rela- 3. Carbonatação visando à durabilidade
cionados as condições para modelagem não
são aplicados de maneira padronizada pelos
pesquisadores, o que reforça a necessidade de Se o ensaio de carbonatação for realiza-
um ensaio padronizado, a fim de uniformizar do com a finalidade de verificar a durabilidade
o procedimento de coleta de dados nos ensaios do material, deve-se levar em conta três grupos
de carbonatação conduzidos no Brasil. da figura 1: condições de ensaio, condições
Para a determinação da frente de carbo- ambientais e características do concreto.
natação vários métodos podem ser utilizados As condições do ensaio englobam a for-
(indicadores químicos, diferença de massa, ma das amostras, o tipo e o tempo de cura e o
termogravimetria, entre outros) e as diferenças precondicionamento.
entre eles são conhecidas e abordadas na lite-
ratura. Ressalta-se, apenas, que o método mais 3.1. Condições de ensaio
NORMALIZAÇÃO

utilizado é o de aspersão de indicadores quími-


cos (normalmente, a fenolftaleína), que indica o O efeito da forma das amostras e/ou a
ponto de viragem do pH em torno de 9 (incolor soma de vetores na frente de carbonatação já
para valores inferiores a 9 e rosa-carmim para é conhecido, sendo as formas cilíndricas prete-
valores de pH acima de 9). No emprego desse ridas em relação às prismáticas. As figuras 3 e 4
método, geralmente, extrai-se uma fatia da se- apresentam amostras cilíndricas e prismáticas,
ção transversal da amostra e nela é aspergida a respectivamente, do mesmo material, carbona-
solução. Os exemplos mostrados nesse trabalho tadas pelo mesmo período de tempo. Alguns
referem-se ao uso da fenolftaleína. pesquisadores optam por romper os corpos-de-

REVISTA CONCRETO 37
prova cilíndricos no sentido longitudinal a fim
de minimizar os efeitos da adição de vetores.
O tipo de cura (submersa, úmida ou ao
ar) e o tempo de cura (7, 14, 28 ou mais dias)
têm influência na velocidade de carbonatação, Depois de curados e antes de entrarem
principalmente se a exposição é interna ou na câmara de carbonatação, os corpos-de-prova
externa, no caso de carbonatação natural, mas devem ser precondicionados. O ideal é que este
ainda não há na literatura um consenso sobre processo garanta o equilíbrio da umidade in-
os níveis a serem empregados nos ensaios. terna dos corpos-de-prova, como também uma
A condição em que se encontram os quantidade de água que favoreça o avanço da
corpos-de-prova para o ensaio de carbonatação frente de carbonatação.
acelerada é de extrema importância, pois irá Mas, deve-se perguntar: “o que se es-
influenciar fortemente nos resultados obtidos. pera desse procedimento?”: “que haja uma
Um problema bastante comum em nossas pes- distribuição homogênea de uma quantidade
quisas é a ausência desta etapa e/ou a omissão de água em equilíbrio com um ambiente de
na descrição do precondicionamento. dada umidade relativa?” ou “que a condição de
ensaio seja igual para todos os corpos-de-prova,
mesmo que isso resulte em quantidades distin-
tas de água internamente?” ou “que todas as
amostras tenham o mesmo percentual interno
de água?” ou “que seja um procedimento de
fácil realização?” ou “que represente da forma
mais fiel possível o que ocorre na prática?”. A
resposta a essas perguntas levará ao procedi-
mento de precondicionamento mais adequado
aos objetivos do ensaio acelerado.
A Rilem (1999), no TC-116 PCD, apre-
senta um procedimento para obtenção de uma
distribuição homogênea de uma determinada
quantidade de água em equilíbrio com ambien-
te de umidade relativa de 75%. No entanto,
o referido procedimento é trabalhoso e deixa
dúvidas quanto à sua realização.
A figura 5 ilustra corpos-de-prova sendo
precondicionados em ambiente climatizado e
a figura 6 mostra o precondicionamento das
amostras em estufa.

38 REVISTA CONCRETo
tante relevante para o avanço da profundidade
de carbonatação. Segundo a literatura, até
certos níveis, quanto mais elevado o teor de
CO2 do ambiente de exposição, maior a profun-
didade carbonatada do concreto. Entretanto,
ainda não existe consenso sobre esta questão,
havendo uma carência de trabalhos que con-
templem diferentes teores de CO2 no projeto
de experimentos a fim de definir qual o teor
ideal a ser empregado no ensaio.
Os autores sugerem que mais estudos
sejam realizados contemplando vários percen-
tuais de CO2 (1, 5, 10, 20, 30, 40, 50, 70 e 100%),
a fim de elucidar se realmente há uma queda na
velocidade de penetração da frente de carbo-
natação a partir de determinada concentração
e em qual intervalo isto ocorre.

3.3. Características do concreto

Os fatores que foram chamados de caracte-


rísticas do concreto, como a relação água- aglome-
rante, o tipo de cimento, as adições e os agregados,
3.2. Condições ambientais geralmente, são alvo da avaliação do material em
estudo. As comparações são feitas mudando essas
A umidade relativa, a temperatura e o variáveis e suas respectivas quantidades.
percentual de CO2 são condições ambientais de Além disso, os efeitos de se aumentar ou
ensaio que influenciam os testes de carbonata- diminuir a relação a/agl, o consumo de cimento,
ção acelerada. as adições e os agregados já estão bem difun-
Na literatura encontra-se que a carbona- didos na comunidade científica. O comporta-
tação é máxima em valores de umidade relativa
entre 50% e 80%. Embora esse intervalo seja
bastante amplo, acredita-se que, para obtenção
de maiores profundidades de carbonatação em
menor intervalo de tempo, haja uma relação
direta entre a umidade relativa e a concentra-
ção de CO2 a ser utilizada, pois a própria reação
gera água, que também pode ser usada para o
avanço da frente de carbonatação.
Com relação à umidade relativa é importan-
te salientar que se trata da umidade do ambiente
para que a reação seja favorecida, o que não sig-
nifica que esta seja o teor de água do corpo-de-
prova. Quando se fala em umidade da amostra, se
está falando de uma quantidade/concentração de
água que esta amostra tem em equilíbrio com um
ambiente de dada umidade. Por exemplo, se as
amostras são precondicionadas e o ensaio realizado
NORMALIZAÇÃO

em um ambiente com 70% de umidade relativa,


isso não quer dizer que esta amostra terá 70% do
seu total de água, quando saturada.
Em termos de temperatura, os pesquisa-
dores concordam que, para valores entre 20°C e
40°C, a temperatura praticamente não influencia
na carbonatação do concreto, pois nestes níveis
o processo ainda é controlado pela difusão.
A concentração de CO2 é um fator bas-

REVISTA CONCRETO 39
própria. Por esses motivos, torna-se importante
colocar termômetros, higrômetros e medidores
de CO2 dentro da câmara, de modo que estes
possam ser vistos externamente, permitindo que
as condições internas sejam ajustadas quando ne-
cessário. As figuras 7 e 8 ilustram duas câmaras de
carbonatação utilizadas em ensaios acelerados.
Ao abrir as câmaras de ensaio para medida
da carbonatação, deve-se tomar cuidado para
não contaminar o entorno da mesma, devendo
conduzir o CO2 interno para um ambiente exter-
no, ao ar livre. Como, na maioria das vezes, as
câmaras são locadas em salas climatizadas, onde
outros corpos-de-prova estão sendo ensaiados
no mesmo ambiente, ou até precondicionados
para o próprio ensaio, a não observância dessa
precaução poderia prejudicar os resultados, além
de não ser aconselhável para a saúde.
Para a ruptura da fatia que será analisada,
pode-se fazer uso de uma prensa (figura 9). Quanto
mais plana for a fatia retirada, melhor, pois facilitará
a medida da profundidade de carbonatação, inde-
pendentemente dela ser realizada com paquímetro
ou por análise de imagens. Para auxiliar nessa rup-
tura, podem ser usados pedaços de barras de aço de
seção circular na base e no topo do corpo-de-prova,
na altura em que deve ser rompido.

mento de diferentes tipos de cimento também


é conhecido, ou então, é foco do estudo.
Acredita-se que estes fatores são parte do
projeto de experimentos de cada pesquisa e não
seriam contemplados diretamente na norma,
ficando esta restrita aos fatores que, de uma
forma geral, regem o ensaio e suas condições.

4. Aspectos importantes
a serem levados em conta

Ao estimar o tempo de cada etapa, desde


a moldagem até a medida da profundidade de
carbonatação, é importante levar em conta o
tipo de cura (ao ar, úmida ou submersa) e tipo de
precondicionamento, fatores que podem alterar
consideravelmente o tempo necessário para que
as condições preestabelecidas sejam atingidas.
As câmaras de carbonatação utilizadas,
geralmente, ficam em ambientes de temperatura
e umidade controladas, porém, essas câmaras
são estanques e não têm trocas com o ambiente
em que estão inseridas, e, devido às reações do
processo de carbonatação, criam uma atmosfera

40 REVISTA CONCRETo
Outra forma bastante simples de acom-
panhar a carbonatação se dá por ganho de
massa, onde também se pode fazer um acompa-
nhamento da água gerada na reação. Caso esse
controle seja feito, é preciso prever a moldagem
dessas amostras.
Dependendo do tipo de análise que está
sendo realizada, ao mesmo tempo em que os
ensaios de carbonatação são conduzidos, pode
haver a necessidade de se retirar uma amostra
em determinada condição ou profundidade de
carbonatação para avaliação e caracterização
e, por isso, o ensaio deve ser planejado para
que não tenha que ser repetido.
Por todas as razões citadas anteriormente,
fica claro que, ao planejar um ensaio de carbo-
natação, principalmente quando for acelerado,
é importante saber exatamente qual é o objetivo
do mesmo e quais são as respostas esperadas.

5. Conclusões
Como dito anteriormente, a indicação e
medição da profundidade carbonatada pode
ser feita de diversas maneiras, todavia, a mais Como visto, a carbonatação é um fenô-
comumente usada é por indicadores quími- meno físico-químico complexo que pode ser
cos, geralmente a fenolftaleína. A medida da bastante influenciado por diversas variáveis.
frente de carbonatação é obtida com o auxílio Quando da realização de ensaios de carbona-
do paquímetro (figura 10) ou por análise de tação, seja visando durabilidade ou previsão de
imagens (figura 11 e 12). Quando se utiliza vida útil, diversos cuidados devem ser tomados,
a análise de imagem é importante lembrar o que seria padrão se houvesse um procedi-
que a fotografia deve ser acompanhada de mento normalizado. Contemplar todas estas
uma escala ou utensílio métrico (régua, pa- variáveis em um ensaio de degradação, não é
químetro, etc), para que o valor mensurado uma tarefa fácil, todavia, necessária.
seja representativo. Também é interessante Das condições ambientais que envolvem o
manter a mesma distância focal para todas ensaio, a influência da temperatura e da umidade
as imagens, pois, caso contrário, a cada nova relativa são melhor compreendidas e poderiam ser
análise a escala deverá ser ajustada. estabelecidas numa padronização. O percentual
As figuras 11 e 12 apresentam uma de CO2 ideal parece estar relacionado diretamente
imagem digital de uma amostra parcialmente com a umidade relativa e o precondicionamento,
carbonatada antes e depois de ter sido anali- entretanto ainda carece de investigação.
sada com auxilio de software específico para
analise de imagens.

NORMALIZAÇÃO

REVISTA CONCRETO 41
Acerca das condições de ensaio, a forma verificar se há representatividade, para então,
das amostras também está compreendida. Os fazer extrapolações e estimativas de previsão
efeitos do tipo e tempo de cura já são bem da carbonatação e da vida útil das estruturas de
conhecidos, mas precisam ser relacionados aos concreto. O tamanho das amostras e o tempo
objetivos do ensaio de carbonatação e, então, de exposição também precisam ser discutidos
fixados em norma. No precondicionamento em função dos objetivos.
reside uma grande incógnita, ainda mais pelo Enquanto não for criada uma norma para
fato desse fator interferir e sofrer influência os ensaios acelerados de carbonatação, os fatores
de outras variáveis. Mais que a realização de que ainda não são bem compreendidos merecem
diversos experimentos, é necessário saber o que maior atenção e cuidado no planejamento dos
se espera desse procedimento. experimentos que estudam o fenômeno.
As características do concreto são o alvo Avanços neste sentido dependem da
da maior parte dos estudos e acredita-se que cooperação da comunidade técnico-científica,
numa norma seriam variáveis da pesquisa. da padronização de procedimentos de ensaios
A relação entre ensaios acelerados e na- à criação de bancos de dados de degradação
turais de carbonatação deve avançar no sentido natural e acelerada, viabilizando estudos pro-
de comparar a tendência de comportamento e babilísticos e maior aproximação da vida útil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] PAULETTI , C.; POSSAN, E.; DAL MOLIN, D. C. C. Carbonatação acelerada: estado da arte das pesquisas
no Brasil. Revista Ambiente Construído, v. 7, n. 4, p. 7-20, 2007.

