Palhoça
2006
JULIANA DA SILVEIRA
Palhoça
2006
Dedico este trabalho a minha família, que é
minha fonte de energia, sabedoria, bem estar
e felicidade, e ao meu noivo, Daniel, que
muito contribuiu durante todo o processo de
construção desta obra com toda a sua
experiência e dedicação.
RESUMO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................8
1.1 PROBLEMÁTICA ............................................................................................................8
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA .........................................................................................10
1.3 OBJETIVOS ....................................................................................................................10
1.3.1 Objetivo geral ...........................................................................................................11
1.3.2 Objetivos específicos ................................................................................................11
1.4 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................11
2 REFERENCIAL TEÓRICO .........................................................................................14
2.1 ENTENDENDO O HOMEM E SEU TRABALHO .......................................................14
2.2 TRABALHANDO COM TELEMARKETING ..............................................................17
2.3 ADOECENDO PELO TRABALHO: O SOFRIMENTO PSÍQUICO............................20
3 MÉTODO ........................................................................................................................23
4 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS E DA INSTITUIÇÃO ................................28
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS..............................................32
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................54
REFERÊNCIAS......................................................................................................................58
APÊNDICE A- Questionário.................................................................................................61
da gestão do trabalho, faz-se importante à medida que ele explicita a existência de situações
Entendendo que o trabalho permite a construção do sujeito como ser de cultura e é fator
primordial de sua manutenção, torna-se importante compreender a relação desse sujeito com o
1.1 PROBLEMÁTICA
com isso necessitando de serviços especializados nas diversas áreas, com uma cobrança
demanda de empregos em nosso país, que resulta na alta taxa de desemprego, os trabalhadores
trabalho, com intervalos reduzidos, pressões por produtividade, alta velocidade e controle
permanente.
existiam. Desta forma, o número de trabalhadores com doenças relacionadas ao trabalho vem
Entre esta parcela de trabalhadores brasileiros em atividade que vem adoecendo como
especial atenção de instituições públicas e privadas, que cuidam e zelam por uma relação
saudável entre o homem e seu trabalho. Esta ocupação pode levar à uma despersonalização e
adoecimento dos trabalhadores, na medida em que lhes são impostas metas de produção, que
devem ser cada vez mais superadas. Além disso, conforme a Recomendação Técnica DSST1
Organização (script) e que não pode ser mudado, pelo contrário, deve ser literalmente
seguido. Fatores esses que anulam a possibilidade do trabalhador expressar a sua criatividade
1
Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho.
10
e subjetividade.
telemarketing vem gerando desgaste para os trabalhadores pode ser reconhecida nas altas
Trabalhador (CEREST).
1.3 OBJETIVOS
11
trabalhadores de telemarketing.
e quais são os condicionantes da situação de trabalho que podem estar levando ao sofrimento
psíquico e propor ações interventivas que venham ao encontro dos resultados alcançados com
este estudo.
1.4 JUSTIFICATIVA
ocupação muito recente e inovadora, pois advinda da revolução informacional, mas que não
153, que divulga para consulta pública o texto técnico básico do Anexo II da Norma
cargas físicas, psíquicas e mentais aos quais os trabalhadores estão expostos, bem como expõe
trabalhadores, como forma de prevenção aos problemas decorrentes deste tipo de atividade.
Desta forma, fica evidenciada a necessidade da realização de estudos como este que possam
servir de suporte para futuras medidas em melhoria das condições de trabalho desta vasta
existem muitos trabalhadores adoecidos e que não se afastam do trabalho por motivos
diversos, como por exemplo, para não perderem benefícios como premiações e vantagens.
empresas, sendo que com, aproximadamente, apenas dez meses de trabalho nesta ocupação,
trabalhador, tem a intenção de desenvolver ações e pesquisas voltadas a esta área. Desta
forma, o interesse por este estudo também se justifica pela atuação desta pesquisadora como
forma, ele existe desde os primórdios da humanidade, sendo dotado de uma história que o
Até o final da Idade Média, o trabalho produtivo se dava por meio de um sistema
de produção do começo ao fim, o que garantia que o seu trabalho tivesse um significado, já
Com a Revolução Industrial, no século XVIII, foi inserida uma nova figura entre o
trabalhador e o que ele produzia, já que a produção passou a ser realizada no espaço físico das
formação das organizações, como as que conhecemos hoje, têm origem na Revolução
Industrial. Este evento exigiu não só uma reordenação na organização do trabalho, como
75).
Já no início do século XX, o trabalho era fundamentado nas idéias de Taylor, Ford e
Fayol. O principal princípio desta época era a necessidade da seleção do homem certo para o
lugar certo, já que se prezava pelo controle do trabalhador bem como pela sua especialização
nas funções que desempenhava. Desta forma, Tolfo (1992) afirma que o homem era entendido
como puramente racional, vinculando a satisfação com o mínimo de esforço possível, como se
o trabalho fosse algo penoso. Em função disso, os dirigentes das organizações da época
acreditavam que o trabalhador precisava ser controlado, dirigido e ameaçado de punições para
Na execução, o trabalhador deve ser poupado de pensar para que possa repetir os
movimentos ininterruptamente, ganhando em rapidez e exatidão. Tem, portanto, na
padronização, no parcelamento e na separação da concepção do trabalho os principais
recursos instrumentais para aumentar tanto a produção, quanto o controle sobre ela.
(BORGES e YAMAMOTO, 2004, p. 35).
ficar impossibilitado de reconhecer-se no que produzia, uma vez que a produção era
fragmentada e o trabalhador fazia parte de apenas uma parte do processo produtivo, ou seja,
uma vez que ele não tinha a possibilidade de participar de todo o processo produtivo, ficava
como ser social, dotado de uma subjetividade e de uma identidade que estão diretamente
nova concepção, passando a não ser mais visto como monótono, embrutecido, manual e
pesado. Confome Borges e Yamamoto (2004), o trabalho atual exige dos trabalhadores
Desta forma, como conseqüência dos novos valores que orientam o atual modelo de
funcionalidade no mundo do trabalho atual, que preza pela produção do necessário, no melhor
tempo, com funcionários polivalentes, que podem ocupar diversos postos de serviço e que
mais de criar postos de supervisão, como Taylor fazia. Ao contrário, trata-se de fazer que cada
mesmo.
