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Psicologia Juridica e As Demandas Atuais Do Direito Da Familia PDF
Psicologia Juridica e As Demandas Atuais Do Direito Da Familia PDF
A Psicologia e
as Demandas Atuais
do Direito de Família
Psychology and Some
Current Issues in Family Law
Universidade
Federal do
Rio Grande do Sul
Artigo
Resumo: A interdisciplinaridade entre Psicologia e Direito exige uma busca de conhecimentos muitas
vezes não adquiridos ao longo da formação acadêmica dos psicólogos. Dentre esses conhecimentos, foram
selecionados três tópicos para serem discutidos no presente artigo: guarda compartilhada, síndrome de
alienação parental e falsas alegações de abuso sexual. Objetiva-se apresentar uma revisão teórica desses
assuntos, abordando aspectos conceituais e históricos. Além da revisão teórica, são apresentados os resultados
de uma pesquisa que investigou a formação extracurricular, o conhecimento e a opinião de psicólogos com
experiência na área do Direito de família a respeito desses assuntos emergentes. Os resultados revelaram
que a maioria dos participantes conhece e tem experiência nas demandas questionadas. Ainda assim, a
discussão dos resultados apontou a necessidade de abordar esses e outros assuntos referentes à Psicologia
jurídica durante a formação em Psicologia. Os resultados reforçam a importância de o psicólogo jurídico
estar familiarizado com questões do Direito de família e considerar em sua avaliação os vínculos afetivos
saudáveis ao desenvolvimento da criança.
Palavras-chave: Psicologia jurídica. Guarda compartilhada. Síndrome de Alienação Parental. Abuso sexual.
Abstract: The interdisciplinary aspect between psychology and law requires psychologists to search for
knowledge which has not been acquired during college education. Therefore, three topics were chosen to be
discussed in this paper: joint custody, parental alienation syndrome and false allegations of sexual abuse. The
article aims to present a theoretical review about these topics, in which their concepts and historical aspects
are discussed. Besides the theoretical review, this work presents the results of a research that investigated
extracurricular education, knowledge and the opinion on family law of experienced psychologists about
these emerging topics. Findings indicated that most of the participants know about and have experience in
the demands required. Even though, the discussion of the results pointed out the need of dealing with these
and other topics related to forensic psychology during psychologists’ education. Lastly, it is highlighted the
importance for the psychologist to get familiar with questions of family law, in order to consider in his/her
psychological assessment the emotional bonds which are healthier for the children’s development.
Keywords: Forensic psychology. Joint custody. Parental Alienation Syndrome. Sexual abuse.
Resumen: La interdisciplinaridad entre Psicología y Derecho exige una búsqueda de conocimientos muchas
veces no adquiridos a lo largo de la formación académica de los psicólogos. Entre esos conocimientos,
fueron seleccionados tres tópicos para ser discutidos en el presente artículo: guarda compartida, síndrome
de alienación parental y falsas alegaciones de abuso sexual. Se tiene como objetivo presentar una revisión
teórica de estos asuntos, abordando aspectos conceptuales e históricos. Además de la revisión teórica, son
presentados los resultados de una pesquisa que investigó la formación extracurricular, el conocimiento
y la opinión de psicólogos con experiencia en el área del Derecho de familia a respeto de estos asuntos
emergentes. Los resultados revelaron que la mayoría de los participantes conoce y tiene experiencia en las
demandas cuestionadas. Aún así, la discusión de los resultados señaló la necesidad de abordar ésos y otros
asuntos referentes a la Psicología jurídica durante la formación en Psicología. Los resultados refuerzan la
importancia del psicólogo jurídico de estar familiarizado con cuestiones del Derecho de familia y considerar
en su evaluación los vínculos afectivos saludables al desarrollo del niño.
