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Leitura ObrigaHISTÓRIA

- Ciências Humanas levadas a sério -

ARTIGOS

O Fascismo eterno

outubro 24, 2018outubro 24, 2018 Leitura ObrigaHISTÓRIA

Por Umberto Eco

Publicado originalmente em inglês sob o título de “Ur-Fascism” na edição de 22 de junho de 1995 da revista
“The New York Review of Books”* Tradução por Matheus G. Carlos. Entre [colchetes] estão traduções para
termos e expressões que não estavam em inglês no texto original, bem como notas do tradutor.

Em 1942, aos 10 anos, eu recebi o Primeiro Prêmio Provincial dos Jogos Juvenis (uma competição
voluntária, mas compulsória, para jovens fascistas italianos – ou seja, para todo jovem italiano). Eu
discorri com astúcia retórica sobre o tema “Devemos morrer pela honra de Mussolini e pelo imortal
destino da Itália?”. Minha resposta foi positiva. Eu era um garoto esperto.

Eu vivi dois anos de minha juventude entre membros da SS [Schu staffel, a milícia nazista], fascistas,
republicanos e guerrilheiros atirando uns nos outros, e eu aprendi a desviar de problemas. Desviar de
balas era um bom exercício.

Em abril de 1945 os guerrilheiros tomaram o poder em Milão. Dois dias depois eles chegaram na
pequena cidade na qual eu estava vivendo. Foi um momento de alegria. A praça principal estava
lotada com pessoas cantando e balançando bandeiras, clamando aos gritos por Mimo, o líder
guerrilheiro daquela área. Um ex-Marechal da Arma dos Carabineiros, Mimo se juntou aos
apoiadores do General Badoglio, sucessor de Mussolini, e perdeu uma perna durante um dos
primeiros confrontos contra o que restava das forças armadas de Mussolini. Mimo apareceu na
sacada da prefeitura, pálido, apoiando-se em sua muleta, e com uma mão tentou acalmar a multidão.
Eu estava esperando por seu discurso porque toda a minha infância foi marcada pelos históricos
discursos de Mussolini, cujas passagens mais importantes nós memorizávamos na escola. Silêncio.
Mimo falou em uma voz rouca, quase inaudível. Ele disse: “Cidadãos, amigos. Após tantos sacrifícios
dolorosos… Aqui estamos. Glória àqueles que morreram em prol da liberdade.”. E foi isso. Ele voltou
para dentro. A multidão gritou, os guerrilheiros ergueram suas armas e deram tiros comemorativos.
Nós, as crianças, corremos para pegar as cápsulas, itens preciosos, mas eu também aprendi que
liberdade de expressão significa estar livre da retórica.

Alguns dias depois eu vi os primeiros soldados americanos. Eles eram afro-americanos. O primeiro
Ianque que eu conheci era um homem negro, Joseph, que me apresentou às maravilhas de Dick Tracy
e da Família Buscapé. Os quadrinhos dele eram vivamente coloridos e tinham um cheiro bom.

Um dos oficiais (Major ou Capitão Muddy) era um convidado na vila de uma família cujas duas
filhas eram minhas colegas de escola. Eu o conheci no jardim deles, onde algumas moças, ao redor do
Capitão Muddy, falavam um francês improvisado. Capitão Muddy sabia um pouco de francês
também. Minha primeira imagem dos libertadores americanos foi, portanto, – após tantas faces
pálidas em camisas negras – de um homem negro culto de uniforme verde-amarelado dizendo: “Oui,
merci beaucoup, Madame, moi aussi j’aime le champagne…” [Sim, muito obrigado, senhora, eu
também amo champanhe…]. Infelizmente não havia champagne, mas Capitão Muddy me deu meu
primeiro pedaço de chiclete de hortelã da marca Wrigley e eu passei a mascar durante o dia todo. À
noite eu colocava minha bola de chiclete dentro de um copo com água para que ela estivesse fresca
pela manhã.

Libertação de Roma, junho de 1944


Em maio nós escutamos que a guerra tinha acabado. A paz me deu uma sensação curiosa. Haviam
me dito que guerra permanente era a situação normal para um jovem italiano. Nos meses que se
seguiram eu descobri que a Resistência não era um fenômeno apenas local, mas europeu. Eu aprendi
novas, excitantes palavras como réseau [rede], maquis [guerrilha rural], armée secrète [exército
secreto], Rote Kapelle [Orquestra vermelha], Gueto de Varsóvia. Eu vi as primeiras fotos do
Holocausto, assim entendendo seu significado antes de conhecer a palavra. Eu me dei conta do quê
havíamos sido libertos.

Atualmente em meu país há pessoas que se perguntam se a Resistência teve um impacto militar real
no curso da guerra. Para minha geração esta questão é irrelevante: nós imediatamente entendemos os
significados moral e psicológico da Resistência. Para nós era uma questão de honra sabermos que
nós, os europeus, não esperamos passivamente pela libertação. E para os jovens americanos que
pagavam com o próprio sangue para restaurar nossa liberdade tinha algum valor saber que além da
linha de fogo havia europeus pagando adiantado sua parcela da conta.