[02] REUNION INTERNATIONALE DE LABORATOIRES D’ESSAIS ET MATERIAUX – RILEM. Concrete


Durability – An approach towards performance testing. (RILEM Recommendation TC 116-PCD).
Materials and Structures, 1999, p. 163-173.

[03] THIERY, M. Modélisation de la carbonatation atmosphérique des bétons – Prise en compte des effects
cinétiques et de l’état hydrique. Tese de doutorado da Ecole Nationale des Ponts et Chaussées, 2005.

PROGRAMA IBRACON DE CERTIFICAÇÃO DE PESSOAL


Instituto Brasileiro do Concreto – IBRACON é Organismo IBRACON
Certificador de Pessoal – OPC
Primeira entidade acreditada pelo INMETRO para certificar
mão-de-obra da construção civil

O IBRACON conquistou recentemente a categoria de


Organismo Certificador de Pessoas, conferido pelo
INMETRO. Sua acreditação está registrada sob o número
OPC-010. O IBRACON é dez!

Seu Núcleo de Qualificação e Certificação de Pessoal


(NQCP) está habilitado a emitir certificados profissionais ao
pessoal de Laboratórios de Controle Tecnológico do Concreto.

O certificado atesta que o profissional possui conhecimento


das especificações e procedimentos de ensaio citados na NBR
15146, estando apto a realizar as atividades em controle
tecnológico do concreto, como auxiliar ou laboratorista.
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O Instituto espera que, com mais esta atividade, mais valor


seja agregado à cadeia produtiva do concreto, assegurando a
qualidade construtiva total.

42 REVISTA CONCRETo
Para mais informações: Ligue: 11-3735-0202 ou acesse www.ibracon.org.br
Aplicação dos critérios de
qualidade na Construção Civil
Adriana Galletto • Diretora
Apoena Engenharia Ltda

Marcelo Zanardo Petrelli • Diretor


ADM Gestão de Empresas

1. Introdução em estágio avançado,


o caderno Critérios de
Excelência.
1.1 Critérios de A Figura 1
Qualidade apresenta de forma
simbólica o tempo e
Num mercado o esforço para alcan-
cada vez mais com- çar a excelência na
petitivo, é de grande gestão.
importância que as or- Dentro deste
ganizações adequem processo de mudan-
seus métodos de ge- ça, é importante que
renciamento com as a Liderança eleja de
melhores práticas em forma coerente quais
gestão. critérios impactam ini-
A Fundação cialmente a estratégia
Nacional da Qualidade definida, iniciando-se

Gerenciamento empresarial
(FNQ) considera oito o processo de imple-
critérios no desenvol- mentação pelos crité-
vimento do modelo de rios mais relevantes.
excelência em gestão. Neste artigo,
Destes oito critérios, sete tratam dos processos abordaremos processos gerenciais referentes
gerenciais e o oitavo examina os resultados a Clientes e Pessoas para empresas em estágio
obtidos pelas práticas dos critérios. inicial, utilizando como referência o Compro-
misso com a Excelência 2009-2010 da FNQ.
1.2 Estágios de Maturidade

Ao decidir pelo desenvolvimento e a


implementação dos critérios de qualidade a 2. Critério Clientes
Liderança da organização deve estar ciente
que o processo de adequação da gestão é um
projeto que demanda tempo e constância de Muitos empresários afirmam que o
propósito da organização. Cliente é a razão de ser da organização, ou
A FNQ indica para organizações que es- seja, ela só existe porque existe o Cliente para
tão no estágio inicial o documento Compromisso adquirir seus produtos. Teoricamente isto faz
com a Excelência. Para estágios intermediários, sentido, porém a prática deste conceito mostra-
utilizar o Rumo à Excelência e para as que estão se aquém de um padrão desejável.

REVISTA CONCRETO 43
segmentação e participação em seu portfolio
(Tabela 2).
Ao aprofudarmos no setor de Moradia
Popular, identificamos aspectos relevantes,
como o perfil da família, para a composição do
No critério Clientes, a organização deve: produto a ser oferecido, conforme Tabela 3.
Segmentar seu mercado; Este perfil pode ser ampliado e deta-
Identificar as necessidades e expectativas lhado, considerando-se informações sobre os
dos Clientes; hábitos e costumes deste público.
Divulgar as marcas e os produtos da
organização; 2.2 Clientes – necessidades
Tratar as reclamações; e expectativas
Avaliar a satisfação do Cliente.
Ao oferecer um produto no mercado,
2.1 Clientes – segmentá-los a organização deve estudar as necessidades e
expectativas de seus Clientes.
Segundo Kotler, em seu livro Administra- Mantendo o foco no mercado alvo Resi-
ção de Marketing (2000), “uma empresa raramen- dencial – Moradia Popular a organização com base
te consegue satisfazer a todos em um mercado. na segmentação identificada desenvolve o produ-
Segmentos de mercado podem ser identificados, to customizado, conforme tabela 4 – Necessidades
analisando-se diferenças demográficas, psicográ- do Cliente Residencial – Moradia Popular.
ficas e comportamentais dos Clientes”.
Utilizaremos, como exemplo, uma em- 2.3 Clientes – divulgação
presa da construção civil que atende o segmen- dos produtos e marcas
to industrial, comercial e residencial.
Neste processo de segmentação do mer- O processo de divulgação dos produtos
cado alvo, a organização especializou-se nos e marcas da organização é fundamental para
seguintes setores, conforme Tabela 1. o êxito na comercialização.
Ao segmentar seu mercado alvo, a or- O cuidado com a imagem da organiza-
ganização consegue comunicar-se com clientes ção deve ser contemplado neste item, utilizan-
com mesmo interesse e executar ações de ma- do formas e canais adequados.
rketing focadas para grupos específicos.
Para o segmento Residencial – Mora-
dia Popular, a empresa identificou a seguinte

44 REVISTA CONCRETo
O Escritório de tratamento de reclama-
Engenharia Joal Teitel- ções nas organizações”,
baum, com base em seu orienta as organizações
planejamento de mar­ de qualquer porte em
keting utiliza em seus como conduzir estas
materiais promocionais questões de forma a
obrigatoriamente os oferecer ao cliente a
seguintes itens: resposta adequada, e
Logomarca ressarcir ou refazer o ser-
da Empresa; viço quando aplicável.
Slogan; A Figura 2
Simbologia da apresenta de forma
Marca Registrada resumida a metodo-
no INPI; logia para tratar a re-
Referência à clamação do cliente.
Lei 4.591/64;
Referência 2.5 Clientes –
aos Prêmios e avaliar sua
Certificações satisfação
de Qualidade
A avaliação da
Conforme seu Relató- satisfação do cliente
rio de Gestão, publi- é realizada a partir
cado pela Fundação do momento em que
Nacional da Qualida- a organização conse-
de em 2003, esta cons- guiu cumprir com os
trutora, em seus ma- requisitos anteriores.
teriais institucionais, Algumas orga-
divulga amplamente nizações utilizam esta
a Política da Qualida- ferramenta em dois
de e Meio Ambiente, momentos distintos:
Saúde e Segurança um na metade do pro-
(PQMASS), histórico jeto e outro na entre-
da organização, prê- ga do projeto.
mios e conquistas, de- Na pesquisa ini-
poimentos de clientes cial (metade do proje-
e personalidades de to) há a possibilidade

Gerenciamento empresarial
idoneidade inquestio- de corrigir eventuais
nável e Práticas de Responsabilidade Social. rotas que não estão aderentes ao padrão de
Outras formas de comunicação podem qualidade da empresa. Já a pesquisa na entrega
incluir: da obra indica questões que ainda exigem oportu-
Tapumes; nidades de melhoria. Ambas as pesquisas servem
Visitas a Clientes; como indicadores de performance da empresa.
Press-release;
Clippings eletrônicos;
Plantões de Vendas; 3. Critério Pessoas
Linhas telefônicas 0800.

2.4 Clientes – tratar as reclamações O critério Pessoas contemplado no Com-


promisso com a Excelência da FNQ questiona
Toda organização que tenha como um como a organização conduz a relação com sua
de seus valores o foco no cliente, deve contem- equipe, bem como o desenvolvimento e apri-
plar um sistema que receba, registre e tenha um moramento, os riscos e sua satisfação. É comum
plano de ação para as reclamações e sugestões no discurso das organizações as pessoas serem
de seus clientes. consideradas seu bem mais precioso. Porém,
A “NBR ISO10002:2005, Gestão da qua- na prática, o que vemos é um gap importante
lidade – Satisfação do cliente – Diretrizes para o entre a teoria e a prática.

REVISTA CONCRETO 45
Neste critério, temos as seguintes ques- ficação Brasileira de Ocupações as diversas
tões a considerar: responsabilidades de cada profissional. Com
A implementação e definição base neste documento, a organização pode
da organização do trabalho; complementar as tarefas que julgar relevan-
Critério para a seleção e contratação tes para o desenvolvimento do trabalho de
do profissional; cada categoria.
A capacitação e desenvolvimento A Tabela 5 apresenta de forma sucinta
das pessoas; o descritivo de cargo, as responsabilidades e a
A forma de realização dos programas autonomia de cada profissional.
de capacitação e de desenvolvimento;
Os perigos e os riscos relacionados à saúde 3.2 Pessoas – critério para a seleção
ocupacional, segurança e ergonomia; e contratação do profissional
A satisfação das pessoas.
No recrutamento e seleção do pro-
3.1 Pessoas – implementação e definição fissional, a organização deve identificar as
da organização do trabalho necessidades relacionadas à execução dos
seus serviços e, com base nesta identifica-
Para o desenvolvimento do plano de ção, desenvolver um sistema que selecione
ação traçado pela organização, bem como o profissional. Este critério deve contemplar
a realização das tarefas diárias de cada competências:
profissional, é importante a definição clara Educacionais;
da tarefa de cada nível hierárquico. Cabe a Técnicas e;
organização definir quais as atribuições de Pessoais.
cada profissional que atua na empresa. Ao A seleção profissional pode ser tanto
informar claramente as responsabilidades interna quanto externa. Muitas organizações
e autonomias, a organização “promove a iniciam este processo pela sua equipe para
sinergia do trabalho em equipe e a produti- verificar se há interesse de algum profissional
vidade do sistema de trabalho”, segundo o ocupar a vaga oferecida. Não havendo ne-
caderno Compromisso com a Excelência da nhum profissional interno, a busca é realizada
FNQ (2009-2010). no mercado.
O Ministério do Trabalho, através do Contratado o profissional, a integração
site http://www.mtecbo.gov.br/busca.asp é importante para inserção, conhecimento e
apresenta formalmente com base na Classi- orientação organizacional.

