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DIREITO CONSTITUCIONAL PARA TÉCNICO DA ANATEL

PROFESSOR FREDERICO DIAS

Aula 1 – Constituição: conceito, classificações, princípios


fundamentais.
Olá!
Agora é a minha vez de entrar nesse pacote.
Portanto, seja bem-vindo(a) a este nosso curso, por meio do qual iremos
estudar o Direito Constitucional para concursos, especificamente para o
concurso de Técnico da Anatel.
Em primeiro lugar, quero agradecer a confiança e deixá-lo tranquilo(a), pois, a
cada aula, a cada assunto, abordarei os aspectos mais relevantes para fins de
concurso, fazendo o possível para tentar deixá-lo o mais claro possível. Mas,
sem me estender demais naquilo que tem pouca incidência em concursos.
Então, após passar a teoria, apresentarei como as questões têm abordado o
tema, o que facilitará a sua memorização. Em alguns casos, utilizarei a própria
questão para aprofundar num tema tratado durante a apresentação da teoria
(ou para mencionar algo ainda não comentado).
Meu nome é Frederico Dias e trabalho no Tribunal de Contas da União
(aprovado em 9° lugar no concurso de 2008 para o cargo de Auditor Federal
de Controle Externo). Mas, comecei minha carreira no serviço público ao ser
aprovado no concurso de Analista de Finanças e Controle da Controladoria
Geral da União - AFC-CGU (1° lugar nacional em 2008).
No final de 2010, lancei um livro de Questões Discursivas de Direito
Constitucional, em que resolvo e comento diversas questões dissertativas de
vários assuntos do Direito Constitucional. Este livro encontra-se esgotado, mas
já está em fase de impressão uma nova edição.
Ademais, em 2011, lancei também um livro de Questões comentadas do
Cespe.
Em 2012, por fim, lancei também um livro de Questões comentadas da
Esaf.
Este curso será composto de sete aulas, com o seguinte conteúdo.
Aula 1 - Constituição: conceito, classificações, princípios fundamentais.
Aula 2 - Direitos e garantias fundamentais – parte 1
Aula 3 - Direitos e garantias fundamentais – parte 2
Aula 4 - Organização políticoadministrativa: União, estados, Distrito Federal,
municípios e territórios.
Aula 5 - Poder Legislativo: Congresso Nacional, Câmara dos Deputados,
Senado Federal, deputados e senadores.
Aula 6 - Poder Executivo: atribuições do presidente da República e dos
ministros de Estado. Administração.
Aula 7 - Poder Judiciário: Disposições gerais e competências dos Órgãos do
Poder Judiciário.

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Ou seja, o curso será ministrado em 7 aulas.


Hoje, começaremos estudando a parte mais teórica do Direito Constitucional, e
completaremos com o estudo dos princípios Fundamentais.
Vejamos, em forma de sumário, esse nosso conteúdo então.
1 – Direito Constitucional e Constituição
1.1 Conceitos: político, sociológico e jurídico
1.2 – Classificação das constituições
1.3 – Supremacia da Constituição
1.4 – Elementos das constituições
2 – Preâmbulo e ADCT
3 – Princípios Fundamentais
Desejo-lhe uma boa aula (ou melhor, uma boa conversa sobre direito
constitucional – que é o que teremos agora).

1 – Direito Constitucional e Constituição


Segundo José Afonso da Silva, o estudo do direito divide-se em três grandes
ramos.
1) Público (abrangendo constitucional, administrativo, urbanístico,
econômico, financeiro, tributário, processual, penal e internacional).
2) Social (abrangendo previdenciário e do trabalho).
3) Privado (abrangendo civil e comercial).
Como você deve ter observado, o Direito Constitucional integra o Direito
Público, mas se distingue dos seus demais ramos pela natureza específica de
seu objeto e por seus princípios peculiares. Afinal, o Direito Constitucional
refere-se diretamente à organização e funcionamento do Estado, à
articulação dos elementos primários do mesmo e ao estabelecimento das
bases da estrutura política.
O que seria, então, o Direito Constitucional?
Bem, podemos defini-lo como o ramo do Direito Público que expõe, interpreta
e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado. E tem como
objeto a Constituição desse Estado.
Quanto ao conceito de Constituição, podemos relacioná-lo à noção de forma
de organização do Estado.
Quando eu digo Estado, temos de relacionar essa concepção à junção de três
elementos fundamentais (território, população e governo) que podem ser
completados com mais um elemento: a finalidade. Assim, o Estado seria
constituído de um governo (poder institucionalizado) que tem por finalidade
essencial a regulamentação das relações sociais travadas pelos membros de
uma população distribuída em determinado território.

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Nesse sentido, qualquer Estado tem sua Constituição, independentemente de


estar essa organização compilada em um livro, um documento específico.
Todavia, o estudo sistemático da Constituição somente se desenvolve a partir
do momento em que os Estados passam a compilar em um único documento
as regras de organização de suas estruturas. E isso ocorre especialmente a
partir das revoluções burguesas do fim do séc. XVIII, cujos ideais iluministas e
liberais coincidiam com a necessidade de se estabelecer normas para o
funcionamento do Estado (até como forma de limitar seu poder).
É nesse ambiente que surge o constitucionalismo, movimento que concebeu a
ideia de limitação do poder estatal por meio da criação de um documento
escrito, que estabelecesse as regras fundamentais e supremas de organização
do Estado.
Como não podia deixar de ser, aquelas primeiras constituições eram sucintas.
Tratavam de poucos assuntos: (i) regras de organização do Estado; (ii)
exercício e transmissão do poder; e (iii) direitos e garantias fundamentais,
como forma de limitação do poder estatal.
Nesse contexto, cabe mencionar o conceito de Constituição ideal, decorrente
do triunfo do movimento constitucional no início do séc. XIX e apresentado por
J. J. Gomes Canotilho. Essa concepção identifica-se com os postulados político-
liberais e propugna que a Constituição deve: (i) ser escrita; (ii) consagrar um
sistema de garantias de liberdades (reconhecimento de direitos individuais e
sistema democrático formal); e (iii) limitar o poder do Estado por meio do
princípio da divisão dos poderes.
Mas, se as primeiras Constituições escritas e rígidas eram de orientação
puramente liberal; com o tempo elas começam a apresentar caráter social.
Com isso, as Constituições passam a expandir seu objeto, ganhando uma
vertente social. Passam a traçar os fins estatais e estabelecer programas e
linhas de direção para o futuro.
Bem, esse início é importante para contextualizar o assunto. Mas, em
concurso, o mais comum é serem cobrados os conceitos político, jurídico e
sociológico de Constituição (que passaremos a estudar).

1.1 Conceitos: político, sociológico e jurídico


Excepcionalmente neste assunto, é importante que você memorize os nomes
relacionados a cada uma das concepções de Constituição: política, sociológica
e jurídica.
Constituição em sentido POLÍTICO
Carl Schmitt é quem desenvolve a concepção política de Constituição.
Segundo esse conceito, a Constituição é uma decisão política fundamental.
Assim, a Constituição surge a partir de uma vontade política fundamental de
definir a forma e modo de organização do Estado.
Carl Schmitt estabeleceu uma distinção entre Constituição e leis
constitucionais. A Constituição disporia somente sobre as matérias
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substancialmente constitucionais, materialmente constitucionais devido à sua