Atualmente em meu país há quem diga que o mito da Resistência era uma mentira comunista. É
verdade que os comunistas exploraram a Resistência como se fosse propriedade deles, já que eles
tiveram um papel de destaque nela; mas eu lembro de guerrilheiros com lenços de diferentes cores.
Colado no rádio, eu passei minhas noites – as janelas fechadas, o blecaute dando espaço para um
solitário halo de luz – ouvindo as mensagens enviadas pela Voz de Londres para os guerrilheiros.
Elas eram crípticas e poéticas ao mesmo tempo (O sol também se levanta, As rosas desabrocharão) e a
maioria delas eram “messaggi per la Franchi” [“mensagens para Franchi”]. Alguém me confidenciou
que Franchi era o líder da rede clandestina mais poderosa no noroeste da Itália, um homem de
coragem lendária. Franchi se tornou meu herói. Franchi (cujo nome real era Edgardo Sogno) era um
monarquista, tão fortemente anticomunista que após a guerra ele se juntou a grupos de extrema-
direita e foi incriminado por colaborar em um projeto de golpe de estado reacionário. Quem se
importa? Sogno continua a ser o herói dos sonhos de minha infância. A luta pela libertação era uma
ação comum a pessoas de diferentes afiliações.

Atualmente em meu país há alguns que dizem que a Guerra de Libertação foi um período trágico de
divisão, e tudo de que precisamos é de reconciliação. A memória daqueles anos terríveis deveria ser
reprimida, refoulée, verdrängt. Mas Verdrängung [supressão] causa neurose. Reconciliação pode
significar compaixão e respeito por aqueles que, de boa fé, lutaram suas batalhas pessoais, mas
perdoar não significa esquecer. Eu posso até aceitar que Eichmann [Adolf Eichmann, tenente-coronel
nazista responsável pelas políticas de deportação e execução de judeus] verdadeiramente acreditava
em sua missão, mas eu não posso dizer “Ok, volte e faça de novo.”. Nós estamos aqui para lembrar o
que aconteceu e dizer solenemente que “Eles” não devem fazer aquilo de novo.

Mas quem são Eles?

Se pensarmos sobre os governos totalitários que governaram a Europa antes da Segunda Guerra
Mundial nós podemos facilmente dizer que seria difícil para eles reaparecerem sob a mesma forma
em diferentes circunstâncias históricas. Se o fascismo de Mussolini se baseava na ideia de um líder
carismático, no corporativismo, na utopia do Destino Imperial de Roma, em um desejo imperialista
de conquistar novos territórios, em um nacionalismo exacerbado, no ideal de uma nação inteira
arregimentada em camisas negras, na rejeição da democracia parlamentar, no antissemitismo, então
eu não tenho dificuldade em reconhecer que hoje a Alleanza Nazionale [Aliança Nacional] italiana,
nascida a partir do partido fascista fundado no pós-guerra, MSI [Movimento Social Italiano], e que
definitivamente era um partido de direita, tem pouco haver com o antigo fascismo. Na mesma linha,
apesar de eu estar bastante preocupado com os vários movimentos de características nazistas que tem
aparecido aqui e ali na Europa, inclusive na Rússia, eu não penso que o nazismo, em sua forma
original, está prestes a reaparecer como um movimento de porte nacional.
Mussolini e Hitler

Mesmo assim, apesar de regimes políticos poderem ser derrubados, e ideologias poderem ser
criticadas e renegadas, por trás de um regime e sua ideologia sempre há uma forma de pensar e
sentir, um grupo de hábitos culturais, de instintos obscuros e impulsos insondáveis. Há outro
fantasma assombrando a Europa (e até mesmo outras partes do mundo)?

Ionesco [dramaturgo nascido (1909-1994) na Romênia] certa vez disse que “apenas palavram
importam e o resto é puro falatório”. Hábitos linguísticos frequentemente são sintomas importantes
de sentimentos subjacentes. Sendo assim, é importante perguntar por que não apenas a Resistência
como também a Segunda Guerra Mundial geralmente foram definidas em todo o mundo como uma
luta contra o fascismo. Se você reler “Por Quem os Sinos Dobram” de Hemingway você descobrirá
que Robert Jordan identificava seus inimigos como fascistas, mesmo quando ele estava tratando sobre
os falangistas espanhóis. E para FDR [Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos da
América de 1933 a 1945] “A vitória do povo americano e de seus aliados será uma vitória contra o
fascismo e a mão fantasma do despotismo que ele representa.”.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os americanos que lutaram na guerra espanhola foram
chamados de “antifascistas prematuros” – no sentido de que lutar contra Hitler na década de
quarenta era um dever moral de todo bom americano, mas lutar contra Franco [Francisco Franco,
general que governou a ditadura espanhola de 1939 a 1975] tão cedo, na década de trinta, cheirava
mal porque foi algo feito principalmente por comunistas e outras pessoas de esquerda… Por que uma
expressão como porco fascista foi usada por americanos radicais trinta anos depois para se referir a
um policial que não aprovava que fumassem? Por que eles não disseram: porco Cagoulard [membro
do La Cagoule, grupo francês fascista, terrorista e anticomunista], porco falangista [seguidor do
falangismo, ideologia fascista que foi a base da ditadura espanhola de Franco], porco ustaše [em
referência aos Ustaše, grupo croata fascista e terrorista ativo de 1929 a 1945], porco Quisling [em
referência a Vidkun Quisling, militar norueguês fascista que se associou aos nazistas alemães e
governou a Noruega de 1942 a 1945], porco nazista?