Palabras clave: Psicología jurídica. Guarda compartida. Síndrome de Alienación Parental. Abuso sexual.
observadas na prática docente e clínica das exclusiva ou simples é aquela em que ambos
autoras, levam à reflexão sobre assuntos os genitores mantêm o poder familiar, mas
emergentes na área de interface entre as decisões recaem sobre o pai guardião. Na
a Psicologia e o Direito de família. Essa guarda compartilhada, ambos os pais detêm
é uma área em expansão, que exige a o poder familiar e a tomada de decisões,
atualização dos profissionais que nela atuam. independentemente do tempo em que os
Foram selecionados, assim, três assuntos filhos passem com cada um deles. A guarda
considerados demandas atuais no Direito de exclusiva ainda é predominante no Brasil,
família: guarda compartilhada, síndrome de ficando os filhos normalmente sob a custódia
alienação parental (SAP) e falsas alegações da mãe. De acordo com dados do Instituto
de abuso sexual para serem discutidos no Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
presente trabalho. 2005), em 91,1% dos casos de separação e
em 89,5% dos casos de divórcio, a guarda
Tendo em vista a carência de estudos dos filhos ficou sob responsabilidade da mãe.
empíricos e de revisões de literatura sobre
as temáticas acima citadas, o presente artigo Contudo, em junho de 2008, foi sancionado
tem dois propósitos. O primeiro objetivo pelo Presidente da República o projeto de lei
é apresentar uma revisão teórica mais que prevê a inclusão da guarda compartilhada
aprofundada sobre os temas acima referidos, na legislação brasileira. O Projeto de Lei nº
visando a esclarecer questões históricas 6.350/2002, de autoria do Deputado Tilden
e conceituais, além das repercussões dos Santiago, define a guarda compartilhada e
mesmos nas famílias envolvidas numa disputa estabelece os casos em que a mesma será
de guarda. O segundo objetivo é apresentar possível, ressaltando que a guarda poderá ser
os resultados de um estudo que investigou a modificada a qualquer momento, atendendo
necessidade de formação extracurricular e o ao melhor interesse da criança (Brasil, n.d.).
conhecimento, a experiência e a opinião de
psicólogos que atuam em casos de disputa Antes de discutir o instituto da guarda
de guarda sobre os assuntos considerados compartilhada, é importante buscar suas
emergentes no Direito de família. origens. Peres (2002) relata que a Inglaterra
é pioneira nesse sistema, tendo o primeiro
Guarda compartilhada caso sido julgado ainda na década de 1960.
O sistema inglês da commom law objetivou
Nos processos de separação ou divórcio, é romper a tendência de deferir a guarda
preciso definir qual dos ex-cônjuges deterá exclusiva para a figura materna, visando
a guarda dos filhos. Conforme o artigo nº ao compartilhamento dos direitos e das
1.584, do Novo Código Civil, vigente desde obrigações com os filhos entre os genitores.
janeiro de 2002, nos casos de separação Em 1976, o instituto foi assimilado pelo
consensual, será observado o que os Direito francês, com o propósito de amenizar
cônjuges acordarem sobre a guarda dos os prejuízos que a guarda exclusiva acarreta
filhos. Em não havendo acordo, a guarda aos filhos de pais separados. Após essa
será atribuída àquele que reunir melhores trajetória na Europa, a guarda compartilhada
condições para exercê-la, o que não implica difundiu-se na América do Norte. Bauserman
melhores condições econômicas ou materiais (2002) destaca que os Estados Unidos foi o
(Brasil, 2003). país em que o instituto ganhou maior adesão
e desenvolvimento. Nesse país, a guarda
A guarda poderá ser exclusiva ou compartilhada. compartilhada é conhecida como joint
De acordo com Trindade (2004), a guarda custody ou shared parenting, e divide-se
no “dever” de proteger o alienador. Assim, o genitor alienador. A SAP pode gerar efeitos
estabelece-se um pacto de lealdade em em suas vítimas, como: depressão crônica,
função da dependência emocional e material, incapacidade de adaptação social, transtornos
que faz com que o filho demonstre medo de identidade e de imagem, desespero,
em desagradar ou em opor-se ao genitor sentimento de isolamento, comportamento
guardião. hostil, falta de organização, tendência ao uso
de álcool e drogas quando adultas e, às vezes,
O termo “síndrome” é utilizado porque suicídio. Podem também ocorrer sentimentos
Gardner (1999) observou um conjunto incontroláveis de culpa quando a criança
de sintomas que costumam aparecer nas se torna adulta e percebe que foi cúmplice
crianças vítimas desse processo, os quais inconsciente de uma grande injustiça quanto
variam de um nível moderado a grave. ao genitor alienado.