grande relevância jurídica (organização do Estado, direitos e garantias
fundamentais etc.). Essas sim seriam, por excelência, as decisões políticas
fundamentais.
As demais matérias integrantes do texto da Constituição, de menor relevância,
seriam tão somente leis constitucionais.
Ou seja, uma coisa é tratar de temas realmente “importantes”,
substancialmente constitucionais, assunto para a Constituição. Outra coisa
seriam aqueles temas menos relevantes, que constituiriam o conteúdo de
meras leis constitucionais.
Com base nessa teoria, podemos mencionar um aspecto importante para
concursos: a distinção entre Constituição em sentido material e Constituição
em sentido formal.
Importante:
No sentido material de Constituição, as normas constitucionais são
identificadas a partir do seu conteúdo (somente são constitucionais as normas
que tratam de temas substancialmente constitucionais, como:
organização e finalidades do Estado e direitos fundamentais, por exemplo).
Já as demais normas constitucionais são apenas formalmente constitucionais
(têm “forma” de Constituição, na medida em que integram um documento
constitucional solenemente elaborado; mas, não têm conteúdo constitucional).
Assim, é importante você saber que há: (i) temas propriamente constitucionais
(substancialmente constitucionais); e (ii) temas que, apesar de menos
relevantes, integram a Constituição.
Não é pacífica a definição exata do que seja substancialmente constitucional.
De qualquer forma, há um núcleo de temas sobre os quais não há muita
controvérsia. Assim, seriam materialmente constitucionais temas como a
organização do Estado, distribuição de competências, regulação do exercício do
poder e limites ao poder do Estado (direitos fundamentais).
É importante conseguir entender bem essa distinção entre os sentidos material
e formal de Constituição. Alguns exercícios mais à frente auxiliarão seu
aprendizado.
Constituição em sentido SOCIOLÓGICO
Na concepção sociológica, a Constituição é concebida como fato social, como
resultado da realidade social do país, e não propriamente como norma. A
Constituição seria a soma dos fatores reais de poder que imperam na
sociedade (tais como a aristocracia, a burguesia, os banqueiros etc.).
Aquele documento escrito teria a função de simplesmente sistematizar essa
correlação de forças, e só teria eficácia se, de fato, representasse os valores
sociais da sociedade.
Essa noção é defendida por Ferdinand Lassalle, segundo o qual há duas
Constituições: a real e a escrita. A real é a “soma dos fatores reais de poder” e

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a escrita, mera “folha de papel”. Em caso de conflito, aquela sempre


prevalecerá sobre esta.
Dessa forma, Lassalle nega a força normativa da Constituição escrita. Afinal,
para ele, se a Constituição escrita não representar a real soma dos fatores de
poder, ela não passará de uma folha de papel.
Constituição em sentido JURÍDICO
Para Hans Kelsen, defensor da concepção jurídica de Constituição, a
Constituição é norma jurídica pura, sem qualquer consideração de ordem
social, política, moral ou filosófica.
Nesse caso, a Constituição teria um caráter estritamente formal.
É interessante como a visão de Kelsen contrapõe-se à concepção sociológica
de Ferdinand Lassalle. Por um lado, Lassalle nega a força normativa da
Constituição, ao considerar que ela só teria valor se representasse os fatores
reais de poder. Ao contrário, na visão de Kelsen, a validade de uma norma
independe da sua aceitação pelo sistema de valores sociais da sociedade.
Kelsen estabeleceu uma distinção entre Constituição em sentido lógico-
jurídico e Constituição em sentido jurídico-positivo.
De acordo com o sentido lógico-jurídico, a Constituição significa norma
fundamental hipotética, cuja função é servir de fundamento lógico
transcendental da validade da Constituição jurídico-positiva. Ou seja, trata-se
de fato instaurador não positivado (já que apenas pressuposto, pensado,
imaginado), origem de todo o processo de criação das normas.
Já em seu sentido jurídico-positivo, a Constituição equivale à norma positiva
suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras normas, lei
nacional no seu mais alto grau.
Assim, enquanto o jurídico-positivo está corporificado pelas normas postas,
positivadas, o lógico-jurídico situa-se em nível do suposto, do hipotético (haja
vista não configurar norma editada por nenhuma autoridade).
A partir desse conceito de Kelsen, você já pode observar algo interessante: há
um escalonamento das normas, em que uma constitui fundamento de validade
para a outra (hierarquicamente inferior), constituindo uma verticalidade
hierárquica.
Assim, podemos dizer que as normas inferiores buscam seu fundamento de
validade numa norma superior, e esta na Constituição (lei nacional no seu mais
alto grau), que se caracteriza como fundamento de validade de todo
ordenamento jurídico. Segundo Kelsen, essa Constituição positivada busca seu
fundamento de validade na norma hipotética fundamental (sentido lógico-
jurídico).
O que você acha de esquematizarmos esses importantes sentidos da
Constituição? Já fiz isso por você...

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Sintetizando:

Vamos ver como o Cespe cobra esse assunto.


1) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/TJ/ES/2011) A concepção sociológica,
elaborada por Ferdinand Lassale, considera a Constituição como sendo a
somatória dos fatores reais de poder, isto é, o conjunto de forças de índole
política, econômica e religiosa que condicionam o ordenamento jurídico de
determinada sociedade.
De fato, para Lassalle, a Constituição reflete a soma dos fatores reais de
poder (resultante das forças sociais que imperam na sociedade).
Item certo.
2) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MMA/2009) No sentido sociológico
defendido por Ferdinand Lassalle, a Constituição é fruto de uma decisão
política.
O Cespe vai tentar te confundir misturando os conceitos, portanto, fique
atento. Por isso, aquele esquema que apresentei acima facilita sua vida, pois
te ajuda a memorizar as “palavras-chave” envolvidas com cada conceito.
Para a visão política de Constituição (Carl Schmitt) é que a Constituição é uma
decisão política fundamental (do poder constituinte).
Para Lassale (concepção sociológica), a Constituição é concebida como fato
social, como resultado da realidade social do país, e não propriamente como
norma; a Constituição seria, assim, a soma dos fatores reais de poder que
imperam na sociedade.
Item errado.
3) (CESPE/ANALISTA/DIREITO/INCA/2010) Para Carl Schmitt, a constituição
de um Estado deveria ser a soma dos fatores reais de poder que regem a

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sociedade. Caso isso não ocorra, ele a considera como ilegítima, uma
simples folha de papel.
Carl Schmitt defende o sentido político de Constituição, segundo o qual a
Constituição é uma decisão política fundamental (do poder constituinte).
A definição apresentada na questão refere-se ao sentido sociológico de
Constituição, defendido por Ferdinand Lassalle.
Item errado.
4) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MMA/2009) No sentido jurídico, a
Constituição não tem qualquer fundamentação sociológica, política ou
filosófica.
Na visão jurídica (Hans Kelsen), a Constituição é percebida de uma perspectiva
estritamente formal: norma jurídica pura, desprovida de influências de ordem
sociológica, política, moral ou filosófica.
Item certo.
5) (CESPE/PROCURADOR DO ESTADO/PB/2008) A constituição é, na visão de
Ferdinand Lassalle, uma decisão política fundamental e, não, uma mera
folha de papel.
Para Ferdinand Lassalle, a Constituição escrita só terá eficácia caso retrate, em
seu texto, a soma dos fatores reais de poder (visão sociológica). De outro
modo, não passará de uma folha de papel.
A ideia da Constituição como uma decisão política fundamental decorre da
visão política (Carl Schmitt).
Item errado.
6) (CESPE/PROCURADOR DO ESTADO/PB/2008) Para Carl Schimidt, o objeto
da constituição são as normas que se encontram no texto constitucional,
não fazendo qualquer distinção entre normas de cunho formal ou material.
De acordo com o que vimos, a questão está errada, pois Carl Schmitt faz uma
distinção entre “Constituição” e “leis constitucionais”: a Constituição dispõe
somente sobre as matérias de grande relevância jurídica, isto é, sobre as
decisões políticas fundamentais (normas substancialmente constitucionais); as
demais normas integrantes do texto da Constituição seriam, apenas, leis
constitucionais (normas apenas formalmente constitucionais).
Item errado.
7) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA/STF/2008) Considere a
seguinte definição, elaborada por Kelsen e reproduzida, com adaptações,
de José Afonso da Silva (Curso de Direito Constitucional Positivo. São
Paulo: Atlas, p. 41...). A constituição é considerada norma pura. A palavra
constituição tem dois sentidos: lógico-jurídico e jurídico-positivo. De
acordo com o primeiro, constituição significa norma fundamental
hipotética, cuja função é servir de fundamento lógico transcendental da
validade da constituição jurídico-positiva, que equivale à norma positiva
suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras normas, lei

