Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RIO BRANCO – AC
2018
BEATRIZ TAYNÁ SOUZA BRITO
RIO BRANCO – AC
2018
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFAC
CDD: 301
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Profa. Dra. Marcia Meireles de Assis
Orientadora
Curso de Ciências Sociais Centro de Filosofia e Ciências HumanasUFAC
_____________________________________
Profa. Dra. Marisol de Paula Reis Brandt
Membro – interno
Curso de Ciências Sociais Centro de Filosofia e Ciências HumanasUFAC
_____________________________________
Prof. Manoel Coracy Saboia Dias
Membro – interno
Curso de Filosofia Centro de Filosofia e Ciências HumanasUFAC
Dedico esta pesquisa a toda a minha família,
em especial à minha mãe e ao meu pai.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me dado forças para seguir em frente, mesmo diante das
dificuldades e inseguranças. Agradeço à minha família por estar presente em minha
vida durante toda a graduação, a família é lar, lugar de união, gratidão e aconchego
como delicadamente escreveu Manuel Bandeira: “Tu que me deste o teu carinho e
que me deste o teu cuidado, acolhe ao peito, como o ninho”. Meus agradecimentos
em especial são à minha mãe Maria Souza Brito e meu pai Marcos José de Souza,
que só dormiam ao me ver chegar da universidade, e à minha irmã Letícia Brito de
Souza por tanto me ensinar e também aprendermos juntas.
Agradeço ao Quelvis Sarafim de Souza, por estar ao meu lado nesta caminhada,
sabe-se que o início da nossa história tem muita ligação com o Terminal Urbano, o
que me levou a acreditar que as pessoas ali se relacionam e se permitem sentir:
“Sentir é criar. Sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que
o Universo não tem ideias. ” (Fernando Pessoa).
Agradeço à minha orientadora Profa. Marcia Meireles por surgir no curso e com todo
o carinho e paciência me ouvir, me guiar e iluminar meus pensamentos em um
momento crítico da graduação, em que eu estava confusa, perdida e desmotivada.
Pelo o seu amor incondicional pelas Ciências Sociais, me proporcionando uma
experiência incrível sobre pesquisa. Como escreveu de forma modesta e sincera
Cora Coralina: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
Agradeço a todos os professores que contribuíram para a minha formação, com a
dádiva do conhecimento, me fazendo pensar de forma crítica e questionadora a
realidade. “O conhecimento une cada um consigo mesmo e todos com todos. ” (José
de Sousa Saramago). Agradeço aos colegas que se fizeram presentes no curso,
desde aqueles que iniciaram e tiveram que partir aos que estiveram até as últimas
disciplinas vencendo cada obstáculo, como escreveu Carlos Drummond de Andrade:
“As dificuldades são o aço estrutural que entra na construção do caráter.”.
(Arthur Schopenhauer)
RESUMO
INTRODUÇÃO..................................................................................................................................12
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................111
REFERÊNCIAS..............................................................................................................................115
12
INTRODUÇÃO
Por mais que na maior parte do tempo o Terminal Urbano pareça caótico na
concepção das pessoas que o frequentam, devido ao tumulto, barulho e
superlotação, existe uma organização própria presente ali, visto na ordem das
plataformas, as placas e a delimitação do espaço, que representam o poder
simbólico que este espaço-lugar exerce nas pessoas, este poder se refere à ordem
vigente no Terminal que é respeitada. A fim de compreender os significados que
podem ser atribuídos ao Terminal Urbano, entendido como um espaço de relações
sociais, A intenção é identificar no Terminal as significações tidas a partir deste
espaço ou lugar entendido por meio de imagens de sentimentos complexos (TUAN,
1983). Em vista disso, a análise compreensiva de Weber (1994), será usada nessa
pesquisa, para identificar na ação social dos indivíduos, as relações estabelecidas
por eles e suas interações.
Tendo em vista que haja a interação entre as diversas pessoas que utilizam o
Terminal Urbano que em consequência disso dão significados que a esse espaço,
a pesquisa será guiada pelo seguinte problema: De que modo as relações sociais
1
[...] o espaço é liberdade. [...]. Os espaços são demarcados e defendidos contra invasores. O espaço é
experenciado quando há lugar para se mover. (TUAN, 1983, p. 1-2)
2
O lugar é segurança [...] pode ser desde a velha casa, o velho bairro, a velha cidade ou a pátria [...]. Os lugares
são centros aos quais atribuímos valor e onde são satisfeitas as necessidades biológicas. (TUAN, 1983, p. 1)
13
Objetivo geral:
Objetivos específicos:
3
O termo espaço-lugar foi adotado na pesquisa na intenção de mostrar que o Terminal Urbano pode tanto ser
identificado como espaço, quando há certo distanciamento das pessoas em relação a ele, e é tido apenas como
meio de locomoção e passagem; e como lugar, quando carrega e representa para as pessoas valores e
afetividades.
14
(Claude Lévi-Strauss)
De acordo com Soriano (2004, p.20) a pesquisa social pode ser entendida
como um processo “[...] no qual se vinculam distintos níveis de abstração, se
cumprem certos princípios metodológicos e se executam diversos processos
específicos articulados de maneira lógica, com base em teorias, métodos, técnicas e
instrumentos” que são utilizados a fim de se chegar a um conhecimento lógico e
objetivo sobre certos fenômenos sociais.
com que ele tome para si os problemas presentes na realidade em que o objeto de
pesquisa está inserido, e o compreenda de modo mais profundo.
PLATAFORMA A
O “olhar” representa o contato inicial com o objeto de pesquisa, por isso está
presente no capítulo um. “Em toda a sociedade, o homem olha todos os dias para
outros homens ou objetos e presencia o desenvolvimento de atos de núcleos
familiares e de grupos sociais mais complexos” (SORIANO, 2004, p.145) o Terminal
Urbano foi escolhido como tema de pesquisa a partir de um olhar que buscava ver
além do que o lugar se apresentava e mesmo antes de ter o olhar treinado para
isso, já se notava algo ali que a maioria não consegue ver, por ser um lugar já
familiarizado.
Com o passar do tempo, por frequentar mais vezes o Terminal Urbano, estar
lá já não causava tanto estranhamento, e à medida que me sentia parte daquele
19
espaço, também voltava o meu olhar para ele, era instigante observar as pessoas4,
o modo como elas agiam, o que elas conversavam, as relações que estabeleciam e
a diversidade que existia.
4
O termo pessoas foi designado na pesquisa no sentido de moradores da cidade que usam o Terminal Urbano.