São eles: (1) campanha de descrédito
(manifestada verbalmente e nas atitudes); Para o diagnóstico da síndrome de alienação
(2) justificativas fúteis (o filho dá pretextos parental, Gardner (2002) ressalta a importância
fúteis para justificar a atitude); (3) ausência de realizar entrevistas conjuntas, com todas as
de ambivalência (o sentimento do filho pelo partes envolvidas e em todas as combinações
genitor alienado é inequívoco: é o ódio); (4) possíveis. É durante as entrevistas conjuntas
fenômeno de independência (o filho afirma que o examinador tem a possibilidade de
que ninguém o influenciou); (5) sustentação confrontar as informações e investigar a
deliberada (o filho adota a defesa do genitor verdade. Conforme observa Motta (2007), o
alienador); (6) ausência de culpa sobre a relacionamento entre a criança e o genitor
crueldade do genitor alienado (o filho não acusado é diminuído e quase sempre
sente culpa por denegrir o genitor alienado); interrompido durante as investigações para
(7) presença de situações fingidas (o filho a realização de perícia, que podem durar
conta casos que manifestadamente não meses ou anos na tentativa de se atingir
viveu); (8) generalização de animosidade um nível de certeza considerável. Assim,
em relação a outros membros da família além de diagnosticar a SAP, é importante
extensiva do genitor alienado (Major, 2000). que os psicólogos busquem formas de
intervenção que possam amenizar os efeitos
Ao observar todos os sintomas que a SAP causados por esse fenômeno. É preciso
pode produzir nas crianças, é importante tratar a psicopatologia do genitor alienador,
apontar o fato de que um genitor que visivelmente prejudicado em razão de suas
incute tais idéias no filho está causando-lhe atitudes para com o filho. O mais complexo
um abuso emocional. Conforme Gardner no tratamento da SAP é a busca pela
(2002), o genitor que programa seu filho de reconstrução do vínculo entre filho e genitor
forma a rejeitar um pai amoroso e devotado, alienado e a redução dos danos causados em
privando-o da participação na educação de razão do rompimento desse vínculo. Podem
seu filho, causa a destruição total e muitas acontecer situações em que, concomitante
vezes irremediável desse vínculo. O genitor ou paralelamente ao processo de disputa de
alienado, que a criança aprende a odiar guarda, existam acusações de abuso sexual
por influência do genitor alienador, passa contra um dos genitores envolvidos na disputa
a ser um estranho para ela. Dessa forma, judicial.
o genitor alienador configura-se como
modelo prejudicial à criança, em razão de Falsas acusações de abuso sexual
seu caráter patológico e mal-adaptado. De
acordo com Silva (2006), a criança tenta O que se pretende nesta seção do artigo
reproduzir a mesma patologia psicológica que é chamar a atenção dos profissionais que
trabalham com disputa de guarda para a apresentados por crianças com conflitos
possibilidade de as acusações de abuso sexual decorrentes da situação de divórcio e
serem falsas, em função de sentimentos de crianças que foram abusadas sexualmente,
vingança ou desavenças entre os ex-cônjuges. uma vez que há muita sobreposição entre
É sabido que situações de abuso sexual os tipos de sintomas apresentados por essas
intrafamiliar são freqüentes e apresentam crianças. Bow et al. (2002) consideram que
conseqüências danosas às vítimas (Flores & o psicólogo que atua nessa área deve possuir
Caminha, 1994). De acordo com Kaplan e conhecimentos de três áreas forenses: as
Sadock (1990), aproximadamente 50% do práticas e procedimentos em disputa de
abuso é cometido por membros da família. guarda, as técnicas de avaliação de abuso
Contudo, o foco aqui apresentado será nas sexual e a avaliação dos supostos abusadores.