17
dentre eles o telemarketing que, “funciona como um canal aberto para oferecer informações e
serviços e receber críticas e sugestões dos clientes, servindo ainda como um veículo de
(que protegia os negócios feitos por telefone), bem como das conseqüentes mudanças em
costumes culturais. Até este período, o local onde eram realizadas as operações de
Conforme o item 1.1.1 da Norma Regulamentadora 17, “Entende-se como call center
o ambiente de trabalho no qual a atividade principal é conduzida via telefone, com utilização
simultânea de terminais de computador.” (ANEXO I). Segundo o item 1.1.2 desta mesma
O telemarketing ainda pode ser definido como o diálogo em tempo real à distância,
18
padronizado e sistemático, que tem como objetivos estreitar relacionamentos, gerar contatos e
administrar informações para cumprir com os objetivos organizacionais de forma mais rápida
e com um custo mais baixo. Desta forma, o telemarketing aplica-se na realização de vendas e
telemarketing ativo os trabalhadores efetuam as ligações para os clientes alvo, sondando suas
clientes efetuam as ligações para os trabalhadores, que têm como objetivo verificar as
atendimento que tem sido adotado nas organizações devido à rapidez com a qual se chega ao
cliente, uma vez que possibilita o alcance de públicos diversos, independente da distância,
além de ter a capacidade de delimitar o público que se quer atingir.” (CODO, 2002, p.253).
persistência.
2
Informações coletadas na Apostila de formação de Operadores em telemarketing, elaborada pela
Associação Brasileira de Telemarketing.
3
Idem
19
trabalho no telemarketing conta com “padrões rígidos para o controle do tempo e da qualidade
2004, p.1071).
operador de telemarketing, conta com padrões para o controle destes trabalhadores, que são:
em uma hora de operação, o trabalhador deve ligar para 28 pessoas, realizar 15 contatos, 6
4
Informações coletadas na Apostila de formação de Operadores em telemarketing, elaborada pela
Associação Brasileira de Telemarketing.
20
acarreta desgaste para os operadores, evidente pelas altas taxas de absenteísmo, adoecimento
trabalho não dispõe de meios para obter prazer naquilo que realiza, uma vez que a sua
subjetividade e o ato de atribuir um significado para o seu trabalho ficam inviabilizados. “Do
tarefa. A organização do trabalho cada vez mais autoritária, rígida e parcelizante, conforme
significado pessoal.
em que o trabalhador não dispõe de condições para adaptar o trabalho às suas aspirações e
relação do homem com o seu trabalho, já que o trabalhador usufrui o máximo de sua
trabalho que não poderá ser adaptado aos seus desejos e a sua realidade. “Via de regra, quanto
trabalho e a natureza da pessoa que o realiza, tendo em vista que em grande parte das
“aumenta conforme o ritmo do trabalho se acelera. O ritmo mais rápido prejudica a qualidade,
desfaz relações com colegas, mata a inovação – e ocasiona o desgaste físico e emocional.”
rigoroso, a autonomia individual do trabalhador é reduzida, de modo que sem o controle sobre
Os autores ainda atentam para o alto custo dos desgastes físico e emocional, citando
que:
o desgaste físico e emocional pode causar problemas físicos como dores de cabeça,
doenças gastrointestinais, pressão alta, tensão muscular e fadiga crônica. O desgaste
pode levar ao esgotamento mental, na forma de ansiedade, depressão e distúrbios do
sono. Para tentar lidar com o estresse, as pessoas aumentam o uso do álcool e das
drogas. Se levam o desgaste físico e emocional para casa, sua exaustão e seus
sentimentos negativos começam a afetar o relacionamento com a família e com os
amigos. (MASLACH e LEITER, 1999, p.36).
Para que haja uma boa adequação entre a organização do trabalho e a estrutura mental
conteúdo, ritmo de trabalho, modo operatório, de modo que o exercício da tarefa proporcione
prazer, permitindo uma melhor defesa e estruturação física e psíquica. (DEJOURS, 1992).
3 MÉTODO
qualitativos do fenômeno estudado, neste caso o sofrimento psíquico. Desta forma, tem como
coisas e à sua vida como preocupação do investigador e o enfoque indutivo”. (NEVES, 1996,
p. 01)
Segundo informações do Instituto Ethos, a pesquisa qualitativa não deve ser usada
quando o objetivo é saber quantas pessoas irão responder de uma determinada forma ou
quantas terão a mesma opinião, ou seja, a pesquisa qualitativa não é projetada para coletar
resultados quantificáveis, mas sim para aprofundar o estudo acerca de determinado fenômeno.
Este estudo trata-se de uma pesquisa exploratória uma vez que objetiva desenvolver e
esclarecer conceitos e idéias, proporcionando uma visão geral do tipo aproximativo sobre
determinado assunto. “De todos os tipos de pesquisa, estas são as que apresentam menor
fenômeno atual, o sofrimento psíquico, inserido em seu contexto de realidade, neste caso
Este delineamento de pesquisa tem sido utilizado em maior número por pesquisadores
explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos; descrever
a situação do contexto em que está sendo feita determinada investigação e explicar as
variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito complexas que não
possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos. (GIL, 1999, p.73)
É importante destacar que, conforme Gil (1991), no estudo de caso o pesquisador deve
organizar a sua investigação em quatro etapas: delimitar a unidade caso, coletar os dados,
analisá-los e interpretá-los e, por fim, redigir o relatório. No caso deste estudo, a unidade caso
são os trabalhadores de telemarketing, a coleta dos dados realizou-se por meios da aplicação
técnica da análise de conteúdo e por fim os resultados foram relatados no capítulo 5 deste
trabalho.
função de auditor.
segundo o relato dos entrevistados, os operadores de telemarketing têm como principal função
a atividade da venda, seja em uma operação ativa, quando os operadores ligam para os
clientes, ou receptiva, quando os clientes ligam para os operadores. Já o auditor tem como
principal função a confirmação dos dados do cliente, após este ter fechado a venda com o
25
operador.
WILLIAMS, 1986). Este instrumento foi validado em diversos países entre os anos de 1978 e
1993, tendo sido validado no Brasil pelo professor Jair de Jesus Mari e outros.
contextos ocupacionais. Como exemplo aponta-se o estudo de Chaves (2004) e outros, que
sofrimento psíquico de caixas de uma agência bancária do Rio de Janeiro (RJ), utilizando o
O teste SRQ-20 possui 20 questões cujas respostas são do tipo SIM/NÃO, conforme
consta em anexo. Nos estudos já realizados, o ponto de corte para a detecção dos distúrbios
psíquicos menores (ansiedade e depressão) para homens é 5/6 e para mulheres é 7/8. Todavia,
ao se usar 7/8 tanto para homens como para mulheres. Desta forma, para o presente estudo,
valores maiores ou iguais a 7 de respostas SIM no SRQ-20, tanto no caso de homens como no
entrevistado.