46 REVISTA CONCRETo
Neste processo de integração devem ser 3.3 Pessoas – capacitação e
incluídos os seguintes temas: desenvolvimento das pessoas

Programa de Integração da Empresa Ter pessoas com capacidade para supor-


tar a estratégia estabelecida nas organizações é
A EMPRESA fundamental para o alcance dos objetivos e me-
Visão tas traçados. Neste sentido, a FNQ – Fundação
Missão Nacional da Qualidade (2009-2010) questiona
Valores Organizacionais “como as necessidades de capacitação e desen-
Histórico volvimento são identificadas considerando as
Liderança estratégias e as necessidades das pessoas”.
Nossos Produtos Um mapeamento e o registro formal sobre
Mercados que atuamos quais são os profissionais que trabalham na organi-
Organograma zação e a formação que possuem auxilia a direção
Macro Fluxograma no entendimento técnico da força de trabalho e
Sistemas de Gestão
serve como norte no desenho dos programas de
capacitação e desenvolvimento da equipe.
Estes projetos de capacitação e desenvolvi-
SEU SETOR

Gerenciamento empresarial
mento interno devem ser desenhados e comunica-
Objetivo
dos a equipe, informando a necessidade de adequar
Responsável
os profissionais as necessidades da organização. A
Colegas
prática desses programas deve ser urgente, pois as-
Fluxograma
similar profundamente uma nova área de atuação,
Indicador de Desempenho/Metas
a operação de máquina, novas tecnologias deman-
Fatores Críticos de Sucesso
dam tempo para a incorporação e aprendizado.
Descritivo do cargo
Autonomia 3.4 Pessoas – realização
Responsabilidade dos programas de capacitação
Uniforme e de desenvolvimento
Utilização de EPI
(Equipamento de Proteção Individual) É importante que cada setor tenha sua
forma e realização adequada a necessidades
BENEFÍCIOS dos profissionais que participam deste progra-
Horário de Trabalho ma. Neste sentido, para um engenheiro a capa-
Dia do Pagamento citação e desenvolvimento não são nos mesmos
Benefícios moldes que para os pedreiros. Na tabela 6,
Incentivos apresentamos a programação de capacitação
Férias bem como a forma desta capacitação.

REVISTA CONCRETO 47
A recomendação para funcionários ter- Estas mudanças poderão acontecer basi-
ceirizados na execução da obra é incluí-los nos camente por uma efetiva troca de informações
programas de capacitação e desenvolvimento, e experiências, assim como treinamentos, cons-
pois entende-se que eles estão executando e vi- cientização de conteúdo e aplicação prática na
venciando os valores organizacionais e o dia a dia construção civil, a todos os níveis da organização
das obras da organização que os contratou. (estratégico, tático e operacional), e que gere
sensibilização, reciclagem e aperfeiçoamento de
3.5 Pessoas – perigos e os riscos toda a mão de obra.
relacionados à saúde ocupacional, A implantação da NR-18 – Condições e
segurança e ergonomia meio ambiente de trabalho na indústria da cons-
trução da ABNT (2003), melhorou a qualidade
Na construção civil, os perigos e riscos de das obras e também a qualidade de vida dos seus
acidente de trabalho são uma constante. Com o trabalhadores, porém o número de acidentes de
objetivo de reduzir estes índices de acidentes e trabalho no setor da construção civil continua
manter essa redução, é importante fazer da segu- sendo bastante significativa.
rança um ritual diário de práticas e procedimentos, A ergonomia é tratada na norma OHSAS
envolvendo as pessoas nas atividades diárias e crian- 18001: 1999 – Especificação da gestão em saúde e se-
do a visão de uma cultura de segurança total. gurança do trabalho, que auxilia o gestor a planejar,
A excelência em segurança e saúde do tra- implantar, desenvolver e manter os cuidados com a
balho deve ser alcançada por meio de mudanças ergonomia na empresa e no canteiro de obras.
contínuas de comportamento e não apenas com Na Tabela 7, é possível iniciar a identifi-
programas. cação e tratamento dos perigos e riscos rela-

48 REVISTA CONCRETo
cionados à saúde ocupacional, segurança e 3.7 Pessoas – avaliação da satisfação
ergonomia da empresa construtora. das pessoas

3.6 Pessoas – fatores que afetam Para identificar a satisfação das pessoas no
o bem-estar, a satisfação ambiente de trabalho é utilizada a pesquisa entre
e a motivação das pessoas os colaboradores para medir o clima organizacio-
nal, que de acordo com Chiavenato, em seu livro
“Gestão de pessoas, o
A identificação novo papel dos recursos
de fatores que afetam humanos na organiza-
o bem-estar, a satis- ção”, de 1999, é a qua-
fação e a motivação lidade ou propriedade
das pessoas é funda- do ambiente organiza-
mental para manter o cional que é percebida
ou experimentada pe-
clima organizacional los membros da organi-
elevado e, conseqüen- zação e que influencia
temente, as tarefas seu comportamento.
diárias eficientes. Neste sentido
Segundo Chia- a pesquisa de clima or-
venato, em “Geren- ganizacional (Figura 3)
ciando Pessoas, o mostra para a liderança
passo decisivo para qual o nível da relação
entre os colaboradores
a administração par- e entre a direção, suas
ticipativa” (1994), os percepções sobre os
fatores responsáveis outros colegas, sobre
pela satisfação no a empresa e sobre o
mercado em que está

Gerenciamento empresarial
trabalho são total-
mente independen- inserida, tornando-se
tes e desligados dos uma ferramenta impor-
tante para diminuição
fatores responsáveis do gap entre o que
pela insatisfação: o a direção acredita ser
oposto da satisfação verdade e qual é a ver-
profissional não é a dadeira percepção das
insatisfação, mas sim pessoas com relação a
nenhuma satisfação; estas interações.
da mesma forma, o Como comple-
mento à pesquisa, é
oposto da insatisfação indicado que a lideran-
profissional não é a ça estabeleça um plano
satisfação, mas a não- de ação em relação às
satisfação. questões em que os
Na construção indicadores são desfa-
civil, identificamos as- voráveis. Ao proceder
pectos do bem-estar, desta maneira, os cola-
boradores percebem a
satisfação e motivação veracidade do projeto
dos profissionais, con- e atenção aos itens
forme a tabela 9. desfavoráveis.

REVISTA CONCRETO 49
Responsabilidade na
engenharia e arquitetura
Rone Antônio de Azevedo • Engenheiro Civil
Caixa Econômica Federal

Esta série de artigos tem por objetivo que tratam de desabamento seguido de morte -
discutir o exercício profissional da Engenharia e homicídio considerado culposo (sem intenção).
Arquitetura no Brasil sob a perspectiva das res- É preciso cuidar para que os serviços e
ponsabilidades legais – civil, ético-profissional, produtos estejam dentro dos parâmetros de
técnica, administrativa, penal e trabalhista – bem qualidade, segurança e economia. Dessa forma,
como suas excludentes. Pretende-se estimular o engenheiros e arquitetos estarão resguardados
interesse pelo conhecimento da legislação por de futura responsabilização. O profissional tem
parte dos engenheiros e arquitetos. por obrigação esclarecer o consumidor sobre as
No Brasil, o exercício profissional dos enge- características intrínsecas do serviço, os riscos e os
nheiros e arquitetos está sujeito às responsabilida- custos da relação contratual.
des previstas nos códigos Civil, Penal, Trabalhista, Por um lado, engenheiros e arquitetos são
de Defesa do Consumidor, além das resoluções educados com a visão lógica e racional dos servi-
do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura ços técnicos que executam. Todavia, nem sempre
e Agronomia (Confea). conhecem com suficiente lucidez as implicações
Responsabilidade é tema freqüente na legais e as responsabilidades envolvidas no desem-
sociedade hodierna e aplicável nas relações de penho das suas atividades profissionais.
consumo, serviços e técnicas. Os processos de inde- O desafio de acompanhar e compreender
nização por responsabilidade civil são cada vez mais a legislação inicia na formação acadêmica que
freqüentes. A sociedade busca restaurar o equilíbrio privilegia a tecnologia em detrimento das relações
moral, social e patrimonial, tendo como conseqüên- sociais. Quando muito, nas faculdades de Arquite-
cia indenizações com valores significativos. tura e Engenharia há uma disciplina com noções
É o caso do colapso estrutural na Linha gerais de Direito e Ética Profissional.
4 do Metrô, em São Paulo, ocorrido em 12 de Na esfera Cível, as relações desses profis-
janeiro de 2007, du- sionais estão submeti-
rante as obras da Es- das às Leis nº 10.406/02
tação Pinheiros. Nessa e nº 8.078/90, respecti-
tragédia morreram 7 vamente, Código Civil
(sete) pessoas, além dos (CC) e Código de Defesa
danos patrimoniais em do Consumidor (CDC).
94 imóveis interditados Em algumas situações,
na vizinhança. Ao todo, as relações atingem es-
14 (quatorze) pessoas feras penais, trabalhis-
foram indiciadas pelo tas e administrativas.
Ministério Público do Ao exercer essas ativi-
Estado de São Paulo. dades, engenheiros e
A maioria dos acusa- arquitetos enfrentam
dos é de engenheiros, situações práticas e le-
projetistas e fiscais. Eles gais que não foram
foram enquadrados em abordadas na forma-
artigos do Código Penal ção acadêmica.

50 REVISTA CONCRETo
Por outro lado, a busca por provas requer mercado de trabalho para peritos de Engenharia e
a realização de perícias técnicas com o objetivo de de Arquitetura é amplo, incluindo a atuação junto
determinar a culpabilidade de todos os envolvidos, aos órgãos do Executivo e do Judiciário, empresas
qualificando ou excluindo a responsabilidade do privadas, construtoras, bancos, seguradoras, loca-
profissional, de acordo com o caso concreto. O dores e locatários de imóveis, entre outros.
laudo pericial é o elemento fundamental para Paralelamente às deficiências na formação
embasamento da decisão do magistrado. acadêmica, a falta de posicionamento da cate-
As escolas de Engenharia fazem muito pou- goria contribui para o aumento da negligência,
co para superar o desconhecimento sobre laudos imprudência e imperícia no exercício das atribui-
técnicos. A maioria dos engenheiros formados ções exclusivas das profissões regulamentadas no
tem dificuldade para expressar conceitos técnicos Sistema Confea/Crea.
em outra linguagem diferente da numérica. Na Engenheiros e arquitetos têm o dever de
zelar das atribuições legais que possuem. Quando
graduação faltam disciplinas que preparem o pro-
necessário, devem denunciar as irregularidades aos
fissional nas áreas de Engenharia de Avaliações e
seus respectivos Conselhos Federal e Regionais de
Perícias de Engenharia. Aqueles que desejam atuar Engenharia, Arquitetura e Agronomia – Confea/
nessas áreas precisam investir em pós-graduações, Creas – que regulam e fiscalizam as profissões. Os
treinamentos e livros específicos. Conselhos, por sua vez, têm a obrigação legal de
A Engenharia Legal é mais ampla do que tomar providências cabíveis, impedindo o mau
a Medicina Legal, envolvendo desapropriações, exercício profissional, não só de leigos inabilitados,
avaliações de aluguéis, vistorias técnicas e ações como dos habilitados sem ética.
reais imobiliárias, dentre outras áreas. Contudo, A valorização dos engenheiros e arquitetos
os próprios engenheiros e arquitetos geralmente resulta da conduta ética, do respeito às atribuições
ignoram essas e outras atividades de avaliações e profissionais e do compromisso com o desenvolvi-
perícias que estão habilitados a exercer. mento da sociedade. O estudo das leis pertinentes
A Resolução nº 345/90 do Confea normati- – incluindo as resoluções emanadas pelo Confea – é
zou o exercício profissional das atividades de En- tão necessário quanto a permanente atualização
genharia de Avaliações e Perícias de Engenharia. O dos conhecimentos técnicos e científicos.