“Minha Luta” [livro autobiográfico escrito por Adolf Hitler] é um manifesto de um programa político
completo. O nazismo tinha uma teoria de racismo e do povo escolhido Ariano, uma noção precisa de
arte degenerada (entartete Kunst), uma filosofia de vontade de poder [Wille zur Macht] e do
Ubermensch [o “super-homem” alemão]. O nazismo era incontestavelmente anticristão e neopagão,
enquanto o materialismo dialético de Stalin (a versão oficial do marxismo soviético) era
descaradamente materialista e ateísta. Se por totalitarismo se quer dizer um regime que subordina
todo ato do indivíduo ao Estado e a sua ideologia, então tanto o nazismo como o stalinismo eram
regimes verdadeiramente totalitários.

O fascismo italiano certamente era uma ditadura, mas não era totalmente totalitário, não porque era
brando mas sim por causa da fraqueza filosófica de sua ideologia. A despeito do senso comum, o
fascismo na Itália não tinha uma filosofia particular. O artigo sobre fascismo assinado por Mussolini
na Treccani Encyclopedia foi escrito ou essencialmente inspirado por Giovanni Gentile, mas ele
refletia uma noção pós-Hegeliana do Estado Absoluto e Ético que nunca foi completamente posta em
prática por Mussolini. Mussolini não tinha filosofia: ele tinha apenas retórica. Ele era um militante
ateísta no começo e depois assinou o acordo com a Igreja [Tratado de Latrão] e recebeu os bispos que
abençoavam os partidários fascistas. Nos seus anos de juventude anticlerical, de acordo com o que
provavelmente é uma lenda, ele pediu a Deus, de forma a provar Sua existência, que o atingisse com
um raio ali mesmo, onde estava. Após isto, Mussolini passou a sempre citar o nome de Deus em seus
discursos, e não se importava de ser chamado de Homem de Providência.

O fascismo italiano foi a primeira ditadura de direita a tomar o poder em um país europeu, e todos
os outros movimentos similares posteriormente encontraram um arquétipo no regime de
Mussolini. O fascismo italiano foi o primeiro a estabelecer uma liturgia militar, um folclore, até
mesmo uma forma de se vestir – muito mais influente, com suas camisas negras, do que Armani,
Bene on ou Versace seriam. Apenas na década de trinta foi que os movimentos fascistas apareceram,
com Mosley, na Grã-Bretanha, e na Letônia, Estônia, Lituânia, Polônia, Hungria, Romênia, Bulgária,
Grécia, Iugoslávia, Espanha, Portugal, Noruega e até mesmo na América do Sul. Foi o fascismo
italiano que convenceu vários líderes europeus liberais que o novo regime estava conduzindo uma
reforma social interessante, e que estava fornecendo uma alternativa levemente revolucionária à
ameaça comunista.

Apesar disso, prioridade histórica não me parece razão suficiente para explicar por que a palavra
fascismo se tornou uma sinédoque, isto é, uma palavra que poderia ser utilizada para diferentes
movimentos totalitários. Não é porque o fascismo continha em si mesmo, falando de sua forma mais
pura, todos os elementos de outras formas posteriores de totalitarismo. Pelo contrário, o fascismo não
tinha uma forma mais pura. O fascismo era um totalitarismo confuso, uma colagem de diferentes
ideias filosóficas e políticas, um emaranhado de contradições. Pode alguém imaginar um movimento
verdadeiramente totalitário que foi capaz de combinar monarquia com revolução, o Exército Real
com a milícia pessoal de Mussolini, a concessão de privilégios à Igreja com uma educação estatal que
exaltava a violência, controle estatal absoluto com um livre mercado? O Partido Fascista nasceu se
gabando de ter trazido uma nova ordem revolucionária; mas ele era financiado pelos mais
conservadores donos de terra que esperavam dele uma contrarrevolução. Em seu princípio o
fascismo era republicano. Apesar disso ele sobreviveu por vinte anos proclamando sua lealdade à
família real enquanto o Duce (indiscutivelmente o Líder Máximo) andava de mãos dadas com o Rei, a
quem ele também ofereceu o título de Imperador. Mas quando o Rei demitiu Mussolini em 1943, o
partido reapareceu dois meses depois, com apoio alemão, sob a forma de uma república “social”,
reciclando seu antigo roteiro revolucionário, agora enriquecido com toques quase jacobinos.