26
O SRQ-20 foi aplicado por meio de uma entrevista semi-estruturada com cada um dos
trabalhadores, que teve aproximadamente uma hora e trinta minutos de duração. A entrevista
consistiu no aprofundamento das respostas SIM do SRQ – 20, que indicam a presença de
Os dados obtidos na pesquisa foram analisados por meio da análise de conteúdo, que
“é uma técnica de pesquisa cujo objetivo é a busca do sentido ou dos sentido de um texto”
(LUNA, 2005).
No caso deste estudo, a análise de conteúdo será realizada com base na mensagem
provocada pelo pesquisador, por meio das questões do SRQ - 20, já que a espontânea não
inferências sobre os elementos do processo de comunicação, sendo que tais elementos devem
seja, a análise de conteúdo é realizada a partir da mensagem emitida e manifesta para que seu
conteúdo relevância teórica, visto que pressupõe a comparação dos dados coletados ao ler o
discurso, já que um dado apenas é sem sentido, até que seja relacionado a outro. Holsti (apud
27
LUNA, 2005) cita que “toda análise de conteúdo implica comparações; o tipo de comparação
A pesquisa foi realizada nas dependências do CEREST, que é uma Gerência dentro do
Desta forma, o CEREST não é ponto de entrada no Sistema, mas sim a retaguarda
idade entre 18 e 60 anos, que trabalham no telemarketing há pelo menos três meses em uma
questionário foi elaborado pelo grupo de estágio da Unisul referido anteriormente. A partir da
telefônico para marcar uma data e um horário para as entrevistas com os trabalhadores. Do
deste estudo. Além destes trabalhadores, outros foram convidados para participarem deste
estudo por indicação dos próprios entrevistados, sendo que dos 8 trabalhadores indicados, 6
10 do sexo masculino.
Sujeito 1
telemarketing, o sujeito teve um problema pessoal sério que a fez sofrer muito.
Aproximadamente 3 meses após este episódio, foi diagnosticado, pelo médico da empresa, um
calo, uma fenda e um edema nas cordas vocais, bem como um desvio séptico. Em virtude de
seu problema de saúde, o sujeito 1 foi deslocado da função de operador para a função de
controle de qualidade, em que não se sentia reconhecido e o salário era menor que o de
operador. Sentia-se humilhado, não dormia, foi ao psiquiatra e este lhe encaminhou para a
perícia médica com o diagnóstico de depressão. Após onze meses na perícia, voltou para o
trabalho, apesar de o médico não recomendar, na função de operador. Após seu retorno da
perícia, teve crises nervosas na função de operador, por isso o sujeito 1 encontra-se na função
de auditor há 3 meses. Além de trabalhar com telemarketing, este sujeito trabalha como
30
autônomo, não faz atividade física e está concluindo o curso de Gestão de Relacionamento
com o Cliente, em nível de graduação, por meio de uma ajuda de custo fornecida pela
Sujeito 2
meses como operadora. Não pratica atividade física e nunca esteve afastada do trabalho.
Sujeito 3
É do sexo feminino, tem 19 anos, solteira, trabalha há 1 ano e meio na Empresa, sendo
7 meses na função de operador e nove na função de auditor, onde se encontra hoje. Não
possui outra atividade além do trabalho, nunca tendo estado afastada deste.
Sujeito 4
É do sexo feminino, tem 34 anos, solteira, trabalha há 3 anos nesta Empresa, tendo
estado por dois anos e três meses na função de operador e nos últimos oito meses na função
de auditor. Pratica atividade física e já esteve afastada do trabalho por duas vezes pelo motivo
Sujeito 5
É do sexo feminino, tem 23 anos, casada, trabalha há 3 anos nesta Empresa, tendo
trabalhado 2 anos e meio como operadora, esteve afastada por 1 mês, pelo motivo de
depressão e quando retornou foi para a função de auditor, onde está há 5 meses. Além de
graduação, por meio de uma ajuda de custo fornecida pela Empresa. Não pratica atividade
física.
Sujeito 6
É do sexo masculino, tem 35 anos, solteiro, trabalhou por 1 ano e 4 meses nesta
Sujeito 7
operador de telemarketing nesta Empresa. Além disso, cursa Tecnólogo em Marketing por
meio de uma ajuda de custo fornecida pela Empresa. Não pratica atividade física e esteve
Sujeito 8
tendo estado na função de operador nos 6 primeiros meses, passando para a função de auditor,
onde está há 2 meses. Não pratica atividade física e nunca esteve afastado do trabalho.
Sujeito 9
afastado do trabalho.
Sujeito 10
Empresa, sendo que nos seis primeiros meses como operador e há 8 meses como auditor. Não
pratica atividade física e já esteve afastado do trabalho pelo motivo de pressão alta.
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
tendo sido analisado sujeito por sujeito. Os dados foram tabulados em categorias para cada
questão do teste SRQ – 20, totalizando 20 questões, de modo que apenas as respostas SIM
apresentaram sofrimento psíquico, sendo 4 mulheres e 3 homens. Desta forma, percebe-se que
Apesar de este estudo consistir em uma pesquisa qualitativa, que aprofunda o estudo
destacar que 70% da amostra apresentou sofrimento psíquico, segundo o teste SRQ – 20.
Quadro 2. Indicador de sofrimento psíquico por questão, segundo o sexo dos sujeitos.