20
É por isso que o ato sensitivo e perceptivo de cozinhar envolve bem mais do
que juntar alguns ingredientes ao fogo e acrescentar sal. Antes de cozinhar é
preciso planejamento: devem-se escolher os ingredientes, a receita, as quantidades,
pensar no tempo de preparo, na temperatura, as técnicas e instrumentos que serão
utilizados (como o tipo de corte, o tipo de cozimento; as facas, o processador, as
panelas e recipientes), e por fim deve-se pensar na apresentação do prato,
21
lamacentos e lugares insólitos que o tiram da sua zona de conforto, que mexem com
suas convicções, e o fazem questionar o que está instituído.
isso vai muito além de como ele se apresenta. Existem diversas inquietações que
envolvem os alimentos, que vão desde o que se produz, onde se produz, como se
produz, quem produz, por que se produz e quem consome.
Pesquisar
Cozinhar
O diário de campo, foi de grande importância para que pudessem ser feitas
observações e anotações a respeito do Terminal Urbano, e contribuiu para que ao
ouvir e observar aquela realidade pudessem ser feitas interpretações e análises
sobre aquele espaço-lugar.
5 Como aponta Yi-Fu Tuan. “O lugar é um mundo de significado organizado “ (1983, p. 198).
29
PLATAFORMA B
A cidade de Rio Branco possui grande parte dos bairros formados a partir do
êxodo rural, fenômeno em que as famílias deixavam os seringais e se dirigiam à
cidade em busca de melhores condições de vida, este processo ocorreu em todo o
Brasil, entre as décadas de 1960 e 1980, de acordo com o EMBRAPA (Empresa
30
Apesar de a cidade de Rio Branco ser bastante jovem e ter sido construída
com base no próprio processo produtivo da borracha, foi obtendo, a partir
da gestão de Guiomard Santos, ares de uma cidade ‘moderna’ e, portanto,
incorporando novos valores, ‘próprios’ do meio urbano: os serviços
administrativos, os clubes de dança, os cinemas, os teatros, as retretas
tocadas pela banda de música da Guarda Territorial, a melhoria das
mercadorias oferecidas nas inúmeras casas comerciais, os bares, os
prostíbulos, dentre outras atividades, foram aos poucos moldando o
morador urbano, fosse ele oriundo ou não dos seringais, além de ir
definindo um tipo citadino ‘clássico’, sujeito do crescimento natural. Ao
atingir a década de 70, Rio Branco já apresentava aspectos urbanos
bastante pronunciados. (ALMEIDA NETO, 2004, p.150)
A cidade pode ser entendida como um espaço que possui uma diversidade de
povos, com suas múltiplas crenças, valores e visões de mundo que se dispõem a
viver em sociedade e conviver entre si, e em consequência disso, realizam trocas
econômicas, culturais e sociais. A cidade ora pode ser entendida como uma muralha
protetora contra os inimigos externos, ora como um ambiente inóspito e violento
entre seus próprios moradores, dando-lhes a sensação de insegurança e medo.
Assim como nas cidades antigas, as cidades gregas, conhecidas como pólis
também valorizavam o coletivo em detrimento do individual e viam a cidade como
um abrigo às ameaças externas, conforme Simmel (1979, p. 19):
A antiga pólis [...] parece ter tido o próprio caráter de uma cidade pequena.
A constante ameaça à sua existência em mãos de inimigos de perto e de
longe teve como resultado uma estrita coerência quanto aos aspectos
políticos e militares, uma supervisão do cidadão pelo cidadão, um ciúme do
todo contra o individual, cuja a vida particular era suprimida a um tal grau
que ele só podia compensar isto agindo como um déspota em seu próprio
domínio doméstico.
Segundo Weber (1979, p.72) as cidades “[...] vem a ser, em maior ou menor
grau, segundo as circunstâncias, uma cidade de consumidores”, esta afirmação
ressalta a ideia de que as cidades visam atender em primazia as demandas
capitalistas, e estão voltadas para os interesses e relações econômicas, que estão
pautadas pelo consumo e pelo lucro. Mas a cidade também pode ter um significado
que vai além dos meros interesses econômicos:
Como era “[...] impraticável transpor a floresta amazônica por outro meio que
não o hidrográfico [...] um dos requisitos indispensáveis à formação de um seringal
34
era a sua proximidade a um grande rio”, assim, para que houvesse o contato entre
os seringais e o centro urbano se fazia necessário o descolamento por meio do rio,
possibilitando assim, a comunicação e o comércio. (RANZI, 2008, p. 207).
Desse modo, pode-se dizer que a existência dos seringais dependia do quão
perto estes locais estavam dos rios, que possibilitavam não só a locomoção das
pessoas, mas facilitavam a locomoção da goma, para que toda a lógica da extração
e entrega da borracha fosse feita, nesse sentido, havia toda uma logística para que
este processo ocorresse. Portanto o rio tinha uma centralidade nas significações e
percepções da população neste momento, do mesmo modo que as pessoas
dependiam do rio para se locomover e cumprir os processos produtivos da borracha,
atualmente as pessoas dependem do asfalto, e dos transportes coletivos para se
transportar e se dirigir aos seus destinos, e o Terminal Urbano é a expressão
contemporânea das formas atuais de fazer uso deste espaço.
Sobre a relação que a cidade de Rio Branco mantém com o rio, Santos (1999,
p.30) afirma:
Figura 5. Ônibus improvisado que fazia a linha Figura 6. Entrega dos ônibus à empresa Irmãos
do bairro 6 de Agosto ao bairro Quinze, nos Lameira, em 1969.
anos 1940.
Figura 7. Ônibus da empresa Irmãos Lameira, Figura 8. Parada de ônibus no centro da cidade
em 1980, em frente ao Palácio Rio Branco. de Rio Branco e o ônibus da linha 207 Cohab do
Bosque, em 1992.
processos” (MINAYO, 1994, p.18). Por esse motivo, são utilizados diferentes
autores, que juntos, permitem a elaboração de uma explicação mais coerente e
fundamentada, de modo que ela consiga envolver o tema, problema e hipóteses. Em
relação ao eixo teórico da pesquisa, alguns dos autores principais escolhidos para
dar embasamento para a esse trabalho foram: Marc Augé (2004), Pierre Bourdieu
(2011) e Weber (1994).
O Terminal Urbano pode ser entendido como um espaço social, pois esse
espaço em que as pessoas ocupam, o torna simbólico, na qual, segundo
Bourdieu (1997, p.160):
Os agentes sociais que são constituídos como tais em e pela relação com
um espaço social (...) definido pela exclusão mútua (ou a distinção) das
posições que o constituem, isto é, como estrutura de justaposição de
posições sociais. A estrutura do espaço social se manifesta, assim, nos
contextos mais diversos, sob a forma de oposições espaciais, o espaço
habitado (ou apropriado) funcionando como uma espécie de simbolização
espontânea do espaço social.
relação determinada – e por meio desta – entre os que exercem poder e os que lhe
estão sujeitos, quer dizer, isto é, na própria estrutura do campo que produz e
reproduz a crença” (BOURDIEU, 2011, p.14-15). O uso do arcabouço teórico de
Bourdieu (2011) se deu para analisar as relações sociais que ocorrem no Terminal
Urbano, utilizando de seus conceitos no intuito de compreendê-las melhor.