ENGENHARIA LEGAL

REVISTA CONCRETO 51
Programa Comparativo de
Resistência à Compressão visando
o Controle de Qualidade do
Concreto Dosado em Central
Carine Hartmann • Coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento
Carlos Eduardo Xavier Regattieri • Gerente Nacional de Gestão e Tecnologia
Engemix/SA

1. Introdução uma referência para balizar eventuais ações


corretivas.
Duas são as premissas para o controle
O “Programa Interlaboratorial” é uma tecnológico eficiente: análise dos resultados
série de medições de uma ou mais proprie- de ensaio, de maneira a verificar se estão
dades, realizadas independentemente, por condizentes aos parâmetros estabelecidos,
um grupo de laboratórios, em amostras de verificando sua rastreabilidade desde quan-
um material. O termo “Programa Interlabo- do a amostra deu entrada no laboratório
ratorial” é muito abrangente, pois pode ser até a confecção do relatório de ensaio;
utilizado para se atingir uma ou mais das laboratório com procedimento que vise a
seguintes finalidades: melhoria contínua, que permita detectar
Compatibilização entre resultados obtidos quaisquer não conformidades e, assim,
por dois laboratórios desenvolver um plano de ação corretiva e
Compatibilização entre resultados obtidos preventiva, para evitar e prevenir qualquer
por vários laboratórios não conformidade.
Avaliação de Métodos de Ensaios
Certificação de Materiais de Referência
Avaliação de Desempenho de Laboratórios
O artigo objetiva apresentar os resul-
tados dos Programas Interlaboratoriais da
Engemix referente à Resistência à Compressão
Axial do Concreto. O programa conta com a
participação dos principais laboratórios da
Engemix, além de alguns laboratórios exter-
nos convidados.
Este trabalho permite a comparação
de resultados de ruptura dos concretos ob-
tidos em ensaios de amostras de referência,
dentro do universo constituído por labora-
tórios de vários pontos do Brasil, avaliando
sua sistemática de trabalho e comparando os
seus resultados com os demais laboratórios.
O uso desta ferramenta objetiva estabelecer

52 REVISTA CONCRETo
2. Metodologia 3. Metodologia para análise dos dados

2.1 Definição dos laboratórios Para execução das análises foi adota-
e amostras da metodologia análoga à empregada pelo
INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia
Os laboratórios participantes são iden- e Normalização Industrial), através da CTLE 1
tificados através de numeração seqüencial, de (Comissão Técnica de Laboratórios de Ensaios
forma a garantir a confidencialidade dos resul- em Construção Civil) da RBLE (Rede Brasileira
tados. Cada participante recebe os seguintes de Laboratórios de Ensaio), desde de 1995.
materiais: Esta metodologia vem se consagrando pela sua
simplicidade e eficiência. O INMETRO adota os
Nove corpos de prova de concreto com
resultados dos Programas Interlaboratoriais nas
relação a/c diferentes (3 relações a/c) para
avaliações de supervisão dos laboratórios acre-
execução dos ensaios; ditados ou em fase de acreditação. O método
Planilha para registro de dados e resultados
de todas as determinações realizadas;
Número de identificação no Programa;
Informações necessárias, para a realização
dos ensaios, incluindo dia e horário.

2.2 Amostras

No Programa são utilizadas três com-


posições de concreto com diferentes relações
a/c, constituindo 3 amostras (com 3 exemplares CONTROLE TECNOLÓGICO
cada). Todas as amostras são moldadas pela
mesma equipe, seguindo o procedimento pres-
crito pela NBR 5738/2003.
De cada composição foram selecionados
03 corpos-de-prova, identificados por numera-
ção seqüencial e encaminhados aos laboratórios
com numeração aleatória, totalizando uma
amostra de 09 corpos de prova, como indicado
no item anterior.
As amostras foram embaladas em caixas
plásticas com isopor e enviadas aos laboratórios.
Apresenta-se na Figura 3, o esquema do
estudo interlaboratorial usado na empresa.

REVISTA CONCRETO 53
aproximadamente 45º com o eixo X. A inclina-
ção do eixo maior está próxima de +1 e a do eixo
menor próxima de -1. A dispersão dos pontos
ao longo do eixo maior está associada aos erros
sistemáticos, enquanto que ao longo do eixo
menor está associada aos erros aleatórios.

3.2 Fontes de erros

Ao realizar um ensaio, diversas são as


fontes de erros a que se está sujeito. Os tipos de
erros que podem ocorrer, função da posição do
ponto em relação à elipse, são os seguintes:
Erros sistemáticos: ocorrem devido a
condições adversas do laboratório,
podendo ter origem em modificações
não permitidas na metodologia e/ou
equipamentos não calibrados. São sempre
de mesmo sinal e magnitude. São
utilizado de análise dos dados foi o da Elipse
constantes, não importa quantas medidas
de Confiança, onde, com os resultados obtidos
sejam feitas.
pelos laboratórios participantes, amostras A e
Erros aleatórios: ocorrem devido à
B, são construídos os diagramas de dispersão
variabilidade dentro do laboratório
elaborados em um sistema de eixos cartesianos:
podendo ter origem em operador não
a escala do eixo X cobre a faixa de resultados
devidamente treinado e/ou erros
referentes à amostra A; e a do eixo Y, a faixa
ocasionais como: erro de leitura, erro
de resultados da amostra B.
de cálculo, erro em transcrição de
dados, etc. Variam em sinal e magnitude
3.1 Fundamentação teórica da elipse
e são imprevisíveis. Se várias medições
são realizadas, a média dos erros
Considera-se duas variáveis aleatórias x e
aleatórios tende a zero.
y, bem como suas funções de distribuição f1(X) e
Na Figura 6 são apresentadas as princi-
f2(Y). O intervalo de confiança é determinado
pais fontes de erros, classificando-as em siste-
com probabilidade P de conter o valor estimado
máticas e aleatórias.
de uma dada distribuição em estudo de uma va-
riável. Uma região de confiança é definida com
3.3 Interpretação dos resultados
probabilidade P de conter, simultaneamente, os
valores estimados das distribuições de ambas
A interpretação dos resultados é feita
as variáveis aleatórias (Olivieri). A Figura 4 e a
em função do posicionamento dos pontos re-
Figura 5 apresentam a elipse de confiança.
presentativos dos laboratórios relativamente à
Geralmente, os pontos se situam dentro
elipse construída (dentro ou fora), ao seu eixo
de uma elipse, cujo eixo maior faz um ângulo de
maior (próximo ou afastado), bem como aos
quadrantes.
Pontos dentro da elipse: indicam que
existe compatibilidade entre os resultados
destes laboratórios e que a variabilidade
apresentada é aceitável. São considerados
como laboratórios com bom desempenho.
Pontos fora da elipse: indicam que
os resultados destes laboratórios não
são compatíveis com os demais, sendo
considerados, portanto, como dispersos.
São considerados como laboratórios
que apresentam problemas, ou seja, com
desempenho insatisfatório. Necessitam
de ações corretivas e/ou preventivas para
eventuais melhorias.
Portanto, laboratórios cujos pontos se si-
tuam fora da elipse de confiança aceitável devem
reexaminar seu procedimento de ensaio, localizan-
do e corrigindo a provável fonte de desvio. Para

54 REVISTA CONCRETo
4. Resultados

São apresenta-
dos os resultados de 3
programas realizados
na empresa. A Figu-
ra 7 apresenta os re-
sultados do primeiro
programa realizado
em 2005. Onde, para
a análise da elipse
com 95% de confian-
ça tivemos laborató-
rios fora da elipse.
As Figuras 8 a
10 apresentam os re-
sultados do segundo e
do terceiro programa
realizado na empresa
em 2006 e 2008. As
análises foram feitas
para 95% e 90% de
confiança. Para 95% de
confiança, no segundo
programa, dois labora-
tórios ficaram fora da
estes laboratórios, a posição do ponto em relação elipse e para 90%, tivemos 10 laboratórios.
ao eixo maior da elipse, fornece uma indicação do Com base nos resultados, foram verifi-
tipo de erro eventualmente cometido, ou seja: cados os tipos de erros para cada laboratório
Próximos ao eixo maior da elipse indicam e, com isso, elaborou-se um plano de ação
erros sistemáticos significativos e ocorrem para os laboratórios internos (da empresa),
devido a condições adversas do laboratório, cujo principal objetivo foi a correção destes
podendo ter origem em modificações não erros. Entre os erros encontrados pode-se
permitidas na metodologia e/ ou citar: erro aleatório, erro sistemático, erro
instrumental não calibrado. aleatório e sistemático. Os principais erros
Afastados do eixo maior da elipse, indicam foram: falta de calibração do equipamento,
erros aleatórios significativos e ocorrem erro de transcrição de dados e treinamento
devido à variabilidade dentro do do operador (laboratorista).
laboratório, podendo ter origem em:
operador não devidamente treinado e
erros ocasionais (erro de leitura, erro de 5. Considerações finais
cálculo, erro de conversão de valores, erro

CONTROLE TECNOLÓGICO
de transcrição de resultados etc.).
A metodologia de análise dos resultados
O método tradicional da elipse de con-
empregada – Método da Elipse de Confiança
fiança apresenta vantagens em relação a outros
– é simples, prática e eficiente.
métodos, tais como: visualizar a compatibilida-
A metodologia se mostrou eficaz e
de dos resultados entre si (pontos dentro da
deverá ser mantida, podendo se constituir
elipse), bem como fornecer algumas informa- numa ferramenta de gerenciamento do nível
ções relativas ao tipo de erro eventualmente de confiança dos laboratórios da Engemix e
cometido (de caráter aleatório ou sistemático). benchmarking com o mercado. Este procedi-
No entanto, apresenta algumas desvantagens mento faz parte da rotina para aferição e cor-
tais como: não fornece informações sobre o de- reções realizadas pelos laboratórios internos
sempenho dos laboratórios; resultados dentro da empresa e aprimoramento do processo.
da elipse de confiança podem ser interpretados Os objetivos do programa foram atingidos:
como bom desempenho, o que nem sempre é Avaliar a variabilidade dos resultados
verdade, pois informação adicional se faz ne- de resistência à compressão obtidas pelos
cessária para tal. laboratórios de uma concreteira;

REVISTA CONCRETO 55
Verificar se houve reincidência de bom desempenho quando se analisa a elipse com
laboratórios fora da elipse de confiança; 95% de confiança. Os laboratórios identificados fora
Identificar quais laboratórios necessitam de da elipse de confiança são sempre contatados para
ações corretivas; investigação e ações de melhorias. A apresentação
Fornecer informações para direcionar as da elipse com 90% pode ser um bom sinalizador
ações corretivas. para aperfeiçoamento dos processos.
De uma maneira geral, os resultados indi-
cam que os laboratórios participantes apresentaram

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] FORTES, R. et. al Avaliação de cinco anos de programa interlaboratorial de misturas asfálticas desenvolvido
no Brasil Anais. In. 35a REUNIÃO ANUAL DE PAVIMENTAÇÃO Rio de Janeiro - BRASIL - 19 a 21 de Outubro
de 2004

[02] OLIVIERI, J.C .(1988) Método Gráfico para a Interpretação de Resultados em Programas Interlaboratoriais -
Elipse de Confiança. Publicação IPT no 1759.

[03] OLIVIERI, J.C .(2000) Programas Interlaboratoriais - Elipse de Confiança. Manual do programa interlaboratorial.

[04] OLIVIERI, J.C (2004) Programa interlaboratorial: proposta de modelo para interpretação de resultados de
análises químicas. Dissertação de Mestrado apresentada a Unicamp. 102 p.