IINDICADORES DE SOFRIMENTO
QUESTÃO TOTAL
PSÍQUICO (SIM)
FEMININO MASCULINO
1 3 3 6
2 3 2 5
3 4 2 6
4 2 0 2
5 1 1 2
6 4 5 9
7 4 3 7
8 3 0 3
9 4 3 7
10 2 2 4
11 4 2 6
12 4 3 7
13 3 2 5
14 0 0 0
15 4 3 7
16 0 1 1
17 1 1 2
18 3 3 6
19 3 3 6
20 4 4 8
De acordo com o quadro acima, verifica-se que não há diferença significativa entre o
observar também que as questões 6 e 20 foram as que tiveram maior freqüência de resposta
SIM. Estas questões se referem à existência de tensão, nervosismo e de cansaço fácil entre os
igual ou maior a 5 de respostas SIM, sendo este um número significativo, já que representa a
34
A partir destes dados é possível verificar os sintomas mais presentes no teste SRQ –
20 que estão relacionados com o sofrimento psíquico dos trabalhadores, são eles: dor de
cabeça freqüente, falta de apetite, dormir mal, tensão e nervosismo, má digestão, tristeza,
PRIMEIRA QUESTÃO
Na primeira questão foi perguntado aos entrevistados: “Você tem dores de cabeça
CATEGORIAS FREQUÊNCIA
6 meses 1
Após Trabalhar
8 meses 1
em
Telemarketing 10 meses 2
12 meses 2
que foi denominada desta forma em virtude de todos estes entrevistados terem relacionado o
categoria contém quatro subcategorias que são 6 meses, 8 meses, 10 meses e 12 meses, que
exemplo disto pode ser visto na fala do sujeito 5 quando diz: “Sinto dores de cabeça quase
toda semana desde que voltei da perícia, quando tinha 12 meses de empresa.” Já o sujeito 8
diz: “Tenho dores de cabeça sempre, depois que comecei a trabalhar, por causa do som e do
ruído.” O sujeito 1 afirma que: “Tenho dor de cabeça freqüente desde 10 meses na empresa.”
SEGUNDA QUESTÃO
CATEGORIAS FREQUÊNCIA
Após Trabalhar 1 mês 1
em 6 meses 2
Telemarketing 12 meses 2
Como na questão anterior, nesta questão foi criada a categoria após trabalhar em
telemarketing, com três subcategorias que são: com 1 mês de trabalho, com 6 meses de
telemarketing em que a falta de apetite teve seu início, persistindo até hoje. Como exemplo
temos a fala do sujeito 2 que diz: “A falta de apetite é maior no horário de trabalho e eu
procuro comer pouco para não ficar cansada.” O sujeito 6 relata que: “Minha falta de apetite
TERCEIRA QUESTÃO
A terceira questão tem como pergunta: “Dorme mal?”. O total de resposta SIM foi 6,
CATEGORIAS FREQUÊNCIA
Após Trabalhar 3 meses 1
em 6 meses 1
Telemarketing 10 meses 4
Como nas duas questões anteriores, foi criada a categoria após trabalhar em
telemarketing, referindo-se ao fato de que os respondentes SIM desta questão disseram que
referem ao tempo de trabalho em que os sujeitos relataram que começaram a dormir mal são:
com 3 meses de trabalho, com 6 meses de trabalho e com 10 meses de trabalho. Um exemplo
é a fala do sujeito 2: “Logo depois que comecei a trabalhar tomo medicação para dormir.” Já
o sujeito 6 relata: “A pressão e os gritos dos supervisores em nosso ambiente de trabalho, com
o tempo, fez com que eu só dormisse com prescrição de remédio.” O sujeito 5 fala que:
36
“Depois de quase um ano na empresa, passei a dormir mal em virtude de o dia ser muito
puxado e de me impressionar quando algum de meus colegas entra em crise nervosa durante o
trabalho.” O sujeito 4 diz: “Sinto que estou estressada, acordo várias vezes à noite, desde
início dos sintomas dor de cabeça freqüente, falta de apetite e dormir mal só se deram após os
sujeitos estarem trabalhando de um a doze meses em telemarketing, pode-se inferir que tais
sintomas têm relação com o trabalho. Outros dados que confirmam esta relação são as falas
dos entrevistados quando relatam aspectos do ambiente de trabalho, como o som, o ruído, as
crises nervosas dos colegas, a pressão e os gritos dos supervisores, que acabam por
Leiter afirmam que estes desgastes podem desencadear problemas físicos como dores de
cabeça, doenças gastrointestinais, pressão alta, tensão muscular e fadiga crônica, podendo,
QUARTA QUESTÃO
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Antes de
Trabalhar em 1
Telemarketing
Depois de
Trabalhar em 1
Telemarketing
De acordo com a tabela acima, foram criadas duas categorias: antes de trabalhar em
telemarketing, para a resposta em que o sujeito 3 diz: “Acho que sempre fui assim de me
37
quando diz: “Isso acontece desde um pouco antes de eu entrar na perícia, ficava nervosa, meu
psicológico ficou abalado porque me tiraram da operação por causa do problema da garganta
e me colocaram para uma função onde não tinha reconhecimento, no controle de qualidade,
Percebe-se que apenas uma das entrevistadas relaciona o sintoma assustar-se com
facilidade com seu trabalho no telemarketing. Segundo o relato acima, a Empresa valoriza o
operador, que é o trabalhador que vende, enquanto que em outras funções, o trabalhador
QUINTA QUESTÃO
A quinta questão pergunta: “Tem tremores nas mãos?”. O total de respondentes SIM
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Uso Medicamento 1
Não Sabe 1
A categoria uso medicamento foi criada com base na fala do sujeito 1 que diz: “Acho
que isso acontece porque tomo fluoxetina e outro remédio para dormir, por ter depressão.” Já
a categoria não sabe refere-se a fala do sujeito 10 que diz: “Estou assim há uns seis meses e
não sei dizer porque isso acontece, mas sempre fui muito calmo e ultimamente me sinto
Nota-se nesta resposta que ambos os entrevistados não possuem clareza em associar o
SEXTA QUESTÃO
5
Termo utilizado no senso comum para designar o trabalhador que desempenha uma função não
significativa e sem importância para a empresa.