Max Weber (1994, p. 3) traz a noção de ação social, que segundo o autor
“significa uma ação que, quanto a seu sentido visado pelo agente ou os agentes, se
refere ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso. ” Neste
sentido, pode-se dizer que a ação social das pessoas, contribuem para a atribuição
dos significados ao Terminal Urbano. Nas relações sociais que se formam, as
pessoas podem atribuir significados a esse espaço-lugar, já que “A vida cotidiana se
apresenta como uma realidade interpretada pelos homens e subjetivamente dotada
de sentido para eles na medida em que forma um mundo coerente” (BERGER e
LUCKMANN, 2003 p.35). O pensamento de Berger e Luckmann deu subsídio para
estudar o Terminal Urbano, para apreender os significados que as pessoas dão a
esse espaço, de acordo com o modo de interpretar o cotidiano de cada uma, em que
estão numa diversidade de realidades presentes ali.
E é assim, que as pessoas em sua vida cotidiana, dão sentido às suas vidas e
aos espaços sociais, através de suas ações e pensamentos, criando interpretações
que correspondem à realidade delas. É essa visão de mundo que essa pesquisa vai
buscar apreender, identificando quais os significados por trás das interpretações dos
indivíduos, e as relações estabelecidas entre eles, podendo ser econômicas, quando
em contato com os vendedores, os ambulantes, cabeleireiros; religiosas quando há
manifestações de fé, através de pessoas representando suas crenças, políticas,
quando ocorrem greves, manifestações, paralisações e comícios; e culturais com a
presença de pessoas de outros países e de outros estados representando a
diversidade de culturas existente no Terminal Urbano, como será apresentado no
próximo capítulo as percepções sobre este espaço-lugar.
44
A pesquisa de campo foi uma experiência essencial para que este trabalho
ocorresse, foi um modo de analisar a realidade social no intuito de compreendê-la,
fazendo com que aquilo que já se está estabelecido e familiarizado pudesse ser
visto por outro ponto de vista, dando ênfase a outro ângulo de percepção. De acordo
com Goldenberg (2004, p.13) “A pesquisa científica exige criatividade, disciplina,
organização e modéstia, baseando-se no confronto permanente entre o possível e o
impossível, entre o conhecimento e a ignorância”, realmente estas exigências são
úteis quando se pensa em pesquisa, a criatividade é peça fundamental para a
realização da mesma, ela está presente desde os momentos iniciais, quando ainda é
pensada, e posteriormente com o levantamento dos dados e as entrevistas, e no
momento em que a realidade é investigada e as hipóteses são confirmadas ou
refutadas, todas estas construções fazem parte do ofício do pesquisador e
demandam pensar a realidade de forma criativa; a disciplina também se faz
necessária, como este processo exige muito do pesquisador, quando ele desacelera
acaba perdendo o ânimo e se afastando da pesquisa, por isso a disciplina é o que
faz manter o foco e a continuidade; a organização faz parte do percurso para não
confundir e gerar precipitações, muitas vezes falta ao pesquisador este senso de
organização para levar com maior leveza este momento, com planejamento e sem
angústias e ansiedade; e a modéstia é o fator responsável por nos fazer pensar
grande e fazer pequeno no processo de pesquisa.
Desse modo pesquisa foi entendida como a junção dos esforços intelectuais,
psicológicos e físicos para conhecer e compreender um objeto de pesquisa e
adentrar em suas particularidades, e isso se faz a partir de diversas experiências
que vão sendo realizadas em cada minúscula e difícil parte do processo de
pesquisa, que permite aos poucos conhecer um dos caminhos e meios possíveis de
interpretar e analisar um fenômeno.
46
PLATAFORMA C
Por isto é tão importante retornar aos diários de campo6 e anotações feitas, a
fim de analisar as observações e percepções que foram tidas naquele momento,
trazendo à tona o momento em questão e contribuindo para deixar mais consistente
e aprofundada a pesquisa através desta forma de presentificar o passado e dar
espaço ao que se escreveu e ao que chamou atenção em determinado momento e
que no momento de unir teoria e empírico pode contribuir para a compreensão e
6
Os diários de campo iniciaram oficialmente no dia 10 de abril de 2017 dando seguimento até o dia
23 de agosto de 2017, eles geralmente eram feitos em dois dias da semana às terças e quartas entre
as 16:00 horas e às 18:00.
47
7
As entrevistas foram feitas entre os dias 17 e 24 de abril de 2018, no período matutino, que iam
geralmente das 7 horas da manhã às 10 horas da manhã, no total foram 34 entrevistas, as conversas
foram guiadas pela pergunta central: “O que o Terminal significa para você? ” E conforme as
respostas eram dadas, dependendo do interesse da pessoa, a conversa podia se estender ou se
restringir apenas a esta resposta.
48
Figura 10. O caos no Terminal Urbano. Figura 11. A ordem no Terminal Urbano.
que algumas delas são agravadas nos horários de pico8 e serão analisadas a seguir:
a primeira é o grande número de pessoas; a segunda é o ambiente quente; a
terceira característica é a falta de acomodação; a quarta trata dos sons existentes no
Terminal; a quinta característica é os cheiros presentes; e a última é a espera para a
chegada dos ônibus.
8
Os horários de pico são as horas que em o Terminal Urbano fica mais movimentado e costuma coincidir com
os horários de expediente de trabalho e das aulas nas escolas, faculdades e universidade, que vai das 6:00 às
8:00, das 11:00 às 13:00, das 17:00 às 19:00, e entre as 21: e 22:30.
50
principalmente no horário de pico, [em que estão] os alunos”. Assim sendo, os dois
entrevistados concordam que a gritaria e barulho que as pessoas fazem, são alguns
dos sons que mais incomodam a pessoas, em específico os ambulantes, que ficam
por mais tempo dentro do Terminal, e os sons feitos pelos alunos quando vão e
voltam da escola foram os citados, que estão lá, nos horários em que Terminal
Urbano fica mais tumultuado e superlotado.
E a quinta característica é sobre os cheiros peculiares que é possível sentir
quando se frequenta o Terminal, sobre estes cheiros e odores Tuan (1983, p. 2)
afirma que:
O entrevistado E8, que é vendedor ambulante revela que as pessoas que vão
ao Terminal costumam reclamar do mau cheiro que existem ali e ressalta sua
posição sobre o ambiente em que ele trabalha:
Desse modo, o odor presente no Terminal pode ser entendido enquanto uma
característica que imprime sentido aquele ambiente, que torna ele singular e mesmo
que não seja um cheiro que agrade, está espacialmente arranjado e intrinsicamente
ordenado e carregado de emoções e afetos.
