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CORAM DEO A VIDA DIANTE DE DEUS

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Como a Escritura nos ensina
a redimir a psicologia?

David Powlison

É difícil redimir.
As coisas que precisam de redenção são complexas — pessoas, relacio-
namentos, condições sociais e outras mais. Por definição, a redenção presume
casos de mesclas: a estranha mistura de acertos e erros, boas intenções com
consequências indesejadas, verdades e falsidades involuntárias que convivem
como uma só carne, bom potencial parcialmente cumprido, mas comprome-
tido por tendências destrutivas. A Bíblia retrata a criação caída desse modo.
O mundo é dessa forma. As pessoas são assim. E Deus propositalmente trata
de redimir esse emaranhamento fatal de bem e mal. Jesus e as Escrituras re-
dimem. E nós também redimimos, em submissão à Palavra dada a nós por
escrito e vinda a nós em carne e osso. No momento histórico atual, a psicolo-
gia secular é um desses casos mistos que precisam ser redimidos.
“Psicologia” é um termo amplo que designa vários campos de estudo
e prática. As regras do jogo são seculares — embora haja alguma tolerância
suave à “espiritualidade”, como tema de interesse e ajuda terapêutica. A pes-
quisa, a teoria e a terapia psicológica representam em essência o esforço para
descobrir coisas verdadeiras sobre as pessoas, para interpretar verdadeira-
mente e para ajudar as pessoas a encontrar a verdadeira redenção — enquan-
to vivem na negação da realidade onipresente do pecado e do presente real
da misericórdia em Cristo. Para todos os efeitos, as realidades psicológicas
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COMO A ESCRITURA NOS ENSINA A REDIMIR A PSICOLOGIA?

não evidenciam a necessidade incontestável de Jesus Cristo. Portanto, a co-


leta de dados, a teorização e o aconselhamento não conduzem intrinseca-
mente à verdadeira sabedoria. O DNA da sabedoria contém a prestação de
contas com Deus, mas a secularidade apaga Deus e o pecado como forças a
serem comprovadas.
Na superfície, a secularidade das psicologias parece uma ameaça à fé
cristã. No, entanto, em uma análise mais detida, a secularidade é como o
Mágico de Oz — parece grande e ameaçadora, mas na realidade é vulnerável.
Os seres humanos reais sempre funcionam da maneira descrita na Bíblia.
Toda psique se organiza em torno de algum amor, propósito, significado,
confiança, esperança, medo, identidade, definindo a vida. Esse centro de-
finidor é um deus menor fabricado, ou o deus autorrevelador. Os mode-
los psicológicos seculares não capturam essa realidade mais significativa. O
esforço para apagar o núcleo centrado em Deus, ou não centrado nele, da
psique humana cria de imediato pontos cegos e falhas fatais, contradições
internas, desconexões irresolúveis entre a teoria e a realidade. O disjuntivo
cria oportunidades maravilhosas para a redenção. A fé cristã contém o bom
senso e as boas notícias de uma alternativa abrangente. Os pontos de contato
estão em toda parte.
Portanto, recai sobre nós, a igreja, “converter” seus conhecimentos, te-
orias e terapias — como parte de nosso amor por eles. Tais redenções fazem
a todos um grande bem e produzem uma grande melhora na qualidade da
conversa e evangelização. Envolvemos as pessoas seculares de forma mais
eficaz quando podemos mostrar como a fé cristã faz mais sentido que tudo
o que elas veem com mais clareza, preocupam-se com mais profundidade,
perguntam-se com maior percepção e fazem com mais habilidade. Na verda-
de, a psicologia precisa de redenção. Sem dúvida, a esmagadora maioria dos
psicólogos não quer se converter, mas Deus está disposto e é capaz de lhes
revogar a vontade — e ele nos usará no processo.

Redimir significa uma reflexão cuidadosa e crítica


Mas como fazê-lo? Para começar, para redimir precisamos refletir de
modo cuidadoso e crítico. Devemos aprender a reconhecer e diferenciar
uma variedade de casos mistos: nós, amigos e parentes, conselheiros, a igre-
ja de Cristo, o esforço psicológico secular. Devemos separar com cuidado

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o certo do errado — e retrabalhar a totalidade. Devemos avaliar tudo pelo


critério correto, repensar o todo dentro de uma visão moral abrangente que
faz sentido.
Procure o bem. Para entender verdadeiramente as psicologias, nosso
pensamento crítico deve procurar o bem com intencionalidade. Isso deve ser
destacado. A contenção sectária só vê as coisas más e não produz redenção.
No entanto, como em todos os outros casos mistos que precisam de reden-
ção, seguem os bons aspectos da psicologia:

