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Advertência acadêmica:

O material a seguir elencado tem por objetivo pontuar algumas anotações


para facilitar e direcionar o estudo dos alunos para a disciplina de Direitos Humanos,
ministrada no 4º período da FDSM.

Não se presta, em absoluto, ao esgotamento da matéria, de forma que deve


ser complementado com as anotações de sala de aula, bem como, de obras
doutrinárias para fins avaliativos.

Bom estudo!

A REDEMOCRATIZAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO: A POLÍTICA NACIONAL DE


DIREITOS HUMANOS.

Entre os anos de 1964 a 1985 esteve instalada no Brasil uma ditadura militar,
na qual os direitos fundamentais/humanos foram desrespeitados, tais como o direito à
vida, à liberdade, à intimidade, à manifestação do pensamento, às ideologias, as
convicções políticas, consubstanciadas em práticas de tortura, de desaparecimentos
forçados, prisões ilegais e desmotivadas dentre tantas outras formas de violações aos
direitos humanos.

Com a redemocratização do país, a partir de 1985, a organização da própria


sociedade exigiu que o governo brasileiro tornasse a proteção dos direitos humanos
uma política de Estado, perene e constitucionalmente protegida.

Observações: diferença entre política de estado e de governo.

Pode-se dizer que uma política pública de Governo observa ao tempo de


mandato do governante, enquanto que uma política de Estado não obedece à
temporariedade de mandato, mas é perene, continua no tempo, se eterniza por ser, na
verdade, um direito fundamental relativo à própria cidadania.

Assim, não se pode pensar na exclusão de determinados programas que


garantem um mínimo vital à cidadania quando da alternância de um partido político ou
de um chefe de executivo no exercício do poder.

Questão para a reflexão: programas sociais do Fome Zero, do Bolsa Família,


da Alfabetização solidária. Identificá-los como políticas de governo ou de Estado.

Um programa de Estado deverá coexistir com o próprio Estado, e não apenas


por um período.

A proteção dos Direitos Humanos, consubstanciada num Programa Nacional de


Direitos Humanos é uma POLÍTICA DE ESTADO.

Não somente por ser um reclamo da própria sociedade, como também por
recomendação da Convenção de Viena, ocorrida na Europa em 1993, o Brasil
elaborou seu primeiro Programa Nacional de Direitos Humanos, no ano de 1996.

Esse perfil de Programa tem como característica fundamental ser uma


recomendação, não são leis, não estão positivados. Podem, entretanto, podem ser
transformados em leis, após a apreciação do Congresso Nacional.
A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, por incrível que pareça, assinou mesmo no
período de ditadura militar dois Tratados de Direitos Humanos, como o Pacto sobre os
Direitos Civis e Políticos de 1966 e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos de
1969.

Entretanto, embora assinados, foram ratificados apenas no ano de 1992.

Há três Programas de Direitos Humanos na história brasileira.

1º) PNDH I – Decreto 1904, de 13 de maio de 1996

Com o objetivo de remover os obstáculos à promoção dos direitos humanos, como a


violência, a discriminação, as desigualdades sociais e especialmente o respeito ao
disposto no artigo 5º da Constituição Federal de 1988.
Foi implantado em atendimento ao recomendado pela Convenção de Viena de 1993.

2º) PNDH II – Decreto 4229, de 13 de maio de 2002

Revogou o PNDH I, tornando-o mais amplo.

Teve um significativo mérito, o de definir no Brasil os direitos humanos como um


conjunto de direitos universais, indivisíveis e interdependentes que compreendem
direitos civis, políticos, sociais, culturais e econômicos.

Dois objetivos fundamentais:

1. Incentivar as ações governamentais e não governamentais na defesa dos


Direitos Humanos;

2. Identificar os obstáculos à concretização dos Direitos Humanos, estabelecendo


políticas públicas nesse sentido, com ações para a redução da violência,
discriminação e intolerância.