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nacional no seu mais alto grau. É correto afirmar que essa definição
denota um conceito de constituição no seu sentido jurídico.
Como vimos, na concepção jurídica de Constituição (Hans Kelsen), a
Constituição é vista a partir de uma perspectiva estritamente formal, como
norma pura, desprovida de qualquer consideração de cunho sociológico, moral,
político ou filosófico.
Nesse sentido, para o mesmo autor, o termo Constituição apresenta dois
sentidos: sentido lógico-jurídico (norma fundamental hipotética) e sentido
jurídico-positivo (norma positiva suprema, que regula a criação das demais
normas).
Item certo.
8) (CESPE/AGENTE DE POLÍCIA/SECAD/TO/2008) A concepção política de
Constituição, elaborada por Carl Schmitt, compreende-a como o conjunto
de normas que dizem respeito a uma decisão política fundamental, ou
seja, a vontade manifestada pelo titular do poder constituinte.
Essa é a teoria de Carl Schmitt (concepção política), segundo a qual a
Constituição abrange as decisões políticas fundamentais.
Item certo.

1.2 – Classificação das constituições


Em todo direito constitucional, há diversas formas de se classificar
determinada Constituição. Vamos estudar aqui as classificações mais
relevantes para fins de concurso público.
As Constituições podem ser classificadas:
- quanto ao conteúdo;
- quanto à forma;
- quanto ao modo de elaboração;
- quanto à origem;
- quanto à estabilidade;
- quanto à extensão;
- quanto à finalidade; e
- quanto à correspondência com a realidade.
Vejamos uma a uma.
Quanto ao conteúdo: materiais e formais
Já falamos um pouco sobre o sentido material e formal de Constituição.
Constituição material (ou substancial) é aquele conjunto de normas
substancialmente constitucionais. Não importa se as normas estão ou não
codificadas em um único documento (um livro denominado “Constituição”). Se

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a norma fala sobre temas substancialmente constitucionais, ela integra a


Constituição material.
A Constituição formal é aquela que está restrita a um documento solene, de
forma escrita. Assim, independentemente do tema sobre o qual versem,
aquelas normas ali inseridas terão status de normas constitucionais.
Observem a Constituição de 1988. Ela é do tipo formal, tendo em vista que
qualquer dos temas inseridos naquele documento revestem-se da mesma
dignidade jurídica. Não importa se trata da organização do Estado (tema
essencialmente constitucional, substancialmente constitucional) ou de qualquer
outro aspecto pouco relevante, o que importa é o processo de formação, é o
fato de aquela norma estar dentro daquele documento.
Quer um exemplo para esclarecer?
O art. 242, § 2° da CF/88 assim dispõe: “O Colégio Pedro II, localizado na
cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal.”
Acho que fica claro para qualquer um que isso não tem dignidade
constitucional. Não é um assunto essencialmente constitucional. Entretanto,
segundo o sentido formal de Constituição, o que importa é o fato de ele
integrar a Constituição. É dizer, o art. 242, § 2° é tão formalmente
constitucional quanto os artigos que estabelecem os princípios constitucionais
ou os direitos fundamentais.
Quanto à forma: escritas e não escritas
Constituição escrita é aquela solenemente elaborada por um órgão
constituinte num determinado momento. Disso resulta um documento escrito,
integrado por todas as normas constitucionais. E aquele documento é que rege
todo ordenamento jurídico, regulando jurídica e efetivamente as relações da
vida e dirigindo as condutas.
Há autores que subdividem essa classificação: se suas normas forem
sistematizadas em documento único, serão consideradas codificadas. Ao
contrário, se forem formadas por diferentes textos esparsos, receberão a
denominação de escritas legais.
Já a Constituição não escrita (costumeira ou consuetudinária) é aquela que
surge com o lento passar do tempo, como resultado de lenta síntese da
evolução histórica do Estado. É integrada por leis escritas esparsas,
jurisprudências, normas costumeiras e convenções.
A Constituição de 1988 é do tipo escrita, pois está compilada em um único
documento elaborado por um órgão constituinte.
Atenção! É errado dizer que a Constituição não escrita é integrada apenas por
normas costumeiras, sem textos propriamente ditos. Observe que esse tipo de
Constituição pode ser formado, também, por algumas normas escritas,
adicionalmente aos costumes e convenções.
Quanto ao modo de elaboração: dogmáticas e históricas
Constituição dogmática é formada em determinado momento histórico,
baseada nas ideias, ideologias e princípios da teoria política e do direito
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daquele tempo. É o caso da Constituição de 1988, que foi elaborada por uma
assembléia constituinte, em determinado momento fixo, segundo os dogmas
reinantes àquela época.
Ao contrário, a Constituição histórica é fruto da lenta e contínua síntese da
história daquele povo, constituindo um longo processo de formação. Ou seja,
não é formulada em um momento pontual e temporalmente determinado.
Quanto à origem: promulgadas e outorgadas
Constituição promulgada (democrática ou popular) é produzida pela
participação popular, normalmente por força do regime de democracia
representativa. Assim, a Constituição surge do trabalho de uma assembleia
constituinte, formada por representantes do povo (eleitos democraticamente).
Por outro lado, a Constituição outorgada é imposta de forma unilateral pelo
poder da época, sem a participação popular. Trata-se de obra de um agente
revolucionário que atua sem legitimidade para representar o povo.
Há a Constituição cesarista, que também não é democrática. Trata-se de
uma Constituição elaborada pelo detentor do poder e submetida ao povo, com
vistas a referendar aquele documento, dando a ele ares de aparente
legitimidade.
No Brasil, já tivemos tanto Constituições promulgadas, quanto outorgadas.
Sabendo um pouquinho de história você pode ter uma noção inicial do perfil
daquela Constituição. É só verificar o “ambiente” em que surge aquela
Constituição.
I) A primeira Constituição foi a 1824, que era imperial e outorgada.
II) Em 1937, tivemos uma Constituição outorgada, durante o regime totalitário
de Getúlio Vargas (Estado Novo).
II) A Constituição de 1967 e a emenda constitucional de 1969 foram
outorgadas logo após o golpe militar de 1964 e regeram o país até 1988.
Em suma, na história do constitucionalismo brasileiro tivemos Constituições
outorgadas (1824, 1937, 1967 e 1969) e Constituições promulgadas (1891,
1934, 1946 e 1988).