Havia apenas uma arquitetura nazista e apenas uma arte nazista. Se o arquiteto nazista era Albert
Speer, então não havia espaço para Mies van der Rohe. De forma similar, sob o governo de Stalin, se
Lamarck estava certo então não havia espaço para Darwin. Na Itália certamente havia arquitetos
fascistas, mas próximo aos seus pseudo-Coliseus havia vários prédios novos inspirados no
racionalismo modernista de Gropius.

Não havia um Zhdanov [membro do Partido Comunista Soviético e ideólogo cultural da União
Soviética] fascista definindo uma estrita linha cultural. Na Itália havia dois importantes prêmios para
arte. O Premio Cremona era controlado por um fascista fanático e inculto, Roberto Farinacci, que
encorajava arte como propaganda. (Eu consigo lembrar de pinturas com títulos como “Ouvindo pelo
rádio o discurso do Duce” ou “Estados mentais criados pelo fascismo”.) O Premio Bergamo era
patrocinado pelo fascista culto e razoavelmente tolerante Giuseppe Bo ai, que protegia tanto o
conceito de arte pela arte como os vários tipos de arte avant-garde que haviam sido banidos como
corruptos e de mensagem comunista codificada na Alemanha.

O poeta nacional era D’Annunzio, um almofadinha que na Alemanha ou na Rússia teria sido
mandado para o pelotão de fuzilamento. Ele foi empregado como bardo do regime por causa de seu
nacionalismo e do seu culto ao heroísmo – que de fato estavam extremamente misturados com
influências da decadência fin de siècle [final do século] francesa.

Veja o futurismo, por exemplo. Alguém poderia pensar que ele seria considerado um exemplo de
entartete Kunst [arte degenerada] junto ao expressionismo, cubismo e o surrealismo. Mas os
primeiros futuristas italianos eram nacionalistas; eles incentivaram a participação da Itália na
Primeira Guerra Mundial por motivos estéticos; eles celebravam velocidade, violência e atitudes
arriscadas, coisas que de alguma forma pareciam se conectar ao culto fascista de juventude. Enquanto
o fascismo se identificava com o império romano e redescobriu as tradições rurais, Marine i (que
proclamava que um carro era mais bonito que a Vitória de Samotrácia [escultura de 200-190 AEC que
representa a deusa grega Nice], e queria matar a luz da lua) foi indicado mesmo assim a membro da
Academia Italiana, que tratava a luz da lua com muito respeito.

Muitos dos futuros partidários e dos futuros intelectuais do Partido Comunista foram educados pela
GUF [sigla para Grupo Universitário Fascista], a associação dos estudantes universitários fascistas,
que deveria ser o berço da nova cultura fascista. Estas associações se tornaram uma espécie de
caldeirão intelectual onde novas ideias circulavam sem qualquer controle ideológico real. Não é que
os homens do partido tolerassem ideias radicais, mas sim que poucos deles tinham as ferramentas
intelectuais para controlá-las.

Durante aqueles vinte anos, a poesia de Montale e de outros autores associados ao grupo chamado
Ermetici [Hermético] foi uma reação ao estilo bombástico do regime, e estes poetas tinham permissão
para desenvolver seus protestos literários a partir do que era visto como uma torre de marfim. O
espírito dos poetas Ermetici era exatamente o contrário do culto fascista de otimismo e heroísmo. O
regime tolerou a flagrante, apesar de que socialmente imperceptível, discordância deles
simplesmente porque os fascistas não prestavam atenção em tal linguagem arcaica.

Tudo isto não significa que o fascismo italiano era tolerante. Gramsci ficou preso até sua morte; os
líderes da oposição Giacomo Ma eo i e os irmãos Rosselli foram assassinados; a impressa livre foi
abolida, os sindicatos foram desmantelados, e os dissidentes políticos foram confinados em ilhas
remotas. O poder legislativo virou mera ficção e o poder executivo (que controlava tanto o judiciário
como a mídia de massa) aprovava novas leis diretamente, entre elas leis de preservação de raça (o
gesto italiano formal de apoio ao que viria ser o Holocausto).

A situação contraditória que estou descrevendo não era resultado de tolerância mas de desconjunção
política e ideológica. Mas era uma desconjunção rígida, uma confusão estruturada. O fascismo era
filosoficamente desarticulado, mas emocionalmente ele estava firmemente ligado a bases
arquetípicas.