38
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Pressão por vendas/metas 9
Financeiro 3
Suporte chefia 3
Cliente 2
Ruído 1
A categoria pressão por vendas/metas foi criada para as falas dos sujeitos que
comparações entre funcionários. Um exemplo pode ser visto na fala do sujeito 1 quando relata
que: “A cobrança é muito grande, você tem que vender, não pode ir ao banheiro, tem sempre
alguém dizendo que você não é boa, e ainda por cima o cadastro de clientes é manipulado
pela empresa, ou seja, se naquele dia eles te dão um cadastro ruim, nem que tu queiras tu
vende.” Já o sujeito 2 diz: “Quanto mais vendemos, mais ganhamos no fim do mês, então
estou sempre preocupada e tensa pensando em como melhorar minha performance para
vender mais e poder ganhar mais.” O sujeito 6 diz: “Me sentia nervoso pela forma agressiva
como era cobrada a meta, com soco na mesa, berros com a equipe, pressão psicológica
dizendo que não vendíamos porque não queríamos, já que todos podem vender.” Já o sujeito 7
relata que: “O serviço deixa a gente tenso, cansado de tudo, pela exigência de metas que nem
sempre são possíveis de serem atingidas, pois dependemos de um cadastro bom de clientes,
vão ao encontro das informações da Recomendação Técnica DSST Nº 01/2205 no que diz
39
relacionamento com clientes, que impõe, de forma simultânea, trabalho sob grande pressão de
tempo. Ainda, de acordo com Dejours (1992), frente a um trabalho rigidamente organizado,
em que o trabalhador não dispõe de condições para adaptar o trabalho às suas aspirações e
A categoria financeiro foi criada com base nas afirmações dos sujeitos de que se
responsabilidades, moro sozinho e tenho que pagar minhas contas no final do mês.”
terem declarado que se sentem tensos e nervosos por não poderem contar com seus
problemas, estes não os dão suporte. Isto fica evidenciado na fala do sujeito 3: “Me sinto
nervosa e tensa e atribuo isso ao trabalho, pois quando temos algum problema que precisa ser
resolvido pelos nossos supervisores eles não nos atendem, são devagares.” O sujeito 4 diz:
“Há muita cobrança sem retorno da Empresa, nosso supervisores nos cobram qualidade, mas
irritada, estou estressada em falar sempre a mesma coisa e ainda ter que aturar o mau humor e
o destrato dos clientes.” Ainda, o sujeito 7 declara que: “O serviço é estressante, ligar e falar
as mesmas coisas, ser xingado por clientes. Mas a empresa dá benefícios como a ajuda de
custo na faculdade que favorecem. Não tenho o que reclamar da empresa, mas sim do serviço,
da atividade do telemarketing.”
A categoria ruído foi denominada com base na fala do sujeito 1: “O que mais me
incomoda e me deixa nervosa é o ruído do call center, chego a ter crises nervosas por causa
40
disso.”
Os dados acima evidenciam que a falta de suporte da chefia, a relação com o cliente e
a presença de ruído no call center, são também situações geradoras de tensão e nervosismo,
No que tange a relação com o cliente, estes dados corroboram com os estudos de
Vilela e Assunção que afirmam que a ocupação de telemarketing exige capacidade de escuta e
SÉTIMA QUESTÃO
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Tempo Lanche 4
Nervosismo 3
Sempre assim 1
A categoria tempo lanche foi criada em vista dos relatos dos entrevistados de que a
sua má digestão está relacionada com o tempo limitado que dispõem para o lanche, tendo que
realizar suas refeições muito rápido. Um exemplo pode ser visto na fala do sujeito 4: “Temos
lancharmos. Gastamos mais de 5 minutos só no elevador, então o que sobra é pouco para que
a gente possa comer decentemente. Como rápido por causa do pouco tempo e estou com
refluxo por causa disso.” Já o sujeito 7 diz: “a rotina é muito puxada, com pouquíssimo tempo
A categoria nervosismo foi criada com base nas afirmações dos entrevistados de que a
sua má digestão está relacionada com o nervosismo que sentem em virtude do stress no
41
trabalho. Como exemplo tem-se a fala do sujeito 6: “Perto da época de bater a meta, lá pelo
dia 25 do mês, começo a ficar nervoso e a má digestão aparece.” Já o sujeito 8 relata que: “A
má digestão veio depois que comecei trabalhar, a pressão por venda é muito grande, me deixa
nervoso.”
A categoria sempre assim foi criada para a fala do sujeito 3 que diz: “Tenho uma
trabalhadores para que possam realizar suas necessidades básicas de irem ao banheiro e se
alimentarem e o controle rigoroso deste tempo estão causando má digestão nos trabalhadores.
digestão, dor de cabeça freqüente, dormir mal, falta de apetite. Desta forma, a pressão no
OITAVA QUESTÃO
A pergunta da oitava questão foi: “Tem dificuldade de pensar com clareza?”. O total
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Nervosismo 3
Para esta questão foi criada apenas a categoria nervosismo que se refere às
declarações das entrevistadas de que tem dificuldade de pensar com clareza quando sentem-se
pensar com clareza quando fico nervosa e a minha rotina de trabalho me deixa nervosa. Tenho
que ficar sentada sempre no mesmo lugar, olhando para a mesma tela, ouvindo as mesmas
coisas, as mesmas perguntas, tendo que explicar as mesmas coisas e ainda por cima os cliente
(2002), já afirmava que a atividade do telemarketing pode ser considerada como advinda da
trabalhador deve ser poupado de pensar para que possa repetir os movimentos
NONA QUESTÃO
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Trabalho 5
Família 1
Irritação 1
tristeza com o trabalho. Um exemplo é a fala do sujeito 2: “Sempre que as vendas não estão
muito boas ou que o dia foi ruim no trabalho me sinto triste.” Já o sujeito 4 diz que: “A minha
tristeza vem de eu não conseguir resolver a minha situação no trabalho, pois eu não agüento
mais trabalhar com telemarketing, sei que isto está me fazendo mal, a pessoa vira um robô
nesta profissão. E eu já tentei conversar na empresa para ver o que eles podem fazer, mas
nada acontece.” O sujeito 8 relata que: “Me sinto mal, triste por ter que passar por cima dos
43
meus valores para poder trabalhar, ou seja, vender. Se você não mentir ou pelo menos não
omitir informações, você não vende. O que me deixa mais triste é ter que me prostituir para
Com base nestes dados pode-se perceber que o trabalho está sendo fonte de tristeza
para os trabalhadores em função da sua organização, de como este acontece, muito próximo à
tarefa. Diante desta situação Christophe Dejours discorre sobre o que acontece com a vida
subjetividade pela organização do trabalho, citando que: “Do choque entre um indivíduo,
A categoria família foi criada para a fala do sujeito 9: “O trabalho me deixa contente,
o que me deixa triste é a saudade da minha família que mora em outra cidade.”
