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EMAP
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
SUMÁRIO
SUMÁRIO .............................................................................................. 2
1. RAIO-X DOS EXAMINADORES ......................................................... 7
1.1. Desembargador Lauri Caetano Da Silva (Presidente), ................... 7
1.2. Desembargador Vicente del Prete Misurelli, ................................. 8
1.3. Desembargador Luís Carlos Xavier ................................................ 8
1.4. Doutora Elizabeth Maria de França Rocha e ................................ 10
1.5. Desembargador Luiz Cezar Nicolau (suplente), ........................... 10
1.6. (OAB) Doutor Alexandre Hellender de Quadros (titular) ............. 11
1.7. (OAB) Doutora Estefânia Maria de Queiroz Barboza (suplente) .. 12
2. JULGADOS DOS EXAMINADORES................................................. 14
2.1. Lauri Caetano Da Silva ................................................................. 14
2.1.1. REVISIONAL DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA ...................... 14
2.1.2. EMBARGOS MONITÓRIOS – CAUSA MADURA ...................................... 27
2.1.3. CDC – COMPRA E VENDA DE VEÍCULO ZERO – VÍCIO DE QUALIDADE
............................................................................................................................. 30
2.1.4. CONTRATO DE CORRETAGEM ............................................................... 39
2.1.5. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA – RESCISÃO CONTRATUAL E
REINTEGRAÇÃO DE POSSE ............................................................................... 53
2.1.6. AÇÃO DEMARCATÓRIA E EXCEÇÃO DE USUCAPIÃO .......................... 64
2.1.7. COMISSÃO DE CORRETAGEM – DÚVIDA SOBRE O CREDOR ............... 73
2.1.8. DECLARATÓRIA DE ADIMPLEMENTO C/C IMISSÃO NA POSSE ........... 80
2.1.9. REVISIONAL DE CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – JUROS
COMPOSTOS ...................................................................................................... 93
2.1.10. LEASING – AUSÊNCIA DO CONTRATO REVISANDO ........................... 99
2.1.11. RESCISÃO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE
ESTABELECIMENTO COMERCIAL ................................................................... 104
2.1.12. USO INDEVIDO DE MARCA - DUDALINA ............................................ 109
2.1.13. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – COMISSÃO DE PERMANÊNCIA
........................................................................................................................... 120
2.1.14. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS E PRODUÇÃO ANTECIPADA DE
PROVAS ............................................................................................................. 130
2.1.15. REVISIONAL BANCÁRIA – TARIFAS DE CONTRATAÇÃO ................... 134
2.1.16. DESCABIMENTO DE CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS – CAUSÍDICO
QUE NÃO PROVOCOU O RESULTADO........................................................... 139
2.1.17. AÇÃO PETITÓRIA APÓS AÇÃO POSSESÓRIA IMPROCEDENTE ........ 141
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Integral
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Vicente Del Prete Misurelli, filho de Carlos Del Prete Misurelli e de Leone Caldeira
junho de 1990 foi nomeado juiz de direito, atuando nas comarcas de Andirá,
de abril de 2006.
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direito, a partir de 15 de junho de 1989 judicou nas comarcas de Terra Roxa, Palotina,
de Justiça do Paraná.
Tuiuti do Paraná.
Integral
Competência Material:
Desarmamento;
falimentares;
g) crimes ambientais;
dignidade sexual; c) crimes contra a paz pública; d) infrações penais relativas a tóxicos
e entorpecentes; e) demais infrações penais que não seja: a) crimes contra a pessoa,
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praticados.
em Composição Integral
Competência material:
(ICSP) e Instituto Brasileiro de Cursos Jurídicos (IBEJ) – 2001 e em Direito Público pela
Escola da Magistratura do Paraná (EMAP) – 2009. Atuou nos cartórios: 4ª Vara Cível e
2ª Vara Cível da Comarca de Ponta Grossa (1979 a 1987) e exerceu a advocacia entre
1987 e 1991. Ingressou na Magistratura em 1990 e atuou como juiz na 60ª Seção
Londrina e Ponta Grossa. Foi juiz substituto de 2º Grau no Tribunal de Alçada, Turma
Tribunal de Justiça. Foi juiz auxiliar da Corregedoria Geral de Justiça (2005/2006) e juiz
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Pereira dos Santos, Quadros & Advogados (PSQA), conselheiro da Ordem dos
440h).
de Curitiba.
Menção Honrosa no Prêmio Capes de Tese de 2012 pela tese "Stare Decisis,
sistemas de common law e civil law" Sua tese de doutorado foi escolhida como a
melhor de 2011 do PPGD da PUCPR. Doutora e Mestre em Direito pela PUCPR, com
estágio doutoral (doutorado sanduíche) e bolsa CAPES na Osgoode Hall Law School
Università degli Studi di Palermo nos anos de 2012, 2013 e 2014. É Vice-Presidente da
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imóvel, pois na sua composição integram, além do valor de mercado, a sua flutuação,
venda. Embora não haja contrato de locação entre as partes, a indenização deve se
dar pelo uso do imóvel, evitando, por seu lado, o enriquecimento sem causa; para que
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sua rescisão pelo não pagamento das prestações, são devidos os aluguéis desde o
de inadimplemento substancial.
Inteiro teor
I- RELATÓRIO
1. No dia 10 de abril de 2015 Idelzina de Oliveira ajuizou ação de revisão de contrato
de compra e venda de imóvel em face de HD Empreendimentos S/S Limitada,
aduzindo que (a) a construtora HD firmou, em 30.10.1999, contrato particular de
compromisso de venda e compra com José Carlos Ivalea e Cleusa Pinheiro Ivalea, pelo
valor de R$22.500,00 a serem pagos em 124 prestações de R$180,00. Constou do
contrato que as prestações seriam corrigidas e capitalizadas mensalmente pelo índice
do IGP-M; (b) no dia 01.09.2008, com anuência da construtora, os compromissários
compradores cederam os direitos relativos ao contrato em seu favor; (c) o contrato
encontra-se eivado de abusividades que o tornam nulo de pleno direito; (d) efetuou o
pagamento de 85 prestações das 138 contratadas; (e) encontra-se inadimplente, já
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Contra esta decisão, ambas as partes opuseram embargos de declaração (mov. 150.1
e 156.1 f. 612/620 e f. 628/634), sendo acolhido, apenas com efeito integrativo, os
embargos de declaração
opostos pela ré/reconvinte, para suprir a omissão referente à análise do pedido de
concessão de tutela antecipada de reintegração de posse (mov. 152.1 e 158.1 - f. 623
e 637).
6. A autora, Idelzina de Oliveira, interpôs recurso de apelação (mov. 165.1 -
f.645/664), postulando a reforma da sentença, aduzindo que: (a) ao caso se aplicam as
disposições do Código de Defesa do Consumidor; (b) houve ofensa ao princípios
basilares da boa-fé objetiva, proteção, informação, transparência, dentre outros; (c) em
nenhum momento afirmou ter renegociado a dívida, apenas confessou que efetuou o
pagamento em atraso de algumas prestações; (d) não sabia que estava assinando um
contrato antigo e que lhe seria cobrado as prestações vencidas há muito tempo; (e) as
prestações foram calculadas com o acréscimo abusivo de juros, os quais devem ser
expurgados; (f) o laudo pericial deixou de considerar valores que foram pagos, bem
como foi produzido com base em um contrato que apresentava inúmeras
irregularidades; (g) o laudo pericial deve ser interpretado de modo mais favorável ao
consumidor; (h) também não é cabível indenização por perdas e danos, uma vez que
não deu causa à resolução do contrato; (i) é abusiva a cobrança da comissão de
corretagem; (j) houve adimplemento substancial do contrato, sendo improcedente o
pedido da ré/reconvinte de resolução do contrato. Ao final, pediu a redistribuição do
ônus da sucumbência.
Contrarrazões de apelação (mov. 174.1 f. 681/698).
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
merece o recurso ser conhecido.
7. Do cotejo dos autos, observa-se que (i) no dia 30.10.1999, José Carlos Ivalea e
Cleusa Pinheiro Ivalea celebraram com HD Empreendimentos S/S Limitada contrato
particular de compromisso de venda e compra, com objetivo de adquirir o lote nº 22,
da quadra nº 07, com área de
255 m2, da planta do Jardim Atlanta, na cidade de Londrina/PR, pelo valor de
R$22.500,00. Na oportunidade, realizaram o pagamento à vista de R$180,00 e
assumiram a obrigação de pagar 124 prestações mensais de R$180,00, vencendo- se a
primeira em 30.12.1999 e a última 30.03.2010 (mov. 23.6 f. 179/183).
Em virtude de problemas econômicos, no dia 17.09.2001, os compromissários
compradores renegociaram a dívida, comprometendo-se a saldar o débito em 150
parcelas mensais de R$150,00, vencendo-se a primeira em 17.09.2001; (ii)
posteriormente, com anuência da construtora, José Carlos Ivalea e Cleusa Pinheiro
Ivalea cederam os direitos do contrato em favor de Antônio Honório (mov. 23.8 f.
185), que cedeu seus direitos para Pedro Pereira de Araújo Sobrinho (mov. 23.9 f.
186) que, por sua vez, cedeu para Idelzina de Oliveira (mov. 23.10 f. 187); (iii) no
instrumento de cessão do contrato constou que ainda restavam 138 prestações em
aberto, as quais deveriam ser pagas conforme “as normas e condições estabelecidas
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Pelo que se viu da prova pericial, a construtora deixou de aplicar alguns encargos a
fim de “ajudar” a autora, de modo a possibilitar o adimplemento da obrigação.
Vejamos a explicação do Perito Judicial:
Ocorre que, conforme, explicitado no decorrer do processo, os Requeridos realizaram
a atualização monetária anualmente, sendo que o contrato prevê tal atualização de
forma mensal.
Sendo assim, a perícia aplicou tal correção da mesma forma praticada pela Requerida,
ou seja, de forma anual.
Após a apuração dos valores das parcelas devidas, conforme contrato, a perícia
apurou a diferença entre os valores devidos apurados pela perícia e os valores pagos
pela requerente discriminados no mov. 29.15 de 01/06/15, totalizando o montante
pago a menor (devido pela Requerente) de R$ 40.670,14 (quarenta mil seiscentos e
setenta reais e quatorze centavos).
Tal diferença (R$ 40.670,14) atualizada desde a data de sua apuração pelo IGP-
M/FGV, resultou no montante devido pela Requerente atualizado até março/2016
(data do presente laudo) no valor de R$ 58.895,60 (cinquenta e oito mil oitocentos e
noventa e cinco reais e sessenta centavos).
Frisa-se que não houve aplicação de encargos moratórios (multa e juros moratórios)
considerando que a Requerida não aplicou tais encargos (mov. 103.2 f. 496).
Ao contrário do que alega a apelante não houve a desconsideração de nenhum valor
por ela pago. As parcelas de número 135, 148 e 154, apesar dos valores não
constarem da planilha, foram listadas como pagas pelo perito, inclusive com o
apontamento da data do pagamento.
Acerca da renegociação da dívida, esta foi perpetrada pelo compromissário-
comprador originário, razão pela qual, no momento da celebração do termo de
cessão, a dívida já se encontrava renegociada, encontrando-se em aberto 138
prestações, conforme consta do termo de cessão.
Portanto, nos termos postos pelo magistrado de 1º grau, “não há se cogitar no
excesso apontado pela parte autora e, na hipótese, uma vez que a perícia realizada
observou estritamente a determinação judicial no sentido de serem observados os
termos de todos os pactos firmados entre as partes, entendo que sua conclusão não
merece considerações ou reparos”.
10. Com efeito, ao contrário do que alega a apelante, é possível a condenação em
perdas e danos consubstanciada em pagamento de aluguéis, mesmo em contrato de
compra e venda. Embora não haja contrato de locação entre as partes, a indenização
deve se dar pelo uso do imóvel, evitando o enriquecimento sem causa. Para que se dê
indenização justa, criou-se, para tanto, a forma de aluguel. Assim, tendo os recorrentes
utilizado o imóvel durante a vigência do contrato e tendo dado causa à sua rescisão
pelo não pagamento das prestações, são devidos os aluguéis pelo período de uso do
bem.
Nesse sentido, é o entendimento jurisprudencial:
AGRAVO REGIMENTAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. PROCESSUAL CIVIL.
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não há forma especial prevista em lei para a sua celebração ou validade, podendo ser
provado por todos os meios admissíveis em direito, inclusive por testemunhas (...)”2.
Feitos estes esclarecimentos preliminares, passamos a análise do caso concreto.
As apelantes sustentam que a comissão de corretagem não foi paga em seu favor, o
que torna totalmente impossível que recaia sobre elas a devolução do referido
importe.
É cediço que a comissão de corretagem, corresponde à remuneração de serviços de
intermediação prestados por terceiro, com vistas à aproximação das partes para a
realização do negócio.
Nada obsta a cobrança de taxa de corretagem em negócios envolvendo a compra e
venda de imóvel. As partes podem livremente pactuar quem ficará obrigado pelo
pagamento destas verbas (art. 724, Código Civil3). No entanto, em observância ao
princípio da informação, tal encargo deve ser devidamente informado ao adquirente
do imóvel. Ou seja, o consumidor deve ser informado que ele arcará com as comissões
daqueles que intermediaram a venda.
Nesse sentindo, foi o entendimento manifestado pelo Superior Tribunal de Justiça, no
julgamento do REsp nº 1.599.511/SP, sob o regime do artigo 1.036 e seguintes do
Código de Processo Civil, com efeito vinculante:
RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR.
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA. VENDA DE UNIDADES AUTÔNOMAS EM ESTANDE
DE VENDAS. CORRETAGEM. CLÁUSULA DE TRANSFERÊNCIA DA OBRIGAÇÃO AO
CONSUMIDOR. VALIDADE. PREÇO TOTAL. DEVER DE INFORMAÇÃO. SERVIÇO DE
ASSESSORIA TÉCNICO-IMOBILIÁRIA (SATI). ABUSIVIDADE DA COBRANÇA.
I - TESE PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015: 1.1. Validade da cláusula
contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão
de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma
em regime de incorporação imobiliária, desde que previamente informado o preço
total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de
corretagem.
1.2. Abusividade da cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria
técnico- imobiliária (SATI), ou atividade congênere, vinculado à celebração de
promessa de compra e venda de imóvel.
II - CASO CONCRETO: 2.1. Improcedência do pedido de restituição da comissão de
corretagem, tendo em vista a validade da cláusula prevista no contrato acerca da
transferência desse encargo ao consumidor.
Aplicação da tese 1.1.
2.2. Abusividade da cobrança por serviço de assessoria imobiliária, mantendo-se a
procedência do pedido de restituição. Aplicação da tese 1.2.
III - RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.
(REsp 1599511/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 24/08/2016, DJe 06/09/2016)
No caso em exame, porém, não houve previsão contratual acerca da cobrança da taxa
de corretagem, não podendo, portanto, tal encargo ser repassado ao consumidor,
tendo em vista a flagrante violação dos preceitos do Código de Defesa do
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Consumidor, que exigem informação clara, suficiente e precisa acerca das condições
do negócio, principalmente, de forma discriminada, de todos os encargos a incidir
sobre a transação que seriam de responsabilidade do comprador (artigos 46 e 47 do
CDC4). Ora, se o contrato foi objeto de cessão de direitos interpretada pelo
promitente comprador originário, não é possível imputar ao cessionário o pagamento
da comissão de corretagem, sem expressa previsão contratual.
Assim, indevida a retenção dos valores pagos pela construtora a título de comissão de
corretagem.
12. A pretensão da apelante com relação ao reconhecimento do adimplemento
substancial não merece prosperar.
Não nos parece razoável adotar simplesmente um critério numérico, quantificando o
número de prestações adimplidas e inadimplidas. A adoção pura e simples desse
critério matemático afasta a perquirição se ocorreu um justo impedimento para o
pagamento das prestações vencidas e da própria boa-fé do devedor, além da
utilidade para o credor do exercício de outra fórmula processual para o recebimento
do crédito.
Para exemplificar podemos citar a hipótese do devedor que não dispõe de outros
meios materiais e financeiros para pagar a dívida vencida, senão pelo único bem
objeto do contrato. Se o credor deve proceder de forma menos onerosa para receber
o seu crédito, também não se pode obstar que o mesmo postule pela única forma
capaz de alcançar esse objetivo. No campo da realidade social, adotar esse critério
matemático sem qualquer outro tipo de investigação, projetará condutas de
inadimplemento substancial, pois com o pagamento de 70% ou 80% das prestações
ajustadas, o devedor pode se sentir imune a qualquer pedido de resolução do
contrato, praticando ação negativa de pagamento, ficando no aguardo da iniciativa do
credor.
No caso concreto, mesmo se fosse possível utilizar isoladamente o critério
matemático, vislumbro que a apelante não cumpriu o pressuposto básico para
aplicação da aludida teoria, qual seja, o adimplemento substancial do contrato. Não
podemos concordar com a ideia de que o pagamento de 39,38% do contrato
(conforme reconhecido pelo perito judicial mov. 103.2 f. 504) autorize a aplicação
da teoria do adimplemento substancial.
Com relação ao tema, o entendimento é unânime na 17ª Câmara Cível deste Tribunal
de Justiça:
AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO INTERPOSTO CONTRA
DECISÃO DO RELATOR QUE NEGOU SEGUIMENTO AO AGRAVO DE
INSTRUMENTO. AÇÃO COM PEDIDO DE REVISÃO DE CLÁUSULAS FINANCEIRAS
INSERIDAS EM CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL. PEDIDO DE
DEPÓSITO JUDICIAL DAS PRESTAÇÕES EM SEU VALOR INTEGRAL VALOR
AJUSTADO NO CONTRATO. AGRAVANTE QUE ALEGA O ADIMPLEMENTO
SUBSTANCIAL DO CONTRATO. TEORIA QUE NÃO SE APLICA AO CASO
CONCRETO. PAGAMENTO DE 44 PRESTAÇÕES DAS 60 CONTRATADAS.
AUSÊNCIA DE MOTIVOS OU FUNDAMENTOS QUE AUTORIZEM A REFORMA DE
DECISÃO MONOCRÁTICA. RECURSO DESPROVIDO. 1. É direito do devedor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
fiduciante ajuizar ação com pedido de revisão das cláusulas financeiras do contrato de
arrendamento mercantil visando afastar eventuais cláusulas abusivas. 2. Todavia, sem
justa causa, não é razoável o deferimento de liminar incidental para o depósito do
valor integral da prestação, visando afastar a mora e, consequentemente, impedir a
inscrição de seu nome nos cadastros de inadimplentes e eventual ajuizamento de ação
por parte do credor arrendante. 3. Se o devedor pretende afastar a mora basta
promover o pagamento da prestação através do boleto bancário, na data do
vencimento. 4.
Não nos parece razoável adotar a teoria do adimplemento substancial do contrato
tendo em conta simplesmente um critério numérico, já que isso afastaria a perquirição
acerca da ocorrência de justo impedimento para o pagamento das prestações
vencidas e da própria boa-fé do devedor; além da utilidade para o credor do exercício
de outra fórmula processual para recebimento do crédito.
(TJPR - 17ª C.Cível - AR - 1093383-4/01 - Foro Regional de Campo Largo da Comarca
da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime - - J.
17.07.2013)
AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.
LIMINAR DEFERIDA. RECURSO INTERPOSTO SOB A ÓTICA DO ADIMPLEMENTO
SUBSTANCIAL DO CONTRATO, PLEITEANDO A REVOGAÇÃO DA LIMINAR.
DECISÃO DO RELATOR QUE NEGOU SEGUIMENTO AO AGRAVO DE
INSTRUMENTO. PAGAMENTO DE 38 DAS 48 PRESTAÇÕES CONTRATADAS.
TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO CONTRATO. INAPLICABILIDADE
NO CASO CONCRETO. RECURSO DESPROVIDO.
(TJPR/Agravo n. 0697439-8/01, 17ª CCível, Rel.Desembargador Lauri Caetano da
Silva, unânime, j. 15.09.2010)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. DECISÃO QUE
INDEFERIU A LIMINAR PRETENDIDA COM FUNDAMENTO NA TEORIA DO
ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO CONTRATO. RECONHECIMENTO DE OFÍCIO.
IMPOSSIBILIDADE.
CERCEAMENTO DO DIREITO DE AÇÃO, SEM JUSTA CAUSA COMPROVADA NOS
AUTOS.
INADIMPLEMENTO, ADEMAIS, QUE ALCANÇA O EQUIVALENTE A 25% DO
CONTRATO.
RECURSO PROVIDO PARA CASSAR A DECISÃO AGRAVADA.
1. Não nos parece razoável adotar a teoria do adimplemento substancial do contrato
tendo em conta simplesmente um critério numérico, já que isso afastaria a perquirição
acerca da ocorrência de justo impedimento para o pagamento das prestações
vencidas e da própria boa-fé do devedor; além da utilidade para o credor do exercício
de outra fórmula processual para recebimento do crédito. 2. Hipótese, ademais, em
que o inadimplemento alcança o equivalente a 25% do valor do contrato, não se
afigurando razoável a adoção da teoria debatida, sob pena inclusive de se projetar, no
campo da realidade social, condutas de inadimplemento substancial.
3. Além do critério matemático adotado na decisão agravada, para a aplicação da
tese do adimplemento substancial é necessário perquirir se havia justo motivo para o
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ao juiz o julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 330 do CPC/73, sem que,
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1635249-9 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 14.06.2017)
Inteiro teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença proferida pelo
MM. Dr. Juiz de Direito da 25ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba, nos autos nº 0003304-46.2014.8.16.0179 de ação
monitória,
proposta por Braspress Transportes Urgentes Ltda em face de Rinno Motores &
Máquinas Ltda EPP, que julgou improcedentes os embargos monitórios, constituindo
em favor da autora o título executivo judicial no valor de R$11.047,14, corrigidos
monetariamente a partir da data dos vencimentos das faturas pela média entre o INPC
e o IGP- DI até a data do efetivo pagamento, e acrescidos de juros moratórios de 1%
ao mês a partir da citação. Ante a sucumbência, condenou a ré ao pagamento das
custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em R$1.500,001 (mov.76.1
f. 277/283).
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Em que pese os argumentos da apelante, não vejo razão para acolher a insurgência.
Isto porque a questão sub judice prescinde de realização de outras provas, além da
documental já oferecida, cabendo ao juiz o julgamento antecipado da lide, nos termos
do art. 330 do Código Civil de 1973, sem que, com isso, ocorra a violação aos
princípios do contraditório e da ampla defesa.
É perfeitamente possível que sejam dispensados alguns atos instrutórios,
especialmente quando as demais provas autorizam o julgador a entregar a prestação
jurisdicional de forma mais célere e quando a discussão travada nos autos se revela
inadequada.
No caso, em seus embargos monitórios, a requerida limitou-se a alegar a ausência
dos documentos essenciais à propositura da ação monitória, matéria unicamente de
direito, mostrando-se desnecessária a dilação probatória.
Desse modo, diante da prova documental produzida e da sua suficiência para
entender a relação jurídica ultimada pelas partes, podemos afirmar que neste caso não
era necessária a produção de prova testemunhal. Se os documentos apresentados são
suficientes para o magistrado firmar o seu convencimento à luz do princípio da
persuasão racional (art. 131, CPC/1973) pode desprezar a realização de outras provas
por conta da sua inutilidade para a composição do litígio.
A corroborar:
PROCESSUAL CIVIL. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA.
ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. JULGAMENTO
ANTECIPADO DA LIDE.
PRODUÇÃO DE PROVAS. PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO.
REEXAME PROBATÓRIO. INVIABILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. A solução integral da
controvérsia, suficientemente fundamentada, não caracteriza ofensa ao art. 535 do
CPC. 2. Ao julgador é dado apreciar o pedido formulado com base em provas que
entender suficientes para a formação de seu convencimento, não havendo, portanto,
indícios de nulidade processual na espécie 3.
Segundo a jurisprudência do STJ, “cumpre ao magistrado, destinatário da prova,
valorar sua
necessidade, conforme o princípio do livre convencimento motivado, previsto no art.
131 do CPC.
(...) 5. Agravo Regimental não provido. (STJ, AgRg no AREsp 414.534/DF, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/11/2013, DJe
05/12/2013)
“É cediço que não configura cerceamento de defesa o julgamento da causa, sem a
produção de prova, quando o tribunal local entender substancialmente instruído o
feito, declarando a existência de provas suficientes para seu convencimento. (STJ,
AgRg no REsp 1067586/SP, Rel.
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/10/2013,
DJe 28/10/2013)
“O julgamento antecipado da lide, por si só, não caracteriza cerceamento de defesa,
já que cabe ao magistrado apreciar livremente as provas dos autos, indeferindo
aquelas que considere inúteis ou meramente protelatórias.” (STJ, AgRg no AREsp
29
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
isento de qualquer avaria, adulteração ou outra alteração, e não sendo o vício sanado
Publicado no DJE: 19/08/2013. Pág.: 58). 2. Não pode o consumidor ser penalizado
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de obrigação de fazer cumulada com pedido de indenização por
danos morais (autos nº 0024480- 82.2014.8.16.0017) ajuizada por Aldo Pereira Teixeira
em face de Concessionária Sul Import Veículos e Serviços Limitada, alegando que (a)
No dia 28.03.2013, adquiriu junto a concessionária requerida um veículo I/LR Range
Rover SDV8 VOGUE, 2012/2013, chassi SALGA2HF0DA103976, pelo preço de
R$535.000,00; (b) sempre despendeu ao bem as devidas precauções e os
recomendados cuidados previstos no respectivo Manual de Instruções e Utilização do
veículo, zelando pela sua manutenção, conservação, durabilidade e eficiência; (c) no
dia 09.12.2013, levou o veículo até a concessionária para fazer a primeira revisão e a
correção de defeitos apontados pela fábrica em recall. Contudo, os serviços não foram
finalizados em virtude da falta de peças; (d) no dia 31.03.2014, retornou à
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parágrafo único, da Lei 4886/65, alterada pela Lei n° 8.240/92, que regula as
demais direitos que lhe são garantidos por esta Lei". 3. O prazo prescricional deve ser
tácita, por parte do representante, que manteve a contratação por mais de quinze
Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Maria Nedel Scalzilli,
Julgado em 27/03/2014). 6. A cláusula del credere é prática vedada pelo art. 43 da Lei
39
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 14.06.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação e recurso adesivo interpostos em virtude da
sentença proferida pelo MM. Dr. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível da Comarca de
Cascavel, nos autos nº 0001381-71.2014.8.16.0021 de ação de cobrança cumulada
com pedido de indenização por danos materiais e morais, proposta por Roman &
Caldas Limitada em face de Garthen Industria e Comércio de Máquinas Limitada, que
julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial . Ante a sucumbência,
condenou o autor ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios,
fixados em
R$10.000,00 1 (mov. 113.1 - f. 1618/1629).
2. A autora Roman & Caldas Limitada interpôs recurso de apelação (mov. 121.1 - f.
1638/1665), postulando a reforma integral da sentença, alegando que (i) sua pretensão
não se encontra prescrita; (ii) não deu causa à rescisão do contrato, fazendo jus ao
recebimento das verbas rescisórias; (iii) após a notificação extrajudicial o contrato
continuou vigente por mais 4 meses, não tendo àquela o condão de desfazer o vínculo
contratual; (iv) faz jus ao recebimento das diferenças de comissão; (v) faz jus ao
recebimento das comissões devidas e não quitadas pela ré, referentes aos meses de
outubro de 2010 e novembro de 2010; (vi) qualquer alteração da área de atuação
deveria ser precedida de acordo escrito e assinado pelas partes; (vii) é ilegal a fixação
de cláusula del credere; (viii) foi irregular a cobrança de brindes, amostras, peças de
reposição, garantias e catálogos. Por fim, requer a inversão do ônus da sucumbência
ou a minoração dos honorários advocatícios.
Contrarrazões ao recurso de apelação (mov. 126.1 f.
1675/1684).
3. A ré Garthen Industria e Comércio de Máquinas Limitada interpôs recurso adesivo
(mov. 127.2 - f. 1689/1692), pleiteando a reforma da sentença, para obter declaração
de que nada deve ao recorrido.
Contrarrazões ao recurso adesivo (mov. 134.1 f.
1701/1707).
É o relatório.
II- VOTO
Em primeiro lugar, anoto que o recurso adesivo não merece ser conhecido. Isto
porque o recurso adesivo só é cabível quando há sucumbência recíproca das partes,
nos termos do artigo 997, §1º do Código de Processo Civil.
40
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
ilegalmente (cláusula del credere); (d) indenização pela redução ilegal da área de
abrangência de atuação; (e) indenização dos valores que foram cobrados ilegalmente a
título de brindes, amostras, peças de reposição, garantias, catálogos, etc; (f) despesas
realizadas e não reembolsadas pela ré quando da convocação para reuniões; (g)
indenização compensatória pela formação da clientela e abertura de áreas (perdas e
danos); (h) indenização por danos morais; (i) indenização das verbas rescisórias, tais
como aviso prévio e indenização de 1/12.
4.2. A ré Garthen Industria e Comércio de Máquinas Limitada apresentou resposta em
sede de contestação (mov. 25.1 - f. 1358/1372), alegando, preliminarmente, a
prescrição da pretensão com base no artigo 44 da Lei nº 4.886/95 e a incompetência
absoluta do Juízo, pois deve ser processado e julgado perante a Justiça do Trabalho.
No mérito, discorreu que foi a autora quem deu causa à rescisão do pacto, na medida
em que passou a vender produtos similares de empresas concorrentes. Salientou que,
desde o início da contratação, foi pactuada a alteração das áreas de abrangência.
Também estava previsto contratualmente a possibilidade de redução do percentual
da comissão. Ressaltou que a parte autora avalizava seus clientes para não perder
vendas. Esclareceu que inexistem valores a serem pagos a título de verba rescisória.
Dessa forma, pugnou pela improcedência dos pedidos formulados na inicial.
4.3. No despacho saneador (mov. 51.1 - f. 1487/1490), o magistrado de 1º grau
afastou a preliminar de incompetência do Juízo, fixou os pontos controvertidos e
deferiu a produção da prova testemunhal.
4.4. Em sede de audiência de instrução e julgamento, foi tomado o depoimento
pessoal das partes e inquiridas 06 testemunhas (mov.
74.1 e 105.1 mov. 1538/1544 e 1597/1601).
4.5. O MM. Dr. Juiz a quo julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial
(mov. 113.1 - f. 1618/1629). É contra esta decisão que se insurge o autor.
Pois bem!
5. A apelante afirma que não operou a prescrição da sua pretensão, sustentando que
o prazo previsto no artigo 44, parágrafo único, da Lei n° 4.886/65, diz respeito ao
ajuizamento da ação pelo representante comercial para pleitear a retribuição que lhe é
devida. Sustenta que, embora o julgador monocrático tenha reconhecido a prescrição
quinquenal das parcelas anteriores a 16.01.2009, o que prescreve em cinco anos é o
direito de ação, e não o direito à indenização das parcelas.
Contudo, não vejo razão para a modificação da sentença neste aspecto.
Em primeiro lugar, é necessário ressaltar que as relações jurídicas decorrentes do
contrato de representação comercial são regidas pela Lei nº 4.886/65 alterada pela Lei
nº 8420/92. Assim, o prazo prescricional para o exercício de direitos oriundos das
relações de representação comercial deverá obedecer às regras contidas na referida
lei.
Sob esse prisma, é forçoso reconhecer que o prazo prescricional para a cobrança de
direitos decorrentes desse tipo de contrato é de cinco anos.
A Lei 4.886/65, ao regular as atividades dos representantes comerciais autônomos,
assim dispõe no §único do artigo 44:
42
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
“Art. 44. (...) Parágrafo único. Prescreve em cinco anos a ação do representante
comercial para pleitear a retribuição que lhe é devida e os demais direitos que lhe são
garantidos por esta lei.”
Por sua vez, a prescrição para cobrar comissões pagas a menor e obter indenização
por quebra de exclusividade tem termo inicial diverso, pois “o representante comercial
adquire o direito às comissões quando do pagamento dos pedidos ou propostas” (art.
32 da Lei 4.886/65) e “o pagamento das comissões deverá ser efetuado até o dia 15
do mês subsequente ao da liquidação da fatura, acompanhada das respectivas cópias
das notas fiscais” (art. 32, §1º, da Lei 4.886/65).
Ou seja, a pretensão para cobrar as comissões pagas a menor, nasce com o seu não
pagamento no prazo legal.
Assim, a cada mês em que houve comissões pagas a menor e a cada venda feita por
terceiro em sua área de exclusividade, faz surgir para o representante comercial o
direito de obter a devida reparação.
Considerando que a ação foi ajuizada em 16.01.2014 e aplicando-se à hipótese dos
autos a prescrição quinquenal prevista na Lei 4.886/65, deve-se concluir que há a
incidência da prescrição sobre parcelas referentes a comissões não pagas ou pagas a
menor devidas anteriormente a 16.01.2009.
Nesse sentido, é o entendimento jurisprudencial:
Empresarial, civil e processual civil. Recurso especial. Juízo de admissibilidade.
Deficiência na fundamentação. Necessidade de revisão do contexto fático-probatório.