Então chegamos ao meu segundo ponto. Havia apenas um nazismo. Não podemos classificar o
falangismo hipercatólico de Franco como nazismo, pois o nazismo era fundamentalmente pagão,
politeísta e anticristão. Mas o jogo do fascismo pode ser jogado de várias formas sem que o nome do
jogo mude. A noção de fascismo não é diferente da noção de Wi genstein de jogo. Um jogo pode ser
competitivo ou não, pode requerer alguma habilidade especial ou nenhuma, pode envolver dinheiro
ou não. Jogos são diferentes atividades que apresentam apenas alguma “semelhança familiar” entre
si, como Wi genstein diria. Considere a seguinte sequência:

Suponha que há uma série de grupos políticos em que o grupo 1 apresenta as características “abc”, o
grupo 2 apresenta as características “bcd”, e assim por diante. O grupo 2 é similar ao grupo 1 já que
eles apresentam duas características em comum, e pelo mesmo motivo 3 é similar a 2 e 4 é similar a 3.
Note que 3 também é similar com 1 (eles têm em comum a característica “c”). O caso mais curioso é
aquele apresentado por 4, que é obviamente similar a 3 e 2, mas sem qualquer característica em
comum com 1. Entretanto, devido à série decrescente e ininterrupta de similaridades entre 1 e 4,
ainda resta, por algum tipo de transição ilusória, uma semelhança familiar entre 4 e 1.

Fascismo se tornou um termo para todas as situações porque uma pessoa pode eliminar de um
regime fascista uma ou mais características, mas ele ainda poderá ser reconhecido como fascista. Tire
o imperialismo do fascismo e você ainda terá Franco e Salazar [Primeiro-Ministro e ditador de
Portugal de 1932 a 1968 durante a ditadura do “Estado Novo”]. Tire o colonialismo e você ainda terá
o fascismo nos Bálcãs dos ustaše. Adicione ao fascismo italiano um anticapitalismo radical (coisa que
nunca fascinou muito a Mussolini) e você terá Ezra Pound [poeta modernista americano que via no
fascismo uma forma de combater o “capitalismo financeiro”]. Adicione o culto a mitologia céltica e o
mito do Graal (coisas completamente alienígenas ao fascismo oficial) e você terá um dos mais
respeitados gurus fascistas, Julius Evola [filósofo tradicionalista e místico italiano (1898-1974) cujo
pensamento serviu de base para as ideologias fascistas e neofascistas].

Mas apesar desta confusão, eu penso que é possível esboçar uma lista de características que são
comuns ao que eu gostaria de chamar de Ur-Fascism, ou Fascismo Eterno. Estas características não
podem ser organizadas em um sistema; várias delas podem se contradizer, e também são típicas de
outros tipos de despotismo ou fanatismo. Mas é suficiente que uma delas esteja presente para que o
fascismo se aglomere ao seu redor.
1. A primeira característica do Fascismo Eterno é o culto à tradição. O tradicionalismo obviamente é
muito mais antigo do que o fascismo. Não apenas ele era comum no pensamento católico
contrarrevolucionário após a Revolução Francesa, como também ele nasceu ao final da era
helenística, em reação ao racionalismo grego clássico. Na bacia do Mediterrâneo pessoas de diferentes
religiões (a maioria delas toleradas pelo panteão grego) começaram a sonhar com uma revelação
recebida na aurora da história da humanidade. Esta revelação, de acordo com a mística
tradicionalista, permaneceu oculta por um longo tempo sob o véu das línguas esquecidas – nos
hieroglifos egípcios, nas runas célticas, nos pergaminhos das religiões pouco conhecidas da ásia.

Esta nova cultura tinha de ser sincretista. Sincretismo não é apenas, como o dicionário diz, “a
combinação de diferentes formas de crença e prática”; tal combinação precisa tolerar contradições.
Cada uma das mensagens originais contem um pedacinho de sabedoria, e sempre que elas parecem
dizer coisas diferentes ou incompatíveis é apenas porque todas estão fazendo alusões, de forma
alegórica, a mesma verdade primordial.

Como consequência, não pode haver aprimoramento do conhecimento. A verdade já foi revelada de
forma definitiva, e nós podemos apenas continuar a interpretar sua mensagem obscura.

Uma pessoa precisa apenas olhar a doutrina de qualquer movimento fascista para encontrar os
pensadores tradicionalistas mais importantes. A gnose [sistema filosófico] nazista estava repleta de
elementos tradicionalistas, sincretistas, ocultistas. A fonte mais influente das teorias da nova direita
italiana, Julius Evola, combinou o Santo Graal com Os Protocolos dos Sábios de Sião [Texto
conspiratório e antissemita, publicado em 1903 no Império Russo, que se passava por um plano de
dominação mundial por parte dos judeus. O texto serviu como base do antissemitismo na Rússia,
Estados Unidos e Alemanha. “Os Protocolos” são um plágio de outro texto escrito pelo francês
Maurice Joly e publicado em 1865 em Bruxelas, na Bélgica], alquimia com o Sacro Império Romano-
Germânico. O fato de que a direita italiana, de forma a mostrar que tinha a mente aberta,
recentemente ampliou sua doutrina de forma a incluir os trabalhos de De Maistre, Guenon e Gramsci,
é uma forma óbvia de sincretismo.