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ficativos sobre pessoas e problemas, sobre pontos fortes e fracos.
(Nós talvez não notemos ou conheçamos alguns ou muitos des-
ses fatos. Ao encontrar informações psicológicas, eu ouço; assim,
conte-me o que você conhece.)
t "TUFPSJBTTFDVMBSFTQSPDVSBNSFTQPOEFSRVFTUÜFTDSVDJBJTFSFTPM-
ver problemas. (Nós talvez não tenhamos pensado em fazer essas
perguntas ou lidar com esses problemas. Quero fazer muitas per-
guntas difíceis sobre o coração, que precisam de respostas.)
t &N HFSBM  BT UFSBQJBT TFDVMBSFT BHSFHBN IBCJMJEBEFT ÞUFJT BP DP-
nhecimento, à amabilidade e fala. (Nós podemos ser um pouco
desajeitados. Ó Deus habilidoso, faça-me mais perceptivo. Torna-
-me mais paciente e gentil, capaz de falar palavras construtivas, de
acordo com a necessidade do momento, para dar graça aos que me
ouvem.)

Ganha-se muito e não se perde nada sendo devidamente atento e grato


pelos pontos fortes.
Identifique o que está errado. O pensamento crítico também faz essa
identificação. Isso também deve ser destacado. Comprometer-se com o sin-
cretismo enxerga apenas o bem, e não produz redenção. Há problemas na
psicologia, como em todos os outros casos mistos. Quando dominada por
propósitos redentivos, a crítica construtiva sempre se desenvolverá, ofere-
cendo algo melhor. Os fatos conhecidos de cor pelos psicólogos só fazem
sentido dentro da compreensão cristã. Quando os teóricos se propõem a
interpretar fatos preciosos e responder a questões importantes, suas teorias
falham precisamente por não contar com a realidade de Deus, a presença

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ativa do pecado, o significado do sofrimento, a onipresença do juízo e nem a


onda de misericórdias no ministério atual de Cristo. A secularidade morde
seus seguidores. O entendimento estável e judicioso é evasivo, porque muita
realidade significativa é excluída da vista. Mas o entendimento cristão res-
ponde com profundidade a tais questões, dando sentido ao que existe.
Quando os psicoterapeutas abordam os múltiplos sofrimentos e peca-
dos que impulsionam as pessoas a buscar terapia ou a ler um livro de au-
toajuda, o mesmo fracasso em contar com Deus gera uma superficialidade
inescapável. Os terapeutas seculares descrevem as pessoas com problemas
de maneira tão vívida! Seu desejo de ajudar é tão palpável! Contudo, suas
respostas e soluções são sempre tão decepcionantes! Pelo fato de a patologia
humana central consistir na autocentração inercial, é impressionante que as
testemunhas da cura ainda pareçam doentes. “Eu, eu mesmo e eu” pode-
mos nos tornar mais conscientes de nós mesmos, mais autoaceitos, seguros,
satisfeitos e nobres nas formas de servir aos demais. Todavia, a patologia
permanece.
Só a psicoterapia cristã pode apontar para a extraversão revolucionária
da fé e do amor. Apenas a cura espiritual cristã pode até mesmo pensar em
dizer: “Os objetivos do nosso aconselhamento são os mesmos para nós dois
nesta conversa, para que cada um de nós apreenda o amor procedente de um
coração puro, da boa consciência e fé sincera”. O aconselhamento precisa
do DNA cristão se quiser tirar as pessoas da espiral da morte da autopreo-
cupação. A redenção funciona para que ambas as partes possam se mover
(mesmo que só um pouco) na direção de Deus e do próximo.
Retirar Deus do estudo, da explicação e recuperação de seres humanos
tem consequências. Isso acarreta a interpretação equivocada, de forma sis-
temática, da humanidade, mesmo sabendo muitas coisas valiosas. Implica
o compromisso de enganar a si mesmo e a outras pessoas sobre o que mais
importa, mesmo ao obter bens menores. A repressão da consciência de Deus
é a neurose obsessiva universal da humanidade (tomo emprestada uma aná-
lise pungente de Freud e a inverto). Os psicólogos secularizantes estão inclu-
ídos nesse diagnóstico, sejam eles pesquisadores, teóricos ou terapeutas. E,
misericórdia das misericórdias, Deus cura de modo deliberado quem sofre
da neurose obsessiva universal. Ele nos usa — que ainda estamos sendo re-
dimidos — para ajudar os outros a encontrar a redenção.

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O juízo imparcial vê o bem e o mal e oferece algo mais abrangente e


melhor. Tem-se um ponto de contato com psicólogos não cristãos quando se
une algo verdadeiro e claro ao que eles conhecem, pelo que se preocupam,
procuram obter e realizam. A redenção é a grande imagem do nosso chama-
do. De forma mais particular, como a fé cristã envolve os vários os fatos, as
ideias e atividades que se agrupam sob o título de psicologia?