alegações de abuso sexual que envolvem a
disputa de guarda, o que exige do psicólogo Calçada (2005) observa que não se deve
uma postura mais crítica sobre o assunto. iniciar uma avaliação de abuso sexual
considerando que a denúncia seja válida. A
Apesar de não citar pesquisas, Gardner (1987) atitude deve ser de respeito e de busca de
acredita que 95% dos casos de acusações evidências. É necessário investigar o entorno
de abuso sexual no contexto de disputa histórico e social da família, jamais levando
de guarda sejam falsos. Esse percentual é em consideração apenas o relato da criança,
muito alto, o que demanda cuidados por o que pode nos levar ao erro de entrar na
parte do profissional a quem é solicitada sua fantasia. Há que se atentar também
a avaliação do abuso. Conforme ressalta para o fenômeno da negação, que é um
Deed (1991), é importante compreender o perfil não só dos abusadores mas também
papel que o abuso sexual infantil pode estar dos falsos acusados. O acusado fornecerá
desempenhando nas famílias em processo informações e documentos importantes,
de divórcio. que devem ser checados e, se necessário,
incluídos na investigação. Myers (1992)
A avaliação de acusações de abuso sexual ressalta que a entrevista com a vítima
em casos de disputa de guarda é uma tarefa também é muito complicada por inúmeros
complexa. Primeiramente, uma variedade fatores, como memória, sugestionabilidade,
de dinâmicas familiares está presente em tais habilidade para distinguir entre realidade
acusações. De acordo com Bow, Quinnell, e fantasia e a veracidade das afirmações.
Zaroff e Assemany (2002), os motivos das Calçada, Cavaggioni e Neri (2001) sugerem
partes para tais alegações podem variar desde que a entrevista seja conduzida de maneira
uma necessidade de proteção à segurança que a criança se sinta livre o suficiente
do filho até sentimentos de vingança e para relatar o que desejar, ou seja, não há
hostilidade após a separação conjugal. Assim, uma história a ser contada. É importante
o avaliador deve explorar e compreender acessar a memória, e não aquilo que foi
o sistema familiar e a validade das queixas instruído ou ouvido repetidamente. Perguntas
apresentadas. Há que se considerar ainda diretivas do avaliador podem ocasionar
que, em contraste com os casos de abuso sugestionabilidade da criança e talvez
extrafamiliar, nos casos de disputa de guarda, prejudicá-la permanentemente.
o suspeito é comumente uma das partes
envolvidas no processo judicial. Uma pesquisa realizada por Bow et al. (2002)
nos Estados Unidos investigou acusações de
McGleughlin, Meyer e Baker (1999) apontam abuso sexual em avaliações que envolvem a
a dificuldade em distinguir entre os sintomas disputa de guarda. Os resultados indicaram
que, em 60% dos casos, as alegações de vezes não condizem com a realidade do
abuso precederam a determinação de evento traumático. A partir de informações
guarda, enquanto em 40% dos casos foi recebidas, a criança passa a apresentar
requerida a modificação do arranjo de guarda recordações de eventos que podem não ter
inicialmente estipulado. O pai biológico foi de fato ocorrido, ou que não ocorreram da
identificado como o acusado mais freqüente forma como ela recorda, apesar de considerar
nesses tipos de avaliação (55%), seguido pelo essas lembranças reais. Trata-se do fenômeno
padrasto (25%), pela mãe biológica (11%), por das falsas memórias, estudado pelo ramo da
outros familiares ou conhecidos (11%), pelos Psicologia cognitiva.
irmãos (9%) e pela madrasta (4%). A maioria
das vítimas tinha menos de 10 anos, sendo De acordo com Stein (2000), as falsas
que 52% tinha menos de sete anos. Em média, memórias têm assumido um papel muito
De acordo com
Stein (2000), as
os participantes relataram a confirmação importante nessa área da Psicologia do
falsas memórias das acusações de abuso em cerca de 30% testemunho. Várias pesquisas vêm sendo
têm assumido dos casos de disputa de guarda. Esses dados desenvolvidas na área, a fim de contribuir para
um papel muito
importante nessa
corroboram os resultados encontrados por a elucidação dos mecanismos responsáveis
área da Psicologia Wakefield e Underwager (1991), mas são pelas falsas memórias e, portanto, de auxiliar
do testemunho. inferiores aos obtidos nos estudos de McGraw o aprimoramento de técnicas para avaliação
Várias pesquisas
vêm sendo
e Smith (1992), Benedek e Schetky (1985) e de testemunhos (Nygaard, Feix, & Stein,
desenvolvidas na Thoennes e Tjaden (1990), que encontraram 2006; Pisa & Stein, 2006; Stein & Nygaard,
área, a fim de a confirmação em 44,6%, 45% e 50% dos 2003; Tonetto, Kalil, Melo, & Schneider,
contribuir para a
elucidação dos
casos, respectivamente. 2006). Dessa forma, observa-se quão amplo
mecanismos é o campo da avaliação de abuso sexual que
responsáveis pelas É importante observar que as falsas acusações envolve disputa de guarda, pois abrange
falsas memórias
e, portanto,
de abuso sexual podem ser uma das formas conhecimentos das mais diferentes áreas,
de auxiliar o da síndrome de alienação parental, uma vez incluindo o fenômeno das falsas memórias.