Se você procurar nas prateleiras que nas livrarias americanas estão categorizadas como New Age
[Nova Era], você pode achar até mesmo Santo Agostinho que, até onde sei, não era um fascista. Mas
combinar Santo Agostinho com Stonehenge – isto sim é um sintoma de Fascismo Eterno.
2. Tradicionalismo implica em rejeição do modernismo. Tanto fascistas como nazistas glorificavam a
tecnologia, enquanto pensadores tradicionalistas geralmente a rejeitam como negação dos valores
espirituais tradicionais. Entretanto, apesar de que o nazismo tinha orgulho de suas conquistas
industriais, sua glorificação do modernismo era apenas a superfície de uma ideologia baseada em
Sangue e Solo (Blut und Boden) [ideologia racista e antissemita que promovia uma vida campestre, a
qual se dizia estar ligada diretamente à linhagem (“sangue”/”blut”) alemã, e, portanto, sendo os
alemães os únicos com direito à terra]. A rejeição do mundo moderno estava disfarçada na forma de
uma refutação do modo de vida capitalista, mas ela dizia respeito principalmente a uma rejeição do
Espírito de 1789 (e de 1776, obviamente). O Iluminismo, a Era da Razão, é visto como o começo da
depravação moderna. Neste sentido o Fascismo Eterno pode ser definido como irracionalismo.

3. Irracionalismo também depende do culto a ação pela ação. Sendo a ação bela por si só, ela precisa
ser tomada antes de, ou sem, qualquer reflexão prévia. Pensar é uma forma de se afeminar. Portanto,
a cultura é suspeita na medida em que é identificada com atitudes críticas. Desconfiança do mundo
intelectual sempre foi um sintoma de Fascismo Eterno, desde a declaração supostamente feita por
Goering (“Quando escuto falar de cultura eu pego minha arma”) ao uso frequente de expressões
como “intelectuais degenerados”, “espertalhões”, “esnobes intelectuais”, “universidades são um
ninho de comunistas”. Os intelectuais fascistas oficiais eram engajados principalmente em atacar a
cultura moderna e os intelectuais liberais como traidores dos valores tradicionais.

4. Nenhuma crença sincrética consegue suportar criticismo analítico. O espírito crítico faz distinções,
e distinguir é um sinal de modernismo. Na cultura moderna a comunidade científica valoriza a
discordância como forma de aprimorar o conhecimento. Para o Fascismo Eterno, discordância é
traição.

5. Além disso, discordância é um sinal de diversidade. O Fascismo Eterno cresce e busca o consenso
ao explorar o medo natural da diferença. O primeiro apelo de um fascista ou de um movimento
fascista primitivo é um apelo contra os intrusos. Desta forma, o Fascismo Eterno é racista por
definição.

6. O Fascismo Eterno provém de frustração individual ou social. É por isto que uma das
características mais comuns do fascismo histórico era o apelo a uma classe média frustrada, uma
classe sofrendo com uma crise econômica ou com sentimentos de humilhação política, e assustada
pela pressão de grupos sociais mais baixos. Nos dias de hoje, com os antigos “proletários” se
tornando pequenos burgueses (e estando o lumpen [classe trabalhadora desprovida de consciência
política] majoritariamente excluído do cenário político), o fascismo de amanhã encontrará audiência
nesta nova maioria.

7. Para aquelas pessoas que se sentem desprovidas de uma identidade social clara, o Fascismo Eterno
diz que o único privilégio delas é aquele que é o mais comum, terem nascido no mesmo país. Esta é a
origem do nacionalismo. Além disso, os únicos que podem prover uma identidade a uma nação são
seus inimigos. Desta forma, na raiz da psicologia do Fascismo Eterno há uma obsessão com uma
conspiração, possivelmente internacional. Os seguidores precisam se sentir encurralados. A forma
mais fácil de solucionar a conspiração é apelar para xenofobia. Mas a conspiração também precisa
partir de dentro: os judeus geralmente são o melhor alvo porque eles têm a vantagem de estarem
dentro e fora ao mesmo tempo. Nos EUA, um exemplo proeminente da obsessão com uma
conspiração pode ser encontrado em The New World Order [A Nova Ordem Mundial], de Pat
Robertson [livro conspiratório em que Pat Robertson, pastor evangélico estadunidense, “revela” um
plano de dominação mundial sob controle de bancos pertencentes a, entre vários grupos, judeus,
maçons e Illuminati], mas, como vimos recentemente, há muitos outros.
8. Os seguidores precisam se sentir humilhados pela riqueza e pela força abundantes de seus
inimigos. Quando eu era um garoto me ensinaram a pensar nos ingleses como “as pessoas que fazem
cinco refeições”. Eles comiam com mais frequência do que os pobres, mas sóbrios, italianos. Judeus
são ricos e ajudam uns aos outros através de uma rede secreta de assistência mútua. Entretanto, os
seguidores precisam ser convencidos de que eles podem superar os inimigos. Desta forma, através de
uma mudança contínua de foco retórico, os inimigos são ao mesmo tempo muito fortes e muito
fracos. Governos fascistas estão condenados a perder guerras porque, por essência, eles são incapazes
de julgar de forma objetiva a força do inimigo.