Redimir preconiza um verdadeiro entendimento das pessoas


A secularidade educa as pessoas com estreiteza. A Escritura nos apre-
senta uma imagem mais ampla, profunda e rica: o verdadeiro entendimento.
Para ilustrar isso, examinaremos o salmo 31 como um estudo de caso em
primeira pessoa. Obviamente, um salmo não consiste em uma pesquisa, te-
oria nem terapia. O que ele faz, no entanto, é capturar a experiência de um
ser humano intensamente vivo e alerta ao máximo quando dá voz ao que
ele percebe, sente, pensa, precisa, confia, ama e faz. Ao prestar atenção a ele,
pega-se o pássaro pela asa, a pessoa viva que precisa ser explicada e carece
de ajuda.
Albert Einstein comentou que toda a ciência nada mais é que o refi-
namento do pensamento cotidiano. O salmo  31 expressa o pensamento
cotidiano (por mais intenso, condensado e poético que se apresente). Ele é
pré-teórico, caso a preferência seja classificá-lo assim. Ele retrata de forma
direta a profundidade e complexidade da personalidade e da experiência hu-
manas. Espera o refinamento da ciência, ao apresentar fatos humanos que a
pesquisa deve reconhecer, explorar e explicar; a teoria deve explicar; a tera-
pia deve lidar com isso e produzir.
O salmo  31 cria uma surpreendente impressão a respeito de quatro
coisas.
A primeira impressão surpreendente é que a pessoa consiste na frente e
no centro. Essa pessoa expressa um fluxo vivo de sentimentos, percepções e
consciência: a qualidade humana da sensibilidade. Ela aparenta inteligência,
coerência, consciência e juízo bem fundamentados: a qualidade humana da
sapiência. Os sentimentos e a consciência moral agudos cooperam uns com
os outros. Temos o privilégio de ouvir uma sinfonia de honestidade emocio-
nal, fenomenológica, relacional, moral e intelectual. Considere a quantidade
de humanidade vertida em apenas trezentas palavras (no original hebraico).

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COMO A ESCRITURA NOS ENSINA A REDIMIR A PSICOLOGIA?

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t "NPSRVFTFTJNQBUJ[BFFODPSBKBPTEFNBJT

Esta não é uma coleção de respostas humanas teóricas. O caleidoscó-


pio da experiência de um homem vive diante de nós, nos cativa e convida
para sermos refeitos à sua semelhança. A variedade é eletrizante. No entanto,
ouve-se uma voz psicologicamente coerente. Uma pessoa se exibe em sentido
psicológico.
A verdadeira psicologia entra em sintonia com a sensibilidade e sapiên-
cia das pessoas reais.
A segunda impressão surpreendente é que essa pessoa está de todo
consciente da presença de um Outro significativo. Alguém sumamente mais
importante. Ser humano é depender dele. Ser humano é viver na divisão mo-
ral em relação à amizade ou inimizade, ser humilhado ou orgulhoso, servo
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ou adversário. A vida e a morte se desenvolvem em termos de quem é Deus,


o que ele faz e a qualidade moral de como nos relacionamos com ele. Deus
é o único lugar de segurança e refúgio no mundo repleto de problemas. Ele
voluntariamente nos resgata dos problemas por sua bondade. Lidera e guia
por sua identidade. Deus ouve pedidos de ajuda e intervém a favor dos ne-
cessitados. Ele é a força dos impotentes a serem resgatados. Caracteriza-se
pela misericórdia e generosidade. É confiável. Ele destruirá quem faz o que
é errado ao ignorar e prejudicar o próximo — quem vive como “inimigo”
do amor divino e do povo de Deus. Ele é o protetor feroz dos que precisam
dele, confiam nele e o amam. Deus é a realidade psicológica predominante
na sanidade do salmo 31.
A verdadeira psicologia estará em sintonia com a presença deste Outro
significativo, por meio de quem vivemos e contra quem perecemos.
Eis a terceira impressão impressionante da psicologia revelada no sal-
mo 31. Ela é de todo relacional. Trata-se de uma conversa, não de um soliló-
quio. É um diálogo sobre as coisas que importam, não uma monólogo para
reforçar a autoconfiança. Esta é uma conversa sequencial, não um fluxo de
percepções. A própria experiência psicológica não ocorre nos limites da psi-
que encapsulada. A experiência totalmente sincera de Davi reverbera em sua
relação com o Outro mais significativo. Sua psicologia pessoal é interpessoal
de todo. Sua psique opera voltada para Deus e se pode ouvi-la. Ele fala com
Deus, relaciona-se com ele, pensa nos termos dele, sente-se face a face com
Deus, age por causa dele.
A verdadeira psicologia estará em sintonia com a forma como os seres
humanos devem viver em conversação com Deus sobre as coisas mais im-
portantes. Viver no solipsismo da supressão divina da vida interior ou da
vida social é loucura.
A quarta impressão consiste no envolvimento total de Davi nos termos
da situação. Ele está vivo no tempo, no lugar e nas circunstâncias. A exigência,
contingência, ameaça e oportunidade do presente momento são importantes.
Olhar para o futuro de forma antecipada e considerar o passado são cruciais
para sua condição plenamente viva a fim de apresentar suas dificuldades. A
inimizade imediata das pessoas que podem prejudicá-lo provoca uma tem-
pestade de reações. Ele odeia, sente medo, encontra-se em perigo. Também
está profundamente ciente e preocupado com seus amigos. Davi é um corista,
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COMO A ESCRITURA NOS ENSINA A REDIMIR A PSICOLOGIA?