A categoria irritação refere-se à fala do sujeito 10: “Não consigo tolerar mais nada,
me irrito com qualquer coisa e isso me deixa triste, pois estou me afastando dos meus amigos
por me irritar muito fácil, sem saber como controlar.” Percebe-se que este sujeito não associa
o sintoma de estar sentindo-se triste nos últimos tempos diretamente ao trabalho, mas sim à
irritação que está sentindo. Desta forma, atenta-se para a possibilidade de esta irritação estar
relacionada com o trabalho em vista dos demais relatos deste sujeito ao longo das questões.
DÉCIMA QUESTÃO
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Angústia 4
Para esta questão criou-se apenas a categoria angústia já que todos os sujeitos
relataram que estão chorando mais por sentirem uma angústia muito grande. Um exemplo é a
fala do sujeito 7: “Me sinto angustiado e consigo relacionar isso com a pressão do trabalho, da
faculdade, da vida pessoal.” Já o sujeito 4 diz que: “É uma angústia que vem pela incerteza
das coisas.”
É importante destacar que no momento em que esta pergunta foi realizada, o sujeito 1
apresentou uma crise de choro, dizendo encontrar-se em uma situação muito complicada
frente ao trabalho, o qual está sendo fonte de muito sofrimento. Além disso, apesar de o
sujeito 10 não ter respondido SIM nesta questão, também chorou durante alguns momentos da
entrevista, dizendo que não se reconhece mais hoje em dia, que o sofrimento do trabalho o fez
se tornar uma pessoa irreconhecível até para ele mesmo, que se irrita sem motivo, tem mal
satisfação as suas tarefas diárias?”. O total de respostas SIM foi 6, sendo 4 mulheres e 2
homens.
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Trabalho 6
A categoria criada para esta questão foi trabalho em virtude de os entrevistados terem
relacionado a dificuldade em realizar com satisfação as atividades do dia a dia com o trabalho.
A fala do sujeito 2 exemplifica o exposto acima: O trabalho me deixa esgotada, daí só quero
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descansar, não tenho ânimo para fazer outras coisas”. Já o sujeito 3 diz que: “Até chego bem
para trabalhar, mas a rotina é desagradável, a empresa não atende bem seus funcionários, só
pensa em crescer”. E o sujeito 6 afirma que: “A dificuldade vem devido ao cansaço mental de
falar com o cliente e ter que argumentar durante praticamente as seis horas de trabalho.”
Com base nos dados desta questão pode-se inferir que o trabalho não está sendo fonte
de satisfação para os trabalhadores, pelo contrário, é fonte de tensão e nervosismo, pela forma
como este é organizado e acontece. Atenta-se para o fato de a repetição e a relação com o
cliente terem aparecido novamente na fala acima como causadores de insatisfação nos
trabalhadores.
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Medo 4
Sempre assim 3
A categoria medo refere-se às falas dos entrevistados que disseram terem medo de
tomar decisões, sentindo muita dificuldade em fazê-lo. Um exemplo é a fala do sujeito 10:
“Coloco em dúvida a minha decisão, analiso bastante, com medo de tomar a decisão errada”.
A categoria sempre assim foi criada com base na fala do sujeito 3: “Sou indecisa,
trabalho é importante destacar que o medo destes sujeitos pode estar relacionado com a
atendimento, que acaba por tornar cada vez mais homogêneo o discurso e o comportamento
dos trabalhadores.
ele lhe causa sofrimento?”. O total de respostas SIM foi 5, sendo 3 mulheres e 2 homens.
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Falta controle 3
Valorização/reconhecimento 3
Repetição 2
Pressão 3
Valores 1
A categoria falta controle foi crida para as falas dos entrevistados de que o trabalho
causa sofrimento por exercer demasiado controle sobre os trabalhadores, com monitoramento
idas ao banheiro, de modo que estes não possuem autonomia e controle do que realizam em
seu trabalho. Um exemplo é a fala do sujeito 10: “O meu serviço está sendo um atraso, me
sinto muito limitado, há uma exigência por meta, pelo seguimento do script. A sua conversa é
monitorada a todo o tempo e se você fala alguma coisa que está fora do script, que eles nem
sabem dizer o que é, você perde nota de qualidade, que vai baixar o seu salário. Isso é uma
diário de suas atividades laborais, como também sobre a forma como são avaliados e, por
previsto.
empresa só sabe cobrar resultado, mas não cumpre o que cobra, porque não há espaço para as
nossas reclamações, quem abre a boca para falar dos problemas e tenta resolvê-los com o
Percebe-se que os trabalhadores consideram que suas reclamações e sugestões não são
bem vindas para seus supervisores, ou seja, eles não se sentem valorizados nem reconhecidos
A categoria repetição foi assim denominada com base nas afirmações dos
a fala do sujeito 3: “Quando chega no fim do dia não agüento mais atender os clientes, falar as
mesmas coisas, ficar sentada, tendo que seguir o mesmo script e responder as mesmas
perguntas”.
A categoria pressão foi criada para a fala dos entrevistados de que o sofrimento existe
por causa da pressão que os supervisores exercem para a realização de vendas e alcance de
metas. Um exemplo é a fala do sujeito 1: “Você tem que vender a todo o custo e se naquele
dia suas vendas estão ruins, seu nome vai por último no quadro do supervisor, que todos
E a categoria valores foi criada para a fala do sujeito 8: “O meu trabalho me causa
sofrimento por eu ter que fazer coisas que vão contra a minha ética. Se eu não abrir mão dos
meus princípios eu não vendo. Eles querem que você cumpra as ordens e não que pense”.
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Estes dados corroboram com a teoria de Maslach e Leiter (1999) que acreditam que,
tendo em vista que em grande parte das organizações os valores econômicos sobressaem-se
em sua vida?”. Nenhum dos entrevistados respondeu que SIM, não havendo categorias para
esta questão.
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Desânimo 4
Cansaço 2
Pessoal 1
A categoria desânimo foi assim denominada em vista da fala dos sujeitos de que
perderam o interesse pelas coisas em virtude da falta de motivação para realizarem suas
mas não tenho ânimo”. Já o sujeito 5 diz que: “Sinto vontade de ficar na cama, sem ânimo
A categoria cansaço foi criada para as declarações dos entrevistados que afirmam
terem perdido o interesse pelas coisas em virtude do cansaço provocado pelo trabalho. A fala
sem vontade de fazer as coisas”. Já o sujeito 7 diz que: “No trabalho há uma exigência por
tempo logado, que é o de fala com o cliente. Estou cansado já, a minha produção caiu.”