Quanto à estabilidade (ou alterabilidade): imutáveis, rígidas,


flexíveis e semi-rígidas
A Constituição imutável é aquela que não admite alteração do seu texto em
nenhuma hipótese. Atualmente, podemos dizer que esta forma está em desuso
(constituem relíquias históricas), tendo em vista que a imutabilidade pode
resultar na total desconexão entre a Constituição e a realidade à sua volta.
A Constituição rígida é aquela que admite alteração do seu texto, mas
somente mediante um processo legislativo solene, mais dificultoso do que
aquele de elaboração das leis.
A Constituição flexível admite alteração do seu texto mediante processo
legislativo simples, igual ao de elaboração das leis. Em regra, são também não
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escritas (classificação quanto à forma), mas podem ser excepcionalmente


escritas.
A Constituição semiflexível ou semirrígida mescla os dois tipos anteriores.
Exige um procedimento especial para alteração de parte do seu texto (parte
rígida) e permite a alteração da outra parte mediante procedimento simples,
igual ao de elaboração das leis (parte flexível).
Destaque-se que, no Brasil, todas as Constituições foram do tipo rígida
(inclusive a de 1988), exceto a Imperial de 1824, que foi do tipo semirrígida.
A propósito, quer ver como funciona uma Constituição semi-rígida? A
Constituição de 1824 apresentava a seguinte regra no seu artigo 178:
“Art. 178. É só Constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições
respectivas dos Poderes Políticos, e aos Direitos Políticos e individuais dos
Cidadãos. Tudo o que não é Constitucional pode ser alterado, sem as
formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinárias.”
Ou seja, a própria Constituição traz um dispositivo que indica qual é a sua
parte rígida (que vai exigir procedimento mais dificultoso para sua
modificação) e qual é a sua parte flexível.
Atenção! Apesar de a Constituição de 1988 ser do tipo rígida, há na doutrina
(Alexandre de Moraes) quem a classifique como super rígida, uma vez que
possui um núcleo não passível de supressão (cláusulas pétreas).
Quanto à extensão: sintéticas e analíticas
A Constituição sintética (breve ou concisa) é aquela de texto abreviado, que
trata apenas de matérias substancialmente constitucionais.
De outra forma, a Constituição analítica (extensa ou prolixa) é aquela de
texto extenso, tratando de matérias variadas, e não só de temas
substancialmente constitucionais.
A Constituição de 1988 é classificada como analítica, pois apresenta texto
extenso, abrangendo normas materialmente constitucionais, normas apenas
formalmente constitucionais e normas programáticas. Nesse sentido, nossa
Constituição segue a tendência moderna de as Constituições analíticas como
forma de: (i) conferir maior estabilidade a certas matérias, levando-as para o
texto da Constituição; e (ii) assegurar uma maior proteção social aos
indivíduos, por meio da fixação de programas e diretrizes de política social
para a concretização futura pelos órgãos estatais.
Quanto à finalidade: garantia, balanço e dirigente
A Constituição garantia (negativa) é aquela de texto abreviado (sintética)
que se limita a estabelecer as garantias fundamentais e limites frente ao
Estado. Podemos dizer que elas “olham para o passado”, no sentido de
garantir aquelas conquistas.
A Constituição balanço é aquela elaborada para retratar a vida do Estado
por um período certo de tempo. Podemos dizer que elas “olham o presente”.

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A Constituição dirigente (ou programática) tem texto extenso (analítica) e,


além de estabelecer as garantias fundamentais frente ao Estado, fixam
programas e diretrizes para a atuação futura dos órgãos estatais, normalmente
de cunho social. Em suma, elas “olham para frente, para o futuro”.
Nasceram com o surgimento do chamado Estado Social, e passaram a
introduzir, no texto constitucional, verdadeiros programas sociais a serem
concretizados no futuro pelos órgãos estatais. Esses programas, em sua
maioria de cunho social-democrático, correspondem às chamadas “normas
programáticas”.
Quanto à correspondência com a realidade: normativas,
nominativas e semânticas
Karl Loewenstein formulou uma classificação que leva em conta a
correspondência entre o texto constitucional e a realidade política do Estado.
A Constituição normativa é aquela que consegue efetivamente normatizar a
vida política do Estado, limitando sua ingerência por meio da garantia de
direitos aos indivíduos. Existe em países em que há perfeita correspondência
entre as normas estabelecidas (pela Constituição) e a realidade (o que, de
fato, ocorre na vida política do Estado).
A Constituição nominativa é aquela que tem o objetivo de regular a vida
política do Estado, mas não consegue cumprir essa função. Ou seja, até que se
busca essa normatização das relações em sociedade, mas sem sucesso.
Por fim, há ainda a Constituição semântica, em que não há sequer o
objetivo de limitar a ingerência estatal em favor do indivíduo. Busca-se apenas
conferir legitimidade meramente formal aos governantes, servindo como
instrumento em favor dos detentores do poder.
Façamos umas questões para fixar o conteúdo; mas, antes, vamos organizar
tudo isso que eu falei.

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Sintetizando:

Agora, veja como o Cespe tentou pegar os candidatos desprevenidos nesta


questão do concurso do TCU.
9) (CESPE/AUFC/TCU/2011) Constituição rígida é a que não pode ser
alterada.
Não, não. A Constituição rígida pode, sim, ser alterada, desde que por um
procedimento mais árduo, mais dificultoso, do que aquele previsto para as
demais leis.
Item errado.
10) (CESPE/PROCURADOR/AGU/2010) Segundo a doutrina, quanto ao critério
ontológico, que busca identificar a correspondência entre a realidade
política do Estado e o texto constitucional, é possível classificar as
constituições em normativas, nominalistas e semânticas.
Quanto à correspondência com a realidade (critério ontológico), Karl
Loewenstein divide as constituições em normativas, nominativas (ou
nominalistas) e semânticas. Portanto, correto o item.
I) Normativa → consegue efetivamente normatizar a vida política do Estado.
II) Nominativa → tem o objetivo de regular a vida política do Estado, mas
não consegue cumprir essa função.
III) Semântica → não há sequer o objetivo de limitar a ingerência estatal em
favor do indivíduo. Busca-se apenas conferir legitimidade meramente formal
aos governantes.
Item certo.

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11) (CESPE/TÉCNICO JUDICIÁRIO/TRE/ES/2011) Denomina-se constituição


outorgada a elaborada e estabelecida com a participação do povo,
normalmente por meio de Assembleia Nacional Constituinte.
O conceito apresentado na questão relaciona-se à Constituição promulgada
(e não à outorgada).
Item errado.
12) (CESPE/AGENTE DE POLÍCIA/SECAD/TO/2008) Constituição em sentido
formal é a que trata de temas e matérias de índole constitucional,
legitimando o poder transferido pela sociedade ao Estado.
A Constituição que trata de matérias e temas de índole constitucional é a
Constituição em sentido material. A constituição em sentido formal é aquela
existente em documento único, escrito, e que traz em seu bojo não só
assuntos substancialmente constitucionais. De qualquer forma, todas as suas
normas têm a mesma hierarquia, mantêm status de constituição.
Item errado.
13) (CESPE/AGENTE DE POLÍCIA/SECAD/TO/2008) Constituição em sentido
material é a que trata de matéria tipicamente constitucional,
compreendendo as normas que dizem respeito à estrutura mínima e
essencial do Estado.
A questão apresenta corretamente o conceito de Constituição em sentido
material.
Item certo.
14) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MMA/2009) A CF vigente, quanto à
sua alterabilidade, é do tipo semiflexível, dada a possibilidade de serem
apresentadas emendas ao seu texto; contudo, com quorum diferenciado
em relação à alteração das leis em geral.
A assertiva está errada, pois a CF/88 é do tipo rígida. Até admite alteração do
seu texto, mas somente mediante um processo legislativo solene, mais
dificultoso do que aquele de elaboração das leis.
Por sua vez, as Constituições semirrígidas são aquelas que exigem um
procedimento especial para alteração de parte do seu texto (parte rígida) e
permitem a alteração da outra parte mediante procedimento simples, igual ao
de elaboração das leis (parte flexível).
Item errado.
15) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MMA/2009) Uma Constituição do tipo
cesarista se caracteriza, quanto à origem, pela ausência da participação
popular na sua formação.
Na formação de uma Constituição do tipo cesarista há, sim, participação do
povo, haja vista que caberá a este referendar (ou não) o texto constitucional
previamente elaborado.
Item errado.

