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CIP-Brasil, Catalogagdo-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. C867! Lig6es de lingtifstica geral / Eugenio Cosertu 5 tradugto do Prof. Fvanildo Bechara. — Rio de Janeiro : Ao Livro Téenico, 1980. (Coleco Lingiifstica ¢ filologia) Tradugdo de: Lezione di linguistica generale Bibliografia ISBN: 85-215-0024-6 L. Lingiifstica 1, Titulo IT. Série CDD ~ 410 30-0428 DU ~ 801 12 Sistema, Norma e Falar Concreto 12.1. As estruturas, oposigdes ¢ fung&es “idiomdticas” (= de lingua) devem ser identificadas e estabelecidas na técnica da lingua funcional, ou mais exatamente, no Seu “Sistema”. De fato, a lingua funcional apresenta diferentes ordens ou niveis de GLuturacio. Isto também foi intufdo, pelo menos em parte, pelos representantes } da gramética gerativa transformacional. que falam de “n{veis de gramaticalidade”, 4 ainda que sem terem formulado critérios precisos com que se possam distinguir esses niveis e sem terem delimitado exatamente os niveis como tais, a Como ja tive ocasido de mostrar noutro lugar’ , as ordens de estruturagao 4 serem distinguidas s40 quatro, precisamente, a ordem da tealizaeao (falar con- creto) ¢ trés ordens de técnica propriamente dita ou técnica virtual (saber enquanto tal): a norma, o sistema da lingua e 0 tipo lingtistico: 4. tipo lingiifstico técnica virtual }°3. sistema lingua funcional 2. norma ‘técnica realizada: 1. falar concreto © falar concreto mais ou menos corresponde a parole de F. de Saussure ¢ se poderia também chamar “fala” (no sentido de processo, de dinamica, que contém 0 vocdbulo discurso), tendo-se de compreender © termo portugués no sentido saussu- | Sistema, norma y habla, Montevideo 1952 ¢ “Sincronfa, diacronia y tipologfa”, in: Actas del XI Congresso Internacional de Lingittstica y Filologia Romdnicas, Madrid 196i P. 269-281 120 LIQOES DE LINGUISTICA GERAL riano. A norma ¢ o sistema? da lingua correspondem, juntos, aproximadamente a langue saussuriana. E 0 tipo lingiiistico € uma ordem de estruturagdo que ndo foi identificada como tal por Saussure. 12.2.1. Observe-se que a norma da Lingua, o sistema e o tipo lingiifstico nao consti- tuem variedade interna da Ifngua histérica, mas representam a medida ou o grau de estruturago dessa mesma lingua. E oportuno, a este respeito, distinguir, com Flydal,? arquitetura e estrutura: a diversidade interna na lingua, isto é, 0 fato de na mesma lingua histérica coexistirem, para fungdes ardlogas, estruturas diferentes (¢ vice-versa) representa a “arquitetuza” e o fato da técnica lingiistica ser estruturada (isto 6, apresentar oposigdes funcionais na expressdo e no contetido) constitui a “estrutura” da lingua. Ou melhor: a circunstincia de uma lingua hist6rica encerrar uma colegao de linguas funcionais, em parte coincidentes, em parte diferentes, representa a sua arquitetura ou “estrutura externa”, enquanto a circunstincia de, entre os elementos duma mesma lingua funcional (isto é, de uma lingua unitdria e homogénea), existirem determinadas relagdes, constitui a “estrutura interna”, ow simplesmente a estrutura, desta lingua. 12.2.2. Disse-se, por exemplo, que ha falantes italianos que usam udire e sentire, enquanto outros falantes empregam apenas sentire, Ora, este nao é um fato de estrutura, mas de arquitetura do italiano: nao podemos examinar os dois usos simultaneamente, confundindo-os e declarando, por exemplo, que sentire tem um significado ndo bem delimitado, porque ora significa “perceber através de outros Orgos sensoriais” (port. “sentir”) e também “ouvir”, ora somente “perceber através de outros drgios sensoriais” (port. “sentir”), e no também “ouvir”. Na realidade, o significado de sentire é perfeitamente claro em qualquer dessas duas estruturas, mas estas estruturas se acham parcialmente superpostas na diversidade interna do italiano. A oposicdo entre pret. perfeito composto [it. passato prossimo] e pret. perfei- to [it passato remoto| (hofatto/feci) ndo se encontra nem pode ser estudada em geral, em toda a extensio do italiano, porque nas varias regiées da Itélia so diferen- tes as oposigGes em que entram estas formas: em algumas regiGes existem feci € ho fatto, em outras s6 aparece ho fatto ou s6 feci, ¢ ai € obviamente impossivel estabe- lecer uma oposi¢éo entre as duas formas, uma vez que s6 se usa uma delas. Ainda neste caso estamos diante de um fato de arquitetura do italiano, e também aqui ndo 2 © lingitista portugués José G. Herculano de Carvalho (Teoria da linguagem, Coimbra, 1973, 1, p. 273, adotando a tricotomia de E. Coseriu, preferiu o termo esquema (de Hjelmslev) a sistema, “para evitar ocultar que também a norma é sistema”. Entre nds brasileiros, Mattoso Camara preferia discurso ao termo fala, para evitar a idéia errada de que 0 conceito s6 se apli- cava 4 lingua oral. O Prof. Coseriu nfo usa neste caso 0 termo discurso porque este termo, como ja se viu (10.2.2.), 0 reserva para um dos niveis da linguagem em geral. (E.B.) + Art. cit, particularmente na p. 244

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