Reexame de cláusulas contratuais. Representação comercial autônoma. Lei de
regência. Prescrição.
Prazo, termo inicial e retroatividade. Correção monetária pelo INPC.
(...) - A pretensão do representante comercial autônomo para cobrar comissões nasce
mês a mês com o seu não pagamento no prazo legal, pois, nos termos do art. 32, §1o,
da Lei 4.886/65, “o pagamento das comissões deverá ser efetuado até o dia 15 do
mês subsequente ao da liquidação da fatura, acompanhada das respectivas cópias das
notas fiscais”. De modo análogo, a pretensão para cobrar indenização nasce com a
efetiva quebra da exclusividade. Assim, a cada mês em que houve comissões pagas a
menor e a cada venda feita por terceiro em sua área de exclusividade, nascia para o
representante comercial o direito de vir a juízo obter a prestação jurisdicional que lhe
assegurasse a devida reparação.
- É quinquenal a prescrição para cobrar comissões, verbas rescisórias e indenizações
por quebra de exclusividade contratual, conforme dispõe o parágrafo único do art. 44
da Lei 4.886/65.
- A prescrição em curso não origina direito adquirido, podendo seu prazo ser
aumentado ou reduzido por norma posterior. No entanto, em prol da segurança
jurídica, não se pode fazer com que o termo inicial do prazo prescricional reduzido
retroaja para uma data anterior à vigência da nova lei. O quinquênio prescricional deve
computar-se desde a vigência da Lei 8.240/92.
- A correção monetária de dívida que, por força de lei, estava atrelada à variação do
BTN passa, com a extinção desse índice, a ter por base o INPC desde o advento da
Lei 8.177/91 (março/91).
43
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Precedentes.
Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1085903/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
20/08/2009, DJe 30/11/2009)
PROCESSUAL CIVIL E COMERCIAL. RESCISÃO DE CONTRATO. REPRESENTAÇÃO
COMERCIAL. ZONA DE ATUAÇÃO. EXCLUSIVIDADE. OMISSÃO CONTRATUAL.
POSSIBILIDADE DE COMPROVAÇÃO. PAGAMENTO DE COMISSÕES. RESOLUÇÃO
CONTRATUAL. EFEITO EX TUNC. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. APLICABILIDADE.
1. Ação ajuizada em 10/08/2001. Recurso especial interposto em 05/03/2014 e
atribuído a este gabinete em 25/08/2016.
2. É possível presumir a existência de exclusividade em zona de atuação de
representante comercial quando: (i) não for expressa em sentido contrário; e (ii) houver
demonstração por outros meios da existência da exclusividade.
3. A resolução contratual é cabível nos casos de inexecução do contrato, que pode
ocorrer de modo voluntário ou involuntário, gerando efeitos retroativamente (ex tunc).
4. A pretensão do representante comercial autônomo para cobrar comissões nasce
mês a mês com o seu não pagamento no prazo legal, pois, nos termos do art. 32, §1º,
da Lei 4.886/65. Assim, a cada mês em que houve comissões pagas a menor e a cada
venda feita por terceiro em sua área de exclusividade, nasce para o representante
comercial o direito de obter a devida reparação.
5. É quinquenal a prescrição para cobrar comissões, verbas rescisórias e indenizações
por quebra de exclusividade contratual, conforme dispõe o parágrafo único do art. 44
da Lei 4.886/65.
6. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1634077/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
09/03/2017, DJe 21/03/2017) “PROCESSO CIVIL. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL.
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE LIQUIDAÇÃO DO TÍTULO JUDICIAL. LEI 4.886/65,
ALTERADA PELA LEI 8.240/92.
PRAZO QUINQUENAL. SENTENÇA CASSADA.
1. Dispõe o art. 44, parágrafo único, da Lei 4886/65, alterada pela Lei 8240/92, que
regula as atividades dos representantes comerciais autônomos, que “prescreve em
cinco anos a ação do representante comercial para pleitear a retribuição que lhe é
devido e os demais direitos que lhe são garantidos por esta Lei”.
2. “É de cinco anos a prescrição do direito para o representante comercial postular a
retribuição pelos serviços prestados ao representado. (Inteligência do parágrafo único
da Lei 4.886/65). (...).” (Acórdão n.667844, 20090310107865APC, Relator: Gislene
Pinheiro, 3ª Turma Civel, DJE: 25/06/2012. Pág.: 166).
3. Tendo o acórdão transitado em julgado em 22/04/2008, não se verifica a prescrição
da pretensão de liquidação do título judicial, na medida em que a autora requereu a
continuidade processual do feito em 17/02/2012, antes, portanto, do fim do prazo
quinquenal.
4. Recurso provido.” (TJ/DF, Acórdão n.667844, 20120111886134APC, Relator:
JOÃO EGMONT, Revisor: LUCIANO MOREIRA VASCONCELLOS, 5ª Turma Cível, Data
de Julgamento: 20/03/2013, Publicado no DJE: 12/04/2013. Pág.: 142).
44
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
porque a parte ré não fabricava tal produto; que a partir do momento em que a parte
ré passou a fabricar betoneiras, em 2009, poderia começar a haver conflito; (...) que
ingressou com a ação depois que foi mandado embora; que não tinha como discutir as
cláusulas do contrato antes de sua rescisão; (...) que recebeu alguns e-mails da
requerida comunicando a proibição de venda de produtos de empresas concorrentes
similares aos seus; que discutiu a questão por telefone, alertando a empresa de que
não poderia deixar de vender o produto da concorrente enquanto eles não tivessem
uma produção andando; (...) que eles não tinham o produto ainda em escala para ser
vendido; que propôs a eles que ficaria com a Garthen e entregaria a outra empresa
para seu filho; que a proposta não foi aceita; (...) que ao longo do contrato, foi
sofrendo gradualmente uma supressão de sua área de abrangência, sendo que aceitou
receber R$ 10.000,00 como indenização; que entende que merece receber cerca de
R$ 200.000,00 a R$ 250.000,00 (mov.
74.1 f. 1539).
Observa-se, portanto, que o próprio autor confessa que descumpriu os termos do
contrato, ao violar a cláusula de exclusividade. Isto porque, quando a requerida
começou a efetuar a fabricação das betoneiras encaminhou e-mail ao autor, a fim de
adverti-lo da proibição de venda de produtos similares de outras empresas
concorrentes. Entretanto, o requerente insistiu em manter a relação negocial com
estas empresas. Tanto é verdade que mantém a representação comercial das
empresas concorrentes.
As demais testemunhas ouvidas em Juízo também confirmaram que o autor
descumpriu a cláusula de exclusividade prevista no contrato de representação
comercial:
Que a rescisão se deu em razão da parte autora vender produtos similares de outros
concorrentes. A parte ré vende betoneiras desde 2007 e, logo que descobriu a
infração, notificou a parte autora acerca do descumprimento contratual. Quando da
rescisão de contrato, as partes entabularam um acordo como forma de auxiliar e
recompensar a parte ré pelo tempo de trabalho na empresa. Desconhece outros
representantes da parte autora que vendam betoneiras de concorrentes. (Maria Luiza
Infeld Cruz - mov. 74.1 f. 1544)
“Que conhece o contrato havido entre as partes; que sabe que a rescisão ocorreu por
justa causa; que a ré vende betoneiras na região há cerca de 06 ou 07 anos; que a
partir do momento em que passaram a produzir a betoneira, o autor tinha a opção de
ficar com a Garthen ou com o concorrente; que o autor foi notificado de que deveria
fazer a opção; que após a notificação, a parte autora respondeu, via e-mail, que não
venderia betoneiras de empresas concorrentes; que a própria testemunha constatou a
infração pessoalmente depois que o autor falou que não iria vender mais as betoneiras
das concorrentes; que após a intenção de rescindir o contrato, a parte autora
compareceu na sede da empresa ré “choramingando”, ocasião em que entabularam
um acordo e a empresa pagou o valor para ele”.
(Lori Biazus mídia digital - mov. 74.1 f. 1543)
Que é representante comercial, trabalhando para a Metalúrgica Rocha; que venda
dobradiças e ferragens; que nunca vendeu betoneiras; que, no entanto, conhece um
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
pouco do mercado das betoneiras, que sabe as marcas que vendem; que a Garthen
tem betoneiras no mercado há pouco tempo; que acredita que a Garthe começou a
comercializar o produto a partir de 2005; que, pelo menos não via nas lojas, inclusive
de Cascavel; que sabe que a rescisão ocorreu, porque dispensaram a parte autora da
região sudoeste, que dê uns tempos pra cá “tiraram dele”; que, no caso, como o autor
já vendia as betoneiras, depois que a Garthen passou a vendê- las deveria ter
notificado o autor que já tinha o produto, entrando as partes em um acordo” (Gilmar
Lázaro Vicente mídia digital - mov. 74.1 f. 1543)
Desse modo, conclui-se pelas provas coligidas aos autos que o autor efetivamente
“descumpriu as obrigações inerentes ao contrato de representação comercial”, já que
passou a realizar vendas de produtos similares de outras empresas, malgrado a
existência de cláusula de exclusividade, o que justifica a rescisão unilateral do contrato
pela ré, por justo motivo, nos termos do artigo 35, alíneas “a” e “c” da Lei nº
4.886/1965.
Ressalta-se que a indenização e o aviso prévio são devidos quando ficar demonstrada
a rescisão contratual imotivada, como bem esclarece Fabio Ulhoa Coelho:
Se o contrato de representação comercial é rescindido por culpa do representante -
como nas hipóteses de desídia no cumprimento das obrigações, prática que leva o
representado a descrédito ou condenação definitiva por crime infamante (art. 35, “a a
d”) -, não estabelece a lei da representação comercial nenhuma indenização. O
ressarcimento dos prejuízos do representado, nesse caso, será demandado com base
nas regras gerais de obrigação fixadas pelo Código Civil (Curso de direito comercial.
São Paulo: Saraiva. 2007.
v. 3, p. 119).
Portanto, justa e motivada a rescisão contratual, não merece prosperar as pretensões
indenizatórias fundamentadas no artigo 27, alínea “j”2, e no artigo 34 da Lei
4.886/19653, as quais tratam de 1/12 de toda a remuneração recebida ao longo do
contrato; de aviso prévio; e do adicional de aviso prévio de 1/3 das comissões
recebidas nos três meses anteriores4.
Por fim, conforme destacou o magistrado de 1º grau, embora tenha havido um acordo
indenizatório entre as partes o que restou sobejamente confirmado por todos os que
foram ouvidos, inclusive a parte autora -, ele não teve o condão de alterar a natureza
do fim da relação jurídica, qual seja, a de resilição contratual unilateral operada pela
parte ré fundada em justa causa.
7. É necessário frisar que não há empecilho legal que impossibilite a alteração do
percentual das comissões a serem percebidas pelo representante comercial no curso
da relação estabelecida com a empresa representada, ainda que tal alteração se dê
tacitamente. Sobre a questão, segue entendimento jurisprudencial:
REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. PRESCRIÇÃO. RESCISÃO IMOTIVADA DO
CONTRATO.
COMISSÕES. DIFERENÇA. ALTERAÇÃO TÁCITA. POSSIBILIDADE. VERBAS
INDENIZATÓRIAS. INDEVIDAS. O prazo prescricional de que trata o art. 44, parágrafo
único, da Lei n. 4.886/1965 se refere apenas ao direito de ação, não limitando,
portanto, o período a ser considerado para fins de apreciação do pleito indenizatório.
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REINTEGRAÇÃO DE POSSE
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
1.0686.12.002760-8/001, Relator (a): Des. Valdez Leite Machado, 14ª CÂMARA CÍVEL,
retenção do imóvel até o seu pagamento, sendo tais direitos decorrência lógica do
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1637815-1 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 14.06.2017)
Inteiro Teor
I - RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença proferida pelo
MM. Dr. Juiz de Direito 1ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba, dos autos nº 0013522-22.2013.8.16.0001 de ação de
rescisão de contrato cumulada com pedido de reintegração de posse, proposta por
BMC Construtora de Obras Limitada em face de Márcia Ribeiro de Lima, que julgou
parcialmente procedentes os pedidos formulados na inicial, para (i) declarar a
resolução do contrato celebrado entre as partes; (ii) determinar à parte autora o
pagamento de indenização à ré pelas benfeitorias úteis e necessárias realizadas no
bem objeto da lide, sendo que os valores deverão ser apurados em fase de liquidação
de sentença; (iii) determinar à parte autora a restituição das parcelas pagas pela parte
ré, as quais deverão ser corrigidas monetariamente a partir de cada desembolso pelo
índice do INPC/IBGE, bem como acrescidas de juros moratórios de 1% ao mês,
incidentes a partir do trânsito em julgado da presente decisão; (iv) determinar a
compensação dos débitos existentes entre as partes, nos termos do art. 368 do
Código Civil. Em razão da sucumbência recíproca, condenou a parte autora ao
pagamento de 40% das custas processuais e dos honorários advocatícios de
sucumbência devidos ao procurador da parte ré, arbitrados em R$ 2.400,00; e
condenou a parte ré ao pagamento de 60% das custas processuais e dos honorários
advocatícios de sucumbência devidos ao procurador da parte autora, fixados em R$
3.600,00. Ressaltou que fica vedada a compensação de honorários, nos termos do art.
85, §14 do CPC/2015 (mov. 116.1 f.
283/298).
2. A autora BMC Construtora de Obras Limitada interpôs recurso de apelação (mov.
122.1 - f.305/335), pleiteando a reforma parcial da sentença, para (i) condenar a ré ao
pagamento dos honorários advocatícios contratuais, nos termos da cláusula 15ª do
contrato; (ii) condenar a requerida ao pagamento das despesas que teve com o envio
da notificação extrajudicial, no valor de R$169,54; (iii) afastar o dever de indenizar as
benfeitorias, já que estas foram erigidas em desconformidade com a lei e com o
54
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
contrato; (iv) autorizar a retenção de 17% dos valores pagos; (v) condenar a requerida
ao pagamento de eventuais débitos de condomínio, IPTU e taxas de coleta de lixo e
iluminação pública; (vi) aplicar a ré as penalidades por litigância de má-fé; (vii)
redistribuir o ônus da sucumbência e majorar o valor arbitrado a título de honorários
advocatícios.
Não houve a apresentação de contrarrazões.
É o relatório.
II - VOTO
Não conheço do recurso na parte que trata do pedido de retenção de 17% dos
valores pagos pela promitente compradora, pois tal questão não foi objeto do pedido
inicial. Sendo assim, houve inovação recursal por parte da apelante.
Com a ressalva supra, presentes os pressupostos processuais de admissibilidade,
intrínsecos e extrínsecos, conheço em parte o recurso de apelação.
3. Do cotejo dos autos, depreende-se que (i) a construtora BMC firmou, em
07.03.2009, contrato particular de promessa de compra e venda com Leandro Belizario
Moro (mov. 1.4 f. 19/24); (ii) posteriormente, com anuência da construtora, Leandro
cedeu o contrato a Alessandro Villas Boas que, por sua vez, cedeu para Márcia Ribeiro
de Lima; (iii) a cessão do contrato a Marcia Ribeiro de Lima (mov. 1.4 f. 27/28) foi
firmada por Nivaldo Ribeiro de Lima, que possuía poderes para representa-la no ato,
conforme procuração anexada aos autos (mov. 1.4 f.
29/30); (iv) não tendo acusado o pagamento de nenhuma das contraprestações
ajustadas, a construtora BMC ajuizou ação com pedido de rescisão de contrato c/c
reintegração de posse em face de Márcia Ribeiro de Lima, requerendo a antecipação
dos efeitos da tutela, para ser reintegrada na posse do imóvel; (v) trouxe com a inicial a
notificação extrajudicial (mov. 1.5 f. 31/33), realizada por intermédio do 2º Cartório
de Registro de Títulos e Documentos de Curitiba; (vi) a liminar de reintegração de
posse foi deferida e determinada a citação da ré (mov. 11.1 f. 60/61); (vii) a ré Marcia
Ribeiro de Lima compareceu espontaneamente aos autos, apresentando contestação
(mov. 31.1 - f.92/95), aduzindo, preliminarmente, que não foi notificada para fins de
constituição em mora, na medida em que a notificação extrajudicial foi recebida por
Nivaldo, seu irmão, sem poderes para tanto; pugnou ainda pelo direito de retenção
por benfeitorias; no mérito, requereu a improcedência dos pedidos; (viii) o mandado
de reintegração de posse foi devidamente cumprido (mov. 36.1 - f. 104); (ix) o MM.
Juiz a quo proferiu sentença (mov. 58.1 f. 142/147), pela qual extinguiu o processo,
sem resolução de mérito, nos termos do art. 267, VI do CPC/1973, haja vista a irregular
constituição em mora da devedora; (x) contra essa decisão, a autora BMC Construtora
de Obras Limitada interpôs recurso de apelação (mov.
71.1 f. 168/176), ao qual foi dado provimento para anular a sentença (mov.
106.1 - f.256/264); (xi) após o retorno dos autos ao juízo de origem, o julgador
monocrático proferiu nova sentença, pela qual julgou parcialmente procedentes os
pedidos formulados na inicial, para (i) declarar a resolução do contrato celebrado entre
as partes; (ii) determinar à parte autora o pagamento de indenização à ré pelas
benfeitorias úteis e necessárias realizadas no bem objeto da lide, sendo que os valores
deverão ser apurados em fase de liquidação de sentença; (iii) determinar à parte
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
autora a restituição das parcelas pagas pela parte ré, as quais deverão ser corrigidas
monetariamente a partir de cada desembolso pelo índice do INPC/IBGE, bem como
acrescidas de juros moratórios de 1% ao mês, incidentes a partir do trânsito em
julgado da presente decisão; (iv) determinar a compensação dos débitos existentes
entre as partes, nos termos do art. 368 do Código Civil (mov. 116.1 - f.283/298). É
contra esta decisão que se insurge a apelante.
4. A apelante pretende a reforma da sentença, para condenar a ré ao pagamento de
honorários advocatícios, no importe de 20% do valor da compra e venda, nos termos
previstos na cláusula décima quinta do contrato celebrado entre as partes.
A seguir, transcrevo o inteiro teor da aludida cláusula:
“CLAUSULA DÉCIMA QUINTA Fica eleito o foro da Comarca de Curitiba/PR, para
serem dirimidas dúvidas e/ou discutir toda e qualquer ação oriunda deste contrato,
com prévia renúncia a qualquer outro, por mais privilegiado que seja; obrigando-se,
ainda, a parte vencida a pagar, em caso de demanda judicial, as custas e honorários
advocatícios da parte vencedora, na base de 20% (vinte por cento) sobre o total do
presente contrato”.
Com efeito, tendo a autora/apelante optado pela contratação de advogado particular,
incumbe a ela o ônus de arcar com o valor decorrente dessa decisão, não sendo
plausível condenar a parte adversa a indenizá-la pelo valor relativo aos honorários
contratados com o causídico, máxime porque tal relação não pode criar obrigações
para terceiros.
Nos dizeres de Yussef Said Cahali, “não são reembolsáveis a título de honorários de
advogado, as despesas que a parte enfrenta em razão do ajuste com o profissional a
título de honorários, para o patrocínio de sua causa in misura superiore a quella poi
ritenuta côngrua dal giudice”. (Honorários Advocatícios, Editora Revista dos Tribunais,
p. 393)
Não é outro o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO.
DANO MATERIAL NÃO CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. REVISÃO.
INVIABILIDADE. VALOR RAZOÁVEL. - A contratação de advogado, por si só, não
enseja danos materiais, sob pena de atribuir ilicitude a qualquer pretensão
questionada judicialmente. (...) (AgRg no REsp 1229482/SP, 3ª Turma, Ministro Paulo
de Tarso Sanseverino, DJe de 23/11/2012).
E de outros Tribunais de Justiça:
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - CONTRATAÇÃO DE
ADVOGADO PARA AJUIZAMENTO DE DEMANDA - OPÇÃO DA PARTE -
INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR.
- O fato de o postulante optar pela contratação de advogado, mediante remuneração,
para a defesa de seus interesses em juízo, não induz responsabilidade do réu pelo seu
pagamento. (TJMG - Apelação Cível 1.0686.12.002760-8/001, Relator (a): Des.(a)
Valdez
Leite Machado , 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 31/01/2013, publicação da
sumula em 08/02/2013)
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MATERIAL. HONORÁRIOS CONTRATUAIS.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
novas, diferentes, que vêm aderir à coisa anteriormente existente. Distinguem-se assim
umas das outras”3.
Não obstante, as consequências quase sempre se assemelham, na medida em que
ambas podem dar azo à indenização, sendo comumente equiparadas pela doutrina e
jurisprudência 4. A indenização pelas benfeitorias e acessões tem por fundamento a
vedação do ordenamento jurídico ao enriquecimento sem causa, ou seja, “A
indenização por benfeitoria baseia-se no objetivo de impedir o locupletamento ou o
enriquecimento imotivado” (TJRS, AC nº 588070698). Assim, edificado pelo possuidor,
não seria justo que o proprietário passasse a usufruir destas e tivesse proveito sem a
correspondente reparação. Portanto, para justificar a indenização pelas benfeitorias e
acessões é necessário mensurar um acréscimo de valor ao bem em proveito do
legitimo proprietário.
Nesta toada, pelo conjunto probatório constante dos autos e pelos termos da defesa
apresentada pela ré, é incontroverso que a ré edificou benfeitorias/acessões no
imóvel.
A teor do art. 1.219 do Código Civil, “o possuidor de boa- fé tem direito à
indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se
não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e
poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis”.
Nesse contexto, considerando que as benfeitorias foram implementadas, fato esse
confirmado pela autora, está correta a sentença na parte em que a condenou a
indenizá-las, postergando o cálculo do quantum debeatur para a fase de liquidação de
sentença.
6. A apelante sustenta que a compradora não demonstrou a regularidade
administrativa das benfeitorias (Lei nº 6.766/79, art.
34, parágrafo único5), motivo pelo qual não faz jus ao direito de indenização.
Todavia, tratando-se de rescisão de contrato de compra e venda, como visto
anteriormente, as partes devem retornar ao status quo ante, evitando-se, assim, o
enriquecimento indevido de qualquer um dos contratantes.
No caso em mesa, nem mesmo a autora contesta a existência das
benfeitorias/acessões. Assim, uma vez comprovada a existência da benfeitoria, é firme
o posicionamento desta Corte de que a ausência de provas quanto a regularidade
administrativa das obras, nos termos do disposto no art. 34, parágrafo único, da Lei
6.766/79, não impede o reconhecimento do direito à indenização, sob pena de
privilegiar-se o enriquecimento sem causa do promitente- vendedor.
Neste sentido:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C REINTEGRAÇÃO DE
POSSE E PERDAS E DANOS - ARGUIÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA PELO
JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE - INOCORRÊNCIA - PRINCÍPIO DO LIVRE
CONVENCIMENTO MOTIVADO - INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 130 E 330, I, DO CPC -
INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO PELO COMPROMISSÁRIO-COMPRADOR E
EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA EXPRESSA LEVAM À RESCISÃO - MORA COMPROVADA
- CONDENAÇÃO EM ALUGUÉIS - POSSIBILIDADE DESDE A IMISSÃO DA POSSE ATÉ
A DATA DA SENTENÇA - PLEITO DE RETENÇÃO DAS BENFEITORIAS ATÉ QUE LHE
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(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1656490-6 - Terra Rica - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - J. 14.06.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Adair Elpidio Pedro ajuizou (25.04.2011) Ação Demarcatória (autos nº 810-
55.2011.8.16.0167) em face de Devanir Pereira dos Santos e Neuzinha Serafina dos
Santos, aduzindo que a) é proprietário dos lotes nº 03 e nº 4-B, da quadra nº 103, com
áreas de 600,00m2 e 300,00m2, situados na cidade de Guairaçá, objeto das matrículas
nº 21.106 do Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí e nº 5.920 do Registro de
Imóveis da Comarca de Terra Rica; b) os imóveis confrontam com terreno dos réus,
cujos limites não estão perfeitamente assinalados; c) pretende construir um muro
divisório entre os terrenos; d) conforme parecer técnico, os réus invadiram uma área
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
nunca tiveram qualquer muro ou cerca entre elas, razão pela qual requereu a
demarcação dos imóveis e a restituição da área invadida. Em sua defesa, os réus
alegaram exceção de usucapião, afirmando que as benfeitorias foram edificadas há
mais de 40 anos.
10.1. Especificamente quanto à ação demarcatória e a exceção de usucapião,
Benedito Silvério Ribeiro ensina que:
“A ação demarcatória compte ao proprietário, que pode obrigar o seu confinante a
proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a
renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os
interessados as respectivas despesas (CC, art. 1.297).
Enquanto perdurar o título de proprietário é possível proceder à demarcação do
imóvel. Uma vez perdido o domínio, não mais será cabível à demarcatória.
A ação em foco é imprescritível, no sentido de permanecer a confusão de limites. O
direito somente se perde quando o dominus sofre os efeitos da prescrição aquisitiva.
A ação de demarcação dos limites (actio finium regundorum) pode ser cumulada com
a reivindicatória e a possessória, sendo exigência que os limites correspondam aos
títulos.
É cabível a alegação de usucapião como defesa na ação de demarcação.
Todavia, tal como na divisória, é na primeira fase do processo, considerado de
conhecimento, que deve ser oposta a defesa fundada em usucapião, já que na fase
executiva apenas se complementará o feito com as operações demarcatórias.”3
10.2. Desta forma, mesmo que se reconheça eventual direito à usucapião do réu, tal
fato não retira do autor da demarcatória a legitimidade para a propositura da ação ou
conduz à improcedência do pedido inicial. O interesse processual e a legitimidade
ativa persistem, eis que a área a ser demarcada observará as divisas apuradas in loco,
ou seja, observará a efetiva área de posse dos autores e dos réus, com posterior
retificação do título de domínio.
11. Todavia, no caso em análise, independentemente da exceção de usucapião,
entendo que a prova produzida nos autos não foi suficiente para que se possa dar
solução definitiva ao conflito.
11.1. No que se refere aos lotes de terreno do autor, conforme matrícula nº 21.106 do
Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí4 (mov. 1.2 aberta no dia 30.09.1986),
o lote nº 03, da quadra nº 103, situado na cidade de Guairaçá, contendo uma casa de
madeira com área de 42,00m2, pertencia à José Amadeu e Abélia
Crapista Amadeu. O imóvel foi transmitido a Adair Elpidio Pedro e sua mulher Maria
Arseno Pedro no dia 20.11.1986 (R-1-21.106).
Ainda, conforme a matrícula nº 5.920 do Registro de Imóveis da Comarca de Terra
Rica (mov. 1.2) aberta no dia 19.05.2010, Adair Elpidio Pedro e sua mulher Maria
Arseno Pedro são proprietários do lote nº 04-B, subdivisão dos lotes nº 04 e 05,
oriundo da unificação dos lotes nº 04 e 05, da quadra nº 103, com área de 300,00m2.
Segundo consta na matrícula, o imóvel anteriormente era objeto da matrícula nº
21.107 do 1º Ofício do Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí e nº 9.918 do
Registro de Imóveis da Comarca de Terra Rica.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Com relação ao lote de terreno pertencente à parte ré, verifica-se pela matrícula nº
12.869 do Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí (mov. 1.14 f. 88/89 aberta
no dia 06.04.1981), o lote nº 06, da quadra nº 103, com área de 600,00m 2 pertencia à
Sociedade Imobiliária e Colonizadora Guairaçá Ltda, e foi vendido à José Carlos
Amadeu e sua mulher Delma Parra Amadeu no dia 12.03.1981 (R-1-12.869). No dia
06.02.2002 foi averbada anotação (AV-2-12.869), apontando que o lote nº 14, que
fazia divisa de fundos com o lote nº 06, foi incorporado à BR-376, passando esta a
fazer fundos com o terreno. No dia 06.02.2002 foi averbado o desmembramento do
terreno em duas unidades autônomas, cada uma com área de 300,00m2,
denominadas lote nº 06-A e lote nº 06-B (AV-3.12.869).
Conforme matrícula nº 31.396 do 1º Ofício do Registro de Imóveis da Comarca de
Paranavaí, aberta no dia 06.02.2002, o lote nº 06-A, com área de 300,00m2, de
propriedade de José Carlos Amadeu e Delma Parra Amadeu foi vendido (no dia
28.01.2002) à José Macedo dos Santos (R-1-31.936). Por sua vez, conforme matrícula
nº 31.937 do 1º Ofício do Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí, no dia
28.01.2002, o lote nº 06-B foi transmitido por José Carlos Amadeu e Delma Parra
Amadeu para Donizete Borges da Silva e sua mulher Maria de Lourdes da Silva (R-1-
31.937).
Para demonstrar seu direito sobre o terreno, os réus colacionaram recibo de
pagamento emitido por Donizete Borges da Silva no dia 10.03.2004, referente ao
“pagamento integral pela venda que lhe fiz do lote nº 06-B, da subdivisão do lote nº
06, da quadra nº 103, com área de 300,00m2, contendo uma casa de madeira coberta
com telhas, com 6 cômodos, localizado em Guairaçá”.
11.2. Ocorre que, durante a instrução do processo, a prova pericial concluiu que o
lote 6-B, de propriedade dos réus Devanir e Neuzinha, sobrepõe-se aos lotes nº 03
(96,29m2) e nº 4-B (68,20m2), de propriedade do autor Adair Elpídio Pedro. Ainda,
afirmou que o Lote 6-B é sobreposto pelo Lote vizinho nº 07, existindo um
deslocamento de lotes.
Outrossim, concluiu que o Lote nº 03, de propriedade do autor Adair Elpídio Pedro,
deve ser objeto de retificação, pois em razão do novo traçado da Estrada Oficial que
margeava o Loteamento, o terreno passou a ter área total de 434,95m2 (e não os
600,00m2 descritos no título dominial, havendo uma perda de área correspondente a
165,05m2).
Isto porque, conforme item 3 e respectivos subitens do Laudo apresentado no mov.
1.14 (posteriormente ratificado), o lote nº 03 era descrito com área de 600,00m2
(20,00m x 30,00m). A transcrição primitiva do imóvel é anterior a 1954, e foi registrada
sob nº 06, do Livro nº 08, de Registros Especiais do Cartório de Registro de Imóveis da
Comarca de Mandaguari. Todavia, no dia 05.01.1961, em virtude de sentença exarada
no dia 26.12.1960, nos autos nº 978/60, de Pedido de Alteração de Loteamento, a
modificação do Loteamento “Cidade de Guairaçá”, foi registrado sob nº 45, do Livro
nº 08 de Registros Especiais de Paranavaí, certificando que o novo traçado da Estrada
Oficial que margeia o Loteamento, incluído na Planta Oficial arquivada em cartório no
dia 03.11.1966, alterou as quadras L, 23, 43, 63, 83, 103, 123, 143, 163 e 183.
69
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
11.3. Não obstante, a prova pericial não indicou de que forma a alteração da quadra
nº 103 pelo novo traçado da Estrada Oficial afetou os lotes que a compunham. A
perícia é incompleta na medida em não aponta por qual razão somente o lote nº 03
teve sua área alterada, e como chegou à conclusão de que a área perdida foi de
165,05m2, eis que tal informação não consta de qualquer documento juntado aos
autos.
A conclusão de que o lote 6-B sobrepõe os lotes nº 03 (96,29m2) e nº 4-B (68,20m2),
e é sobreposto pelo Lote vizinho nº 07, demonstra que a celeuma a ser resolvida não
pode ser solucionada apenas com a medição pontual dos terrenos das partes,
devendo envolver, globalmente, toda a quadra nº 103 e as frações que a compõem.
Nas circunstâncias demonstradas pelos títulos dominiais de cada uma das partes, não
há como demarcar apenas a fração de terra pretendida pelos autores, pois ambas as
partes possuem títulos equivalentes.
Desta maneira, diante da complexa situação de fato e direito posta em mesa,
somente será possível a solução definitiva da controvérsia por meio de um estudo
amplo da área que compõe a quadra nº 103, comparando as descrições imobiliárias
com a realidade fática das edificações. Vale apontar que diferentemente do que
sustenta o apelante, a ausência de um muro ou uma cerca não significa ausência do
exercício de posse exclusiva. Uma área indivisa, pode, materialmente, estar dividida
pelo exercício da posse limitada. É evidente que, mesmo sem a existência de um muro
(que os autores pretendem construir), as partes respeitavam uma determinada área
como limite de suas respectivas propriedades.
Por enquanto não é possível afirmar a existência de esbulho praticado pela ré, que
tem posse desde a aquisição do lote nº 06-B de Donizate Borges da Silva. Outrossim,
é preciso relevar que o autor é proprietário do lote nº 03 desde 1986. Todavia, como
anteriormente apontado, desde o ano de 1960 o lote nº 03 já não dispunha da área
de 600,00m2. Desta forma, evidentemente não poderia reivindicar qualquer área que
excedesse 434,95m2.
Frise-se, por fim, que o Código Civil, em seu art.
1.298 dispõe que:
“Sendo confusos, os limites, em falta de outro meio, se determinarão de
conformidade com a posse justa; e não se achando ela provada, o terreno contestado
se dividirá por partes iguais entre os prédios, ou, não sendo possível a divisão
cômoda, se adjudicará a um deles, mediante indenização ao outro”.
