Você está na página 1de 5

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA DO TRABALHO DE

SÃO RAIMUNDO NONATO - PI

Processo: 0001947-81.2016.5.22.0102

MUNICÍPIO DE DOM INOCÊNCIO - PI, pessoa jurídica de


direito público interno, inscrita no CNPJ sob o n° 23.500.002/0001-45, neste ato
representado pela Chefe do Poder Executivo Municipal, estabelecido na Praça
Camaratuba, s/n, bairro Centro, na cidade de Dom Inocêncio – PI, nos autos do processo
em epígrafe (Ação de Cobrança de Contribuição Sindical), movida pelo SINDICATO
ESTADUAL DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE E COMBATE ÀS ENDEMIAS DO
PIAUÍ – SINDEACS, já qualificado, por seu advogado in fine assinado, instrumento
procuratório em anexo, vem, perante V. Exa., apresentar sua CONTESTAÇÃO,
consoante fundamentos adiante expostos:

1. DAS ALEGAÇÕES DO AUTOR

Alega autor ser entidade de segundo grau, que representa os


Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate à Endemias do Estado do Piauí , o
que lhe assegura o direito a percepção do imposto sindical nos termos do que dispõe a
CLT, por isto cobra o imposto sindical referente ao exercício de 2016, requerendo a
condenação do Município requerido no valor de R$ 1.677,96 (mil e seiscentos e setenta e
sete reais e noventa e seis centavos), bem como na condenação das custas e honorários
advocatícios no valor de 15% do valor da condenação.

2. PRELIMINARMENTE

Antes de adentrar no mérito, cumpre apontar a esse MM


Julgador, alguns pontos que obstam a cognição da pretensão do autor, em razão da
matéria de caráter eminentemente processual.

2.1. DA INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA JULGAR A


PRESENTE AÇÃO.
Antes de adentrar no mérito, cumpre apontar a esse MM
Julgador, alguns pontos que obstam a cognição da pretensão da Reclamante, em razão
da matéria de caráter eminentemente processual.
A lide versa sobre cobrança de contribuição sindical,
disciplinada no art. 589, da CLT, correspondente ao ano de 2016 dos agente
comunitários de saúde do Município de Dom Inocêncio, vinculados ao regime
estatutário.
Prima facie, o ora reclamado argui a presente preliminar
de exceção de incompetência em razão da matéria, considerando que o reclamado
possui regime jurídico próprio, consubstanciado na Lei 07/1997, de 10 de
novembro de 1997, com publicação nos murais da Prefeitura em 14/11/1997, e
com o mesmo teor no Diário Oficial de 30 de março de 2009, consoante
demonstra a documentação em anexo.
O Tribunal Regional Federal da 6ª Região em recente
decisão, assim entendeu, senão vejamos:

PROC. Nº TRT – 0000951-43.2010.5.06.0101 ÓRGÃO JULGADOR: 3ª


TURMA;
RELATOR: :DESEMBARGADOR VALDIR CARVALHO; RECORRENTE:
MUNICÍPIO DE OLINDA
RECORRIDO: CONFEDERAÇÃO DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO BRASIL
– CSPB; Data do Julgamento: 08 de junho de 2011
EMENTA: CONTRIBUIÇÃO SINDICAL (IMPOSTO SINDICAL). ENTIDADE
REPRESENTATIVA DE SERVIDORES PÚBLICOS ESTATUTÁRIOS.
INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.Revela-se incompetente
a Justiça Laboral para processar e julgar lide que versa sobre
cobrança de contribuição sindical (imposto sindical), envolvendo
servidores públicos municipais, vinculados ao regime administrativo.
O fato da norma de regência da causa ser celetista não desloca a
competência para a Justiça do Trabalho para dirimir o litígio, até
porque, em última análise, a questão envolve relação jurídico-
administrativa, desconto de imposto sindical de servidor público

Ex positis, o Requerido argui a presente preliminar de


incompetência da Justiça do Trabalho para conhecer e julgar a presente lide,
requerendo, por consequência, seja extinto o processo sem resolução do mérito nos
termos do 485 do Código de Processo Civil, que se faz imperiosa, por que o TRT da 22ª
Região adotou o processo virtual em plataforma própria, incompatível com eventual
processo eletrônico adotado pela Justiça Comum Estadual Piauiense, restrito, ao que
parece, aos juizados especiais.

3. DO MÉRITO

A cobrança do imposto sindical ao autor afronta a


Constituição Federal, já que os servidores públicos do Município de Dom Inocêncio não
são filiados ao Sindicato Estadual dos Agentes Comunitários de Saúde e Combate
às Endemias do Piauí, pela documentação acostada aos autos, observa-se Excelência
que nenhum servidor do Município de Dom Inocêncio è filiado ao referido sindicato,
bem como não existe nenhuma autorização dos mesmos para tal desconto.
A Súmula nº. 666, do STF, assim Reza:

STF Súmula nº 666 - Contribuição Confederativa - Exigibilidade -


Filiação a Sindicato Respectivo. A contribuição confederativa de que
trata o art. 8º, IV, da Constituição, só é exigível dos filiados ao
sindicato respectivo.