aprimoramento que se configura como uma tentativa de
de técnicas para
avaliação de
destruição da figura parental (Calçada, 2005). A importância de conhecer o assunto das
testemunhos As conseqüências para as crianças envolvidas falsas acusações de abuso sexual se reflete na
nesse processo podem ser semelhantes às de validade dos dados que serão apresentados
(Nygaard, Feix, &
Stein, 2006; Pisa &
crianças que foram de fato abusadas, e essas ao juiz. Uma avaliação imprecisa, com
Stein, 2006; Stein podem passar a apresentar algum tipo de resultados não fidedignos, pode levar o juiz
& Nygaard, 2003; patologia grave nas esferas afetiva, psicológica à determinação de visitas supervisionadas ou
Tonetto, Kalil, Melo,
& Schneider, 2006).
e sexual e, ainda, acreditarem que o abuso até mesmo à suspensão das visitas do genitor
realmente ocorreu (Calçada et al., 2001). acusado, além da possível condenação no
âmbito criminal. Dessa forma, pode acontecer
Considerando que as crianças, especialmente um aniquilamento da relação pai-filho, e, até
as vítimas da síndrome de alienação parental, que se prove o contrário, muito tempo pode
se utilizam de situações descritas que nunca ter se passado e os vínculos afetivos sofrerem
foram efetivamente vivenciadas, é importante um prejuízo irremediável.
que o psicólogo analise os processos da
memória que originaram tais lembranças. A partir de agora, serão apresentados os
Rovinski (2004) afirma que o fato de a resultados do estudo empírico realizado com
criança já ter passado por diversas entrevistas psicólogos com experiência em situações
até chegar à avaliação psicológica pode de disputa de guarda. Os profissionais
fazer com que a mesma traga um relato responderam questões relativas à guarda
contaminado com informações que muitas exclusiva para genitores masculinos, ao
Áreas F(%)
Avaliação psicológica 25%
Atuação na área de família 19,4%
Guarda de filhos 9,7%
Adoção 8,3%
Mediação 6,9%
Integração entre Psicologia, serviço social e Direito 6,9%
Violência doméstica 5,6%
Infância e juventude 4,2%
Ética e documentos 4,2%
Autópsia psicológica 1,4%
Depoimento sem dano 1,4%
Drogadição 1,4%
Intervenção em conflitos 1,4%
Justiça terapêutica 1,4%
Preconceito de gênero 1,4%
Reprodução assistida 1,4%
ambos os pais puderem participar na educação do filho e ainda mais puderem tomar decisões
unânimes, cuidar da vida da criança e estar presente em todos os momentos importantes de sua
vida, tanto mais haverá a possibilidade da criança evoluir com mais tranqüilidade, menor grau
de estresse e maior estabilidade emocional” (P40).
Os participantes foram solicitados a avaliar uma lista de fatores para recomendar a guarda
compartilhada, conforme o grau de importância, sendo 1=pouco necessário, 2=importante e
3=fundamental. A Tabela 2 apresenta os fatores elencados em ordem de importância, conforme
as médias dos resultados.
Ainda que a diferença não tenha sido estatisticamente significativa (X2=5,692; p<0,06), merece
destaque o percentual de participantes da Região Sul que não tem experiência com o assunto
das falsas acusações de abuso sexual, em contrapartida com o alto percentual de experiência
dos participantes das demais Regiões.