Deste como, o caos existente no Terminal é tão comum ao ser humano, como
a busca de uma organização, mas o caos precede a ordem, que não
necessariamente condiz com este ambiente ou impede que ele funcione em todos
os seus aspectos. É necessário pontuar que o Terminal não é apenas um espaço
físico e concreto, ele é também um lugar composto por pessoas, e em ambientes
que abrigam ao mesmo tempo tanta gente, é praticamente impossível manter esta
utopia de ordenamento que não considera as pessoas e se dá independente e
acima delas, desconsiderando suas particularidades e singularidades, ignorando que
enquanto seres vivos agem de maneiras imprevisíveis e próprias, com hábitos,
manias e costumes que diferem uns dos outros e por isso não seguem um script.
pessoas detêm [...] e que lhe são socialmente conferidas”. (AGUIAR, p. 13-14,
1973), como é o caso das classes sociais.
As classes sociais estão relacionadas ao fator econômico e político, que
permitem com que haja mobilidade de uma classe para outra, com possibilidade
ascensão e também decadência, assim estas relações sociais se baseiam
geralmente na apropriação (econômica) e na dominação (política), que ocorrem
mediante ao poder que umas pessoas têm sobre as outras. (IANNI, 1972, p.12)
Sobre este poder, Bourdieu (2011, p.7-8) afirma que:
[...] é necessário saber descobri-lo onde ele se deixa ver menos, onde ele é
mais completamente ignorado, portanto, reconhecido: o poder simbólico é,
como efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a
cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou
mesmo que o exercem.
O rio Acre, principal via de transporte [...], ao longo das décadas e com o
crescimento urbano, passa a dividir a cidade em dois distritos,
caracterizando um lado da cidade onde há a presença dos principais órgãos
públicos e equipamentos urbanos, onde também vão surgir os conjuntos
habitacionais planejados para classe média e alta da cidade; do outro,
caracteriza-se uma área urbana, com menos ações públicas, onde
predominam bairros de ocupação espontânea, muitos deles às margens do
rio ou próximos a ele e, que enfrentam anualmente, além dos problemas de
infraestrutura e serviços, o alagamento do rio. (ALMEIDA, p. 2-3, 2010)
57
usuais, não houve a aceitação das pessoas, que geralmente desconheciam a troca,
não se atentavam para as placas que ficam entre as plataformas e acabavam
perdendo os ônibus e devido às reclamações dos usuários, a administração acabava
retornando à organização anterior.
Na plataforma A [figura 14] passam as linhas dos ônibus que vão para os
bairros do 2º Distrito da cidade, que são: Recanto dos Buritis, Taquari, Jacarandá,
Vila Acre, Seis de Agosto, Pólo Benfica, Santa Inês, Cidade do povo e Belo Jardim,
esses bairros são geralmente estigmatizados por terem uma concentração de
pessoas com rendas menores, que vivem em casas construídas pelo governo, por
seus bairros não possuírem uma infraestrutura, uma educação e uma saúde de
qualidade e que contemplem todos os moradores. São bairros periféricos em que a
população é marginalizada e excluída, tornando-se cada vez mais difícil obter a
igualdade econômica, além disso, são tidos como bairros perigosos devido à
violência existente: os homicídios, furtos e tiroteios, estereótipos que são reforçados
pela mídia que difunde diariamente notícias que criam no imaginário popular a ideia
de que a maioria dos moradores desses bairros é criminosa.
pessoas foram baleadas num único dia, a maioria dos crimes ocorreu na região do
Segundo Distrito de Rio Branco, nos bairros Belo Jardim, Triângulo, bairro Seis de
Agosto e Loteamento Praia do Amapá. Além disso, houve tentativas de homicídio no
Calafate e no Esperança, e além das mortes registradas, sete pessoas foram
baleadas nos bairros da capital acreana (NASCIMENTO, 2017). Esse tipo de notícia
reforça ainda mais o estereótipo de que as pessoas desses bairros são perigosas e
envolvidas com o crime e com facções. E por mais que se possa ter acesso às
outras plataformas com acesso livre, é uma forma de manter distantes aqueles que
são estereotipados.
A plataforma A, é uma das mais movimentadas, pois a maioria dos serviços
que são oferecidos no Terminal Urbano está concentrada nesta parte do espaço,
como as roletas que permitem as pessoas entrarem no Terminal, a bilhetagem, que
é onde se recarregam os cartões de passe, o posto policial, os banheiros, as
lanchonetes, a papelaria e o local de impressão e Xerox.
Na plataforma B [figura 15], estão linhas como: Floresta, Calafate, Conjunto
Esperança, Mocinha Magalhães, Tucumã, Nova Esperança, Jequitibá, UFAC,
Universitário, Custódio Freire e Distrito Industrial, esses bairros em sua maioria
pertencem ao que se conhece como 1º Distrito, e possui uma imagem positiva, com
algumas exceções como o Calafate, bairro que carrega alguns estereótipos como o
de que é violento e perigoso, e além dos crimes que lá ocorrem, grande parte da
população possui baixa renda, daí mais um estigma por serem pobres. E também os
ônibus do bairro Nova Esperança, em que geralmente muitas pessoas o pegam para
ir ao Hospital Fundação, então costuma ser uma plataforma lotada, com pessoas de
diversas classes sociais, mas com predominância das mais baixas, em contraste
com isto, o ônibus da linha Nova Esperança também é utilizado por alunos da
Faculdade Uninorte, mostrando que diversas classes sociais convivem nesta
dinâmica da plataforma B.
É no 1º Distrito em que estão concentradas as grandes faculdades,
comércios, empresas, prédios do governo como a Polícia Federal, o Tribunal de
Justiça, a Universidade Federal do Acre, o Aeroporto, os condomínios fechados e
por isso estes bairros tendem a possuir uma melhor infraestrutura, demonstrando
que os órgãos públicos dedicaram maiores esforços para garantir a estes moradores
melhores condições de vida, em comparação aos bairros do Segundo distrito. Nos
60
Figura 17. Placas indicando a saída. Figura 18. Placas com proibições.
FONTE: Elaborado pela pesquisadora, 2017. FONTE: Elaborado pela pesquisadora, 2017.
O Terminal é um local que faz o uso das imagens para informar e proibir
[figuras 19 e 20], como pode ser visto na fala da entrevistada E28 (20 anos) “É bom
porque leva as pessoas até o lugar que elas precisam [...] não é bom porque às
vezes as pessoas embarcam onde não é para embarcar.“ As placas representam os
aspectos normativos que vigoram no Terminal, e por isso as pessoas não
necessariamente precisam se comunicar umas com as outras para obter
informações, pois o recurso visual utilizado já é capaz de orientá-las, fazendo com
que a interação seja cada vez mais escassa. Sendo assim, não é um ambiente que
incentive a existência de relações sociais e laços afetivos, mas que prioriza pela
transitoriedade e a mínima permanência no espaço-lugar possível, deste modo o
Terminal, enquanto um espaço de não-lugar ainda pode se definir pelas palavras e
imagens que são utilizadas para direcionar as pessoas no ambiente.