56 REVISTA CONCRETo
Selo de qualidade setorial
para elementos pré-fabricados
de concreto
Pedro H. Gobbo; Sheyla M.B. Serra ; Marcelo de A. Ferreira
NETPRE – Núcleo de Estudo e Tecnologia em Pré-Moldados de Concreto
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Brasil

1. Introdução obras públicas. Este é o caso do programa da


Qualidade da Construção Habitacional do Es-
tado de São Paulo (QUALIHAB) da Companhia
Desde a segunda metade dos anos 90, de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do
a implementação dos sistemas de gestão da Estado de São Paulo (CDHU) e do Programa Bra-
qualidade vem se afirmando como um dos mais sileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat
importantes modelos de gestão de empresas e (PBQP-H) do Ministério das Cidades. A consoli-
da produção, principalmente em construtoras dação das normas ISO 9000 nos mercados, como
atuantes no setor de edificações no Brasil. Com referência em termos de garantia dos sistemas
isso, surgiram Programas de Qualidade em âm- da qualidade, mostra que o processo de certifi-
bitos nacionais e estaduais, que inspecionam e cação das empresas no setor da Construção Civil
comprovam a qualidade nas empresas de cons- é uma realidade. Sendo assim, as normas de
trução e divulgam o resultado para os potenciais garantia da qualidade proporcionam à empresa
clientes em função da aprovação da certificação. o conhecimento, o controle e a avaliação dos
A alta competitividade do setor
na construção civil tem levado
as empresas construtoras a
desenvolverem ações visando
competir estrategicamente
neste mercado, principalmen-
te com foco no seu processo
de produção. Estudos revelam gestão da qualidade
que é crescente o número
de empresas que procuram a
certificação dos seus sistemas
de qualidade, com base nas
normas ISO 9000 ou em outros
sistemas próprios.
Diversas pesquisas na
área mostram que o número
de empresas certificadas na
construção civil aumentou,
assim como se deu início a
exigências de certificação pelo
poder de compra dos clientes,
principalmente pelo setor de Transporte e montagem de painel de fachada

REVISTA CONCRETO 57
desenvolvida uma pesquisa pelo
grupo NETPRE da UFSCar. Este
artigo apresenta e caracteriza o
processo de implantação do selo
de excelência ABCIC como instru-
mento para incremento do nível
da organização, gestão e contro-
le de qualidade da fabricação e
utilização do sistema estrutural
de pré-fabricado, considerando o
desenvolvimento da certificação
da qualidade nas empresas de
construção civil. Com isso, espera-
se criar propostas e reflexões a
respeito do controle de qualida-
de na indústria de pré-fabricados
e suas mais modernas aplicações
para o auxílio no desenvolvimen-
to deste importante setor da
construção civil.
Aplicação de concreto auto-adensável em painel pré-fabricado na Europa
[foto cedida por Kim Elliott]

resultados do processo de produção, além de 2. Certificação na indústria de pré-fabricados


trazer indiretamente qualidade em marketing,
melhoria nos aspectos financeiros e segurança
e credibilidade do produto. 2.1 Controle da qualidade
Verifica-se que para facilitar a implemen-
tação e sucesso dos sistemas de qualidade nas Os materiais pré-fabricados agregam em
empresas uma das estratégias possíveis é consi- si um maior controle de qualidade, pois a pró-
derar o mercado dividido por segmentos, desta pria empresa fabricante realiza esse controle,
forma desenvolvendo uma metodologia que fazendo com que o material chegue ao canteiro
oriente os dirigentes e executores do processo de obra em boas condições de utilização.
de certificação a buscar as diretrizes aplicadas e Um sistema de qualidade só é eficiente
as vantagens direcionadas ao seu negócio. quando existe o controle da produção junta-
O setor de pré-moldados de concreto possui mente com o controle de aceitação, em que o
destaque no desenvolvimento da
construção civil brasileira sendo
caracterizado por estar em cons-
tante desenvolvimento tecnoló-
gico, principalmente nos aspectos
de organização e de redução
dos custos da produção durante
a fabricação e montagem dos
elementos. Como forma de
alavancar a eficiência e racio-
nalização da produção, uma
das estratégias mais recentes
e importantes deste setor foi
o desenvolvimento e implanta-
ção de um processo de certifica-
ção setorial.
Com o objetivo de con-
textualizar o processo de certifi-
cação na construção civil no Brasil
referente aos pré-fabricados de
concreto, frente à importância
da iniciativa para o setor, foi Montagem de edifício de múltiplos pavimentos

58 REVISTA CONCRETo
primeiro é feito pelo produtor
e o segundo pelo consumidor,
pois se este não exige qualida-
de, o produtor não é solicitado
e a deixará para níveis secun-
dários. O controle da produção
é a soma do auto-controle,
que deve ser executado pela
produção, com base em regras
pré-estabelecidas que devem es-
tar, sempre que possível, em um
manual de fabricação, e do con-
trole independente, que deve
ser realizado por uma equipe
desvinculada da produção, em
que seu objetivo é verificar se
a produção do elemento foi
feita de acordo com os procedi-
mentos pré-estabelecidos e se a
qualidade final do produto está
dentro dos limites preconizados. Vista do pátio de produção de empresa de pré-fabricados
A norma utilizada para o con-
trole da qualidade nos materiais pré-fabricados é produtos pré-fabricados, a Associação Brasileira
a NBR 9062 – Projeto e execução de estruturas de da Construção Industrializada de Concreto –
concreto pré-moldado, em seu item 12 – Controle ABCIC, e a Associação Brasileira de Cimento
de Qualidade e Inspeção (ABNT, 2005). Portland – ABCP, em parceria com o Centro de
Tecnologia de Edificações (CTE) criaram, em
2.2 O Selo de Excelência ABCIC 2004, o Selo de Excelência ABCIC.
O Selo é uma maneira de garantir que
O aprimoramento da tecnologia dos haverá qualidade nas peças pré-fabricadas pro-
elementos pré-fabricados de concreto trouxe duzidas por uma determinada empresa, que
inúmeras vantagens para a construção civil, receberá o certificado em um dos três níveis de
entre elas rapidez, economia e limpeza na obra. certificação (Níveis I, II, e III) que o selo possui, de
Dessa forma, para garantir o crescimento orde- acordo com a avaliação realizada pelo CTE. Sendo
nado, confiável, com qualidade e segurança dos assim, o selo tem a função de nivelar os produ-
tores, ocasionando uma melhor
estruturação do setor, resultan-
do em uma maior utilização do
sistema pré-fabricado de concre-
to. Além disso, o selo responde
às necessidades do consumidor,
atestando que os detentores
do selo estejam adequados em
diversos requisitos pré-definidos
gestão da qualidade
no conteúdo da avaliação para
a obtenção do mesmo.
Para conseguir o selo,
as empresas são analisadas
pelo desempenho técnico e
empresarial, que é medido por
indicadores pré-estabelecidos.
O setor de pré-fabricados está
expandindo e o selo garante
um crescimento ordenado, con-
fiável, com qualidade e segu-
rança, não só para o mercado,
Armazenagem e transporte de peças pré-fabricadas mas para a própria empresa

REVISTA CONCRETO 59
(CCRED), que analisa as ativi-
dades dos avaliadores. É cons-
tituída por representantes de
diversas classes envolvidas com
o Selo. A composição da CCRED
e suas funções são encontrados
no Regimento da Comissão de
Credenciamento (R.02) e pode
ser encontrado no site http://
www.abcic.org.br/selo_exce-
lencia.asp, juntamente com o
restante do material do selo.
O Material do Selo de
Excelência é composto por uma
série de regulamentos e nor-
mas específicas que podem ser
encontrados no site acima.
Para que uma planta
de produção seja cadastrada,
ela deve possuir infra-estrutura
Execução de ligação soldada na Inglaterra [foto cedida por Kim Elliott] própria (mesmo com utilização
de funcionários terceirizados)
adepta ao programa e seus funcionários. Sendo para o recebimento de matéria-prima, produção
assim, somente receberão o selo as empresas que de concreto e elementos pré-fabricados, arma-
demonstrarem possuir competência efetiva para zenamento e transporte dos materiais. Além
projetar, produzir, transportar, montar e entregar disso, a planta deve pertencer a uma empresa
ao cliente construções em conformidade com as devidamente cadastrada junto ao CREA (Conselho
normas técnicas, utilizando as melhores práticas Regional de Arquitetura e Urbanismo) e deve pos-
de gestão empresarial relacionadas à qualidade, suir alvará de funcionamento junto à prefeitura
segurança e respeito ao meio-ambiente. do município onde esteja estabelecida.
Pode candidatar-se ao Selo qualquer em- O credenciamento inicial pode ser reali-
presa que possua um sistema industrializado para a zado para uma planta de produção que tenha
produção de elementos pré-fabricados em concre- iniciado ou realizado suas atividades há, pelo
to armado ou protendido destinados à construção menos, 30 dias antes da data de solicitação, tenha
civil. O local onde são produzidos os elementos produzido elementos pré-fabricados e realizado
pré-fabricados a serem utilizados
para a montagem de uma obra é
chamado de Planta de Produção,
que pode, em alguns casos, estar
dentro do próprio canteiro da
obra onde serão utilizados os
elementos fabricados.
A gestão das atividades
necessárias para o funciona-
mento do sistema envolve os
seguintes agentes: Diretoria
da Qualidade da ABCIC, que
coordena as atividades; a Co-
ordenação Operacional para
o Selo (COS), que coordena as
atividades operacionais; o Setor
administrativo da ABCIC, que
realiza atividades de promoção
e divulgação; os Avaliadores,
que realizam as avaliações
das plantas de produção; e a
Comissão de Credenciamento Concreto lavado (agregado exposto) em painel arquitetônico

60 REVISTA CONCRETo
ciação Brasileira da Construção
Industrializada de Concreto).
Foram identificadas três em-
presas de pré-fabricação de
concreto, que eram cadastra-
das e possuíam o Selo de Ex-
celência ABCIC em um de seus
três níveis de certificação. Para
essas empresas foram elabora-
dos roteiros pertinentes a cada
tipo de visita, a fim de obter
os resultados desejados. Este
artigo apresenta os resultados
da pesquisa desenvolvida sob
apoio da FAPESP.

3.2 Caracterização
das empresas

A primeira empresa es-


Concreto lavado (agregado exposto) em painel arquitetônico tudada, identificada aqui por
Empresa A, está cadastrada no
a montagem de parte de uma obra para, pelo nível II do Selo ABCIC. Durante a visita, foi acom-
menos, um cliente comprovado em pedido ou panhada uma auditoria para a manutenção do
contrato de fornecimento. Selo, juntamente com o coordenador técnico da
A solicitação de credenciamento de uma empresa auditante. Também foi analisada a cen-
planta de produção é realizada pela empresa que tral de produção de pré-fabricados de concreto.
detém o sistema industrializado para produção e A empresa B foi escolhida pelo fato de
possua responsável técnico pela produção e mon- estar no início de seu credenciamento junto à
tagem dos elementos pré-fabricados. Essa empresa ABCIC e já existir há vinte anos no mercado,
deve disponibilizar à COS todas as informações possuindo uma experiência na fabricação dos
necessárias para seu cadastramento (razão social, elementos pré-fabricados. Sendo assim, seria
CNPJ, endereço etc.), para classificação inicial da possível entender quais os motivos que levam
planta de produção, que pode ser classificada uma empresa a possuir o Selo de Excelência
como de pouca, média ou grande complexidade. ABCIC. Para as visitas na empresa B, também foi
Essa classificação é realizada pela COS, com base elaborado um roteiro e com o estudo foi possível
nas informações fornecidas pela empresa e con- identificar quais as perspectivas dos profissionais
forme a norma específica N.01 – Critérios para da empresa em relação à melhoria da gestão da
Classificação de Plantas de Produção, do material qualidade de seu empreendimento, em função
do Selo de Excelência ABCIC. da obtenção da certificação almejada. Outra
Para que uma empresa possa obter o Selo utilidade da visita foi verificar as condições de
de Excelência ABCIC é necessário que a mesma produção e planejamento da fábrica antes de
pontue uma quantidade de requisitos estabeleci- obter o Selo. Além da visita à fábrica, foi efetu-
dos pelas Normas Específicas do Selo. As normas ada uma visita a uma montagem dos elementos
gestão da qualidade
especificam quais os requisitos mínimos a serem produzidos pela empresa no município de São
pontuados de acordo com o nível de credencia- Carlos, no estado de São Paulo, a fim de verificar
mento pretendido pela empresa solicitante. a qualidade na montagem no canteiro.
O terceiro estudo de caso efetuado neste
trabalho foi realizado junto à empresa identi-
3. Metodologia ficada como Empresa C, que começou com a
implantação do Selo desde 2004. Como uma
das precursoras e incentivadoras da qualidade
3.1 Amostragem em seus processos, a mesma já possui o selo de
Excelência da ABCIC, em seu nível I. O estudo se
A definição da amostra de empresas foi concentrou na análise da central de produção,
determinada através do estudo das empresas a fim de observar a atuação nos processos de
ligadas à construção civil filiadas à ABCIC (Asso- planejamento e gestão da qualidade.