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16) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MMA/2009) Uma Constituição


classificada como semiflexível ou semirrígida significa que ela é tanto
rígida como flexível, com certas matérias que exigem um processo de
alteração mais dificultoso do que o exigido para alteração de leis
infraconstitucionais.
O enunciado está de acordo com o conceito apresentado anteriormente.
Item certo.
17) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MMA/2009) A CF, quanto à origem, é
promulgada, quanto à extensão, é analítica e quanto ao modo de
elaboração, é dogmática.
De fato, a nossa Constituição Federal de 1988 é do tipo promulgada
(elaborada com participação popular, por meio de representação). É analítica
(de texto extenso, tratando das mais variadas matérias). E é dogmática
(escrita por um órgão constituinte, apresentando as idéias reinantes no
momento de sua elaboração).
Item certo.
18) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA/TRT 1ª REGIÃO/2008) A
CF é dogmática porque é escrita, foi elaborada por um órgão constituinte
e sistematiza dogmas ou idéias da teoria política de seu momento
histórico.
De fato a CF/88 é dogmática, já que é uma Constituição escrita, elaborada por
um órgão constituinte e que retrata os dogmas ou idéias reinantes à época de
sua elaboração.
Item certo.
19) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA/TRT 1ª REGIÃO/2008) A
atual CF foi outorgada porque não foi votada diretamente pelo povo, mas
sim por seus representantes.
A CF/88 foi promulgada (democrática), exatamente por ter sido votada pelos
representantes do povo. Seria outorgada caso editada unilateralmente pelo
detentor do poder, em participação do povo (ou de seus representantes
legítimos).
Item errado.
20) (CESPE/JUIZ/PB/2011) Quanto ao modo de elaboração, a vigente CF pode
ser classificada como uma constituição histórica, em oposição à dita
dogmática.
A vigente CF/88 pode ser considerada como dogmática, em oposição à
histórica.
Item errado.
21) (CESPE/JUIZ/PB/2011) O objeto da CF é a estrutura fundamental do
Estado e da sociedade, razão por que somente as normas relativas aos
limites e às atribuições dos poderes estatais, aos direitos políticos e
individuais dos cidadãos compõem a Constituição em sentido formal.
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O Cespe é impressionante! Traz questões que emocionam...rs


O objeto de uma Constituição realmente é a estrutura do Estado e da
sociedade - esses são os temas materialmente (substancialmente)
constitucionais – têm substância (matéria) de Constituição.
As normas relativas aos limites e às atribuições dos poderes estatais, aos
direitos políticos e individuais dos cidadãos compõem esse núcleo
substancialmente constitucional.
Agora, a questão afirma que essas matérias substancialmente constitucionais
são o que compõe a Constituição em sentido formal, o que você acha?
Não! Isso compõe a Constituição em sentido material.
“- Uai, Fred, então o que compõe a Constituição em sentido formal?”
Qualquer coisa que estiver dentro de um documento chamado “Constituição”.
Qualquer norma que, formalmente, integre o texto da Constituicão,
independentemente do assunto de que trate essa norma.
Item errado.
22) (CESPE/JUIZ/PB/2011) Distintamente da constituição analítica, a
constituição dirigente tem caráter sintético e negativo, pois impõe a
omissão ou negativa de ação ao Estado e preserva, assim, as liberdades
públicas.
Não, a Constituição dirigente tem caráter analítico, e não sintético. A
Constituição garantia, sim, é que teria um caráter sintético e negativo,
impondo omissões (melhor seria falar em “abstenções”) do Estado e
preservando, com isso, as garantias fundamentais do cidadão.
Item errado.
23) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/AGU/2010) A CF sofreu, ao longo de
sua existência, enorme quantidade de emendas; apesar disso, ela é
classificada pela doutrina como rígida, escrita, democrática, dogmática,
eclética, formal, analítica, dirigente, normativa, codificada, social e
expansiva.
Deixei esta questão por último, uma vez que ela abordou classificações
raramente cobradas em concursos.
Em primeiro lugar, cabe mencionar que, de fato, a CF/88 é do tipo: (i) rígida
(exige procedimento mais árduo para alteração dos seus dispositivos do que
para a mudança das demais leis); (ii) escrita (redigida em documento único,
por um órgão constituinte); (iii) democrática (elaborada por representantes do
povo democraticamente eleitos); (iv) dogmática (reflete a ideologia reinante
em determinado momento histórico delimitado no tempo); (v) formal (trata
não só de normas substancialmente constitucionais); (vi) analítica (de texto
extenso, tratando de matérias variadas, e não só de temas substancialmente
constitucionais); (vii) dirigente (além de estabelecer as garantias fundamentais
frente ao Estado, fixa programas e diretrizes para a atuação futura dos órgãos
estatais); e (viii) normativa (efetivamente regula a vida política do Estado).

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Ademais, há outras classificações esparsas desenvolvidas pela doutrina e


raramente cobradas em concursos. Assim, está correto dizer que a CF/88
também poderia ser classificada como: codificada, social, expansiva e eclética.
Segundo Paulo Bonavides, as constituições podem ser codificadas ou legais. As
codificadas seriam aquelas que se acham inteiramente num só texto,
formando um único corpo de lei (é o caso da CF/88). De outra forma, há as
constituições legais, que seriam compostas de textos escritos, mas que se
encontram de forma espalhada, fragmentada em vários textos esparsos.
Segundo o critério ideológico, as constituições podem ser sociais ou liberais. A
Constituição Federal de 1988 é do tipo social, pois se relaciona a uma atuação
positiva do Estado, em busca da consagração da igualdade material entre os
cidadãos e dos direitos sociais (direitos fundamentais de segunda geração). Já
as constituições liberais identificam-se com a ideologia liberal, relacionada ao
absenteísmo estatal, em que se exige um não fazer por parte do Estado
(direitos fundamentais de primeira geração).
Raul Machado Horta classifica a CF/88 como expansiva, na medida em que
traz temas novos e amplia temas permanentes (como é o caso dos direitos
fundamentais).
Por fim, podemos classificar as constituições quanto à dogmática em ortodoxas
e ecléticas. As primeiras seriam aquelas formadas por uma única ideologia
(como a Constituição Soviética de 1977). Por sua vez, as constituições
ecléticas seriam aquelas formadas por ideologias conciliatórias, como é o caso
da CF/88.
Item certo.

1.3 – Supremacia da Constituição


Antes de passar para o próximo tópico, quero que você consiga identificar de
onde surge a chamada supremacia da Constituição.
Relembrando o que acabamos de falar ao tratar da classificação da
Constituição quanto à estabilidade... Se a nossa Constituição é rígida, ela
exige um procedimento especial para sua alteração, mais dificultoso do que o
das demais normas.
Ou seja, alterar a Constituição é mais difícil que alterar uma simples lei. Como
resultado, não pode uma simples lei revogar uma norma constitucional
qualquer, afinal a Constituição é mais forte do que as leis.
Veja que se o procedimento de alteração da Constituição fosse o mesmo das
demais leis, uma simples lei poderia alterar a Constituição. Afinal, imagine um
sistema de Constituição flexível, em que tanto as normas constitucionais
quanto as demais normas exigem apenas maioria simples para sua produção.
Nessa hipótese, qualquer lei aprovada por maioria simples após a Constituição
poderia revogar seus dispositivos. Isso porque nos sistemas de Constituição
flexível, não há superioridade formal entre as normas constitucionais e as