não um solista — uma pessoa dentre a multidão de outras que conhecem


Deus, temem-no, refugiam-se nele, amam-no e depositam suas esperanças
nele. Davi alcança o favor dos companheiros, e o salmo 31 expressa a lógica
profunda de como a fé pessoal se move para o amor interpessoal.
A verdadeira psicologia estará em sintonia com o sentido do momento
e da situação presente — ao refletir sobre o passado e antecipar o futuro.
A verdadeira psicologia estará em sintonia com a profunda divisão na
raça humana entre quem serve a deuses vazios e quem serve ao Senhor Deus.
Nenhuma psicologia universalista pode ser verdadeira, porque no núcleo
mais profundo de uma pessoa não se encontra uma natureza humana uni-
versal, mas uma profunda diferença em lealdades absolutas.
A verdadeira psicologia estará em sintonia com a forma como a vida
pessoal e a vida corporativa integram-se com perfeição. Nenhuma “psico-
logia individual” pode ser verdadeira, porque as pessoas devem viver uma
identidade corporativa. O drama do salmo  31 da psique humana retrata o
objetivo da humanidade plena: a pessoa responsiva e responsável vive plena-
mente consciente do Deus vivo, em um relacionamento vividamente honesto,
totalmente envolvido na situação imediata e em solidariedade com outros.
O esforço psicológico secular tem sido atormentado desde sua criação
pela tendência de despersonalizar as mesmas pessoas que estuda. Um psi-
quiatra reflexivo de meados do século XX chamou a atenção de seus colegas
sobre essa tendência:

O leitor pode perceber a razão de a psiquiatria muitas vezes ser


acusada de redutora. Enquanto as criaturas são descritas […] Po-
dem ter alguma semelhança com animais ou com motores a vapor,
robôs ou cérebros eletrônicos, elas não soam como pessoas. Elas
são, de fato, construtos da teoria, mais humanoides que humanas
[…] Só as qualidades mais distintamente humanas parecem ter
sido omitidas. É uma questão de ironia, caso alguém se volte da
psicologia para um dos romances de Dostoiévski, para achar que
não importa o quão miseráveis, pueris ou dilapidados sejam suas
personagens, todas possuem mais humanidade que o homem ideal
encontrado nas páginas da psiquiatria.1

1 Leslie Farber, “Martin Buber and Psychiatry”, in: Psychiatry: A Journal for the Study of
Interpersonal Processes, 19 (1956): 109-20.

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A verdadeira psicologia possui e expressa a plena humanidade.


Fiódor Dostoiévski é justamente considerado o primeiro grande ro-
mancista psicológico por causa da vívida humanidade de suas personagens.
Os modelos psicológicos devem ser pelo menos tão bons quanto Dostoié-
vski. Entretanto, o salmo 31 é ainda melhor. Ouve-se a consciência lúcida so-
bre a necessidade e fé pessoais, e a correspondência perfeita entre as realida-
des situacionais, as respostas psicológicas e a presença pessoal de Deus. Em
comparação, pesquisas, teorias e terapias psicológicas realmente parecem
mais humanoides que humanas. À medida que a secularidade faz com que
se localizem explicações nas variáveis externas (genética, história pessoal e
similares) e tropece no escuro sobre a dinâmica mais profunda, ela perde o
controle sobre a humanidade real nas pessoas analisadas. São justamente as
qualidades mais distintamente humanas que parecem ter sido omitidas.
A pesquisa psicológica deve reconhecer e explorar as realidades psico-
lógicas evidentes no salmo 31. A teoria da personalidade deve ser capaz de
explicar a experiência do salmo 31 (bem como contar com a divisão moral
e explicar as variedades da experiência de supressão de Deus mais caracte-
rísticas da humanidade). A psicoterapia deve recriar homens e mulheres à
imagem do salmo 31.