63
Figura 19. Placa que proíbe fumar. Figura 20. Placa que proíbe o embarque em
local de desembarque.
Outro aspecto visual utilizado são os painéis, onde podem ser vistas notícias
do Brasil, do mundo, e notícias regionais e transmitem as propagandas e notícias
para as pessoas que transitam pelo Terminal. Esses painéis são tanto uma forma de
manter as pessoas distraídas como um meio para incentivar o consumo, com
propagandas de restaurantes e lojas. Além disso, as notícias exibidas nos painéis
também cumprem a função de promover os políticos locais mostrando ações sociais,
campanhas de saúde, a execução de obras de infraestrutura e projetos aprovados e
andamento. Existem também outras formas de propaganda utilizadas no Terminal,
como a rádio Flora, que possui um Box no Terminal e através das caixas de som
espalhadas pelo ambiente que divulgam produtos e serviços das empresas, falam
sobre os achados e perdidos e informam sobre campanhas de saúde. Além disso,
também se faz o uso de cartazes, que geralmente tem caráter educativo, e são
sobre a educação no trânsito, conscientização sobre o trabalho infantil e até sobre
alertas sobre o cuidado com a dengue. O uso dessas imagens é um indicativo de
que se espera que as pessoas interajam mais com esses textos e imagens expostas
do que com as próprias pessoas.
64
Figura 21. As grades do Terminal Urbano. Figura 22. Grades que segregam o
Terminal Urbano.
Desse modo todos estes aspectos podem ser vistos como um modo de
manter a ordem no Terminal Urbano, tanto por meio do poder simbólico que é
exercido ali, como neste espaço entendido enquanto um não-lugar, estas foram as
normas e aspectos partilhados e padronizados do comportamento neste espaço-
lugar. Neste sentido, tanto entendido como caos, quando aparenta estar destituído
de certa ordem, como quando buscar manter uma organização para permitir a
mobilidade no Terminal, o ideal é que a espera pelo transporte coletivo, seja algo
agradável, com algum entretenimento, momento em que sejam expostas mais
67
que a maioria das relações sociais que ali ocorrem estão associadas somente ao fim
que o local se propõe: possibilitar o transporte, e as relações que prevalecem são as
que permitem as trocas econômicas. Apesar disso, a intenção dessa pesquisa é
desmistificar o sentido socialmente aceito e observar que o Terminal também pode
ser simultaneamente um local de manifestações políticas, culturais e sociais, em
vista da diversidade de pessoas que o frequentam.
PLATAFORMA D
Romper com estes mitos que bloqueiam a escrita já é um bom começo para
trilhar todos os caminhos que existem no decorrer da pesquisa, momento em que as
barreiras e obstáculos surgem e a dificuldade de escrever se torna cada vez mais
aparente e surge como um empecilho para a elaboração das ideias e análise dos
dados. Desse modo, pode-se dizer que “Se o Olhar e o Ouvir constituem a nossa
‘percepção‘ da realidade focalizada na pesquisa empírica, o Escrever passa a ser
parte quase indissociável do nosso ‘pensamento’, uma vez que o ato de escrever é
simultâneo ao ato de pensar. ” (OLIVEIRA, 1996, p.28-29).
Como foi apresentado no primeiro capítulo desta pesquisa, que trata da parte
metodológica [páginas 19 e 20], a escrita se configura como a maior arma do
pesquisador, é através dela que se concretizam novas maneiras de enxergar a
realidade social, sendo um meio de expressar nossas inquietações e
questionamentos, que nos conduzem a respostas provisórias, pois os fenômenos
são mutáveis, e passíveis de serem analisados por diversos ângulos e teorias.
Desse modo, por mais que o Terminal Urbano tenha características dos não-
lugares, ele pode ser considerado um espaço social. Os significados que o Terminal
Urbano possui não se restringem aos fatores econômicos, pois ele é palco de
diversas ações além do comércio como: exposições de arte, manifestações,
protestos, campanhas de conscientização e atendimentos jurídicos gratuitos.
71
De acordo com Weber “Nem todo tipo de contato entre pessoas tem caráter
social, senão apenas um comportamento que, quanto ao sentido, se orienta pelo
comportamento de outra pessoa. ” (1994, p.14). Dessa forma, o contato entre as
pessoas no Terminal não necessariamente se configura como relações, para tal é
preciso que haja um comportamento recíproco por parte das pessoas, que seja
dotado de sentido.
As pessoas que transitam pelo Terminal parecem ter uma atitude blasé em
relação às estas pessoas que estão ao seu redor, o que traz uma sensação de
indiferença com o outro. E é nesse modo de vida em que se visa constantemente a
autopreservação, que surge a atitude de reserva, o que significa manter-se
indiferente ao que o outro é, ou quem ele é acarretando o desconhecimento de
quem é o seu vizinho, por exemplo, ou quem senta na poltrona ao seu lado, no
ônibus.
caráter inteiramente transitório, bem como implicar permanência, isto é, que exista a
probabilidade da repetição contínua de um comportamento correspondente ao
sentido”. (WEBER, 1994, p. 17)
Para Weber (1994, p.19-22) “Toda ação, especialmente a ação social e, por
sua vez, particularmente a relação social podem ser orientadas, pelo lado dos
participantes pela representação da existência de uma ordem legítima”. Com base
nesta ideia, a existência de uma certa ordem no Terminal [exposto no capítulo
anterior], pode ser atribuída pelas pessoas em virtude da tradição: vigência do que
sempre foi assim; em virtude de uma crença afetiva: vigência do novo revelado ou
exemplar; em virtude de uma crença racional referente a valores: vigência do que se
reconheceu como absolutamente válido; em virtude de um estatuto existente em
cuja legalidade se acredita. E a legalidade por sua vez, pode ser considerada
legítima pelos participantes em virtude um acordo entre os interessados ou em
virtude da imposição, que é baseada na dominação julgada legítima de homens
sobre homens e da submissão correspondente.
9
As entrevistas foram feitas com oito vendedores ambulantes, tendo uma ambulante se recusado a
falar sobre sua experiência no Terminal Urbano. Os entrevistados E1 e E2 foram os interlocutores
que me apresentaram e me indicaram outros vendedores ambulantes, agindo como uma ponte, me
aproximando e me interligando aos outros ambulantes, sendo intermediadores imprescindíveis deste
processo da pesquisa, colaborando para adentrar na realidade dos ambulantes.
76
por isso tem que chegar cedo, antes que os ônibus cheguem”. Ambos afirmam que
tem que chegar antes que os ônibus comecem a circular, e os que podem chegar
mais tarde são aqueles que alugam um espaço em alguma residência próxima ao
Terminal para guardar os carrinhos.