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demais leis. Assim sendo, estas (as leis) não precisam respeitar aquelas (as
normas constitucionais).
Daí ser importante você memorizar: a rigidez traz como conseqüência
lógica, o posicionamento da nossa Constituição Federal no vértice, no
topo do ordenamento jurídico. É nos ordenamentos de Constituição rígida
que vigora o princípio da supremacia formal da Constituição.
Por conseqüência, todos os atos e manifestações jurídicas, para permanecerem
no ordenamento jurídico, devem estar de acordo com a Lei Maior, a
Constituição.
Entretanto, você tem de saber que supremacia material e supremacia formal
não se confundem.
Essa superioridade que posiciona a Constituição em um plano superior e exige
conformidade das demais normas com seus princípios e suas regras consiste
na supremacia formal (supremacia decorrente das formalidades especiais
exigidas para a alteração das normas constitucionais).
Observe que essa força das normas constitucionais não existe devido ao seu
conteúdo. Não é a dignidade do tema tratado que faz nascer essa
superioridade. Ela decorre do simples fato de a norma estar dentro da
Constituição rígida.
Por seu turno, existe a supremacia material; aí sim, decorrente da matéria,
do conteúdo da norma. Essa supremacia decorre do fato de uma norma tratar
de matéria relevante, substancialmente constitucional. Não há qualquer
relação com o processo de elaboração da norma ou com o fato de ela estar
dentro ou fora de um documento único.
Supremacia formal → relaciona-se ao processo de elaboração;
Supremacia material → relaciona-se à dignidade do conteúdo;
É possível então que você já tenha formulado uma constatação interessante:
I) só há que se falar em supremacia formal das normas constitucionais em
um sistema de Constituição rígida;
II) já a supremacia material também existe nas Constituições flexíveis, não-
escritas, históricas e costumeiras.
Por fim, observe que, se a noção de supremacia formal posiciona a
Constituição acima de todas as demais normas, a Constituição funciona como
parâmetro de validade dessas normas, que devem sempre estar de acordo
com ela. Em outras palavras, o controle de constitucionalidade das leis e atos
normativos decorre da noção de supremacia formal da Constituição.

Rigidez Supremacia Controle de


Constitucional Constitucional Constitucionalidade

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24) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA/TRT 1ª REGIÃO/2008)


Tanto as constituições rígidas como as flexíveis apresentam superioridade
material e formal em relação às demais normas do ordenamento jurídico.
No caso de uma Constituição flexível, uma simples lei poderia alterar a
Constituição, pois esta não tem uma força maior. Significa dizer que, nos
sistemas de Constituição flexível, não há superioridade formal entre as
normas constitucionais e as demais leis. Portanto, errada a questão.
Entretanto, a supremacia material não decorre do procedimento, mas da
matéria, do conteúdo da norma. Essa supremacia decorre do fato de uma
norma tratar de matéria relevante, substancialmente constitucional. E nesse
caso, mesmo as constituições flexíveis dispõem de superioridade material.
Item errado.
25) (CESPE/TITULARIDADE DE SERVIÇOS NOTARIAIS E DE
REGISTRO/TJDFT/2008) A idéia de supremacia material da CF, segundo o
STF, é o que possibilita o controle de constitucionalidade.
A supremacia formal é que posiciona a Constituição no vértice, no topo do
ordenamento jurídico. Como conseqüência, todos os atos e manifestações
jurídicas, para permanecerem no ordenamento jurídico, devem estar de acordo
com a Lei Maior, a Constituição.
Daí a necessidade da existência de controle de constitucionalidade, para
verificar a compatibilidade desses atos e manifestações com as regras e
princípios da Constituição Federal.
Assim, errada a questão, pois só faz sentido falar-se em controle de
constitucionalidade se a Constituição estiver acima das leis (onde haja
supremacia formal constitucional).
Item errado.

1.4 – Elementos das constituições


Esse assunto é desenvolvido pelo professor José Afonso da Silva e vem sendo
cobrado pelas bancas examinadoras de concursos.
Como já foi comentado, tem sido observado o fenômeno da ampliação do
conteúdo das constituições, que vem ocorrendo ao longo da história e
resultando na distinção, já comentada, entre sentido formal e material de
Constituição.
Isso tem ocorrido especialmente após as constituições passarem a trazer em
seu conteúdo os fins e os objetivos do Estado, ao mesmo tempo em que este
Estado assume uma postura mais interventiva.
Assim, as constituições contemporâneas têm se apresentado repletas de
normas que tratam das matérias mais variadas. Tendo em vista essa
diversidade, José Afonso da Silva agrupa as normas em cinco categorias de
elementos constitucionais, a saber:

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I) elementos orgânicos – reúnem os dispositivos constitucionais relacionados


à organização, ao funcionamento e à estrutura do poder e do Estado. São
exemplos os títulos III (organização do Estado); IV (organização dos poderes e
do sistema de governo); VI (tributação e orçamento); e capítulos II e III do
título V (forças armadas e segurança pública);
II) elementos limitativos – abrangem os dispositivos referentes aos direitos e
garantias fundamentais (com exceção dos direitos sociais), que, como se sabe,
visam a limitar o poder do Estado;
III) elementos sócio-ideológicos – incluem as normas relacionadas à noção
de Estado de bem-estar social, que indicam o caráter intervencionista e
social das constituições modernas. São exemplos os direitos sociais e os
títulos VII (ordem econômica e financeira) e VIII (ordem social);
IV) elementos de estabilização constitucional – consubstanciam normas
destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da
Constituição, do Estado e das instituições democráticas. Inclui os arts. 102 e
103 (jurisdição constitucional); o art. 60 (processo de emenda constitucional);
os arts. 34 a 36 (intervenção); e o capítulo I do título V (estado de defesa e
estado de sítio);
V) elementos formais de aplicabilidade – normas que estatuem regras de
aplicação das constituições. São exemplos o preâmbulo, as disposições
constitucionais transitórias (ADCT); bem como o § 1° do art. 5°, segundo o
qual “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata”.
26) (CESPE/ANALISTA PROCESSUAL/MPE/PI/2012) O Preâmbulo e o Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias são exemplos dos denominados
elementos de estabilização constitucional.
Na verdade, o preâmbulo e o ADCT são considerados elementos formais de
aplicabilidade.
Item errado.
27) (CESPE/JUIZ/PB/2011) Por limitarem a atuação dos poderes estatais, as
normas que regulam a ação direta de inconstitucionalidade e o processo
de intervenção nos estados e municípios integram os elementos ditos
limitativos.
Veja como o examinador foi traiçoeiro...
Os instrumentos de controle de constitucionalidade e intervenção são
caracterizados como elementos de estabilização constitucional. Os elementos
limitativos são os direitos e garantias fundamentais.
Item errado.
28) (CESPE/JUIZ/PB/2011) Os elementos formais de aplicabilidade são
exteriorizados nas normas constitucionais que prescrevem as técnicas de
aplicação delas próprias, como, por exemplo, as normas inseridas no Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias.

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De fato, a questão caracteriza corretamente os elementos formais de


aplicabilidade.
Item certo.
29) (CESPE/DELEGADO/POLÍCIA CIVIL/PB/2008) O dispositivo constitucional
que determina a competência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para
julgar crimes cometidos por governador de estado insere-se no chamado
elemento formal de aplicabilidade.
O dispositivo constitucional que determina a competência do STJ para julgar
crimes cometidos por governador de estado insere-se nos chamados
elementos orgânicos da Constituição. Afinal, trata-se de regra que diz respeito
à relação entre os poderes.
Item errado.
30) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA/STJ/2008) Os direitos e
garantias fundamentais são considerados elementos limitativos das
constituições.
De fato, os direitos e garantias fundamentais integram os denominados
elementos limitativos das constituição.
Item certo.

Passemos, agora, ao estudo da Constituição Federal de 1988.

2 –Preâmbulo e ADCT
Se você abrir a sua Constituição, a primeira coisa que você vai encontrar é o
preâmbulo, nos seguintes termos:
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na
harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a
solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus,
a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.”
Observe que é como se o preâmbulo estivesse contextualizando a Constituição
que o segue, funcionando, na verdade, como uma declaração de intenções,
uma proclamação de princípios.
É interessante observar os termos destacados (por mim) em negrito, pois dão
uma noção do “espírito” que influenciará toda a Constituição que segue após
esse preâmbulo.
É evidente que você não precisa saber esse texto! O preâmbulo não cai em
concurso... O que cai é o seguinte.