Nesta toada, não pode o magistrado abster-se da demarcação dos imóveis, pois a lei
civil prevê a partilha ou a adjudicação da área confusa como último critério para
encerrar a “actio finium regundorum”.
12. O magistrado moderno deve exercer a prerrogativa de gestor do processo e da
prova. O processo é instrumento de busca da verdade real e das informações
necessárias para solucionar a controvérsia de forma justa e sem causar “danos”
desnecessários ou evitáveis às partes.
A iniciativa do julgador para a produção das provas necessárias ao julgamento está
perfeitamente delineada pelo direito moderno, senão vejamos:
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
do acordo. 2. Inexistente nos autos prova suficiente de que a requerida Bidese Imóveis
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1640841-6 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 14.06.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de consignação em pagamento (autos nº 0006250-
40.2014.8.16.0001) proposta por Fernando José Strobel e Giselle Schinzel de Souza
Strobel em face de Bidese Imóveis Incorporação, Locação, Compra e Venda Limitada
ME e Sevilha Imóveis Limitada alegando que (a) eram proprietários do imóvel
localizado na Rua Geraldo Lipka, nº 65, no município de Curitiba; (b) em 06.06.2013,
firmaram com a requerida Bidese Imóveis Incorporação, Locação, Compra e Venda
Limitada ME “autorização para venda de imóvel”, com exclusividade, pelo prazo de 90
dias; (c) decorrido o prazo sem a concretização de qualquer negócio, mantiveram a
intenção de vender o imóvel, sem dar, entretanto, exclusividade de venda a nenhum
corretor; (d) os representantes de ambas as requeridas compareceram no imóvel, no
dia 18.12.2013, acompanhados de um cliente apresentado pela Sevilha Imóveis
Limitada; (e) no dia seguinte, o corretor de imóveis da requerida Sevilha Imóveis
Limitada retornou ao apartamento com seu cliente, Walber Pydd, e, em 24.12.2013, foi
apresentada proposta de compra com recibo de sinal de negócio; (e) aceita a proposta
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
“Que conhece o Sr. Eder da Sevilha Imóveis; que foi o comprador do imóvel; que o
Sr. Eder já havia vendido o apartamento que morava; que como estava interessado na
região do Ecoville, o Sr. Eder agendou algumas visitas, inclusive, no Condomínio
Terrasse; que no dia compareceu o Sr. Eder, e o pessoal de uma outra imobiliária; que,
em pesquisa na internet, verificou que haviam outros apartamentos à venda no mesmo
edifício; que também haviam anúncios, do mesmo apartamento, em pelo menos 3
outras imobiliárias; que no outro dia fez uma outra visita; que olhou outros
apartamentos da região; após tudo isso, entrou em contato com o Sr. Eder e disse que
podia fechar negócio; que não se recorda se foi na primeiro ou na segunda visita, mas
viu um apartamento no mesmo prédio; que só teve contato com o Sr. Eder e com o
pessoal da Sevilha; que junto com o Sr. Eder visitou outro apartamento (...) Walber
pydd mídia digital mov. 130.1.
O próprio autor confirma que a celebração do pacto só possível diante do trabalho
desenvolvido pela Sevilha Imóveis, pois o promitente comprador já era cliente antigo
da referida imobiliária. Vejamos:
“Que colocou esse imóvel à venda em setembro de 2012 com outra empresa
estranha à lide, com contrato de 60 dias; que, depois disso, foi procurado pela Bidese
Imóveis, através de sua funcionária Rosana, assim, em 06.06.13, firmou com a Bidese
Imóveis, uma autorização de venda, que se findava em 06.10.13; que a Bidese não
obteve êxito na venda; que após, esse período, autorizou outras imobiliárias, inclusive,
a Bidese, a continuar a proceder a venda do imóvel, contudo, sem exclusividade; (...)
em 18.12.2013, a Bidese solicitou uma visita no imóvel; que quem acompanhou a
visita, foi sua empregada; que, na oportunidade, estavam o Sr. Walber e os corretores
da Bidese e da Sevilha Imóveis; que, no dia 20.12.2013, foi contatado pela Sevilha,
que lhe perguntou se o imóvel estava à venda e se havia exclusividade de alguma
imobiliária; que respondeu que não e a visita efetivou-se na parte da tarde do mesmo
dia; que o atual proprietário visitou o imóvel acompanhado do Eder, da Sevilha
Imóveis; que neste dia estava presente; que, no outro
dia, o corretor da Sevilha Imóveis lhe contatou lhe fazendo uma proposta; que ficou
de pensar; que, dia 23.12.13, fez um contraproposta; que o promitente comprador
aceitou; que, no dia 24.12.13, assinaram a proposta de compra e venda; que entre
natal e ano novo, a Bidese entrou em contato para agendar uma visita; que lhe
informaram acerca da venda do imóvel; que, no dia 07.01.14, a Bidese Imóveis entrou
em contato, dizendo que havia apresentado o comprador para o imóvel; (...) que, em
seu entendimento, a Sevilha tinha um comprador que já havia sido seu cliente em
outras oportunidades; que verificando que o outra imobiliária estava vendendo o
imóvel entrou em contato para agendar uma visita; que a Sevilha não tinha
conhecimento acerca da cláusula de exclusividade, tanto que, na segunda visita,
perguntou acerca da sua existência, e disse que não existia; (...) que as imobiliárias não
entraram em acordo acerca de quem era devido a comissão de corretagem; que,
diante da dúvida, ingressou com a presente ação Fernando José Strobel mídia
digital mov. 130.1.
Ademais, o “recibo de sinal de negócio” (mov. 1.9 f.
78
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
25) fora emitido, exclusivamente, pela Sevilha Imóveis, inexistindo nos autos,
nenhuma prova de que o corretor da apelante tenha contribuído para celebração do
pacto, razão pela que entendo correto do posicionamento do julgador monocrático,
ao considerar a requerida Sevilha Imóveis única e exclusiva beneficiária da comissão
de corretagem.
A corroborar:
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE COMISSÃO DE CORRETAGEM.
ÔNUS DA PROVA. CASO CONCRETO. AUSÊNCIA DE PROVA EFETIVA DA
INTERMEDIAÇÃO DA COMPRA E VENDA. CONTRATO DE EXCLUSIVIDADE
INEXISTENTE. POSTERIOR ALIENAÇÃO DO IMÓVEL ATRAVÉS DE OUTRO
CORRETOR. A comissão de corretagem é devida quando demonstrada, pelo
profissional, a efetiva intermediação imobiliária, com atos concretos de intermediação
das partes de forma que as negociações tendentes à realização do ato alcancem o seu
objetivo, ou seja, que as negociações produzam o resultado útil desejado. NEGADO
PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME (Apelação Cível Nº 70041925249, Décima
Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Otávio Augusto de Freitas
Barcellos, Julgado em 20/07/2011)”.
Dos recursos adesivos nº 1 e nº 2 interpostos pelos autores Fernando José Strobel e
Giselle Schinzel de Souza Strobel e pela requerida Sevilha Imóveis Limitada.
14. Os recorrentes pretendem a majoração do valor arbitrado a título de honorários
advocatícios.
Na fixação dos honorários advocatícios deve ser observado um critério objetivo, de
modo que o profissional advogado seja remunerado no limite do trabalho.
Paulo Luiz Neto Lobo, tratando dos limites que deve ser arbitrada a verba honorária,
leciona:
“Não há critérios definitivos que possam delimitar a fixação dos honorários
advocatícios, porque flutuam em função de vários fatores, alguns de forte densidade
subjetiva. (...) Impõe-se sempre a moderação, no entanto, já que o direito não é
ilimitado. Há limites postos pela ética e pela razoabilidade que não podem ser
ultrapassados.” (Comentários ao Novo Estatuto da Advocacia e da OAB, ed. 1994, p.
93).
Assim, à luz do dispositivo processual aplicável a espécie deve a verba honorária ser
arbitrada seguindo os parâmetros relativos ao grau de zelo na atuação do profissional,
o lugar da prestação de serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho
realizado, bem assim o tempo exigido para prestação do serviço, devendo ser
suficientes para remunerar condignamente o advogado, sem implicar em valor
excessivamente elevado, ou tão ínfimo que não seja capaz de compensar o trabalho
desempenhado pelo profissional.
Neste particular, embora não se trate de ação que verse sobre matéria complexa, a
representação técnica dos autores e da requerida Sevilha Imóveis se deu de modo
adequado, dentro do que lhe exigia o processo. Além do mais, é preciso levar em
conta o tempo de tramitação do processo, ou seja, mais de 3 anos. Assim, entendo
que a importância fixada pelo juízo a quo não obedece aos parâmetros exigidos para a
espécie.
79
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Desse modo, elevo o valor fixado a título de verba honorária advocatícia para 20% do
valor atualizado da causa, nos termos do artigo 85, §2º e §11 do Código de Processo
Civil, os quais devem ser divididos entres os procuradores dos autores e da ré Sevilha
Imóveis.
15. Diante do exposto, voto no sentido de:
a) não conhecer o agravo retido (mov. 80.1 f.
210/213); b) negar provimento ao recurso de apelação nº1 interposto por Bidese
Imóveis Incorporação, Locação, Compra e Venda Limitada ME.
c) dar provimento ao recurso adesivo nº 1 interposto pelos autores Fernando José
Strobel e Giselle Schinzel de Souza Strobel, para majorar a verba honorária
advocatícia.
d) dar provimento ao recurso adesivo nº 2 interposto pela requerida Sevilha Imóveis
Limitada, para majorar a verba honorária advocatícia.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em não conhecer o agravo
retido de f. 210/213; negar provimento ao recurso de apelação e dar provimento aos
recursos adesivos nºs 1 e 2.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 14 de junho de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida no dia 10.03.2016 e publicada no dia 22.03.2016.
--
2 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 6ª ed.. Editora Forense, 2006, p. 784.
--
3 Tratado Teórico e Prático dos Contratas, Saraiva, 6ª ed., 2006, v. 3, p. 42.
função social dos contratos, bem como da vedação ao enriquecimento sem causa".
condominiais têm natureza propter rem, ou seja, aderem à coisa e não à pessoa, e não
81
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Gisele Aparecida da Silva ajuizou ação de imissão de posse c/c perdas e danos
(autos nº 16252-93.2015.8.16.0014 - PROJUDI) em face de Terra Nova Rodobens
Incorporadora Imobiliária Londrina II SPE Limitada aduzindo, em síntese, que a) por
meio do programa Minha Casa Minha Vida adquiriu da empresa ré a unidade nº 37-U,
da quadra nº 110, do Condomínio Moradas Londrina, pelo valor de R$86.813,76; b)
após a assinatura do contrato de financiamento junto à Caixa Econômica Federal, a ré
era obrigada a lhe entregar a posse do imóvel; c) a ré negou-se a entregar o imóvel,
justificando que existem débitos pendentes, sem prestar qualquer outro
esclarecimento; d) foi obrigada a alugar um imóvel para residir (danos materiais); e)
mesmo não tendo recebido o imóvel, estão sendo cobrados os valores relativos à
contribuição condominial da unidade residencial, o que é indevido; f) não há
inadimplência, razão pela qual faz jus à imissão na posse do imóvel; g) a ré age de má-
fé e retém injustamente a posse do imóvel; h) a ré deve ser condenada ao pagamento
de indenização
por danos materiais e morais; i) tratando-se de relação de consumo, é permitida a
inversão do ônus da prova (CDC, art. 6º, VIII). Como consequência dos fatos alegados
requereu, liminarmente, a expedição do mandado de imissão de posse, e ao final a
procedência dos pedidos.
2. A antecipação dos efeitos da tutela foi deferida (mov. 7.1 - f. 132). O mandado de
imissão de posse foi cumprido no dia 08.04.2015 (mov. 15.2 f. 146).
3. A ré Terra Nova Rodobens Marajó Incorporadora Imobiliária Londrina II SPE
Limitada ofereceu defesa em sede de contestação (mov. 18.1 f. 151/184) alegando,
em síntese, que a) o negócio firmado entre as partes reveste-se de condições
especiais, mediante o sistema denominado “TERRA NOVA”; b) a autora obrigou-se a
efetuar o pagamento do preço do imóvel (R$86.813,76), divido em duas partes: PARTE
A no valor de R$4.813,76; e a PARTE B no valor de R$82.000,00, a ser paga à vista,
com recursos próprios ou mediante obtenção de financiamento no âmbito do Sistema
Brasileiro de Poupança e Empréstimo ou do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço,
conforme item 4.1 e 4.2 do “Quadro Resumo” e cláusula 2ª do contrato; c) a autora
possui débito no valor de R$12.230,44, referente à correção do saldo devedor pelo
INCC e juros da obra; d) a posse do imóvel está condicionada ao pagamento integral
dos valores avençados no contrato (cláusula 7ª); e) não houve descumprimento
contratual no que concerne à entrega da posse do imóvel; f) a autora tinha
conhecimento de que seu saldo devedor sofreria correção monetária; g) a pretensão
da autora implicaria na redução do preço do imóvel, o que não pode se admitir; h) a
responsabilidade pelo pagamento referente a correção monetária pelo INCC está
especificada na cláusula 2.5.5. do contrato; i) não tem qualquer ingerência quanto à
concessão ou não do financiamento para pagamento do preço previsto no contrato,
eis que o financiamento é realizado pela Caixa Econômica Federal; j) a correção
monetária e a taxa de juros foram expressamente pactuadas e sua cobrança durante a
fase de construção é autorizada pela Lei nº 9.514/1997; k) a cobrança dos chamados
82
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
“Juros de Obra” é feita pela Caixa Econômica Federal, tendo em vista que decorre do
contrato de financiamento imobiliário firmado entre ela e a compradora (autora); l)
figurou como fiadora da autora, e em razão de sua inadimplência perante a CEF, foi
obrigada a realizar o pagamento; m) a confissão de dívida assinada pela autora é
válida e eficaz; n) não existem danos materiais ou morais a serem
indenizados; o) a autora é responsável pelo pagamento das taxas de condomínio da
unidade adquirida desde sua disponibilização, o que ocorreu no mês de novembro de
2012; p) inaplicável no caso concreto a inversão do ônus da prova prevista no Código
de Defesa do Consumidor.
4. A sociedade Terra Nova Rodobens Marajó Incorporadora Imobiliária Londrina II
SPE Limitada ajuizou reconvenção (mov. 19.1 f. 256/264), pleiteando a condenação
da autora ao pagamento de (i) R$9.232,72, referente a correção do saldo devedor pelo
INCC; e, (ii) R$2.997,72, referente aos juros da obra dos meses de junho/2012 a
maio/2013, que quitou junto à Caixa Econômica Federal na condição de fiadora.
5. Gisele Aparecida da Silva apresentou contestação à reconvenção (mov. 41.1 f.
370/380), refutando integralmente a pretensão da ré/reconvinte.
6. O MM. Juiz a quo julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na
inicial da ação de imissão de posse, para (i) confirmar a liminar anteriormente
concedida e determinar a imissão definitiva da autora na posse do imóvel; (ii) condenar
a ré ao pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$10.000,00, a
serem corrigidos pelo INPC a partir da data em que o imóvel deveria ter sido
entregue; (ii) declarar inexigível o valor cobrado a título de contribuição condominial
do imóvel; (iii) declarar inexigível o valor da dívida cobrada pela ré a título de juros de
obra e diferença de correção monetária pelo INCC; (iv) afastar a pretensão de
pagamento de indenização por danos materiais. Diante da sucumbência recíproca,
condenou as partes, na proporção de 80% para autora e 20% para a ré, ao pagamento
das custas processuais. Ainda, na proporção inversa, condenou as partes ao
pagamento de honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação
e dos débitos considerados indevidos, observando-se que a autora é beneficiária da
assistência judiciária gratuita. Por fim, julgou improcedentes os pedidos formulados
em sede de reconvenção, condenando a parte reconvinte ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios, fixados em R$800,00 (mov. 75.1 f. 435/444).
7. A autora Gisele Aparecida da Silva opôs Embargos de Declaração (mov. 80.1 f.
450/451), os quais foram acolhidos para modificar o dispositivo da sentença e
“condenar a ré/embargada, também a indenizar a título de danos materiais os
prejuízos suportados pela parte autora a título de pagamento de cotas condominiais”
(mov. 94.1 f. 504/505).
8. Inconformada, a ré Terra Nova Rodobens Marajó Incorporadora Imobiliária
Londrina II SPE Limitada interpôs recurso de apelação (mov. 85.1 f. 457/484),
pugnando pela reforma da sentença. Argumentou que a entrega da posse do imóvel,
de acordo com a cláusula 7ª do contrato, estava condicionada ao pagamento integral
do preço do imóvel, o que não ocorreu, tendo em vista que a autora/reconvinda
deixou de pagar a importância de R$12.230,44, relativa ao saldo devedor corrigido
pelo INCC e aos juros de obra.
83
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10. No que se refere a correção monetária, é preciso esclarecer que a mesma possui a
finalidade de manutenção do poder de compra da moeda diante da inflação. Desse
modo, por força dos princípios da boa-fé e do não enriquecimento sem causa, a
correção monetária deve ser aplicada nas prestações mensais devidas pelo comprador
desde a data da celebração do contrato até a entrega das “chaves”.
A correção foi prevista pelo índice INCC (Índice Nacional de Construção Civil
contrato cláusula 2.3.1 f. 29 mov.
1.4), que é uma das três variações que compõe o Índice Geral de Preços (IGP) e
reflete o aquecimento do setor de construção civil, não havendo qualquer ilegalidade
da sua cobrança até a conclusão da obra, conforme entendimento do STJ:
“CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.
PROMESSA DE COMPRA E VENDA. IMÓVEL. EXEQUIBILIDADE DO TÍTULO.
QUESTÃO DEPENDENTE E REEXAME REFLEXO DE MATÉRIA CONTRATUAL E
FÁTICA (SÚMULAS 5 E 7 DO STJ). INCC. INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULA
POTESTATIVA. PRECEDENTES.
SISTEMÁTICA DE APLICAÇÃO DOS JUROS. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
MULTA. REDUÇÃO DO PERCENTUAL. IMPOSSIBILIDADE. CONTRATO ANTERIOR À
LEI 9.298/96.
1. A reforma da vinculação das notas promissórias executadas ao contrato afirmado
expressamente no acórdão recorrido depende de reexame de matéria contratual e
fática da lide, o que encontra óbice nas Súmulas 5 e 7 do STJ.
2. Não é potestativa a cláusula que prevê a aplicação do INCC aos contratos de
promessa de compra e venda de imóvel em construção. Precedentes. (...). (STJ. AgRg
no REsp 591798 / DF.
Relator (a) Ministra Maria Isabel Gallotti. Órgão Julgador Quarta Turma. DJe
31/08/2011).
Destaquei.
“Embora seja válida a correção do saldo devedor durante a construção, quando
ocorrer o seu atraso por culpa da construtora-vendedora, deverá sua incidência ser
afastada, tendo em vista que a mora em entregar os imóveis não pode gerar maiores
custos e prejuízos aos compradores, o que abrange a incidência do INCC após o prazo
que deveria ter sido entregue o imóvel, ante a possibilidade de dificultar o pagamento
do bem” (TJPR - 6ª C.Cível - AC - 1363721-1 - Curitiba - Rel.: Roberto Portugal
Bacellar - Unânime - - J. 06.10.2015).
No caso, é preciso ter-se em mente que, entre a data da formalização do Contrato de
Compra e Venda (25.06.2010) e a data da assinatura do Contrato de Financiamento
com a Caixa Econômica Federal (12.07.2011), existe o lapso temporal de mais de um
ano, no qual, segundo consta expressamente do contrato, “o valor da PARTE A e da
PARTE B, será acrescido de atualização monetária mensal acumulada, calculada pelo
INCC-DI/FGV a partir da data base até a data do efetivo pagamento”.
E ainda, “caso o valor financiado pelo AGENTE FINANCEIRO não seja suficiente para
satisfazer o valor referente a PARTE B do Quadro Resumo ou o saldo devedor total
deste contrato, acrescido das atualizações monetárias contratadas e mesmo dos
encargos moratórios contratualmente estipulados, deverá o COMPRADOR efetuar o
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pagamento de parcelas prefixadas não há juro vencido a ser pago, de modo que a
taxa efetiva anual divergente da taxa mensal, na verdade, evidencia que, no processo
pelo sistema de juros compostos não pode ser confundido com anatocismo. O valor
de cada prestação a ser paga é composto pela fração do capital mais o juro
evidentemente abusivas.
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1656602-6 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 24.05.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença1 proferida pelo
MM. Dr. Juiz da 15ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana
de Curitiba, às f. 231/238 (mov. 20.1) dos autos nº 9167-76.2007.8.16.0001 de ação
com pedido de revisão das cláusulas financeiras de cédula de crédito bancário com
garantia fiduciária (f. 123/124 mov. 1.22), proposta por Alex Krik Silvestre em face de
Omni S/A Crédito, Financiamento e Investimento, pela qual julgou parcialmente
procedentes os pedidos formulados na inicial para determinar a incidência exclusiva da
comissão de permanência para o período de inadimplemento. Por fim, condenou as
partes, na proporção de 70% para o autor e 30% para o réu, ao pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios, fixados em R$1.000,00.
2. O autor interpôs recurso de apelação (f. 245/264 mov. 25.1), pleiteando a reforma
da sentença para (i) expurgar a capitalização de juros do cálculo das prestações; (ii)
limitar a taxa de juros remuneratórios; e, (iii) determinar a repetição em dobro dos
valores cobrados indevidamente. Ao final, pediu a redistribuição do ônus da
sucumbência e o afastamento da compensação dos honorários advocatícios.
Contrarrazões às f. 271/280 (mov. 30.1).
É o relatório.
II- VOTO
Não conheço do recurso na parte que trata da compensação dos honorários
advocatícios, pois a sentença não a determinou. Portanto, o apelante carece de
interesse recursal.
Com a ressalva supra, presentes os pressupostos processuais de admissibilidade,
intrínsecos e extrínsecos, conheço em parte do recurso.
94
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de ordem pública referidas no art. 267, §3º, do Código de Processo Civil, podem ser
reconhecidas de ofício pelo Juiz em qualquer grau de Jurisdição.2. Considerando que
as questões debatidas estão devidamente provadas pelos documentos constantes dos
autos, especificamente o contrato celebrado, bem como, há decisões acerca do mérito
da discussão, é desnecessária a inversão do ônus da prova.3. Sob a égide dos
Recursos Repetitivos, o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento segundo o
qual “A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir
pactuada de forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros
anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa
efetiva anual contratada” (REsp 973827/RS, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, 2ª
Seção, DJe 24/09/2012).4. A previsão contratual de parcelas prefixadas demonstra a
utilização de método composto de formação dos juros, situação admitida em nosso
ordenamento jurídico, que difere do anatocismo.5. No tocante à taxa de juros, é
preciso ter em vista, em primeiro lugar, a orientação da Súmula nº 382, do Superior
Tribunal de Justiça, segundo a qual “a estipulação de juros remuneratórios superiores
a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade”.6. Somente se configuram abusivos
os juros remuneratórios quando fixados em dissonância com a média praticada pelo
mercado em cada período e que exceda a uma vez e meia, ao dobro ou ao triplo da
taxa referencial estimada pelo Banco Central do Brasil. Precedentes do STJ.
7. É inviável a adoção da Taxa Selic como parâmetro de limitação dos juros
remuneratórios, pois não representa a taxa média praticada pelo mercado.
Precedentes STJ.8. A cobrança de tarifa de cadastro já teve sua legalidade declarada
pelo Superior Tribunal de Justiça em Recursos Especiais Representativos da
Controvérsia (REsp nº 1.251.331/RS e 1.255.573/RS) e por esta Corte no Enunciado nº
02, das 17ª e 18ª Câmaras Cíveis.9. Os honorários sucumbenciais fixados devem ser
mantidos por atenderem os parâmetros dispostos no art. 20 do Código de Processo
Civil. EXTINÇÃO PARCIAL DO FEITO, EX OFFICIO, POR AUSÊNCIA DE INTERESSE
DE AGIR.RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR - 17ª C. Cível - AC -
1226143-5 - Curitiba - Rel.: Rosana Amara Girardi Fachin - Unânime - - J. 08.07.2015)
5. A repetição de eventuais valores pagos e reconhecidos como abusivos é
consequência lógica da sentença.
Todavia, a repetição não deve comportar a dobra prevista no artigo 42 do CDC, na
medida em que decorre de cláusula de contrato livremente pactuada. Se a cobrança
está amparada em cláusula contratual não podemos reconhecer empiricamente que
houve má-fé.
Este é o posicionamento majoritário no Superior Tribunal de Justiça:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
CONTRATO BANCÁRIO. REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO. MESMAS TAXAS.
INADMISSIBILIDADE.
CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS DE MORA. ARTIGOS 1.062 DO CC/16 E 406 DO
CC/02.
PROVIMENTO. I. A repetição do indébito de valores cobrados por instituição
financeira, quando concernente a taxas e índices objeto de controvérsia mesmo no
âmbito do Poder Judiciário, há ser feita na forma simples, salvo inequívoca prova da
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má-fé, aqui inocorrente. (...) Precedentes do STJ. III. Agravo regimental provido. (AgRg
no Ag 390688/MG, Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR, Quarta Turma, DJ 2011)
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
INOCORRÊNCIA. CONTRATO BANCÁRIO. AÇÃO REVISIONAL. COBRANÇA DE
ENCARGOS ABUSIVOS. REPETIÇÃO DE INDÉBITO NA FORMA SIMPLES. (...) 3. “O
pagamento
resultante de cláusula contratual mais tarde declarada nula em sede judicial deve ser
devolvido de modo simples, e não em dobro; age no exercício regular de direito
quem recebe a prestação prevista em contrato” (EREsp 328.338/MG, Rel. Min. ARI
PARGENDLER, DJ, 01.02.2006). 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no Ag 1136936/PR, Min.
VASCO DELLA GIUSTINA, Terceira Turma, DJ 14.09.2010)
PROCESSUAL CIVIL E DIREITO BANCÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. POSSIBILIDADE. SUCUMBÊNCIA
RECÍPROCA. REPETIÇÃO DE INDÉBITO EM DOBRO. MÁ-FÉ. CIRCUNSTÂNCIA NÃO
RECONHECIDA NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. DESCABIMENTO. COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA. CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL. IMPOSSIBILIDADE.
SUBSTITUIÇÃO. MULTA CONTRATUAL. REDUÇÃO ADMITIDA SOMENTE PARA
CONTRATOS CELEBRADOS ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI 9.286/96. (...) 3. A
repetição em dobro do indébito pressupõe o pagamento indevido e a má- fé do
credor. Não comprovada essa conduta nas instâncias ordinárias, a repetição deve ser
simples. (...) Agravo regimental desprovido. (EDcl no REsp 1093802/SP, Min. JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA, Quarta Turma, DJ 05.05.2011)
CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATOS DE FINANCIAMENTO.
COMPENSAÇÃO/RESTITUIÇÃO SIMPLES DO INDÉBITO. IMPROVIMENTO. I. A
repetição do indébito de valores cobrados por instituição financeira, quando
concernente a taxas e índices objeto de controvérsia mesmo no âmbito do Poder
Judiciário, há ser feita na forma simples, salvo inequívoca prova da má-fé, aqui
inocorrente. II. Agravo regimental improvido.
(AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.226.286/MS, Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR,
2010)
No particular, a sentença determinou a incidência exclusiva da comissão de
permanência para o período de anormalidade contratual. Assim, se comprovada a
cobrança da comissão de permanência cumulada com outros encargos de mora, o
excedente deve ser devolvido na forma simples, com o acréscimo de juros de mora de
1% ao mês desde a citação e correção monetária pela média dos índices INPC/IGP-DI
a partir do desembolso. Fica permitida a compensação com eventual débito nos
termos do artigo 368 do Código Civil. O quantum deve ser apurado em sede de
liquidação de sentença.
No cálculo deve ser expurgado para fins de repetição somente o valor que exceder
ao índice da comissão de permanência cobrado sobre o valor das prestações pagas
após a data do respectivo vencimento. Observo que a comissão de permanência é
encargo moratório e como tal não foi computado no valor prefixado da prestação.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma expressa e clara. A
prefixadas não há juro vencido a ser pago ou capitalizado, de modo que a taxa efetiva
não é vedado pela legislação. O método de cálculo da prestação pelo sistema de juros
remuneratório.
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1644751-3 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 24.05.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença1 proferida pelo
MM. Dr. Juiz de Direito da 17ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba, às f. 205/213 dos autos nº 29420-17.2009.8.16.0001 de
ação com pedido de revisão das cláusulas financeira de contrato de arrendamento
mercantil, proposta por Cesar Soares Alves em face de Santander Leasing S/A
Arrendamento Mercantil, que julgou parcialmente procedente os pedidos formulados
na inicial para afastar a capitalização de juros do cálculo das contraprestações e
condenar o réu a repetir os valores cobrados a maior na forma simples,
consequentemente, descaracterizou os efeitos da mora, impedindo a incidência de
100
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
101
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Isso porque, sem ele, não é possível definir a natureza da relação jurídica firmada, o
valor do negócio e a ilegalidade ou abusividade dos encargos financeiros
computados.
Portanto, a apresentação do contrato revisando é imprescindível para o
processamento do pedido. A sua falta conduz para a inépcia da inicial, por ausência de
causa de pedir3.
Todavia, no presente caso estamos diante de situação que reclama solução diversa.
Anoto que o instrumento contratual alvo da revisão se perdeu, conforme afirmado pela
parte ré (f. 196), o que inviabiliza qualquer tentativa prévia da parte autora em obter a
respectiva cópia para fins de ajuizamento da ação revisional.
Considerando que não é possível exigir do autor a apresentação de cópia do contrato
que se perdeu, não é razoável impor à instituição financeira multa pelo
descumprimento da mesma ordem. Em verdade, na impossibilidade da apresentação
do documento, o pedido formulado pelo autor deve ser processado e julgado com os
elementos disponíveis, em especial a planilha de f. 197, cópia do Certificado de
Registro e Licenciamento de Veículo (f. 35) e cópia dos boletos de pagamento
juntados aos autos (f. 38/50).
5. A respeito da capitalização de juros e da respectiva taxa, o Superior Tribunal de
Justiça autorizou a incidência de juros compostos em todos os contratos firmados após
a edição da Medida Provisória nº 1.963-17/2000 (em vigor como MP nº
2.170/36/2001), quando expressamente pactuada, bem como admitiu como válida a
taxa de juros anual contratada, fixando as seguintes súmulas:
“Súmula 539: É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual
em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeira Nacional a
partir de 31/3/200 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170- 36/2001),
desde que expressamente pactuada”.
“Súmula 541: A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao
duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual
contratada”.
No contrato de leasing com contraprestações prefixadas é possível calcular o seu
valor pelo método matemático empregado pelo contratado. O direito brasileiro,
desde a edição do Decreto 22.626, de 1933, proíbe a incidência de juros
remuneratórios sobre juros vencidos. Tal prática passou a ser conhecida como
“capitalização”, “juros compostos” ou “anatocismo”. A orientação é no sentido de
impedir que o credor, após o vencimento do crédito, possa adicionar novos juros
sobre os juros já vencidos em decorrência do inadimplemento da obrigação. Esse é o
fenômeno do anatocismo proibido pela legislação brasileira. Por outro lado, a
legislação nunca proibiu a utilização de método de cálculo composto para determinar,
no momento da contratação, o valor prefixado da contraprestação. Quando a taxa de
juros é integrada no valor prefixado da contraprestação antes de iniciar o cumprimento
da obrigação, não é possível falar em incidência de juros sobre juros vencidos. A
utilização do método de juros compostos não se confunde com anatocismo, pois o
valor de cada prestação é composto pela fração do capital (divisão do valor inicial da
operação de crédito pelo número de meses) mais o juro remuneratório e eventual
102
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
103
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
petição inicial de ação revisional de contrato bancário que não vem acompanhada de
cópia do contrato revisando”.
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1424250-1 - Ponta Grossa - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - - J. 03.02.2016)
4 Orientação 2, consolidada pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp
1.061.530-RS.