A Contribuição Confederativa. Que reza o art. 8º, IV, da


Constituição Federal, por tratar de encargo que, por despido de caráter tributário, não
sujeita senão os filiados da entidade de representação profissional. Interpretação que,
de resto, está em consonância com o princípio da liberdade sindical consagrado na Carta
da República.
Por outro lado, a súmula 342 do TST, assim disciplina:

“só são válidos os descontos salariais efetuados pelo empregador,


quando autorizados previamente e por escrito pelo empregado, bem
como um tópico de informação sobre a sindicalização ou não”.

O Município de Dom Inocêncio nunca fez qualquer desconto


dessa contribuição dos seus servidores, haja vista nunca ter sido autorizado pelos
mesmos.
O artigo 462 da CLT, assim disciplina, senão vejamos:

“Art. 462 - Ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos


salários do empregado, salvo quando este resultar de
adiantamentos, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo
(atualmente convenção coletiva)”

Serão lícitos os descontos das contribuições de


trabalhador sindicalizado, no caso em tela, os agentes comunitários de saúde e
combate às endemias do Município de Dom Inocêncio, ora Requerido, não são
sindicalizados, no entanto tal desconto, inserida nas convenções coletivas, fere o
princípio da livre associação e da sindicalização, estabelecido nos artigos 5º,
inciso XX, e 8º, inciso V, da Constituição Federal:

“Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer
associado;
(...)

Art. 8º - É livre a associação profissional ou sindical, observado o


seguinte: (...) V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter- se
filiado a sindicato;
(...)”

Pelos dispositivos acima, claro está que nenhum


Trabalhador ou Empregador é obrigado a filiar-se a determinado sindicato e, se a
filiação não é obrigatória, também não o será a cobrança das contribuições, portanto a
cobrança de tal contribuição fere a constituição Federal, já que nenhum servidor do
município de Dom Inocêncio é filiado ao Sindicato autor.
Não se há de conceber que aqueles que, exercendo seu
direito constitucional de não se filiar à entidade sindical (CF, art. 8o, "caput" e inciso
V), registrando ou não a sua oposição, possam, num segundo momento, ser atingidos
por deliberação, ainda que legítima, de Assembleia Geral que não os representa.
Aplicabilidade do Precedente Normativo no 119. De se
observar, que os poderes confiados pela norma constitucional às entidades, têm sua
limitação legal, diferentemente do que pretende a Reclamada.
O Tribunal Regional do trabalho da 2º Região , em recente
decisão assim entendeu:

TRT/SP – 01485200807502006;;
Rel. Silvia
Almeida
Prado; DOE
04/09/2009
EMENTA:Ação de Cumprimento. Contribuição Assistencial.
Empregados não Filiados ao Respectivo Sindicato. A cobrança da
contribuição assistencial dos não sindicalizados, ainda que
estipulada em Convenção Coletiva de Trabalho, viola o direito de
ampla liberdade e filiação previsto nos artigos 5°, XX, e 8°, V, ambos
da Constituição da República, bem como o disposto no artigo 545
da Consolidação das Leis do Trabalho, que condiciona o desconto
em folha de pagamento à autorização dos empregados. Recurso a
que se nega provimento.

3.1. DA AUTENTICIDADE DOS DOCUMENTOS QUE INSTRUEM A CONTESTAÇÃO

Conforme o disposto no artigo 830 da CLT, este


peticionário, declara autênticos todos os documentos que acompanham a presente
contestação, bem como os que serão juntados futuramente.
Os demais documentos juntados com a inicial não
corroboram a pretensão obreira, por tais motivos restam todos expressamente
impugnados.
4. DOS PEDIDOS

1) seja reconhecida a incompetência desta Justiça do


Trabalho para dirimir a presente lide, nos termos da fundamentação supra, e, por
consequência seja extinto o processo sem resolução do mérito nos termos dos artigos
485 do Código de Processo Civil, que se faz imperiosa, por que o TRT da 22ª Região
adotou o processo virtual em plataforma própria, incompatível com eventual processo
eletrônico adotado pela Justiça Comum Estadual Piauiense.
2) No mérito, Diante do exposto, requer o Município
Requerido, seja recebida a presente contestação, que ao final, seja julgada totalmente
improcedente a presente ação de cobrança de contribuição sindical, indeferindo todos
os pedidos formulados pelo autor, acima contestados, face a ausência de embasamento
fático e legal, condenando ainda ao pagamento das custas judiciais, bem como ao
pagamento dos honorários advocatícios à base de 20% sobre o valor da causa.
Protesta-se provar o alegado por todos os meios de prova
em direito admitidas, notadamente pelo depoimento pessoal da reclamante, oitiva de
testemunhas, prova documental e pericial se necessário for.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Dom Inocêncio-PI, 29 de março de 2017.

ADALTON OLIVEIRA DAMASCENO


OAB/PI Nº. 13.267

Você também pode gostar