Redimir significa que devemos apontar a causalidade no


comportamento humano
Vale ressaltar que o retrato das riquezas psicológicas na Bíblia não é
científico (como, por exemplo, a pesquisa psicológica), teórico (p. ex., a te-
oria do apego), psicoterapêutico (p. ex., Irvin Yalom) e nem literário (p. ex.,
Dostoiévski). As riquezas psicológicas reveladas são “no caminho”, um sub-
produto dos propósitos primários. Ao revelar o Deus verdadeiro em relação
às criaturas, a Bíblia pretende principalmente nos dar uma nova orientação e
direção. Portanto, em certo sentido, o salmo 31 realiza uma intervenção psi-
coterapêutica. Isso o mudará, se você tiver ouvidos para ouvir. Isso acarreta
enormes implicações sobre como a fé cristã redime as psicologias modernas.
Por que as pessoas fazem, pensam e sentem o que fazem, pensam e
sentem? O restante do texto discutirá esta questão fundamental que engloba
pesquisa, teoria e terapia. Causalidade é o santo Graal, a grande pergunta. E
a questão da causalidade oferece um ponto de contato contínuo na redenção
da psicologia.

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A explicação do comportamento humano orienta a pesquisa psicológi-


ca, define a tarefa da teoria da personalidade e sustenta as intervenções tera-
pêuticas. David Myers define no popular livro de psicologia, o que considera
as “grandes questões da psicologia”:

A maior e mais persistente questão diz respeito ao impacto da na-


tureza biológica e da experiência educativa, as contribuições re-
lativas da biologia e da experiência. O debate sobre a natureza é
longo. Vez per outra percebe-se a tensão de aprendizado-natureza
se dissolver: o aprendizado trabalha sobre o que a natureza dá.2

Leia isto de novo. O que está faltando?


É revelador que, ao identificar a maior e mais persistente questão para
entender as pessoas, David Myers deixa de lado as contribuições da própria
pessoa. O grande objetivo da pesquisa e do conhecimento psicológico torna-
-se a busca de influências situacionais e corporais que explicam quem é uma
pessoa e como ela pensa, sente, age e trata os outros. A própria psique não
é um fator essencial e decisivo nas operações da psique. Esta é uma lacuna
maciça e sistêmica. É como se um pintor de retratos não acreditasse nos
olhos, ou um músico não acreditasse no dó. Eles podem produzir retratos
ou músicas de qualquer forma, mas, no final, o que está faltando e não foi
contabilizado será mais visível que o restante.
Sem dúvida, as forças e fraquezas do corpo são importantes: Deus criou
cada um de nós para viver como uma criatura fisicamente incorporada. Sem
dúvida, o vasto leque de influências ambientais para o bem ou o mal importa:
Deus dispôs cada um de nós para viver como uma criatura embutida na si-
tuação presente. É ótimo que a pesquisa procure traçar as inúmeras variáveis
significativas que nos influenciam como seres pensantes, sentimentais e mo-
rais. As influências nos afetam de maneira variada: tentando-nos a recorrer
ao lado obscuro ou encorajando-nos a viver à luz da fé operante pelo amor.
Elas definem nossas oportunidades e limitações, habilidades e deficiências,
tristezas e felicidades em que florescemos ou perecemos diante do Deus ver-
dadeiro e vivo. As influências descrevem o estágio arranjado por Deus em
que você e eu fazemos as escolhas definidoras de nossa vida e caráter. Todos

2 Psychology, 5. ed. New York: Worth Publishers, 1998, p. 6.

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devemos querer saber sobre os fatores que exercem influência sobre nós.
No entanto, a pesquisa sobre esses fatores não pode explicar a pessoa de
modo decisivo. Embora cada um de nós viva em um mundo de influências,
nossa obediência ou desobediência aos dois grandes mandamentos divinos
não será determinada por essas influências. É do coração que sabedoria ou
a loucura saem.
Pelo fato de a questão mais persistente e impulsionadora das pesqui-
sas psicológicas consistir em avaliar as contribuições relativas da biologia
e da experiência, as explicações provenientes da pesquisa sempre têm uma
lógica amoral. Elas deslocam a responsabilidade pessoal para outros fatores
causais. Elas descontam o fator humano tão evidente em Dostoiévski e no
salmo 31. Desumanizam-nos. Esses pressupostos escorrem para a vida coti-
diana. Por exemplo, ao discutir problemas pessoais e interpessoais, tornou-
-se um reflexo cultural atribuir a responsabilidade final às experiências na
história pessoal e/ou à predisposição genética. Uma frase comum no trata-
mento de vícios e distúrbios alimentares o captura bem: “Os genes carregam
a arma e o ambiente puxa o gatilho”.
O último parágrafo podia ter sido o som do triunfo cultural da cos-
movisão que tira a responsabilidade das pessoas e a atribui às influências
— exceto que ninguém realmente vive como se fosse assim. Deixe-me de-
monstrar isso com quatro exemplos simples.
Primeiro, por vários anos, gostei de assistir ao último episódio de Sur-
vivor de cada temporada. A humanidade estava ali completamente exibida,
e os procedimentos poderiam ser bastante voláteis! Os concorrentes apre-
sentavam indignação contra quem mentia, manipulara e traía a confiança
dos demais participantes. Expressavam carinho por quem se comportava de
modo decente. Eles se consideravam responsáveis, dimensionando continu-
amente o caráter. Expressões do tipo: “Você é um idiota” ou “Você é uma
pessoa tão agradável” eram instintivas. Já as do tipo: “Oh, seus genes força-
ram você a agir desse modo” ou “Você deve ter tido uma infância infeliz”
teriam sido totalmente improváveis, desdenhosas e condescendentes.
Em segundo lugar, trabalhei durante três anos na enfermaria de um hos-
pital psiquiátrico. Em teoria, a doença mental dos pacientes e as experiências
familiares destrutivas eram a causa dos problemas. Contudo, na realidade da
vida comunitária na ala, os pacientes e a equipe eram tratados como seres
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COMO A ESCRITURA NOS ENSINA A REDIMIR A PSICOLOGIA?