9. Para o Fascismo Eterno não há luta pela vida, mas sim que a vida é vivida para a luta. Desta forma,
pacifismo é o mesmo que dormir com o inimigo. [Pacifismo] É ruim porque a vida é guerra
permanente. Isto, entretanto, leva a um complexo de Armagedom. Já que os inimigos precisam ser
derrotados, é preciso que haja uma batalha final, após a qual o movimento terá controle sobre o
mundo. Mas tal “solução definitiva” implica em uma era futura de paz, uma Era de Ouro, o que
contradiz o princípio de guerra permanente. Nenhum líder fascista conseguiu resolver este dilema.

10. O elitismo é uma característica comum a qualquer ideologia reacionária, na medida em que elas
são fundamentalmente aristocráticas, e aristocracia e elitismo militar implicam de forma cruel em
desprezo pelos mais fracos. O Fascismo Eterno só pode advogar por um elitismo popular. Todo
cidadão é uma das melhores pessoas do mundo, os membros do partido são os melhores entre os
cidadãos, todo cidadão pode (ou deseja) se tornar um membro do partido. Mas não pode haver
nobres sem plebeus. De fato, o Líder, sabendo que seu poder não lhe foi delegado de forma
democrática mas conquistado através da força, também sabe que sua força se baseia na fraqueza das
massas; eles são tão fracos que precisam e merecem ter um líder. Já que o grupo é organizado
hierarquicamente (de acordo com um modelo militar), todo líder em um cargo superior despreza
seus subordinados, e cada um deles também despreza aqueles que lhe são inferiores. Isto reforça o
senso de elitismo de massa.

11. Por tal perspectiva todos são educados para se tornarem heróis. Em toda mitologia o herói é um
ser atípico, mas na ideologia do Fascismo Eterno o heroísmo é a norma. O culto ao heroísmo está
estreitamente ligado com o culto à morte. Não é por acaso que o lema dos falangistas era “Viva la
Muerte” [“Vida Longa à Morte”, como aponta Umberto Eco]. Em sociedades não-fascistas conta-se ao
público laico que a morte é desconfortável mas precisa ser encarada com dignidade; aos crentes,
conta-se que ela é uma forma dolorosa de atingir uma felicidade sobrenatural. Por contraste, o herói
do Fascismo Eterno anseia ter uma morte heroica. Em sua impaciência por morrer, ele envia outras
pessoas para a morte com mais frequência.

12. Já que tanto a guerra permanente como o heroísmo são jogos difíceis, o Fascista Eterno transfere
sua vontade de poder para assuntos de cunho sexual. Esta é a origem do machismo (que implica
tanto em desprezo pelas mulheres como em intolerância e condenação de hábitos sexuais fora do
padrão, da castidade à homossexualidade). Já que até o sexo é um jogo difícil, o herói do Fascismo
Eterno tende a brincar com armas – e fazer isto se torna um exercício de substituição fálica.

13. O Fascismo Eterno se baseia em um populismo seletivo, um populismo qualitativo, alguns


diriam. Numa democracia, os cidadãos possuem direitos individuais, mas os cidadãos em sua
coletividade têm um impacto político apenas de um ponto de vista quantitativo – uma pessoa segue a
decisão da maioria. Para o Fascismo Eterno, entretanto, indivíduos como indivíduos não possuem
direitos, e o Povo é visto como uma qualidade, uma entidade monolítica que expressa a Vontade
Comum. Já que um grande grupo de pessoas não tem como ter uma vontade comum, o Líder se
passa por seu intérprete. Tendo perdido o poder de delegar, os cidadãos não agem; eles são
convocados apenas para interpretar o papel de Povo. Desta forma, o Povo é apenas uma ficção
teatral. Para ter um bom exemplo de populismo qualitativo nós não precisamos mais da Piazza
Venezia em Roma ou do Estádio de Nuremberg. Há em nosso futuro um populismo de TV ou de
internet, em que a resposta emocional de um grupo pequeno de cidadãos pode ser apresentada e
aceita como sendo a Voz do Povo.