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E a categoria pessoal foi criada para a fala do sujeito 2: “A perda do interesse pelas
Na décima sexta questão foi perguntado: “Você se sente uma pessoa inútil, sem
préstimo?”. Apenas 1 entrevistado respondeu SIM nesta questão, sendo este do sexo
masculino.
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Falta significado 1
A categoria falta significado foi assim denominada com base nesta fala do sujeito 8:
“Me sinto inútil nesse momento da vida tanto pra mim como pra sociedade. O que eu faço?
Apesar da baixa freqüência desta questão, atenta-se para um aspecto importante da fala
deste entrevistado que é a falta de significado do trabalho em sua vida. Dejours (1994) afirma
que a organização do trabalho cada vez mais rígida e autoritária despersonaliza o trabalhador
aprendizagem e de adaptação, em um contexto de trabalho que não poderá ser adaptado aos
Na décima sétima questão perguntou-se: “Tem tido a idéia de acabar com a vida?”. O
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CATEGORIA FREQUÊNCIA
Futuro 2
A categoria criada foi futuro já que nas falas dos dois sujeitos aparece a falta de
perspectiva, de objetivos para o futuro, fazendo com que pensem em acabar com suas vidas.
O sujeito 10 declara que: “Depois que entrei na empresa sou outra pessoa, perdi minhas metas
e objetivos”. Já o sujeito 1 diz: “Em momentos de crise nervosa, que às vezes acontecem no
call center, penso em acabar com a vida. Meu futuro está muito incerto”.
Com base nas declarações dos sujeitos, percebe-se que o trabalho é o elemento
causador da perda de perspectiva de vida destes trabalhadores, que tem como conseqüência
Nesta questão foi perguntado: “Sente-se cansado o tempo todo?”. O total de respostas
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Rotina trabalho 4
Físico 2
A categoria rotina trabalho foi criada para a fala dos sujeitos de que se sentem
sujeito 4: “O cansaço vem da atenção focada o dia todo na tela, do fone de ouvido que
controle de tudo por parte da empresa nos deixa amarrados, presos, sem autonomia, com uma
aparecem como causadores de desgaste físico e emocional nos trabalhadores. Tais dados
elevado esforço mental e visual, com um alto grau de exigência, em que o trabalhador não
dispõe de controle sobre o processo de trabalho, tendo o seu desempenho avaliado por
Já a categoria físico foi criada para a fala dos entrevistados que disseram que o
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Má digestão 3
Má alimentação 2
Ânsia de vômito 1
exemplo é a fala do sujeito 3: “Sinto meu estômago mal, pois tenho má digestão”.
rápidas”.
E a categoria ânsia de vômito foi criada para a fala do sujeito 6: “Tenho muita ânsia
com o trabalho, atenta-se para o fato de que o tempo limitado que dispõem para o lanche pode
estar sendo o causador de uma má alimentação, que acaba por desencadear a má digestão e a
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ânsia de vômito. A pressão do tempo da pausa, que é rigidamente monitorado pelo sistema,
também consiste em um fator estressante, que pode estar associado à ocorrência das
categorias acima.
VIGÉSIMA QUESTÃO
CATEGORIA FREQUÊNCIA
Trabalho 8
A única categoria criada para esta questão foi trabalho já que todos os respondentes
vincularam a sensação de casaço fácil com a rotina de estresse no trabalho. Como exemplo
tem-se a fala do sujeito 6: “O telemarketing é estressante e faz com que a gente se sinta mais
cansado, indisposto”. Já o sujeito 2 relata que: “...por causa da repetição, tem momentos em
que a voz some. Mas o que mais usamos durante o serviço é a psiquê, no convencimento do
cliente temos que usar o raciocínio. Então, é um trabalho que afeta bastante a psiquê, é a mais
apresentam um baixo “limiar” de energia para enfrentarem sua rotina de trabalho, o que
A partir do aprofundamento nas questões do teste SRQ – 20, pode-se perceber que a
outras doenças relacionadas ao trabalho. Tais empresas não oferecem as condições adequadas
uma vez que foi identificada a existência de sofrimento psíquico em 70% dos sujeitos desta
pesquisa. Ainda, foi possível realizar a análise deste sofrimento, descrevendo como os
sintomas de cada questão do SRQ – 20 se manifestam nos sujeitos por meio do levantamento
sintomas.
Na construção do estudo com base na literatura estudada, tinha-se dados sobre o que
era e como acontecia o trabalho de telemarketing, bem como que este contexto era propício ao
aparecimento de sofrimento psíquico. Porém, este fato consistia apenas em uma suposição, a
qual pôde ser comprovada a partir da coleta e da análise dos dados desta pesquisa.
presença de sofrimento psíquico. Desta forma, a partir do momento em que foi estabelecida
uma relação entre aspectos do trabalho e o sofrimento psíquico, foi possível identificar quais
são os elementos críticos da atividade que estão provocando prejuízos à saúde dos
ao trabalho.
55
um call center é composta de variados aspectos como o assédio moral na relação de trabalho
expresso pela pressão por vendas por meio de gritos, comparações entre funcionários,
mesma cadeira e mesa, falar os mesmos conteúdos do script para cada cliente que pergunta
basicamente as mesmas coisas; a falta de suporte da chefia, que neste caso são os
supervisores, que não satisfazem as necessidades dos trabalhadores, mas cobram resultados;
os clientes que, muitas vezes, ofendem os atendentes que não detêm a autonomia para
resolver todos os problemas dos clientes, bem como não detêm a autonomia necessária para
preocupação nos trabalhadores, que acabam por provocar o aparecimento de sintomas físicos
e psíquicos, configurando um desgaste físico e emocional, que por sua vez indicam a
É válido destacar que o curto tempo de aparecimento dos sintomas, menos de 1 ano,
Outro ponto com relevância de destaque é que os mesmo entrevistados que tiveram
uma crise de choro durante as entrevistas são os que relataram sentir vontade de acabar com
suas vidas. Este fato consiste em um indicador grave e expressivo do sofrimento psíquico
56
destes sujeitos, que foram encaminhados, por solicitação própria e da pesquisadora, para um
serviço de psicologia.