humanos responsáveis por todos. Você seria responsabilizado por como tra-
tou os outros, pelas escolhas que fez, pela manutenção da própria palavra. Se
perdesse a paciência e agisse de forma intempestiva, haveria consequências.
Se falasse uma bobagem, outros discordaraim de você e fariam algum teste.
Se demonstrasse bondade, as pessoas agradeceriam e gostariam de você. A
qualidade de seu caráter humano — sabedoria ou insensatez, no sentido bí-
blico — era o fator decisivo.
Em terceiro lugar, se a natureza e o aprendizado são realmente as únicas
variáveis decisivas, então o fascínio humano para com a literatura, o cinema,
a arte, a música e a história é inexplicável. As “artes e humanidades” versam
sobre seres humanos. E o que torna os seres humanos interessantes é o que
fazem com o corpo e as circunstâncias em que vivem.
Nós nos preocupamos com coragem, hipocrisia, maldade, amor, trai-
ção, arrogância, humildade, sucesso, futilidade e alegria. Interessamo-nos
por coisas não causadas pela fisiologia ou pelas circunstâncias.
Em quarto lugar, sua vida prova que as pessoas são mais que o cultivo
do que a natureza concede. Você provavelmente é uma combinação das per-
sonagens boas e malvadas que aparecem na literatura de Dostoiévski e nos
salmos!
A teologia cristã é coerente com a vida diária. Derruba pontos de vista
resultantes numa vida neutra de escolhas significativas e sentidos morais. Em
cada página, a Bíblia transpira o significado da vida diária. Mesmo as me-
nores ações e gestos, mesmo a corrente interior e invisível de pensamentos,
sentimentos e atitudes expressa que a vida é uma aventura profundamente
moral com consequências de vida ou morte. Portanto, a fé cristã tem muito
a dizer sobre como a pesquisa científica busca e interpreta sua maravilhosa
profusão de dados.
Durante séculos, teólogos e filósofos reconheceram o significado dos
fatores da natureza e do aprendizado. (E eles apreciariam as quantidades in-
calculáveis de novas informações geradas pelo empreendimento científico
moderno.) Eles discutiram a influência relativa desses fatores nos termos
de “causa material” (fisiologia) e “causa eficiente” (experiência social e ou-
tros fatores situacionais). Mas eles sabiamente localizaram a “causa final” em
outro lugar — na interação entre a pessoa e Deus. Ao longo da história, a

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pesquisa psicológica tratou em caráter funcional a natureza e o aprendizado


como se fossem de fato “causas finais”. A informação pode às vezes ser espe-
tacular e rica (embora a maioria não seja). No entanto, a interpretação falha
nos testes com a realidade e as Escrituras.
Qual é a contribuição real da PESSOA para o que realiza? Essa é a
maior e mais persistente questão que precisa ser respondida. Esta é a maior
lacuna na pesquisa psicológica. A dança intrincada entre o corpo e o con-
texto situacional pode ser insolúvel, mas é relativamente simples e acessível
em comparação com o abismo e a ambivalência das intenções e desejos hu-
manos.
A fé cristã é muito forte em relação a essa questão psicológica mais per-
sistente. Quando outras psicologias assumem a tarefa de entender a pessoa
per se — a psique no todo psicossócio-somático — interpretaram de forma
equivocada as pessoas de uma destas três formas comuns:
1. Os pesquisadores científicos apresentam o reconhecimento de um
fato: todos os seres humanos operam com intenções. Então eles mencionam
a existência de motivos internos, objetivos, esperanças, expectativas, desejos,
medos, esquemas e um mapa da realidade. Contudo, evitam a questão de
interpretá-los, pois as intenções não podem ser medidas. Não conseguem
entender o significado do que suscita a questão psicológica mais importante:
a personalidade. Mas a escolha e o compromisso responsáveis são curingas,
não suscetíveis a métodos científicos, análises e explicações. As curvas de
Bell podem retratar o alcance e a frequência das escolhas típicas em uma
população, mas as escolhas reais de qualquer indivíduo permanecem opacas
quando a natureza e/ou o aprendizado são os únicos fatores causais que con-
tam como explicações.
2. Os teóricos da personalidade vão um passo adiante e tentam desco-
brir o funcionamento interno. Procuram explicar o que não pode ser visto
sobre a pessoa. Todavia, como reprimem a divisão profunda das lealdades
últimas, inevitavelmente postulam a configuração unitária das motivações
estáticas: talvez uma hierarquia de necessidades ou instintos conflitantes,
unidades condicionáveis ou alguma necessidade particularizada de ____
(p. ex., amor, sucesso, autoestima, significado, relações saudáveis, sensação
de eficácia pessoal etc.). Esses padrões e energias motivacionais são vistos