REVISTA CONCRETO 61
Com estes três estudos de caso, foi pos- dos níveis de certificação do Selo, a empresa
sível realizar comparações entre os diferentes deverá criar um sistema de gestão e controle
níveis de qualidade e seus respectivos diferen- da produção mais eficiente, do contrário não
ciais de gestão da produção. Por isso, foram receberá a pontuação necessária para conseguir
escolhidas: uma fábrica que ainda não possuía a aprovação.
o Selo, uma que já o possuía, e outra que esta- Após analisar a montagem da obra da
va em processo de auditoria, onde foi possível empresa B, pode-se concluir que ainda existem
acompanhar um avaliador durante a manuten- muitas atividades que podem ser melhoradas
ção (ou não) do Selo de uma empresa. para aumentar a produtividade e segurança
na montagem com elementos pré-fabricados.
Vale lembrar que embora possa se conseguir
4. Análise de resultados uma obra mais rápida com o uso desses ele-
mentos, deve haver um planejamento por
parte da empresa de todas as atividades a
4.1 Dados das visitas serem realizadas, a fim de que realmente seja
vantajosa esta alternativa de construção, tanto
O auditor concluiu após a auditoria na na questão de otimização dos recursos quanto
empresa A que a mesma possui pontuação sufi- na questão da racionalização.
ciente para manter o Selo de Excelência ABCIC Na terceira empresa, identificada como
no nível II de credenciamento. A partir daí o empresa C, pode-se concluir que ela possui de
auditor deve disponibilizar o formulário com fato um controle da produção dos elementos
os resultados para a empresa e enviar à COS pré-fabricados. Algumas coisas ainda poderiam
até, no máximo, em dois dias. As ações correti- ser melhoradas, tais como o layout da fábrica,
vas devem ser realizadas pela empresa e serão que talvez por falta de espaço seja um pouco
verificadas através de uma visita suplementar apertado. Mas, de acordo com o engenheiro, a
de conferência. Desta forma, a empresa poderá fábrica se encontra em processo de expansão e
manter o uso do Selo de Excelência ABCIC, des- certamente a distribuição será melhorada, em-
de que mantidas as condições de uso, explicadas bora já se possa dizer que está bem organizada.
na Norma Específica N.03. O fato de a empresa Existe um processo definido de organização que
ter uma produção certificada demonstra que os segue um fluxo de etapas, componentes e ma-
elementos pré-fabricados produzidos possuirão teriais, acompanhando a disposição dos locais
as características de projeto especificadas e que da produção e montagem de cada etapa.
as mesmas poderão ser mantidas ao longo de Também é possível concluir que o Selo
sua vida útil. Durante a visita, foi possível acom- de Excelência ABCIC tem colaborado para me-
panhar a pontuação de cada requisito exigido lhorar o sistema de planejamento e controle da
pela norma, ficando claro que, para a pontu- produção da fábrica da empresa C, que já possui
ação dos mesmos, a empresa deve possuir um uma série de atividades que racionalizam o
sistema eficaz de controle e planejamento da produto final, tais como o controle de inspeção,
produção, além de investimentos em segurança que impede que peças defeituosas sigam para
e treinamento dos funcionários. Uma proposta as obras. Os estoques e controles da produção
de organização dos dados a serem avaliados do concreto efetuado pela empresa C também
será apresentada no item seguinte. colaboram de forma significativa no resultado
A partir da entrevista efetuada e das final, pois materiais de qualidade e bem produ-
visitas à fabrica e à montagem na empresa B, zidos aumentam a vida útil do material.
pode-se concluir que a empresa em questão
precisa investir na criação de uma equipe da 4.2 Requisitos a serem pontuados
qualidade a fim de melhorar as condições da
fábrica, fazendo com que esta produza seus Para que uma empresa possa obter
elementos de forma mais segura e racionali- o Selo de Excelência ABCIC é necessário
zada. Foram observados, ao longo desta visita, que a mesma pontue uma quantidade de
que a fábrica possui alguns pontos que pode- requisitos estabelecidos pelas Normas Espe-
rão ser melhorados a partir do momento em cíficas do Selo. As normas especificam quais
que a empresa começar a trabalhar em função os requisitos mínimos a serem pontuados
do cumprimento dos requisitos exigidos pela de acordo com o nível de credenciamento
Norma Específica do Selo de Excelência ABCIC. pretendido pela empresa solicitante.
Isso provavelmente ocorrerá devido ao fato de A Tabela 1 mostra os requisitos a serem
que, para conseguir se credenciar em algum pontuados para cada nível de certificação

62 REVISTA CONCRETo
REVISTA CONCRETO
63
gestão da qualidade
64 REVISTA CONCRETo
do Selo de Excelência ABCIC em função dos produção, a fim de controlá-la e planejá-la
grupos de análise e os respectivos itens de mais adequadamente para o fornecimento
observação com as notas máximas possíveis. dos componentes pré-fabricados. O trabalho
Observa-se que a discriminação dos provou também que a implantação do Selo
itens a serem observados e a confecção da de Excelência ABCIC é utilizada por uma
tabela é uma importante ferramenta de empresa de pré-fabricado como forma de
análise das condições da fábrica e para a padronizar a sua produção, ou seja, forne-
tomada de decisões estratégicas. cer diretrizes, através de seus requisitos,
para que a empresa pudesse melhorar a
qualidade de suas peças produzidas, fa-
5. Conclusões zendo com que elas permanecessem com as
características de projeto ao longo de toda
sua vida útil.
Como pode ser observado durante as Sendo assim, a implantação do selo
visitas, a evolução do nível de credenciamento setorial contribui para o desenvolvimento
exige que as empresas controlem mais as eta- do controle de produção das empresas de
pas do seu processo produtivo, necessitando, pré- fabricados, melhorando a qualidade
por conseqüência, de maior esforço gerencial. dos elementos produzidos, fazendo com
Este trabalho observou as diferenças de plane- que a construção civil no Brasil possa ser
jamento e controle da produção que existiam mais industrializada. Acredita-se que a al-
entre essas empresas, em função dos níveis de ternativa de construção em pré-fabricados
credenciamento no qual se situavam, visando de concreto, além de ser economicamente
provar que o Selo de Excelência ABCIC não viável e segura, coloca a construção civil
é apenas um diferencial de marketing. Na num nível de organização e racionalização
análise realizada, o Selo se configura como construtiva sem precedentes no Brasil.
uma ferramenta utilizada pelas empresas Espera-se que pesquisas tecnológicas
para padronizar o seu sistema de gestão e e organizacionais, como esta, possam con-
qualidade de produção. Observou-se que, tribuir de fato para que os pré-moldados
a partir do momento de sua implantação, a de concreto sejam cada vez mais utilizados
empresa automaticamente se via obrigada a no país.
criar um sistema de gestão da qualidade em
função dos requisitos exigidos pelas Normas
Específicas do Selo, que, para serem pontua- 6. Agradecimentos
dos, exigia que a empresa possuísse um nível
de organização significativo.
Pode-se concluir que este certificado Os autores agradecem ao apoio
será uma ferramenta extremamente eficaz da FAPESP através da concessão da bolsa
para que a empresa possa identificar e de pesquisa, às empresas estudadas, ao CTE e
corrigir os problemas relacionados à sua à ABCIC.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA CONSTRUÇAO INDUSTRIALIZADA DE CONCRETO (ABCIC). Documentos do Selo


de Excelência. 2006. Disponível em <http://www.abcic.org.br/selo_excelencia.asp >. Acesso em fevereiro de 2009.
gestão da qualidade
[02] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR-9062: Projeto e execução de estruturas
de concreto pré-moldado. Rio de Janeiro.2005b.

[03] GOBBO, P.H. O processo de implantação do selo ABCIC para os pré-fabricados de concreto.
Relatório de pesquisa de iniciação científica, UFSCar/FAPESP, 2007. 83p.

[04] RODRIGUES, P. P. F.; AGOPYAN, V. Controle de qualidade na indústria de pré-fabricados. Brasil - São Paulo,
SP. 1991. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, Departamento de Engenharia de Construção Civil,
BT/PCC/49. 17p. In: Disponível em: http://publicacoes.pcc.usp.br/lista.htm#boletins%20técnicos. Acesso em
maio de 2007.

[05] SERRA, S. M. B.; PIGOZZO, B. N.; FERREIRA, M. A. A industrialização e os pré-fabricados em concreto armado.
Brasil - Porto Alegre, RS. 2005. 9 p. In: Simpósio Brasileiro de Gestão e Economia da Construção, 4.; Encontro
Latino-Americano de Gestão e Economia da Construção, 2005, Anais... Porto Alegre, RS.

REVISTA CONCRETO 65
5º Congresso Internacional
sobre Patologia e
Reabilitação de Estruturas
A 5ª edição do Congresso Internacional
sobre Patologias e Reabilitação de Estruturas vai
ser realizada de 11 a 13 de junho de 2009, no Ho-
tel Four Points Sheraton, em Curitiba, Paraná.
O evento objetiva promover conheci-
mentos, técnicas e tecnologias para a realização
dos trabalhos de diagnóstico, restauração e
recuperação de estruturas de concreto.
Palestrantes internacionais:
Eduardo Ballan Ballán (Espanha)
Humberto Varum (Portugal)
Petr Stepanek (República Theca)
Thomaz José Ripper Barbosa Cordeiro
(Portugal)
Palestrantes nacionais:
Bruno Contarini (Brasil)
César Zanchi Daher(Brasil)
Eliana Barreto Monteiro(Brasil) Thomas Carmona (Brasil)
Ercio Thomaz (Brasil) Tibério Andrade (Brasil)
Francisco Carvalho (Brasil) Inscrições abertas! Preços promocionais
Ivo José Padaratz (Brasil) até 31 de março.
Jarbas Milititsky (Brasil) Mais informações: http://www.cinpar2009.com.br

IX Seminário Desenvolvimento Sustentável


O setor da construção civil tem desenvol-
vido ações para minimizar seu impacto sobre o
meio ambiente. São estudos de comportamento
do concreto com adição de resíduos de construção
e demolição. São novas tecnologias na linha de
produção de cimento, que diminuem o consumo
de energia e a emissão de gases do efeito estufa.
São políticas públicas inovadoras de gestão am-
biental relacionadas ao setor. É o desenvolvimen-
to e aplicação de concretos de maior resistência e
melhor desempenho, que garantem a construção
de obras com maior vida útil.
“A sociedade tem mostrado uma visão ho-
lística quando se trata de crescer para atender as
necessidades básicas da humanidade. Hoje, tanto

66 REVISTA CONCRETo
VII Simpósio EPUSP sobre
Estruturas de Concreto
O VII Simpósio da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo sobre Estruturas
de Concreto – VII EPUSP – será realizado como
evento paralelo do 51º Congresso Brasileiro do
Concreto, que acontece de 6 a 10 de outubro de
2009, em Curitiba.
Esta edição do evento, além das sessões
plenárias e pôsteres, espera contar com a pre-
sença dos seguintes especialistas nacionais e
estrangeiros:
Palestrantes convidados:
Prof. Alberto Carpinteri
(Politécnico de Torino)
Prof. Carlos Eduardo Moreira Maffei
(POLI USP)
Prof. Christian Bohler (Univ. Saarbrucken)
Prof. James Wight (Univ. Michigan)
Prof. Peter Marti (ETH – Zurich)
Foro de debates entre os agentes de
Durante o evento, vão ser debatidos os temas: todos os elos da cadeia da construção civil,
Projeto e Métodos Construtivos
oportunidade ímpar para atualizar conheci-
de Estruturas Complexas mentos e práticas sobre a tecnologia do con-
Modernização de Códigos de Projeto
creto e seus sistemas construtivos, o Congresso
Monitoração de Estruturas
Brasileiro do Concreto realiza sua 51ª edição
Aspectos Inovadores na Análise e Projeto
na ExpoUnimed, em Curitiba, de 06 a 10 de
de Estruturas outubro de 2009.
No evento, serão homenageados os pro- Mais informações e envio de resumos,
fessores Ernani Dias e José Zamarion Diniz. acesse: www.ibracon.org.br

e Reciclagem na Construção Civil


a iniciativa privada como a academia e o poder Temas:
público já entendem que o desenvolvimento não Eco-eficiência e Green Buildings ACONTECE nas regionais
pode ter seu foco apenas no aspecto econômico, A contribuição do concreto para o
afinal de contas gerações futuras vão se lembrar Desenvolvimento Sustentável
de nós como a geração que fez a diferença ou Resíduos sólidos e Meio Ambiente:
como a que destruiu o planeta”, explica o profes- Indústria, Mineração e Construção Civil
sor Salomon Levy, coordenador do Comitê Técnico Gestão ambiental e Políticas públicas
IBRACON Meio Ambiente (CT-MAB). na construção civil
Com o propósito de contribuir para dissemi- Estudo de caso em Gerenciamento de RCD
nar o conhecimento, as técnicas e as inovações no Tecnologia dos materiais e a sustentabilidade
setor construtivo com vista à sustentabilidade, será Aquecimento global e Mecanismo
realizado pelo CT-MAB o IX Seminário de Desenvol- Desenvolvimento Limpo na engenharia civil
vimento Sustentável e Reciclagem na Construção O envio de artigos para o evento
Civil, nos dias 16 e 17 de junho de 2009, no Instituto encerra-se dia 15 de abril próximo.
de Engenharia, em São Paulo, Capital. Mais informações: www.ibracon.org.br