No que tange aos profissionais de psicologia, tanto os da área de saúde pública quanto
crítico na análise das condições de trabalho para que possam identificar se são geradoras de
emocional e de futuras doenças relacionadas ao trabalho. No caso das pessoas que já estão em
sofrimento psíquico e, até mesmo, com alguma doença relacionada ao trabalho, cabe aos
população sobre a existência de condições de trabalho que geram sofrimento físico e psíquico,
organização do trabalho que ainda preza pela padronização, pela “robotização” dos
57
em seu trabalho, que passa a não mais ter um significado. Por este modelo de gestão ainda se
fazer presente, cabe à iniciativa privada que este seja revisto, questionado e profundamente
avaliado, visto que este estudo comprova que aspectos deste modelo de gestão estão
configurando-se como riscos à saúde dos trabalhadores, e ainda podem ser causadores de altos
também a classe trabalhadora, junto ao Sindicato, respaldarem-se na lei e nos estudos acerca
condições de trabalho, a fim de sanar os riscos que a profissão do telemarketing oferece à sua
saúde.
REFERÊNCIAS
GIL, Antonio C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1991.
GIL, Antonio C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
PALACIOS, Marisa, DUARTE, Francisco and CAMARA, Volney de Magalhães. Work and
psychological distress among bank tellers in Rio de Janeiro. Cad. Saúde Pública. [online].
May/June 2002, vol.18, no.3 [cited 09 November 2005], p.843-851. Available from World
Wide Web:<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
311X2002000300033&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0102-311X. Acessado em 09.11.2005.
Apêndice A- Questionário
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ANEXOS
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2.1. Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em pé, deve ser proporcionado ao
trabalhador mobiliário que atenda aos itens 17.3.2, 17.3.3 e
17.3.4 e suas alíneas da NR-17 e que permita variações posturais, com ajustes
de fácil acionamento, de modo a prover espaço suficiente para seu conforto,
atendendo, no mínimo, aos seguintes parâmetros:
As dimensões antropométricas devem ser tomadas considerando, no mínimo, 90%
(noventa por cento) da população brasileira;
65
5. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
5.1. A organização do trabalho deve ser feita de forma a não haver atividades
aos domingos e feriados, seja total ou parcial, com exceção das empresas
autorizadas previamente pelo Ministério do Trabalho e Emprego, conforme o
previsto no Artigo 68, “caput”, da CLT.
5.1.1. Aos trabalhadores é assegurado, nos casos previamente autorizados, pelo
menos um dia de repouso semanal remunerado coincidente com o domingo a cada mês.
5.1.2. As escalas de fins de semana e de feriados devem ser especificadas e
informadas com antecedência necessária, de conformidade com os Artigos 67,
parágrafo único, e 386 da CLT.
5.1.2.1. Os empregadores devem desenvolver formas de consulta aos
trabalhadores e seus representantes visando elaborar escalas de trabalho que
acomodem necessidades especiais de vida familiar de trabalhadores com
dependentes sob seu cuidado, especialmente nutrizes, incluindo flexibilidade
especial para trocas de horários e utilização das pausas.
5.1.3. A duração das jornadas de trabalho somente poderá prolongar-se além do
limite legal ou convencionado em casos excepcionais, por motivo de força maior,
necessidade imperiosa ou para a realização ou conclusão de serviços inadiáveis
ou cuja inexecução possa acarretar prejuízo manifesto (Artigos 376 e 61 da
CLT).
5.1.3.1. Em caso de prorrogação do horário normal, será obrigatório um
descanso de 15 (quinze) minutos no mínimo, antes do início do período
extraordinário do trabalho (Artigo 384 da CLT).
69
equipamentos de trabalho.
6.2. A elaboração do conteúdo técnico, a execução e a avaliação dos resultados
dos procedimentos de capacitação devem contar com a participação de:
pessoal de organização e métodos responsáveis pela organização do trabalho na
empresa;
Integrantes do Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho,
quando houver; representantes dos trabalhadores na Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes, quando houver; médico coordenador do Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional; responsáveis pelo Programa de Prevenção de Riscos de Ambientais;
representantes dos trabalhadores e outras entidades definidas em acordos ou convenções
coletivas de trabalho.
8.1. O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO, para atender à NR-7
da Portaria 3214/78, deve necessariamente reconhecer e registrar
devidamente em seu planejamento e nos Atestados de Saúde Ocupacional, em todos os
exames ocupacionais realizados, os fatores de risco para transtornos
mentais, LER/DORT, disfonia ocupacional, distúrbios auditivos e outros agravos
74
ser encaminhados aos Centros de Referência de Saúde do Trabalhador ou, na sua ausência, à
rede básica do SUS.
8.4. A notificação das doenças profissionais e das produzidas em virtude das
condições especiais de trabalho, comprovadas ou objeto de suspeita, será
obrigatória por meio da emissão de Comunicação de Acidente do Trabalho, na
forma do Artigo 199 da CLT e da legislação vigente da Previdência Social.
8.5. O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA deverá demonstrar:
o reconhecimento dos riscos ambientais e organizacionais, compreendendo sua
identificação, fontes geradoras, trajetórias dos agentes, tipos e formas de
exposição, determinação do número de trabalhadores expostos, formas de
comprometimento da saúde decorrentes do trabalho segundo a literatura técnica;
as medidas de controle e de correção dos riscos ambientais, descrevendo
aquelas já implementadas, os resultados obtidos e as medidas a serem adotadas.
8.6. As análises ergonômicas do trabalho devem contemplar, no mínimo, para
atender à NR-17:
descrição das características dos postos de trabalho no que se refere ao
mobiliário, utensílios, ferramentas, espaço físico para a execução do trabalho
e condições de posicionamento e movimentação de segmentos corporais;
avaliação da organização do trabalho demonstrando:
trabalho real e trabalho prescrito;
descrição da produção em relação ao tempo alocado para as tarefas;
variações diárias, semanais e mensais da carga de atendimento, incluindo
variações sazonais e intercorrências técnico-operacionais mais freqüentes;
número de ciclos de trabalho e sua descrição, incluindo trabalho em turnos e
trabalho noturno;
ocorrência de pausas inter-ciclos;
explicitação das normas de produção, das exigências de tempo, da determinação
do conteúdo de tempo, do ritmo de trabalho e do conteúdo das tarefas
executadas;
histórico mensal de horas-extras realizadas em cada ano;
explicitação da existência de sobrecargas estáticas ou dinâmicas do sistema
osteomuscular;
relatório estatístico da incidência de queixas físicas, colhidas pelo Médico
do Trabalho nos prontuários médicos, relativas às regiões do pescoço, membros
76
mobiliário dos postos de trabalho deve ser adaptado para atender às suas