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COMO A ESCRITURA NOS ENSINA A REDIMIR A PSICOLOGIA?

como dados para trabalhar, ajustar, reequilibrar, porque a configuração ins-


tintiva dos anseios do coração humano não pode ser alterada.
3. Os psicoterapeutas darão mais um passo. Eles são pragmáticos
(como a equipe na enfermaria psiquiátrica de internação). Esperam mudar
o que é preocupante e destrutivo, então devem lidar com o que faz a pessoa
sofrer, compreendam a causa ou não. Normalmente, afirmam a possibilida-
de de determinação da vida, do controle volitivo.

t "DBQBDJEBEFEFGB[FSFTDPMIBTiNFMIPSFTw NBJTQFTTPBMNFOUFTB-
tisfatórias ou mais socialmente aceitáveis ou autênticas, criando
um ciclo de capacitação;
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portamentais;
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lar experiências e ações;
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escolha.

Acreditam que a vontade humana, embora dominada por influências,


é significativamente livre, responsável e capaz de tomar ações decisivas. Em-
bora seus genes possam carregar parcialmente a arma e, ainda que o ambien-
te possa dizer-lhes para onde apontar e puxar o gatilho, o indivíduo é quem
apontará a arma e puxará o gatilho. Você pode escolher ser diferente. Há dé-
cadas, Sigmund Freud articulou a filosofia que continua até hoje: “Buscamos
fortalecer o paciente com seus próprios recursos”.3
Quando se pensa teologicamente e de forma redentora, chega-se a uma
leitura muito diferente da psique — e descobre-se uma fonte de gratidão
pela intervenção pessoal de Deus. Não se trata de descobrir um versículo
da Bíblia que critica as teorias predominantes da motivação. Ele não exis-
te, porque essas teorias ainda não haviam sido elaboradas. Mas se trata da
questão de pensar de forma abrangente — e coerente — sobre o razão pela
qual as pessoas agem. Pensar biblicamente é um trabalho teológico prático,
trazendo à tona “toda a Escritura” de maneira nova. Esse trabalho se baseia

3 The Question of Lay Analysis.

898
CORAM DEO A VIDA DIANTE DE DEUS

na sabedoria dos teólogos práticos ao longo do tempo. Por exemplo, a análise


seminal de Agostinho de amores falsos e verdadeiros tem relevância perma-
nente.4 Assim ocorre com as análises de Calvino sobre a falha da sabedoria
secular quando tenta dar sentido aos nossos desejos.5 Essas obras exigem
que voltemos a pensar. As perguntas em questão são atuais, nunca formula-
das dessa maneira, jamais respondidas antes do modo necessário. É preciso
refletir com cuidado sobre as informações, as questões, os pontos de vista e
as controvérsias surgidas apenas no último século e meio. Apontam-se casos
de informação equivocada e desinformação que reivindicam o chancela da
ciência e da verdade. Chama-se a atenção para as contradições internas, os
pontos cegos e as falhas fatais. Seguem aqui três contribuições do raciocínio
teológico para responder à grande questão da causalidade.
1. Ao contrário dos pesquisadores científicos, a verdade cristã explica
que o fator humano é o elemento decisivo no complexo da causalidade final.
Os pensamentos e as intenções de cada coração interagem com quem é pre-
ciso, nosso verdadeiro Criador, Juiz final e único Salvador (Hb 4.12-16). Sua
forma de agir sempre tem ligação consigo como agente moral. Nas questões
decisivas de vida e morte, bem e mal, amor e ódio, coragem e medo, sabe-
doria e tolice, esperança e desespero, a causa final não tem ligação com algo
que lhe sucede.
2. Ao contrário dos teóricos da personalidade, a verdade cristã explica
que os impulsos motivadores profundos do coração humano não são fixos;
eles podem e devem ser radicalmente alterados. Na verdade, existem dois
complexos motivacionais concorrentes, e não um modelo universal. O pri-
meiro só se encontra plenamente em Jesus.
Ele opera de forma diferente de todos os que já viveram, e sua ma-
neira de operar expressa como um ser humano completamente saudável
deve funcionar. Os motivos, as emoções, as cognições e o comportamento
encontrados no salmo 31 são um tipo de dança diferente, inexplicável por
qualquer teoria da personalidade. O segundo complexo motivacional é en-
contrado total ou parcialmente nos demais. Os motivos humanos obedecem
instintivamente à lógica autorreferencial perversa: reforçada pela natureza,

