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Como a Escritura nos ensina
a redimir a psicologia?
David Powlison
É difícil redimir.
As coisas que precisam de redenção são complexas — pessoas, relacio-
namentos, condições sociais e outras mais. Por definição, a redenção presume
casos de mesclas: a estranha mistura de acertos e erros, boas intenções com
consequências indesejadas, verdades e falsidades involuntárias que convivem
como uma só carne, bom potencial parcialmente cumprido, mas comprome-
tido por tendências destrutivas. A Bíblia retrata a criação caída desse modo.
O mundo é dessa forma. As pessoas são assim. E Deus propositalmente trata
de redimir esse emaranhamento fatal de bem e mal. Jesus e as Escrituras re-
dimem. E nós também redimimos, em submissão à Palavra dada a nós por
escrito e vinda a nós em carne e osso. No momento histórico atual, a psicolo-
gia secular é um desses casos mistos que precisam ser redimidos.
“Psicologia” é um termo amplo que designa vários campos de estudo
e prática. As regras do jogo são seculares — embora haja alguma tolerância
suave à “espiritualidade”, como tema de interesse e ajuda terapêutica. A pes-
quisa, a teoria e a terapia psicológica representam em essência o esforço para
descobrir coisas verdadeiras sobre as pessoas, para interpretar verdadeira-
mente e para ajudar as pessoas a encontrar a verdadeira redenção — enquan-
to vivem na negação da realidade onipresente do pecado e do presente real
da misericórdia em Cristo. Para todos os efeitos, as realidades psicológicas
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1 Leslie Farber, “Martin Buber and Psychiatry”, in: Psychiatry: A Journal for the Study of
Interpersonal Processes, 19 (1956): 109-20.
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devemos querer saber sobre os fatores que exercem influência sobre nós.
No entanto, a pesquisa sobre esses fatores não pode explicar a pessoa de
modo decisivo. Embora cada um de nós viva em um mundo de influências,
nossa obediência ou desobediência aos dois grandes mandamentos divinos
não será determinada por essas influências. É do coração que sabedoria ou
a loucura saem.
Pelo fato de a questão mais persistente e impulsionadora das pesqui-
sas psicológicas consistir em avaliar as contribuições relativas da biologia
e da experiência, as explicações provenientes da pesquisa sempre têm uma
lógica amoral. Elas deslocam a responsabilidade pessoal para outros fatores
causais. Elas descontam o fator humano tão evidente em Dostoiévski e no
salmo 31. Desumanizam-nos. Esses pressupostos escorrem para a vida coti-
diana. Por exemplo, ao discutir problemas pessoais e interpessoais, tornou-
-se um reflexo cultural atribuir a responsabilidade final às experiências na
história pessoal e/ou à predisposição genética. Uma frase comum no trata-
mento de vícios e distúrbios alimentares o captura bem: “Os genes carregam
a arma e o ambiente puxa o gatilho”.
O último parágrafo podia ter sido o som do triunfo cultural da cos-
movisão que tira a responsabilidade das pessoas e a atribui às influências
— exceto que ninguém realmente vive como se fosse assim. Deixe-me de-
monstrar isso com quatro exemplos simples.
Primeiro, por vários anos, gostei de assistir ao último episódio de Sur-
vivor de cada temporada. A humanidade estava ali completamente exibida,
e os procedimentos poderiam ser bastante voláteis! Os concorrentes apre-
sentavam indignação contra quem mentia, manipulara e traía a confiança
dos demais participantes. Expressavam carinho por quem se comportava de
modo decente. Eles se consideravam responsáveis, dimensionando continu-
amente o caráter. Expressões do tipo: “Você é um idiota” ou “Você é uma
pessoa tão agradável” eram instintivas. Já as do tipo: “Oh, seus genes força-
ram você a agir desse modo” ou “Você deve ter tido uma infância infeliz”
teriam sido totalmente improváveis, desdenhosas e condescendentes.
Em segundo lugar, trabalhei durante três anos na enfermaria de um hos-
pital psiquiátrico. Em teoria, a doença mental dos pacientes e as experiências
familiares destrutivas eram a causa dos problemas. Contudo, na realidade da
vida comunitária na ala, os pacientes e a equipe eram tratados como seres
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humanos responsáveis por todos. Você seria responsabilizado por como tra-
tou os outros, pelas escolhas que fez, pela manutenção da própria palavra. Se
perdesse a paciência e agisse de forma intempestiva, haveria consequências.
Se falasse uma bobagem, outros discordaraim de você e fariam algum teste.
Se demonstrasse bondade, as pessoas agradeceriam e gostariam de você. A
qualidade de seu caráter humano — sabedoria ou insensatez, no sentido bí-
blico — era o fator decisivo.
Em terceiro lugar, se a natureza e o aprendizado são realmente as únicas
variáveis decisivas, então o fascínio humano para com a literatura, o cinema,
a arte, a música e a história é inexplicável. As “artes e humanidades” versam
sobre seres humanos. E o que torna os seres humanos interessantes é o que
fazem com o corpo e as circunstâncias em que vivem.
Nós nos preocupamos com coragem, hipocrisia, maldade, amor, trai-
ção, arrogância, humildade, sucesso, futilidade e alegria. Interessamo-nos
por coisas não causadas pela fisiologia ou pelas circunstâncias.
Em quarto lugar, sua vida prova que as pessoas são mais que o cultivo
do que a natureza concede. Você provavelmente é uma combinação das per-
sonagens boas e malvadas que aparecem na literatura de Dostoiévski e nos
salmos!
A teologia cristã é coerente com a vida diária. Derruba pontos de vista
resultantes numa vida neutra de escolhas significativas e sentidos morais. Em
cada página, a Bíblia transpira o significado da vida diária. Mesmo as me-
nores ações e gestos, mesmo a corrente interior e invisível de pensamentos,
sentimentos e atitudes expressa que a vida é uma aventura profundamente
moral com consequências de vida ou morte. Portanto, a fé cristã tem muito
a dizer sobre como a pesquisa científica busca e interpreta sua maravilhosa
profusão de dados.
Durante séculos, teólogos e filósofos reconheceram o significado dos
fatores da natureza e do aprendizado. (E eles apreciariam as quantidades in-
calculáveis de novas informações geradas pelo empreendimento científico
moderno.) Eles discutiram a influência relativa desses fatores nos termos
de “causa material” (fisiologia) e “causa eficiente” (experiência social e ou-
tros fatores situacionais). Mas eles sabiamente localizaram a “causa final” em
outro lugar — na interação entre a pessoa e Deus. Ao longo da história, a
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tisfatórias ou mais socialmente aceitáveis ou autênticas, criando
um ciclo de capacitação;
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portamentais;
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escolha.
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6 Publicado em português com o título: “Da vontade cativa”, in: Martinho Lutero: Obras
selecionadas, vol. 4” (São Leopoldo/Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1993, p. 11-216.
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