COMERCIAL
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1634381-8 - Campo Mourão - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - J. 24.05.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação com pedido de rescisão de contrato de compra e venda
cumulada com pedido de indenização (autos nº 2391- 83.2007.8.16.0058) ajuizada por
Delmar José de Lima e Maria José Covalski em face de João Batista de Mendonça e
Irenice Viana Lage
aduzindo, em síntese, que (a) no dia 01.06.2006 celebraram com os réus o contrato de
compra e venda do estabelecimento comercial denominado “Centro de Condutores
de Veículos Kamilla Ltda ME”, pelo valor de R$122.000,00; (b) restou ajustado que o
preço acordado seria pago da seguinte forma: (i) entrega da data nº 8-A, subdivisão da
data nº 8, da quadra nº 2, da Planta do Parque São João, pelo valor de R$35.000,00;
104
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(ii) entrega do veículo camionete/c.aberta dupla, VMMCL200 4x4, ano 1996, modelo
1997, placa AHD- 6259, pelo valor de R$28.000,00; (iii) R$59.000,00 em moeda
nacional, sendo R$20.000,00 entregue no ato da assinatura do contrato, R$7.000,00 a
serem pagos no dia 01.08.2006 e R$32.000,00 a serem pagos através de um saldo de
FGTS dos compradores, que seria transferido para a compra de um imóvel, a ser
indicado pelos vendedores; (c) mesmo tendo indicado o imóvel a ser adquirido, os
compradores não cumpriram o pagamento previsto na alínea “d” da cláusula 4º do
contrato (transferência de FGTS); (d) no dia 02.05.2007 os compradores enviaram
notificação extrajudicial requerendo o reembolso de valores supostamente pagos em
favor da pessoa jurídica, que encontravam-se em aberto anteriormente à assinatura do
contrato de compra e venda; (e) encaminharam contranotificação extrajudicial
concordando com parte das dívidas apontadas pelos compradores e exigindo a
quitação do contrato, eis que o pagamento previsto na alínea d, da cláusula 3 não
ficou condicionado ao cumprimento de qualquer obrigação; (f) considerando o
inadimplemento contratual, faz-se necessária a rescisão do contrato; (g) os réus devem
ser condenados ao pagamento de indenização por perdas e danos, a serem apurados
em liquidação de sentença. Ao final, requereram a procedência dos pedidos, com a
rescisão do contrato e o retornO das partes ao status quo ante, além da indenização
por perdas e danos.
2. Os réus João Batista de Mendonça e Irenice Viana Lage apresentaram resposta em
sede de contestação (mov. 1.7 - f. 52/70), sustentando, preliminarmente, a falta de
interesse processual dos autores e a exceptio non adimpleti contractus. No mérito,
alegaram que (a) a cláusula 6ª do contrato de compra e venda previa que todos os
impostos, taxas, encargos trabalhistas, ações trabalhistas, rescisões, contribuições
fiscais, financiamentos e empréstimos, anteriores à data da assinatura do contrato,
deveriam ser pagos pelos vendedores; (b) logo após a celebração do contrato, os
vendedores indicaram um imóvel para ser adquirido com o saldo do FGTS dos
compradores, mas não houve liberação do FGTS pela Caixa Econômica Federal
porque o imóvel não foi aprovado na vistoria; (c) entrementes, tiveram conhecimento
de diversos débitos da
sociedade, contraídos anteriormente à aquisição, e que deveriam ser quitados pelos
vendedores; (d) um levantamento das dívidas apontou que os débitos ultrapassavam a
importância de R$32.000,00, quitando o contrato por compensação dos créditos; (e)
conforme previsão do art. 476 do CC, nenhum dos contratantes, antes de cumprir sua
obrigação, pode exigir o implemento da do outro; (f) é aplicável o instituto da
compensação, previsto no art.
368 do CC; (g) não há qualquer dano a ser reparado; (h) os autores utilizaram-se de
expressão injuriosa (CPC/73, art. 15); (i) os autores litigam de má-fé.
3. Os réus João Batista de Mendonça e Irenice Viana Lage apresentaram reconvenção
(mov. 1.11 f. 136/150), pleiteando (i) a compensação dos débitos, na forma do
disposto no art. 368 do Código Civil; (ii) a condenação dos autores/reconvindos ao
reembolso dos valores pagos relativamente à obrigações de sua responsabilidade,
alcançando a importância de R$32.000,00, a ser compensada; (iii) a condenação dos
autores/reconvindos ao pagamento de indenização por danos morais.
105
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
A prova pericial apurou que até o dia 01.06.2006 (data do contrato), haviam débitos
da pessoa jurídica vencidos e não pagos, que englobavam tributos, contribuições
previdenciárias e débitos trabalhistas. Em resposta ao quesito nº 2, formulado pelos
autores, ora apelantes, o Sr. Perito calculou as dívidas pendentes (conforme anexos nº
1, nº 2 e nº 3):
Natureza Valor Tributárias e Previdenciárias R$10.429,34 Trabalhistas R$25.283,78
Outros Passivos R$1.318,23 Total: R$35.031,35
Os apelantes discordam dos valores relativos às verbas de natureza trabalhista,
sustentando que a responsabilidade pelo pagamento de tais débitos somente pode
lhes ser imputada até o dia 01.06.2006 (data da assinatura do contrato). Afirmam que
houve continuidade nos contratos de trabalho, e que as verbas trabalhistas posteriores
à 01.06.2006 são de responsabilidade dos réus/reconvintes.
Conforme petição inicial indexada no mov. 1.9 e 1.10, a reclamatória trabalhista
ajuizada por Gislaine Aparecida Francisco abrangia o período de 06.12.2004 (data da
contratação) até 30.09.2006 (data da demissão sem justa causa). Assim, assiste razão
aos apelantes quando afirmam que parte das verbas trabalhistas não era de sua
responsabilidade. Gislaine Aparecida Francisco e a sociedade empresária Centro de
Formação de Condutores de Veículo Kamila Ltda firmaram acordo no montante de
R$10.000,00 (mov. 1.10), o qual foi considerado pelo Sr. Perito como sendo
integralmente devido pelos autores/reconvindos, o que, como visto, mostra-se
inadequado, devendo o cálculo ser realizado proporcionalmente ao período de
responsabilidade de cada uma das partes.
Ainda, com relação à reclamatória trabalhista ajuizada por Sueli Marques, observa-se
que o Sr. Perito lançou como devido o valor de R$4.993,78, observando que o
processo se encontrava em fase recursal. Todavia, conforme se verifica do acórdão de
mov. 1.40, o recurso ordinário interposto pela sociedade empresária Centro de
Formação de Condutores de Veículos Kamilla Ltda ME foi parcialmente provido. O
Sr. Perito, ao manifestar-se acerca do julgamento do recurso (mov. 1.42 f. 385/386),
asseverou que o cálculo do débito deveria ser elaborado por calculista nomeado pelo
Juízo Trabalhista, devendo aguardar sua elaboração. Ora, tratando-se de dívida
ilíquida, nos parece evidente que não poderia ter sido considerada para fins de
compensação imediata.
8.4. Todavia, as discrepâncias apontadas no cálculo realizado pelo Sr. Perito não têm
o condão de modificar o julgamento do pedido dos réus/reconvintes. Isto porque,
considerando a existência de créditos e débitos entre as partes, é plenamente possível
a compensação, na forma disposta no art. 368 do CC.
Frise-se que o dispositivo da sentença julgou procedentes os pedidos dos
réus/reconvintes para “a) declarar a compensação de dívidas, extinguindo-se a
obrigação das partes até onde se compensarem, observado os parâmetros fixados
pelo laudo pericial acostado nos autos; b) condenar os Reconvindos/Autores a
restituírem eventual saldo remanescente a ser apurado em sede de liquidação de
sentença, de todas as dívidas arcadas pelos Reconvintes/Réus, e que foram contraídas
antes da celebração do contrato de compra e venda (01/06/2006), desde a data do
desembolso até a data do efetivo pagamento e com juros de mora a partir do
108
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
não está condicionada à prova efetiva do dano, pois os atos de concorrência desleal e
ambiente não adequado ao padrão de consumo desejado e praticado pelo seu titular,
mais abastadas, enquanto que a ré busca direcionar seus produtos às camadas mais
jovens da sociedade e, por isso, sem alto poder aquisitivo (TJ/SP Relator(a): Carlos
Alberto Garbi; Comarca: São Paulo; Órgão julgador: 2ª Câmara Reservada de Direito
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1632952-9 - Dois Vizinhos - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - J. 24.05.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de obrigação de não fazer cumulada com pedido de perdas e
danos (autos nº 0001052-79.2014.8.16.0079) ajuizada por Dudalina S/A em face de
Terezinha Marchi - ME, aduzindo, em síntese, que: (a) é empresa idônea e
conceituada, e tem como função precípua fabricação e comercialização de artigos do
vestuário em geral; (b) ao longo de sua história, investiu fortemente no
desenvolvimento de sua marca, seja através da propaganda ou na elaboração de
produtos de extrema qualidade e refinamento, tornando-se uma peça de status social
e objeto de desejo de um consumidor muito distinto e de alto poder aquisitivo.
A partir do ano de 2010, notadamente, o sucesso alcançado refletiu no mercado
informal, o qual passou a “piratear” seus produtos; (c) aproveitando-se do alto valor
agregado à sua marca, a empresa ré vem comercializando camisas de péssima
qualidade, identificando-as como se originais fossem. Porém, por meio de simples
comparação, logo se vê diferenças na cor e nos detalhes de tecido, forro, acabamento,
110
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
botões, dentre outros; (d) a prova trazida aos autos, consistente em uma camisa
adquirida no estabelecimento comercial da requerida, cupom de compra e laudo
elaborado por responsável técnico, demonstram que a ré utiliza a logomarca, a
etiqueta interna e a etiqueta removível de modo a identificar um produto falsificado
como se fosse um de seus produtos. Todavia, não possui os padrões mínimos de
qualidade, não atendendo nem aos requisitos do INMETRO, causando severos danos
à imagem de sua marca, construída e mantida a elevado custo; (e) deve ser indenizada
pelos danos materiais e morais sofridos em virtude da prática da concorrência desleal.
Assim, requereu a antecipação dos efeitos da tutela, para determinar a busca e
apreensão de todas as mercadorias, produtos, objetos, embalagens, etiquetas da
empresa ré que utilizam a sua LOGOMARCA.
2. A tutela antecipada almejada foi deferida (mov. 15.1 f. 65/66), para determinar à
requerida que se abstenha de comercializar e distribuir peças de vestuário com as
mesmas características dos modelos em litígio, bem como anunciar e expor a venda,
através de qualquer meio, sob pena de multa diária a ser fixada oportunamente.
Também autorizou a apreensão de todos os exemplares com marcas análogas às
expostas na inicial, de titularidade da parte autora, bem como dos contrafeitos nos
estabelecimentos das demandadas situados na Comarca de Dois Vizinhos.
3. A ré Terezinha Marchi - ME apresentou resposta em sede de contestação (mov.
28.1 - f. 100/116), sustentando, preliminarmente, a inépcia da petição inicial. No
mérito, afirma que (a) não é responsável pela fabricação dos produtos, apenas revende
aqueles adquiridos de vendedores; (b) inexistem provas dos apontados danos sofridos;
(c) não estão presentes os pressupostos necessários à responsabilização.
4. O MM. Dr. Juiz a quo proferiu a sentença1 (mov. 71.1 f. 186/192) pela qual julgou
procedentes os pedidos formulados na inicial para condenar a ré Terezinha Marchi
Me a (i) abster-se de fabricar, adquirir ou comercializar produtos ou objetos que
contenham a marca de propriedade da autora, sem sua autorização expressa; (ii) pagar
à autora indenização a título de danos morais fixada em R$ 10.000,00; (iii) pagar à
autora indenização pelos danos materiais, consistente no valor médio de cada uma das
peças apreendidas em poder da ré, que deve ser apurado em fase de liquidação de
sentença. Destacou que sobre o valor da condenação pecuniária incidirá correção
monetária, pela média do INPC/IGP-DI a partir da data do arbitramento (Súmula nº
362 do STJ) e serão acrescidos de juros de mora de um por cento ao mês a contar da
data do evento danoso (Súmula nº 54 do STJ). Ante a sucumbência, condenou a ré ao
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em 10%
sobre o valor da condenação.
Contra esta decisão, a autora opôs embargos de declaração (mov. 75.1 f. 197/198),
os quais foram rejeitados (mov.
90.1 f. 221/222).
5. A ré Terezinha Marchi - ME interpôs recurso de apelação (mov. 96.1 f. 229/249),
postulando a reforma da sentença para afastar a sua condenação ao pagamento de
indenização a título de danos materiais e morais, afirmando, em síntese, que a autora
não comprovou a efetiva existência dos danos. Alternativamente, pediu a minoração
111
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
do valor arbitrado a título de danos morais. Por fim, postulou a inversão do ônus da
sucumbência.
Contrarrazões de apelação (mov. 134.1 f. 401/410).
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
6. Em primeiro lugar, cumpre destacar que a Constituição Federal ao dispor sobre a
proteção à criação industrial, estabeleceu em seu artigo 5º, XXIX que: “a lei assegurará
aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como
proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e
a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento
tecnológico e econômico do País”.
Nessa seara a propriedade industrial tem proteção constitucional, visando estimular o
progresso técnico e científico, considerando o interesse social e econômico do país.
Assim, para uma maior proteção ao autor da criação industrial, bem como a
especificação e desenvolvimento da matéria, foi editada a Lei nº9.279/96, conhecida
como Lei de Propriedade Industrial, na qual é
delimitado o âmbito de atuação da proteção aos direitos relativos à propriedade
industrial, nos seus artigos 2º e 3º2.
No que tange ao uso da marca, a Lei de Propriedade Industrial determina que a
propriedade da marca se adquire pelo registro validamente expedido, o qual garante
ao titular o seu uso exclusivo em todo o território nacional. O mesmo diploma legal
estabelece a proteção conferida pelo registro, assegurando ao titular a possibilidade
de zelar pela sua integridade material ou reputação3:
Art. 129. A propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente expedido,
conforme as disposições desta Lei, sendo assegurado ao titular seu uso exclusivo em
todo o território nacional, observado quanto às marcas coletivas e de certificação o
disposto nos arts. 147 e 148.
(...)
Art. 130. Ao titular da marca ou ao depositante é ainda assegurado o direito de: I -
ceder seu registro ou pedido de registro; II - licenciar seu uso; III - zelar pela sua
integridade material ou reputação.
Acerca da proteção conferida ao titular da marca, ensina Carla Eugênia Barros4:
“Os atos contrafeitos poderão ser apurados e declarados em ação judicial de natureza
tanto penal como civil. A proteção ao titular, ao cessionário ou ao licenciado exclusivo
da marca é oponível já quando efetuado o depósito do registro, uma vez que é a partir
desse instante que marca se torna sujeita a ataques como reprodução e imitação, além
de outras violações não explicitadas pela lei, mas caracterizáveis como tal de modo
bem específico.
São esses ataques que geram oportunidade para defesa de direitos. Por conseguinte,
é a partir da publicação do pedido do registro que o depositante pode acionar o
contrafator.
Isso pode ser por ação de natureza penal, quanto civil.
112
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Na esfera civil, o fórum competente é o da justiça comum ou, no caso de o INPI ser
parte interessada, o da Justiça Federal. Como a ação de contrafação, no caso, se
circunstancia na reparação de perdas e danos, são aplicáveis as regras do Código Civil,
sendo irrelevantes as questões sobre a ignorância, a boa ou má-fé do contrafator,
diferentemente da penal. As provas da contrafação são por todos os meios admitidos
em direito e um só elemento da marca, desde que distintivo, já pode ser suficiente
para caracterizar a contrafação.
Na ação civil, enfim, o que importa é a apuração dos prejuízos materiais e, inclusive,
imateriais causados aos proprietários da marca e, mesmo, aos consumidores
alcançados pelo ato vicioso.
No caso, conforme auto de busca e apreensão (mov. 27.1 e 27.2 f. 91/98), restou
demonstrado que a requerida colocava à venda em seu estabelecimento comercial,
camisas identificadas com a logomarca da autora, as quais eram provenientes de
falsificação, nos termos atestado pelo laudo técnico anexado aos autos (mov. 1.8
f.42/44).
A requerida em nenhum momento nega que os produtos colocados à venda eram
“falsificados”, limitando-se a argumentar que os adquiria de “vendedores viajantes”.
Entretanto, não trouxe aos autos nenhuma prova da culpa exclusiva de terceiros, apta
a afastar a sua responsabilidade (art. 333, II do CPC/1973). Nos termos destacados
pelo magistrado de 1º grau, “o fato de terceiro depende da produção de prova
idônea, indicando concretamente que o terceiro foi responsável por si mesmo pelo
evento danoso, o que não fez a interessada”. Além do mais, não se mostra plausível o
argumento da requerida de que vendia os produtos recebidos em consignação de
terceiros sem saber a sua procedência.
Não se pode ignorar que a venda de produtos falsificados gera prejuízos ao detentor
da marca, seja por causar confusão no consumidor, seja por desvio de clientela ou,
ainda, por denegri-la. Tal conduta configura claramente a prática de concorrência
desleal, prevista no artigo 195 da Lei nº 9.279/965, decorrendo o dano diretamente da
conduta praticada pela parte de violação de direitos de propriedade industrial da
requerente , razão pela qual o dano é presumível, sendo desnecessária a produção de
outras provas.
Nesse sentido é o entendimento manifestado pelo Superior Tribunal de Justiça:
“Direito comercial e processual civil. Recurso especial. Concorrência desleal e desvio
de clientela. Embargos declaratórios. Omissão. Ausência. Reexame de provas.
Inadmissibilidade.
Inépcia da inicial. Inocorrência. Danos materiais. Comprovação. Presunção - Ausentes
os vícios do art. 535 do CPC, rejeitam-se os embargos de declaração.
- É inadmissível o reexame de fatos e provas em recurso especial.
- Verificada a existência de causa de pedir, não há reconhecer-se a inépcia da inicial
na presente hipótese.
- O art. 209 da Lei 9.279/96 autoriza a reparação por danos materiais advindos de
atos de concorrência desleal que importem desvio de clientela pela confusão causada
aos consumidores.
113
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
“Art. 210. Os lucros cessantes serão determinados pelo critério mais favorável ao
prejudicado, dentre os seguintes: I - os benefícios que o prejudicado teria auferido se
a violação não tivesse ocorrido; ou II - os benefícios que foram auferidos pelo autor da
violação do direito; ou III - a remuneração que o autor da violação teria pago ao titular
do direito violado pela concessão de uma licença que lhe permitisse legalmente
explorar o bem.”
Neste viés, a indenização por danos materiais deverá ser calculada segundo os
critérios previstos nos dispositivos legais acima mencionados, em sede de liquidação
de sentença, conforme entendimento manifestado pelo Julgador Monocrático.
A corroborar:
CONCORRÊNCIA DESLEAL. CONFIGURAÇÃO. DANO MATERIAL PRESUMIDO.
QUANTUM DEBEATUR. CRITÉRIOS DO ART. 210 DA LEI N° 9279/96. ESCOLHA NA
FASE DE LIQUIDAÇÃO. SENTENÇA MANTIDA.
1 - A questão suscitada pela Apelante como preliminar de cerceamento de defesa
confunde-se com o mérito, razão pela qual deverá ser com ele analisado.
2 - É fato incontroverso, nos presentes autos, por ter sido decretado a revelia da Ré,
que esta vendeu e distribuiu produtos falsificados, destacando-se que os originais são
produzidos e comercializadas pela Autora, tendo praticado, portanto concorrência
desleal e atos de violação de direitos de propriedade industrial. Tal conduta é definida
como crime, nos termos da Lei nº 9.279/96, a qual regula direitos e obrigações
relativos à propriedade industrial.
3 - Configurada a violação ao Art. 209, da Lei nº 9.279/96, patente é a obrigação de
indenizar, pois o dano material (lucros cessantes) decorrente de concorrência desleal é
presumido.
4 - O valor a ser reparado a título de lucros cessantes deve ser aferido em
procedimento de liquidação de sentença para que sejam evitados danos fictícios.
5 A Autora, na petição inicial da fase de liquidação de sentença, deve escolher um
dos critérios para aferição dos lucros cessantes previstos no art. 210 da Lei nº
9.279/96, sob pena de indeferimento da mesma.
Preliminar rejeitada.
Apelação Cível provida.
(Acórdão n.980402, 20130910304703APC, Relator: ANGELO PASSARELI 5ª TURMA
CÍVEL, Data de Julgamento: 09/11/2016, Publicado no DJE: 01/12/2016. Pág.:
229/237).
RECURSO DE APELAÇÃO. DIREITO COMERCIAL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO
ORDINÁRIA DE ABSTENÇÃO DE ATO CUMULADA COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO
POR DANOS MATERIAIS. APELADA QUE UTILIZOU DE CONJUNTO-IMAGEM DO
PRODUTO “ROLHITAS” MUITO SEMELHANTE AO UTILIZADO PELA APELANTE EM
RELAÇÃO AO PRODUTO “PAÇOQUITAS”. LAUDO PERICIAL.CONCORRÊNCIA
DESLEAL CONFIGURADA. DESVIO DE CLIENTELA PRESUMIDO. INTELIGÊNCIA DA
LEI DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (ART. 208, 209 E 210 DA LEI 9.279/96). DANOS
MATERIAIS PRESUMIDOS. PERDA DE CLIENTELA. QUANTUM DEBEATUR QUE DEVE
SER APURADO EM LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA POR ARBITRAMENTO. MULTA
DIÁRIA COMINATÓRIA DE R$ 1.500,00. MAJORAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. VALOR
115
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conhecimento público ou que sejam evidentes para um técnico no assunto, a que teve
acesso mediante relação contratual ou empregatícia, mesmo após o término do
contrato; XII - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos ou
informações a que se refere o inciso anterior, obtidos por meios ilícitos ou a que teve
acesso mediante fraude; ou XIII - vende, expõe ou oferece à venda produto,
declarando ser objeto de patente depos itada, ou concedida, ou de desenho industrial
registrado, que não o seja, ou menciona-o, em anúncio ou papel comercial, como
depositado ou patenteado, ou registrado, sem o ser; XIV - divulga, explora ou utiliza-
se, sem autorização, de resultados de testes ou outros dados não divulgados, cuja
elaboração envolva esforço considerável e que tenham sido apresentados a entidades
governamentais como condição para aprovar a comercialização de produtos.
6 Art. 208. A indenização será determinada pelos benefícios que o prejudicado teria
auferido se a violação não tivesse ocorrido.
7 Programa de Responsabilidade Civil, 5ª ed., São Paulo: Malheiros, 2004, item 19.5,
pág.106/110.
comissão de permanência tem como limite a somatória dos juros remuneratórios, dos
pactuado cláusula nesse sentido, a teor do artigo 28, §1º, inciso I da Lei nº
10.931/2004, aplicável para a cédula de crédito bancário. 3. A taxa de juros pode ser
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação e recurso adesivo interpostos em virtude da
sentença1 proferida pelo MM. Dr. Juiz da 3ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da
Região Metropolitana de Maringá, às f. 299/307 (mov. 57.1) dos autos nº 14913-
27.2014.8.16.0017 de ação com pedido de revisão das cláusulas financeiras de cédula
de crédito bancário com garantia fiduciária (f. 62/65 mov. 1.7), proposta por João
Mayk de Araujo Pereira em face de Omni S/A Crédito, Financiamento e Investimento,
pela qual julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na inicial para
afastar a cobrança da comissão de permanência. Julgou improcedentes os pedidos
referentes à capitalização de juros e à taxa de juros remuneratórios. Julgou extinto,
sem resolução de mérito, os pedidos referentes às tarifas de registro e de outros e aos
juros remuneratórios incidentes sobre o Imposto sobre Operações Financeiras, ante a
existência da coisa julgada. Ainda, condenou o
autor ao pagamento de multa por litigância de má-fé, no valor de R$1.000,00, nos
termos do artigo 81, §1º do Código de Processo Civil/2015, considerando a potencial
intensão do autor em duplicar a possibilidade de um resultado financeiro, por decisões
distintas (fundamentos de f. 300/301 mov. 57.1). Por fim, condenou o autor ao
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em
R$2.000,00.
2. A ré interpôs recurso de apelação (f. 313/316 mov.
62.1), pleiteando a reforma da sentença na parte que afastou a comissão de
permanência. Alegou que devem prevalecer os princípios da autonomia da vontade e
da força obrigatória dos contratos.
Contrarrazões às f. 364/370 (mov. 68.1).
121
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
122
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Analisando tal cláusula verificamos que foi prevista para o período da anormalidade
contratual a incidência da comissão de permanência cumulada com juros moratórios e
multa contratual de 2%, ferindo a orientação do Superior Tribunal de Justiça fixada no
REsp 1.058.114-RS, sob o rito do artigo 543-C do Código de Processo Civil, com a
seguinte ementa:
DIREITO COMERCIAL E BANCÁRIO. CONTRATOS BANCÁRIOS SUJEITOS AO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. VALIDADE DA CLÁUSULA. VERBAS INTEGRANTES.
DECOTE DOS EXCESSOS. PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DOS NEGÓCIOS
JURÍDICOS. ARTIGOS 139 E 140 DO CÓDIGO CIVIL ALEMÃO. ARTIGO 170 DO
CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. 1. O princípio da boa-fé objetiva se aplica a todos os
participes da relação obrigacional, inclusive daquela originada de relação de consumo.
No que diz respeito ao devedor, a expectativa é a de que cumpra, no vencimento, a
sua prestação. 2. Nos contratos bancários sujeitos ao Código de Defesa do
Consumidor, é válida a cláusula que institui comissão de permanência para viger após
o vencimento da divida. 3. A importância cobrada a título de comissão de
permanência não poderá ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e
moratórios previstos no contrato, ou seja: a) juros remuneratórios à taxa média de
mercado, não podendo ultrapassar o percentual contratado para o período de
normalidade da operação; b) juros moratórios até o limite de 12% ao ano; e c) multa
contratual limitada a 2% do valor da prestação, nos termos do art. 52, § 1º do CDC. 4.
Constatada abusividade dos encargos pactuados na cláusula de comissão de
permanência, deverá o juiz decotá- los, preservando, tanto quanto possível, a vontade
das partes manifestada na celebração do contrato, em homenagem ao princípio da
conservação dos negócios jurídicos consagrado no arts. 139 e 140 do Código Civil
alemão e reproduzido no art.. 170 do Código Civil brasileiro. 5. A decretação de
nulidade de cláusula contratual é medida excepcional, somente adotada se impossível
o seu aproveitamento. 6. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.
Frise-se que tal entendimento foi consolidado com a edição da Súmula 472 do
Superior Tribunal de Justiça: “A cobrança de comissão de permanência - cujo valor
não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no
contrato exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa
contratual”.
5 Esse posicionamento corrobora o que havia sido assentado no voto da lavra do
eminente Ministro Ari Pargendler, no julgamento do REsp 834968/RS, de 14.03.2007:
a comissão de permanência abarca, ao mesmo tempo, as características de correção
monetária, vez que atualiza monetariamente os valores inadimplidos; juros
remuneratórios, já que configura remuneração pelo capital disponibilizado; juros
moratórios, pois compensa o lapso de tempo de inadimplente; e de multa contratual,
visto que representa também uma sanção pelo inadimplemento.
Portanto, quando analisamos a cláusula contratual que estabelece as penalidades para
a hipótese de inadimplemento da obrigação na data do vencimento, devemos
aproveitar a cláusula estabelecida pelas partes contratantes, mantendo-a quanto à
possibilidade de cobrança da comissão de permanência, declarando-a inválida na
123
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(AgRg no REsp 844405 / RS, Min. NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, DJe
28/09/2010)
No particular, o extrato de pagamento de f. 182 (mov.
25.6) demonstra que algumas prestações foram pagas em atraso. Assim, caso
comprovada a cobrança da comissão de permanência cumulada com outros encargos
de mora, o excedente deve ser devolvido na forma simples, com o acréscimo de juros
de mora de 1% ao mês desde a citação e correção monetária pela média dos índices
INPC/IGP-DI a partir do desembolso. Fica permitida a compensação com eventual
débito nos termos do artigo 368 do Código Civil. O quantum deve ser apurado em
sede de liquidação de sentença.
No cálculo deve ser expurgado para fins de repetição somente o valor que exceder
ao índice da comissão de permanência cobrado sobre o valor das prestações pagas
após a data do respectivo vencimento. Observo que a comissão de permanência é
encargo moratório e como tal não foi computado no valor prefixado da prestação.
Assim, na hipótese do devedor ter efetuado o pagamento de prestação após a data
do vencimento e ter sido cobrado como
7 acréscimo moratório índice que supere os juros moratórios de 1% + multa de 2% +
juros remuneratórios no limite da taxa contratada, o excedente deve ser repetido. O
acréscimo acima referido deve ser discriminado na fase de liquidação pelo autor.
Do recurso adesivo interposto pelo autor.
Não conheço do recurso na parte que trata da incidência dos juros remuneratórios
sobre o Imposto sobre Operações Financeiras, pois tal questão foi julgada extinta, sem
resolução de mérito, ante a existência da coisa julgada. Portanto, o apelante carece de
interesse recursal.
Com a ressalva supra, presentes os pressupostos processuais de admissibilidade,
intrínsecos e extrínsecos, conheço em parte do recurso.
7. Analisando o contrato que serve de supedâneo à demanda revisional, observa-se
que se trata de cédula de crédito bancário (f. 62/65 mov. 1.7), regulada pela Lei nº
10.931/2004.
Assim, no que tange à modalidade contratual em questão, anoto que o artigo 28, §1º,
inciso I3 prevê a possibilidade de capitalização dos juros, desde que expressamente
pactuada. Nesse sentido, já se manifestou o STJ no REsp 979.224/RS4. A questão foi
regulada por lei específica, não havendo espaço para a aplicação da súmula 121 do
STF. Inclusive, pelo mesmo motivo, não há que se falar em declaração incidental de
institucionalidade da Medida Provisória nº 2170-36/01.
No caso em tela, pela leitura do contrato (f. 63 mov.
1.7), depreende-se que a aludida capitalização de juros foi expressamente pactuada5
na cláusula nº 1, razão pela qual sua cobrança deve ser mantida.
Ainda, ao contrário do que afirma o recorrente, não houve ofensa ao dever de
informação ou ainda a nenhum outro preceito do Código de Defesa do Consumidor.
O contrato foi redigido em termos claros e com caracteres legíveis, consoante
estabelece o artigo 54, parágrafo terceiro do Código de Defesa do Consumidor.
8. Sobre os juros remuneratórios, o Superior Tribunal de Justiça firmou a seguinte
orientação (REsp 1.061.530-RS):
125
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
No caso concreto restou assente a litigância de má-fé praticada pelo autor ao formular
pedido referente às tarifas de registro e de “outros” e aos juros remuneratórios
incidentes sobre o Imposto sobre Operações Financeiras, quando tais pedidos já
foram julgados no âmbito do Juizado Especial Cível (autos nº 9894-
37.2014.8.16.0018). Esclareço que os pedidos foram julgados parcialmente
procedentes para reconhecer a abusividade/ilegalidade das tarifas. O autor não logrou
êxito em relação aos juros remuneratórios incidentes sobre o Imposto sobre
Operações Financeiras, que inclusive foi objeto do presente recurso.
Entende o Superior Tribunal de Justiça que “O art. 17 do Código de Processo Civil
(art. 80, CPC/2015), ao definir os contornos dos atos que justificam a aplicação da
multa por litigância de má-fé, pressupõe o dolo da parte no entravamento do trâmite
processual, manifestado por conduta intencionalmente maliciosa e temerária” (STJ,
1ªT., AgRg no Ag 1021049/SP, Rel. Min. Denise Arruda, DJe 05.11.2008). Quanto a
isso, é de se destacar que nem o dispositivo em comento, e nem os demais que
tratam da matéria, exigem a ocorrência de “dano” à parte adversa para que se possa
aplicar a multa punitiva. Aliás, pela própria redação do artigo 81, caput do Código de
Processo Civil/20159 (art.
18 do CPC/1973), pode-se verificar que a multa não se confunde com eventual
indenização por prejuízos causados ao outro litigante. De mais a mais, é de se
considerar que a litigância de má-fé, muito embora nem sempre ocasione perdas
patrimoniais, representa sempre um
“dano” à atividade jurisdicional, afetando inevitavelmente a lealdade e boa-fé
processual. E foi exatamente este tipo de conduta que o legislador quis coibir.
Acerca do tema, valho-me dos precedentes a seguir:
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. RECURSO INOMINADO. PROCESSO CIVIL. NULIDADE
DE TAXAS ILEGAIS. REEMBOLSO DE DESPESAS EFETIVADAS. QUESTÃO DECIDIDA
E JULGADA NA AÇÃO ANTERIORMENTE AJUIZADA. CONTINÊNCIA DE AÇÕES.
LITISPENDÊNCIA. EXTINÇÃO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Trata-se de ação de nulidade de cobrança de
taxas contratuais com pedido de repetição de indébito, cujos pedidos foram julgados
improcedentes em razão da litispendência, originada pela ação nº 2013.01.1.163851-
2, que tramitou na 4ª Vara Cível de Brasília. A autora recorreu pedindo a reforma da
sentença para afastar a sua condenação por litigância de má-fé e pelas despesas
processuais, ao argumento de que não estaria configurada sua má-fé, haja vista que
não ajuizou ação idêntica à que tramitou na 4ª Vara Cível. Aduziu que aqui a discussão
se referia às tarifas bancárias e não ao contrato como um todo. 2. Cada ação tem uma
individualidade que a identifica, que se infere dos elementos que a compõem. Nos
termos do art. 301, § 3º, do CPC, há litispendência quando se repete ação que está
em curso que, na hipótese, restou configurada. 3. Os pedidos feitos neste processo
estão entre aqueles feitos na ação nº 2013.01.1.163851-2, que tramitou na 4ª Vara
Cível de Brasília, que além do pedido de revisão de outras cláusulas, abarcava a
exclusão das cláusulas que lhe impunham o pagamento de taxa de serviços de
terceiro, tarifa de cadastro e registro do contrato, sendo que na sentença julgou-se
ilegal apenas a tarifa denominada TAC, e, em 2º grau reconheceu-se, também, a
128
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
solicitarem cópia ou certidão visando instruir a ação desejada. Inteligência do art. 383
do NCPC.