Por causa de seu populismo qualitativo o Fascismo Eterno precisa ser contra governos parlamentares
“podres”. Uma das primeiras frases proferidas por Mussolini no parlamento italiano foi “Eu poderia
ter transformado este lugar surdo e sombrio em um acampamento para meus manípulos”– os
“manípulos” eram uma subdivisão da tradicional Legião Romana. De fato, ele rapidamente
encontrou acomodações melhores para seus manípulos, mas pouco depois ele fechou o parlamento.
Sempre que um político suscita dúvida sobre a legitimidade de um parlamento por que ele não
representa mais a Voz do Povo, nós podemos sentir o cheiro do Fascismo Eterno.

14. O Fascismo Eterno fala Novilíngua. A Novilíngua foi inventada por Orwell, em 1984 [aqui,
“1984” é o título do livro de George Orwell, e não uma data de publicação], como a língua oficial do
Ingsoc, o Socialismo Inglês. Mas elementos do Fascismo Eterno são comuns a diferente formas de
ditaduras. Todos os livros escolares nazistas ou fascistas fizeram uso de um vocabulário empobrecido
e de uma sintaxe elementar, de forma a limitar as ferramentas para raciocínio complexo e crítico. Mas
nós precisamos estar prontos para identificar outros tipos de Novilíngua, mesmo que eles se
apresentem na forma inocente de um programa de palco.

Na manhã de 27 de julho de 1943 me contaram que, de acordo com notícias no rádio, o fascismo
havia desmoronado e Mussolini estava preso. Quando minha mãe mandou eu ir comprar o jornal, eu
vi que os jornais na banca mais próxima tinham títulos diferentes. Além disso, após ver as manchetes,
eu percebi que cada jornal dizia uma coisa diferente. Eu comprei um deles, às cegas, e li a mensagem
na primeira página assinada por cinco ou seis partidos diferentes – entre eles o Democrazia Cristiana
[Democracia Cristã], o Partido Comunista, o Partido Socialista, o Partito d’Azione [Partido de Ação] e
o Partido Liberal.

Até aquele momento, eu acreditava que havia apenas um partido em toda a Itália e que era o Partito
Nazionale Fascista [Partido Nacional Fascista]. Naquele momento eu estava descobrindo que em meu
país podia haver vários partidos ao mesmo tempo. Já que eu era um garoto esperto, eu
imediatamente percebi que tantos partidos não podiam ter nascido de um dia pro outro, e eles
deveriam existir há algum tempo como organizações clandestinas.

A mensagem na página frontal celebrava o fim da ditadura e o retorno da liberdade: liberdade de


expressão, de imprensa, de associação política. Estas palavras, “liberdade”, “ditadura” – naquele
momento eu as estava lendo pela primeira vez em minha vida. Eu renasci como um homem livre
ocidental em virtude destas novas palavras.

Nós precisamos nos manter alertas para que o sentido destas palavras não seja esquecido novamente.
O Fascismo Eterno ainda nos rodeia, as vezes sem uniforme. Seria tão mais fácil para nós se
aparecesse novamente no cenário mundial alguém dizendo “Eu quero reabrir Auschwi , eu quero os
Camisas Negras desfilando novamente nas praças italianas.”. A vida não é assim tão simples. O
Fascismo Eterno pode chegar usando os disfarces mais inocentes. Nosso dever é desmascará-lo e
apontar o dedo para qualquer uma de suas instâncias – a qualquer dia, em qualquer parte do mundo.
É válido relembrar as palavras de Franklin Roosevelt de 4 de novembro de 1938: “Eu ouso dizer que,
se a democracia americana deixar de progredir como uma força viva, buscando dia e noite por meios
pacíficos melhorar a vida de nossos cidadãos, o fascismo ganhará força em nossa terra.”. Liberdade e
libertação são tarefas sem fim.

Permita-me terminar com um poema de Franco Fortini:


Sulla spalle a del ponte
Le teste degli impiccati
Nell’acqua della fonte
La bava degli impiccati.

Sul lastrico del mercato


Le unghie dei fucilati
Sull’erba secca del prato
I denti dei fucilati.

Mordere l’aria mordere i sassi


La nostra carne non è più d’uomini
Mordere l’aria mordere i sassi
Il nostro cuore non è più d’uomini.

Ma noi s’è le o negli occhi dei morti


E sulla terra faremo libertà
Ma l’hanno stre a i pugni dei morti
La giustizia che si farà.

[No parapeito da ponte


A cabeça dos enforcados
Na água da fonte
A baba dos enforcados.

No pavimento do mercado
As unhas dos fuzilados
Na grama seca do prado
Os dentes dos fuzilados.

Mordendo o ar mordendo as pedras


Nossa carne não mais humana
Mordendo o ar mordendo as pedras
Nosso coração não mais humano.

Mas lemos nos olhos dos mortos


Que na terra faremos a liberdade
E cerrada no punhos dos mortos
A justiça que se fará.]

* Versão original em inglês utilizada para esta tradução (visitado pela última vez em 8 de outubro de
2018): h ps://www.nybooks.com/articles/1995/06/22/ur-fascism/
(h ps://www.nybooks.com/articles/1995/06/22/ur-fascism/)

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