Os vendedores ambulantes possuem uma jornada de trabalho longa e
cansativa, que muitas vezes ultrapassa 10 horas diárias, conforme Durães (2014, p.
235) os trabalhadores “informais tradicionais são os que auferem os menores
rendimentos e vivem presos a longas jornadas, mesmo que aparentem ter ampla
liberdade na realização de sua atividade [...] [é] uma vida de labuta [...] sem
garantias sociais/ trabalhistas”. E diante desta exaustiva jornada de trabalho, dia a
dia, por tantos anos, alguns vendedores ambulantes, os mais antigos, que já estão
trabalhando na área em torno de vinte ou trinta nos, o que eles mais anseiam é pela
aposentadoria.
A maioria dos ambulantes compreendendo E1, E3, E4, E5, E6, E7 e E8
trabalham três vezes na semana no Terminal. Como afirma E8: “A gente trabalha
subjugado, um dia sim, outro não, aí tem que aproveitar o dia que trabalha”, por isso
eles se submetem a longas jornadas, a fim garantir o máximo de vendas para suprir
suas necessidades básicas. O vendedor ambulante entrevistado A210 é uma
exceção, diferente dos outros ambulantes, que precisam revezar os dias em que
vem ao Terminal, ele pode vim ao Terminal todos os dias devido ao fato de ele não
ter uma banca fixa. Ao invés de expor seus produtos em uma banca, o entrevistado
A2 carrega seus relógios em uma bolsa, os expondo nas mãos mesmo, e fica
andando pelo o Terminal Urbano, entre todas as plataformas. O vendedor ambulante
A2 enfatiza que para ter o direito de trabalhar como ambulante no Terminal é preciso
pagar uma quantia mesmo que não tenha a banca fixa, como é o caso dele. Este
vendedor ambulante disse que prefere ficar andando pelo Terminal, ao invés de ficar
parado na banca, porque ao contrário dos outros ambulantes, ele consegue se
movimentar mais andando pelo Terminal, o que segundo ele, é bom para sua saúde.
10 O vendedor ambulante E2 (68 anos), trabalha a 30 anos como vendedor. Nosso primeiro contato
foi inesperado, pois ao fazer a primeira entrevista, resolvi me sentar em um banco para fazer algumas
anotações, e quando olhei ao lado, estava ali meu próximo entrevistado, que sentou no banco para
arrumar os relógios, e inicialmente não parecia querer falar, talvez com medo de ser alguém que o
possa prejudicar e prejudicar seu trabalho, e apenas diz que é um lugar bom, que não tem nada a ver
com as outras pessoas, e que não tem nada a reclamar. Ao dizer isso, fez uma pausa, mas continuei
a olhar para ele, e depois de algum silêncio, ele começa a se soltar mais, e conforme sua confiança
foi sendo conquistada, ele foi falando sobre o que pensa.
78
11O “rapa” ocorria quando os fiscais da prefeitura expulsavam os vendedores ambulantes de dentro
do Terminal Urbano, os impedindo de vender seus produtos por eles não serem “vendedores
autorizados”.
79
12 A entrevista com E4 se desenrolou em uma longa conversa, que abrangeu até mesmo temas
políticos.
80
Entrevistado Relato
E1 “O Terminal [...] é bom para mim, [...] eu estou trabalhando. [e]
aqui é bem movimentado, é uma área de negócios.”
E2 “O Terminal é como se fosse um trabalho, é um ganha pão. ”
E4 “O Terminal [...] foi uma saída para espairecer, [ele é] [...] uma boa
opção, o significado é o máximo, é o melhor, tanto para [nós,
como para] quem usa de passagem. ”
E6 “Ah... tem muita coisa, é daqui que eu tiro meu sustento [...] [aqui]
é o meu trabalho. ”
O trabalho das vendas começava cedo. Por volta de duas ou três horas da
manhã o vendedor ambulante já estava de pé, ocasião em que fazia a
primeira refeição do dia [...] em torno de uma hora o vendedor ambulante
fazia a segunda refeição, normalmente uma marmita comprada em algum
restaurante ali dentro do Terminal mesmo, comia em pausas, pois atendia
também as pessoas. Sem nem um descanso, permanecia em sua banca a
tarde inteira a espera de clientes, e só terminava as dez ou onze horas da
noite, pouco mais ou menos, ocasião em que se dirigia para casa para
tomar banho e posteriormente fazer a última refeição do dia e dormir.
e estas pessoas são os trabalhadores, que utilizam o Terminal como um fim para ir e
voltar de suas jornadas de trabalho; e os estudantes, podendo ser do ensino
fundamental, do ensino médio e estudantes do ensino superior.
É preciso ressaltar que este espaço-lugar é usado por pessoas que utilizam o
Terminal para ambas as finalidades: trabalho e estudo, como é o caso do
entrevistado E13 (23 anos), ele contou que trabalha em um supermercado e é
estudante do ensino superior, e utiliza o Terminal Urbano todos os dias, em sua
concepção o Terminal é ”Meio agradável, porque é muita zoada, aí quando está
muito cheio, as pessoas não respeitam umas às outras. ” A percepção deste
entrevistado sobre o espaço-lugar do Terminal Urbano está em concordância com o
entrevistado E12 (24 anos), que é estudante do ensino superior e afirma que o
Terminal ”[...] em horário de pico é mais complicado, em questão da movimentação
[e] de pegar o transporte. ” É possível observar que as falas de ambos os
85
Entrevistados Relatos
E12 “Quase não venho aqui, mas hoje eu precisei vim aqui para
ir na Oca. Mas uso mesmo para pegar o coletivo para ir
para a Universidade, [é] mais por necessidade [...]. Às vezes
encontro os amigos da Universidade para ir [a] algum
evento. ”
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional
Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados
por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância
para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
13 As conversas realizadas com os jovens foram bem divertidas, eles estão sempre rindo, e
conversando uns com os outros naquela agitação e inquietude. As entrevistas foram feitas com
estudantes do ensino fundamental e médio, que tinham entre 13 e 19 anos.
89
Entrevistados Relatos
E17 “Acho que [é] onde a gente vem para pegar o ônibus [...] [e]
para se encontrar [com os amigos] facilita né? Porque todos
os ônibus vêm para cá.”
D.3.3. Os estigmatizados
que ele chama de abominações do corpo, que são as deformidades físicas, no caso,
as deficiências físicas; o segundo são as culpas de caráter individual, que são para
ele distúrbios mentais, prisão, vício, alcoolismo, homossexualismo e desemprego,
por exemplo; e o terceiro são os estigmas tribais de raça, nação e religião, que
podem ser transmitidos através da linhagem e durar várias gerações.