REVISTA CONCRETO 67
2o Encontro Nacional de
Pesquisa-Projeto-Produção
em Concreto Pré-Moldado
O 2º Encontro Nacional de Pesquisa- Componentes e materiais
Projeto-Produção em Concreto Pré-Moldado é Lajes pré-fabricadas
uma reunião técnica para promover a integração Obras emblemáticas
do setor acadêmico e do setor produtivo em
Aplicações especiais do concreto
torno do concreto pré-moldado. Seu objetivo é
promover a transferência de conhecimentos das pré-moldado
instituições de ensino e pesquisa para o mercado, Datas importantes
assim como das necessidades e demandas do Data limite para submissão de resumos:
setor produtivo para a academia. 31/03/2009
O evento vai acontecer nos dias 3 e 4
Comunicação de resultados dos resumos:
de novembro de 2009 no Departamento de
Engenharia de Estruturas da Universidade de 30/04/200
São Paulo em São Carlos. Data limite para submissão dos trabalhos
O prazo para submissão de resumos completos: 30/06/2009
de trabalhos técnico-científicos vai até 31 de Comunicação de resultados da avaliação
março.
Temário dos trabalhos completos: 20/09/2009
Sistemas estruturais Mais informações:
Ligações http://www.set.eesc.usp.br/2enpppcpm

3º Workshop – Concreto:
Durabilidade, Qualidade
e Novas Tecnologias
A Regional Ibracon Noroeste Paulista, a Ligações Semi-Rigídas em Estruturas Pré-Moldadas
UNESP e o Laboratório CESP de Engenharia Civil Professor Doutor  MARCELO DE ARAUJO
realizarão o 3º Workshop Concreto: Durabilida- FERREIRA, NETPRE, UFSCAR, SÃO CARLOS
de, Qualidade e Novas Tecnologias, de 20 a 22 O Papel da Abcic no Desenvolvimento da
de maio de 2009, em Ilha Solteira. O objetivo Indústria de Estruturas Pré-Moldados
do evento é divulgar os trabalhos desenvolvidos de Concreto
pelas  duas instituições em Ilha Solteira e destacar Engenheira ÍRIA LÍCIA OLIVA DONIAK,
os avanços  na  Tecnologia  do  Concreto,  parti- ABCIC, SÃO PAULO
cularmente  do  Concreto Pré-moldado. A data Estágio Atual e Perspectivas da Normalização
limite para o envio de artigos é 5 de abril. do Concreto com Fibras
Professor Doutor ANTÔNIO DOMINGUES DE
PALESTRAS FIQUEIREDO, POLI,  USP, S.P
Modelagem e Gerenciamento da Vida Útil A Cura Térmica dos Elementos Pré-Moldados:
de Estruturas Civis É Necessário ou Não?
Professor Doutor  LUIZ CARLOS PINTO SILVA Prof. Doutor ROBERTO CALDAS DE ANDRADE
FILHO, UFRGS, PORTO ALEGRE PINTO – Departamento de Estruturas e Materiais
Norma Técnica de Concreto da UFSC-Florianópolis
Engenheira INÊS L.S. BATTAGIN , ABNT/CB18 – Mais informações:
São Paulo http://www.dec.feis.unesp.br/workshop3

68 REVISTA CONCRETo
Impermeabilizar para garantir vida
longa e saúde aos imóveis
As principais funções da impermeabili-
zação são: aumentar a vida útil das estruturas,
impedir a corrosão das armaduras do concreto;
proteger as superfícies da umidade, das manchas,
dos fungos, entre outros; garantir salubridade
aos ambientes e preservar o patrimônio contra o
intemperismo. É um discurso repetido por mui-
tos, mas, infelizmente, ainda não entendido.
Veja o check list a seguir, preparado pela
Vedacit, para ajudar na impermeabilização de
alicerces. Afinal, a água existente no solo (lençol
freático) pode subir pelas paredes até quase um
metro, o que faz a pintura descascar, o reboco
se soltar e surgir o mofo, entre outros. fiada acima do piso acabado.
A umidade do solo é o problema de 5 – Atente para o projeto arquitetônico,
infiltração mais difícil de ser resolvido, pois a levantando todas as interferências, como
fundação é uma etapa da obra a que não se tem jardim encostado nas paredes ou parede de
mais acesso depois da obra entregue.Considere encosta.  Nesses casos a alvenaria tem de
as informações que se seguem: ser levantada com argamassa impermeável
1 – Em torno da viga baldrame, faça até uma altura que ultrapasse tais pontos.
revestimento de argamassa com cimento, 6 – Tenha sempre em mente que a falta
areia, impermeabilizante e água, na da impermeabilização na fundação pode
espessura de 1,5 cm. causar sérios danos à construção. E que
2 – A mistura é feita da seguinte forma: impermeabilização tem custo baixo diante
a) Homogenize o produto na própria do benefício agregado.
embalagem. Para corrigir um problema de umidade
b) Prepare a argamassa com cimento novo, do solo, gastamos com:
sem pelotas, areia média (0-3 mm), lavada, Remoção da tinta ou revestimentos
limpa, isenta de impurezas orgânicas cerâmicos, rebocos, chapisco. Fazendo esse
e peneirada. trabalho, é necessário regularizar
c) A argamassa impermeável é preparada novamente a parede e, assim, gastar
usando-se: 1 lata de cimento e 3 de areia, com cimento e areia para fechar os orifícios.
misturando-se o impermeabilizante na Após essa etapa, é feita a
seguinte proporção: 1 kg do produto para impermeabilização. Em seguida, faz-se
cada lata de cimento ou 2 kg para cada a repintura ou recoloca-se o revestimento
saco de 50 kg. cerâmico.
d) Uma dica é dissolver impermeabilizante na Portanto, os gastos a serem computados
água que será usada no amassamento, são muitos: mão-de-obra para remover
assim consegue-se espalhar melhor o tudo e depois refazer os serviços; cimento,
produto por toda a massa. areia, tinta, aluguel de caçamba de
3 – Após a secagem da argamassa, aplique entulho. Sem contar outros que podem
MANTENEDOR

duas demãos de Neutrol (consumo de surgir, tais como: móveis danificados,


500 ml/m²) ou Neutrolin (consumo de somados ao desconforto dos moradores
400 ml/m²). Este último pode ser aplicado durante a reforma, os riscos à saúde e
mesmo com a superfície levemente úmida. a geração de entulho, que se traduz em
4 – Levante a alvenaria, assentando todos agressão ao meio ambiente.
os tijolos ou blocos com a mesma A impermeabilização tem, portanto,
argamassa impermeável, até a terceira uma série de fatores a seu favor.

REVISTA CONCRETO 69
Fibra de carbono no reforço ao
cisalhamento em vigas de concreto
Eng. Otávio de Borba Vieira • Diretor Técnico
Solução Engenharia Ltda

Resumo o aparecimento de fissuras e a ruptura


do concreto. Os resultados mostraram que
as vigas reforçadas tiveram 8% de ganho
Com a evolução do concreto e das médio na resistência ao cisalhamento, sen-
técnicas construtivas, tornaram-se viáveis do que o maior aumento ocorreu na viga
estruturas cada vez mais esbeltas. Porém, com reforço em “U” e ancoragem na parte
observa-se uma crescente necessidade de superior, que resistiu 15% a mais que a viga
reforço posterior dessas estruturas, por causa de referência.
de problemas aos quais ela pode estar sujei- Palavras-chave: reforço estrutural, fibra de car-
ta, tais como: mudança do uso previsto, erros bono, concreto armado, vigas, cisalhamento.
de construção, falhas de projeto, falta de
manutenção etc. Diversos materiais e
técnicas de reforço vêm sendo desenvol- Abstract
vidos nos últimos anos, com destaque para a
técnica que utiliza materiais compósitos e fi-
bra de carbono, sobre a qual ainda não há With the evolution of concrete and
conhecimento suficiente. Então, estudou-se constructive techniques it became practi-
o reforço de vigas de concreto armado ao cable structures each time more slender.
cisalhamento, utilizando PRFC (polímero However, an increasing necessity of in-
reforçado com fibra de carbono), com o tervention for posterior strengthening
objetivo de verificar, entre as estudadas, of these structures, because of problems
qual configuração de reforço apresentou it can be subject, such as: changing of
maior ganho de resistência. Considerando the previous use, errors of construction,
tiras de tecido de fibra de carbono com cin- imperfections of project, lack of mainte-
co centímetros de largura, executou-se um nance, etc. Several materials and techniques
programa experimental compreendido por of strengthening have been developed in
seis vigas, com as seguintes configurações: the last years, with prominence for the
uma viga de referência (sem reforço); duas technique involving the use of composites
vigas com reforço em toda a altura das faces materials and carbon fiber, on which still
laterais; duas vigas com reforço nas faces la- do not has enough knowledge. Therefore,
terais e no fundo da viga, formando um “U”; shear strengthening of reinforced concrete
uma viga com reforço similar ao das duas beams was studied, using CFRP (carbon fi-
vigas anteriores, porém com tiras horizontais ber reinforced polymer), with the objective
coladas na parte superior, para ancoragem to verify, among the studied beams, which
das fibras. Essas vigas foram ensaiadas no la- configuration of strengthening presented
boratório da Universidade Federal de Minas higher increase of strength. Using strips of
Gerais, para se determinarem os valores de carbon fiber cloth with five centimeters of
resistência em cada caso, verificando-se width, it was carried out an experimental

70 REVISTA CONCRETo
program with six beams with the follow- estruturas foram projetadas.
ing configurations: a beam of reference Existem, atualmente, diversas técnicas
(without strengthening); two beams with de reforço, cujas aplicações e desempenhos
strengthening at the lateral faces; two beams irão depender da configuração geométrica e
with strengthening at the lateral faces and do carregamento (BEBER, 2003).
at the bottom of the beam, forming an “U”; Para Robery e Innes (1997), a escolha
a beam with strengthening like in the last de uma dessas técnicas deverá ser baseada nas
two beams, but with horizontal strips glued seguintes considerações:
at the top part for anchorage of the fibers. custo de aplicação;
These beams have been tested at the labora- desempenho do reforço;
tory of the Federal University of Minas Gerais durabilidade do reforço;
in order to determine the values of strength facilidade de aplicação.
in each case, verifying the emerging of cracks Os primeiros trabalhos de reforço es-
and the concrete failure. The results have trutural foram executados com a adição de
shown that the strengthened beams had 8% chapas metálicas coladas com resina epóxi, na
of average increase in the shear strength, década de 1960 (THOMAS, 1998). Essa técnica,
being that the largest increase occurred embora eficiente, apresenta algumas desvan-
in the beam with strengthening in “U” and tagens, como baixa resistência à corrosão e ao
anchorage at the top part, which resisted fogo, demora na execução e na liberação
15% more than the beam of reference. das estruturas, restrição ao tamanho das
Keywords: structural strengthening, carbon chapas etc.
fiber, reinforced concrete, beams, shear. Nos últimos anos, diversos materiais as-
sim como novas tecnologia foram desenvolvidas
na área de reforço das estruturas, com o objeti-
1. Introdução vo de aumentar cada vez mais sua vida útil.
Uma das mais notáveis técnicas envolve
a utilização de materiais compósitos e fibra de
Desde o início da civilização, o ho- carbono que, diferentemente do aço, não
mem busca aprimorar seus conhecimentos são afetados pela corrosão eletroquímica e
e expor suas potencialidades, edificando resistem aos efeitos corrosivos de ácidos,
estruturas cada vez mais robustas. Para álcalis, sais e outros agentes agressivos
tanto, aliou os materiais disponíveis (HOLLAWAY, 1993).
com técnicas construtivas, executando Os materiais compósitos podem resol-
estruturas imponentes. ver uma série de problemas dentro da área
No século XX, consolidou-se a uti- de reforços estruturais.
lização do material mais empregado até A combinação de fibras e polímeros
hoje nas estruturas – o concreto armado. permite que o elemento de reforço seja
Desenvolveram-se técnicas construtivas ino- confeccionado para atender a uma solução parti-
vadoras, sendo possível executar estruturas cular, tanto em relação à sua geometria, quanto
cada vez mais esbeltas, devido à versatilidade às suas propriedades mecânicas (BEBER, 1999)
do concreto. REFORÇO ESTRUTURAL
No entanto, alguns problemas eram 1.2 Problema analisado
desconhecidos ou ignorados, o que podia
tornar necessária uma intervenção para re- Atualmente, cada vez mais vêm se
forço das estruturas. mostrando necessários trabalhos de reforço
e de recuperação de estruturas.
1.1 Técnicas de reforço De acordo com Souza e Ripper apud
De Luca (2006), tais reparos se devem a fatores
As técnicas de reforço em estruturas como: correção de falhas de projeto e/ou de
de concreto armado vêm sendo largamente execução; aumento da capacidade portante
utilizadas na construção civil, devido a vá- da estrutura, para permitir modifi-
rios fatores, como falhas de projeto, erros cações em seu uso; regeneração da ca-
de construção, falta de manutenção adequada pacidade resistente, diminuída em virtude de
e, por vezes, mudança do uso para o qual as acidentes (choques, incêndios etc.), desgaste