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O STF já firmou entendimento no sentido de que o preâmbulo não é norma


constitucional. Como vimos, trata-se apenas de mera manifestação de cunho
político/filosófico/ideológico. Portanto, não se insere no âmbito do Direito
Constitucional.
Daí, ser importante frisar para você que o preâmbulo não possui a mesma
força normativa das demais normas constitucionais: (i) não serve de
parâmetro para controle de constitucionalidade; (ii) não impõe limite ao poder
constituinte ao reformar a Constituição; e (iii) não é de observância obrigatória
pelos estados-membros na elaboração de suas Constituições (os estados não
precisam nem mesmo criar preâmbulo na Constituição Estadual!).
Logo após o preâmbulo vem a chamada parte dogmática (ou permanente)
da Constituição. É o corpo principal da Constituição, que vai do art. 1° ao
art. 250 (calma, nem tudo cai no seu concurso). Ali se localiza o essencial para
o estudo do Direito Constitucional.
Por fim, aparece o que chamamos de Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias – ADCT, que apresenta regras transitórias, visando regular
harmoniosamente a transição entre a Constituição antiga e o novo regime
constitucional.
Mas, objetivamente, o que você precisa saber sobre o ADCT?
Ao contrário do preâmbulo, o ADCT é uma norma constitucional como
qualquer outra, ressalvada a sua natureza transitória. Assim: (i) as normas
do ADCT são formalmente constitucionais; (ii) têm a mesma rigidez e situam-
se no mesmo nível hierárquico das demais normas constitucionais (não há
subordinação entre norma integrante do ADCT e norma do corpo principal da
Constituição); (iii) e podem ser modificadas (ou revogadas, ou acrescentadas)
por emenda à Constituição.
Nesse sentido, a única diferença entre as normas do ADCT e as demais (parte
dogmática, corpo principal da Constituição) é que a primeira tem natureza
transitória: ocorrida a situação transitória prevista na norma do ADCT, esgota-
se a sua eficácia.
Vamos ver se assunto tem alguma importância...
31) (CESPE/PROCURADOR/PGE-PE/2009) O preâmbulo constitucional,
segundo entendimento do STF, tem eficácia jurídica plena, consistindo em
norma de reprodução obrigatória nas constituições estaduais.
Como vimos, não podemos dizer que o preâmbulo tem eficácia normativa
plena. Ademais, não vincula os estados-membros.
Item errado.
32) (CESPE/ANALISTA/ADVOCACIA/SERPRO/2008) As normas da parte dita
permanente da CF são hierarquicamente superiores às do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias.
O ADCT é hierarquicamente equivalente às normas da parte permanente da
Constituição.
Item errado.
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33) (CESPE/OAB/2009) As disposições constitucionais transitórias são normas


aplicáveis a situações certas e passageiras; complementares, portanto, à
obra do poder constituinte originário e, situando-se fora da CF, não podem
ser consideradas parte integrante desta.
O ADCT integra a Constituição normalmente. Ou seja, ressalvada sua natureza
transitória, é norma constitucional como qualquer outra.
Item errado.
34) (CESPE/OAB/2009) Considerando-se que o conteúdo do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias é de direito intertemporal, não é
possível afirmar que suas normas ostentam o mesmo grau de eficácia e
de autoridade jurídica em relação aos preceitos constantes do texto
constitucional.
O ADCT é hierarquicamente equivalente às demais normas que integram a
Constituição.
Item errado.
35) (CESPE/OAB/2009) A doutrina constitucional majoritária e a jurisprudência
do STF consideram que o preâmbulo constitucional não tem força cogente,
não valendo, pois, como norma jurídica. Nesse sentido, seus princípios
não prevalecem diante de eventual conflito com o texto expresso da CF.
É isso mesmo. O preâmbulo não tem força de norma jurídica; não prevalece,
portanto, sobre as normas integrantes da Constituição.
Item certo.
36) (CESPE/OAB/2009) Por traçar as diretrizes políticas, filosóficas e
ideológicas da CF, o preâmbulo constitucional impõe limitações de ordem
material ao poder reformador do Congresso Nacional, podendo servir de
paradigma para a declaração de inconstitucionalidade.
O preâmbulo não é norma jurídica. Portanto, não serve como parâmetro para o
controle de constitucionalidade.
Item errado.

3 – Princípios Fundamentais na Constituição de 1988


Abrindo sua Constituição, logo após o preâmbulo, você encontrará os
princípios fundamentais.
Esses princípios relacionam-se às decisões políticas fundamentais da nossa
ordem constitucional. Assim, os princípios fundamentais constituem nos
valores máximos, as diretrizes, os fins mais gerais orientadores de toda a
nossa ordem constitucional. Eles é que definirão e caracterizarão o Estado, por
isso, serão a matriz da qual decorrem todas as demais normas constitucionais.
Os princípios fundamentais estão apresentados logo no início da Constituição
Federal de 1988 (arts. 1° ao 4°). Digamos que esse Título I da CF/88
apresenta as características mais essenciais do nosso Estado.

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Logo de início, já no caput do art. 1°, a Constituição já estabelece a forma de


Estado (Federação) e a forma de Governo (República), além de enunciar
nosso regime político como sendo um Estado democrático de Direito. Aproveito
para comentar que falarei mais sobre a forma republicana de governo na Aula
3.
Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito (...)
Observe que nosso regime político é democrático, em que prevalece a
soberania popular, como se observa no parágrafo único:
Par. Único - Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Um detalhe importante: observe que, na nossa democracia, o poder é
exercido não só por meio de representantes (eleitos pelo povo), como também
diretamente (como disposto no art. 14 da CF/88, são exemplos o plebiscito, o
referendo e a iniciativa popular).
Por fim, você deve ter em mente outro importante princípio enunciado no art.
2° da Constituição Federal.
Art. 2º - São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário.
Ou seja, esse artigo assegura o princípio da separação dos poderes (ou
divisão funcional do Poder), que consiste na repartição das funções estatais
(executiva, legislativa e judiciária) entre três órgãos distintos. Com isso, evita-
se a concentração de todo o poder nas mãos de uma única pessoa. Assim,
encontra respaldo naquela ideia antiga de que o poder corrompe-se quando
não encontra limites.
Podemos dizer que essa teoria representa uma forma de controle recíproco,
em que um poder controlaria as atividades do outro, a fim de se evitar desvios
e excessos. Esse sistema de controles recíprocos é denominado pela doutrina
como sistema de freios e contrapesos.
Prosseguindo, vamos relembrar quais são as funções típicas de cada um dos
poderes estatais:
a) Poder executivo → Administração
b) Poder Legislativo → Elaboração de leis e fiscalização
c) Poder Judiciário → Jurisdição
Não obstante, podemos dizer que o princípio da separação de poderes não é
rígido, de forma que todos os Poderes da República exercem
predominantemente funções típicas, mas, também, funções atípicas.
Nesse sentido, o Poder Legislativo desempenha função jurisdicional quando o
Senado Federal julga certas autoridades da República nos crimes de
responsabilidade (CF, art. 52, I e II e parágrafo único).