3º) PNDH III– Decreto 7037, de 21 dezembro de 2009

Ampliou a proteção dos direitos humanos para além da Constituição Federal interna,
para recomendar tal proteção para os Tratados Internacionais e Convenções.
Instituiu o Comitê de Acompanhamento e monitoramento do Programa Nacional de
Direitos Humanos 3º.
É o vigente no país. Revogou os anteriores, mas tem por característica fundamental o
estabelecimento de eixos orientadores e diretrizes, tais como:

I – Interação democrática entre sociedade e Estado;


ESTADO - SOCIEDADE
II – Incentivar o desenvolvimento, relacionando-o aos Direitos Humanos, com
inclusão;
DESENVOLVIMENTO E DIREITOS HUMANOS
III – Universalização dos direitos em um contexto de desigualdades, buscando assim
uma cidadania plena;
UNIVERSALIZAÇÃO E DESIGUALDADES
IV – Promover a segurança, a justiça e o combate à violência; (menciona a erradicação
da tortura, da violência institucional e a letalidade policial carcerária, além de uma
justiça mais acessível);
SEGURANÇA PÚBLICA, ACESSO ECOMBATE À VIOLÊNCIA
V – Promover a educação e a cultura em direitos humanos (*** ensinar direitos
humanos nas escolas);
EDUCAÇÃO E CULTURA EM DIREITOS HUMANOS
VI – Direito à memória e à verdade.
(JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO E PERSPECTIVAS DA DEMOCRACIA BRASILEIRA)

De suma importância a VI diretriz do 3º Programa Nacional de Direitos


Humanos de 2002, que convivia com um cenário pós-ditadura, no qual
estima-se, segundo Flávia Piovesan (in temas de direitos Humanos, 7ª ed.,
Saraiva) que houve em torno de 150 mortes e mais de 30.000
desaparecimentos inexplicáveis no Brasil.

Esta diretriz importa-se com a cultura de sensibilidade quanto à justiça de transição.


Foi instituído um comitê de monitoramento e acompanhamento para articular ações
programáticas, órgãos e entidades para a proteção dos direitos humanos.

Em face disso, analisava-se no país a lei 6683/79 – chamada Lei da Anistia – que
entendida como uma espécie de “pacto social” pois votada entre dois partidos políticos,
segundo o qual perdoar-se-ia toda e qualquer violação de direitos humanos ocorrida
durante o regime autoritário.

Ou seja, o objetivo da lei era de que os fatos fossem esquecidos, tanto para vítimas
como para algozes que conviveram com o cenário ditatorial e naquele contexto
sofreram e praticaram respectivamente as arbitrariedades e ilicitudes próprias do
momento histórico de exceção, de exclusão democrática e de direitos fundamentais.

Alguns autores, com acerto, indicam este mecanismo legislativo (Lei da Anistia) como
um artifício para inocentar criminosos que atuaram na ditadura militar, torturando e
cometendo significativa diversidade de crimes.

Em face disso, OAB (como legitimada universal de controle de constitucionalidade)


ingressou no Supremo Tribunal Federal com a ADPF nº 153, questionando a validade
da referida lei e solicitando nova interpretação ao Tribunal Constitucional.

No entanto, o STF argumentou que não poderia legislar em lugar da função legislativa,
recomendou que não se esquecesse o passado, mas foi brando quanto à validade dos
dispositivos da lei da Anistia.
O STF recomendou o acesso a documentos históricos e reafirmou o direito fundamental
à verdade. (7X2) (Mins. Levandowski e Ayres Brito) 29.04.2010

Tal interpretação recebeu críticas do Sistema Interamericano de Proteção de Direitos


Humanos, que expressamente mencionou: “as leis da anistia violam o dever
internacional do Estado de investigar violações de Direitos Humanos”.
Houve também críticas desse sistema afirmando que o STF negou o direito à Justiça e
o respeito à Convenção Americana de Direitos Humanos.

***Artigo interessante: “De costas para a humanidade”, de Paulo Sérgio Pinheiro.

Assim, importa-nos ressaltar a importância do PNDH III, que inspirou por sua diretriz
nº VI, o surgimento de dois marcos legislativos:

Lei de Acesso à informação: 12.527/2011


Na qual o sigilo deve ser a exceção, e o Estado deve prestar informações amplas aos
cidadãos, estabelecendo o princípio da máxima divulgação.
Esse princípio insere a informação como condição para a democracia e para o
exercício dos demais direitos humanos como a verdade e a justiça e apregoa o
fortalecimento da opinião pública.

Lei que estabeleceu a Comissão da Verdade: 12.528/2011.


Tem por objetivo fixar um período para investigações e realização de relatórios (entre
1946 e 1988) para a apuração de ocorrências de torturas, mortes, desparecimentos
forçados, ocultações de cadáveres, buscando tornar pública a autoria desses fatos.
A comissão da verdade é composta por 7 membros, nomeados pela presidência da
república e tem por obrigação concluir seus trabalhos até 16 de dezembro de 2014.