REVISTA CONCRETO 71
ou deterioração; e modificação da concepção carbono (CFC). Porém, são casos especiais,
estrutural, como corte de uma viga, por devido ao alto custo de tal intervenção.
necessidade arquitetônica ou de utilização. Os polímeros reforçados com fibra (PRF)
Várias são as técnicas de reforço exis- são constituídos por um componente estrutu-
tentes. Porém, destaca-se nos últimos anos ral (filamentos de fibras de carbono) e por um
a aplicação de Polímeros Reforçados com componente matricial (resinas poliméricas).
Fibra de Carbono (PRFC), cujos custos são
elevados e critérios de projeto para execu- 2.1 Fibras
ção dessa técnica são pouco desenvolvidos,
principalmente no Brasil. As fibras utilizadas na fabricação
de compósitos devem apresentar as se-
2. Polímeros Reforçados guintes características: elevada resistência e
com Fibra de Carbono (PRFC) módulo de elasticidade, reduzida variação
de resistência entre fibras individuais, esta-
bilidade e capacidade de manter suas proprie-
Inicialmente utilizados no reforço de dades ao longo do processo de fabricação
pilares submetidos à ação sísmica, os polí- e manuseio, uniformidade de seus diâmetros
meros reforçados com fibras de carbono (PRFC) e superfícies (HOLLAWAY, 1993).
já são largamente utilizados no reforço de lajes As fibras mais usadas atualmente são
e de vigas, em estruturas como pontes etc. as de vidro, as de aramida e as de carbono.
A durabilidade, rapidez de execução As fibras de carbono são as mais rígidas e re-
e alto módulo de elasticidade (podendo sistentes dentre as utilizadas para reforço de
chegar a 800GPa) são as características res- polímeros, como mostra a tabela 1, na qual
ponsáveis pela sua boa aceitação (ARAÚJO, são apresentadas as propriedades típicas de
2002). alguns tipos de fibra.
São inúmeras as obras hoje, tanto no Segundo Taylor (1994) a principal razão
panorama mundial quanto nacional, sendo de se reforçarem os polímeros é aumentar sua
reforçadas com compósitos de fibra de rigidez, mas, ao se empregar elementos de alta

72 REVISTA CONCRETo
rigidez, aumenta-se também a resistência a as possíveis interações com outras solicitações.
compressão, tração, impacto e fadiga. Os estudos sobre reforço ao cisa-
lhamento de vigas de concreto armado
2.2 Matriz utilizando materiais compósitos têm sido
limitados. Apesar de existirem alguns es-
A matriz polimérica de compósitos re- tudos, os procedimentos de verificação e de
forçados tem como funções envolver as fibras, dimensionamento desses reforços são, ainda,
dando proteção contra os agentes agressivos, e um tanto complexos. Os modelos propostos
possibilitar a transferência de tensões, além de são diversos e, em alguns casos, contraditó-
promover o posicionamento correto das fibras. rios (TRIANTAFILLOU, 1998).
A resina que irá compor a matriz poli- O método mais eficiente de reforço ao
mérica interfere nas propriedades físicas, quí- cisalhamento é o envolvimento total – wrap-
micas e elétricas dos compósitos. A matriz ping –, ou seja, o completo envolvimento da
pode ser composta de resinas termoplásticas seção transversal da viga, conforme a figura
ou resinas termoendurecíveis. 1 (a). Contudo, às vezes, essa alternativa é
As resinas epóxicas (termoendure- inviável do ponto de vista prático, devido à
cíveis) são as mais utilizadas, pois apre- presença de uma laje ou de outro elemento.
sentam excelente resistência à tração, boa O método mais comum caracteriza-se
resistência à fluência, boa resistência química, pela colagem do reforço nas laterais e na base
forte adesão com as fibras e baixa retração da seção. Esse método é denominado “U
durante a cura. wrap”, isto é, envolvimento tipo “U”, con-
forme a figura 1 (b). Quando não é possível
envolver a base da viga, pode-se colar o reforço
3. Cisalhamento nas laterais, conforme a figura 1 (c). Entre-
tanto, esse método tem limitações por conta
de problemas com a ancoragem do reforço.
A ruptura por cisalhamento em elementos
de concreto armado ocorre de maneira súbita e
catastrófica, e devem ser tomadas providências 4. Características do experimento
para evitá-la, ainda na fase de projeto. O efeito do
cisalhamento se traduz em tensões de tração
em planos com inclinação de aproximadamente Moldaram-se seis vigas de comprimento
45º em relação ao plano em que atua a tensão 180cm e seção retangular 15cm x 20cm, cinco
de cisalhamento. A ruptura ocorre quando essas delas com reforço de tiras de tecido de carbono
tensões, juntamente com as tensões horizontais com 5cm de largura. Essas vigas foram divididas
devidas à flexão, excedem a resistência do material da seguinte forma:
à tração diagonal (BEBER, 2003). Primeiro grupo: uma viga de referência
As solicitações de cisalhamento quase sem reforço (denominada V1);
sempre ocorrem em conjunto com solicita- Segundo grupo: duas vigas com reforço
ções axiais, de flexão e de torção, e raramente em toda a altura das duas faces laterais
de forma isolada. (denominadas V2-1 e V2-2);
Para identificar o efeito do cisalhamen- Terceiro grupo: duas vigas com reforço
REFORÇO ESTRUTURAL
to de maneira isolada, é necessário examinar em toda a altura das duas faces laterais

REVISTA CONCRETO 73
se cimento CPV-ARI-PLUS. A moldagem de seis
corpos-de-prova confirmaram uma resistência
característica à compressão de 34,8MPa. A por-
centagem de argamassa no traço foi da ordem
de 52%. A relação água/cimento foi de 0,47, com
a utilização de um aditivo superplastificante, na
proporção de 0,5% do peso do cimento. O traço
e no fundo da viga, formando um “U”
em peso foi de 1 : 2,466 : 3,133. A tabela 2 mostra
(denominadas V3-1 e V3-2);
a quantidade de materiais para a confecção de
Quarto grupo: uma viga com reforço em
um metro cúbico de concreto.
toda a altura das duas faces laterais e no
A estrutura do sistema de reforço
fundo, formando um “U”, sendo colocadas
constitui-se no seguinte: primer na superfície
tiras horizontais na parte superior para
de concreto, tecido de fibra de carbono e resina de
ancoragem das fibras (denominada V4).
A resistência do concreto à compressão, impregnação do tecido, seguindo-se as orientações
adotada para dosagem, foi de 30MPa, utilizando- do fabricante. A função do primer é melhorar as
características da superfície, colmatando os poros,
garantindo, assim, a adesão do compósito.

5. Resultados experimentais

Utilizaram-se equipamentos para a apli-


cação de forças e medida dos deslocamentos.
As forças transmitidas às vigas foram aplicadas
por um atuador hidráulico preso a um pórtico
de reação. Os valores correspondentes às forças
foram medidos por anel dinamométrico, com
capacidade de 300kN e constante de calibra-
ção de 456,8N/divisão, acoplado no pistão do
atuador hidráulico, conforme a figura 2.
O corpo-de-prova foi colocado sobre
um apoio fixo e outro móvel. Para a apli-
cação da força foi colocada uma viga metálica
rígida apoiada em dois pontos eqüidistantes, a

74 REVISTA CONCRETo
10cm do meio do vão, conforme a figura 3. do ensaio para as vigas do primeiro, segundo,
Para determinação dos deslocamen- terceiro e quarto grupo, respectivamente.
tos verticais (flechas), foi utilizado um O gráfico 1 apresenta do diagrama
relógio comparador colocado no meio da carga versus flecha de todas as vigas en-
viga, conforme a figura 4. Desse modo pode saiadas. Observa-se que o comportamento é
ser detectada qualquer tendência de flexão da praticamente igual.
viga, na direção do carregamento. Desse gráfico foi determinado, para cada
O carregamento foi aplicado em uma úni- viga e a partir de uma regressão linear, o coefi-
ca etapa contínua. Essa aplicação foi controlada ciente angular da curva. O módulo de elasticidade
de forma que a tensão, calculada em relação na flexão foi determinado a partir da equação 1.
à área bruta, aumentasse progressivamente à
razão de 0,25(N/cm²)/s. As interrupções para lei-
tura dos deslocamentos foram feitas a cada dez
divisões (0,456kN) até o limite de elasticidade.
A cada interrupção foi feita uma verificação da
viga no que se refere ao aparecimento de fissuras Na qual:
e ruptura do concreto ou desprendimento dos f = flecha
reforços de fibra de carbono. As figuras 5 (A e B), F = carga sobre a viga (metade da carga total)
6 (A e B), 7 (A e B) e 8 (A e B) mostram detalhes a = distância do apoio até a carga

REFORÇO ESTRUTURAL

REVISTA CONCRETO 75
I = momento de inércia ensaios, pode ser estabelecido o seguinte:
E = módulo de elasticidade O colapso das vigas deu-se pelo
Com (coeficiente angular) e substi- descolamento das fibras, nas vigas V2-1
tuindo na equação 1, obtém-se a equação 2. e V2-2 (reforço nas faces laterais), V3-1 e
V3-2 (reforço em “U”), e pelo
esmagamento do concreto na região de
aplicação das forças, na viga V4
(reforço em “U” com ancoragem);
As vigas do terceiro grupo (V3-1 e
Na tabela 3 são apresentados os va- V3-2) apresentaram maior rigidez, e as
lores de ensaio representativos de todas as primeiras fissuras de flexão e
vigas ensaiadas. cisalhamento apareceram com um
carregamento mais elevado, porém
apresentaram menor tensão de ruptura,
6. Análise dos resultados pois ocorreu o descolamento das fibras;
A viga V4 apresentou o melhor
resultado; a ancoragem horizontal
Com os resultados obtidos e a visualiza- mostrou-se bastante eficiente, pois
ção do comportamento das vigas durante os impediu o descolamento das fibras e

76 REVISTA CONCRETo
aumentou a capacidade resistente até que Para as vigas reforçadas nas laterais, o
ocorresse ruptura do concreto. ganho médio de resistência foi de aproxima-
damente 3,6%.
Para reforço em “U”, o ganho médio de
7. Considerações Finais resistência foi de 8,5%.
Para a viga com reforço em “U” e
Com base no que foi apresentado nes- ancoragem na parte superior, o ganho médio
te trabalho, pode-se concluir que o reforço de resistência foi de 15,1%.
de vigas de concreto armado ao cisalha- Vale ressaltar que esses resultados
mento com tecidos de fibra de carbono referem-se tão somente às vigas ensaiadas.
mostrou-se eficiente, aumentando a força de Portanto, são relativos aos materiais utilizados
ruptura em média 8%, aproximadamente, e à resistência do concreto empregada, ou seja,
nos ensaios realizados. da ordem de 35MPa.

REFORÇO ESTRUTURAL

REVISTA CONCRETO 77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.

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de fibra de carbono. Dissertação de Mestrado em Engenharia. Porto Alegre: CPGEC/UFRGS, 1999.

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Porto Alegre, 2003.

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