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1668906-0 - Centenário do Sul - Rel.: Lauri Caetano da Silva
- Unânime - J. 24.05.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Trata-se de recurso de apelação interposto por BV Financeira S/A Crédito,
Financiamento e Investimento contra sentença1 (f.57/63) dos autos da ação de
exibição de documentos nº 1155-33.2011.8.16.0066, pela qual o Juiz a quo julgou
procedente o pedido inicial, extinguindo o processo nos termos do artigo 269, II do
CPC/73. Consignou que o documento pleiteado foi exibido. Por fim, condenou a parte
ré ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios fixados em
R$100,00.
2. O réu interpôs recurso de apelação (f.69/75), pleiteando o afastamento da
condenação ao pagamento de honorários advocatícios.
Contrarrazões não apresentadas.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
3. A ação cautelar de exibição de documentos é de natureza preparatória e equivale,
no caso concreto, ao pedido de produção antecipada de prova.
A doutrina e a jurisprudência reconhecem que a parte vencida deve arcar com as
despesas e os honorários advocatícios nas ações cautelares de natureza satisfativa e de
natureza preparatória.
Para justificar tal posicionamento realçam a autonomia e a contenciosidade da ação
cautelar de modo a sujeitá-la aos princípios comuns da sucumbência. Assim, temos
como regra geral que a ação
cautelar tem natureza de ação, sujeitando-se o sucumbente aos honorários
advocatícios da parte contrária.
A jurisprudência, contudo, não é pacífica quando a ação cautelar é de natureza
preparatória e dependente da ação principal, posicionando-se alguns julgados que
nestes casos não cabe condenação em honorários advocatícios. Quando a ação
cautelar ou simples medida cautelar não recebe contestação ou a pretensão direta não
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
é resistida, parcela significativa dos operadores do direito reconhece que não cabe a
condenação em honorários advocatícios. A respeito do tema adverte Humberto
Theodoro Junior in Processo Cautelar, p. 132/133, que a ação cautelar pressupõe
litigiosidade enquanto a medida cautelar visa cumprir uma tarefa preventiva sem
contestação ou oposição, como ocorre com a produção antecipada de prova. Se não
existe lide cautelar não podemos falar em ação cautelar, mas simples medida,
projetando pela falta de contestação a impossibilidade de reconhecimento da
sucumbência.
No tocante a medida cautelar de exibição de documento, o Prof. Yussef Said Cahali,
in Honorários Advocatícios, 3ª edição, p. 343/344, assevera que o vencido somente
responde por honorários de advogado na hipótese de existência de litígio, ou seja, a
pretensão for resistida.
Esta questão já foi enfrentada nesta Câmara através do acórdão proferido no agravo
em agravo de instrumento nº 730.278- 1/01, em que foi Relator o Desembargador
Mário Helton Jorge, assinalando que quando a pretensão não é resistida e o
documento é apresentado no prazo da defesa, não devemos imputar ao réu a
obrigação de pagar honorários advocatícios. Para sedimentar esse posicionamento
citou julgado do Superior Tribunal de Justiça que diz:
“RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE
DOCUMENTOS. NÃO CONFIGURAÇÃO DE PRETENSÃO RESISTIDA. INCABÍVEL
FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS. PROVIMENTO
NEGADO. 1. Pela aplicação dos princípios da sucumbência e da causalidade em ações
cautelares administrativas,
para haver condenação a honorários advocatícios pela sucumbência do feito, deve
estar caracterizada nos autos a resistência à exibição dos documentos pleiteados. 2.
Impossível conhecimento do recurso pela alínea “c” tendo em vista a ausência de
similitude fática dos acórdãos paradigmas e o aresto vergastado. 3. Recurso especial
improvido” (REsp 1077000/PR, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, julgado em 20.08.2009, DJe 08.09.2009)
Pois bem! No caso em exame, pelos fatos já narrados, o réu exibiu a cópia dos
documentos solicitados (f.49/53). Portanto, podemos afirmar que a cautelar não
ultrapassa os limites de uma medida sem litigiosidade. Se o pedido foi prontamente
atendido pela parte requerida, que sequer ofereceu contestação, o processo deveria
ter sido extinto sem resolução de mérito. Na ausência de lide em razão do
atendimento da pretensão deduzida também não há que se falar em condenação do
réu em honorários advocatícios.
A respeito do tema, o Superior Tribunal de Justiça no AgRg no REsp 934.260-RS, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, em julgamento de 10.04.2012, publicado no DJe
13.04.2012 assentou o seguinte:
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXTRATO DE CADERNETA
POUPANÇA.
EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO. AUSÊNCIA PRETENSÃO RESISTIDA. INCABÍVEL
FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. JUSTIÇA GRATUITA. FALTA DE
ELEMENTOS COMPROVANDO A IMPOSSIBILIDADE DO RECORRENTE ARCAR COM
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Por outro lado, se o réu não oferece resistência e desde logo exibe o documento
comum, fica afastada a litigiosidade, razão pela qual diante da natureza de produção
antecipada de prova fica dispensado o julgamento do mérito e os autos devem ser
disponibilizados para a parte obter cópia ou certidão de inteiro
teor visando atender ao propósito de ajuizar a ação principal.
Nestes casos, o réu não deve ser condenado em custas e honorários advocatícios. As
despesas realizadas pelo autor podem ser recuperadas na ação principal, caso a
pretensão lá deduzida seja julgada procedente.
A orientação foi mantida pelo NCPC, conjugando as regras dos artigos 383 e 396, 397
e 398. O procedimento deve ser encerrado, mediante sentença homologatória, caso o
requerido, sem resistência, apresente o documento ou coisa (Primeiros Comentários
ao Novo Código de Processo Civil, Tereza Arruda Alvim Wambier e outros, Revista dos
Tribunais, p.663).
4. Diante do exposto, voto pelo provimento do recurso, para afastar da r. sentença a
condenação do réu ao pagamento das custas processuais e dos honorários
advocatícios. O autor é beneficiário da assistência judiciária gratuita (f.35).
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal Justiça
do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador RUI BACELLAR FILHO, com voto, e
dele participaram os Desembargadores LAURI CAETANO DA SILVA e TITO CAMPOS
DE PAULA.
Curitiba, 24 de maio de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida em 12.11.2015 e publicada em 21.07.2016.
134
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma
parcelas prefixadas não há juro vencido a ser pago, de modo que a taxa efetiva anual
taxa efetiva de juros do contrato, o banco utilizou-se de método matemático que não
compostos não pode ser confundido com anatocismo. O valor de cada prestação a ser
paga é composto pela fração do capital mais o juro remuneratório. 4. A cobrança das
Nacional.
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença1 proferida pelo
MM. Dr. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível do Foro Regional de Cambé da Comarca da
Região Metropolitana de Londrina, às f. 382/405 (mov. 111.1) dos autos nº 4126-
84.2012.8.16.0056 de ação com pedido de revisão de contrato de mútuo com garantia
fiduciária (f. 355/356 mov. 91.1), proposta por Ronaldo Adriano Toneto em face de
Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S/A, que julgou improcedentes os
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
RECURSO DESPROVIDO. "O comparecimento espontâneo do réu aos autos, sem que
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1649091-2 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 24.05.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto por Marcia Regina Pereira, em virtude
da sentença de f. 82, dos autos nº 36919-81.2011.8.16.0001, de ação de reintegração
de posse, pela qual o MM. Juiz a quo julgou extinto o processo, sem resolução de
mérito, com fundamento no art. 485, III do Código de Processo Civil/15,
reconhecendo o abandono da causa. Condenou o autor ao pagamento das custas
processuais.
2. Inconformada, a ré interpôs recurso de apelação (f.85/90), pleiteando a condenação
da autora ao pagamento de honorários sucumbenciais.
Contrarrazões não apresentadas.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais, objetivos e subjetivos, merece o recurso ser
conhecido.
139
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
RECURSO DESPROVIDO.
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1629860-1 - Foz do Iguaçu - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - J. 24.05.2017)
141
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Inteiro Teor
I - RELATÓRIO
1. Lourenço Martinez ajuizou ação reivindicatória (autos nº 2444-36.2016.8.16.0030
PROJUDI) em face de Leila Aparecida Bencke aduzindo, em síntese, que a) é o
legítimo proprietário do imóvel objeto da matrícula nº 32.182, situado no quadrante
10, quadrícula 01, setor 32, quadra 32, lote nº 119, no Loteamento denominado
Jardim Manaus, com a área de 402,00m²; b) adquiriu o imóvel de Sonia Beckmann
Haacke, mediante Escritura Pública de Compra e Venda, lavrada no dia 09 de julho de
2013; c) permitiu que sua tia, Sonia Beckmann Haacke, residisse no imóvel, até a data
de seu
falecimento; d) a ré está indevidamente ocupando o imóvel. Diante de tais fatos,
pleiteou a concessão liminar de ordem de desocupação e, ao final, a procedência do
pedido, com a condenação da ré ao pagamento de indenização pelo uso indevido do
imóvel.
2. Leila Aparecida Bencke apresentou resposta em sede de contestação (mov. 12.1 - f.
83/86) alegando, preliminarmente a litispendência com a Ação de Reintegração de
Posse nº 00017828- 44.2013.8.16.0030, em trâmite perante a 2ª Vara Cível da
Comarca de Foz do Iguaçu, a qual foi julgada improcedente, tendo a sentença sido
confirmada no julgamento da Apelação Cível nº 1.287.978-0. No mérito, pugnou pela
improcedência do pedido e a condenação do autor ao pagamento de multa por
litigância de má-fé.
3. O MM. Juiz a quo saneou o processo, afastando as preliminares suscitadas e
fixando os pontos controvertidos (mov. 17.1 f. 131/133).
4. Na audiência de instrução e julgamento (mov. 45.1 f. 336/343), foi tomado o
depoimento pessoal do autor Lourenço Martinez e ouvidas as testemunhas Sonia
Beckmann Haacke, Daiane Aparecida Maas, Ildo Ivo Sommerfelt, Felipe Guimarães
Peixoto, Luis Pasini e Simone Passini.
5. O MM. Juiz a quo proferiu sentença (mov. 51.1 - f.
385/391), julgando procedentes os pedidos formulados na petição inicial, para imitir o
autor na posse do imóvel, concedendo à ré o prazo de 30 dias para a desocupação
voluntária. Pelo princípio da sucumbência, condenou a ré ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor atualizado da
causa, nos termos do §2º, do art. 85 do NCPC.
6. Inconformada, a ré Leila Aparecida Bencke interpôs recurso de apelação (mov. 56.1
- f. 397/428) pleiteando a reforma da sentença, alegando que houve ofensa à coisa
julgada, pois foi reconhecido nos autos de Ação de Reintegração de Posse nº
00017828-
44.2013.8.16.0030 que a sua posse era justa. Afirma, ainda, que adquiriu o imóvel por
meio de Contrato Particular de Compra e Venda (mov. 33.16) e a prova oral
comprovou a irregularidade da Escritura Pública de Compra e Venda que lhe transferiu
o domínio, a qual deve ser declarada nula.
Contrarrazões de apelação no mov. 63.1 (f. 437/461).
É o relatório.
142
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
II- VOTO
7. Anoto que o benefício da assistência judiciária gratuita já foi deferido pelo
magistrado a quo na sentença. Assim, não há necessidade de nova confirmação no 2º
grau, pois as custas processuais e os honorários advocatícios só se tornam exigíveis se
for comprovada a modificação da condição econômico-financeira do beneficiário.
8. Conforme a regra inserta no artigo 1.228 do Código Civil, o proprietário tem a
faculdade de reaver a coisa do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.
A faculdade de reivindicar é, portanto, a prerrogativa do proprietário de excluir a
ingerência alheia injusta sobre coisa sua. A ação reivindicatória, espécie de ação
petitória, com fundamento no jus possidendi, é ajuizada pelo proprietário sem posse,
contra o possuidor sem propriedade. Irrelevante, pois, a prova da posse anterior do
proprietário, pois a ação se funda no ius possidendi e não no ius possessionis.
Esse é o ensinamento de Silvio de Salvo Venosa:
“A ação reivindicatória é a ação petitória por excelência. É direito elementar e
fundamental do proprietário a sequela; ir buscar a coisa onde se encontra e em poder
de quem se encontra. Deflui daí a faculdade de o proprietário recuperar a coisa.
Escuda-se no direito de
propriedade para reivindicar a coisa do possuidor não proprietário, que a detém
indevidamente”. (Direito Civil, v. 5. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 265).
Sobre o mesmo tema J. M. Carvalho Santos assevera que:
“A ação reivindicatória pode ser intentada contra qualquer possuidor, não só o de
má- fé, mas também o de boa-fé, e contra qualquer detentor, qualquer que seja a
causa pela qual possua a coisa, pouco importando que a possua ou detenha por conta
própria ou por conta de outrem. Porque o proprietário é autorizado a reivindicar a
coisa que lhe pertence de qualquer pessoa que a tenha em seu poder, não sendo
justo que se exigisse dele, para exercitar esse seu direito, fosse pesquisar por qual
título o objeto se encontra nas mãos do detentor ou possuidor. Tanto mais quanto o
domínio é um direito real, vale dizer - exequível contra qualquer em poder de quem
esteja a coisa, seja a que título for” (Código Civil interpretado, vol. VII, p. 287).
Também Orlando Gomes explica essa espécie de ação:
“Um dos direitos elementares do domínio é a faculdade do seu titular de reaver a
coisa do poder de quem quer que injustamente a detenha, ou possua. Essa pretensão
se exerce mediante a ação de reinvindicação, que, segundo conhecida fórmula,
compete ao proprietário não-possuidor contra o possuidor não-proprietário. O
fundamento da ação reivindicatória é o direito de sequela, esse poder de seguir a
coisa onde quer que esteja, que é um dos atributos dos direitos reais (Direito reais,
16.ed., Rio de Janeiro: Forense, p.
256/257).
8.1. Nesta toada, como bem apontou o magistrado singular, a improcedência da
Ação de Reintegração de Posse nº 00017828-44.2013.8.16.003, anteriormente
ajuizada por Lourenço Martinez em face de Leila Aparecida Bencke, não influencia no
julgamento da presente ação reivindicatória, fundada no domínio.
143
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Portanto, não se pode falar em ofensa à coisa julgada, eis que a causa de pedir e o
pedido são diversos.
Como leciona Marcus Vinícius Rios Gonçalves1, a garantia da coisa julgada “decorre
da necessidade de que as decisões judiciais não possam mais ser alteradas, a partir de
um determinando ponto. Do contrário, a segurança jurídica sofreria grave ameaça.
É função do Poder Judiciário solucionar conflitos de interesse, buscando a pacificação
social. Ora, se a
solução pudesse ser eternamente questionada e revisada, a paz ficaria definitivamente
prejudicada. A função da coisa julgada é assegurar que os efeitos decorrentes das
sentenças judiciais não possam mais ser modificados, se torne definitivos. É fenômeno
diretamente associado à segurança jurídica, quando o conflito ou a controvérsia é
definitivamente solucionada.”
As ações possessórias estão fundadas exclusivamente no direito de posse, não
importando se a parte autora é ou não proprietário do bem, mas se a sua posse está
sendo violada injustamente, havendo para tanto que demonstrar a presença dos
requisitos elencados no artigo 927 do CPC/ 1973, quais sejam: I sua posse; II a
ocorrência de esbulho; III a data desse esbulho; IV a consequente perda da posse.
Por outro lado, as ações petitórias buscam a defesa da posse, com fundamento no
direito de propriedade.
Na Ação de Reintegração de Posse nº 00017828- 44.2013.8.16.003 a causa de pedir
era diversa e a improcedência do pedido deu-se pelo fato de o autor Lourenço
Martinez não ter comprovado o exercício de posse anterior sobre o imóvel. Tal
requisito é despiciendo tratando-se, agora, de pedido fundado no domínio.
8.2. E o domínio do autor sobre o imóvel está devidamente comprovado pelo registro
na matrícula nº 32.182 da 2ª Circunscrição do Cartório do Registro de Imóveis da
Comarca de Foz do Iguaçu (R-4-32.182 f. 14).
É preciso frisar que, muito embora a apelante alegue na fase recursal que o título de
domínio apresentado pelo autor é nulo, tal questão não foi por ela suscitada seja em
contestação, seja com o oferecimento de reconvenção.
Ora, o artigo 1.245, §2º do Código Civil prevê que, “enquanto não se promover, por
meio de ação própria, a declaração de invalidade do registro, e o respectivo
cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel”.
Não é possível, portanto, nessa fase processual, a análise da eventual nulidade do
título dominial, pois se trata de matéria estranha e que não foi objeto de análise pelo
magistrado a quo, tratando-se de verdadeira inovação recursal.
8.3. Frise-se que em se tratando de ação reivindicatório, o conceito de posse injusta,
prescinde dos quesitos de violência, precariedade ou clandestinidade, configurando-
se, tão somente, na demonstração de que a parte ré não possui título de domínio ou
qualquer outro que justifique juridicamente sua ocupação. A detenção injusta se há de
entender, então, como sem título de propriedade, ou sem o caráter de posse direta
através das vias adequadas, o que se verifica nos autos2.
9. Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso.
III- DECISÃO
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
autos não evidencia a existência de vícios ocultos, mas sim defeito natural decorrente
do uso da coisa. Há que se considerar, também, que a questão dos vícios da coisa
usada não se coloca da mesma forma como quando se trata de produto novo (TJ-RS,
Quinta Câmara Cível, Rel. Jorge Luiz Lopes do Canto, j. 28.09.2011). 2. Quem adquire
veículo usado deve ter a cautela de bem examiná-lo, inclusive por mecânico de sua
componentes.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1630843-7 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 26.04.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recursos de apelação e adesivo interpostos em virtude da sentença
proferida pelo MM. Dr. Juiz da 23ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba, nos autos nº 0022621-16.2013.8.16.0001 de ação de
obrigação de fazer cumulada com pedido de indenização por danos morais, ajuizada
por Adriana Jucelia Gonçalves dos Santos em face de Etoile Distribuidora de Veículos
Limitada Citroen Granville, que julgou parcialmente procedentes os pedidos
formulados na inicial, para condenar a ré a restituir à autora o valor pago pelo produto
(sinal do negócio, mais as parcelas quitadas do financiamento) atualizado pela média
do INPC/IGP-DI a partir do desembolso e acrescidos de juros de mora, a taxa de 1%
ao mês (art. 161 do CTN e 406 do CC), a partir da citação, bem como a promover o
pagamento do saldo remanescente do contrato de financiamento bancário do veículo.
Julgou improcedente o pedido relativo a condenação da ré ao pagamento de
indenização a título de dano moral. Ante a sucumbência recíproca, condenou as
partes, na proporção 30% para a autora e 70% para a ré, ao pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios, fixados em 15% sobre o valor total e
atualizado da condenação (mov. 239.1 - f.509/516).
2. A autora Adriana Jucelia Gonçalves dos Santos, interpôs recurso de apelação (mov.
244.1 - f.522/528), pleiteando a reforma parcial da sentença, para que a ré seja
condenada ao pagamento de indenização a título de dano moral.
Contrarrazões ao recurso de apelação (mov. 254.1 - f.
557/564).
3. A ré Etoile Distribuidora de Veículos Limitada Citroen Granville interpôs recurso
adesivo (mov. 255.1 - f. 566/573), alegando que (i) a autora tinha plena ciência das
condições do veículo no momento de sua entrega; (ii) embora a perícia realizada tenha
indicado que o veículo havia sido recuperado, é certo que, os defeitos constatados
não justificam a rescisão contratual, pois o mesmo foi adquirido com alguns anos de
uso; (iii) apesar de conter algumas peças recuperadas/repintadas, tais questões não
impedem o seu uso e são absolutamente naturais em se tratando de usado; (iv)
alternativamente, caso a sentença não seja reformada para afastar a ordem de
restituição dos valores pagos, pede que seja descontado do valor a ser restituído,
montante proporcional ao tempo em que a autora usufruiu do veículo.
Contrarrazões ao recurso adesivo (mov. 259.1 - f.
582/588).
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
merecem os recursos serem conhecidos.
146
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Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687 na negociação de troca do
cliente com a Requerida.
3. Caso o carro tenha sido repintado, pergunta-se ao Sr. perito se isso impede o uso
do automóvel. Do mesmo modo, pergunta-se se é comum que carros vendidos como
usados apresentem um ou outro retoque em sua pintura ou ainda mesmo desgaste na
pintura.
Resposta: a) Não b) Sim.
Como visto, é possível que veículos usados apresentem retoque ou desgaste na
pintura, sendo importante que tais vícios não comprometam o regular uso do bem e
nem coloquem em risco a segurança do consumidor, o que não se verificou no
presente caso.
Além disso, alguns dos “defeitos” apontados poderiam ter sido constados pela autora
no momento da aquisição do veículo, conforme destacado pelo perito judicial:
1. A repintura do veículo e as avarias no carro verificadas poderiam ser constatas no
momento da compra do veículo pela Sra. Adriana, ou seja, a olho nu? Resposta: As
evidencias indicam que, mesmo a Autora tivesse realizando uma vistoria no veículo
Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687 antes da compra, para uma
pessoa leiga ao observar a olho nu poderia perceber que: Pintura somente
sobreposição de tinta entre a aplicação plástica e lataria da porta traseira do veículo
Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687 poderia ser observado; - no
restante da pintura do veículo Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687, a
Autora não poderia perceber a repintura e a falta de verniz, porque na perícia foi
constatado que a Autora não tem conhecimentos sobre pintura automotiva; Avarias
as avarias na parte frontal e traseira do veículo Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de
placa BEL 8687, a Autora não teria condições de percebes as avarias; - o
desalinhamento do capo em relação aos pára-lamas/faróis dianteiro esquerdo e direito
do veículo Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687, é perceptível para
qualquer pessoa.
Dessa forma, não há que se falar em vício de qualidade ou vício oculto. A percepção
do defeito aparente, por si só, conduz o “homem médio” a procurar pessoa
especializada na área para avaliar o defeito. O vício oculto (qualidade) não requer que
o contratante tenha conhecimento exato do defeito, mas sim que ele seja perceptível
a ponto de gerar dúvida. No dizer de Nelson Nery Junior,
“consideram-se aqueles que não impressionam diretamente os sentidos”2. Não é o
que ocorre nos autos.
Vale lembrar que, quem adquire veículo usado (Xsara Picasso/2.0 ano 09/10), em face
do natural desgaste das peças, deve ter a cautela de, no momento da compra, realizar
prévia avaliação com mecânico/perito de sua confiança, para ter ciência das reais
condições e dos riscos e prejuízos que a aquisição pode oferecer.
No caso em tela, conforme se depreende do “termo de Garantia de Veículo Usado
(mov. 28.3 f. 117), a autora atestou que estava satisfeita com o estado de
conservação e desempenho do veículo”. Embora alegue na petição inicial que não
detinha o conhecimento técnico necessário para a avaliação do real estado de
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
b) dar provimento ao recurso adesivo interposto pela ré, para julgar improcedentes os
pedidos formulados na inicial.
Redistribuição do ônus da sucumbência, nos termos do item 7.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em declarar prejudicada a
análise do recurso de apelação; e, dar provimento ao recurso adesivo.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 26 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis
respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como
por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente,
da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes
viciadas.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor
exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da
mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia
paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o
abatimento proporcional do preço.
§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no
parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta
dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em
separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.
§ 3º O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1º deste artigo
sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder
comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se
tratar de produto essencial.
§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e
não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de
espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de
eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste
artigo.
§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o
consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu
produtor.
§ 6° São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade
estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados,
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1623137-3 - Nova Londrina - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - J. 26.04.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença1 proferida pelo
MM. Dr. Juiz da Vara Cível da Comarca de Nova Londrina, às f. 259/268 (mov. 58.1)
dos autos nº 625- 24.2012.8.16.0121 de ação com pedido de revisão das cláusulas
financeiras de contrato de financiamento com garantia fiduciária (f.
153
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
22/53 mov. 1.3), proposta por Adilson Faganello em face de Banco Bradesco S/A,
pela qual julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na inicial para
afastar a capitalização de juros do cálculo das prestações, determinar a repetição em
dobro dos valores cobrados a maior e descaracterizar a mora. Julgou improcedente o
pedido referente à venda casada do seguro. Por fim, condenou o réu ao pagamento
de custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em R$1.000,00.
Contra essa decisão o autor opôs embargos de declaração (f. 274/276 mov. 63.1), os
quais foram rejeitados (decisão de f. 300 mov. 70.1).
2. O réu interpôs recurso de apelação (f. 279/288 mov.
65.1), pleiteando a reforma da sentença na parte que afastou a capitalização de juros
do cálculo das prestações, determinou a repetição do indébito em dobro e
descaracterizou a mora. Por fim, pediu a redistribuição do ônus da sucumbência.
O autor não apresentou contrarrazões.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
3. Analisando o contrato que serve de supedâneo à demanda revisional, observa-se
que se trata de “instrumento particular de financiamento para aquisição de imóvel” (f.
22/53 mov.
1.3), regulado pela Lei nº 4.380/1964 do Sistema Financeiro da Habitação.
Assim, no que tange à modalidade contratual em questão, anoto que o artigo 15-A,
com redação dada pela lei nº 11.977/20092 prevê a possibilidade de capitalização dos
juros nas operações realizadas pelas entidades integrantes do Sistema Financeiro da
Habitação - SFH. Nesse sentido, já se manifestou o STJ no REsp nº 1.070.297/PR3, sob
o rito do artigo 543-C. Frise-se que o contrato em questão foi firmado no dia 15 de
julho de 2011. A questão foi regulada por lei específica, não havendo espaço para a
aplicação da súmula 121 do STF. Inclusive, pelo mesmo motivo, não há que se falar
em declaração incidental de institucionalidade da Medida Provisória nº 2170-36/01.
No caso em tela, pela leitura do contrato (f. 47 mov.
1.3), depreende-se que a aludida capitalização de juros foi expressamente pactuada4
no item nº 23 do “quadro resumo”, razão pela qual sua cobrança deve ser mantida e,
consequentemente reformada a sentença.
Nesse sentido é o entendimento jurisprudencial:
APELAÇÃO CÍVEL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. SISTEMA FINANCEIRO DE
HABITAÇÃO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. É permitida a pactuação de capitalização
de juros com periodicidade mensal nas operações realizadas pelas entidades
integrantes do Sistema Financeiro da Habitação - SFH somente após a publicação da
Lei n. 11.977, de 7 de julho de 2009, a qual acrescentou o art. 15-A à Lei n. 4.380/64.
No caso concreto, vedada a capitalização de juros em qualquer periodicidade, pois o
contrato foi firmado antes da vigência da referida lei, incidindo os exatos termos do
recurso repetitivo REsp 1070297/PR. TABELA PRICE.
Inexistindo prova da capitalização de juros, a amortização do débito pela Tabela Price
não implica abusividade. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. O reconhecimento da
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POSSE DO BEM CONSOLIDADA NAS MÃOS DO CREDOR. ART. 3º, §1º DO DEC. LEI
hasta pública, avaliação prévia ou qualquer outra medida judicial ou extrajudicial, salvo
devedor o saldo apurado, se houver" (Decreto-Lei 911/69). 2. "Para fins do art. 543-C
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de busca e apreensão ajuizada por Aymoré C.F.I. S/A em face de
Ideuza Aparecida Frameschi Honório, denunciando o inadimplemento de contrato de
mútuo com garantia fiduciária. Afirma que o inadimplemento se deu a partir da
contraprestação nº 31 das 36 contratadas, vencida no dia 30.05.2015.
A liminar de busca e apreensão foi deferida (f.41/42) e o bem foi apreendido no dia
22.10.2015 (f.69).
2. A ré compareceu ao processo (f.63) requerendo a remessa dos autos à contadoria
judicial para apuração dos valores devidos. O magistrado deferiu tal pedido (f.66).
O réu comunicou o depósito da importância de R$8.277,62, realizado em 03.11.2015
(f.92/95), tomando como referência os valores apresentados pelo Contador do juízo
em 27.10.2015 (f.84/85).
3. O MM. Dr. Juiz a quo proferiu a r. sentença de f.
133/137, julgando extinto o processo, sem resolução de mérito, nos termos do artigo
267, VI do Código De Processo Civil, diante do pagamento integral do contrato.
Revogou a liminar anteriormente concedida e determinou a restituição do bem, no
prazo de 5 dias,
fixando multa no valor de R$500,00 por dia de atraso, limitada ao valor de 45 dias
multa.
4. O autor interpôs recurso de apelação (f.143/152) pleiteando a reforma da sentença.
Contrarrazões às f. 167/179.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, extrínsecos e intrínsecos,
conheço do recurso.
5. Cinge-se a controvérsia recursal em definir se deve o autor restituir o automóvel ao
devedor em virtude do depósito de f. 95.
5.1. O Decreto Lei nº 911/69, no seu artigo 3º, § 1º, prevê expressamente que cinco
dias após a execução da liminar, a propriedade do bem fica consolidada com o credor
fiduciário, obrigando o devedor, neste ínterim, a pagar a integralidade do débito
remanescente para que o bem lhe seja restituído livre do ônus. Consta ainda que “No
caso de inadimplemento ou mora nas obrigações contratuais garantidas mediante
alienação fiduciária, o proprietário fiduciário ou credor poderá vender a coisa a
terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer
outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista
no contrato, devendo aplicar o preço da venda no pagamento de seu crédito e das
despesas decorrentes e entregar ao devedor o saldo apurado, se houver”.
Nesse mesmo sentido apontou o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp
nº 1.418.593/MS, sob o rito do artigo 543-C do Código de Processo Civil/73 (1.036
CPC/15) e, portanto, com efeito vinculante:
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Fica o réu responsável pelo pagamento das custas processuais e dos honorários
advocatícios, conforme fixado na sentença, e já pagos conforme depósito de f. 95.
Para eventual devolução de valores à ré, deverá ser realizada a equação financeira do
contrato, apurando-se o montante devido, o depósito realizado e o valor de venda do
bem em leilão.
7. Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso, para revogar a
sentença de f. 133/137 e, com fundamento no art. 515, § 3º do CPC (art. 1.013, § 3º
do CPC/15), julgar procedente o pedido formulado na inicial, para confirmar a liminar
de f. 41/42 e consolidar o credor na posse e propriedade definitiva do bem
apreendido.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao
recurso e, com fundamento no artigo 515, §3º do Código de Processo Civil (art. 1.013,
§3º do CPC/15), julgar procedente o pedido formulado na inicial.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 19 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
do art. 543-C do CPC. A apuração do saldo devedor ou credor do contrato pode ser
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1630926-1 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 19.04.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação com pedido de devolução dos valores pagos a título de VRG
(autuada sob nº 21609-35.2011.8.16.0001) ajuizada por Passoni e Passoni Limitada em
face de HSBC Bank Brasil S/A Banco Múltiplo (f. 03/11 mov. 1.1).
2. O réu apresentou resposta em sede de contestação (f. 131/141 mov. 36.1),
refutando integralmente o pedido do autor.
3. Foi proferida sentença de extinção do processo, sem resolução do mérito (f.
264/268 mov. 104.1), a qual foi anulada no julgamento da apelação cível nº
1.062.687-4 (f. 587/591 mov. 120.9).
Nova sentença foi proferida e declarou a ocorrência da prescrição (f. 606/608 mov.
129-1). No entanto, no julgamento da apelação cível nº 1.363.514-6 a prescrição foi
afastada (f. 661/664 mov. 149.2).
4. O MM. Dr. Juiz a quo proferiu sentença1 (f. 727/730 mov. 178.1), pela qual julgou
procedente o pedido formulado na inicial para condenar o réu à devolução dos valores
pagos a título de VRG, no importe de R$10.262,00, acrescidos de juros de mora de 1%
ao mês desde a citação e correção monetária pelo índice INPC/IGP a partir do
desembolso. Ante a sucumbência, condenou o réu ao pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor atualizado da
causa.
5. O réu interpôs recurso de apelação (f. 737/750 mov.
184.1), pleiteando a reforma da sentença, alegando (i) a inexistência de valores a
serem restituídos a título de VRG; (ii) a possibilidade de compensação dos valores
pagos a título de VRG com o saldo devedor do contrato inadimplido; (iii) deve ser
apurado o saldo devedor ou credor do contrato nos termos do REsp nº 1.099.212-RJ.
Alega ainda que o termo inicial para incidência da correção monetária deve ser a
data do ajuizamento da ação, conforme disposto no artigo 1º da Lei 6.899/81. Por fim,
pediu a redistribuição do ônus da sucumbência.
Nas contrarrazões de f. 755/766 (mov. 186.1), a autora apenas refuta os argumentos
do recurso.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
161
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
162
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Portanto, a simples devolução dos valores pagos a título de VRG, sem equacionar o
saldo devedor ou credor do contrato, pode proporcionar enriquecimento sem causa
para qualquer das partes.
No presente caso concreto, segundo o contrato de f.
22/35 (mov. 1.2), a instituição financeira disponibilizou a importância de R$45.000,00.