ALGUNS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO NACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS:

Comissão Nacional de Direitos Humanos


Conselho Nacional de Direitos Humanos
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.

*** Recomendada a pesquisa da composição desses órgãos.


****Recomendada a leitura da lei que estabeleceu a Comissão da Verdade.

LEI Nº 12.528, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011.

(Vide Decreto nº 7.919, de 2013)

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o É criada, no âmbito da Casa Civil da Presidência da República, a Comissão Nacional da Verdade, com a
finalidade de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas no período fixado no art. 8o do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover
a reconciliação nacional.

Art. 2o A Comissão Nacional da Verdade, composta de forma pluralista, será integrada por 7 (sete) membros,
designados pelo Presidente da República, dentre brasileiros, de reconhecida idoneidade e conduta ética, identificados
com a defesa da democracia e da institucionalidade constitucional, bem como com o respeito aos direitos humanos.

§ 1o Não poderão participar da Comissão Nacional da Verdade aqueles que:

I - exerçam cargos executivos em agremiação partidária, com exceção daqueles de natureza honorária;

II - não tenham condições de atuar com imparcialidade no exercício das competências da Comissão;

III - estejam no exercício de cargo em comissão ou função de confiança em quaisquer esferas do poder
público.

§ 2o Os membros serão designados para mandato com duração até o término dos trabalhos da Comissão
Nacional da Verdade, a qual será considerada extinta após a publicação do relatório mencionado no art. 11.

§ 3o A participação na Comissão Nacional da Verdade será considerada serviço público relevante.

Art. 3o São objetivos da Comissão Nacional da Verdade:

I - esclarecer os fatos e as circunstâncias dos casos de graves violações de direitos humanos mencionados no
caput do art. 1o;

II - promover o esclarecimento circunstanciado dos casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados,


ocultação de cadáveres e sua autoria, ainda que ocorridos no exterior;

III - identificar e tornar públicos as estruturas, os locais, as instituições e as circunstâncias relacionados à


prática de violações de direitos humanos mencionadas no caput do art. 1o e suas eventuais ramificações nos diversos
aparelhos estatais e na sociedade;

IV - encaminhar aos órgãos públicos competentes toda e qualquer informação obtida que possa auxiliar na
localização e identificação de corpos e restos mortais de desaparecidos políticos, nos termos do art. 1o da Lei no 9.140,
de 4 de dezembro de 1995;
V - colaborar com todas as instâncias do poder público para apuração de violação de direitos humanos;

VI - recomendar a adoção de medidas e políticas públicas para prevenir violação de direitos humanos,
assegurar sua não repetição e promover a efetiva reconciliação nacional; e

VII - promover, com base nos informes obtidos, a reconstrução da história dos casos de graves violações de
direitos humanos, bem como colaborar para que seja prestada assistência às vítimas de tais violações.

Art. 4o Para execução dos objetivos previstos no art. 3o, a Comissão Nacional da Verdade poderá:

I - receber testemunhos, informações, dados e documentos que lhe forem encaminhados voluntariamente,
assegurada a não identificação do detentor ou depoente, quando solicitada;

II - requisitar informações, dados e documentos de órgãos e entidades do poder público, ainda que
classificados em qualquer grau de sigilo;

III - convocar, para entrevistas ou testemunho, pessoas que possam guardar qualquer relação com os fatos e
circunstâncias examinados;

IV - determinar a realização de perícias e diligências para coleta ou recuperação de informações, documentos


e dados;

V - promover audiências públicas;

VI - requisitar proteção aos órgãos públicos para qualquer pessoa que se encontre em situação de ameaça em
razão de sua colaboração com a Comissão Nacional da Verdade;

VII - promover parcerias com órgãos e entidades, públicos ou privados, nacionais ou internacionais, para o
intercâmbio de informações, dados e documentos; e

VIII - requisitar o auxílio de entidades e órgãos públicos.

§ 1o As requisições previstas nos incisos II, VI e VIII serão realizadas diretamente aos órgãos e entidades do
poder público.

§ 2o Os dados, documentos e informações sigilosos fornecidos à Comissão Nacional da Verdade não poderão
ser divulgados ou disponibilizados a terceiros, cabendo a seus membros resguardar seu sigilo.

§ 3o É dever dos servidores públicos e dos militares colaborar com a Comissão Nacional da Verdade.

§ 4o As atividades da Comissão Nacional da Verdade não terão caráter jurisdicional ou persecutório.