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Outros exemplos seriam o fato de tanto o Poder legislativo quanto o Poder


Judiciário exercerem a função executiva atipicamente, ao realizar concurso
público para suprir seu quadro de pessoal, ou realizar uma licitação para
compra de canetas, por exemplo.
É ou não é interessante isso? Vejamos como isso é cobrado:
37) (CESPE/TECNICO ADMINISTRATIVO/TRE/ES/2011) Constitui função típica
do Poder Judiciário a função jurisdicional.
A assertiva está correta, pois a função jurisdicional é exercida de forma típica
pelo Poder Judiciário.
Item certo.
Pois bem, vistos esses detalhes, você precisa saber que, dentro dos princípios
fundamentais, a Constituição diferencia:
I – os fundamentos;
II – os objetivos fundamentais; e
III – os princípios que regem as relações internacionais.
Objetivamente, você precisa memorizar os princípios e saber classificá-los
em cada uma dessas três principais categorias. Mas, fique tranquilo, pois não é
difícil distingui-los.
Os fundamentos estão expressos no art. 1° e podem ser considerados os
alicerces, as vigas mestras da nossa república. Dada a sua importância,
elaboramos um esquema que sintetiza as principais informações do art. 1°,
incluindo os 5 fundamentos:

República Federativa do Brasil Estado Democrático de Direito

Forma de governo e forma de Estado Regime político

I – soberania
formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal II – cidadania

III – dignidade da pessoa humana


tem como fundamentos
IV – valores sociais do trabalho e da
livre iniciativa

III – pluralismo político

Pois bem, são 5 os fundamentos. E eles podem ser memorizados por meio do
mnemônico: so-ci-di-va-plu. Sei que é ridículo... mas o importante é marcar
a letra correta na hora da prova, não é?...rs

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Aliás, veja esta questão de 2011 do Cespe, não saiu muito dessa forma de
cobrança (decoreba):
38) (CESPE/ANALISTA ADMINISTRATIVO/TRE/ES/2011) Constituem
fundamentos da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa
humana, a independência nacional e a igualdade entre as nações.
A dignidade da pessoa humana, de fato, é um dos fundamentos (CF, art. 1°,
III), mas não são fundamentos a “independência nacional” e nem a “igualdade
entre as nações”. Veremos mais à frente que constituem princípios que
regem o Brasil em suas relações internacionais (CF, art. 4°).
Item errado.
Já os objetivos fundamentais estão expressos no art. 3° da CF/88 e visam a
assegurar a igualdade material aos brasileiros, possibilitando iguais
oportunidades a fim de concretizar a democracia econômica, social e cultural e
tornar efetivo o fundamento da dignidade da pessoa humana. Observe que são
quatro os objetivos e todos eles começam com um verbo.

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

Objetivos II - garantir o desenvolvimento nacional;


fundamentais da
República III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
Federativa do Brasil: desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,


sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Observe como se trata de programas para o futuro, diretrizes a serem


alcançadas de forma a tornar mais justa a sociedade brasileira.
Restam ainda os 10 princípios que regem o Brasil em suas relações
internacionais (CF, art. 4°):
- Independência nacional (inc. I)
- Prevalência dos direitos humanos (inc. II)
- Autodeterminação dos povos (inc. III)
- Não-Intervenção (inc. IV)
- Igualdade entre os Estados (inc. V)
- Defesa da paz (inc. VI)
- Solução pacífica dos conflitos (inc. VII)
- Repúdio ao terrorismo e ao racismo (inc. VIII)
- Cooperação dos povos para o progresso da humanidade (inc. IX)

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- Concessão de asilo político (inc. X)


Esses princípios reforçam o reconhecimento da soberania como elemento de
igualdade dos Estados e o ser humano como cerne da atenção da República
brasileira.
O esquema abaixo agrupa tais princípios segundo um critério meramente
didático. Podemos relacionar um grupo de princípios à noção de soberania e
independência nacional. Outro grupo ao respeito aos direitos humanos. Há, por
fim, outro grupo que se relaciona à noção de preservação da paz. Mas, lembre-
se, trata-se de uma divisão apenas didática, para facilitar o aprendizado.
Sintetizando:

Por fim, tenha em mente o teor do parágrafo único do art. 4° da CF/88,


segundo o qual, a República Federativa do Brasil buscará a integração
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à
formação de uma comunidade latino-americana de nações.
39) (CESPE/ANALISTA DE INFRAESTRUTURA/MPOG/2010) A dignidade da
pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, bem
como a construção de sociedade livre, justa e solidária, figuram entre os
fundamentos da República Federativa do Brasil.
Fundamentos? SO–CI–DI–VA–PLU!!!
A construção de sociedade livre, justa e solidária é um dos objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil (não é um fundamento).
Item errado.

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40) (CESPE/ANALISTA DE INFRAESTRUTURA/MPOG/2010) Em suas relações


internacionais, a República Federativa do Brasil rege-se, entre outros
princípios, pelo da igualdade entre os estados, da não intervenção e da
vedação à concessão de asilo político.
Como vimos acima, a concessão de asilo político é um dos princípios que
regem a República Federativa do Brasil em suas relações internacionais. Os
demais princípios estão corretos (art. 4º da CF/88).
É interessante observar que a concessão de asilo político não impede a
extradição de estrangeiros no Brasil (extradição é o ato de um Estado que
entrega a outro Estado um indivíduo acusado de cometimento de crime).
Falaremos mais sobre esse assunto da aula que vem.
Item errado.
41) (CESPE/ASSESSOR TÉCNICO DE CONTROLE/TCE RN/2009) Entre os
objetivos da República Federativa do Brasil, destaca-se a valorização
social do trabalho e da livre iniciativa, pois, por meio do trabalho, o
homem garante sua subsistência e o consequente crescimento do país.
Atenção! As questões mais comuns sobre esse assunto tentam confundir
fundamentos, objetivos e princípios que regem as relações
internacionais da República Federativa do Brasil.
Nesta questão, valorização social do trabalho e da livre iniciativa é um
fundamento (não é um objetivo fundamental).
Item errado.
42) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA ADMINISTRATIVA/TRT 17ª
REGIÃO/2009) Segundo a CF, a República Federativa do Brasil deve
buscar a integração econômica, política, social e cultural dos povos da
América Latina, com vistas à formação de uma comunidade latino-
americana de nações.
O item reproduz corretamente o teor do parágrafo único do art. 4° da CF/88.
Item certo.
43) (CESPE/TÉCNICO JUDICIÁRIO/ÁREA ADMINISTRATIVA/TRT 17ª
REGIÃO/2009) De acordo com a Constituição Federal de 1988 (CF), todo o
poder emana do povo, que o exerce exclusivamente por meio de
representantes eleitos diretamente.
A soberania popular consiste num dos principais valores da nossa República.
Você poderia resolver a questão se tivesse memorizado o art. 1°, parágrafo
único da CF/88.
Ou então, você poderia observar também que o povo exerce seu poder não
apenas por meio dos seus representantes, mas também diretamente.
Item errado.
44) (CESPE/ASSESSOR TÉCNICO DE CONTROLE/TCE RN/2009) Constituem
princípios que regem a República Federativa do Brasil em suas relações

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internacionais, entre outros, a prevalência dos direitos humanos, da


garantia do desenvolvimento nacional e da autodeterminação dos povos.
Garantir o desenvolvimento nacional é objetivo fundamental (e não
princípio que rege o Brasil em suas relações internacionais).
Os objetivos fundamentais iniciam com verbos no infinitivo. Mas observe que o
examinador tentou confundir o candidato trocando o verbo (“garantir”) por um
substantivo equivalente (“garantia”).
Assim, é bom ficar atento a isso.
Item errado.
45) (CESPE/TÉCNICO DE NÍVEL SUPERIOR/RELAÇÕES INTERNACIONAIS
/MS/2008) É proibida a ingerência em assuntos internos de outros países,
salvo em relação a questões que se desenrolem no âmbito do MERCOSUL.
Com base nos princípios da independência nacional, da não-intervenção e
da auto-determinação dos povos, o Brasil deverá respeitar a soberania dos
demais Estados nacionais. Assim, não se admite a ingerência em assuntos
internos de outros países, sejam eles do Mercosul ou não.
Item errado.

Bom, diante dessas questões, deu pra perceber que vale a pena memorizar
esses quatro primeiros artigos da nossa CF, não é?
Guarde esses detalhes.
Por hoje é só. Estou bastante empolgado com o nosso curso. Espero que você
tenha gostado da aula.
Um abraço e bons estudos!
Frederico Dias

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Constitucional Descomplicado, 2009.
HOLTHE, Leo Van. Direito Constitucional, 2010.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, 2009.
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo
Gonet. Curso de Direito Constitucional, 2009.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, 2007.
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional, 2010.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 2010.
http://www.stf.jus.br
http://www.cespe.unb.br

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