O arrendatário assumiu a obrigação de pagar 36 contraprestações de R$450,00 a título
de valor residual garantido (fundamento de f. 5), com vencimento da 1ª parcela em
05.10.1994. O autor pagou somente 12 contraprestações e renegociou a dívida,
conforme aditivo de renegociação de operação de f. 36/37 (mov. 1.3), assumindo a
obrigação de pagar 48 contraprestações de R$243,10 a título de valor residual
garantido e de R$1.820,03 de encargos financeiros incidentes sobre o valor
disponibilizado. O autor pagou 20 contraprestações (até a vencida em 05.01.1998
fundamentos de f. 5). O bem foi apreendido no dia 07.10.1998 (f. 44 mov. 1.3). A
diferença entre o valor inicial contratado e os valores efetivamente pagos a título de
VRG somado ao valor de venda do bem, indica a existência de saldo credor ou
devedor. Nessa operação devem ser computados os encargos moratórios de
prestações inadimplidas até a data da retomada da posse do bem.
Assim, o caso exige a prova do preço de venda do veículo e se o produto da venda
foi suficiente para a recuperação do capital inicial mais os encargos financeiros devidos
até a data da entrega do bem. Não é razoável apresentar soluções jurídicas aos
conflitos sem questionar os efeitos econômicos que vai proporcionar para qualquer
das partes envolvidas na relação jurídica negocial. O saldo credor ou devedor do
contrato deve ser apurado na fase de
liquidação, oportunidade em que se fará a prova do preço de venda do veículo ou de
negócio no mês da apreensão do bem pelo credor arrendante, segundo o valor da
Tabela Fipe.
O valor da condenação prefixado na sentença em R$10.262,00 não tem respaldo na
equação financeira do contrato, razão pela qual fica revogada. O magistrado não pode
pré-fixar o valor da condenação quando o cálculo depende de variáveis a serem
identificadas na fase de liquidação.
8. Uma vez apurado em sede de liquidação de sentença o saldo positivo ou negativo
da equação financeira do contrato é perfeitamente possível constituir título executivo
para pagar quantia certa remanescente em favor do autor ou do réu. Tal entendimento
tem como precedente o voto condutor do julgamento do REsp 1.300.213-RS, de 12
de abril de 2012, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, com a seguinte ementa:
“PROCESSUAL CIVIL. EXECUTIVIDADE DE SENTENÇA. IMPROCEDÊNCIA DE AÇÃO
DECLARATÓRIA NEGATIVA. RECONHECIMENTO, EM FAVOR DO DEMANDADO,
DA EXISTÊNCIA DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR. INCIDÊNCIA DO ART. 475-N, I, DO
CPC.
MATÉRIA DECIDIDA PELA 1ª SEÇÃO, SOB O REGIME DO ART. 543-C DO CPC.
ESPECIAL EFICÁCIA VINCULATIVA. (CPC, ART. 543-C, § 7º). 1. Nos termos do art.
475- N, I do CPC, é título executivo judicial “a sentença proferida no processo civil que
reconheça a existência da obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar
quantia”.
164
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
165
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
"Novação significa modificação ou substituição de uma obrigação por outra. Como tal
a transformação de uma obrigação por outra [...] Novação é o negócio jurídico por
meio do qual se cria uma nova obrigação, com o objetivo precípuo de extinguir-se
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1539639-7 - Cornélio Procópio - Rel.: Lauri Caetano da Silva
- Unânime - J. 19.04.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Arthur Martins ajuizou, perante a Justiça Federal, “ação para quitação total de
contrato de financiamento habitacional c/c revisão contratual e repetição de indébito
com pedido liminar” em face de Cohapar Companhia de Habitação do Paraná e da
Caixa Econômica Federal, alegando, em síntese, que: a) é mutuário de um imóvel
adquirido junto à Cohapar, com recursos financiados pela Caixa Econômica Federal; b)
o contrato de compromisso de compra e venda teve como plano de financiamento o
de equivalência salarial (PES), que obedece ao limite de 30% da renda familiar do
mutuário, com quitação, ao final do contrato, do saldo devedor residual coberto pelo
FCVS (Fundo Compensado de Variações Salariais); c) os agentes do sistema financeirO
de habitação se encontravam em débito com diversos fundos, entre eles o FCVS; d)
com a edição da Lei nº 10.150/00, os agentes financeiros e companhias de habitação
obtiveram uma novação da dívida; e) a COHAPAR aderiu ao plano e anunciou que
perdoaria a dívida de cerca de 35.000 mutuários, bastando que este estivesse em dia
166
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
167
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
8. Foi proferida sentença (f. 706/715), pela qual o magistrado de primeiro grau julgou
parcialmente procedentes os pedidos contidos na inicial para declarar quitado o
contrato na data de 05.01.2001 e condenar a ré a restituir ao autor o saldo de
R$2.801,32, apurado na perícia. Por fim, condenou a ré ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios fixados em 20% sobre o valor da condenação.
9. A ré interpôs recurso de apelação às f. 746/750, postulando preliminarmente o
conhecimento do agravo retido interposto contra a decisão saneadora. No mérito,
alegou a impossibilidade da utilização da perícia realizada na Justiça Federal, pois o
perito não possuía conhecimentos técnicos na área do sistema financeiro habitacional.
Contrarrazões às f. 763/774.
É o relatório.
II VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, merece o recurso de
apelação ser conhecido. Da mesma forma, conheço do agravo retido de f. 677/678.
10. Da leitura dos termos do processo, podem ser extraídas as seguintes informações:
(i) Arthur Martins e seu filho Lucas Martins firmaram, em 1º de janeiro de 1984,
compromisso de compra e venda com a Companhia de Habitação do Paraná
(f.286/287), para a aquisição de um imóvel situado na cidade de Cornélio Procópio,
transcrição nº 3.086/87. O ajuste previa que o preço do imóvel seria pago em 300
prestações, no valor de Cr$63.305,72, com reajuste nos meses de julho e o primeiro
vencimento agendado para 28.01.84.
O rejustamento seria feito conforme o Plano de Equivalência Salarial.
(ii) no dia 20.11.2000 foi firmada a “transferência de promessa de compra e venda” de
f. 291/293, na qual não houve alteração das partes do contrato, mas somente a
modificação de algumas cláusulas e o reconhecimento da dívida de R$32.405,87. O
contrato seria quitado pelo pagamento de 97 prestações de R$50,15, com reajuste da
prestação previsto para os meses de maio.
(iii) posteriormente, no dia 05.01.2001, foi firmado o “Termo de Renegociação com
Aditamento e Rerratificação de Dívida Originária de Contrato de Financiamento
Habitacional” de f. 183/186, pelo qual houve a redução da dívida para R$2.009,12 e
da taxa de juros efetiva para 1,0046. A dívida seria quitada em 35 prestações de
R$63,75.
11. Pois bem. O pedido autoral foi julgado parcialmente procedente vez que a perícia
considerou que o saldo devedor teria sido quitado em 05.01.2001 em virtude do
desconto concedido às f. 226, sendo indevidas, portanto, as cobranças a partir dessa
data.
No entanto, de uma leitura mais atenta do documento de f. 226, é facilmente
verificável o equívoco do perito. No referido documento, com mesma data do
contrato de f. 297/300, foi informado um saldo devedor de R$30.761,99, além de
Juros Contratuais, no valor de R$48,29, Seguro, no montante de R$9,25 e “Diferenças
de Prestações”, no valor de R$2.089,82. Ainda foi previsto um desconto de 100% com
relação ao campo “Saldo devedor” (R$30.761,99). Restou expressamente consignado
que a obrigação seria quitada em virtude da novação, substituindo-se antigo contrato
substituído pelo instrumento de f. 297/300.
168
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Assim sendo, é evidente que o contrato anterior foi quitado, não configurando os
valores pagos após 05.01.2001 pagamentos a maior, pois se referem ao novo contrato
(f.297/300), que surgiu com a novação.
A respeito da novação, o Código Civil dispõe em seu artigo 360:
Art. 360. Dá-se novação: I quando o devedor contrai com o credor nova dívida para
extinguir e substituir a anterior.
Sobre o tema, ensina Carlos Roberto Gonçalves1:
Novação é a criação de obrigação nova, para extinguir uma anterior. É a substituição
de uma dívida por outra, extinguindo-se a primeira. [...] a novação não extingue uma
obrigação preexistente para criar outra nova, mas cria apenas uma nova relação
obrigacional, para extinguir a anterior (Direito Civil Brasileiro. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2009. p. 315).
No mesmo sentido, Nelson Nery Junior2 conceitua:
Novação significa modificação ou substituição de uma obrigação por outra. Como tal
não se entende a tolerância ou prorrogação de prazo para o recebimento de dívida. É
a transformação de uma obrigação por outra [...] Novação é o negócio jurídico por
meio do qual se cria uma nova obrigação, com o objetivo precípuo de extinguir-se
obrigação anterior.
Neste viés, depreende-se que para a concretização de tal instituto é essencial a
presença de alguns requisitos: existência de uma obrigação anterior (obrigação
antiga), existência de uma nova obrigação e intenção de novar (animus novandi)3.
Assim, presentes os requisitos, restou inequívoca a novação perpetrada entre as
partes, extinguindo-se o contrato antigo, que foi substituído pelo instrumento de f.
297/300.
É oportuno salientar que, com a novação, afasta-se a discussão de qualquer
ilegalidade com relação ao contrato anterior, vez que a Súmula 297 do STJ é aplicável
somente aos contratos bancários. Ainda assim, a perícia não detectou nenhuma
ilegalidade ou prejuízo ao autor no contrato original.
Se o contrato anterior não continha qualquer ilegalidade e foi extinto em virtude da
novação, sendo substituído pelo instrumento de f. 297/300, se referindo os valores
pagos após 05.01.2001 a este último contrato, é evidente a inexistência de valores
pagos a maior, pelo que deve ser reformada a sentença, julgando-se improcedentes
os pedidos formulados na inicial.
12. Diante da reforma da sentença, resultando na improcedência dos pedidos, deve
também ser reformada a sentença no que diz respeito à distribuição do ônus
sucumbencial. Assim, fica o autor responsável pelo pagamento das custas processuais
e honorários advocatícios. Como a sentença fixou o valor dos honorários com base na
condenação, promovo sua condenação, e fixo o montante a ser pago a esse título em
R$2.500,00, com base no art. 85, §1º e §8º do NCPC, considerando que o advogado
do réu exerceu seu trabalho dentro do que se exigia para a espécie, com interposição
de diversos recursos, em processo que tramita há mais de dez anos. O autor é
beneficiário da gratuidade judiciária.
169
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
13. Ante o exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso, para reformar a
sentença, julgando improcedentes os pedidos contidos na inicial e redistribuindo o
ônus da sucumbência.
III DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao
recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, com
voto, e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI
BACELLAR FILHO.
Curitiba, 19 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 6ª Ed. São Paulo: Saraiva,
2009. p. 315.
2 NERY JUNIOR, Nelson. Código Civil Comentado. 10ª. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013. p. 575.
3 TARTUCE, Flavio. Manual de direito civil, volume único. 4ª Ed. rev., atual. e ampl. Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014. p. 396/397.
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1620978-2 - Campina Grande do Sul - Rel.: Lauri Caetano da
170
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de busca e apreensão ajuizada por BV Financeira S/A Crédito,
Financiamento e Investimento em face de Osvaldo Generoso da Silva (autos nº 2703-
49.2012.8.16.0037), denunciando o inadimplemento da cédula de crédito bancário
com garantia fiduciária a partir da prestação de número 15, vencida no dia 19.02.2012,
totalizando um saldo devedor de R$17.617,54, conforme se infere às f. 32 (mov. 1.8).
2. Comprovada a constituição em mora do devedor fiduciante (f. 25/27 mov. 1.5), o
juiz singular deferiu a liminar de busca e apreensão e determinou a citação do réu para
apresentar defesa ou adimplir a dívida pendente no prazo de 5 dias (f. 46 mov.
6.1).
A autora pediu a suspensão do processo pelo prazo de 60 dias em razão de estar em
tratativa de acordo com o réu (f. 59 mov. 11.1). O pedido foi deferido (f. 63 mov.
14.1). Transcorrido o prazo a autora requereu a suspensão por mais 60 dias (f. 68
mov.
18.1) e o processo foi suspenso (f. 70 mov. 19.1).
Transcorrido o prazo de suspensão a autora deu prosseguimento ao feito, recolhendo
as despesas processuais do Oficial de Justiça (f. 84/85 mov. 30.1/30.2). O bem não
foi apreendido ante a resistência do réu, conforme informou o Oficial de Justiça
através da certidão de f. 89 (mov. 32.1).
3. A autora informou que durante o tramite do processo transacionou com o réu e
restaram quitadas as prestações de nº 15 a nº 25, nº 29 a nº 43. No entanto, o réu
permanece em mora, pois as parcelas números 26, 27 e 28 estão em atraso há
aproximadamente 537 dias. Pediu a readequação do saldo devedor para R$11.329,00
e a expedição de novo mandado de busca e apreensão (f. 97 mov. 38.1).
Juntou nova notificação extrajudicial (98/101 mov. 38.2/38.3).
O juiz singular acolheu a emenda da inicial e determinou a expedição de novo
mandado de busca e apreensão. O bem foi apreendido no dia 07.08.2014.
4. O réu apresentou resposta em sede contestação (f.
116/131 47.1), refutando integralmente a pretensão inicial, informando que a
prestação nº 15 fora paga antes do ajuizamento da ação1 e as prestações de números
26, 27 e 28 foram pagas antes do vencimento, conforme os comprovantes juntados
(135/181 mov. 47.7).
Na impugnação à contestação (f. 245/261 mov. 78.1), a autora sustentou que não
houve a efetiva comprovação de pagamento de todas as prestações, pois o réu juntou
apenas as folhas do carnê das prestações números 4, 5, 6, 7, 8, 12, 13, 16 e 17 sem os
comprovantes de pagamento. Afirma que conforme foram sendo pagas as prestações
com data adiantada, deu quitação nas prestações mais atrasadas, no intuito de evitar
que a dívida ficasse ainda maior em virtude da incidência dos encargos moratórios.
5. O MM. Dr. Juiz a quo proferiu a sentença2 de f.
284/290 (mov. 83.1), pela qual julgou improcedente o pedido inicial, reconhecendo a
inexistência de mora, ante os comprovantes de pagamentos apresentados. Condenou
171
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
174
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
na multa por litigância de má-fé. Por conseguinte, condeno o réu ao pagamento das
custas processuais e dos honorários advocatícios pelo valor fixado na sentença.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao
recurso de apelação para julgar procedente o pedido de busca e apreensão.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 05 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
05.04.2012;
3 Neste sentido: STJ, AgRg no REsp 1183477/DF, Rel. Ministro VASCO DELLA
4 Art. 3º, §1º, Decreto Lei nº 911/69. Cinco dias após executada a liminar mencionada
175
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
anos, cuja contagem somente se inicia depois da perda da força executiva do cheque,
nos exatos termos do art. 61 da Lei nº 7.357/85: "A ação de enriquecimento contra o
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1617217-9 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 05.04.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença proferida pelo
MM. Dr. Juiz da 20ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana
de Curitiba, nos autos nº 0007976-83.2013.8.16.0001 de ação de locupletamento
ilícito, ajuizada por Mauro Cesar Rodrigues da Silva em face de Vagner Rojo da Rosa
ME, que julgou procedente o pedido inicial, para condenar o requerido ao pagamento
dos títulos apresentados com a exordial, acrescidos de correção monetária pela
variação do INPC/IGPDI desde a data da emissão e de juros de mora de 1%, ao mês,
nos termos do artigo 406 do CC, combinado com o artigo 161, do CTN, a partir do dia
da apresentação (artigo 52, II, da Lei 7.357/1985).
Ante a sucumbência, condenou o réu ao pagamento das custas processuais e dos
honorários advocatícios, fixados em 15% sobre valor da condenação (mov. 77.1 - f.
156/160).
2. O réu, Vagner Rojo Da Rosa ME, interpôs recurso de apelação (mov. 84.1 -
f.168/172), alegando que (i) a prescrição da pretensão de cobrança da dívida; (ii)
restou comprovada a má-fé do requerido ao receber os títulos de terceiro, na medida
em que tinha conhecimento da sustação dos mesmos.
Contrarrazões de apelação (mov. 89.1 f. 179/186).
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos, o
recurso merece ser conhecido.
3. Do cotejo dos autos observa-se que:
176
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(a) Mauro Cesar Rodrigues da Silva ajuizou ação de locupletamento ilícito em face de
Vagner Rojo da Rosa ME aduzindo, em síntese, que (i) é credor do requerido na
importância de R$ 1.980,00, representada pelos cheques por ele emitidos; (ii) os títulos
de crédito foram apresentados para pagamento em 15.09.2009 e 13.10.2009.
Entretanto, foram devolvidos pelo banco sacado pelo “motivo 21” - sustado; (iii)
mesmo após notificado extrajudicialmente, em 05.04.2012, o réu se recusa a efetuar o
pagamento do débito, não lhe restando outra opção a não ser ingressar com a
presente ação. Assim, requereu a condenação do requerido ao pagamento do débito
atualizado (R$3.719,04).
(b) O réu Vagner Rojo da Rosa ME apresentou resposta em sede de contestação
(mov. 51.3 f. 113/119), sustentando, preliminarmente, a prescrição da pretensão do
autor e a impossibilidade jurídica do pedido. No mérito, aduziu que (i) são necessários
alguns esclarecimentos acerca da operação comercial que deu ensejo a emissão dos
cheques; (ii) no ano de 2009, foi procurada por Valdemir Rodrigues Waltrick, que
efetuava a intermediação de contratação de veiculação de propagandas de seus
produtos junto à Radio Gospel Limitada.
Após negociação e fechamento do contrato, emitiu diversos cheques pré- datados
para pagamento da obrigação pactuada com a Rádio Gospel Limitada.
Destacou que os cheques foram entregues para Valdemir Rodrigues Waltrick; (iii)
entretanto, a Rádio Gospel Limitada cobrou-lhe o preço ajustado pelos serviços
prestados de veiculação de propagandas; foi quando veio a saber que os cheques não
haviam sido entregues à rádio, o que o levou a proceder a sustação dos títulos; (iv) o
autor é sujeito estranho a relação negocial; (v) nunca realizou qualquer negócio jurídico
com o requerente; (vi) não reconhece o débito descrito na inicial. Nestes termos,
postulou a improcedência dos pedidos.
(c) No despacho saneador foram afastadas as preliminares de prescrição e
impossibilidade jurídica do pedido, bem como fixados os pontos controvertidos (mov.
56.1 - f. 129/130).
(d) O magistrado de 1º grau proferiu sentença (mov.
77.1 f. 156/160), pela qual julgou procedente o pedido inicial, para condenar o
requerido ao pagamento dos títulos apresentados com a exordial, acrescidos de
correção monetária pela variação do INPC/IGPDI desde a data da emissão e de juros
de mora de 1% ao mês, nos termos do artigo 406 do CC, combinado com o artigo
161, do CTN, a partir do dia da apresentação (artigo 52, II, da Lei 7.357/1985). É
contra esta decisão que se insurge o apelante.
4. A ação de locupletamento ilícito tem prazo prescricional de 2 anos, cuja contagem
somente se inicia depois da perda da força executiva do cheque, nos exatos termos
do artigo 61 da Lei nº 7.357/85: “A ação de enriquecimento contra o emitente ou
outros obrigados, que se locupletaram injustamente com o não-pagamento do
cheque, prescreve em 2 (dois) anos, contados do dia em que se consumar a prescrição
prevista no art. 59 e seu parágrafo desta Lei”.
No caso, os cheques que embasam a presente ação foram emitidos em 30.09.2009 e
25.10.2009, em praça diversa de pagamento (mov. 1.6 e 1.7 f. 14/17), de modo que
o prazo de apresentação era de 60 dias, nos termos do artigo 34 da Lei nº 7.357/851.
177
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
3 Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-
á: (...) V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; (...).
4 TJPR - 6ª C.Cível - AC - 1572506-7 - Ivaiporã - Rel.: Roberto Portugal Bacellar -
Unânime - - J. 07.02.2017
FEITOS AOS CLIENTES QUE NÃO FORAM APTOS A ENSEJAR DÚVIDA ACERCA DO
ilícito capaz de ensejar a reparação por danos morais, quando ausente a intenção de
haja a obrigação de indenizar é preciso que se trate de ato injusto com a finalidade de
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1617336-9 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 29.03.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Leda Maria Rabelo e Paulo César Pereira Thomaz ajuizaram ação com pedido de
não fazer cumulada com indenização a título de danos morais e materiais (autos nº
0027385-11.2014.8.16.0001) em face de Unimed Curitiba Sociedade Cooperativa de
Médicos, afirmando que (a) são médicos formados pela UFPR Universidade Federal
do Paraná, sendo que, em meados de 1997 e final do ano de 1998, filiaram-se à ré
com o intuito de atenderem os beneficiários dos planos de saúde que a mesma
180
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
182
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Também consta dos autos os questionamentos feitos aos pacientes dos autores, que
se resumiram na qualidade do consultório, na qualidade do atendimento, na facilidade
do agendamento da consulta e na frequência das consultas (mov. 59.3 f. 280/383; e
mov.
59.24 f. 472/605). Não se vislumbra nenhuma atitude da ré que comprometesse a
integridade profissional dos requerentes, pois as perguntas não induziam os pacientes
à conclusão de que os mesmos não
seriam médicos qualificados e éticos, posto que englobavam o grau de satisfação dos
pacientes com os serviços prestados.
Tal assertiva é corroborada pelo relato da testemunha arrolada pela requerida:
“Que trabalha na Unimed desde 1992; que exerce a função de supervisora do serviço
social; que na época dos fatos já exercia essa função; que a assistente social que
efetuou o trabalho no processo administrativo em questão não trabalha mais na
Unimed, mas a depoente é responsável pela supervisão dos serviços; que o processo
chega no setor; que é efetuada uma conferência dos documentos; que o serviço social
não inicia o processo se não tiver a carta anexa com o AR assinado pelo médico,
dando-lhe ciência que o serviço social vai manter contato com os seus pacientes por
um certo período de tempo; nessa carta é explicitado o modo de atuação do serviço
social; que o processo já vem pronto para o serviço social; que quem faz o envio da
carta é a Comissão de Ato Cooperativista; (...) que ao efetuar uma ligação para um
beneficiário, é perguntado, primeiramente, se ele possui a disponibilidade de
responder algumas questões, depois é dito que estão fazendo uma pesquisa de
satisfação em determinada especialidade, que não pode entrar diretamente com o
nome específico do médico, até mesmo porque tem que preservar o nome dele, daí,
durante a abordagem é perguntado se o beneficiário confirma as consultas realizadas
com “fulano de tal”, porque ela tem que confirmar as consultas, checar se ela foram
executadas, depois perguntar como foi o atendimento, daí, como a pesquisa é aberta,
quem faz o relato é o próprio beneficiário; que nesta conversa, o nome do médico é
inserido, “em nossos registros, consta que efetuou consultas, nessa especialidade,
com o médico tal”, daí a pessoa vai detalhando, se efetuou consultas com outros
médicos nessa especialidade, ou não; que a pergunta é feita como se fosse feita nessa
especialidade, não é focada no médico; (...) que também são efetuadas
questionamentos acerta da própria Unimed; que não é de rotina fazer perguntas cerca
da qualidade de estrutura do consultório; que é perguntado como foi o atendimento;
que não é perguntado como foi o atendimento médico; (...) que não são feitos
questionamentos acerca das características físicas do médico, até porque não são
relevantes; que só existe a confirmação da consulta naquela data; (...) que no curso do
processo administrativo não teve contato com os autores; que não conhecia os
autores; que não sabe dizer o número de beneficiários contatados; que não há um
número prefixado; (...) que no material que recebe, já vem uma planilha de pacientes
para que seja efetuada as ligações, se ligam para, por exemplo, 30 pacientes, e eles já
confirmam as consultas, já encerram o processo; (...) que no início do processo é
encaminhada uma carta aos médicos, dando-lhes o direito de resposta; que não há
uma entrevista com eles diretamente; que pelo que conhece do fluxo da comissão, os
183
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
autores participaram do processo; que tem absoluta certeza que a comunicação acerca
da abertura do processo foi encaminhada aos médicos, porque recebe cópia do AR;
que as entrevistas não são iniciadas sem a prova de comunicação ao médico; (...) que
não vão ao consultório verificar as instalações e a forma como é dado o atendimento
médico; (Jaqueline Costa Krebsbach mídia digital mov. 61.1 - f. 649)
A instauração do procedimento circunscreve-se no exercício de um direito da
administradora do plano de saúde e, portanto, não é capaz de macular a honra do
médico. Ao contrário, demonstra a conduta diligente em apurar fatos que possam
causar descontentamento aos usuários do plano de saúde por ela ofertado.
Além disso, não vejo como a instauração do procedimento administrativo possa ter
comprometido a imagem profissional dos médicos, visto que é confidencial e sigiloso,
impossibilitando qualquer repercussão dos fatos na forma como apresentada. Frise-se
que o procedimento administrativo foi arquivado sem aplicação de qualquer
penalidade.
Os fatos narrados não chegam a configurar violação ou ofensa aos direitos da
personalidade, afastando o pretendido dano moral.
A jurisprudência consagra que o mero dissabor ou aborrecimento não é suficiente
para ensejar indenização por dano moral, senão vejamos:
Indenização. Danos materiais e morais. Defeito do veículo. Precedentes da Corte. 1.
Já assentou a Corte em diversas oportunidades que em casos como o presente existe
solidariedade entre fabricante e fornecedor. 2. Não há dano moral quando os fatos
narrados estão no contexto de meros dissabores, sem abalo à honra do autor. 3. Os
juros legais devem ser calculados em 0,5% ao mês até a entrada do novo Código Civil
e a partir daí de acordo com o respectivo art. 406. 4.
Recursos especiais conhecidos e providos, em parte. (STJ - REsp 664.115/AM, Rel.
Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 3ªT, J.: 02/05/2006).
APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATOS DE CARTÃO DE CRÉDITO. AÇÃO DECLARATÓRIA.
INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO E REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. VENDA
CASADA.
SEGURO. ABUSIVIDADE. A denominada venda casada é prática abusiva vedada nas
relações de consumo conforme dispõe o inciso I do artigo 39 do CDC. Presume-se
venda casada o contrato de seguro realizado na mesma data do contrato de cartão de
crédito. REPETIÇÃO EM DOBRO. Demonstrado o prejuízo advindo da falha na
prestação dos serviços, a instituição financeira deve restituir, de forma simples, a
quantia indevidamente paga. DANOS MORAIS.
Simples transtornos e dissabores nas relações econômicas e sociais não têm
relevância suficiente para caracterizar o dano moral. APELAÇÃO PARCIALMENTE
PROVIDA. (TJ-RS - AC Nº 70051788503, Rel.: Marco Antonio Angelo, 4ªCC, J.:
30/01/2013).
As provas produzidas não demonstram o efetivo abalo psíquico, comportamental ou
repercussão, capaz de gerar constrangimento e humilhação no meio social.
Nesse sentido, seguem julgados deste Tribunal:
184
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
185
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(TJPR - 17ª C.Cível - AI - 1619818-4 - Telêmaco Borba - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - J. 29.03.2017)
Inteiro Teor
I RELATÓRIO
1. Cuida-se de Agravo de Instrumento com pedido de efeito suspensivo - interposto
por Transproença Transportes Rodoviários Ltda, em virtude da decisão de sequência
59.1 (f. 266- TJ), proferida nos autos nº 840-23.2016.8.16.0165 (PROJUDI), de ação de
busca e apreensão, fundada no Decreto-Lei nº 911/69, ajuizada por
Banco Itaú S/A, que indeferiu o pedido de suspensão do processo, tendo em vista o
processamento de recuperação judicial da autora/agravante.
Consta assim na decisão agravada:
1. Da análise detida dos autos, verifica-se que a presente ação foi julgada procedente
conforme sentença prolatada (mov. 32.1), consolidando o bem apreendido nas mãos
do requerente.
A requerida foi declarada revel, por não apresentar defesa, tampouco, purgar a mora
no prazo estabelecido.
186
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Por meio de sua petição (mov. 34.1), a requerida requereu a suspensão do presente
processo, tendo em vista que foi deferido processo de recuperação judicial da
empresa requerida.
Não há o que se falar em suspensão da presente execução, pois já foi prolatada
sentença nos autos, inclusive antes de ser deferido o processo de recuperação judicial
da empresa requerida, não havendo motivos para suspensão nessa fase processual.
Diante do exposto, indefiro o pedido de suspensão.
2. Em suas razões, a agravante sustenta que, conforme disposição do artigo 6º, §4º da
Lei nº 11.101/2005, as ações e execuções em que a recuperanda for ré e que versarem
sobre quantias ilíquidas, devem ser suspensas pelo período de 180 dias. Afirma, ainda,
que em se tratando de empresa que atua no ramo de transportes, é evidente a
essencialidade do bem objeto da busca e apreensão. Destarte, pugna pela atribuição
de efeito suspensivo ao recurso e, posteriormente, o seu provimento para reformar a
decisão agravada, determinando a suspensão do processo da ação de busca e
apreensão.
3. Pela decisão de f. 323/327-TJ foi indeferido o almejado efeito suspensivo.
4. O agravado apresentou contrarrazões às f. 329/333- TJ alegando, preliminarmente,
o não cabimento do recurso de agravo de instrumento.
É o relatório.
II VOTO
5. Do exame dos documentos trasladados aos autos, depreende-se que:
5.1 Transproença Transportes Rodoviários Ltda firmou com o Banco Itaú S/A cédula
de crédito bancário FINAME para aquisição de um caminhão trator Scania, modelo
R440 A 6x2 NA 3E REB. D2B, ano 2013/2013, placa AWO 2524, pelo valor total de
R$340.000,00, que seria quitado mediante o pagamento de 56 prestações mensais e
consecutivas, sendo a primeira com vencimento em 15.05.2013 (sequência 1.6, f.
58/61-TJ).
5.2 Ante o inadimplemento do contrato a partir da prestação 29/56, com vencimento
em 16.11.2015, a instituição financeira credora ajuizou a competente ação de busca e
apreensão (sequência 1.1, f. 28/30-TJ).
Juntou aos autos cópia da notificação extrajudicial encaminhada à ré para fins de
constituição em mora (sequência 1.7, f. 62/63-TJ).
5.3 A liminar de busca e apreensão foi deferida (sequência 21.1, f. 100/102-TJ) e
devidamente cumprida em 08.03.2016 (sequência 24.1, f.
110-TJ).
5.4 A ré não apresentou contestação, tampouco efetuou o pagamento da dívida, de
modo que, no dia 06.05.2016, o MM. Dr. Juiz a quo proferiu sentença julgando
procedente o pedido consolidando a posse e propriedade plena em favor do credor
(sequência 32.1, f. 122/123-TJ).
5.5 Na sequência, a ré peticionou nos autos informando o processamento de
recuperação judicial a seu favor (sequência 34.2, f. 128/132- TJ). Disse, ainda, que o
MM. Dr. Juiz determinou a suspensão das ações e execuções pelo prazo de 180 dias,
inclusive aquelas relativas a créditos executados na forma do artigo 49, §3º e §4º da
Lei nº 11.101/2005 (sequência 34.1, f. 126/127). Sendo assim, pugnou pela suspensão
187
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
do processo. O pedido foi indeferido (sequência 59.1, f. 266-TJ) e é dessa decisão que
se insurge a agravante.
3 6. Inicialmente, no que diz respeito ao cabimento do recurso de agravo de
instrumento, entendo que a hipótese dos autos se enquadra no parágrafo único do
artigo 1.015 do Código de Processo Civil, segundo o qual cabe agravo de instrumento
contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou
cumprimento de sentença, no processo de execução ou no processo de inventário.
Lembro que a ação de busca e apreensão, fundada no Decreto-Lei nº 911/69, se
caracteriza como execução no sentido lato do contrato acessório de alienação
fiduciária.
7. No mais, a controvérsia diz respeito à necessidade de suspensão da ação de busca
e apreensão, em razão do processamento da recuperação judicial da devedora
Transproença Transportes Rodoviários Ltda, deferido em 12.05.2016 (art. 6º, §4º, Lei
nº 11.101/2005). Sustenta a agravante que o bem objeto da busca e apreensão é
essencial às suas atividades, razão pela qual deve permanecer sob a sua posse até o
transcurso do prazo, na forma do artigo 49, §3º da Lei nº 11.101/2005.
Nesse contexto, cumpre esclarecer que a Lei nº 11.101/2005, em seu artigo 49, §3º,
prevê expressamente que o credor titular da posição de proprietário fiduciário de bem
móvel ou imóvel ou de arrendador mercantil não está sujeito aos efeitos da
recuperação judicial.