Em relação aos estigmas é válido ressaltar que um atributo que estigmatiza
alguém, pode ser uma forma de confirmar a normalidade de outra pessoa. Esta
busca por normalidade remete ao conto “O alienista” de Machado de Assis (1984,
p.p.1-26), que conta a história de um médico especialista em doenças mentais,
chamado Dr. Simão Bacamarte, que decide voltar para sua terra natal, a cidade de
Itaguaí. Lá se casa com D. Evarista, e ao longo do tempo passa a se dedicar ao
estudo da psiquiatria, com o aprofundamento de seus estudos, constrói um
manicômio, a Casa Verde. No início as internações têm certa coerência, mas em
pouco tempo ele interna 75% da população da cidade, inclusive sua esposa, e os
motivos das internações aparentemente não eram suficientes para justificar a
internação, com o tempo, o médico compreende que sua teoria não estava correta, e
então ele liberta todos do manicômio.
Ao criar uma nova teoria, entende que se a maioria das pessoas que
possuíam um desvio de personalidade não tinha um padrão nos seus atos, seriam
loucos aqueles que tinham uma regularidade nas ações e firmeza de caráter, o que
fez com que voltasse a internar as pessoas com essas peculiaridades de
comportamento. Mas a teoria do Dr. Bacamarte é novamente refutada e ele decide
soltar todas as pessoas que haviam sido julgadas loucas, e opta por se manter
sozinho na Casa Verde, já que somente ele tinha uma personalidade perfeita e,
portanto, por isto seria o único anormal da cidade.
Estigma Definição
Deficientes físicos “A pessoa com deficiência [é] aquela que tem impedimento
de longo prazo de natureza física [...] o qual, em interação
com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições
com as demais pessoas. ” (BRASIL, 2015).
cujo significado varie de um grupo para outro, ou seja, que a mesma categoria seja
diferentemente caracterizada. ” (GOFFMAN, 1981, p.42) é o que ocorre em relação
aos mata-gatos, não existe um consenso na definição do termo, mas no geral é
possível identificá-los de acordo com suas vestimentas, aparência física e questões
sociais.
Figura 27. O Terminal Urbano identificado como “La casa do mata gato” em
referência à série “La casa de papel”.
Em relação às vestimentas [figura 28], algumas das falas indicam que podem
ser compostas por um estilo próprio de se vestir, no caso dos homens, é por boné
de crochê ou da marca John John, bermuda que pode ser colorida e dobrada,
sandália Kenner, camisa com pedras ou com a estampa da planta cannabis, brinco
de argola na orelha e pelo corpo há a presença de tatuagens, e para as mulheres
top e shortinho curtíssimo. É preciso ressaltar que estas características fazem parte
do estigma criado para os mata-gatos, é a imagem preconceituosa e estereotipada
que as pessoas têm das pessoas que veem da periferia.
93
Figura 29. Comentários em publicações sobre o Terminal Urbano de uma página do facebook.
14
Observações que ocorreram entre às 07 horas e ás 9:30 da manhã do dia 17 de abril de 2018.
95
Em relação aos deficientes físicos que transitam pelo Terminal, pode-se dizer
que a eles está reservado o direito de igualdade e de não discriminação e distinção
segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146, de 6 de julho de
2015) no Art. 4º, do Capítulo II que trata Da Igualdade e da Não Discriminação:
Apesar de serem amparados por uma lei, muitas vezes os deficientes ainda
sofrem discriminação pela condição em que se encontram, por isso podem criar
alguns mecanismos para propiciar a interação e impedir que haja perguntas e
curiosidade sobre a sua deficiência:
rapidamente transitam por ele, e mesmo que estejam todos os dias ali, eles veem o
Terminal com os olhos de turista e têm dele a leitura objetiva de um guia turístico,
destituída de grandes valores e sentidos, e sim, voltada para a sua utilidade (TUAN,
1983).
Figura 32. Estátua viva que fica próxima ao Terminal. Figura 33. Pessoas
interagindo com a Estátua
viva.
cujo nome foi “Mulher Negra na Cidade de Rio Branco” a galeria era composta por
20 fotos de mulheres negras e o seu papel na sociedade, dando destaque para as
suas profissões, o que revela a autonomia e independência da mulher negra
acreana, a exposição foi inspirada no mês da mulher e no Dia Internacional pela
Eliminação da Discriminação Racial, que ocorre no dia 21 de março (BORGES,
2014).
Figura 34. Pessoas observando as fotos da Figura 35. Exposição “Mulher Negra na Cidade
exposição. de Rio Branco”.
FONTE: BORGES, Amanda./G1 Acre, 2014. FONTE: BORGES, Amanda./G1 Acre, 2014.
Por isso é tão importante que a arte também ocupe espaços que não são
usuais, e nem são o lugar comum em que normalmente são feitas essas exposições,
mas que têm grande potencial para atingir uma diversidade de pessoas e de alguma
forma tocá-las através da arte. Exemplo disso, é uma vendedora ambulante que
trabalha no Terminal Urbano [figura 36 e 37] e tem chamado a atenção: “Em meio às
plataformas e muito barulho de ônibus, ao fundo é possível ouvir um som diferente.
É o violino da ambulante que vai se destacando ao longo da plataforma B do
Terminal Urbano em Rio Branco. ” (MUNIZ, 2018).
Figura 36. Vendedora ambulante tocando violino Figura 37. A ambulante é um exemplo da arte em
no Terminal Urbano. meio ao “caos”.
Como pôde ser visto a arte desperta os sentidos e percepções das pessoas
em todas as suas formas e expressões, trazendo à tona sentimentos e emoções, e a
arte de rua exerce um papel fundamental que permite as pessoas apreciar e ter o
acesso a maneiras diferentes de interpretar e dar sentido à vida, demonstrando com
isso que os sentidos e significados que o Terminal tem para alguns, vai além das
questões objetivas do deslocamento no dia a dia, do ir e vir da vida urbana, de
acordo com Bourdieu (1996, p.75):
Assim, está claro que o campo literário e artístico constitui-se como tal na e
pela oposição a um mundo "burguês" que jamais afirmara de maneira tão
brutal seus valores e sua pretensão de controlar os instrumentos de
legitimação, tanto no domínio da arte como no domínio da literatura, e que,
por intermédio da imprensa e de seus plumitivos, visa impor uma definição
degradada e degradante da produção cultural.
Assim, a arte pode ser usada para romper com a cultura burguesa, sendo
uma forma de recusa às formas de dominação capitalista, que visam manter a
ordem vigente, e a estratificação das classes sociais. As manifestações artísticas
enquanto forma de crítica a uma sociedade tão desigual e preconceituosa como a
que vivemos é legítima e possível para trazer as pessoas mais consciência e
motivação para agir em prol de lutas e mudanças sociais.
104
Figura 38. Manifestação contra a privatização Figura 39. Protesto contra as reformas da
da Eletroacre. Previdência e Trabalhista dentro do
Terminal.