§ 5o A Comissão Nacional da Verdade poderá requerer ao Poder Judiciário acesso a informações, dados e
documentos públicos ou privados necessários para o desempenho de suas atividades.

§ 6o Qualquer cidadão que demonstre interesse em esclarecer situação de fato revelada ou declarada pela
Comissão terá a prerrogativa de solicitar ou prestar informações para fins de estabelecimento da verdade.

Art. 5o As atividades desenvolvidas pela Comissão Nacional da Verdade serão públicas, exceto nos casos em
que, a seu critério, a manutenção de sigilo seja relevante para o alcance de seus objetivos ou para resguardar a
intimidade, a vida privada, a honra ou a imagem de pessoas.

Art. 6o Observadas as disposições da Lei no 6.683, de 28 de agosto de 1979, a Comissão Nacional da Verdade
poderá atuar de forma articulada e integrada com os demais órgãos públicos, especialmente com o Arquivo Nacional, a
Comissão de Anistia, criada pela Lei no 10.559, de 13 de novembro de 2002, e a Comissão Especial sobre mortos e
desaparecidos políticos, criada pela Lei no 9.140, de 4 de dezembro de 1995.

Art. 7o Os membros da Comissão Nacional da Verdade perceberão o valor mensal de R$ 11.179,36 (onze mil,
cento e setenta e nove reais e trinta e seis centavos) pelos serviços prestados.

§ 1o O servidor ocupante de cargo efetivo, o militar ou o empregado permanente de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, dos Municípios ou do Distrito Federal, designados como membros da Comissão, manterão a
remuneração que percebem no órgão ou entidade de origem acrescida da diferença entre esta, se de menor valor, e o
montante previsto no caput.

§ 2o A designação de servidor público federal da administração direta ou indireta ou de militar das Forças
Armadas implicará a dispensa das suas atribuições do cargo.

§ 3o Além da remuneração prevista neste artigo, os membros da Comissão receberão passagens e diárias
para atender aos deslocamentos, em razão do serviço, que exijam viagem para fora do local de domicílio.

Art. 8o A Comissão Nacional da Verdade poderá firmar parcerias com instituições de ensino superior ou
organismos internacionais para o desenvolvimento de suas atividades.

Art. 9o São criados, a partir de 1o de janeiro de 2011, no âmbito da administração pública federal, para
exercício na Comissão Nacional da Verdade, os seguintes cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento
Superiores: (Vide Decreto nº 7.919, de 2013)

I - 1 (um) DAS-5;

II - 10 (dez) DAS-4; e

III - 3 (três) DAS-3.

Parágrafo único. Os cargos previstos neste artigo serão automaticamente extintos após o término do prazo
dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, e os seus ocupantes, exonerados.

Art. 10. A Casa Civil da Presidência da República dará o suporte técnico, administrativo e financeiro
necessário ao desenvolvimento das atividades da Comissão Nacional da Verdade.

Art. 11. A Comissão Nacional da Verdade terá prazo de 2 (dois) anos, contado da data de sua instalação, para
a conclusão dos trabalhos, devendo apresentar, ao final, relatório circunstanciado contendo as atividades realizadas, os
fatos examinados, as conclusões e recomendações.
Art. 11. A Comissão Nacional da Verdade terá prazo até 16 de dezembro de 2014, para a conclusão dos
trabalhos, e deverá apresentar, ao final, relatório circunstanciado contendo as atividades realizadas, os fatos
examinados, as conclusões e recomendações. (Redação dada pela Medida Provisória nº 632, de 2013)
Art. 11. A Comissão Nacional da Verdade terá prazo até 16 de dezembro de 2014, para a conclusão dos
trabalhos, e deverá apresentar, ao final, relatório circunstanciado contendo as atividades realizadas, os fatos
examinados, as conclusões e as recomendações. (Incluído pela Lei nº 12.998, de 2014)

Parágrafo único. Todo o acervo documental e de multimídia resultante da conclusão dos trabalhos da
Comissão Nacional da Verdade deverá ser encaminhado ao Arquivo Nacional para integrar o Projeto Memórias
Reveladas.

Art. 12. O Poder Executivo regulamentará o disposto nesta Lei.

Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 18 de novembro de 2011; 190o da Independência e 123o da República.

DILMA ROUSSEFF
Jose Eduardo Cardozo
Celso Luiz Nunes Amorim 
Miriam Belchior
Maria do Rosário Nunes

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