Em comentário ao mencionado dispositivo, Fabio Ulhoa Coelho registra que “esses
credores excluídos da recuperação judicial não são minimamente atingidos pela
medida, e podem continuar exercendo seus direitos reais e contratuais nos termos da
lei própria”, e continua, “os titulares de determinadas garantias reais ou posições
financeiras (fiduciário, leasing, etc.) e os bancos que anteciparem recursos ao
exportador em função de contrato de câmbio excluem-se dos efeitos da recuperação
judicial para que possam praticar juros menores (com spreads não impactados pelo
risco associado à recuperação judicial), contribuindo a lei, desse modo, com
4 a criação do ambiente propício à retomada do desenvolvimento econômico1”.
Mesmo assim, visando viabilizar a recuperação com a manutenção da atividade do
empresário2, a legislação falimentar impossibilita a retirada, do estabelecimento do
devedor, dos bens essenciais a sua atividade empresarial, pelo prazo de 180 dias que
alude o artigo 6º, §4º da lei de regência, in verbis:
Art. 49, §3º. Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de
bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente
vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de
irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de
proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se
submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de
propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação
respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere
o §4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos
bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.
Ainda a respeito do tema:
188
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
189
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 23.03.2017)
Inteiro Teor
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece- se do apelo.
Inicialmente, não há falar-se em coisa julgada, uma vez que, embora os autos nº
0001276-06.2011.8.16.0052 (AC 1.258.383-6), tenham os mesmos litigantes desta
ação, não guardam relação quanto ao pedido/causa de pedir, vez que nos citados
autos, a lide versava a respeito da demora para liberação da carta de crédito, não
havendo, portanto, naqueles autos, discussão quanto à inscrição no cadastro de
inadimplentes (fls. 283/302).
Ainda em sede preliminar, aduz o recorrente, que há ausência de fundamentação na
sentença, pugnando, assim, por sua anulação. Todavia, sem razão.
Em análise aos autos, verifica-se que a sentença atacada preenche todos os requisitos
do art. 458 do CPC/73, vigente à época. Caso assim não fosse, caberia ao insurgente,
recorrer mediante o recurso cabível, previsto no art. 535 do CPC/73, o que não fez.
Assim sendo, não há falar-se em nulidade da sentença por ausência de
fundamentação.
Prosseguindo, pugna o recorrente pela inaplicabilidade da inversão do ônus da prova
à luz do código de defesa do consumidor, por não haver relação de consumo entre as
partes, bem como, por não ser a apelada, hipossuficiente perante a parte ré. Razão lhe
assiste.
Tem-se, efetivamente, que não há relação de consumo entre as partes nos termos da
teoria finalista, eis que a parte autora, não é a consumidora final do produto adquirido.
Ademais, não restou demonstrada hipossuficiência da apelada perante à apelante,
razão pela qual, não se pode falar em aplicação do código de defesa do consumidor,
no presente caso.
Sobre o tema:
AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA.
AUSÊNCIA DE JUSTIFICATIVA PARA A PRODUÇÃO DE PROVA TESTEMUNHAL.
QUESTÃO DE MÉRITO UNICAMENTE DE DIREITO. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. IMPOSSIBILIDADE. AUTORA QUE NÃO É
CONSUMIDORA. SERVIÇO PRESTADO QUE SE COLOCA COMO INSUMO EM SUA
CADEIA DE PRODUÇÃO. AUTORA QUE TAMPOUCO DEMONSTROU
VULNERABILIDADE OU HIPOSSUFICIÊNCIA TÉCNICA EM FACE DA RÉ. NEGÓCIO
REALIZADO ENTRE EMPRESAS. LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA INAPLICÁVEL.
(...).(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1548158-6 - Curitiba - Rel.: Fernando Paulino da Silva
Wolff Filho - Unânime - - J. 14.12.2016).
No mérito, alega o recorrente, que a inscrição da apelada no cadastro de
inadimplentes, se deu mediante exercício regular de seu direito, uma vez que a parte
ré não demonstrou ter adimplido o contrato realizado entre as partes. Ademais,
sustenta que não houve dano moral indenizável, por ter, a inscrição, se tratado de
mero dissabor.
Pois bem.
Em análise aos autos, tem-se que, a parte autora firmou um contrato de consórcio
com a apelante, para a aquisição de um “cavalo mecânico” se comprometendo ao
191
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
192
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
NÃO PROVIDO.
Unânime - J. 23.03.2017)
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Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 01.06.2017)
Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
ocorrência (fls. 13/14), logo, era impossível que a caminhonete estivesse parada no
canteiro no momento da batida, como afirma essa testemunha.
Note-se que o próprio croqui feito pela polícia militar (fls. 14) foi feito apenas com
base nas declarações do apelante (fls. 13) e mostra dinâmica totalmente diversa. Nem
em sua declaração no dia dos fatos o apelante afirmou estar parado (fls. 15).
Além de confrontar com a prova documental, esse depoimento confronta com as
demais provas testemunhais, especialmente a da outra testemunha presencial, senhor
Vergílio Albino Peters.
Consigne-se que mesmo nessa versão isolada de Wagner Cassio Cavazin, e
contraditória aos demais elementos dos autos, conclui-se pela ação culposa exclusiva
do apelante Roberto Yuji Ueda, eis que a caminhonete teria invadido parte da pista
preferencial com a sua frente, tendo com isso causado a batida na lateral esquerda (fls.
633):
“Eu vi que a caminhonete entrou e teve a colisão (...); a caminhonete não estava pra
dentro da pista, ela pode ter invadido alguma coisinha, porque pegou no parachoque
da caminhonete”.
A alegação de que o apelado conduzia sua moto muito próxima do canteiro, além de
não ter sido provada pelo apelante nos autos (art. 373, II do CPC), também é contrária
à prova documental, eis que o boletim de ocorrência atesta que a moto estava
trafegando pela direita a meio metro da borda da pista, fato que foi corroborado pelo
depoimento de Vergílio Albino Peters.
Nesse ponto, as alegações da testemunha Wagner Cassio Cavazin novamente
restaram isoladas e sem nenhum apoio nas provas documentais.
A alegação de que a motocicleta trafegava em alta velocidade igualmente não
encontra suporte probatório nos autos, tendo sido desmentida pela testemunhal
presencial Vergílio Albino Peters.
Ademais, em caso de responsabilidade civil por acidente de trânsito, vigora a teoria
da causalidade adequada, na qual se perquire a causa primária do acidente. E a causa
primária deste caso, como bem evidenciado pelas provas, foi a invasão da pista
preferencial sem adotar as cautelas mínimas necessárias para efetuar a travessia, sem
que a vítima tenha contribuído em nada para a realização desta causa primária e,
portanto, sem se falar em culpa concorrente: “A teoria da causalidade adequada, que
prevalece hoje em tema de responsabilidade civil, impõe que perquira qual das culpas
foi a causa primária e eficiente para a ocorrência.” (TJPR ApCiv 1039060-2 9ª
CâmCív. Rel. Dartagnan Serpa Sá DJ 24/04/2014)
E sobre a invasão de preferencial ser causa primária que torna irrelevante a discussão
sobre eventual excesso de velocidade de quem transita na preferencial:
APELAÇÃO CÍVEL - ACIDENTE DE TRÂNSITO - INVASÃO DE VIA PREFERENCIAL -
CAUSA PRIMÁRIA DA COLISÃO - DILAÇÃO PROBATÓRIA DESNECESSÁRIA ANTE A
IRRELEVÂNCIA DE EVENTUAL EXCESSO DE VELOCIDADE DO VEÍCULO
INTERCEPTADO (...) - CULPA EXCLUSIVA DO REQUERIDO CONFIGURADA - DEVER
DE INDENIZAR (...). “A invasão de via preferencial constitui causa primária do
acidente, que não é afastada por eventual excesso de velocidade, e fluência do
199
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
trânsito nas outras pistas da via preferencial.” (TJPR ApCiv 501404-2 10ª CâmCiv
Rel. Des. Astrid Maranhão de Carvalho Ruthes DJ 22/08/2008).
Portanto, além de não haver qualquer prova de excesso de velocidade, essa discussão
é irrelevante para o estabelecimento da culpa exclusiva pelo acidente neste caso.
A preferência de tráfego era toda do motociclista, que estava na pista preferencial e
em sentido reto, cabendo ao apelante motorista respeitar essa preferencial e adotar as
cautelas necessárias para efetuar a travessia, de forma que possa deter o veículo com
segurança em face dos demais que transitam na preferencial (art. 44 do CTB), o que
evidentemente não foi feito. Sobre o tema:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS -
ACIDENTE DE TRÂNSITO - (...) - CRUZAMENTO DA PISTA QUE DEVE DAR
PREFERÊNCIA AOS VEÍCULOS QUE TRANSITAM NO SENTIDO DA VIA - CAUSA
PRIMÁRIA PARA A OCORRÊNCIA DO ACIDENTE ORIGINADA INDUBITAVELMENTE
PELO APELANTE (...). (TJPR ApCiv 1318668-4 9ª CâmCív Rel. Des. José Augusto
Gomes Aniceto DJ 06/09/2016)
Resta, enfim, provada nos autos a responsabilidade extracontratual subjetiva exclusiva
de Roberto Yuji Ueda (art. 186 e 927 do CCB), eis que sua conduta culposa na
travessia da preferencial deu causa ao evento danoso.
Em razão do acidente causado pelo motorista, o motociclista sofreu graves lesões e
foi encaminhado ao Hospital Santa Casa de Paranavaí, tendo havido amputação da
perna esquerda, como comprovam a documentação encartada e o laudo médico
pericial (fls. 16/80 e 562/573).
Diante de tais provas, resta evidenciado o abalo psicológico sofrido pelo autor em
razão do acidente, tendo de permanecer dias internada e de se submeter a cirurgia de
amputação, com afastamento de suas atividades laborais, restando, por fim,
acometido de incapacidade permanente (fls. 518). Sobre a existência de dano moral
em tais situações:
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL, MORAL E ESTÉTICO. ACIDENTE
DE TRÂNSITO. (...). DANO MORAL.
SUBMISSÃO A CIRURGIA, SESSÕES DE FISIOTERAPIA E AFASTAMENTO DO
TRABALHO POR DELONGADO PERÍODO EM DECORRÊNCIA DO EVENTO
DANOSO. (...). (TJPR ApCiv 1588149-9 8ª CãmCív Rel. Des. Luiz Cezar Nicolau
DJ 14/03/2017)
O valor para dano moral arbitrado na sentença (R$ 30.000,00) deve ser mantido,
porque razoável e proporcional à reparação da grave extensão dos danos causados, à
dissuasão da conduta culposa no trânsito, à conduta dos envolvidos, à capacidade
econômica das partes e, principalmente, à jurisprudência estadual para casos análogos
(ApCiv 1445117-1 10ª Câm.Cív DJ 10/03/2016 e ApCiv 1161250-5 8ª CâmCív DJ
24/04/2014).
Esse valor bem cumpre a função reparatória e pedagógica do dano moral e não
representa de forma alguma o enriquecimento ilícito da vítima.
Além do autor, a sentença fixou danos morais de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para
suas 2 filhas menores, que tinham 6 e 2 anos à época dos fatos (fls. 08/09) e moravam
com o autor e sua esposa, tendo, portanto, vivenciado de perto as consequências
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
PELO MOTORISTA
Unânime - J. 08.06.2017)
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
fechasse. Após dar a partida e aguardar por cerca de dois minutos, engatou o
caminhão e acabou passando por cima da vítima.
Afirmou que nenhum funcionário viu que o “chapa” tinha deitado embaixo do veículo
e que ao ser informado que os rapazes estavam esperando ele lá dentro achou que o
sr. Newton também estivesse, pois nunca imaginou que ele pudesse estar sob o
veículo, já que tal prática não é comum, afirmando que a vítima nunca tinha feito isso
nas vezes anteriores em que trabalhavam juntos.
Por sua vez, a testemunha Carlos Rogério que é técnico de segurança da empresa
Alltech, local onde ocorreram os fatos, disse que viu o condutor e o chapa antes do
acontecido quando estavam parados em frente a portaria fazendo a identificação.
Também afirmou que é conduta da empresa orientar que tanto os motoristas quanto
os chapas, ou até mesmo os familiares que estão acompanhando, aguardem na sala
de espera, mas que a maioria prefere voltar aos seu veículos, reforçando o fato da
existência de sala de espera no local à época dos fatos.
Afirmou que após o acontecimento passaram a bloquear o trabalho do chapa e que
nunca presenciou ninguém deitado embaixo do caminhão e que se tivesse visto, a
primeira coisa que faria seria solicitar para que saísse, contou que o sr. João Hélio
entrou em pânico no momento e que precisou acalmá-lo, dando a perceber que não
tinha a menor noção de que o chapa estava embaixo do veículo, não sendo de
costume que os motoristas olhem antes de dar a partida.
Pois bem, nota-se que as testemunhas arroladas pelos autores, companheiros de
profissão da vítima, apesar de reconhecerem como habitual tal prática não afastaram
seu risco.
Ainda, deve-se levar em consideração que de acordo com os testemunhos, tal prática
era necessária somente nos locais onde inexistia local de espera adequado, sendo sob
o veículo, o único local de sombra que dispunham.
Ocorre que tal necessidade não se verifica no presente caso vez que restou
comprovada existência de sala de espera adequada no interior da empresa, tendo
sido inclusive aconselhado por seu funcionário a utilizar, todavia, não o fez.
Também merece destaque o depoimento do requerido e condutor do veículo, sr.
João Hélio Patussi, que afirmou ter cochilado no momento em que esperava a
liberação para entrar na empresa e que ao acordar foi informado pelo funcionário da
empresa que “poderia entrar que os rapazes tão te esperando”, fazendo crer que o
chapa também estava no interior da empresa, vindo a testemunha Carlos Rogério,
confirmar o estado de pavor em que o motorista ficou ao perceber os fatos.
Portanto, a imprudência restou verificada na conduta da vítima, que se deitou sob
veículo extremamente pesado, sem ao menos informar o condutor, sendo que possuía
local adequado para a espera.
Por fim, necessário se faz majorar os honorários advocatícios pelo trabalho
desempenhado em grau recursal, os quais fixo em R$ 1.200,00, nos termos do art. 85,
§11, CPC.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo.
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PROVIDO.
Unânime - J. 08.06.2017)
Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
A falta de indicação precisa da data de início dos danos não é requisito legalmente
previsto para constar na petição inicial e nem prejudica o entendimento dos fatos e
fundamentos jurídicos ou do pedido (neste sentido: TJPR ApCiv 1632477-1 8ª
CâmCív Rel. Des. Clayton de Albuquerque Maranhão DJ 18/04/2017).
Além disso, a perícia atestou serem os danos progressivos no tempo, sem
possibilidade de precisar a data de início (item 6, fls. 609; e item 25, fls. 611)), motivo
pelo qual não haveria como os autores indicarem na inicial data que não pode ser
determinada, o que também é fundamento para afastar a alegação de inépcia (Neste
sentido: TJPR ApCiv 1601619-6 8ª CâmCív Rel. Alexandre Barbosa Fabiani DJ
03/04/2017).
O sinistro foi devidamente comunicado pelos autores (fls. 29/32) e, ainda que não
tivesse sido, tal fato não representa inépcia da inicial em razão da inafastabilidade da
jurisdição (veja-se: TJPR ApCiv 1490106-3 8ª CâmCív Rel. Des. Luiz Cezar Nicolau
DJ 25/10/2016).
Não há carência de ação por falta de interesse de agir, eis que a apelante resistiu e
vem resistindo judicialmente à pretensão, fato que comprova o interesse de agir
(confira-se: STF - RE 631240/MG - Tribunal Pleno Rel. Min. Roberto Barroso DJ
10/11/2014).
Não prospera, ainda, a alegação de falta de interesse de agir em razão de contrato
inativo a partir de 2011, porque os contratos estavam vigendo e ativos no momento da
propositura da ação (fevereiro/2009).
Ademais, os danos constatados na perícia ocorreram na vigência do contrato de
financiamento, e não depois da inatividade, motivo pelo qual persiste o dever
acessório da indenização securitária:
APELAÇÕES CÍVEIS - RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL - SEGURO
HABITACIONAL (...) - CONTRATO INATIVO QUE NÃO AFASTA O DEVER DE
INDENIZAR (...). “Sem razão a alegação de carência de ação pela inatividade dos
contratos, pois os vícios dos quais reclamam os autores surgiram no decorrer da
vigência das apólices securitárias atinentes aos contratos de financiamento em
questão. Desse modo, o fato dos contratos estarem liquidados ou quitados não afasta
o dever de indenizar, porquanto o término do financiamento não acarreta a extinção
automática da cobertura securitária, justamente porque, em regra, os vícios se iniciam
no período da vigência contratual” (TJPR ApCiv 1557740-3 8ª CãmCív Rel. Des.
Gilberto Ferreira DJ 13/02/2017)
Inexiste ofensa, portanto, aos art. 17, 332, 337, 485, 757 do CPC, art. 771 e 1457 do
CCB, tampouco aos itens 15.2 e 10.2 do contrato.
A alegação de prescrição também deve ser afastada.
Os contratos tornaram-se inativos em outubro/2011 (fls.
696), quando a ação já havia sido proposta, em fevereiro/2009 (fls. 01), logo, não
havia transcorrido 1 ano da data de quitação ou inatividade, conforme art. 206, § 1º, II,
“b” do Código Civil:
APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. SEGURO HABITACIONAL. VÍCIOS
DE CONSTRUÇÃO. PRESCRIÇÃO.
CONTRATO DE FINANCIAMENTO. QUITAÇÃO. PRAZO ÂNUO.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Desse modo, a referida cláusula 3.2 deve ser declarada abusiva, porque contradiz
cláusula expressa anterior e restringe direitos e obrigações fundamentais inerentes à
natureza do contrato de seguro de imóvel que visa a resguardar a garantia última do
financiamento concedido, o próprio imóvel:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. (...). COBRANÇA DE SEGURO HABITACIONAL.
VICIOS CONSTRUTIVOS. APÓLICE QUE EXCLUI A POSSIBILIDADE DE
INDENIZAÇÃO/COBERTURA PARA OS CASOS DE DANOS NOS IMÓVEIS.
CONTRADIÇÃO.
INVOCAÇÃO DO CDC. RESTABELECIMENTO DO EQUILIBRIO CONTRATUAL. (...).
“tais normas contratuais (3ª e 3.1) são inquestionavelmente contraditórias, situação
que impõe o restabelecimento da relação contratual pelo julgador, em observâncias as
normas legais aplicáveis à espécie. (...).
Logicamente, não pode o mesmo contrato, em determinado momento excluir a
cobertura e, e em outra oportunidade, reconhecer a cobertura anteriormente excluída,
sob pena de afrontar diretamente o direito dos consumidores.” (TJPR ApCiv 975875-
6/01 8ª CâmCív Rel. Des. José Sebastião Fagundes Cunha DJ 17/03/2014)
Não há nenhuma inviabilidade de que a reparação securitária se realize em pecúnia,
porque é a melhor forma de restabelecer o direito do consumidor (nesse sentido: TJPR
ApCiv 1266596-8 8ª CâmCív Rel. Des. José Laurindo de Souza Netto DJ
28/05/2015).
É devido também o ressarcimento pelos reparos realizados pelos mutuários, já
devidamente individualizados pela perícia (fls. 612/624), não sendo razoável exigir que
esperem por anos até realizar reparos urgentes e necessários, nem que tenham
guardado notas fiscais, haja vista que a perícia foi capaz de apontar os valores (nesse
sentido: TJPR
ApCiv 1413963-6 8ª CâmCív Rel. Des. Gilberto Ferreira DJ 02/03/2016).
De igual modo, é devida a multa decendial aos mutuários, limitada ao valor da
obrigação principal, como bem determinou a sentença, porque há previsão expressa
na cláusula 17.3 da apólice (fls. 39) de incidência dessa multa (nesse sentido: STJ -
AgRg no REsp 1433439/PR 4ª Turma Rel. Min. Raul Araújo DJ 18/12/2015).
Não prospera a alegação de que a multa é limitada apenas em casos de morte e
invalidez, porque a cláusula 16.2 não traz expressa essa limitação, ao contrário, refere-
se genericamente a todos os sinistros cobertos, portanto, englobando os decorrentes
de vícios construtivos.
A multa é devida pela seguradora, conforme expressa previsão contratual (cláusula
17.3) e a mora está comprovada pelo aviso de sinistro realizado por intermédio do
financiador (fls. 29/32), nos exatos termos da exigência contratual (cláusula 11; fls. 38).
Não prospera o pleito de fixação do termo inicial da mora a partir do cumprimento
espontâneo da sentença, porque o inadimplemento é de natureza contratual,
subsumindo-se à regra do art. 394 do CCB.
Em razão do não provimento do recurso, aplico o art. 85, § 11º do CPC e majoro os
honorários advocatícios devidos pela apelante para 12% do valor da condenação,
mantida a proporção fixada na sentença.
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PROVIDO.
Unânime - J. 08.06.2017)
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Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Tal informação prevalece sobre as fotos juntadas às fls. 681/685, vez que foram tiradas
posteriormente ao acidente, momento em que a parte traseira da moto já havia sido
abalroada.
Eventual discordância quanto a conclusão do laudo pericial deveria ter sido aduzida
na fase instrutória, requerendo a realização de uma nova perícia. Tendo em vista que
isto não ocorreu, não há como desconstituir a prova pericial apresentada pelo autor.
Cumpre ressaltar que o juiz é o destinatário das provas, devendo pautar-se nos
elementos constantes nos autos na formação de seu juízo cognitivo:
EMBARGOS À EXECUÇÃO [...]- AGRAVO RETIDO - JUIZ DESTINATÁRIO DAS
PROVAS QUE POSSUI AMPLO PODER PARA INDEFERIR PRODUÇÃO PROBATÓRIA
INÓCUA [...] (TJPR - 16ª C.Cível - AC - 1482469-0 - Curitiba - Rel.: Maria Mercis
Gomes Aniceto - Unânime - - J. 29.03.2017).
Além disto, não há qualquer comprovação nos autos da velocidade em que a
motocicleta se encontrava no momento do acidente. A alegação de fatos
desacompanhada de provas não possui o condão de atribuir veracidade à defesa:
[...] ALLEGATIO ET NON PROBATIO QUASI NON ALLEGATIO [...] (TJPR - 14ª C.Cível
- AI - 1553347-6 - Curitiba - Rel.: Themis Furquim Cortes - Unânime - - J. 21.09.2016).
Em verdade, o que se observa nos autos é a ausência de cuidado e cautela do
apelante, ao não observar a moto que trafegava a sua frente, violando o art. 28 do
Código de Trânsito Brasileiro.
A colisão traseira presume a culpa de quem conduz à retaguarda, vez que deve
manter distância e velocidade segura, possibilitando a frenagem e desvio de eventuais
obstáculos que possam surgir repentinamente em seu caminho. Confira-se:
APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - ACIDENTE
DE TRÂNSITO - COLISÕES MÚLTIPLAS - BATIDA TRASEIRA - PRESUNÇÃO RELATIVA
DE CULPA [...] - VIOLAÇÃO DAS NORMAS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO
- RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1301270-3 - Curitiba - Rel.: Marcos
S. Galliano Daros - Unânime - - J. 14.05.2015)
Assim, correta a sentença ao reconhecer a responsabilidade civil do apelante no
acidente ocorrido e consequente dever de indenizar.
Em relação ao valor da indenização por danos morais fixada em sentença (R$
30.000,00), pleiteia o apelante pela sua redução.
Ante a ausência específica de parâmetros, a doutrina e a jurisprudência vem
considerando as circunstâncias do caso concreto, o alcance da ofensa e a capacidade
econômica do ofensor e do ofendido.
Além disso, a quantia não pode configurar enriquecimento indevido, devendo servir
precipuamente para compensar a vítima pelo dano sofrido e sancionar o causador do
prejuízo, de modo a evitar futuros desvios. Sobre o tema ensina Sergio Cavalieri Filho
que:
(...) a partir do momento em que alguém, mediante conduta culposa, viola direito de
outrem e causa-lhe dano, está-se diante de um ato ilícito, e deste ato deflui o
inexorável dever de indenizar, consoante o art. 927 do Código Civil. Por violação de
direito deve-se entender todo e qualquer direito subjetivo, (...), nestes incluídos o
direito à vida, à saúde, à liberdade, à honra, à intimidade, ao nome e à imagem”.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(Programa de Responsabilidade Civil. 10 ed. São Paulo: Atlas S.A, 2012. pg.19).
Por certo que a dor de perder um ente familiar é irreparável, contudo a indenização
busca compensar de certa forma os danos sofridos, observada a sua finalidade punitiva
e educativa. A fixação da indenização em quantia excessiva transpassa tais desígnios.
Nessa linha, atendendo os princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
cumprindo, ainda, o caráter reparatório e pedagógico da condenação, entende-se que
o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), não comporta minoração frente ao caso
concreto, estando, inclusive, de acordo com o entendimento deste Tribunal. (TJPR - 8ª
C.Cível - AC - 1553789-4 - Faxinal - Rel.: Luis Sérgio Swiech - Unânime - - J.
08.12.2016); (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1564943-5 - Palotina - Rel.: Gilberto Ferreira -
Unânime - - J. 01.12.2016).
Cumpre ressaltar que desta quantia será abatida a indenização pelo seguro DPVAT,
no valor de R$ 13.500,00, conforme consta da sentença.
Na lide secundária, o apelante sustenta que os danos morais estão abrangidos pela
cobertura por danos corporais, vez que não há exclusão contratual expressa.
A questão se encontra pacificada pelo STJ através da Súmula 402:
Súmula 402/STJ: O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos
morais, salvo cláusula expressa de exclusão.
Ainda:
[...] 2. A previsão contratual de cobertura dos danos pessoais (corporais) abrange os
danos morais apenas se estes não forem objeto de expressa exclusão ou não
figurarem no contrato como cláusula contratual independente (Súmula nº 402/STJ).[...]
(AgInt no AREsp 148.474/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 04/08/2016, DJe 12/08/2016).
No caso em tela, a apólice contratada pelo apelante possui cobertura básica de
“RESP CIVIL FACULTATIVO DANOS MATERIAIS” e “RESP CIVIL FACULTATIVO
DANOS CORPORAIS”, ambas no valor de R$ 50.000,00 (fls. 156/157).
Nas condições gerais do seguro apresentadas pela seguradora às fls. 310/404, consta
expressamente na pág. 41 (fls. 386), que estão excluídas da cobertura básica as
condenações judiciais por danos morais e estéticos, salvo quando houver contratação
desta garantia.
Além disto, a cobertura por danos morais é módulo de contratação adicional,
figurando nas condições gerais do seguro como cláusula independente (2.2.2, fls. 384).
A referida exclusão de cobertura contratual está redigida de forma clara e destacada.
Ademais, a cobertura por danos morais está evidenciada como uma garantia adicional
da cobertura básica. Diante de tais elementos, não prospera a alegação de que há
abusividade na limitação do seguro contratado pelo apelante.
Além disto, a apólice de seguro juntada pelo próprio autor (fls. 156/157) faz
referências por diversas vezes às condições gerais.
Inclusive, disponibiliza canal de comunicação direto com o corretor de seguro e com a
própria seguradora LIBERTY, através de e-mail corporativo, para sanar eventuais
dúvidas, não podendo o segurado se eximir de sua responsabilidade de tomar ciência
acerca das especificidades do serviço contratado.
Sobre o tema, segue a jurisprudência:
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 08.06.2017)
Inteiro Teor
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instituto, qual seja, coibir recursos meramente protelatórios, já que seria possível sua
interposição visando apenas a majoração dos honorários.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos
termos do voto do relator.
Luiz Cezar Nicolau (com voto) e acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo
Senhor Desembargador Luis Sérgio Swiech.
Curitiba, 08 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
CAUSALIDADE ADEQUADA
(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1660245-0 - Foz do Iguaçu - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -
Unânime - J. 08.06.2017)
Inteiro Teor
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responsabilidade do apelado é objetiva. Por fim, diz que a empresa apelada omitiu-se
em prestar socorro à vítima acidentada.
Contrarrazões (fls. 425/437).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos, conheço do recurso.
Trata-se de apelo em ação indenizatória, em que a recorrente requer a condenação
da recorrida em danos morais, estéticos e materiais.
De início, afasto alegação de cerceamento de defesa, visto que inexiste qualquer
necessidade de produção de prova pericial no feito. Não há qualquer questão técnica
que dependa de avaliação de especialista, sendo que as provas testemunhais e
documentais produzidas nos autos são suficientes para o julgamento da causa:
(...) Com efeito, cabe destacar que o juiz tem certa margem de liberdade para aferir
acerca da colheita de provas, em homenagem ao princípio da persuasão racional
adotado pelo Código de Processo Civil, de forma que, somente a ele compete avaliar
sob a necessidade, ou não, da sua realização para a formação de seu convencimento
em torno dos fatos trazidos ao Poder Judiciário, sem, contudo, desatender aos
reclamos do processo. (...) (TJPR - 4ª C.Cível - AC - 1577493-5 - Telêmaco Borba - Rel.:
Hamilton Rafael Marins Schwartz - Unânime - J. 21.03.2017).
Aduz a apelante que o acidente ocorreu, no momento em que tentava prestar socorro
a uma criança, afirmando que no caso do acidente envolvendo o menor, houve
negligência da recorrida.
Por este motivo, sustenta que a suposta conduta omissiva da empresa no primeiro
evento, configura nexo de causalidade com o dano experimentado em sua queda.
Não tem razão.
Isto porque, conforme assente entendimento doutrinário e jurisprudencial, o nexo de
causalidade deve ser averiguado pelo fato imediato que deu causa ao dano. É dizer, a
análise é restrita à relação entre as partes, sendo que o nexo não se configura de
forma indireta e mediata, transplantando-se de evento danoso causado a terceiro:
(...) II. Consoante a jurisprudência desta Corte, “na aferição do nexo de causalidade, a
doutrina majoritária de Direito Civil adota a teoria da causalidade adequada ou do
dano direto e imediato, de maneira que somente se considera existente o nexo causal
quando o dano é efeito necessário e adequado de uma causa (ação ou omissão). (...)
(AgInt no AREsp 754.859/GO, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 02/06/2016, DJe 13/06/2016).
Portanto, conforme bem posto em sentença, aplica-se ao caso a teoria da causalidade
adequada.
A propósito:
(...) 4. À aferição do nexo de causalidade, à luz do ordenamento jurídico brasileiro
(artigo 1.060 do Código Civil de 1916 e artigo 403 do Código Civil de 2002),
destacam-se os desenvolvimentos doutrinários atinentes à teoria da causalidade
adequada e àquela do dano direto e imediato.
Considera-se, assim, existente o nexo causal quando o dano é efeito necessário e/ou
adequado de determinada causa.
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Inteiro Teor
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Eventual discordância com tais valores deveria ter sido dirimida na ocasião da
contratação do seguro, perante a seguradora, não sendo possível alterar as condições
contratadas posteriormente à ocorrência do sinistro.
Além disso, se verifica que o apelante tinha plena ciência das informações constantes
na apólice, bem como das condições gerais do seguro, vez que juntou tais
documentos à inicial.
Caso idêntico já foi julgado por esta Corte, confira-se:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - SEGURO AGRÍCOLA FIRMADO POR
OCASIÃO DO FINANCIAMENTO DA LAVOURA DE MILHO - FORTES GEADAS NA
REGIÃO DE PLANTAÇÃO - RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA EM RESSARCIR
ATÉ O LIMITE PREVISTO NA APÓLICE - INDENIZAÇÃO A SER PAGA COM BASE NA
PRODUTIVIDADE SEGURADA E NÃO A ESPERADA PELO AGRICULTOR - AUSÊNCIA
DE ABUSIVIDADE - SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 10ª
C.Cível - AC - 1424384-2 - Campo Mourão - Rel.: Luiz Lopes - Unânime - - J.
03.12.2015).
Ainda: (TJPR - 10ª C.Cível - AC - 1023071-8 - Jandaia do Sul - Rel.: Carlos Henrique
Licheski Klein - Unânime - - J. 23.07.2015); (TJPR - 10ª C. Cível - AC - 553967-7 -
Maringá - Rel.: Arquelau Araújo Ribas - Unânime - J. 19.11.2009).
Desta forma, por inexistir qualquer elemento que revele irregularidade na contratação
do seguro, bem como por não se verificar abusividade em seus termos, mostra-se
indevido o pagamento da cobertura securitária, visto que a produtividade do período
se mostrou superior a produtividade segurada.
Deixo de aplicar o art. 85, § 11º do CPC, vez que a sentença foi publicada na vigência
do CPC/73, conforme enunciado administrativo n. 07 do STJ.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo, nos termos da fundamentação supra.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao apelo, nos
termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 08 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
2º, §1º, I DA LEI 6.367/76. ARTS 19 E 20, DA LEI 8.213/91. PRECEDENTES DO STJ.
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(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1644187-3 - Ponta Grossa - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -
Unânime - J. 01.06.2017)
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Com relação a apólice firmada com a ré Caixa Seguradora S/A (fls. 23 (:1), nota-se que
há declaração assinada pela segurada de que “TOMOU CONHECIMENTO DO TEOR
DAS CONDIÇÕES GERAIS E ESPECIAIS DO CONTRATO, que fazem parte integrante
desta Proposta, não tendo dúvidas sobre as mesmas”.