Figura 40. Motoristas dos ônibus e cobradores Figura 41. Motoristas dos ônibus protestam e
protestam no Terminal Urbano. ficam parados por 30 minutos no Terminal.
Desse modo, pode-se dizer que é legítimo o uso desse espaço como forma
de expressão política e mostra que o Terminal não é um local restrito aos interesses
econômicos, já que as pessoas também podem se apropriar do Terminal para
107
reivindicar direitos, melhorias e para protestar diante de diversas causas. Alguns dos
motivos que fazem os manifestantes escolherem esse local é provavelmente por
estar localizado no centro da cidade, e por isso ter um fluxo grande de pessoas e
causar um grande impacto no trânsito, mobilizando as pessoas e dando visibilidade
para a causa em questão.
Não queremos punir pessoas pela desobediência à Lei, mas temos que
evitar o fumo no Terminal, o que afeta muitas pessoas passivamente.
Enquanto isso, a equipe de saúde orienta sobre o tratamento gratuito ao
tabagismo, oferecido nas unidades de saúde da nossa cidade. (ECO ACRE,
2016)
Assim sendo, é preciso deixar claro que as crianças não podem ter sua
infância violada sendo muitas vezes expostas ao trabalho similar ao escravo, em
que a criança é explorada e sua infância é roubada, momento em que deve brincar,
usar sua imaginação, se divertir e aproveitar da melhor maneira possível essa fase
de sua vida. Além disso, as pessoas são alertadas aos malefícios de se fumar, já se
sabe que a nicotina causa dependência e pode afetar a saúde não só de quem é
fumante ativo, mas aos fumantes passivos, que convivem com a fumaça, vale
ressaltar que existem placas espalhadas por todo o Terminal proibindo que se fume
nesse local. É importante ressaltar que o uso de panfletos além de útil para
conscientizar as pessoas sobre problemas e questões como fumo e trabalho infantil,
também é uma forma de divulgação das empresas, com a exposição de cursos
profissionalizantes e anúncios de dentista, por exemplo, e pelos grupos religiosos,
que distribuem mensagens bíblicas, e que às vezes tem o intuito de divulgar as
igrejas e convidar as pessoas a frequentarem e seguirem sua religião.
109
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALVES, Eliseu.; SOUZA, Geraldo da Silva e.; MARRA, Renner. Êxodo e sua
contribuição à urbanização de 1950 a 2010. Revista Política Agrícola, Brasília – DF,
ano 20, n. 2, p. 80-88, abr./jun. 2011.
AMAC. Prefeitura de Rio Branco inaugura nova estrutura do Terminal Urbano com
modernidade, conforto e segurança. Disponível em: <http://www.amac-
acre.com.br/site/?p=5494> Acesso em: 03 de out. 2016.
ARAÚJO, Kezio.; PESSOA, Cleilton. Estátua viva faz sucesso com crianças e
adultos no Acre. Disponível em:
<https://jiraudenoticias.wordpress.com/2017/04/19/estatua-viva-faz-sucesso-com-
criancas-e-adultos-no-acre/> Acesso em: 25 de set. 2017.
ASSIS, Machado de. O alienista. Rio de Janeiro: Três livros e Fascículos, 1984.
BERGER, Peter L.; LUCKMANN Thomas. A construção social da realidade. 23. ed.
Petrópolis: Vozes, 2003. p.35.
______. (Coord.) Efeitos de lugar. In: A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, p.160,
1997.
BRAGA, Wanglézio. A arte de rua que sobrevive nos arredores do Terminal Urbano.
Disponível em: <http://www.oriobranco.net/noticia/acre/a-arte-de-rua-que-sobrevive-
nos-arredores-do-terminal-urbano> Acesso em: 25 de set. 2017.
BRYM, Robert J. et al., LIE, John.; HAMLIN, Cynthia Lins.; MUTZENBERG, Remo.;
SOARES, Eliane Veras.; MAIOR, Heraldo Pessoa Souto. Sociologia: sua bússola
para um novo mundo. São Paulo: Cengage Learning, 2013.
CRUZ NETO, Otávio. O trabalho de campo como descoberta e criação. In: Pesquisa
social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994.
DEMO, Pedro. Metodologia científica em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1995.
FULGÊNCIO, Caio. 'Minha família diz que já nasci palhaço', diz estátua viva no AC.
Disponível em: <http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2014/04/minha-familia-diz-que-
ja-nasci-palhaco-diz-estatua-viva-no-ac.html> Acesso em: 25 de set. 2017.
G1. Ato público e panfletagem marcam Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil.
Disponível em: <http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2015/06/ato-publico-e-
panfletagem-marcam-dia-mundial-contra-o-trabalho-infantil.html> Acesso em: 10 de
out. 2017.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2012. p.27.
IPEA. Pesquisa estima que o Brasil tem 101 mil moradores de rua. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=2930
3> Acesso em: 01 de ago. 2018.
120
______. Metodologia do trabalho científico. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p.111.
MUNIZ, Tácita. Com sonho de ser violinista, ambulante ensaia enquanto vende
bombons em terminal de Rio Branco. Disponível em:
<https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/com-sonho-de-ser-violinista-ambulante-ensaia-
enquanto-vende-bombons-em-terminal-de-rio-branco.ghtml> Acesso em: 30 de jan.
2018.
______. Quatro pessoas são mortas e sete tentativas de homicídios são registradas
em Rio Branco. Disponível em: < https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/tres-pessoas-
sao-assassinadas-na-noite-de-quarta-29-em-rio-branco.ghtml> Acesso em: 31 de
jan. 2018.
ALMEIDA NETO, Domingos José de. Aos trancos e barrancos: Identidade, cultura e
resistência seringueira na periferia de Rio Branco – AC (1970-1980). Rio Branco,
AC: EDUFAC, 2004.
NOGUEIRA, Oracy. Pesquisa social: introdução às suas técnicas. 4.ed. São Paulo:
Nacional, 1977. p. 111.
PENSADOR. Cora Coralina: Feliz aquele que transfere o que sabe e... Disponível
em: <https://www.pensador.com/frase/NTYz/> Acesso em: 16 de mar. 2018.
PENSADOR. Tu Que Me Deste o Teu Cuidado. Disponível
em:<https://www.pensador.com/frase/NjAyNDQy/> Acesso em: 16 de mar. 2018.
PESSOA, Fernando. Autobiografia sem Factos. Assírio & Alvim, Lisboa, 2006.
122
RANZI, Cleusa Maria Damo. Raízes do Acre. Rio Branco, AC: EDUFAC, 2008.
RIO BRANCO. Inovação: Prefeitura de Rio Branco lança programa de internet grátis
em locais públicos. Disponível em: <http://riobranco.ac.gov.br/
index.php/noticias/noticias-itens/ultimas-noticias/11683-inovação-prefeitura-de-rio-
branco-lança-programa-de-internet-grátis-em-locais-públicos.html> Acesso em: 13
de set. 2017.