Discussão
No que diz respeito à formação extracurricular, as categorias apontadas pelos participantes revelam
uma variedade de assuntos relacionados não apenas à área do Direito de família, mas à Psicologia
jurídica como um todo. Vale apontar que o estudo foi realizado com pessoas que concluíram
sua graduação há algum tempo e, portanto, os dados não são os da formação curricular atual.
Assim sendo, o que pode ser concluído é que a disciplina Psicologia jurídica não foi ministrada
à maioria dos participantes, e, em virtude disso, vários são os assuntos que exigiram uma busca
por formação complementar. Sugere-se que estudos acerca da formação nessa área possam
ser realizados no futuro e os dados possam ser comparados, a fim de se avaliar os reflexos das
mudanças curriculares na formação do psicólogo.
Note-se que, tanto na lista dos assuntos de formação extracurricular quanto na de assuntos
sugeridos para congressos e cursos, é possível observar que a avaliação psicológica aparece
em primeiro lugar. Esse dado corrobora a relevância dessa área, que se apresenta em franco
desenvolvimento (Hutz & Bandeira, 2003).
Ainda em relação à lista de assuntos que os profissionais gostariam de discutir através de cursos e
congressos, é possível observar que a mesma é bem mais ampla e extensa do que a de assuntos
de conhecimentos que foram buscados no início do exercício de suas atividades. Essa diferença
reforça a expansão da Psicologia jurídica, em seus diversos campos de atuação. É importante
destacar que o tópico “avaliação psicológica” aparece em primeiro lugar tanto na lista dos assuntos
que exigiram formação complementar quanto na lista de áreas que demandam atualização
profissional. Na prática do grupo de pesquisa em avaliação psicológica da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, do qual as autoras fazem parte, é evidenciada uma procura constante
por cursos de extensão tanto na área de avaliação quanto na área da Psicologia jurídica. Os
profissionais buscam principalmente cursos que tratem dos instrumentos psicológicos, alegando
pouco conhecimento ou total desconhecimento sobre os mesmos. No que diz respeito à área
jurídica, a maioria dos alunos busca os cursos a fim de conhecer o assunto, justificando que não
lhes foi oferecida nenhuma disciplina referente ao tema ao longo da graduação.
maior flexibilidade e maturidade diante das abordar uma grande variedade de tópicos
decisões conjuntas que deverão tomar sobre referentes à Psicologia jurídica. Esse fato
a vida dos filhos. É importante considerar implica a inclusão de disciplinas que tratem
ainda a qualidade de relacionamento da do assunto durante a formação acadêmica,
criança com cada um dos pais, de forma tanto no nível de graduação quanto no de
que a guarda compartilhada privilegie a pós-graduação. Estudos que abordem temas
manutenção desses vínculos. como mediação e outros assuntos afins à área
da Psicologia da família devem ser realizados,
Considerações finais pois essa carência pôde ser evidenciada a
partir dos resultados aqui apresentados.
Os assuntos apresentados e discutidos neste
artigo permitiram contextualizar e atualizar Existem alguns pontos que merecem maior
os psicólogos que trabalham ou desejam investigação e que não foram questionados
trabalhar no âmbito do Direito de família. A neste estudo. Citam-se, por exemplo, as
revisão teórica é importante na medida em práticas em avaliação que envolvem acusações
que pode apresentar aspectos históricos, de abuso sexual e disputa de guarda e os critérios
conceituais e as repercussões dos assuntos diagnósticos para a síndrome de alienação
abordados, permitindo uma compreensão parental. É importante ressaltar também que,
da origem e desenvolvimento dos mesmos. em razão de tratar-se de temas recentes na
O levantamento empírico, por sua vez, literatura, é necessário que pesquisas de
complementa a revisão teórica através da levantamento como esta permitam maior
apresentação de dados referentes à realidade expressão de idéias dos participantes. Assim,
de psicólogos de diferentes Regiões do Brasil observou-se a necessidade de elaboração de
frente às demandas emergentes do Direito maior número de questões abertas, a fim de
de família. colher informações mais consistentes.
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