Portanto, como a segurada exarou que detinha pleno conhecimento das condições
gerais que acompanham a apólice, perfeitamente aplicável a Tabela Para Cálculo de
Indenização (fls.116/117(:1)) que prevê percentual de 20% para “Anquilose total de um
Cível nº 1.656.239-3-e 1.644.187-3 fl. 8 dos punhos”. Veja-se: (TJPR - 8ª C.Cível - AC -
1583768-4 - Umuarama - Rel.: Ademir Ribeiro Richter - Unânime - - J. 09.03.2017).
Como a autora não teve perda total dos movimentos, mas sim parcial, conforme se
extrai do Aviso de Sinistro, preenchido pelo seu Médico Assistente (fls. 204 (:2)), deve
ser aplicado o percentual máximo indicado de 50%, sobre os 20% do teto.
Assim, no apelo nº 1.644.187-3, a segurada deverá ser indenizada pela Caixa
Seguradora S/A, no valor R$ 2.000,00, corrigidos pela média do índice INPC/IGP-DI
desde a data do efetivo prejuízo, ou seja, a data em que houve a negativa por parte
da seguradora 03/06/2015, acrescidos de juros de mora de 1% ao mês a partir da
citação.
Tendo em vista o resultado dos presentes recursos, necessário se faz inverter os ônus
sucumbenciais de ambas as ações, devendo as requeridas arcarem com a
integralidade das custas processuais e honorários advocatícios, os quais majoro para
15% sobre o valor da condenação, nos termos do art. 85, §11, CPC.
Diante do exposto, dou provimento aos recursos para reformar a sentença e julgar
procedente as lides, condenando as requeridas ao pagamento dos prêmios conforme
expostos na fundamentação, devidamente corrigido e acrescidos de juros de mora,
além das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 15% sobre o valor
de cada condenação.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento aos recursos, nos
termos do voto do relator.
Cível nº 1.656.239-3-e 1.644.187-3 fl. 9
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 01 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
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PENSIONAMENTO
PROVIDO.
Unânime - J. 25.05.2017)
Inteiro Teor
Trata-se de Apelação Cível contra a sentença que, nos autos de Ação Indenizatória nº
0006104-41.2009.8.16.0173, julgou procedente o pedido inicial, condenando os
requeridos ao pagamento de indenização por danos materiais no valor de R$ 417,96,
danos morais no valor de R$ 70.000,00 para a esposa do falecido e R$ 100.000,00
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2. Tanto em casos regidos pelo Código Civil de 1916 quanto nos regidos pelo Código
Civil de 2002, responde o empregador pelo ato ilícito do preposto se este, embora
não estando efetivamente no exercício do labor que lhe foi confiado ou mesmo fora
do horário de trabalho, vale-se das circunstâncias propiciadas pelo trabalho para agir,
se de tais circunstâncias resultou facilitação ou auxílio, ainda que de forma incidental,
local ou cronológica, à ação do empregado (REsp 1072577/PR, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 12/04/2012, DJe 26/04/2012).
Note-se que o próprio réu Antonio Olivio Fernandes Borsato confirma em sua
contestação que o veículo foi repassado ao réu para a prestação de serviços da
empresa (fl. 467).
Desse modo, mostra-se correta a responsabilização do proprietário do veículo, assim
como pessoa jurídica empregadora do motorista, ficando mantida a sentença também
nesse ponto.
Quanto ao valor da pensão alimentícia fixada em favor das recorridas, o fato de não
existir comprovante de pagamento de todos os meses trabalhados como pintor, a
prova testemunhal, aliada aos comprovantes existentes, aponta no sentido de que o
falecido recebia em média nesse ofício o valor de R$ 700,00 por mês, como bem
entendeu a sentença, não havendo, portanto, o que se alterar.
Por fim, no que toca ao termo final do pensionamento, afigura-se correta a sentença
ao utilizar a expectativa de vida da vítima, inclusive em razão do pedido inicial nesse
sentido.
Sobre o tema:
Quanto ao termo final do pensionamento mensal, ao contrário do que defende a
parte agravante, o Superior Tribunal de Justiça, em recentes julgamentos concluiu que
deve ser levado em conta os dados atuais sobre a expectativa de vida do brasileiro
com base nos dados estatísticos do IBGE. (AgInt no AREsp 909.204/GO, Rel.
Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/08/2016, DJe
02/09/2016)
De igual modo, a pensão é devida à filha até que ela complete 25 anos, idade em que
se presume que deixaria de ser dependente do pai (AgInt no REsp 1554466/RJ, Rel.
Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/08/2016, DJe
22/08/2016).
Nesse sentido, já julgou esta Câmara:
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL.ACIDENTE DE TRÂNSITO. MORTE
DO MOTORISTA. ALEGAÇÃO DE CULPA EXCLUSIVA DE TERCEIRO. ESTADO DE
NECESSIDADE.NEXO CAUSAL CONFIGURADO. CONDUTA DO OFENSOR QUE
CONTRIBUIU PARA O EVENTO DANOSO. PERSISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR.
DIREITO DE REGRESSO CONTRA O TERCEIRO. PENSIONAMENTO. PRESUNÇÃO DE
DEPENDÊNCIA ECONÔMICA DO FILHO ATÉ OS 25 ANOS DE IDADE. RATEIO
ENTRE OS DEMAIS DEPENDENTES. NATUREZA ALIMENTAR DA PENSÃO. PARCELA
ÚNICA INDEVIDA.PAGAMENTO DE PRESTAÇÕES MENSAIS. ART.948, II, CC/02.
DANOS MORAIS.
MANUTENÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇAAPELAÇÃO CÍVEL Nº
242
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 25.05.2017)
Inteiro Teor
Dessa sentença recorre BANCO BRADESCO S/A (fls. 133/142), alegando que o
apelado contratou Cédula de Crédito Bancário para financiamento de bens, conforme
demonstra a documentação dos autos, e que houve pacto expresso de contrato de
seguro nesta Cédula.
Aduz que a cláusula é clara e destacada e que, portanto, a cobrança realizada foi
legítima. Defende que não deve haver repetição de indébito e pede o afastamento da
devolução em dobro. Pede que a correção monetária flua a partir da sentença e os
juros a partir da citação.
Contrarrazões (fls. 153/157).
É o relatório.
Voto.
Trata-se de pretensão declaratória de inexistência de contratação de seguro
prestamista no bojo de Cédula de Crédito Bancário para financiamento de bens.
Embora o apelado tenha afirmado que não contratou o seguro nem assinou nada (fls.
03), consta nos autos a Cédula de Crédito Bancário por ele devidamente assinada (fls.
56/63).
E nesta Cédula, há a cláusula 4ª, redigida de forma clara, inequívoca e destacada em
negrito, na qual as partes acordam pela contratação do seguro prestamista (fls. 25).
E tanto o seguro foi contratado na forma da citada cláusula, que tal ato constou
claramente no quadro II. 17, além de ter sido novamente mencionado, com o
respectivo valor, no quadro de pagamentos autorizados (quando III, item 1.2). Tudo
devidamente assinado pelo apelado (fls. 57).
Ora, resta evidente que o seguro prestamista foi contratado pelo apelado, do
contrário, não deveria ter aposto sua assinatura no contrato demonstrando anuência
com essa manifestação de vontade (art. 110 do CCB), inclusive em razão da boa-fé
que deve permear a interpretação dos negócios jurídicos (art. 113 do CCB).
Consigne-se, ainda, que o contrato foi pactuado em 07/2011 (fls. 57), mas apenas em
03/2013 (fls. 28) o apelado insurgiu-se contra a cobrança, vale dizer, após quase 2
anos depois da contratação.
A alegação de que apenas a apólice ou o bilhete seriam capazes de provar a
contratação (art. 758, do CCD) não prospera.
É que “embora o art. 758 do Código Civil faça alusão à apólice, bilhete ou
pagamento do prêmio como meios de prova do contrato de seguro, é certo também
que não exclui outras formas aptas à comprovação da relação securitária” (STJ - REsp
1130704/MG 4ª Turma Rel. Min. Luis Felipe Salomão DJ 17/04/2013).
Logo, em se tratando o seguro de negócio jurídico consensual, aperfeiçoa-se tão logo
as partes acordem quanto ao objeto e preço, não havendo, assim, alguma “prova
tarifária” exclusivamente apta para atestar a existência do negócio, que pode então
ser comprovada por qualquer meio idôneo, como a anuência aqui dada e assinada na
Cédula de Crédito. Sobre o tema:
DIREITO CIVIL. DIREITO DOS CONTRATOS. SEGURO.
CONTRATO CONSENSUAL. MOMENTO EM QUE É CONSIDERADO PERFEITO E
ACABADO. MANIFESTAÇÃO DE VONTADE, AINDA QUE TÁCITA. (...). 1. O seguro é
contrato consensual e aperfeiçoa-se tão logo haja manifestação de vontade,
244
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 18.05.2017)
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Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
Inteiro Teor
250
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
campo de visão, além do fato que o veículo do requerido estava em uma subida, o
que comprova ainda mais sua desatenção ao efetuar a manobra.
O fato das testemunhas terem afirmado que a colisão ocorreu na contramão, não
imputa maior culpa ao requerido, já que isto ocorreu ao tentar desviar do veículo da
autora que já ingressara na via, todavia, deve ser levado em consideração sua conduta
culposa ao trafegar em velocidade acima do permitido e sem a atenção devida nos
trechos onde há cruzamento de veículos.
Tal situação restou suficientemente comprovada pelo boletim de ocorrência que
atestou que o veículo deixou uma marca de frenagem de 40,20 metros até o ponto de
impacto, mais 17,65 metros após a colisão, sendo que a velocidade máxima da via era
de 60 km/h e estava em um trecho de subida, não sendo crível que não conseguiria
parar o veículo pesado e na subida se estivesse na velocidade permitida.
Além disso, o depoimento do policial rodoviário militar Isacar Floriano de Freitas,
afirmou que na época do acidente não existiam quebra-molas no local, e, a
testemunha Noeli Maffessoni, também afirmou que foi ultrapassada pelo caminhão em
questão quando estava a 80km/h há uns 2km do acidente, concluindo-se assim que o
caminhão vinha embalado da descida que antecede a subida onde o acidente ocorreu,
não conseguindo parar o veículo a tempo.
Posto isso, é possível afirmar que as autoras tiveram culpa no acidente ao promover a
manobra sem a atenção devida, bem como, os requeridos ao não empregar a direção
defensiva recomendada nos trechos onde há cruzamento, bastando fixar a
porcentagem de cada um.
Não há como negar que a conduta principal para ocorrência do sinistro partiu da
desatenção das autoras, já que senão tivessem ingressado a via naquele momento,
nada teria acontecido, e, o caminhão, mesmo em alta velocidade, seguiria sua viagem
normalmente.
Nesses casos, esta colenda câmara de justiça vem entendendo que o veículo que
ingressa a preferencial sem o devido cuidado, responde por 70% da culpa, enquanto
que o veículo que trafega pela via preferencial acima do limite de velocidade contribui
com os 30% restantes. Nesse sentido:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS. ACIDENTE DE TRÂNSITO.TREVO RODOVIÁRIO. SENTENÇA
DE IMPROCEDÊNCIA. TESE DE CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. IRRESIGNAÇÃO DOS
AUTORES.
(I) PROVAS QUE DEMONSTRAM A OCORRÊNCIA DE CULPA CONCORRENTE.
MOTORISTA DO CAMINHÃO QUE CONFESSOU À POLÍCIA QUE TRAFEGAVA A 80
KM/H, O DOBRO DA VELOCIDADE MÁXIMA PERMITIDA. VÍTIMA QUE NÃO TOMOU
A DEVIDA CAUTELA E ATENÇÃO NA EXECUÇÃO DA MANOBRA DE
TRANSPOSIÇÃO DE PISTA. CULPA PREPONDERANTE DESTA, NA PROPORÇÃO DE
70% (...) (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1459809-3 - Marmeleiro - Rel.: Osvaldo Nallim Duarte
Unânime - - J. 04.08.2016).
Assim, a culpa concorrente deve ser redistribuída para 70% a cargo das autoras e 30%
aos requeridos.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
CHANCE
Unânime - J. 18.05.2017)
Inteiro Teor
Trata-se de Apelação Cível interposta contra a sentença que, nos autos da Ação
Indenizatória nº 0002105- 63.1999.8.16.0001, julgou improcedente o pedido inicial,
condenando o apelante ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor da causa.
Em suas razões, pede o recorrente, preliminarmente, o provimento do agravo retido
de fls. 1633/1635, sob o fundamento de que a produção de provas em audiência é de
extrema importância, uma vez que o dano alegado na inicial não pode ser presumido.
Em segundo lugar, diz que, ante a impossibilidade de provar que não foi notificado da
data da audiência no seu processo trabalhista, por se tratar de prova negativa, o ônus
da prova cabia aos apelados, nos termos do art. 333, II, do CPC, do qual não se
desincumbiram. Afirma que é dever do patrono constituído cientificar o cliente acerca
dos atos processuais, pelo que deveriam os apelados ter provado nos autos que
notificaram o apelante para comparecimento na Justiça Federal. No mérito, defende
que a sua ausência em três audiências não pode ser tida como fruto de negligência,
pois foram todas justificadas e acolhidas pelo Juízo Trabalhista. Alega que se tivesse
sido notificado da quarta audiência certamente compareceria ou comprovaria a
impossibilidade. Argumenta que não existem provas de que não arcava com as
despesas de viagem dos advogados responsáveis pelo processo trabalhista. Defende
254
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Narra o recorrente na inicial que contratou os serviços do escritório do Dr. João Régis
Fassbender Teixeira para o ajuizamento de reclamatória trabalhista contra a empresa
General Eletric do Brasil S.A no ano de 1992.
Contudo, por negligência da banca de advogados, não foi notificado para
comparecer em audiência designada no processo trabalhista, tampouco informado
sobre o arquivamento do feito, o que acarretou a prescrição da ação e, por
consequência, a perda da chance de ter sua pretensão analisada, devendo ser
indenizado.
Pois bem.
Como se sabe, nos termos dos arts. 32, do Estatuto da Ordem dos Advogados do
Brasil, e 14, §4º, do CDC, a responsabilidade civil do advogado é subjetiva,
dependendo da comprovação do dolo ou da culpa do profissional nos atos praticados
durante o exercício da profissão.
Sobre o tema: TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1461219-0 - Curitiba - Rel.: Osvaldo Nallim
Duarte - Unânime - - J. 14.04.2016.
Nesse caminho, confrontando as teses e provas produzidas pelas partes, entende-se
que não ficou caracterizada a alegada negligência dos advogados na condução do
processo trabalhista, que teria acarretado a suposta prescrição da pretensão na justiça
especializada.
Pelo contrário, os fatos narrados pelo apelante demonstram que os causídicos foram
diligentes e até mesmo eficientes no acompanhamento do processo, devendo se dizer
que as circunstâncias criadas pelo próprio recorrente tiveram papel determinante para
o arquivamento do feito e perda da pretensão.
Na justiça do trabalho, o comparecimento de autor e réu na audiência inaugural é
fundamental para a continuidade da demanda.
É o que dispõe o art. 844, da CLT: O não comparecimento do reclamante à audiência
importa o arquivamento da reclamação, e o não comparecimento do reclamado
importa revelia, além de confissão quanto à matéria de fato.
No caso dos autos, ajuizada a ação trabalhista em 10/08/1992 (fls. 17/21), foi
designada audiência inaugural para 18/11/1992.
No dia marcado, o apelante não pode comparecer porque estava em Portugal, tendo
a advogada do escritório por ele contratado, Dra. Gisele Mattner, pedido o adiamento
da audiência, o que foi deferido pelo Juiz do Trabalho, sob a condição de que o
motivo da ausência fosse justificado.
Ressalte-se que o processo só não foi arquivado naquele momento porque, além da
advogada, fez-se presente o tesoureiro do sindicato da categoria do apelante o
representando (fls. 78/79).
Justificada a ausência, a audiência foi redesignada para 03/05/1993, porém, mais uma
vez, não ocorreu, em razão da ausência do apelante.
Então, outro advogado do escritório, Dr. Carlos Eduardo Bley, em acordo com a
empresa reclamada, pediu a remessa dos autos à uma das Varas do Trabalho do
Estado de São Paulo, o que foi deferido pelo Juiz do Trabalho (fl. 87).
256
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Já em São Paulo, a audiência inaugural foi designada para 27/08/1993, todavia, teve
de ser adiada pela 3ª vez consecutiva, uma vez que novamente o recorrente estava
fora do país estudando, impossibilitando o prosseguimento da ação.
Veja-se que no pedido de adiamento, o advogado do apelante, Dr. João Régis
Fassbender Teixeira, solicitou que a nova audiência fosse marcada para depois de 13
meses, contados de setembro de 1993 (fl. 89/90), período supostamente ligado ao
término do curso do recorrente no exterior.
Tal pedido foi acolhido pelo Juiz do Trabalho e a audiência marcada para 04/11/1994,
tendo sido dirigida carta de intimação ao escritório, aos cuidados do advogado Dr.
Marcelo Alessi, em data de 02/09/1993 (fl. 91).
No dia da audiência (04/11/1994), ante o não comparecimento do apelante, foi
arquivada a reclamatória trabalhista (fl. 92).
Pois bem. De acordo com a narrativa acima, não é crível a tese de que os advogados
contratados pelo apelante atuaram de forma negligente, permitindo que a ação fosse
arquivada e declarada prescrita por falha na prestação dos serviços de advocacia.
A todo momento os causídicos foram diligentes, conseguindo o adiamento da
audiência inaugural por 03 vezes, tudo em razão de situações criadas pelo próprio
apelante, o qual, durante o tramitar inicial do processo (aproximadamente 02 anos),
encontrava-se fora do país, dificultando, por óbvio, a atuação dos patronos.
Outra circunstância que deve ser levada em consideração, e que foi omitida pelo
recorrente na inicial, é a de que o patrocínio da causa foi intermediado pela sua irmã
Adriana Regina Upitis Gomes.
Muito embora Adriana alegue que não trabalhava no escritório contratado pelo
apelante, tendo captado a ação na condição de aluna de direito do advogado Dr.
João Régis Fassbender Teixeira (fls. 1290/1293), toda a prova documental produzida
nos autos aponta que ela era a responsável direta por receber informações do trâmite
do processo e repassa-las ao irmão.
Veja-se que na procuração outorgada pelo recorrente para a propositura da
reclamatória trabalhista consta o nome de Adriana (fls. 14 e 96). A petição inicial da
reclamatória, assim como a ficha para cadastro do processo na Justiça do Trabalho,
foram assinadas por ela, inclusive como se fosse advogada, pois indicou números de
inscrições na OAB/PR (fls. 20 e 99).
Adriana também recebeu e assinou a notificação da audiência inaugural datada para
18/11/1992 como se advogada fosse (fl. 94). Além de tudo isso, há prova de que as
comunicações feitas pelo escritório eram dirigidas tanto para o autor quanto para sua
irmã (fl. 80/82).
Logo, tudo indica que o recorrente sempre foi assistido por sua irmã, sabendo de
todo o desenrolar do processo ajuizado na Justiça Trabalhista.
Estranha-se, ainda, o fato de que nas três primeiras audiências, os pedidos de
adiamento tinham como justificativa a ausência do recorrente no país. Ou seja, de
alguma forma o cliente informava aos advogados que não poderia comparecer aos
atos, pedindo que fossem adiados.
Acontece que o apelante não trouxe qualquer documento capaz de mostrar que, em
relação a essas audiências, foi notificado pelo escritório, fator que que faz perder força
257
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
a alegação de que não foi cientificado para a audiência em que houve o arquivamento
do processo ou, ainda, acerca do retorno dos autos ao arquivo geral.
Não bastasse isso, em nenhum momento ficou comprovada a data da prescrição da
pretensão trabalhista nos autos, inexistindo qualquer declaração formal nesse sentido
por parte da Justiça do Trabalho.
Mesmo assim, note-se que antes mesmo de encerrado o prazo prescricional de 02
anos, hipoteticamente contado da data do arquivamento do processo em 04/11/1994
(art. 7º, XXIX, da CF, e súmula 268, do TST), o recorrente havia constituído novos
patronos (22/03/1996 fl. 39), com poderes para atuação inclusive em juntas de
conciliação.
Ou seja, como bem pontou o magistrado de primeiro grau, se houve a prescrição da
pretensão, a desídia do apelante contribuiu para tanto, vez que, da data do
arquivamento, tinha um longo período para evitar o perecimento do seu direito, não
podendo, assim, beneficiar-se da própria inércia.
Enfim, todas essas circunstâncias afastam a tese de que a suposta prescrição da ação
trabalhista decorreu de conduta negligente dos advogados trabalhista. Assim sendo,
tendo os réus se desincumbido a contento do ônus que lhe impunha o inciso II, do art.
333, do CPC/73, a manutenção da improcedência da ação é medida que se impõe.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo, mantendo a sentença como lançada,
nos termos da fundamentação supra.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao apelo, nos
termos do voto do relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
258
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 18.05.2017)
Inteiro Teor
Em casos análogos:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE. CUSTEIO
DE TRATAMENTOS MULTIDISCIPLINARES.
[...]. TERAPIA OCUPACIONAL, FISIOTERAPIA, PSICOMOTRICIDADE,
MUSICOTERAPIA, EQUOTERAPIA E HIDROTERAPIA. NECESSIDADE EVIDENCIADA.
AUSÊNCIA DE PREVISÃO NO ROL DA ANS. ELENCO DE PROCEDIMENTOS
ESPECÍFICOS MERAMENTE EXEMPLIFICATIVO. EXCLUSÃO CONTRATUAL.
DOENÇA ABRANGIDA PELO PLANO CONTRATADO. OBRIGATORIEDADE DE
COBERTURA.
INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR.
LIMITAÇÕES DE DIREITOS QUE DEVEM SER EXPRESSAS.
MÉTODOS NÃO EXCLUÍDOS EXPLICITAMENTE. MELHOR
TRATAMENTO QUE NÃO PODE SER DEFINIDO PELA RÉ.
ATRIBUIÇÃO DO MÉDICO. NEGATIVA ABUSIVA.
JURISPRUDÊNCIA DO STJ E DESTE TRIBUNAL. SENTENÇA MANTIDA.RECURSO A
QUE SE NEGA PROVIMENTO. (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1585810-1 - Rel.: Clayton de
Albuquerque Maranhão - J. 02.02.2017).
E ainda: (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1531006-6-Rel.: Gilberto Ferreira - J. 01.09.2016).
Portanto, a operadora é responsável pela cobertura e o ressarcimento dos valores
gastos com estas terapias (fls. 05), que serão corrigidos monetariamente pelo
INPC/IGP-DI, desde o desembolso até o efetivo pagamento, e juros de mora a contar
da citação (art. 405 do CC).
Com relação ao dano moral, configurar-se-ia caso houvesse a interrupção das terapias
em razão da negativa de cobertura e reembolso. Contudo, as terapias tiveram
continuidade, conforme demonstrado pelo apelante (fl. 05), não havendo, portanto,
dano passível de reparação.
Tendo em vista o êxito do apelante, redistribuo a sucumbência na proporção de 60%
para a apelada e 40% ao apelante. Fixo os honorários advocatícios em 15% sobre o
valor da condenação, a serem rateados conforme supra definido.
Diante do exposto, dou parcial provimento ao apelo, para determinar que a apelada
arque com as terapias necessárias e o reembolso a elas referente.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso,
nos termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
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PELO PACIENTE
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DO RISCO
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Quanto as particularidades, nota-se que por mais que a apelante tenha negativado o
nome do autor em função do financiamento contratado por estelionatário,
prontamente reparou seu equivoco ao ser informado pelo apelado sobre a ocorrência
de fraude, promovendo o fim do financiamento e baixa da inscrição indevida, ainda
em sede administrativa, o que certamente fez diminuir a extensão do dano.
Ocorre que após a regularização do financiamento, nenhuma das partes promoveu a
transferência de propriedade junto ao órgão de trânsito, originando dividas
decorrentes dos IPVAs não pagos em nome do autor, e sua inscrição em dívida ativa.
Cumpre observar que nenhuma das partes poderia promover a transferência de
propriedade do veículo, vez que não detinham sua posse, tampouco os documentos
exigidos, mas deve-se considerar que o interesse, da transferência e a regularização da
propriedade junto ao DETRAN/SP, era inteiramente do autor, que deveria ter
ingressado com demanda judicial requerendo a expedição de ofício para regularização
cadastral.
Cível nº 1.650.315-4 fl. 6 Assim, ao não diligenciar em tempo oportuno, deixando
transcorrer longo período para o ajuizamento da ação, o autor agiu em culpa
concorrente para o longo período que o veículo originou dividas em seu nome e a
futura inscrição em dívida ativa pelo não pagamento dos IPVAs.
Assim, observadas tais particularidades, em conjunto com os parâmetros utilizados
por esta Câmara de Justiça, entende-se que a indenização deve ser minorada para R$
5.000,00, assegurando ao autor, de forma suficiente, a justa reparação pelo dano
sofrido sem lhe causar enriquecimento ilícito, nem mesmo provocar ínfimo decréscimo
do patrimônio da lesante, sendo adequado ainda a reprimir que tais condutas se
repitam.
Por fim, quanto aos honorários advocatícios, não há o que se falar em sua minoração,
conforme pretende a apelante, vez que aplicados no menor patamar possível, sendo
inclusive, o caso de majoração, conforme o exposto no art. 85, § 11, CPC, de modo
que fixo em 12% sobre o valor da condenação.
Diante do exposto, dou parcial provimento ao recurso para incluir no oficio a ser
expedido ao DETRAN/SP as ordens de restrição a circulação do veículo e de bloqueio
por estelionato, majorando os honorários.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso,
nos termos do voto do relator.
Cível nº 1.650.315-4 fl. 7 Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz
Cezar Nicolau (com voto) e acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor
Desembargador Luis Sérgio Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
267
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TRANSPORTADOR
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Inteiro Teor
Trata-se de Apelações Cíveis interpostas contra a sentença que, nos autos de Ação
Indenizatória n. 0030405- 81.2013.8.16.0021, julgou procedente em parte o pedido
inicial, condenando os apelantes solidariamente ao pagamento de indenização por
danos morais no valor de R$ 30.000,00 e lucros cessantes no valor de R$ 3.600,00,
abatido o valor do DPVAT recebido pela apelada. Pela sucumbência, condenou as
recorrentes ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes
fixados em 10% sobre a condenação (fls. 441/449).
Em suas razões, CIA MUTUAL DE SEGUROS pede, em primeiro lugar, a concessão
dos benefícios da gratuidade da justiça, por estar em processo de liquidação
extrajudicial. No mérito, defende a inexistência de nexo de causalidade entre a
conduta do motorista e os danos sofridos pela apelada em razão da queda.
Sucessivamente, diz que houve culpa exclusiva da vítima. Ainda, diz ser incabível
indenização por danos morais, pedindo, caso contrário, a redução do valor. Afirma que
os lucros cessantes devem ser comprovados, ônus do qual não se desincumbiu a
apelada. Sucessivamente, assevera que não há no contrato de seguro cláusula
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No presente caso, entende-se que houve essa contratação, tal como se pode ver da
especificação de seguro trazida pela própria VIAÇÃO CAPITAL DO OESTE LTDA (fls.
120 e 167). E, muito embora se trate de relação de consumo, não se verifica qualquer
nulidade ou abusividade nessa diferenciação de eventos cobertos, estando a cláusula
redigida de forma clara e destacada das demais.
Aliás, veja-se que nas condições gerais a franquia estipulada para essa cobertura
adicional é de R$ 2.000,00, sendo que a franquia estipulada para a empresa segurada
é de R$ 1.000,00, o que faz presumir ter havido a negociação dessa cobertura e, por
consequência, a ciência inequívoca da segurada acerca dessa especificidade do
seguro.
Assim, por não se tratar de acidente de trânsito, mas de incidente de decorrente de
freada brusca, perfeitamente possível a aplicação da cláusula específica, mediante o
desconto da franquia contratada, devendo ser observado o limite definido para danos
decorrentes de fatos desta natureza, como bem entendeu a sentença.
7. Do termo inicial dos juros de mora.
Relativamente ao termo inicial dos juros de mora dos danos morais, não merece
acolhida a argumentação da seguradora. No entanto, por se tratar de matéria de
ordem pública, registra-se que deve ser considerada a data da citação, nos termos do
art. 405, do CC, e não o evento danoso, já se trata de responsabilidade contratual,
restando a sentença alterada de ofício (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1276279-5 - Curitiba -
Rel.: José Laurindo de Souza Netto - Unânime - - J. 17.03.2016).
8. Demais questões.
Deixa-se de conhecer do pedido de desconto do seguro DPVAT, por ausência de
interesse recursal.
Note-se que os embargos de declaração opostos pela empresa VIAÇÃO CAPITAL DO
OESTE LTDA foram acolhidos pelo julgador de primeiro grau para determinar o
desconto do valor integral recebido pela vítima a título de DPVAT, restando
prejudicada a pretensão da apelante (fls.
458/460 e 531/532).
Com relação às implicações do deferimento do pedido de recuperação judicial, não
merecem acolhida os argumentos da seguradora. Por estar o processo ainda em fase
de conhecimento, inexiste
risco de constrição do patrimônio da massa liquidanda, motivo pelo qual não se faz
necessário suspender a demanda neste momento. Sobre o tema:
“RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. AJUIZAMENTO APÓS O DECRETO DE LIQUIDAÇÃO.
POSSIBILIDADE. EXEGESE DO ART.18, “A”, DA LEI N. 6.024/1974. 1. A exegese do
art. 18, “a”, da Lei n. 6.024/1974 induz a que a suspensão de ações ajuizadas em
desfavor de entidades sob regime de liquidação extrajudicial e o veto à propositura de
novas demandas após o decreto de liquidação não alcançam as ações de
conhecimento voltadas à obtenção de provimento judicial relativo à certeza e liquidez
do crédito. Isso porque, em tais hipóteses, inexiste risco de qualquer ato de constrição
judicial de bens da massa. 2. Recurso especial conhecido e provido.” (STJ - REsp
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Unânime - J. 18.05.2017)
Inteiro Teor
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Inteiro Teor
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É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece-se do apelo.
O autor adquiriu da 2ª requerida (Lufthansa) passagem aérea de nº 220
6561127867/68, com destino à Roma/Itália, sendo que o primeiro voo seria operado
pela 1ª requerida (Gol) e sairia de Londrina, no dia 07/07/2015 às 05h05, com destino
ao aeroporto de Congonhas/SP, realizaria o translado até o aeroporto de Guarulhos,
onde tomaria o voo internacional as 18h10 do mesmo dia.
Ocorre que o aeroporto de Londrina estava fechado, tendo o autor que realizar o
deslocamento até São Paulo por meio de ônibus, o que quase ocasionou na perda do
2º voo, vez que chegou no aeroporto de destino com menos de 44 minutos de
antecedência, tendo que implorar para passar na frente dos outros passageiros e
aceitar fazer o “embarque condicional”, onde existia a probabilidade de não embarcar
na aeronave, caso o comandante ordenasse o fechamento das portas, e, a certeza de
que chegaria ao destino final sem as suas bagagens, que seriam enviadas no próximo
voo.
Negar que tais fatos geraram desconforto e incômodo na vida do autor, seria
equivocado, já que viveu momentos de apreensão ao imaginar que perderia seu voo
para a Europa, sem falar de toda a correria que teve que enfrentar para conseguir
embarcar a tempo na aeronave, entretanto, verificando as particularidades do
presente caso, não se torna possível a condenação da requerida em danos morais.
Nota-se que toda as dificuldades experimentadas pelo autor tiveram como causa
inicial o fato do aeroporto Governador José Richa estar fechado no período entre
01h40m a 10h53m do dia 07/07/2015, em razão de chuvas e forte neblina, conforme
demonstrou a primeira apelada (fls. 111).
Não merece prosperar a alegação da apelante de que inexistiu qualquer excludente
da responsabilidade civil, já que os fenômenos naturais, como os que ocorreram no
presente caso, são exemplos clássicos de caso fortuito e força maior, previsto no art.
393, CC.
Entretanto, apesar de não possuir gerência sobre as condições climáticas, o simples
fato de ter ocorrido motivo de força maior não é suficiente para afastar o dever de
indenizar, já que sua responsabilidade é objetiva, nos termos do art. 14, CDC,
devendo ser verificado se houve defeito na prestação do serviço e se a requerida agiu
com desídia, ou descumpriu com suas obrigações com o passageiro.
Pois bem, após ter a ciência de que não conseguiria operar o voo contratado pelo
apelante, a apelada VRG providenciou o transporte do passageiro através de ônibus
até o local contratado, cumprindo assim com o art. 741, CC.
Por certo que o passageiro anuiu com tal deslocamento pela via terrestre, já que não
havia certeza de que o aeroporto iria reabrir, sendo indiferente o fato de que poderia
ter sido realocado em outro voo no período da tarde.
Cumpre informar que não há nos autos qualquer documento que comprove, com
exatidão, o horário em que o ônibus saiu de Londrina, nem o horário de sua chegada
no aeroporto de Congonhas, tampouco, o tempo de deslocamento até o aeroporto
de Guarulhos e o prazo que teve para fazer o check-in, não sendo possível imputar
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CONSUMIDORA PREJUDICADO.
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