4 O tema principal das Confissões.


5 P. ex., A instituição da religião cristã (2.2.24), de João Calvino.

899
COMO A ESCRITURA NOS ENSINA A REDIMIR A PSICOLOGIA?

aprendizado, escolha, hábito e obsessão. No entanto, os desejos dos sábios


(testemunhados em toda parte nas Escrituras em centenas de orações, can-
ções e histórias) diferem qualitativamente dos desejos dos tolos (também
testemunhados em toda a Escritura). E, ainda assim, o sábio tem a alma pe-
culiarmente dividida. Parte da sabedoria é conhecer a loucura coexistente e
oposta à sabedoria residente em nós e lutar contra ela.
3. Ao contrário dos ajudantes pragmáticos, a verdade cristã explica que
a vontade humana não é gratuita quando se trata de escolhas decisivas de
vida e morte. Com razão, o livro preferido de Lutero era De servo arbitrio.6
Lutero pensou em sentimentos cristãos, e se conhecia de forma cristã, e cho-
rava pela própria identidade. Ele sabia o que todos os salmos sabem: a menos
que Deus me ouça e intervenha com misericórdia, morrerei. A fé cristã sabe
que, por natureza, somos psicologicamente escravizados aos desejos instinti-
vos do corpo e da mente (há “loucura em nosso coração” [Ec 9.3]).
E Lutero sabia algo muito mais importante que o autoconhecimento
preciso. Pela graça do misericordioso Redentor, somos verdadeiramente
perdoados, amados, trazidos da morte para a vida. Estamos incluídos. So-
mos decidida e progressivamente libertados para querer outras coisas além
do que costumava nos tentar. Temos um trabalho significativo a fazer. A
psicoterapia secular, por definição, exclui este autoconhecimento, esta luta,
transformação e alegria.
Assim, pensar de forma cristã sobre a psicologia traz uma perspectiva
reorientadora a respeito de informações, teorias e habilidades psicológicas.
Somos pressionados como cristãos a criar uma psicologia distinta — como
qualquer outra psicologia postula sua interpretação distinta da experiência
humana. Somos pressionados por Deus, pelas necessidades de nosso tem-
po e lugar, pela própria necessidade, em relação à articulação de um olhar
cristão coerente e abrangente para interpretar com correção todos os fatos
e as experiências psicológicas. Somos pressionados a aconselhar com fide-
lidade ao que sabemos ser verdade. O conhecimento é para a vida e para
servir aos demais por meio do aconselhamento e de todas as outras formas
de ministério.

6 Publicado em português com o título: “Da vontade cativa”, in: Martinho Lutero: Obras
selecionadas, vol. 4” (São Leopoldo/Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1993, p. 11-216.

900
CORAM DEO A VIDA DIANTE DE DEUS

Assuma o chamado para redimir a psicologia


Qual a aparência da psicologia redimida? Não há perda de informações
válidas, não se perde nenhuma habilidade em amor, nenhuma pergunta di-
fícil é diminuída. Em vez disso, todo o conhecido é enriquecido e alterado
ao ser analisado sob uma luz nova e verdadeira — e uma grande quantidade
de informações previamente negligenciadas tornam-se disponíveis pela pri-
meira vez. Tudo o que se faz com habilidade é levado a um nível completa-
mente diferente quando incorporado aos propósitos do amor redentor de
Cristo — e habilidades antes inimagináveis são trazidas para o repertório. Os
próprios psicólogos chegam à fé, não apenas como uma questão de piedade
particular e moral pessoal; a descoberta da fé cristã completa toca e reorga-
niza todos os assuntos psicológicos. Eu sei disso, porque esse é o mundo em
que eu encontrei a Cristo.
Redime-se a psicologia enquanto se aprende a pensar em caráter teoló-
gico e de forma redentora sobre questões de importância vital. A psicologia
é redimida quando trazemos a Escritura e a fé cristã para apoiar o trabalho
psicológico do autoconhecimento, para o conhecimento de outras pessoas,
para dar sentido à nossa vida e para o nosso engajamento na transformação
— como indivíduos e grupo — em conformidade com a imagem de Jesus.

“Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou


o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar,
seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele
é” (1Jo 3.2).

Tradução: Caio Vidigal

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